Transcript

Sumário 02-03

Editorial 04

SOBRE A POLÊMICA DAS SACOLAS PLÁSTICAS NO MERCADO:

MITO E REALIDADE II

05

UMA PONTE NA LOCALIDADE DE PEIXE BOI ―GUARAPES‖, PRI-

MEIRAS FALAS DE ALGUMAS PROPOSTAS QUE ENCONTREI

07

A QUEM INTERESSA ESTIMULAR O ÓDIO E INCITAR A VIOLÊN-

CIA?

08

ENTREVISTA: CIENTISTA POLÍTICO HOMERO COSTA 11

PEGADAS NO CAMINHO 18

INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO NA PRIMEIRA INFÂNCIA: CONSU-

MISMO E EXPOSIÇÃO

19

RÁPIDA ANÁLISE DO POEMA ―XVIII‖ (POEMAS MALDITOS, GO-

ZOSOS E DEVOTOS) DE HILDA HILT

26

A ESCOLHA 28

A TRAJÉDIA DOS IMIGRANTES, OS ÓRFÃOS DA PRIMAVERA

ÁRABE

30

―IDEOLOGIA DE GÊNERO‖ E O DELÍRIO CONSERVADOR NO

BRASIL HOJE

33

Cinema: Com Angelo Giroto - UMA ONDA NO AR 37

CRISE DAS INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS 39

A ARTE E SUAS LIÇÕES SOBRE COMO SE LIBERTAR DOS GRI-

LHÕES CONCEITUAIS

41

MARIA CUNHAÚ 44

ECLIPSE DE SUPER LUA: AFETO E VIVER AMOR 46

CASCUDEANDO 48

SEMENTE DO BEM 50

Sarau — Poemas de Autores regionais, Nacionais e Mundiais 54

Revista de Circulação bimensal.

É uma publicação integrante do

site: WWW.VIRTUALCULT.COM.BR.

Envio de Artigos:

[email protected]

A Re v i s ta Ku ku ka ya n ã o se re s-

p o n sa b i l i za p o r con ce i to s e m i t i -

d o s e m a r t i g o s a ss i n a d o s , b e m

co mo q u a l q u er o p in i ão ma n i fe s -

ta n o s a r t i g o s pu b l i ca do s , se n do

n e s te ca so d e i n te i ra r e sp o n sa-

b i l i da d e d o s se u s a u to re s . Re -

g ra s p a ra e n v i o d e a r t i go s ve j a

n a Op çã o : Re v i s ta Ku ku ka ya /

No rma s p a ra Pu b l i ca çã o . Fo to s

d a s ed i çõ e s são d e d o mín i o p ú-

b l i co e x t ra íd a s d a i n te rn e t .

Redator/Editor

Alfredo Ramos Neves

O bservaram a ca-

pa? Pois é, mais

uma vez estamos

mudando o for-

mato da mesma. A capa é a

porta de entrada da revista, e é

difícil, muito difícil produzi-la.

Além de não termos um diagra-

mador; pois tudo é idealizado

por teimosos produtores, termi-

na sobrando para o editor a

tentativa de criar

uma capa que

traga para os in-

ternautas uma

boa apresentação

do veículo produ-

zido.

Mas, apesar

dos pesares, entendo (não pos-

so falar que entendemos), por-

que na maioria das vezes no

silêncio da noite ou no barulho

do dia, decide esse humilde re-

dator sozinho o formato da re-

vista, onde, no fundo, no fundo,

compreendo que o importante

mesmo é o conteúdo; é o que

penso. Quem produziu blagues

e pasquins em papel mimeo-

grafado nos anos 80 e 90 se

sente o tal diante das possibili-

dades eletrônicas dos dias atu-

ais, mesmo que alguma coisa

deixa a desejar.

Tomei emprestado o qua-

dro abstrato de Angel Estevez

para ilustrar a nossa capa, e,

como disse o mestre professor

Homero Costa, a mudança pa-

ra um estado de arte é melhor

e valoriza o que propõe a Ku-

kukaya, ser diversa.

Estamos com algumas

ideias, e uma delas é deixar a

revista no virtual e

no real, ou seja, im-

pressa. Thiago

Gonzaga está em-

polgadíssimo com

esse empreitada, e

afirmo, por que

não?! Bom, vere-

mos!

Ademais, leiam os nossos

artigos e se possível enviem os

seus comentários para o nosso

e-mail. Para os nossos colabo-

radores os artigos, poemas, en-

saios, etc, para a edição dos

meses de Novembro e Dezem-

bro serão recebidos até o dia

20 de dezembro e somente no

e-mail: virtual-

[email protected].

Obrigado!

* Francisco Ramos Neves Dr. em Filosofia - Professor de Filosofia – UERN [email protected]

A propagada enganosa que caracteriza um dos principais aspec-tos do mito das saco-

las plásticas esconde sua rea-lidade prática. O apelo ao es-pírito ecológico de sustentabili-dade que este mito incorpora tem sido inclusive fiscalizado por órgãos públicos, como foi o caso de uma recente deci-são da CONAR (Conselho Na-cional de Autorregulamenta-ção Publicitária) ao suspender uma campanha da Apas (Associação Paulista de Su-permercados) pelo fim das sa-colas plásticas. Esta campa-nha transgredia o Código Bra-sileiro de Autorregulação Pu-blicitária e era enganosa, se-gundo a CONAR, pelo fato de não ter apresentado argumen-tos claros e bem fundamenta-dos que a justificasse, além de esconder que o fim das saco-las plásticas não reduziria os seus custos embutidos no pre-ço final dos produtos comerci-alizados. A ação contra a Apas foi movida pela Plastivida (Instituto socioambiental dos Plásticos), instituto que cuida do uso consciente, responsá-vel e ambientalmente correto dos plásticos. Além do mais a propaganda engana o consu-midor pelo fato de esconder que o fim das sacolas plásti-cas nos supermercados obri-garia as pessoas a terem que comprar outras sacolas para o uso diário como transporte de objetos e para o recolhimento do lixo doméstico e outros. A campanha não resolve o pro-blema do meio ambiente ape-nas transfere sua causa para outros setores, além de onerar ainda mais a economia do pú-blico consumidor. A campanha

mítica também não explica que a utilização de sacolas re-tornáveis ou reutilizáveis bem como a utilização de caixas de papelão ou sacos de papel, para conduzirem alimentos, por exemplo, podem acarretar outros graves problemas, pois estes recipientes pelo uso ina-dequado e repetitivo podem abrigar, transportar e fazer proliferar inúmeras bactérias, fungos, bolores, coliformes fe-cais e outros agentes nocivos à saúde humana. Inclusive a ANVISA já proíbe o uso de sa-colas de plástico reciclado em supermercados por se tratar de transporte de alimentos. O mito é o “que se diz”, impli-

cando dizer que não é neces-

sariamente uma mentira, mas

uma verdade superdimensio-

nada pela comunicação repas-

sada de pessoa para pessoa

pela tradição da oralidade

(pela fala), como nos povos

antigos, que hoje encontra na

mídia seu principal veículo de

disseminação. O problema

ambiental existe, mas o cará-

ter superdimensionado pelo

apelo ao imaginário popular e

social do processo propagan-

dístico é o que caracteriza o

mito. O dito popular de que:

“quem conta um conto aumen-

ta um ponto”, cabe aqui para

ilustrar o que seja o mito. Mas

isto se efetivou anteriormente

quase que naturalmente pelos

diversos usos da linguagem

em seu processo de transmis-

são codificadora

e decodificadora dos seus signos linguísticos pela comu-nicação, o que hoje acontece de maneira ideologicamente bem articulada e planejada com claras intenções de ma-nipulação. A dessacralização deste mito das sacolas plásti-cas nos mostra o caráter pro-fano e histórico de sua reali-dade, a fome de lucros ainda mais crescente por parte de quem o veicula, como tenho dito. Um fato miticamente su-perdimensionado é a estimati-va das centenas de anos ne-cessárias para a degradação de componentes plás-ticos na natureza. Sa-bemos que alguns objetos de plásticos são de grande durabi-lidade, que curiosa-mente não estão sen-do combatidos, mas outros objetos plásti-cos, pela sua espes-sura e composição frágil são de pouca durabilidade. Não falo nem das sacolas plásticas que alguns supermercados estão adotando, que de tão frágeis e finas mal suportam o peso de poucas mercadorias, chegando a ter suas alças arrebentadas ou ras-gam-se por inteiro, nos obri-gando a utilizar duas ou até três ao mesmo tempo, uma dentro da outra, para condu-zirmos as mercadorias. O que gostaria de ressaltar é que em observações empíricas e cotidianas tenho verificado que algumas sacolas plásti-cas tradicionais se degradam facilmente, mesmo em ambi-entes fechados ao abrigo da luz ou umidade. Quem muitas vezes já não guardou um ou mais objetos em sacolas plás-

ticas e depois de algum tem-po, cerca de poucos anos ou mesmo alguns meses, não percebeu que as sacolas fica-ram secas e degradadas, chegando a se esfarelar em nossas mãos, nos obrigando a trocá-las? Isto já me ocor-reu várias vezes, mesmo não sendo sacolas plásticas oxi-biodegradáveis. O que dizem é que as sacolas plásticas duram cerca de 100 anos pa-ra serem degradadas pela natureza, mas esta é uma hi-pótese que ainda carece da precisão científica. Mas o que

é a certeza científica se a pró-pria ciência na atualidade pa-dece em um mar turbulento de crise paradigmática?

A esta altura podemos agora suscitar as seguintes reflexões: 1. No interior deste mito das sacolas plásticas há uma verdade quanto aos ris-cos ao meio ambiente. 2. Sa-bemos que, segundo especia-listas, o plástico é obtido co-mo derivação do gás produzi-do pela combustão do petró-leo, e que se este gás não for utilizado para produção de

resinas plásticas ele será “desperdiçado” e será emitido para a natureza (o que já acontece mesmo com a pro-dução de plásticos) contribu-indo ainda mais para o aque-cimento global e poluição. 3. Os materiais plásticos, inclu-indo as sacolas, ainda são importantes. Então o que fa-zer em contraposição à enga-nosa campanha pelo fim das sacolas plásticas? Um cami-nho tem sido apontado por alguns ambientalistas e em-presários que passaram a in-vestir na produção de plásti-

cos oxibiodegra-dáveis para se-rem utilizados nas sacolas. O incentivo e até a institucionaliza-ção da adoção das sacolas plásticas oxibio-degradáveis em substituição às sacolas de ter-moplástico (tradicionais) têm sido pratica-dos por diversos países, sobretu-do na Europa, e no Brasil por al-guns Estados e municípios. Já

podemos perceber que al-guns supermercados e lojas já adotam estas novas saco-las alternativas fabricadas com o aditivo “d2w”, produzi-das a partir do final dos anos 80, que segundo seus fabri-cantes são ambientalmente corretas por se decomporem mais rapidamente na nature-za reduzindo o seu impacto ambiental. Mas será que es-tas sacolas plásticas oxibio-degradáveis também abrigam um mito?

* Washington Fer-

reira Fontes é Es-

critor, Filósofo e

Poeta.

N a fala em que o Excelen-

tíssimo Senhor Presi-

dente da Província, Dou-

tor Manoel Ribeiro da Silva Lisboa,

abriu a 3ª sessão da Assembleia

Legislativa, em 7 de setembro de

1837, conforme relatório editado

pela Typografia de M.F. de Faria,

existia uma pretensão, por sua par-

te, em se fazer uma integração

com o interior, através de uma pon-

te, ligando Natal à margem esquer-

da do rio Potengi, na localidade

conhecida como peixe boi.

Foi exatamente no tópico

“Comodidades Públicas”, que o

ilustre governante se pronuncia de

maneira firme, demonstrando a ne-

cessidade urgente de se fazer

obras para viabilizar a interioriza-

ção:

“Já em outro lugar vos ob-

servei a absoluta falta de alguns

edifícios indispensável à comodida-

de pública (....). A província em to-

da ela não tem uma única estrada,

nem uma ponte: daí, pois, sobre

tão importante objeto alguma provi-

dência pronta, capaz de atalhar o

progresso dos danos, que por tão

sensíveis privações se segue à sua

fazenda, habilitai ao menos, ao go-

verno a fazer aquela deste rio no

lugar denominado “Peixe Boi”, e a

abrir uma estrada da Capital ao

encontro daqueles, que se dirigem

as províncias vizinhas: Vós bem

sabeis de que importância seriam

estas duas obras ao comércio, que

todo se escoa para o Ceará e Pa-

raíba”.

Já na fala do Presidente

da Província, Antonio Marcellino

Nunes Gonçalves, vi no seu relató-

rio, datado de 14 de Fevereiro de

1859, precisamente nas páginas 16

a 18, seu posicionamento de que,

construir uma ponte atravessando

o rio Salgado não solucionaria to-

talmente o isolamento da capital e

mas que o Guarapes, fora do cintu-

rão de areia que circundava a Ca-

pital e com pleno acesso ao interi-

or, era a localidade perfeita para

receber investimentos do Governo

da Província.

É desta forma que está con-

signado:

“Duas léguas ao Sul da Capi-

tal, á margem direita do mesmo rio,

que a banha, no lugar denominado

Guarapes, observa-se, como não

vos é estranho, um pequeno povo-

ado, que, pelas favoráveis disposi-

ções em que se acha, pode ter um

rápido crescimento, a ser por qual-

quer modo animado”.

Quando me desloquei a loca-

lidade acima citada e fiz algumas

fotos, achei por bem ter como mar-

co inicial o viaduto da URBANA,

depois segui pela Avenida Industri-

al João Francisco da Mota, passan-

do pelo Km 6, em busca da famosa

curva da morte, até a entrada que

dar acesso aos Guarapes.

Fazendo o percurso por es-

ta alternativa, teremos uma exten-

são de 8,7 Km de paisagens boni-

tas que embelezam o nosso

“Kantinho”.

REFERÊNCIA:

http://www.crl.edu/brazil/provincial/

rio_grande_do_norte

“... E o poder, mesmo

que seja uma triviali-

dade dizê-lo, não está

nas instituições que

elegemos. O poder

está noutro lugar.”

José Saramago

F olhear os

jornais

mais lidos,

as revis-

tas tradicionais e

visitar as redes so-

ciais pode levar o

leitor à conclusão

de que a irracio-

nalidade presi-

de o debate de

ideias no Brasil

atual. Mas essa

será apenas

uma impressão,

porque é assim

que se expres-

sam as ideias domi-

nantes ao nível do

senso comum.

A intolerân-

cia, o preconceito e

o ódio, predominan-

tes no debate frasal

da comunicação

virtual, não expres-

sam um movimento

espontâneo. Pelo

contrário, resulta de

uma estratégia de

disputa do poder

político pela classe

dominante na esfe-

ra econômica, des-

locada do governo

em 2002.

A referida

estratégia tem por

base o resgate do

racismo e do pre-

conceito social his-

tóricos - estimula-

dos e incitados dia-

riamente via as

grandes redes de

comunicação, que

funcionam sem

qualquer regulação,

ao gosto e coman-

do de interesses da

grande economia,

do capital financeiro

-, a fim de legitimar

o aniquilamento do

estado democrático

de direito, apresen-

tado como invenção

do atual governo,

para possibilitar os

atos de corrupção,

sonegação, tráfico

de influência e lava-

gem de dinheiro.

Para compre-

ender o tempo pre-

sente é necessário

vislumbrar o ponto

exato em que a so-

ciedade brasileira

se encontra. E o

momento atual é de

intensa luta entre as

classes sociais pelo

comando político e

econômico da soci-

edade, que sempre

esteve a serviço

dos interesses

da classe que

comanda a

economia, a

classe domi-

nante, a elite

nacional.

As conquis-

tas democráti-

cas, consagradas

na Constituição Fe-

deral de 1988, mar-

caram um novo

tempo político, o

tempo da remodela-

ção do estado naci-

onal, o primeiro

passo para o alcan-

ce do ciclo político,

econômico e social

de conteúdo popu-

lar e democrático,

capaz de aliar cres-

cimento econômico

e distribuição de

renda.

O novo ciclo histórico

se iniciou com a mudança po-

lítica de 2002, na qual as for-

ças conservadoras foram

deslocadas do poder executi-

vo, mas permaneceram no

comando da economia, do

poder judiciário e da burocra-

cia estatal.

A cons-

trução e con-

solidação de

um novo ciclo

político, eco-

nômico e soci-

al importa

num processo

de transição

entre o conte-

údo novo e o

velho, com

vistas a supe-

ração deste

último. E os

processos de

transição são

tempos de tur-

bulências, que

perduram até

que novo equilíbrio se estabe-

leça ou o processo seja inter-

rompido.

A transição no atual

ciclo político não se completa

sem o alcance do desenvolvi-

mento nacional com distribui-

ção de renda e valorização do

trabalho. Para tanto, há que

se alterar os parâmetros atu-

ais de remuneração do capi-

tal, bem como as responsabi-

lidades sociais deste. Eis aqui

a razão do recrudescimento

da disputa política pelos ru-

mos do governo.

O cenário nacional de

disputa resta ainda condicio-

nado pelos efeitos da crise

econômica mundial, da crise

do petróleo no mercado inter-

nacional e da crise política,

potencializada pelo tratamen-

to seletivo dos processos de

investigação da corrupção,

que envolve agentes do go-

verno e do setor privado.

O primeiro sinal de de-

sequilíbrio da disputa pode

ser identificado no resultado

eleitoral de 2014, no qual as

forças conservadoras amplia-

ram sua votação e represen-

tação no poder legislativo, en-

quanto as forças do governo

e a representação dos traba-

lhadores decresceu.

