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FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ

TEOLOGIA

EVA VANDERLI R. GROH

CUIDADO HUMANO – UMA ATITUDE DE AMOR

CURITIBA 2008

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EVA VANDERLI R. GROH

CUIDADO HUMANO - UMA ATITUDE DE AMOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Evangélica do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

Orientadora: Profa. Ms. Flávia Diniz Roldão.

CURITIBA

2008

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Eva Vanderli Ribeiro Groh

Cuidado Humano – uma atitude de amor

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Evangélica do Paraná

para obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. (Ms/Dr.)_________________________________________________________ Instituição:______________________________Assinatura:____________________

Prof. (Ms/Dr.)_________________________________________________________ Instituição:______________________________Assinatura:____________________

Prof. (Ms/Dr.)_________________________________________________________ Instituição:______________________________Assinatura:____________________

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DEDICATÓRIA

Toda dedicatória é um ato de amor.

Ao meu esposo Paulo e meus filhos, Kauhan e Renan, que me fizeram sentir a

emoção do presente maior da vida, dedico este trabalho que só aconteceu pelo

amor, apoio e companheirismo diário.

Também aos amigos, pelo incentivo que foi fundamental, bem como pelo

cuidado dispensado durante os momentos de incertezas.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo cuidado amoroso e pela graça renovada a cada dia.

A todos os professores que, com seus conhecimentos, enriqueceram e

iluminaram os meus pensamentos.

Ao Prof. Dr. Agemir de Carvalho Dias, pela atenção e incentivo.

A Profa. Ms. Flávia Diniz Roldão, por cada orientação recebida e pelo apoio na

construção deste trabalho. Externo meu carinho e respeito, desejando:

Que Deus lhe dê...

A serenidade necessária para aceitar as coisas que não pode mudar,

a coragem para modificar àquelas que pode mudar,

e a sabedoria para distinguir umas das outras.

Reinhold Niebuhr

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“... Eu fui alguém... Que se associou a quem nada tinha,

que se uniu a quem era de caráter tranqüilo... Que expulsou a tristeza,

que levou a sério a queixa da viúva, alguém que salvou quem estava a afogar-se.

Alimentei quem se encontrava em necessidade, fui um protetor do fraco.

Defendi a viúva espoliada de seus haveres. Fui o pai de quem não tinha pai nem mãe,

fui alguém que salvou o pequeno.

Fui uma ama para meu povo, que os conduziu pelo bom caminho.

Fui um pastor para seus..., que os preservou de toda desgraça

Fui o querido dos pequeninos, E com presentes alegrei os corações das pessoas.

tive a mão aberta para quem nada tinha, E dei nova vida a quem estava cansado.

Fui alguém que chorou por uma desgraça, que cuidou do abatido.

Ouvi o grito de angústia da menina órfã, e fiz tudo quanto ela precisava.

Fui alguém que ajudou as crianças abatidas pelos cuidados, que...lhes deu um destino e enxugou suas lágrimas,

Alguém que afastou as preocupações de uma mulher que gemia desesperada.

(Inscrição em um túmulo do Antigo Egito, Boff, 2000, p. 42).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................8

1. O ATO DE CUIDAR ............................................................................................11

2. CUIDADO DE SI .................................................................................................18

3. CUIDADO DO OUTRO........................................................................................23

4. CUIDADO PASTORAL........................................................................................28

5. CUIDADO ESPIRITUAL .....................................................................................34

CONCLUSÃO............................................................................................................40

REFERÊNCIAS.........................................................................................................42

REFERÊNCIA COMPLEMENTAR ............................................................................46

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INTRODUÇÃO

A elaboração deste trabalho parte de uma reflexão sobre o cuidado humano,

na perspectiva do amor. Visto que o cuidado também pode ser praticado sem amor e

o que é pior, muitas vezes um cuidado interesseiro, que é reflexo da realidade da

vida contemporânea. É como Bonhoeffer dizia, “tudo o que estamos acostumados a

chamar de amor, o que vive nas profundezas da alma e na ação visível, até aquilo

que brota do coração piedoso em termos de fraterno serviço ao próximo, pode estar

sem amor”. (BONHOEFFER, 2005, p. 32). Mas, o amor verdadeiro é aquele que

procede de Deus ‘ágape’. “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor

procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus"1 (1

Jo. 4.7). É deste amor que fala este trabalho, um amor que deve presidir todos os

nossos relacionamentos, que “não começa em nós, mas em Deus [...] é o amor que

nos faz amar além das nossas forças, pois, ele se encontra sob o poder de Deus”

(MARCONDES FILHO, 2007 p.30). Mas, qual a importância de um cuidado humano

amoroso que contempla o outro na sua totalidade? Se a questão é relevante, num

contexto onde os atos muitas vezes são efetivados por diversas motivações, há que

se pensar. Para mim, filha única, que aos dez anos sofri pela morte súbita de meus

pais, é questão fundante. Recebi cuidados, mas não aqueles que contemplam a

dimensão invisível do ser humano. A questão é o resultado ao longo de anos, de um

cuidado que não faz uso do amor, afeto, abraço, solicitude pelo objeto cuidado.