Sem maioria no parla-

mento, o governo não conse-

gue adotar as medidas ne-

cessárias ao enfrentamento

da crise. Não bastasse, a

oposição e par-

te do PMDB

ampliam as difi-

culdades da

presidenta com

aprovação das

chamadas

“pautas bom-

bas”; com a re-

visão de suas

contas de cam-

panha pelo

TSE; e pela de-

saprovação das

contas de go-

verno pelo TCU,

por motivo não

considerado no

julgamento de

contas e cam-

panhas dos go-

vernos anteriores.

É exatamente neste

ponto que se situa, como

ação complementar, a utiliza-

ção do preconceito e o incita-

mento à violência contra os

programas sociais, contra as

políticas públicas, contra os

partidos de esquerda, contra

os movimentos sociais e con-

tra qualquer seguimento ou

movimento de apoio ao go-

verno.

Diante da fragilidade do

governo e das dificuldades

dos trabalhadores em decor-

rência da crise econômica, a

grande mídia se encarrega de

manipular o imaginário social,

levado a crer na responsabili-

dade do governo pelos pro-

blemas estruturais de um es-

tado nacional, criado e organi-

zado para favorecer

os banqueiros e do-

nos dos grandes

empreendimentos,

em detrimento da

classe menos favo-

recida, que somente

há 12 anos reduziu

a números aceitá-

veis o problema da

fome e da mortalida-

de infantil.

Fatos lamen-

táveis como a inva-

são do velório do ex

-senador Eduardo

Dutra com xinga-

mentos e insultos ao

próprio e aos famili-

ares; a agressão ao

ex-ministro Mantega

em atendimento

hospitalar; as agressão e

ameaças machistas à sena-

dora Maria do Rosário do PT

e à deputada federal Jandira

Feghali do PCdoB; as amea-

ças variadas, inclusive de

morte, a lideranças da UNE,

do MST e a jornalistas; e os

ataques e agressões, de to-

dos os tipos, à presidenta da

República Dilma Rousselff

são provas e demonstrações

da violência da luta de clas-

ses no Brasil.

Mais recente, no último

dia 21, por ocasião do esvazi-

amento de bonecos injuriosos

por jovens militantes, a cidade

do Natal foi palco de cenas

aterradoras: a polícia aciona-

da e perfilada em guarda a

um crime de injúria; assesso-

res de dois deputados fede-

rais, lotados no congresso na-

cional, portando arma exclusi-

va das forças policiais, agri-

dem um professor; jovens al-

gemados e conduzidos por

policiais são espancados; os

responsáveis pelo boneco in-

jurioso agridem e insultam mi-

litantes do PT e do PCdoB em

frente à delegacia sem qual-

quer ação dos policiais.

Quando a intolerância

e o ódio são livremente difun-

didos nos meios de comunica-

ção; quando o estado como

força coercitiva dá guarda e

abrigo às manifestações que

ofendem a honra das pesso-

as, inclusive da presidenta da

República; quando manifesta-

ção de conteúdo fascista são

permitidas; o estado democrá-

tico de direito está gravemen-

te ameaçado e, neste caso,

somente a luta popular pode

derrotar e evitar o retrocesso.

Homero de Oliveira Costa é profes-

sor de Ciências Políticas da UFRN. Fez o seu mes-

trado na UNICAMP em Ciências Políticas e o Doutorado em Ciências Sociais na área de polí-

tica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Faz parte do Departamen-

to de Ciências Sociais da UFRN e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais na

área de mestrado e doutorado da mesma Instituição de Ensino.

Homero Costa é escritor e tem em seu currículo várias publicações, entre elas: Dilemas da

Representação Política no Brasil (Editora da UFPB), A Insurreição Comunista de 1935: Na-

tal, o primeiro ato da tragédia. (Editora Ensaio-SP), Democracia e Representação Política no

Brasil (Sulina/RS), A Reforma Política no Brasil e Outros Ensaios, Crise dos Partidos Políti-

cos – Democracia e Partidos Políticos no Brasil (Paco Editorial) além de escrever diversos

artigos acadêmicos e participação em emissoras de TV e rádios à nível local e nacional.

Por Fátima Viana

RK – As pesquisas de opinia o evidenciam a

existe ncia de certa rejeiça o popular pelas organi-

zaço es partida rias e pelas instituiço es, tais como

o Poder Legislativo, o Poder Judicia rio e o Poder

Executivo. A sociedade brasileira enfrenta uma

crise no sistema representativo? A que se deve a

crise de representatividade?

Homero Costa — Creio que ha uma crise

mais geral que diz respeito na o apenas ao Brasil,

mas as democracias representativas. De fato,

pesquisas realizadas em diferentes contextos

tem revelado uma perda da credibilidade das

instituiço es polí ticas, ou seja, uma progressiva

desconfiança social em relaça o aos partidos polí -

ticos que se expressa no nu mero significativo de

abstenço es, apatia que tem se constatado com o

descenso da participaça o eleitoral. No caso espe-

cí fico do Brasil, vivemos hoje uma situaça o de

uma crise na o apenas de credibilidade das insti-

tuiço es representativas, como uma grave crise

econo mica que contribui, a meu ver, para ampli-

ar as descrença e minar a confiança no governo e

no parlamento. A que desse? Sa o va rios fatores.

Claus Offe, analisando essa crise ja no iní cio dos

anos 1980 afirmou que as estruturas partida rias

vinham se transformando em verdadeiras

“ma quinas eleitorais”, em que a conquista do po-

der polí tico levava a “desradicalizaça o ideolo gi-

ca” e a indistinça o programa tica, resultando em

alianças eleitorais entre partidos sem qualquer

afinidade programa tica e ideolo gica (“Claus Off,

“A democracia partidária competitiva e o welfare

state keynesiano: fatores de estabilidade e desor-

ganização”, revista Dados, n.1 vol 26, 1983). O

desdobramento desse processo nos anos posteri-

ores, legitimam essa afirmativa e o Brasil exem-

plifica isso, com a indistinça o programa tica e ide-

olo gica das alianças eleitorais. Tudo isso, a meu

ver, amplia a descrença nos partidos, que tem

perdido suas funço es de intermediaça o entre Es-

tado e sociedade. No seu estudo cla ssico sobre os

partidos, A ngelo Panebianco, baseado em exten-

sa pesquisa sobre as transformaço es dos parti-

dos no ocidente, mostra que os partidos passa-

ram a ter uma preocupaça o exclusiva com a com-

petiça o eleitoral, burocratizando-se, distancian-

do-se de suas bases e, portanto, perdendo credi-

bilidade (A ngelo Panebianco. “Modelos de parti-

do: organização e poder nos partidos políticos”,

Martins Fontes, 2005). A rejeiça o aos partidos

que as pesquisas

tem apontado, que se expressa nas altas taxas de

abstenço es – mesmo em paí ses com voto obriga-

to rio, como no Brasil – ale m dos votos em bran-

cos e nulos - na o e uma postura contra o regime

democra tico, mas contra os mecanismos tradicio-

nais de mediaça o e representaça o polí tica.

RK - A imprensa tem noticiado a realizaça o de

uma reforma polí tica no Brasil, enquanto o movi-

mento social continua a reivindicar a realizaça o

da reforma polí tica. O Brasil precisa de uma re-

forma polí tica? Qual o processo mais indicado

para a reforma polí tica no Brasil atual?

Homero Costa — A reforma polí tica no

Brasil tem sido discutida

ha muito tempo, dentro e

fora do Congresso nacio-

nal. No Congresso, diver-

sas comisso es foram for-

madas, tanto na Ca mara

como no Senado, diagno s-

ticos e relato rios foram

feitos, todos apontando a

necessidade de mudanças

substanciais no sistema

partida rio e eleitoral, com

um conjunto de propostas

como financiamento pu bli-

co exclusivo de campa-

nhas, fim das coligaço es

em eleiço es proporcionais, diminuiça o de manda-

to de senadores, fim de suplente de senador, fim

do voto obrigato rio etc. No entanto, so em 2015 e

que se conseguiu votar na o uma reforma polí tica

ampla, mas uma minireforma que, a meu ver,

mante m os mesmos problemas do modelo anteri-

or, a começar pela aprovaça o do financiamento

de empresas aos partidos. O problema da refor-

ma polí tica e que os que foram beneficiados por

esse modelo na o querem mudar. Na o ha consen-

so sobre questo es centrais e portanto, a depen-

der apenas do Congresso Nacional na o teremos

uma reforma polí tica ampla (e necessa ria). Quan-

to as entidades da sociedade civil, ha muitas or-

ganizaço es e propostas, como a da coaliza o de-

mocra tica, mas que precisa ser aprovada no Con-

gresso nacional e, por melhores que sejam, na o

conseguem sequer ser votadas. Creio que uma

saí da seria uma Constituinte Exclusiva para fazer

uma reforma polí tica, que foi defendida tanto por

Lula como por Dilma Rousseff, mas que na o con-

seguiram passar de (boas) intenço es. Enfim, sem

participaça o popular na o teremos reforma polí ti-

ca.

RK – A OAB e a CNBB, em conjunto com

mais de 100 entidades do movimento

social, enviaram um projeto de lei de

iniciativa popular para reformar o siste-

ma eleitoral vigente, num movimento

denominado “coaliza o democra tica”.

Qual sua opinia o sobre a referida pro-

posta?

Homero Costa — Acho impor-

tante. A Coaliza o e uma articulaça o da

sociedade civil que defende uma Refor-

ma Polí tica Democra tica. E composta

hoje por 66 entidades, movimentos e

organizaço es sociais, entre as quais a

OAB, CNBB, Movimento de Combate a

Corrupça o Eleitoral (MCCE), a Platafor-

ma dos Movimentos Sociais pela Reforma Polí ti-

ca, UNE, CTB, CUT, UBES, MST, etc. A Coaliza o

pela Reforma Polí tica Democra tica e Eleiço es

Limpas defende na o apenas uma reforma polí tica

com a ampliaça o da participaça o popular nas ins-

ta ncias de poder. O diagno stico e de que existe

um grande nu mero de problemas no sistema elei-

toral e partida rio que precisa de mudanças ur-

gentes e para isso elaborou um projeto voltado

para o que chamou de “questo es estruturantes

para uma Reforma Polí tica Democra tica”

e que pudesse ser aprovado sem necessidade de

emendas constitucionais. Sa o fundamentalmente,

quatro: 1) Fi-

nanciamento de

campanhas elei-

torais (o modelo

atual, misto, que

permite o finan-

ciamento de

campanhas por

empresa, leva a

corrupça o elei-

toral); 2) o sis-

tema eleitoral

proporcional de

lista aberta de candidatos(propo e eleiço es pro-

porcionais em dois turnos); 3) a sub-

representaça o das mulheres (defende a paridade

entre homens e mulheres nas listas partida rias);

4) a falta de regulamentaça o dos mecanismos da

democracia direta. Mas, como eu disse, o projeto

e mais amplo, defende tambe m uma reforma ur-

bana, uma reforma agra ria e democratizaça o dos

meios de comunicaça o, ale m de medidas relacio-

nadas com a melhoria dos serviços pu blicos co-

mo sau de, educaça o e transporte coletivo urbano.

Em relaça o a s propostas, uma considerada cen-

tral e a que diz respeito ao financiamento de cam-

panhas “o problema estrutural mais grave que

afeta gravemente o processo democra tico brasi-

leiro e o financiamento de campanhas por empre-

sas (...) isto porque o poder polí tico daí originado

na o representa os interesses da maioria do povo

brasileiro ale m de ser uma das principais causas

da corrupça o eleitoral”. E evidente que o financia-

mento de empresas (que representa a maior par-

te dos recursos de uma campanha eleitoral tem

implicaço es na representaça o. Ha uma estreita

relaça o entre recursos para campanhas e e xito

eleitoral. Um estudo realizado pelo Departamento

Intersindical de Assiste ncia Parlamentar (DIAP)

com dados relativos a s eleiço es de 2010, por

exemplo, mostrou que dos 594 parlamentares

eleitos (513 deputados e 81 senadores), 273

eram empresa rios, 160 compunham a chamada

bancada ruralista, 66 eram da bancada evange lica

e apenas 91 parlamentares poderiam ser consi-

derados representantes dos trabalhadores. Nas

eleiço es de 2014, o perfil conservador do Con-

gresso Nacional se ampliou, segundo o mesmo

Diap.

RK – A proposta da “coaliza o democra tica” suge-

re a eleiça o proporcional em dois turnos e a lista

pre ordenada. Em que consiste a proposta de elei-

ça o proporcional em dois turnos e como funciona

a lista pre ordenada?

Homero Costa — A coaliza o propo e uma

mudança no sistema eleitoral de listas abertas,

em vigor, para um sistema de listas fechadas. Es-

sa proposta foi defendida pelas comisso es especi-

ais de reforma politica no Congresso Nacional,

sem serem voltadas em plena rio nas respectivas

Casas legislativas. Quando isso ocorreu, em 2015,

por razo es compreensí veis, foi mantido o de lis-

tas abertas porque a maioria dos eleitos o foram

nesse sistema. Ha

muitas crí ticas, co-

mo a individualiza-

ça o das campanhas,

a competiça o dos

candidatos dentro

do mesmo partido,

etc. O diagno stico da

coaliza o e o de que a

lista aberta de candi-

datos acarreta se -

rios problemas ao

sistema polí tico brasileiro. “O voto e dado a qual-

quer dos candidatos da lista.

Assim a disputa eleitoral e realizada em torno de

indiví duos e na o em torno de projetos para solu-

cionar os problemas do Paí s, dos Estados ou mu-

nicí pios. E, mais grave, se elege o candidato que

dispuser de mais recursos. O poder econo mico

passa a ser o diferencial a garantir a eleiça o.

Ale m do mais este sistema conduz a disputa elei-

toral para dentro do partido. Ganha aquele que,

no partido, consegue o maior nu mero de votos.

Isto leva a uma guerra entre os candidatos do

mesmo partido e a consequen-

te fragilizaça o partida ria (...).

Ha um rebaixamento do pro-

cesso eleitoral. Tal sistema na o

leva a que os partidos tenham

uma definiça o polí tico-

ideolo gica. (...) os votos na o

sa o dados em funça o de pro-

gramas, de projetos para solu-

cionar os problemas das diver-

sas insta ncias de poder. Ele

permite que um candidato que

tenha muitos votos possa asse-

gurar a eleiça o de candidatos

inexpressivos”.

Para a coaliza o o proble-

ma do atual sistema eleitoral brasileiro na o esta

na proporcionalidade, mas no sistema de listas

abertas e propo e como alternativa eleiço es pro-

porcionais em dois turnos. Resumidamente seria

o seguinte: No primeiro turno o voto sera dado

ao partido, a plataforma polí tica e a lista fechada

de candidatos (a lista partida ria de candidatos

devera o ser realizadas eleiço es prima rias, com a

participaça o de todos os filiados e acompanha-

mento da Justiça Eleitoral e do Ministe rio Pu bli-

co). Com base no quociente eleitoral sera defini-

do o nu mero de vagas parlamentares a serem

preenchidas por cada partido. Ja no segundo tur-

no o voto sera dado ao partido (lista partida ria)

mas ao candidato. Participara do segundo turno,

o dobro de candidatos das vagas obtidas por ca-

da partido. Assim, o partido que obtiver tre s va-

gas, por exemplo, disputara o segundo turno

com os seis primeiros nomes de sua lista de can-

didatos e, na proposta, assegura-se que o que a

coaliza o chama de “recursos do Fundo Democra -

tico de Campanha” sera o destinados em parte

iguais aos candidatos, em sí ntese: no primeiro

turno vota-se no partido, no programa, na lista,

pore m no segundo turno votam-se apenas nos

candidatos. É uma proposta inte-

ressante, mas certamente terá

imensas dificuldades de se viabili-

zar. Tem o mérito de reduzir o nú-

mero de candidatos e os custos de

campanhas e contribui para a de-

mocratização do processo eleitoral..

RK – A participaça o feminina na

polí tica, notadamente no poder

legislativo e no poder executivo,

na o corresponde a presença fe-

minina na força economicamen-

te ativa da sociedade, sendo ain-

da muito inferior a sua presença

no mundo do trabalho. Qual o

melhor e mais efetivo caminho para alcançar a

paridade entre homens e mulheres na composi-

ça o dos poderes constituintes da Repu blica?

Homero Costa — A ampliaça o da presença

feminina e de fundamental importa ncia. As mu-

lheres, historicamente foram excluí das de parti-

cipaça o polí tica (na o apenas no Brasil. Mesmo

nos paí ses de larga tradiça o democra tica as mu-

lheres foram alijadas durante muito tempo do

processo eleitoral e so no se culo XXC ampliaram

a participaça o). No Brasil, os partidos foram for-

mados no Impe rio e so em 1932, 33 anos depois

da Proclamaça o da Repu blica, e que tiveram as-

segurado o direito de voto.

Ja que nos referimos a Coaliza o, ela defende a

alterna ncia de ge neros nas listas partida rias, vi-

sando abrir caminho para que a destinaça o de

50% das vagas de candidatos para mulheres se

transforme em 50% eleitas para os parlamentos, en-

tendendo que a sub-representaça o polí tica das

mulheres afeta a democracia na medida em que

exclui mais da metade do eleitorado (dados do

TSE indicam que sa o 51,3%). Dados relativos a

legislatura 2011-2014 mostraram que, entre os

513 deputados somente 46 eram mulheres (8,96%) e

entre os 81 senadores, eram apenas 8 (9,81%) evi-

denciando uma enorme diferença entre o número de

mulheres eleitoras (e na sociedade brasileira) e sua

representação política. Em 2014 foram eleitas 51 de-

putadas federais mulheres, o que representa

9,9%, um pouco acima da legislatura anterior

e dos 27 novos senadores, houve também um

pequeno aumento, cinco foram eleitas. Com

isso, são 11 mulheres senadoras ou 13,6% do

total de 81.

RK – O financiamento das campanhas eleitorais

e um tema pole mico e na o ha consenso sobre a

melhor forma, se o financiamento pu blico ou o

financiamento privado. Qual a influe ncia do fi-

nanciamento privado sobre a vontade soberana

do eleitor e sobre o resultado eleitoral?

Homero Costa — A influe ncia do financia-

mento privado nas campanhas eleitorais e um

fator decisivo nas eleiço es. Na o e por acaso que a

maioria dos eleitos foram justamente os que

mais gastam em suas respectivas campanhas. Se

o poder econo mico decide, enta o, como fica a

representaça o popular? Isso tem clara implica-

ça o na representaça o, afinal os eleitos represen-

tara o ao interesses dos eleitores em geral ou de

quem financiou suas campanhas? Os que se

opõem ao financiamento público de campanha, como

diz a proposta da coalizão democrática, argumen-

tam, equivocadamente, que este financiamento

servira ta o so para beneficiar polí ticos corruptos

(como se os corruptos na o sejam eleitos com

financiamento privado). No entanto a proposta

de Financiamento Democra tico de Campanha

“implica em uma se ria de medidas para barrar a

corrupça o eleitoral (...)o sistema eleitoral pro-

posto, contribui com este objetivo, reduzindo

drasticamente o nu mero de candidatos e estabe-

lecendo que os recursos pu blicos sejam destina-

dos de forma igualita ria entre os candidatos, re-

duzindo com as distorço es econo micas entre os

candidatos. No combate a corrupça o eleitoral o

projeto impo e taxativamente a cassaça o de re-

gistro de candidatos beneficiados por contribui-

ço es ilegais. Por outro lado proí be a pessoa jurí -

dica, que destinou ilegalmente recursos para

campanha, de contratar com o a administraça o

pu blica por cinco anos, ale m de aplicar uma mul-

ta de dez vezes a quantia ilegalmente doada. No

caso de reincide ncia sera decretada a extinça o

da pessoa jurí dica. O projeto impo e que as doa-

ço es sejam realizadas na pa gina oficial do Tribu-

nal Superior Eleitoral (TSE) sendo assegurada

sua divulgaça o em tempo real (...) a movimenta-

ça o dessas verbas sera feita exclusivamente pe-

los partidos polí ticos ou coligaço es. Cabe ressal-

tar que o financiamento de campanhas por em-

presas e uma relaça o de custo benefí cio que visa

o retorno de capital investido, constituindo o

“financiamento privado” indiretamente com di-

nheiro do contribuinte, ja que “investimento”

feito em campanha re-

torna em volume mui-

to maior do que foi

aplicado. A realidade

mostra o retorno dos

recursos ao empresa -

rio atrave s do superfa-

turamento de obras e

de favores concedi-

dos”.

RK – O STF em votaça o histo rica considerou in-

constitucional o financiamento empresarial em

campanhas eleitoral. Qual a importa ncia dessa

decisa o e as repercusso es sobre o sistema eleito-

ral do Brasil?

Homero Costa — A maioria do STF ja havia

tomado essa decisa o. No entanto, o ministro Gil-

mar Mendes pediu vistas ao processo e ficou 1

ano e 5 meses para dar seu parecer, que, por

coincide ncia, foi dado um dia de-

pois da votaça o na Ca mara dos

Deputados que manteve o financi-

amento de empresas e, tambe m,

por coincide ncia, no mesmo senti-

do. Pouco depois, o STF reafirmou

sua posiça o, com 8 votos a 3 e a

presidente Dilma Rousseff vetou

a proposta da Ca mara. A decisa o,

claro e de extrema importa ncia. A

questa o que se coloca e : quem le-

gisla? Se o congresso, por pior que

seja, vota por uma coisa, o supre-

mo, com apenas 11 ministros de-

cide o contra rio, que fica valendo?

A decisa o dos 11 ou do Congresso

Nacional? Em relaça o a repercus-

sa o no sistema eleitoral, e imensa.

O financiamento de campanhas eleitorais por

parte das empresas tem pavimentado o caminho

da corrupça o no Brasil, com implicaço es o bvias

na representaça o polí tica. E tem servido na o ape-

nas para que o poder econo mico decida as elei-

ço es (a maioria dos eleitos foram sa o em geral os

que mais arrecadam e gastam em suas respecti-

vas campanhas) como para enriquecer muitos

espertos, de va rios partidos, com as “sobras de

campanhas”.

RK – O nu mero de partidos legalizados e em fun-

cionamento e tema de debates permanentes, na

imprensa e na sociedade. Existe um nu mero ide-

al, limite de partidos polí ticos? Quantos partidos

polí ticos sa o suficientes para a democracia no

Brasil?

Homero Costa — O problema no Brasil na o

e a existe ncia do nu mero de partidos, que na o

podem se limitados num paí s democra tico. A li-

mitaça o deve ser resultado e expressa o do voto

dos eleitores. O que ocorre

no Brasil e que formar um

partido polí tico tem se re-

velado um bom nego cio,

especialmente em perí odos

eleitorais, com as negocia-

ço es para as alianças, ho-

ra rio eleitoral etc, ale m,

claro, do fundo partida rio,

garantido a todos os parti-

dos que tem registro. O

problema no Brasil – e

creio que tambe m em ou-

tros paí ses mas aqui parece

ser mais grave - e a prolife-

raça o de legendas de alu-

guel, sem programas, sem

ideologia, servindo para

um monte de picaretas se promoverem e negoci-

arem alianças em perí odos eleitorais. Quando a

coaliza o democra tica se refere aos dois turnos

nas eleiço es proporcionais, tem entre outros me -

ritos o de acabar (ou combater) os chamados par-

tidos de aluguel. Isto porque a votaça o no primei-

ro turno sendo feita em torno de propostas obri-

gara os partidos a terem um programa e uma po-

siça o polí tico-ideolo gica definidas e na o mera-

mente para registro na Justiça Eleitoral e os que

na o tiverem, que forem constituí dos meramente

para participar do troca-troca eleitoral, podera o

(e espero que assim seja) sumir do mapa polí tico.

RK – A presidenta Dilma, militante perseguida

e torturada pela ditadura militar, tem afirmado

seu compromisso com o fortalecimento da de-

mocracia no paí s. Qual a sua opinia o sobre a ten-

tativa de instituiço es e de lideranças polí ticas

em interromper seu mandato?

Homero Costa — A presidente Dilma Ro-

usseff foi eleita democraticamente e os derrota-

dos nas eleiço es na o tem aceitado isso. Que o

governo tem uma se rie de problemas, e inega -

vel. Ha uma crise econo mica, cujos desdobra-

mentos ainda sa o imprevisí veis e tem contribuí -

do para o descre dito do governo - que adota

medidas que contrariam o que foi defendido no

curso da campanha eleitoral - ha uma crise polí -

tica, que se expressa no Congresso Nacional cu-

jo apoio e fra gil, refe m de uma base aliada con-

servadora, tendo a frente um partido dividido e

sem consiste ncia politico-

ideolo gica como o PMDB, e

com uma mí dia hegemo nica

(e monopolizada) claramen-

te partidarizada e contra o

governo (que “informa” a

maior parte da populaça o).

Isso e uma coisa, outra, mui-

to diferente, e querer derru-

bar um governo, como a mí -

dia ajudou a faze -lo em 1964,

criando um clima favora vel

ao golpe. Hoje, felizmente, os

militares continuam nos quarte is e se ha golpis-

tas entre eles, creio ser minorita rios e no Con-

gresso, a oposiça o golpista na o tem moral para

isso. Basta ver alguns dos seus lideres respon-

dendo processos por corrupça o. A forma demo-

cra tica de alterna ncia do poder sa o as eleiço es e

na o golpe como determinados setores da oposi-

ça o (e da sociedade) assim o desejam. Alguns

inclusive chegam a defender a volta da ditadura,

ou por desco-

nhecerem o

que ela repre-

sentou no paí s,

e, portanto, por

ignora ncia, por

oportunismo

ou terem sido

beneficiados

por ela. Golpe

e ditadura sa o

os piores cena -

rios possí veis,

mas creio tambe m que os setores democra ticos

da sociedade resistira o para manter as conquis-

tas sociais e fundamentalmente a democracia.

RK – Qual o maior legado do governo Dilma Ro-

usseff e quais as implicaço es polí ticas e instituci-

onais se seu governo for in-

terrompido?

Creio que o maior legado foi

a continuaça o das polí ticas

sociais do governo Lula, mas,

esses avanços esta o ameaça-

dos pelos impactos do ajuste

fiscal e por uma quinada do

governo a direita, com am-

pliaça o da participaça o do

PMDB e com uma base alia-

da conservadora que na o

permite avanços no campo

econo mico, polí tico e social. Quanto a s implica-

ço es polí ticas e institucionais da interrupça o do

seu governo, sa o imprevisí veis. Se ocorrer, creio

que vai depender da forma como sera feita e da

resposta nas ruas dos setores democra ticos da

sociedade. Se na o houver resiste ncia, como ocor-

reu em 1964, os golpistas tera o e xito. Se houver,

a histo ria podera ser outra.

“... há uma crise política, que

se expressa no Congresso

Nacional cujo apoio é frágil,

refém de uma base aliada

conservadora, tendo à frente

um partido dividido e sem

consistência politico-

ideológica como o PMDB...”

José de Castro, jornalis-

ta, escritor, poeta. Nasceu

em Resplendor-MG. Vive

em Natal desde 1976. É

autor de livros para crian-

ças (A marreca de Rebe-

ca, O mundo em minhas

mãos, Poemares, Poetrix,

Dicionário Engraçado, A

cozinha da Maria Fari-

nha). Brevemente estará

lançando APENAS PA-

LAVRAS, poemas, pela

CJA Edições. Participa da

Sociedade dos Poetas Vi-

vos e Afins do Rio Gran-

de do Norte – SPVA/RN

e da União Brasileira de

Escritores – UBE/RN.

O que seria da vida se

a gente não tivesse a

chance de deixar se-

quer uma marca, um

risco, um traço? Ao caminhar

vida afora, marcar presença é

necessário. Mesmo que seja fe-

rindo os pés e deixando-os san-

grar nas trilhas. Inda que sejam

pegadas de dor. A sabedoria

consiste numa certa resignação

revoltada que não nos deixa ca-

lar. A pior doença

é a indiferença, é

o dar de ombros e

não se importar

sequer com a lá-

grima que rola.

Lágrimas são rios

que navegam

nossas tristezas

em leitos de mar-

gens múltiplas:

escárnio, prazer,

inveja, delírios,

sonhos e utopias.

Tudo se mistura e

deságua numa foz, algures, on-

de os olhos ainda não alcançam.

Mas desconfiam. Pressentem.

Intuem. E não se desarvoram. E

não praticam o choro da autopie-

dade, da comiseração, do la-

mento vazio. É preciso ter o cho-

ro exato, daquela dor que vale a

pena. E saber que existe, para

além de todas as tristezas um

porto destino. Sim, um porto

destino. Mas para chegar lá é

preciso ter a coragem de se lan-

çar. Pois existem cais que nos

amarram, que nos prendem, que

nos acomodam na zona de con-

forto. É preciso o gesto de içar

as velas, mesmo trôpegos, mes-

mo na dúvida, mesmo com pou-

co vento.

Pois o vento se reinventa. E da

tempestade se faz chance de

navego. E num momento sinto

que enquanto há vida, enquanto

respiro, enquanto pulsa o cora-

ção, enquanto corre poesia em

minhas veias, a vida vale a pe-

na. Essa mesma vi-

da que é um misto

de alegria, dor e es-

panto. Lágrima doce

é invento de poeta.

E choro sincero é o

que melhor tempera

a solidão. E solidão

é a oportunidade de

olhar com olhos de

dentro. É solitude,

um jeito de enxergar

abismos e, quem

sabe, paraísos. E

perceber que as

fronteiras do existir oscilam entre

esse gesto de acarinhar as pala-

vras e ouvir a voz do silêncio

que inaugura sempre um novo

alumbramento e nos faz cúmpli-

ces da descoberta. O único peri-

go da vida é deixá-la passar em

branco, sem ter valido a pena.

Urge acariciar as palavras. E re-

descobrir a nascente das estre-

las para se reinaugurar em luz a

cada dia. Escreviver é celebrar a

jornada da vida e saber de onde

vem o sopro azul das ternuras.

Algures, há um ninho chocando

poesia.

* Paulo Luiz Silva de Li-

ma — Professor, Licenci-

ado e Bacharel em Ciên-

cias Sociais Pela Universi-

dade Federal do Rio Gran-

de do Norte/UFRN.

Palestrante, Pesquisador

Nas áreas de Sociologia da

Educação do Trabalho

Diversidade e Pluralidade

Cultural. Coordenador do

Núcleo de Direitos Huma-

nos e Minorias da SEM-

THAS, Secretária munici-

pal de Trabalho Habitação

e Assistência Social no

CREAS de Goianinha.

Resumo

Os condicionamentos mate-

riais e simbólicos nos comércios, na

mídia televisiva em comerciais, fil-

mes, novelas e desenhos animados,

e além de carros de som e panfleta-

gens, entrelaçam as crianças na pri-

meira infância em uma teia simbóli-

ca e extremamente eficaz nesta so-

ciedade do consumo na qual vive-

mos, numa complexa relação de

interdependência. É na história das

experiências de vida dos grupos e

dos indivíduos que podemos apre-

ender a composição de gosto e com-

preender as vantagens e desvanta-

gens materiais e simbólicas que as-

sumem o gosto cultural e os estilos

de vida das camadas médias e do

operariado, ou seja, as maneiras de

se relacionar com as práticas da cul-

tura desses sujeitos, estão profunda-

mente marcadas pelas trajetórias

sociais vividas por cada um deles.

Destarte, podemos destacar o poder

das mídias no caso especifico na

primeira infância na sociedade mo-

derna, de modo que uma gama com-

plexa de referências partilhada no

processo de socialização das crian-

ças na primeira infância as influen-

cia a ter um consumo exacerbado,

seja nos comércios, sejam através

do que elas ouvem em rádios em

carros de som e veem principalmen-

te nas TVs.

Palavras Chaves: Primeira Infância,

Consumo, Imaginário, Simbólico.

Resume

The material and symbolic con-

straints in the trades, the television

media in commercials, films, soap

operas and cartoons, and besides

sound cars and pamphlets, inter-

twine children in early childhood in

a symbolic and extremely effective

web in this consumer society in

which we live in a complex interde-

pendence. It is the story of the life

experiences of the groups and indi-

viduals who can learn to taste com-

position and understand the ad-

vantages and material and symbolic

disadvantages that take on the cul-

tural tastes and lifestyles of the mid-

dle class and the working class, ie,

the ways to relate to the practices of

the culture of these subjects, they

are deeply marked by social trajec-

tories experienced by each of them.

Thus, we can highlight the power of

the media in the specific case in ear-

ly childhood in modern society, so

that a complex array of shared ref-

erences in children socialization

process in infancy the influences

have an excessive consumption

does the businesses, whether

through of what they hear on radios

sound of cars and see mostly on

TV.

Key words: Early Child-

hood, consumption, Exploration,

Symbolic Violence.

Introdução

1. CAPITALISMO E CONSUMO

AGINDO NO MUNDO SIMBÓLI-

CO E IMAGINÁRIO DA PRI-

MEIRA INFÂNCIA.

À realidade social é uma construção históri-

ca, cultural, o existente é uma construção, nesse sen-

tido, para Bourdieu “O poder simbólico”, está ligada

“a ordem das coisas”, tratando o dito normal, natural

e inevitável, estando colocadas em todos os aspectos

que formam uma estrutura social, sendo reproduzido

nos corpos e nos habitus de cada indivíduo com a

funcionalidade de esquemas de percepção, pensa-

mento e ação como uma disposição à determinada

prática de grupo ou classe, ou seja, é a interiorização

de estruturas objetivas. E que gera estratégias, res-

postas ou proposições objetivas ou subjetivas para a

resolução de problemas de reprodução social, e que

se traduz e que funciona como esquemas mentais e

comportamentais, inconscientes da ação, da percep-

ção e da reflexão, produto do aprendizado que se

torna inconsciente e que se traduz, a seguir, em habi-

lidade aparentemente natural, em capacidade livre de

atuar no meio social. Bourdier considera que o gosto

e as práticas de uma determinada cultura são resulta-

dos de feixes de condições especificas de socializa-

ção.

Logo a ideia sobre o “merchand” e o mundo

consumista nos comércios existentes nos remete no-

vamente ao conceito desenvolvido de Poder Simbó-

lico do Pierre Bourdieu, que podem nos levar a per-

ceber como o exercício do poder simbólico como

uma violência no que diz respeito ao processo de

formação da criança na primeira infância a ser usada

e abusados pelos mais variados instrumentos midiá-

ticos, como: comerciais, novelas, filmes, músicas,

revistas e jornais entre outros. Contribuindo e repro-

duzindo para o aumento da influência por mercado-

rias que não são necessárias, rompendo valores e

princípios morais, quando estas mídias muitas vezes

influência a violência, ações e atos sexuais de ma-

neira precoce, além de propagar a ideia de ser aceito

entre seus pares apenas se tiver determinado brin-

quedo ou uma roupa ou tênis da moda, desta feita o

capitalismo cria e produz uma espécie de opressão

através das mídias no nosso cotidiano que reflete

diretamente no mundo simbólico e imaginário das

crianças já na primeira infância.

"A raiz da violência simbólica estaria presente

nos símbolos e signos culturais, especialmente

no reconhecimento tácito da autoridade exerci-

da por certas pessoas e grupos de pesso-

as" (Bourdieu, p. 126).

Logo os novos signos se estabelecem onde o

imaginário pode tomar proporções inusitadas, uma

vez que as crianças na primeira infância tem uma

dificuldade maior em distinguir o que é real e o que

é do mundo do imaginário, é possível que estas per-

cam a noção da realidade. A isto Baudrillard deno-

mina de empoderamento do simbólico.

E Bauman (2004) coloca que “A propaganda

que cria um processo exacerbado de exposição.

Quanto maior a exposição, maiores as chances da-

quela imagem adquirir o significado de imprescindí-

vel”.

Segundo Lipovitk (2004), as emissoras pos-

suem instrumentos de manipulação da sociedade tor-

nando-se corresponsáveis na alienação do público

consumidor. Sobre a interiorização do mundo sim-

bólico na criança como um exemplo de como o

mundo de fantasia delas se confundem com a reali-

dade, justificando o gosto da relação entre o consu-

mo de determinado produto e a imagem muitas ve-

zes associado à de um super-herói ou a imagem de

força, a identificação com o personagem de se tornar

um super-herói consumindo este ou aquele produto.

Segundo Mc Neal ( 2000) a faixa com maior

incidência das propagandas, é a que compreende cri-

anças entre 03

a 06 anos, nesta idade as crianças encontram-se no

estágio de seleção, onde todas as suas solicitações

estão voltadas, ainda de forma egocêntrica para a

satisfação plena de seus desejos. Por isso mesmo os

produtos midiáticos dos mais variados tipos tem

uma representatividade enorme sobre as crianças

levando estas a serem consumidoras desenfreadas e

insaciáveis.

A reflexão sobre a projeção de valores sim-

bólicos aos bens de consumo nos discursos da publi-

cidade direcionada à primeira infância o merchandi-

sing das propagandas que passam nos meios midiáti-

cos (televisão). A produção de comerciais nos mais

diversos tipos de mercadorias que são produzidos

pelo capital financeiro (capitalismo), exercem uma

espécie de função modelizante visto que busca defi-

nir um comportamento de uma camada social, que

tem como alvo a criança na primeira infância, veicu-

lando os valores da classe hegemônica, cujo ápice é

o consumo dos produtos que representam tais valo-

res.

Conseqüentemente a propaganda veiculada

nos comerciais atua como catalisadores de ideias,

direcionando e formando valores pautados exclusi-

vamente nos desejos e anseios das crianças na pri-

meira infância, por isso mesmo tais valores capitalis-

tas tem afetado negativamente de forma singular as-

pectos da vida das crianças seja na saúde física,

mental, educação, criatividade e valores, criando

sentimentos falsos de felicidade, pois a ideologia do

capitalismo a fazem acreditar que o ser feliz estar

em ter ou não ter determinado produto que é estimu-

lado pelas mídias, às crianças desejam ter o que está

nas propagandas, e choram sempre por um novo

produto já que o que se tem agora já é antigo, dura

pouco, pois elas (as crianças) já estão desejando a

novidade que está passando nos comerciais da TV.

Segundo Linn, esse ciclo vicioso tem causa-

do outras consequências para as crianças, adolescen-

tes e também para os pais, citando como exemplo o

aumento da obesidade e a sexualidade precoce e o

comportamento violento.

Além do marketing para as crianças enfra-

quecerem os valores democráticos ao encorajar a

passividade, o conformismo e o egoísmo. Ameaça a

qualidade de ensino público, inibi a liberdade de ex-

pressão e contribui para problemas de saúde públi-

cos como a obesidade infantil, a dependência. (Linn,

2006. Pag. 13).

Portanto é de fundamental importância se

perceber, se entender que a mídia no mundo do capi-

tal financeiro é um veículo comercial que atendem a

interesses privados, econômicos, políticos e ideoló-

gicos. Na sociedade de consumo capitalista o que

importa não é a criança em se, mas o produto o qual

é consumido pelas crianças, independentemente de

quais valores esta mercadoria passe a representar

para o publico em questão não importando se este é

bom ou mal, por exemplo: roupas, armas de brin-

quedo, comida etc, a mídia ainda reforça estigmas e

estereótipos de modo que nem elas escapam porque

o capitalismo mesmo na primeira infância não tem

pudor pelo fato de que este sistema político e econô-

mico expõe a criança, fazendo esta entender que só

será feliz, realizada e aceita pelos amigos e familia-

res apenas se consumir de modo desenfreado.

2 - VIDA LÍQUIDA: OS DESEJOS DE CONSU-

MO E A RAPIDEZ PARA SACIÁ-LOS JÁ NA

PRIMEIRA INFÂNCIA.

No que diz respeito à temática tratada, a in-

fluência do capitalismo na primeira infância: consu-

mismo e exposição aparecem nas escolas nos bairros

e nas casas destas crianças, outros conceitos tratados

por Bauman (2002) que indicam o drama tratado

pelos novos padrões de vida que também determi-

nam a dimensão do desejo e da vontade é a questão

da estabilidade que está cada vez mais em risco.

O desejo do perpétuo, já não tem a mesma relação

que antes de modo que o território aparece com

uma definição cada vez mais difícil, supérflua e

incompleta. Uma vez que se compreende isso, as

relações que determinam o momento

atual no qual passa o mundo contemporâneo assume

uma centralidade maior na sociedade de consumi-

dores. Assim, a vida líquida é o conceito utilizado

pelo autor para melhor detalhar os elementos que

determinam essas relações sociais.

Assim, temos as características que constituem

esta vida líquida: a leveza e a fluidez, que são os fa-

tores que tornam as coisas mais voláteis e inconstan-

tes. A desintegração tornou-se menos previsíveis e

há uma quebra das lealdades por conta do processo

de ascensão do nexo dinheiro. As consequências são

os aspectos da rigidez da ordem e um derretimento

das ações coletivas no sentido de que os novos pa-

drões dificultaram atos significativos de comunica-

ção entre os indivíduos, capaz de fazer os interesses

comuns de sociabilidade e lealdade se fragmentarem

para dar mais espaço ao consumismo ao poder de

compra e a incerteza e o comportamento passam en-

tão a ser moldado de acordo com esse contexto.

Tudo isto nos traz sobre as discussões de

Zigmunt Bauman sobre o conceito de Fábrica de

Ordem, entendida como padrões de consumo e re-

gras que vão se reproduzindo no cotidiano. E isso se

encaixa bem no mundo do “merchand” na primeira

infância.

O resultado de todos esses elementos podem

ser vistos através do consumo pelas crianças quando

percebemos que existe uma culpabilidade do indiví-

duo. Essa culpa pode aparecer nas crianças não ape-

nas no fator status de se ter ou não determinado brin-

quedo, mas também como fato de não participar da-

quilo que está como padrão na fábrica de ordem,

segundo os comerciais ou o produto mostrado na

vitrine da loja. Assim, à criança sente o peso da cul-

pa através das pressões, segregações e o questiona-

mento sobre porque ele não se encontra dentro da

sociedade de consumo, gerando um desespero na

criança que vai tentar de todas as formas sair dessa

situação incômoda na qual ela se encontra.

De acordo com Bauman, esse sentimento onde

a culpa cai sobre o indivíduo gerando comportamen-

tos para uma adaptabilidade, ultrapassa fronteiras e

dilui a lógica da nacionalidade e identidade local,

onde as regras e condutas morais giram em torno

desse contexto, usando a noção durkheimiana de

coesão social onde a culpabilidade individual apare-

ce como uma forma contemporânea de anômia.

3. O CONSUMO NA PRIMEIRA INFÂNCIA E

A MASSA EM CANNETI: O ESPECTADOR E

A IDENTIFICAÇÃO.

Para Canetti (1983), o conceito de massa não é

algo que pode ser visto sob uma perspectiva de clas-

se: deve ser vista no caso do objeto que tratamos

aqui, como um público espectador que se torna visí-

vel, concreto e algo mais estético do que sociológi-

co. Assim, a massa tem como objetivo manter uma

unidade sem a qual não tem uma razão para existir.

A política como soberania nacional, ideia de povo,

novamente caminhando para a unidade e não se con-

funde com a população que diz respeito apenas ao

número de habitantes. No entanto, o conceito de

massas diz respeito principalmente ao comporta-

mento, não propriamente pelo numero de pessoas,

mas por suas condições sociais e funções práticas de

ação.

Logo, a partir dessas premissas de Canetti,

podemos entender que a influência da grande mí-

dia, funciona como uma grande massa presente na

sociedade e sempre visível diante de nossos olhos.

No tema a influência do capitalismo na primeira

infância o consumismo e a exposição que este con-

sumo traz a criança, tratado aqui, a massa como

comportamento se expressa principalmente pelos

padrões de consumo ditados para uma camada

muito específica, mas que não se limita a ela. Ou

seja, o que poderia ser algo direcionado a uma

massa fechada, na realidade se torna uma massa

aberta, que passa a manifestar comportamentos

similares em torno dos produtos que são anuncia-

dos em todos os espaços que as crianças circulam

ou não.

Nesse contexto, a massa se forma a partir

da significação dos valores dos personagens pelo

consumo interfere na vida da criança, o que a atin-

ge de acordo com seu lugar social – logo, identifi-

camos que as crianças mais ricas comprarão os

produtos de maior valor, e os mais pobres passam

por um processo de coerção para adquirir os mes-

mos produtos das crianças com maior poder aquisi-

tivo.

O que importa no final das contas é que

esse consumo massivo aconteça não importando se

a criança tem condições financeiras ou não, pois já

sabemos que o capitalismo não possui pudor o que

denota desejos que vão ser expressos em comerci-

ais em filmes, desenhos animados e propagandas e

que serão observados até reproduzir comportamen-

tos e modelos, criando assim processos de coerção

social, até que a criança interiorize o conceito que

precisa e tem que comprar para se realizar”. De

modo que em muitos casos nem os pais procura-

ram saber a respeito do produto antes de comprá-

lo.

4. HARDT & NEGRI E AS DIFERENÇAS EN-

TRE MASSA E MULTIDÃO: INDIVIDUALI-

DADES E PADRONIZAÇÕES EM UM CON-

TEXTO DE CONSUMO NA PRIMEIRA IN-

FÂNCIA.

Percebo que no desenrolar da pesquisa para a

elaboração deste trabalho em que as individualida-

des e padronizações em um contexto de consumo

televisivo na primeira infância o corpo passa a

perder então sua autonomia de forma que os pro-

cessos de comportamento se tornam normatizados

nas escolas.

De modo que a cultura do consumo nas ins-

tituições escolares tem disciplinado e contribuído

para obter indivíduos economicamente dóceis poli-

ticamente.

No que diz respeito à preocupação da Bio-

política sobre os meios de mídia e sua ligação com

o consumo (como é o caso do objeto tratado neste

trabalho), percebe-se em vias teóricas que existe

toda uma atenção com o corpo social, meios e me-

canismos de controle assim como a importância do

aparelho Estatal para tais fins, sujeitos consumistas

já na primeira infância.

Essa combinação em torno da questão dos

corpos para Hardt e Negri (2005) em seus escritos

sobre multidão, faz com que o poder exercido pelas

máquinas e sistemas de informação – nesse caso, a

influência do capitalismo na primeira infância:

consumismo e exposição - para contratá-los e cau-

sar uma suposta sensação de bem-estar. As ativida-

des são monitoradas e se produzem o tempo intei-

ro.

Assim, o objeto coletivo forma o corpo eco-

nômico da globalização, o que difere das perspecti-

vas funcionalistas de análise predominantes do sé-

culo XX, sobretudo no que diz respeito aos meios

de mídia e o público visado para alcançar através

de propagandas que difundam a ideia de consumo

como necessário para obtenção de um estilo de vi-

da rotulado como ideal.

A multidão (a influência do capitalismo na

primeira infância: consumismo e exposição) deve

ser entendida como uma forma molecular, onde os

fluxos se movem e a diferença ganha destaque. E

nesse caso, se a positividade da multidão está no

fato de que não é necessário escolher entre a plura-

lidade e unidade, é preciso também levar em conta

o capital imaterial, as formas linguísticas, a relação

com a publicidade e a própria dimensão do traba-

lho como esfera do afeto, o que é perceptível se

levarmos em conta os estilos e os alvos das propa-

gandas exibidas em intervalos minimamente proje-

tados para atingir uma camada social, as crianças

na primeira infância tratada neste texto.

. CONCLUSÃO.

A questão da influência do capitalismo na pri-

meira infância, o consumismo e a exposição que

traz as crianças me fez

5concluir que o poder de compra – e o que se com-

pra – está sempre de acordo com o grupo no qual o

indivíduo pertence, sendo o ideal difundido não um

novo, mas um já existente visto pela ótica do consu-

mo é praticamente a mesma, muito embora seus me-

canismos tenham se modificado com a ascensão da

“nova classe média”.

Assim, nesse processo no qual o ser é moldado

pela sociedade e o “estar” social como pertencente a

determinado grupo que leva um tipo de vida visto

como ideal o afeto (ou o sentimento de pertencimen-

to no caso do objeto estudado neste texto) ligado ao

consumo aparece como elemento central de análise,

o que tentei colocar em diferentes pontos de vista,

alertando de maneira pungente sobre a padronização

de um estilo de vida “consumista pelas crianças já na

primeira infância”, o poder do simbólico e o imagi-

nário que é construído como ideal, direcionado a

uma camada de indivíduos o que torna problemático

que absorvam determinadas ideias relacionadas ao

“ter” sem uma reflexão mais crítica sobre a ação do

consumir.

Já sabemos que a criança não é autônoma, ela

sofre coerções e influências sociais, ela não é dona

de seu futuro passando e presente, ela é fruto de uma

construção social, econômica, política e cultural que

perpassa a família a escola e os meios de comunica-

ção, de maneira que a influência do capitalismo na

primeira infância tem como objetivo torna as crian-

ças infelizes com o que tem, a problemática maior da

exploração do capitalismo no que diz respeito ao

consumismo infantil é que esta propaganda exacer-

bada torna as crianças consumidoras hedonistas, in-

finitamente insatisfeitas e, contudo, são levadas a

perderem a sua inocência, e a se revoltarem contra

tudo e todos que tentam impedir seus objetivos de

consumo (Venturella, 2003).

De forma a distorcer, manipular valores mo-

rais religiosos e culturais, incentivar a obesidade in-

fantil, a erotização precoce, e excesso de agressivi-

dade, as crianças são corrompidas desde cedo para

tornarem-se pessoas consumistas e sem valores o

consumismo vem degradando nossa sociedade cada

vez mais, como principal alvo do consumismo as

crianças são usadas pelo fato de serem ingênuas e

sentem-se atraídas pelas novidades e pela facilidade

de influenciá-las com marcas e produtos, a publici-

dade se utiliza de cores, luzes, brinquedos e persona-

gens famosos que chamam bastante atenção das cri-

anças.

Portanto, os valores atribuídos às crianças

através do capitalismo, fere os direitos humanos na

medida em que o consumismo e a exploração já na

primeira infância não prioriza o respeito ao próximo

independentemente da posição social, econômica,

cor da pele, religião, não valorizando a pluralidade e

a diversidade, pelo contrário o único interesse do

capitalismo é o consumo e o poder de compra, pa-

dronizando modos de ser e pensar, com a produção e

compra de produtos supérfluos, criando um senso

egoísta de valorização da mercadoria e não do indi-

víduo.

Sendo assim, se faz necessário que se poten-

cialize as políticas publicas já existentes no nosso

país e que se proteja de fato as nossas crianças para

que estas se tornem adolescentes e posteriormente

adultos saudáveis, e que se crie outras que se desen-

volva uma educação já na primeira infância que va-

lorize o outro e não o poder de comprar determinada

mercadoria, rompendo com a força exercida pelo

capitalismo, cabendo aos pais e a escola despertar o

diálogo e por conseguinte o senso crítico nas crian-

ças, atribuindo significados e reconhecimento ao que

é verdadeiramente fundamental que é o respeito ao

outro, dano referências e sentido para a vida no meio

social no qual estas se relacionam e se identificam.

Referências:

ALVES, J. A. L. Os Direitos Humanos como tema

Glibal. São Paulo: Perspectiva 1994.

BLZ O. MÍDIA e Ética. IN: GUARESH; p (ors)

Uma Nova Comunicação é possível: mídia, ética e

política. Porto Alegre: Evangraf, 2002.

BAUMAN, Zygmnunt. A cultura como consumidor

cooperativo. In: O mal-estar da Pós Modernidade.

Rio de Janeiro: Jorge Editores, 1998.

BAUMAN, Zygmnunt. Vida Líquida. Rio de Janei-

ro: Jorge Zahar Editores, 2007.

BAUMAN, Zygmnunt. Amor líquido: Sobre a fragi-

lidade dos Laços Humanos. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2004.

BOBBIO, N. A ERA dos Direitos. Falta a Cidade.

Campos, 2004.

BOURDIEU, Pierre. A Distinção crítica social do

julgamento. São Paulo, Edusp. Porto Alegre, RS:

Zouk, 2007.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbó-

licas. São Paulo, Perspectiva, 1974.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. RJ 3ºed.

Bertrand Brasil, 2000.

BOURDIEU, P. A Distinção: crítica social do julga-

mento. Porto Alegre, Editora Zouk, 2007.

BRASIL – Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília /DF: Senado, 1988.

CANETTI, Elias. Massa e poder. São Paulo: Melho-

ramentos, 1983.

CARPENTER, Edmund, McLUHAN, Marshall. or-

ganizadores; colaboradores : Revolução na comuni-

cação Ray L. Birdwhistell ... et al.; tradução de Ál-

varo Cabral. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

DURKHEIM, Émile. As regras do método socioló-

gico. São Paulo, Martin Claret, 2007.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas.

Rio de Janeiro: Lt,c 1989.

GOHN, M.G. HISTÓRIA Dos Movimentos e Lutas

Sociais_ a Construção da Cidadania dos Brasileiros.

São Paulo: Loyola, 1995.

GUIDDENS, A. O mundo em Descontrole. Rio de

Janeiro: Record, 2000.

HARDT, Michael; NEGRI, Antônio. Multidão:

guerra e democracia na era do imperio. Tradução:

Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2005.

LIPOVETSKY, G. A era do Vazio: Ensaio sobre o

individualismo contemporâneo. Relógio d áuga,

1983.

MÁRQUEZ, Gabriel Gárcia. A Incrível e Triste

História de Cândida Erêndira e sua Avó Desal-

mada. 1972. Disponível em:<http://pt.scribd.com/

doc/6634952/Gabriel-Garcia-Marquez-A-Incrivel-e-

Triste-Historia-de-Candida-Erendira-e-de-Sua-Avo-

Desalmada-Rtf>, acesso em 04 de Maio de 2015, às

10h22min

MCNEAL, J. U. Children as consumers of com mer-

cial and social products. Pan American Health Or-

ganizetion, 2000.

SOUZA, Jessé. A ralé brasileira: quem é e como

vive. Belo Horizonte: UFMG, 2009

XVIII

Se some, tem cuidado.

Se não some é fardo.

Cuida que ele não suma

Pois ficará mais pesado

Se sumir de tua alma.

É de uma Ideia de Deus que te fa-

lo.

Pesa mais se ausente

Pesa menos se te toma

Ainda que descontente

Te vejas pensando sempre

Num alguém que está aí dentro

De quem não conheces rosto

Nem gosto nem pensamento.

Cuida que tal ideia

Te tome. Melhor um cheio de den-

tro

Que não conheces, um fartar-se

De um nada conhecimento

Do que um vazio de luto

Umas cascas sem os frutos

Pele sem corpo, ou ossos

Sem matéria que os sustente.

Toma contento

Se te sabes pesado

Dessa ideia de Nada.

É um pensar para sempre.

E não sentes verdade

Que a vida vale em extenso

Altura e profundidade

Se vives do pensamento?

Este poema, constante do

livro “Poemas malditos, gozosos e

devotos”, é da poeta paulista Hilda

Hilst, um dos grandes nomes da

literatura em língua portuguesa da

contemporaneidade. Não vou aqui

analisá-lo como se repara em uma

máquina. A análise (se é que aná-

lise não é uma palavra propensa a

coisas muito formidáveis) que ten-

tarei tecer diz mais respeito ao

mundo de redemoinhos que este

poema vomita.

Tais versos resumem bem a

grã ideia do livro “Poemas maldi-

tos, gozosos e devotos” e reúnem

as básicas perturbações da poeta

quando se fala sobre o tema Deus.

Hilda Hilst parece viver o eterno

conflito dos cristãos que se que-

rem arrebatar das amarras do cris-

tianismo e de sua forma geral de

pensar.

RÁPIDA ANÁLISE DO POEMA ―XVIII‖ (POEMAS MALDITOS,

GOZOSOS E DEVOTOS), DE HILDA HILST

*Leonam Lucas

Nogueira Cunha

nasceu em Areia

Branca – RN e atu-

almente vive em

Natal – RN. É gra-

duando em Direito

pela Universidade

Federal do Rio

Grande do Norte

(UFRN). Publicou,

em 2012, seu pri-

meiro livro de poe-

sia, intitulado Gêne-

se, pela editora Sa-

rau das Letras, e,

em 2014, Dissonan-

te, pela mesma edi-

tora.

Hilda Hilst, no primeiro verso deste poe-

ma XVIII, começa por alertar a pessoa que dei-

xou Deus dela escapar; logo depois admite

que enquanto alguém preserva Deus – ou sua

mera ideia em seu íntimo – está a carregar um

peso. No entanto, sua inclinação maior, a que

parece ser mais

íntima, é a que

está contida nos

versos “Cuida

que ele não su-

ma// Pois ficará

mais pesado/ Se

sumir de tua al-

ma”.

Das três

primeiras estro-

fes tiramos que a

Ideia de Deus

sempre pesa.

Porém, se nós a

preservamos,

pesa menos.

Aqui já se deli-

neia o conflito

principal do poe-

ma, a grande du-

alidade por ele sustentada.

Deste ponto em diante, a poeta dá-se a

um processo argumentativo na direção de:

mesmo que a Ideia de Deus seja um fardo,

mesmo que traga males, dores, angústias, cas-

trações, mesmo que não conheçamos a cara

de Deus (nem a cara da Ideia de Deus), me-

lhor que seja ela a que nos sustente. Melhor

ela e o vazio dela que o vazio de não tê-la.

Parece-me uma inclinação ao defendi-

mento da ideia divina, mesmo que à fina força.

Por mais que, talvez, a poeta pense isto tudo

como absurdo (até chegar ao ponto de criar

proposições indubi-

tavelmente heréticas

em outros versos do

livro), não consegue

livrar-se daquilo (até

chegar ao ponto de

confessar eminente

amor por Deus). A

ideia acaba vestindo

uma roupa mais ele-

gante, mais atraen-

te. Neste toar, o

prof. de teoria literá-

ria da Unicamp, Alcir

Pécora, alerta, ao

debruçar-se sobre

“Poemas malditos,

gozosos e devotos”:

“A perigosa espe-

rança de que se

mantém é a de que

o Deus que se nega busca a perpetuidade de

seu ser na dor de quem o deseja”. O próprio

título do livro remete a esta tristeza, a esta an-

gústia de estar dividido e flagelado, a este car-

ma de ter que pensar Deus, a esta difícil tarefa

de sentir Deus, ao grande dilema de não que-

rer acreditar & preservar a crença à força e tão

verdadeiramente. Eis, para mim, sucintamente,

o carma do teísta.

* Johnie Neves - 29 Anos. Estudante Ciências So-ciais—UFRN.

C hegamos

ao nosso

último texto

sobre o li-

vro “A arte de Vida”,

de Zygmunt Bauman.

Aquela pausa que

estamos falando des-

de o primeiro desses

cinco textos, e que

nos acompanhou e

nos acompanha inse-

paravelmente, pode-

rá ser prolonga-

da para além

dessa leitura,

transcendendo

os conceitos que

aqui em forma de

convite foram

apresentados.

“A escolha” é o

título da terceira e

última parte do livro

de Bauman. Em se-

guida ele apresenta

um posfácio sobre

organizar e ser orga-

nizado. Curiosamen-

te o autor nos leva

para uma reflexão de

Kant, já apresentada

em capítulos anterio-

res do livro e enfati-

zada nas sequencias

dos textos da nossa

revista, quando colo-

ca que: a felicidade é

um ideal não da ra-

zão, mas da imagina-

ção. E com esta co-

locação no livro, é

possível relacionar

aos aspectos de livre

arbítrio que Bauman

apresenta como sen-

do uma característica

de nossas vidas, in-

dependente de situa-

ção mais ou menos

consciente, e acres-

centa citando Tho-

mas Hardy ao afir-

mar que “o destino

do homem é seu ca-

ráter”.

Outra citação tam-

bém bastante curiosa

quando Zygmunt

Bauman fala sobre

nossas escolhas é a

descoberta do mete-

orologista Edward

Lorenz de que uma

borboleta batendo

suas asas em Pe-

quim poderia alterar

as trajetórias dos fu-

racões no Golfo do

México, e que nos-

sas escolhas são fru-

tos das nossas

ações protagonistas,

como verdadeiros

artistas da vida que

somos.

Para esclarecer di-

versos conceitos e

apresentar ao leitor

as suas indagações,

Bauman discorre so-

bre os argumentos

de Friedrich Nietzs-

che e do filósofo Em-

manuel Levinas

sobre a busca da

felicidade se con-

centrar no próprio

bem-estar do in-

divíduo ou na

busca pelo bem-

estar do próximo,

do outro, e a res-

ponsabilidade que

temos diante dessa

escolha.

Para Bauman, a es-

colha fundamental

que todos nós en-

frentamos em nossa

busca pela felicida-

de, passa pela carac-

terística do livre arbí-

trio e pela responsa-

bilidade assumida

por cada um de nós,

e retorna ao início do

livro quando apre-

sentou uma passa-

gem do filósofo Sê-

neca:

Referência:

Bauman, Zygmunt. A arte da vida; Tradução, Carlos Alberto Medei-ros – Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

É desejo de todo homem...

viver feliz,

mas quando se trata de ver

claramente o

que torna a vida

feliz,

eles tateiam em busca da luz;

de fato, uma medida da difi-

culdade de

atingir a vida feliz

é que, quanto maior a energia

que um

homem gasta empenhando-se

por ela,

mais dela se afasta

caso tenha errado em algum

ponto do

caminho...

(Sêneca, “Sobre a vida feliz”)

De Sêneca para os dias de

hoje, o nosso autor em refe-

rência afirma, que passados

mais de dois milênios, não pa-

recemos estar muito mais per-

tos dessa luz, e que continua-

mos tateando, e esse

tatear é exatamente a

“arte da vida”.

Como nosso intuito foi

exatamente proporcio-

nar uma pincelada na

tela deste tema tão

desafiador, aqui fica o

último convite dessa

sequência de textos:

leiam este livro, vale

muito e faz refletir

bastante sobre a arte

da vida.

Agradeço aos amigos

leitores e em breve

nos encontraremos

em novas pinceladas

em outras obras. Um

grande abraço. Até

breve.

Marcio Dias, 55, é Di-

rigente do Partido Co-

munista do Brasil

(PCdoB), Secretário

Geral do SINDIPETRO

-RN e presidente em

exercício da Central

dos Trabalhadores e

Trabalhadores no Rio

Grande do Norte (CTB

-RN)

Sociólogo

h t t p : / /

www.facebook.com/

marcio.azevedo.dias

Twitter: @marcioa_dias

Endereço Eletrônico:

m a r c i o a z e v e -

[email protected]

"Essas pessoas po-

bres estão fugindo

da guerra, da fome,

mas essa é a ponta

do iceberg porque

por baixo está a

causa; E a causa é

um sistema socioe-

conômico ruim e

injusto ..." – papa

Francisco

A situação dos imigrantes

só eles sentem e sa-

bem, mas quase sempre

a imigração em massa é marca-

da por uma história de guerras,

perseguição, abandono, fome,

desemprego, violência, doenças,

desespero e morte. Sonhos des-

troçados, enfim, vidas ceifadas

em meio a um mundo de tragé-

dias acompanhada de miséria,

sofrimento e dor.

São guerras que destroem paí-

ses inteiros e transformam as

pessoas em refugiados sem ci-

dadania e, portanto, sem direito a

uma vida digna ou, pelo menos,

a ter a oportunidade de lutar por

uma. O imigrante é discriminado

e um condenado, quase sempre,

vive nas sombras e na escuridão

das grandes cidades, e, em mui-

tos casos, é cassado pela “mão

invisível” do Estado do país onde

esteja vivendo, geralmente, na

clandestinidade. Tudo é muito

difícil.

Presentemente, estamos diante

de mais um desses acontecimen-

tos. Na verdade, mais uma tragé-

dia humanitária. Milhões de imi-

grantes desesperados oriundos

do Iraque, Paquistão, Eritreia,

Somália, Nigéria, Afeganistão e,

principalmente, da Síria no Ori-

ente Médio, e, também, do Egito,

Iêmen e Líbia do norte da África.

Todos estão fugindo da guerra

em direção a vários países da

Europa, especialmente Itália,

Grécia, Hungria e Espanha. Mas,

também, da Alemanha que espe-

ra receber mais ou menos 800

mil refugiados.

Desde 2014 já são mais de 1 mi-

lhão de refugiados que entraram

nas fronteiras da Europa. Mas,

não apenas da Europa. A Tur-

quia já viu crescer sua população

em 2,4 milhões, juntamente com

o Líbano com 1,1 milhão e a Jor-

dânia que já recebeu mais ou

menos 900 mil imigrantes.

Milhares morreram afogados no

mar Mediterrâneo tentando che-

gar à costa da Itália e da Grécia

em barcos superlotados. São as

vítimas dos traficantes de pesso-

as que transportam imigrantes a

peso de ouro e, frequentemente,

roubam e cometem abusos e vio-

lência contra os imigrantes.

Mas afinal, o que está por trás da chamada cri-

se dos imigrantes da Europa?

Para além do processo de colonização dos pa-

íses do Oriente Médio e da África pelas poten-

cias imperialistas europeias que pilharam suas

riquezas, e mais recentemente, as invasões do

Afeganistão e Iraque promovidas pelos EUA

para saquear o petróleo e por outros interes-

ses.

Passando pela luta anticolonial que possibilitou

a conquista da independência e construção de

uma identidade nacional daqueles povos. Até a

invasão do Iraque e Afeganistão pelos EUA e

OTAN e, mais recentemente, na evolução dos

acontecimentos da grande

farsa e engodo em que se

transformou a tal

“Primavera Árabe”, por su-

as promessas não cumpri-

das.

Todos esses acontecimen-

tos são importantíssimos para compreender-

mos essa situação e a atitude dos refugiados,

porque foi na esteira de todos esses processos

históricos que os povos desses países adquiri-

ram uma consciência e uma atitude política

histórica diante das intervenções criminosas

promovidas pelo EUA e OTAN nesses países.

Intervenções impostas através de bombas com

o apoio de grupos de oposição corruptos,

agências de espionagem e tropas sempre

acompanhada de falsas promessas de “paz”,

“democracia”, “liberdade” e “prosperidade”.

São essas ações, juntamente com a de grupos

terroristas e mercenários que estão invadindo,

destruindo, saqueando, desestabilizando e de-

sintegrando esses países, as grandes respon-

sáveis pela chamada "crise dos imigrantes"

que se abate sobre a Europa.

Neste sentido, a situação da Síria é a mais em-

blemática. Lá, segundo os EUA e a OTAN,

existe uma guerra civil, desencadeada por re-

beldes que tentam derrubar o governo do pre-

sidente Bashar Al Assad alegando tratar-se de

uma ditadura. Essa é a versão disseminada

pelo imperialismo e trombeteada pela grande

mídia golpista.

Mas, basta um exame mais atento sobre quem

atua na Síria para ver que, na verdade, o que

existe alí são grupos de terroristas e mercená-

rios organizados pela CIA para derrubar o go-

verno sírio devido a interesses políticos e

econômicos, visando o controle do petróleo, o

comércio de armas e a desestabilização das

relações da Síria com o Irã e a Rússia.

Ou seja, na Síria, os rebeldes

são uma minoria que perdeu

o controle e as pessoas es-

tão fugindo, não do governo,

mas da violência provocada

pelos mercenários, terroristas

e demais grupos interessa-

dos em derrubar o presidente sírio numa guer-

ra praticamente terceirizada.

O que pode resultar dali é imprevisível e de

proporções inimagináveis, uma vez que os gru-

pos envolvidos para derrubar o presidente Bas-

har Al Assad são inimigos entre sí, como por

exemplo, os Sunitas, os Xiitas e os Curdos.

E ainda, os rebeldes que, por sua vez, apoiam

os Palestinos e querem a repatriação das Coli-

nas de Golã - que estão ocupadas por Israel -

para a Síria e, ao mesmo tempo, esses rebel-

des são contra as invasões do Iraque e do Afe-

ganistão pelos EUA e OTAN.

Neste momento, a Síria está totalmente desin-

tegrada, dividida e ocupada por diversos gru-

pos terroristas que agem movidos por interes-

ses próprios e pelos interesses políticos e

econômicos dos EUA.

Nesse cenário, a escalada da guerra é cada

vez maior com cada um dos lados enviando

tropas e armamentos, ou seja, os países do

golfo, Turquia, EUA e OTAN contra o governo

de um lado, e Rússia, Hesbolah e Irã a favor

do governo do outro.

O resultado de tudo isso será mais guerra, des-

truição, fome, miséria, doenças e mortes. E o

desespero de milhões de imigrantes que conti-

nuarão invadindo a Europa por todos os lados.

Do deserto ao Mar Mediterrâneo. É a maior cri-

se humanitária des-

te século.

Uma crise que reve-

la a falência da

ONU que, mais

uma vez, foi inca-

paz de evitar uma

tragédia humanitá-

ria e revela, tam-

bém, a hipocrisia,

subserviência e co-

vardia da Europa e,

por fim, a arrogân-

cia dos EUA com

sua política externa

de guerra e golpis-

mo.

Inegavelmente essa

é uma situação de muita gravidade e perigo

iminente de uma guerra de proporções conti-

nentais, pois, ao tempo em que é preciso for-

necer ajuda humanitária e solidariedade para

milhares de pessoas que estão fugindo da

guerra e do terrorismo, corre-se o risco de es-

tar abrindo as portas para “mil demônios” que

podem estar infiltrados no meio dos imigrantes.

E, como todos sabem, a Europa está em meio

a uma crise econômica profunda e não será

fácil receber milhões de refugiados. A maioria

são pobres e estão precisando receber o míni-

mo de atenção do Estado para que possam se

adaptar e ter uma oportunidade para reconstru-

ir suas vidas.

Por outro lado, muitos europeus estão desem-

pregados e temem a concorrência dos traba-

lhadores imigrantes. Isso, certamente, será

usado como moeda eleitoreira pela extrema

direita para assustar ainda mais os europeus

com seu discurso xenófobo.

Em meio a tanto sofrimento e mortes é preciso

denunciar que os países europeus não se en-

tendem sobre como enfrentar e dividir as res-

ponsabilidades diante da tragédia e os EUA, os

maiores responsáveis por essa situação, estão

anunciando “triunfalmente” que irão receber 10

mil refugiados em 2016.

Por fim, uma pergunta que não quer calar: Se-

rá que a ONU vai convocar uma conferência

internacional para discutir e definir o que fazer

com relação aos imigrantes... refugiados... asi-

lados... enfim, os órfãos da Primavera Árabe?

Com a palavra a ONU.

*Alipio de Sou-

sa- (Professor da

UFRN. Doutor em

sociologia pela

Sorbonne-Paris

V.) e editor da re-

vista Bagoas.

O país vive,

nos dias atu-

ais, um surto

de ignorância conser-

vadora que se pode

constatar na produção

de cretinices, por con-

servadores e reacio-

nários, nas formas de

ideias, propagandas e

campanhas sobre di-

versos assuntos da

vida pública e do âm-

bito da vida privada.

Nos últimos anos,

pessoas com posicio-

namentos políticos e

morais conservadores

e reacionários, com a

forte contribuição de

correntes religiosas

católicas e evangéli-

cas, deliram com as

seguintes teses: a ala

do governo federal

constituída pelo PT, o

que inclui a presiden-

te da República, tenta

realizar o que acredi-

tam ser uma

“revolução bolivaria-

na” no país, tenta im-

plantar o “comunismo”

e já impôs uma

“doutrinação ideológi-

ca” nas escolas para

a “imposição de valo-

res contrários à pro-

priedade privada, à

tradição e à família,

desvirtuando a boa

educação que a famí-

lia cristã brasileira

oferece aos seus

amados filhos” –

qualquer semelhança

com a TFP não é me-

ra coincidência. É isso

que chamo o delírio

conservador no Brasil.

Dizer que é um delírio

não significa que o

tomo por irreal, bem

ao contrário, está aí

na realidade cotidiana

e atuante, suas ideias

é que são delirantes,

verdadeiras alucina-

ções.

Ora, o que o governo

federal, às vezes em

sintonia com gover-

nos estaduais e muni-

cipais, vem buscando

construir no país não

é “revolução bolivaria-

na”, “comunismo”

nem “doutrinação ide-

ológica” sobre o que

quer que seja. Não é

mais que uma tentati-

va de implementar,

aos troncos e barran-

cos, políticas públicas

do Estado de Bem-

Estar social no país,

muito atrasadamente

na história, com pro-

gramas e políticas go-

vernamentais que em

diferentes partes do

mundo já vigoram co-

mo consensos sociais

há várias décadas – e

cujos fracassos mais

recentes, em alguns

países, têm feito ne-

les surgir concepções

e atitudes xenófobas,

racistas, discriminató-

rias e que estimulam

a segregação social.

É também uma tenta-

tiva de tornar possível

a existência, no Bra-

sil, de um Estado lai-

co, secularista, liberal

e democrático, isto é,

moderno, que sus-

penda toda funda-

mentação de seus

atos a partir de pontos

de vistas religiosos,

valorações culturais e

morais e práticas de

atividade econômica

que representem

atentados contra à

igualdade de direitos

de todas as pessoas

e ao reconhecimento

social e jurídico de

todas elas. Ainda, o

que se procura nas

políticas governamen-

tais recentes no nos-

so país nada mais é

que uma tentativa de

fazer que, no Brasil, a

cidadania deixe de

ser, como denunciou

a filósofa Marilena

Chauí,

“um privilégio de classe”. Um

“ideal de civilidade”, como as-

sim nomearam os filósofos

John Rawls e Jurgen Haber-

mas, que, no Ocidente moder-

no, persegue-se a pelo menos

dois séculos, mas que, no

Brasil, a ignorância conserva-

dora de muitos faz pensar que

se trata de uma “revolução”

que começou na Venezuela e

que o PT quer arrastar para o

país.

Mas, país habituado a figura

do “senhor-cidadão”, como

também denunciou Chauí, he-

rança da sociedade escravista

que nos fundou e permanece

como modelo para boa parce-

la da população, “sociedade

de natureza autoritá-

ria” (citando ainda M. Chauí),

aqui, o Estado de Bem-Estar

social, liberal e democrático

moderno, por mínimo que ain-

da seja, é visto por muitos,

gente conservadora e reacio-

nária, em sua assombrosa ig-

norância, como políticas de

“privilégios”. Diariamente, é

possível ouvir pessoas falando

de direitos de trabalhadores

como concessões que permiti-

riam cobranças autoritárias de

“comportamento”: como se o

direito existisse para alavan-

car novas subordinações e

não para a promoção da cida-

dania de todos. Que se leia a

entrevista da presidente do

Sindicato dos Empregadores

Domésticos do Estado de São

Paulo, que, recentemente, ao

falar dos novos direitos dos

empregados domésticos, as-

sim se manifesta: “Tenho me-

do de como caminhará em

uns anos, porque hoje nin-

guém respeita ninguém”. E

arremata: “cada pessoa preci-

sa saber o seu lugar”.

Vivemos no país em que o

conceito de direitos humanos

e políticas de direitos huma-

nos foram transformados em

estranho ente sem igual em

outras partes. Explica-se as-

sim que se diga: “os direitos

humanos somente defendem

bandidos” ou os “direitos hu-

manos nunca pensam nas fa-

mílias das vítimas”. Nessas

expressões, temos um caso

em que a predicação do sujei-

to oracional transforma um

conceito abstrato em agente

vivo, em substância agente,

corporificando algo de sentido

conceitual em atores, perso-

nagens, instituições, e para

seu desprestígio. Frases que

são também ecos de um pen-

samento expresso no dito

“bandido bom é bandido mor-

to” – algo saído das cavernas

do obscurantismo e da estupi-

dez produzidos no país, mas

repetido até por governantes,

parlamentares, juízes e por

policiais, estes últimos mais

que todos.

A alucinação ideológica

conservadora e homofóbica

cria a ―ideologia de gênero‖

O delírio conservador produziu

também uma alucinação à

parte: a bizarra invenção se-

gundo a qual anda em curso

no país a difusão de uma

“ideologia de gênero”, como

dizem!, ainda que conservado-

res e reacionários de todas as

colorações nem mesmo sai-

bam do que estão falando:

nem o que é gênero e menos

ainda o que é ideologia!

Prova disso pude testemunhar

com minha participação recen-

te na Audiência Pública sobre

o tema, realizada pela Câmara

Municipal de Natal. Nela, esta-

vam pessoas dispostas a fa-

lar, sem o menor pudor, tudo o

que de mais atrasado e igno-

rante pode ser dito sobre o

assunto: opiniões de senso

comum, preconceitos e agres-

sões à dignidade de gays, lés-

bicas e trans (e também à dig-

nidade de mulheres), acusa-

dos de ser responsáveis pela

criação da tal “ideologia de

gênero”. E tudo pronunciado

com ressentimento, uma vez

que o delírio faz crer que o Es-

tado, através dos governantes

atuais, “abandonou a família

brasileira, cristã, que está sen-

do atacada e ameaçada nas

escolas brasileiras, por orien-

tação do MEC, por uma mino-

ria de professores, intelectuais

e acadêmicos que querem

desvirtuar a educação moral

que as famílias dão aos seus

filhos”, por pretender impor

uma “ditadura gay” no país e

impor uma “ideologia” (sic.)

contrária às “leis de Deus” e

às “leis da Natureza” que

“fizeram o homem para a mu-

lher”, “biologicamente defini-

dos nos seus gêneros e sexu-

alidade” e que “a escola não

pode pretender alterar”.

Na audiência, ouvi outras tan-

tas tolices e rosários de vitu-

périos ignorantes, ditos por

pessoas que nem mesmo sa-

bem que não sabem. Nem

mesmo o advogado que

esteve ali como represen-

tante da OAB/RN deixou

de manifestar seus precon-

ceitos e posicionamentos

conservadores, mas igual-

mente revelando seu des-

conhecimento quanto aos

estudos da antropologia,

sociologia, psicologia e histó-

ria sobre sexualidade e gêne-

ro, domínios das ciências hu-

manas com mais de um sécu-

lo de produção sobre o assun-

to. Aliás, diga-se aqui, seus

posicionamentos não expres-

saram os da OAB, entidade

que tem a desembargadora

aposentada e advogada Maria

Berenice Dias como Presiden-

te da Comissão da Diversida-

de Sexual do Conselho Fede-

ral da OAB nacional, que tem

lutado no campo jurídico pela

institucionalização dos direitos

gays. Com a palavra a OAB/

RN para dizer qual seu efetivo

posicionamento sobre o as-

sunto, uma vez que não é crí-

vel que seja aquele expresso

pelo advogado que a repre-

sentou na audiência pública.

Para conferir, é só ver, em fil-

magem realizada pela TV Câ-

mara, tudo o que ali se disse.

Mas vamos ao principal:

“ideologia de gênero” é o que

os setores religiosos funda-

mentalistas e conservadores

do país praticam e pretendem

preservar. Especificamente

para o assunto em destaque,

primeiro, na infância; depois,

na vida juvenil e adulta, nas

famílias, a ideologia do bina-

rismo homem/mulher e das

normas de gênero chegam

através das ideias heteronor-

mativos, masculinistas, ma-

chistas, sexistas e homofóbi-

cos. Em seguida, nas escolas,

que, salvo raríssimas exce-

ções, são reprodutoras desses

mesmos modelos sociais. As

mídias, em geral, prolongam a

sua difusão e internalização, e

as igrejas, na abordagem do

sexo e do prazer, completam o

assédio moral e psicológico do

discurso ideológico.

Não são professores, nas es-

colas ou nas universidades,

que praticam a “ideologia de

gênero”, mas as mídias, as

igrejas, as famílias, os discur-

sos moral, religioso e político,

ao difundirem ideias que ne-

gam o caráter construído de

toda realidade e, por isso mes-

mo, o caráter revogável de to-

das as instituições sociais

existentes, no que se inclui

também as noções de gênero

sexual, identidade de gênero,

sexo, sexualidade. Tentando

fazer crer a todos que a reali-

dade dos gêneros e a realida-

de do desejo e das práticas

sexuais são de natureza natu-

ral, como diria o sociólogo Pi-

erre Bourdieu, o discurso ideo-

lógico e seus cães de guarda

procuram negar que o ser hu-

mano é, de alto a baixo, uma

construção cultural, social e

histórica, tanto quanto ele é

capaz de realizar modifica-

ções, transformações, não

tendo nada que o obrigue a

permanecer o mesmo, ainda

toda a força da socialização,

pois, diferentemente dos ani-

mais, somos uma espécie sem

direção e especialização bioló-

gicas fixas e prévias, o que

nos permite construir e re-

construir a nós mesmos.

É assim que, em sexo e em

construções do gênero, pode-

mos ser tão variáveis e reali-

zar opções que nada têm a

ver com conformações anatô-

micas, morfológicas e fisiológi-

cas, tidas erradamente por,

em si mesmas, definidoras de

desejos e práticas, ideologica-

mente representados como

“naturais”. Quando são da

ordem de escolhas libidinais

que se tornam a “causa” da

“política do desejo” de cada

um, tornando-se a potência

que engaja cada um na cons-

trução de sua autonomia eró-

tica e identificações de gêne-

ro. Conservadores, reacioná-

rios e fundamentalistas religi-

osos morrerão com seus delí-

rios mas não virão jamais fe-

necer a “causa” do desejo e o

que ela é capaz de criar, sub-

verter, transformar, ainda que

permaneçam todas as suas

vãs tentativas de governar os

indivíduos.

As pesquisas conduzidas por

todos nós que nos ocupamos

com os estudos de gênero e

sexualidade apoiam-se nas

regras da produção do conhe-

cimento científico e em dados

empíricos, dados da vida soci-

al, dados da vida. Como nos

ensinou Nietzsche: “a vida

veio antes da moral” e, por-

tanto, não seremos negado-

res da vida e suas expres-

sões, subordinando-a a ques-

tionáveis morais e a refutáveis

crenças sem fundamento. Sa-

botar o conhecimento produzi-

do pelas ciências humanas

sobre gênero e sexualidade,

impedir que ele chegue às es-

colas e negá-lo às crianças e

jovens são atos de sabota-

gem de vidas, da vida. De vi-

das de muitos adolescentes e

jovens que experimentam, co-

tidianamente, a violência da

humilhação, da discriminação,

do bullying, sem muitas vezes

não terem a quem recorrer.

Uma realidade que se prolon-

ga nos assassinatos de mu-

lheres, nas

agressões

homofóbicas,

nas discrimi-

nação e vio-

lência contra

transexuais.

O assédio

moral e ideo-

lógico que as

escolas, os

professores

e os planos

de educação

vêm sofren-

do no país

merecem

considera-

ções de pro-

curadores e

promotores

federais, estaduais e munici-

pais, pois bem podem ser tra-

tados como ingerências inde-

vidas e ameaçadoras à pro-

moção da educação e do pro-

gresso cultural da sociedade

brasileira, de suas crianças e

seus jovens.

Professores, pesquisadores e

intelectuais de todo o país, uni

-vos! É tempo de rebelião! Às

barricas, com canetas e livros

nas mãos! Conservadores,

reacionários e fundamentalis-

tas religiosos não passarão!

* Angelo Girotto Escritor. Autor de Ronda

Crônica (Sol Negro, impresso;

CJA, ebook) e O espetáculo do

mundo (CJA), ambos de 2015;

e editor da revista Pardal

(antiga Tá na Cara!) desde

2003. É também jornalista,

com mestrado em Ciências So-

ciais.

E sta crítica foi escrita

para a disciplina de

Sociologia da Comu-

nicação, ministrada

pelo querido professor Sebasti-

ão Faustino.

Uma Onda no Ar nos con-

ta a história da Rádio Favela,

projeto de rádio comunitária

desenvolvido na cidade de Belo

Horizonte, que recebeu diver-

sos prêmios, dentre os quais o

reconhecimento de sua utilida-

de pela ONU – Organização

das Nações Unidas.

Utilizando-se de um dis-

curso direto e intencionalmente

proselitista, o filme dirigido por

Helvécio Ratton faz uma expo-

sição clara dos motivos que le-

varam os habitantes da favela

mineira a criar sua rádio pirata

e de como esta iniciativa se de-

senvolveu, culminando na lega-

lização e reconhecimento públi-

co da rádio.

Perpassando os anos fi-

nais da Ditadura Militar e a dé-

cada de 90, o filme traz um pa-

norama da concentração dos

meios de comunicação no Bra-

sil contemporâneo. Essa con-

centração é responsável pela

visão estereotipada que grande

da população tem acerca das

favelas e de seus habitantes.

Nada mais propício, então, do

que por a

rádio pirata

no ar no

mesmo ho-

rário da

Voz do Bra-

sil, tradicio-

nal progra-

ma do go-

verno fede-

ral que

abrange todas as emissoras.

Como isso, além da crítica ao

regime, a rádio ganhava notori-

edade por apresentar uma pro-

gramação alternativa à enfado-

nha propaganda governamen-

tal.

Uma Onda no Ar estreou

no Brasil pouco tempo depois

de Cidade de Deus, um grande

sucesso também ambientado

numa favela, no caso, a Cidade

de Deus, no Rio de Janeiro. E

tal como o filme de Fernando

Meirelles, Uma Onda no Ar se

utiliza de atores amadores para

interpretarem seus papeis, os

papéis que são suas próprias

vidas. Essa opção trouxe van-

tagens e desvantagens. Com

um orçamento muito menor e

menos tempo para realizar ofi-

cinas de interpretação, a produ-

ção mineira contou com de-

sempenhos de alto nível dra-

mático, contudo, também con-

tou com exibições destoantes,

que rebaixaram a qualidade da

obra.

Ainda por ocasião da proximidade entre

as datas de lançamento dos dois filmes, outras

comparações surgiram à época. Moradores de

favelas ficaram satisfeitos com Uma Onda no

Ar por ele retratar uma face da vida nessas co-

munidades que foi marginalizada no roteiro de

seu predecessor, que seja a vida da população

humilde que se sustenta honestamente e con-

segue ter um cotidiano de relativa normalida-

de, apesar do preconceito e da repressão dos

quais são vítimas.

Mas talvez o grande debate que trans-

cende em Uma On-

da no Ar seja exata-

mente acerca da de-

mocratização dos

meios de comunica-

ção. O filme mostra

como a ausência de

espaço na grande

mídia aumenta a dis-

tância entre os mais

ricos e os mais po-

bres. Mostra tam-

bém como os meios

podem ajudar na

construção da cida-

dania e na superação de males como o tráfico,

o vício e a violência, que andam de braços da-

dos.

Por isso, por propor uma análise do fenô-

meno de concentração dos meios de comuni-

cação no Brasil e de discutir alternativas, o tom

proselitista e a linguagem cinematográfica ex-

tremamente simplificada de Uma Onda no Ar

se justifica. O filme busca de todas as formas

se fazer entender, por mais que peque neste

aspecto na demarcação do tempo histórico e

na caracterização dos tempos ditatoriais. Em

certa altura, o regime pós 84 é retratado de for-

ma similar ao anterior, não aparecendo no en-

redo os sinais das significativas mudanças por

que passou o país naqueles anos. De certa

forma, contudo, podemos relativizar esta falha,

pois, mesmo com a abertura, o Ministério das

Comunicações permaneceu inabalável em sua

determinação de manter a rádio na ilegalidade,

o que, numa percepção hermética dos fatos,

levaria a crer que de fato houve poucas mu-

danças.

Cheio de referências aos movimentos

Black e outros da cultura pop alternativa, o fil-

me também se reveste de resgate e homena-

gem. E um dos seus

melhores momentos

certamente está no

final, no making off,

onde surgem os per-

sonagem da vida re-

al da favela e da Rá-

dio Favela. É, sem

dúvida, imperdível.

Outro belo ato se

passa na cena em

que uma persona-

gem sobe os arcos

de uma ponte can-

tando Negro Gato,

cena que esbanja descontração e leveza.

Por tudo o que representa e defende,

Uma onda no Ar é um filme imperdível. Na

grande vala dos estereótipos e da omissão em

que a produção cinematográfica brasileira se

afunda, ele surge com destaque e vigor. Não

apela a nenhum romance barato como plano

de fundo, não traz nenhuma cena de orgia ou

de mulheres de biquíni ou concurso garota da

laje e seus popozões. O filme não apela pras

esses recursos já batidos em nosso cinema,

por mais que seja uma obra apelativa. Uma

Onda no Ar apela, mas apela às nossas cons-

ciências, não aos estímulos escrotais.

* Homero de Oliveira

Costa, Prof. do De-

partamento de Ciên-

cias Sociais da

UFRN.

É inegável que

há no Brasil

de hoje duas

crises, uma

econômica, cujos des-

dobramentos ainda

são imprevisíveis, e

uma crise política, ex-

pressando a fragilida-

de do governo, quer

perante a sociedade

civil, com altos índices

de rejeição, e uma

política econômica

inversa ao que foi pro-

metido no curso da campanha

eleitoral, minando a confiança,

quer no Congresso Nacional,

onde não tem uma base de

apoio consistente. Ao mesmo

tempo, há uma clara partidariza-

ção da chamada grande mídia,

de oposição ao governo (com

raras exceções, não há vozes

alternativas) o que contribui para

ampliar a crise de credibilidade.

Assim sendo, é possível afirmar

que existe uma crise das institui-

ções políticas e mesmo do cha-

mado presidencialismo de coali-

zão? Ou trata-se apenas da in-

capacidade do governo... Em

governar? Creio que é uma con-

junção de fatores. Há uma crise

econômica, mas também uma

crise mais geral do sistema parti-

dário e eleitoral, cuja oportunida-

de de reformar foi perdida com a

não aprovação de uma ampla e

necessária reforma política. Um

dos aspectos dessa crise é jus-

tamente a queda de confiança

nos partidos políticos e a distân-

cia que se amplia entre repre-

sentantes e representados. Di-

versos autores tem analisado a

perda da representatividade dos

partidos políticos, que não é es-

pecífica do Brasil, mas também

das democracias consolidadas.

Há uma crise de representação

política, com um declínio dos

partidos (diminuição da partici-

pação eleitoral, decrescentes

índices de filiações, etc.), que se

expressa também no apoio à de-

mocracia. Uma pesquisa do

IBOPE divulgada em setembro

de 2015, mostrou que houve um

aumento da insatisfação com a

democracia em relação à pes-

quisa anterior(2014). Só 15%

dos brasileiros se dizem

“satisfeitos” com o regime demo-

crático, 36% estão “pouco satis-

feito” e 45% estão “nada satisfei-

tos”.

FALE CONOSCO

[email protected]

O índice mais alto de apoio à democracia ha-

via sido em 2013. Após a onda de protestos de

junho, os “nada satisfeitos” eram 29%, em

2014 baixou para 22% e em 2015 dobrou, che-

gando a quase metade da população. Nesse

quesito de apoio à democracia, o Brasil ocupa

os últimos lugares em termos comparativos na

América Latina. Se há uma queda na confian-

ça na democracia, cresce também a descrença

em relação aos partidos políticos, com o au-

mento do absentismo eleitoral, que é uma das

expressões da rejeição ao sistema político e

eleitoral. Nas eleições de 2014, por exemplo,

o nível de abstenção nas eleições presidenci-

ais foi o mais alto desde 1998, quando Fernan-

do Henrique Cardoso foi reeleito (e, registre-

se, com menos votos do que o somatório dos

votos em brancos, nulos e abstenções). Em

2014, 19,4% do eleitorado não compareceu às

urnas no primeiro turno. No segundo turno,

houve um aumento para 21%. Em termos nu-

méricos foram 27,7 milhões dos 142,8 milhões

de eleitores. Somando com os 4,4 milhões de

votos em brancos e 6,6 milhões de votos nu-

los, representam mais de 38 milhões de aptos

a votar que se abstiveram, votaram em branco

ou anularam o voto. No Rio Grande do Norte,

a abstenção na eleição para governador, foi a

maior do país. Isso significa afirmar que uma

parcela significativa da população não se reco-

nhece naqueles a quem deveriam representá-

los. Como disse Michel Maffesoli “o fenômeno

da abstenção, particularmente evidente para

as novas gerações, é a forma mais visível,

mas não a única, do desprezo que existe entre

as massas populares e as elites”. O ritual das

eleições só é apreciado, na verdade, sob sua

forma espetacular (...) ou “desenvolvimento

exponencial da espetacularização do políti-

co” (“O conformismo dos intelectuais”, editora

Sulina, 2015, pgs. 30/31). O que parece haver

é uma crise das instituições representativas e

nesse contexto os partidos deveriam ser prota-

gonistas, mas têm fracassado enquanto instân-

cias de representação, ou seja, da função de

representação dos interesses da sociedade.

*Roberto Noir é filóso-

fo, formado pela UFRN em

2008. Leciona a disciplina

na rede estadual de ensino.

Também é poeta e associa-

do à SPVA (Sociedade dos

Poetas Vivos e Afins).

Acredita que a filosofia e a

arte são os caminhos mais

curtos para se atingir o Nir-

vana, a Ataraxia ou sim-

plesmente a paz definitiva.

Email: kuro-

[email protected]

C ertamente

que já ouvi-

mos alguma

vez que a arte liber-

ta. Porém graças ao

nosso mau hábito de

ouvir e não refletir,

deixamos tal afirma-

ção de lado, como se

ele fosse simples-

mente uma frase de

efeito destituída de

um significado mais

profundo. E de fato,

quando dita por cer-

tas pessoas, ela re-

almente o é. Mas

afinal, a arte liberta

do quê? Da dor? Do

sofrimento? Da ig-

norância?

Ao que parece,

não. Muitos artistas

já sucumbiram à

tristeza, tristeza esta

que apenas serviu

de inspiração para a

criação de seus tra-

balhos, mas que não

foram suficientes pa-

ra libertá-los do sofri-

mento. Podemos ci-

tar os exemplos de

Florbela Espanca e

de Kurt Cobain, am-

bos suicidas. Tam-

bém não liberta da

ignorância: ela pode

até abrir portas para

que a mente de

quem produz ou

aprecia mas não é

suficiente, visto que

é preciso uma atitu-

de autônoma de li-

bertação, que não se

restringe a apenas

ler livros e apreciar

os mais diversos ti-

pos de arte. Não é

difícil encontrar pes-

soas que possuem

muito conhecimento,

mas que estão reple-

tas de soberba e não

respeitam o outro.

Para alguns pensa-

dores, como Sid-

dharta Gautama, não

adianta ter conheci-

mento se não se tem

respeito pelo próxi-

mo.

A arte em si não

possui o poder de

libertar, contudo é

um instrumento que

pode (e deve) ser

usado para romper

com as amarras con-

ceituais. O ato de

produzir e apreciar

arte é uma lição de

como devemos pro-

ceder durante o de-

correr de nossas vi-

das. Quando se pro-

duz arte, não há dife-

renciação entre

quem produz e o ma-

terial produzido.

Mesmo quando se

produz algo que não

é exatamente fruto

de uma experiência

direta, é preciso ima-

ginar a situação, se

colocar como se de

fato ela tivesse real-

mente sido vivencia-

da. O processo se dá

de forma semelhante

com quem aprecia

uma obra: há uma

experiência com a

obra em questão,

onde apreciador e

obra se fundem, uma

experiência gnóstica,

onde a diferença en-

tre observador e coi-

sa observada é obli-

terada. Não é à toa

que a arte é um dos

quatro pilares da

Gnose.

Jiddu Krishnamurti está hospedada

no link famouspeopleinfo.com/jiddu

-krishnamurti-revolutions-inner

Para ajudar na nossa com-

preensão, vejamos um trecho

do livro “A Primeira e Última

Liberdade”, do pensador india-

no Jiddu Krishnamurti (1895-

1986)

“Percebimento é observação

sem censura. O percebimento

traz compreensão, porque não

há censura ou identificação,

mas observação silenciosa.

Se desejo compreender uma

coisa, devo observá-la, não

devo criticá-la, não devo con-

dená-la, não devo deseja-la

como um prazer ou evita-la

como um desprazer.”

Esse ato de ver a coisa co-

mo ela é, sem ocultar sua es-

sência com nossos conceitos,

é algo que não faz parte do

nosso agir, mas estranhamen-

te conseguimos fazê-lo com a

arte. Ora, de quantas músicas

em língua estrangeira gosta-

mos sem saber nada da letra?

De quantos poemas gostamos

sem mesmo saber sobre o

que o(a) autor(a) estava falan-

do? Não paramos em momen-

to algum para fazer análises,

apenas apreciamos a obra.

Certamente que análises po-

dem ser feitas posteriormente,

inclusive perguntando para os

(as) próprios (as) criadores

(as) (a internet facilita essa

aproximação), mas de imedia-

to não é assim que agimos. A

questão é: por que não proce-

demos dessa mesma maneira

com as pessoas? Por que in-

sistimos em vê-las como que-

remos e não como realmente

são? Por que não

“experimentá-las” para depois

de um tempo de convivência,

conhece-las melhor? Esta é

uma lição que a arte nos ensi-

na, que poderia tornar nossa

vida em sociedade melhor,

mas infelizmente insistimos

em ignorá-la.

Ainda na mesma obra,

Krishnamurti diz:

“Vedes um belo pôr de sol,

uma bela árvore no meio do

campo e no primeiro instante

vos deleitais completamente,

integralmente; mas voltais

com o desejo de gozar de no-

vo aquele espetáculo. Que

acontece, quando voltais com

o desejo de tornar a gozá-lo?

Não há mais deleite, porque a

lembrança do pôr do sol que

vistes ontem é o que vos estás

fazendo voltar, que vos está

impelindo, incitando, a gozar.

Ontem não havia lembrança,

apenas uma apreciação es-

pontânea, uma reação direta.

Hoje tendes o desejo de repe-

tir a experiência de ontem. Isto

é, a memória está intervindo

entre vós e o pôr do sol, e por

isso não há deleite, não há ri-

queza, não há plenitude de

beleza.”

Baseado na citação acima,

pode-se dizer que cada mo-

mento de apreciação de uma

obra, seja uma música, um

poema ou o que quer que se-

ja, é único, é diferente. Por

exemplo, ouvimos a mesma

música várias vezes (inclusive

vezes seguidas) sem recorda-

mos da última vez que a ouvi-

mos. Ouvimos e ouvimos a

mesma música sem nutrir ex-

pectativas a respeito da mes-

ma, por isso nos deleitamos

sempre com ela. A pergunta

que a arte novamente faz é:

por que não se faz o mesmo

com as pessoas? Por que não

interagimos com a pessoa que

está conosco naquele momen-

to e não com alguém que está

no passado? Por que insisti-

mos em repetir o equivocado

adágio que diz que “a primeira

impressão é a que fica?” Sen-

do assim, continuamos erran-

do, julgando as pessoas por

impressões passadas

(ambiguidade proposital) que

muitas vezes correspondem a

apenas um momento da pes-

soa em questão, não refletindo

o que ela realmente é. Herácli-

to, filósofo pré-socrático, já di-

zia que não podemos nos ba-

nhar no mesmo rio duas ve-

zes, pois tanto o rio quanto

nós estaremos diferentes.

Arthur Schopenhauer está

hospedada no link

Sábias palavras com mais de

dois mil anos. Sábias palavras

sendo ignoradas pela maior

parte da humanidade por

mais de dois mil anos. Mais

uma lição que a arte (e a filo-

sofia) nos ensina.

Outro pensador, o ale-

mão Arthur Schopenhauer

(1788-1860), em sua obra “O

Mundo Como

Vontade e Re-

presentação”

diz que há mo-

mentos onde

ocorre “a con-

templação pu-

ra, o esqueci-

mento de toda

a individualida-

de”, ou seja, o

objeto contem-

plado e o ob-

servador são a

mesma coisa.

Tal afirmação

pode ser com-

provada facil-

mente quando

se aprecia ar-

te. Há quem

diga que um

poema deve ser lido várias

vezes seguidas, até que o lei-

tor possa adentrá-lo de forma

completa, para que se possa

vivenciar a situação relatada

pelo eu lírico.

Logo em seguida, o filó-

sofo afirma que pintores

“comtemplaram com uma in-

tuição tão objetiva os objetos

mais insignificantes e que nos

deram nos seus quadros (...)

uma prova imperecível da sua

objetividade, da sua serenida-

de de espírito (...)” Alguém

que pinta um vaso, que é um

objeto bastante comum, o faz

de uma maneira especial,

pois esquece de todos os ou-

tros vasos existentes para

que possa pintar o seu pró-

prio, que pode estar ali na sua

frente ou em sua imaginação.

O efeito torna-se o mesmo.

Não se diz à toa que o artista

tem o poder de transformar o

ordinário em extraordinário.

Pelo que pudemos cons-

tatar, graças à ajuda e esfor-

ços de grandes pensadores, a

arte sempre nos mostrou o

procedimento correto para

que a humanidade possa vi-

ver de maneira harmoniosa,

destituída de julgamentos

desnecessários e imposições

de opiniões, sempre lembran-

do que a individualidade é

mais importante que o indivi-

dualismo. Lições que foram

ignoradas por

muito tempo, o

que fez com que

a humanidade

avançasse em

tecnologia e não

no social. Não

seria preciso di-

zer que precisa-

mos dar mais

ênfase ao último

aspecto, porém,

infelizmente, tor-

nou-se necessá-

rio dizer o óbvio

nos dias atuais.

REFERÊN-

CIAS:

KRISHNAMUR-

TI, Jiddu. A pri-

meira e última

liberdade. Tradução de Hugo

Veloso – São Paulo: Cultrix,

1976

SCHOPENHAUER, Arthur.

O mundo como vontade e

representação. Tradução

M.F.Sá Correia – Rio de Ja-

neiro. Contraponto, 2011

Tomasz Alen Kopera (O corvo preso à pedra) está hospedada no link

uni-todos.blogspot.com.br/2014_06_01_archive.html

E ntre os membros da

famosa família Mara-

nhão do engenho

Cunhaú existiu uma senhora

que o povo contava histórias

que o tempo guardou. Seu no-

me de registro já nem importa

muito, pois de Maria Cunhaú

ficou conhecida por todos. So-

brinha do histórico André de Al-

buquerque Maranhão, vivia de

arengas com o irmão, Dendé

Arcoverde, herdeiro das fortu-

nas do Cunháu.

É muito interessante co-

mo esses personagens da aris-

tocracia açucareira do século

XIX foram tratados pela memó-

ria popular e chegaram até os

livros acadêmicos pelas letras

de Câmara Cascudo. O intelec-

tual era fã dessa Família aristo-

crática que dominou o litoral sul

do Rio Grande do Norte, mas

repetiu as mesmas palavras

que ouviu dos populares em

sua Actas Diurnas, quando tra-

tou daqueles membros mais ar-

quétipos.

Maria Cunhaú se tornou famosa

no meio da plebe miúda pela

soberba exagerada que osten-

tava. Dona do engenho Outeiro,

terra que herdou do tio podero-

so. As línguas afirmam que ela

não vestia a mesma roupa duas

vezes e vivia com melindres ás-

peros de uma entediada prince-

sa em sua casa-grande inaces-

sível aos pequenos. Era lá que

ela judiava dos seus escravos

domésticos para se divertir. Os

escravos do eito não passavam

nem por perto de sua macabra

cozinha.

Sem preocupações pro-

fundas, ela foi avançando na

idade. Nunca encontrou um va-

rão que lhe domasse. Suas pre-

ocupações era comer e dormir

sem incômodos. Em suas via-

gens curtas por seus domínios,

seu cocheiro apanhava mais

que os cavalos que puxavam a

charrete. Internou-se em sua

própria ignorância, vivendo iso-

lada em seu próprio mundo.

O irmão afirmava que ela era

louca e não tinha condições de

administrar a propriedade que

possuía. Por isso pediu na justi-

ça o direito de posse sobre as

terras da irmã. O caso fez com

ela ficasse mais perturbada ain-

da. Dizem que ela deixava os

escravos pregados pelas ore-

lhas no portal de trás e gritava

esbaforada por eles na varanda

da frente.

Gostava de ser atendida, gosta-

va de mandar e, por isso, morria

de medo de perder as terras

que possuía nas lamacentas

várzeas de Canguaretama.

Quando lembrava que podia

Francisco Alves

Galvão —Sociólogo

e president da Aca-

demia de Letras de

Canguaretama-RN.

perde tudo, se desesperava e era sua escra-

varia que sofria as consequências diretas. Ha-

via choro, ranger de dentes, fogo e dor. As

marcas ficavam no corpo e todos seus escra-

vos possuíam sinais claros de suas torturas.

Ficava desesperada com a situação,

mas nem seu advogado conseguia reverter o

processo de perda das terras para o seu ir-

mão. No século XIX uma mulher solteira não

teria chances nos tribunais machistas e opres-

sores. O advogado de Maria Cunhaú era Ama-

ro Cavalcanti, um

jovem muito talen-

toso na política,

mas que via a situ-

ação de sua cliente

se agravar nos tri-

bunais.

Ele entendia bem

do Direito e sabia

perfeitamente que

a velha perderia as

terras para o irmão. Por esse motivo, ele fez

um último e admirável esforço para reverter

toda aquela situação adversa. Astucioso que

era, foi até o engenho Outeiro e se ofereceu

em casamento para a velha. Convenceu-lhe

que, desse modo, ficaria como tutor legítimo

dela e que, só assim, salvaria suas posses da

ganância do irmão.

Ela teria aceitado sem nenhuma relu-

tância. O advogado de fino trato agia de forma

exemplar e encantadora, levando a velha ao

êxtase. Ela não poderia se negar, mas se en-

volveu profundamente com aquele galã adorá-

vel. O trato era bem elaborado, mas dentro de

um acordo simples: ele seria um marido sem

exercer as funções nupciais.

Ela morrida de ciúmes e fazia sofrer as

escravas jovens. Quebrava os dentes das coi-

tadas para que não atraíssem o olhar do jo-

vem príncipe que surgia naquelas terras. Mar-

cou com ferro em brasa o rosto de cada uma

para arrancar-lhe a beleza. Ficava admirando

os presentes que recebia, espalhando vesti-

dos sobre a cama que dormia solitária. Em

seu ócio improdutivo ficava brincando com di-

nheiro velho, suas moedas carcomidas pela

passagem dos anos.

O advogado nunca morou com a velha.

Apenas esperou, pacientemente, seu faleci-

mento para herdar a propriedade. Ficava a lhe

agraciar, de longe, com

presentes que ela acu-

mulava na casa-grande

do engenho. Dizem que

ele foi embora para mo-

rar com a tal

“Ressuscitada” no capi-

tal do império, onde vi-

veu como um príncipe,

quem sabe com as mo-

edas que Maria Cunhaú

guardou por tanto tempo.

Esse arquétipo de mulher sádica não foi único no Rio Grande do Norte. Em Ceará Mi-rim, outro centro de produção açucareira, tive-mos uma figura feminina que infringia os mes-mos castigos físicos aos seus escravos. Em seu porão, ela sempre tinha um escravo para torturar. A senhora do engenho Timbó era tão cruel e desumana com seus escravos, que ou-tros proprietários de engenhos e de terras se revoltaram com sua prática.

A senhora faleceu repentinamente e

seu corpo se transformou em uma serpente.

Seu túmulo, devido as grandes rachaduras,

teria sido acorrentado para manter a serpente

presa. Seu esposo, que temia sua crueldade,

mudou seus hábitos com os empregados.

Maria Cunhaú foi um arquétipo entre os se-

nhores de escravos no Litoral Sul e que en-

contra parâmetros em outros locais. Fruto da

oralidade fantástica de um povo que contava

sua versão de história como forma de resistir.

Casa Grande do engenho Outeiro

*José Ivam Pinheiro é natural de Currais

Novos/RN, tendo nascido em 27 de outubro de

1958, e reside em Natal há mais de 47 anos. Está

associado às importantes instituições literárias e

culturais do nosso Estado, como: Sociedade dos

Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte –

SPVA/RN (tendo sido Vice-Presidente no perío-

do de 07/2013 a 07/2015), a União Brasileira dos

Escritores do Rio Grande do Norte – UBE-RN.

Autor de vários poemas musicados pelos músi-

cos/compositores Ivando Monte, Marcos Câma-

ra, Marcus Vinicius de Vasconcelos, Hercília

Fernandes (Poeta), Hugo Fernandes, Vando

Potiguar e Adeildo Neto. Conquistou Menção

Honrosa no Concurso de Poesia Zila Mamede

(livro a ser publicado), organizado pelo Jornal

Potiguar Notícias e pela ONG Educante, com

coordenação dos jornalistas Cefas Carvalho e

José Pinto Júnior. Participou de Antologias

Mundiais promovidas pela Associação Interna-

cional Poetas Del Mundo, organizadas pelo

Poeta Chileno Alfred Asís: Mil Poemas a Cèsar

Vallejo – Peru (2012); Mil Poemas a Miguel

Hernández – Espanha (2012); Mil Obras a

Oscar Alfaro – Bolívia (2013); Mil Poemas a

Jose Martí – Cuba (2014) e Mil Poemas a Vini-

cius de Moraes – Brasil (2015). Em parceria

com Gibson Machado, tem produzido diversos

FotoPoemas, que unem fotografia e poema

numa só peça poética. Participou da VII Antolo-

gia Literária da SPVA/RN, com poema livre e

prosas poéticas. Tem publicado seus poemas e

crônicas em prosa poética em diversos blogs

literários e redes sociais.

T al qual poe-

ma lindo

ou belo

texto fluin-

do em prosa poética

endereçada a diletos

amigos e amigas, a

minha escrita germina

o bem que Deus nos

oferta e são certas as

traçadas trilhas que

convidam o homem à

reflexão, a partir da

visualização do divino

fenômeno astral do

eclipse lunar da Super

Lua, e que assim o

digam os céus que

compartilham a ação

divina de Deus na be-

leza da criação e reno-

vação surpreendente

nas maravilhas dos

acontecimentos natu-

rais, que desafiam as

normais razões incré-

dulas e pensamentos

não sistêmicos.

Isto, devido à

situação em que a nos-

sa conhecida lua, na

noite do dia 27 de se-

tembro de 2015, devi-

do à casualidade na

conjugação de diver-

sos fatos astronômi-

cos, que se apresenta-

ram em um determina-

do momento da noite,

espacialmente num

ponto, que em sintonia

temporal se situava

presente na menor dis-

tância de sua órbita

elíptica em relação à

trajetória do planeta

Terra, com o aumento

do seu poder de fulgor

e com os favores para

nós, de que este acon-

tecimento de lua cheia

e fulgurante se situa

no que os astrônomos

chamam de lua em

periastro, ou seja, a

brilhante Super Lua

mais próxima do nos-

so planeta. Esta com-

binação teve seu inicio

há aproximadamente,

às 21 horas e 11 minu-

tos (Horário de Brasí-

lia), no momento em

que começou o eclipse

lunar, com a sombra

da Terra gradativa-

mente cobrindo o ru-

bro fulgor da fantásti-

ca lua que apareceu no

céu, até o final do

eclipse lunar total, lá

pelas 23 horas e 11

minutos.

Visão divinal

em quadro astral, se

enquadrando como em

lastro de devaneio

temporal na retina dos

nossos olhares, e cau-

sando encantos nas

ruas celestiais que in-

duzem a nossa dimen-

são espacial do viver e

amar. Maravilhas e

enigmas do Deus Su-

premo.

O amigo - Lou-

rimar Neto, ao presen-

ciar lá no sertão parai-

bano, estes fenome-

nais momentos de rea-

leza da pródiga e divi-

nal natureza, se des-

lumbra com a magni-

tude do espetáculo que

seu olhar presenciou,

mas, descrente ou de-

sanimado, com algu-

mas amizades terre-

nas, se coloca como

reclamante solitário,

sem o afeto de algu-

mas alegadas e culti-

vadas amizades, que

de resto as saudades

não cuidam.

Momentos de

dúvidas na carência e

muita distância dos

amigos e/ou amigas,

talvez sim e provavel-

mente não, de forma

que, somente, o amigo

Lourimar poderá ex-

plicar tal situação e

instantes de questiona-

mentos sobre o senti-

do do afeto verdadeiro

da ótima amizade.

Só que entendo que é

preciso sonhar e viver

os bons momentos

com quem temos afe-

to, carinho, respeito,

consideração e amor,

ousando buscar melhores

instantes, e um tempo de dádivas

de inclusões sociais para o nosso

próximo, construindo uma socie-

dade socialista igualitária, com

justiça, democracia, paz, liberda-

de e fraternidade humanista.

Tempo novo

semeado do

bem, e do que

tem de bom no

ambiente mun-

do e nas mentes

livres dos ho-

mens e mulhe-

res de boa von-

tade que povo-

am o planeta

Terra.

A Super

Lua boa em

eclipse com o

sol, na sua me-

nor distância da

terra, se cora

feito adolescen-

te, com o rubror

da luz do sol,

que a namora,

cobrindo-a com

um lençol de

luz, amando-á na cama do olhar

das sombras do planeta Terra,

tendo os céus e os astros estrela-

res por testemunhas beneplacen-

tes, só para em recado do Deus,

Nosso Criador mostrar a existên-

cia divina do verdadeiro enigma

do amor sublime que ensina a

clarividência do existir Deus

Amor.

As sombras do eclipse lua

-sol-terra feito convites mostram

a fragilidade do viver no espetá-

culo lunar, em coadjuvância com

a sombra solar e a menor distân-

cia da lua em relação à terra, de

jeito que proclama no peito, o

momento da beleza universal da

natureza, a qual comparo como

se fosse a felicidade. E ela, a feli-

cidade - se esvai levando o som-

brear e traz fulgor brilhante,

amor mutante e triunfante pouco

a pouco no céu, ficando o recado

que cedo ou tardã, o afã do se

sentir feliz tem suas voltas.

Retornos cíclicos de

eclipses, tal como o viver de sen-

tir bem-querer e alegrias, nas cer-

canias das nossas mentes e cora-

ções - feliz tempo que retorna no

porvir.

Há de chegar à utopia do

amanhecer e o luar na nossa ter-

ra, sempre brilhante na paz radi-

ante e na harmonia alegre da

triunfante felicidade.

Que sejam

sempre luas

boas, os nossos

quereres e sen-

tires, ativamen-

te pulsando o

bem-querer,

sementes no

germinar antes

tarde ou quase

tarde do dia e

sem açoites de

saudades na

noite, pura ma-

gia e poesia

cotidiana do

tanto bom e

bem do amar.

E que sejam

vidas felizes,

os nossos lua-

res e amanhe-

ceres ensolara-

dos sempre.

Abraços fraternos ao ami-

go Lourimar Neto e toda sua di-

leta família, bem como todos os

amigos e amigas que acreditam

na força divina de Deus, com o

seu amor vencendo as adversida-

des e o mal, e arquitetando o

bem da paz universal para todos

os homens de boa vontade do

mundo.

* Roberto

Cardoso

IHGRN/INRG

Instituto Histórico e Geo-

gráfico do Rio Grande do

Norte Instituto Norte-Rio

-Grandense de Genealo-

gia

Desenvolvedor de Komu-

nicologia

E screver so-

bre Luiz da

Câmara

Cascudo não se tor-

na uma tarefa fácil,

tendo em vista que

os cascudinhos e

cascudianos: os

seus conterrâneos,

seus admiradores;

seus adoradores e

seguidores,

podem se

manifestar.

E fica a dú-

vida se vão

gostar.

Cascudo

tornou-se

um ícone

de referên-

cia poti-

guar, con-

trapondo a

outros íco-

nes em outros esta-

dos, como Gilberto

Freyre em Pernam-

buco. Dois pesqui-

sadores e estudio-

sos da cultura local

e estadual. Com pi-

tacos muito fortes

na cultura e na his-

tória nacional. Des-

creveram o homem,

a cultura e o local, a

terra. Tal como fez

Euclides da Cunha

no episódio baiano.

Cascudeanos,

potiguares e nata-

lenses, que pisam

hoje no mesmo

chão que Cascudo

pisou, fazendo com

que tenham os mes-

mos pontos de vis-

tas, a partir dos

mesmos lugares

que pisam e que

pisaram, visualiza-

ram e enxergaram,

a partir dos locais

que pisaram, até

onde seus olhares

alcançaram. O mar

aberto diante da ci-

dade, sem aciden-

tes geográficos,

ilhas ou ilhotas, pe-

dras ou rochedos.

Raros são os navios

perdidos que pos-

sam fazer parte da

moldura do horizon-

te. A linha que faz

divisa entre o céu e

o mar pode ter uma

participação. Pode

ter influenciado Cas-

cudo, a não perder

seus olhares para o

horizonte inerte e

tedioso, voltou seus

olhares para o interi-

or. O mar aberto

que se espera a

chegada de alguém,

e nunca vem. Olhou

para o interior do

estado e para o inte-

rior dos conterrâ-

neos enfeitados e

com os pés no

chão, um lugar de

produção de cultura

e tradição.

Luiz da Câmara Cascu-

do foi conhecido por vários

ângulos e nomes: Cascudo e

Cascudinho; ou Luiz de Natal.

E por breves minutos foi co-

nhecido como Ludovico. Cas-

cudo além de escrever

vários livros, circulou o

estado do RN, viajou

muito de trem, e circu-

lou o território brasileiro

estampado em notas de

cruzeiros.

Escrever sobre

Câmara Cascudo tam-

bém não convém recor-

rer aos seus textos e

livros, sua bibliografia e

sua literatura produzida,

tendo em vista que

Cascudo dizia não es-

crever livros baseados

em outros livros. Cascu-

do estava fugindo dos

conceitos da academia que

pedem um norteamento, um

referencial teórico e uma bibli-

ografia. Pesquisar Cascudo

em referenciais, em bibliogra-

fias, seria cometer o pecado

que cascudo dizia não come-

ter. Dizia não escrever livros

baseados em livros já escri-

tos. Cascudo escrevia sobre

o que enxergava, e sobre o

que via. Escrevia sobre ima-

gens que desfilavam à sua

frente.

Ainda que exista uma

controvérsia na sua afirma-

ção, de não escrever livros

baseados em outros livros. E

hoje não se escrever livros,

baseados em novos livros,

pois não podemos avaliar e

quantificar o quanto um livro,

pode ou não pode ter, modifi-

cado nossospensamentos,

nossos referenciais e nossos

norteamentos. Os teólogos

seguem um conjunto de li-

vros.

Falar sobre Cascudo re-

quer conhecer sua cidade, e

reconhecer seus temas. Re-

conhecer e conhecer a rua

em que nasceu, a cidade na

qual viveu, a rua que morou e

a casa que habitou, para

construir ideias e pensamen-

tos a partir dos lugares que

pisou, e o horizonte que avis-

tou. Requer entender seus

olhares, e falar de outros lu-

gares, e outros temas, que

levam a outros pontos de vis-

tas.

O seu norteamento foi

direcionado pela linha do

trem, que traçou seus cami-

nhos. A paisagem era a sua

janela em suas viagens, que

amostravam paisagens para

construir suas ideias e ima-

gens. Uma interpretação ente

janelas e Windows, janelas

em movimento. Janela da ca-

sa e a janela do trem. O refe-

rencial teórico de Cascudo

era o seu próprio olhar. E sua

bibliografia era a partir do po-

vo que circulava ao seu redor.

Fundamentado pelos saraus

ensaiados e apresentados na

casa de seus pais. Cascudo

cresceu e viveu cenários,

apresentações e prepara-

ções. O seu mundo descrevia

-se ao seu redor.

Quando os homens de bem

se omitem de realizar a sua

missão como ser vivente, ex-

pressando para o mundo o

que eles têm de melhor, essa

sua omis-

são serve

de semente

e germina

frutos

maus. Por-

que há ho-

mens que

se escon-

dem por

trás de

máscaras

que não os deixam se apre-

sentar como são, e na omis-

são dos outros eles tomam o

lugar que não lhe é devido.

É por isso que

como filhos de uma terra pro-

missora, devemos nos indig-

nar, e não deixar que os des-

mandos, arrogância e incom-

petência, continuem perme-

ando no meio de nós. Quando

as forças do bem se unem,

não há nada que possa impe-

dir sua vitoria. É nesta certeza

que todos nós temos que nos

unir para fazer uma grande

transformação dentro de nós

e dentro desta nossa terra.

Devemos arrega-

çar as mangas, pegar no ara-

do e fazer cultivar uma nova

semente chamada – renova-

ção.

Todos têm dentro

de si um homem sonhador e

uma mulher sonhadora. Um

sonho de ser feliz, de ver nos-

sos filhos amados felizes, e

este sonho deve tornar-se re-

alidade através da bondade

que existe dentro de cada um.

Unidos, não deixa-

remos mais esta semente ma-

léfica que insiste em permear

a nossa terra germinar. Pois,

as sementes que irão germi-

nar, a partir de agora, é a se-

mente do bem, a semente de

uma nova terra, a semente de

um novo mundo, a semente

de um novo tempo. Levante-

mos, saiamos da nossa aco-

modação e reergamos dia a

dia esta nova semente.

O SITE VIRTUAL CULT CABE NA PALMA DA SUA MÃO.

ACESSE DO SEU TABLET OU SMARTPHONE DE

QUALQUER LUGAR.

ALMA SOLIDÃO

(Clécia Santos)

Por que é para mim passageiro o amor?

Desse acalento chamado vento

Que sobra de olhares mudos

Emudecidos pelo tempo.

A todo momento mudo de estação

Aqui jazem todas elas

Quando todas são banidas de teu coração.

Já não sou eu que me despeço

E essa louca vontade de amar

Que prevalece na torcida plena

De toda a felicidade que de ti

Saborosamente esperei!

Uso da poesia

(Leonam Cunha)

Usar a poesia

como gesto de arreganhar

como cortina de teatro

pronta ao ato 1º

como abrir uma lata de sardinha

irregularmente

e deixar os dedos sangrando

como rasgar os miolos da caixa

com a dentina

como profusão e parafuso

como tufão a lacerar um estado

maior que o Colorado

numa manhã de setembro

dois pontos eu

como víscera temperada

no lixo a garimpar fezes

como movimento de penas

cortando o ar absorto e duro

como uma lâmina desenhando

uma falha vulcânica em meu país.

DEGREDO

(Erilva Leite)

Fartar-me-ia de tua presença

Na singeleza de tua calma

Vestir-me-ia de tua alma

Para tornar-me como queiras, tão serena

Eu sei que valeria à pena

O meu degredo para teu encanto

Das tuas vestes escuras

O teu corpo encarnado e santo

Jazendo no espaço das eternas horas

Por entre as heras e sândalos feridos

Povoado de lírios teu doce perfume

Asa virginal em que repouso

Teu doce mistério, meu anjo

Cismando tenta me povoar

A tua silhueta, sempre bela e sombria

Cobre-me de espanto

Cá estou, nua e crua

Sempre atônita a te ver passar

Nobilíssimo mosteiro do teu sacerdócio santo

De joelhos velo o meu deus, diante do altar!

ÍAMOS

(Gliciane Azevedo)

A cada dia Uma poesia Que contagia e Se esvazia No decorrer do dia E preenchendo O sonho de cada dia.

Eu entendia Que o olhar daquele dia Me surpreendia Me preenchia e O desejo fluía No amor que se construía Naquele alvorecer do dia.

RUA DO LAVRADIO

(Alfredo Neves)

É um encanto só

E nunca será para mim.

O seu brilho,

As antiguidades,

As noites de festas

E de tempo orvalhado,

Só recordações

Duma rua cobiçada

E que partiu prematura.

Um dia sonhei

Que a rua seria minha,

Mas foi só um sonho.

A natureza

Com as suas árvores,

Que era para ser bela,

Só é ausência.

Os passeios, esqueci-os!

Até o sol destoa com os Arcos.

Melhor esquecer,

Que pena...

Jamais poderei morar

Na rua do lavradio.


Recommended