Foi com esta motivação, somada ao contexto vivido na prática de estágio, que

se deu esta pesquisa. Creio que a relevância teórica seja suscitar uma reflexão a

respeito do cuidado integral, enquanto prática que requer compromisso, ação

pautada em princípios e valores cristãos. A relevância prática é aquela que conduz

o indivíduo a sentir-se bem ao menor toque físico, pois a atitude de cuidar é a

disposição em responder ou agir de um determinado modo, ou seja, sair da inércia e

promover o bem estar do outro. Com este pensamento, abordar-se-á o cuidado

1 Bíblia de Estudo de Genebra. (usada em todo o trabalho)

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enquanto atitude de amor. Trabalhando então cinco capítulos, que contemplam o

cuidado em algumas de suas características.

No primeiro capítulo, aborda-se o cuidado enquanto característica intrínseca do

ser humano, ou seja, um ser de cuidado; A forma como o cuidado é entendido e

praticado ao longo da história; A importância de uma visão holísta no processo do

cuidado; bem como, a importância em buscar desenvolver as potencialidades na

arte de cuidar, tendo em vista a relevância do cuidado para a sobrevivência humana.

Mesmo que em alguns momentos “...o ser humano, infelizmente, em sua trajetória,

apresenta paradoxos e ambigüidades entre comportamentos de cuidado e não-

cuidado” (WALDOW, 2008, p.2).

O segundo capítulo descreve o cuidado de si, como elemento a priori de todas

as outras práticas de cuidado, pois, como poderá cuidar do outro se não estiver bem

consigo mesmo? Nesse processo, tomar consciência de si próprio, ter coragem de

buscar o que não lhe agrada e precisa ser mudado, aprender a reconhecer seus

limites, valorizando suas potencialidades e principalmente fortalecer sua identidade

como filho de Deus, é fator fundamental.

O terceiro capítulo trata do cuidado com o próximo, e para tal, requer

envolvimento, responsabilidade e, sobretudo, amor, que assiste a pessoa na sua

totalidade. Também, disposição, doação e uma escuta atenciosa, pois em diversas

situações, o indivíduo não necessita de grandes movimentos de cuidado, apenas,

sentir-se amado e ter alguém que se importa com ele.

No quarto capítulo, aborda-se o cuidado pastoral como elemento chave no

processo de cuidado, um instrumento terapêutico na vida das pessoas. Pois seu

objetivo é assistir-las com uma mensagem significativa, a partir do evangelho. Uma

mensagem que deve buscar promover a cura e a libertação, orientando-a e

conduzindo-a até que se sinta capaz de seguir sozinha.

O quinto capítulo reflete sobre o cuidado espiritual e a contribuição do teólogo

junto à comunidade. Sua responsabilidade de cuidar enquanto práxis. Bonhoeffer

em seu pensamento ético, fala que “não basta uma proclamação dogmaticamente

correta da mensagem cristã, nem tampouco princípios éticos genéricos; é preciso

orientação concreta na situação concreta” (BONHOEFFER, 2005, p. 197). Em fim,

uma ação transformadora, que possa promover o bem estar das pessoas onde elas

vivem ou estão inseridas; escolas, hospitais, instituições de longa permanência...

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Neste processo, reconhecer e valorizar a dimensão espiritual do ser humano é de

suma importância. Fortalecendo sua fé, pois através dela a esperança se renova.

Há que se fazer esta reflexão, tendo em vista, a realidade que se impõem

diante de nós. Que o conformismo não faça calar a nossa mensagem. Que a nossa

reflexão, resulte em uma atitude de amor, a ponto de promover uma interação e

contribuição pela causa da vida.

Espero que este trabalho estimule as pessoas a fortalecerem os vínculos umas

com as outras, tornando-se mais acolhedoras, afetuosas e resgatando o mais

essencial do ser, que é a capacidade de cuidar e amar. Pois, o amor é “...como um

guia que conduz o ser pela estrada da vida” (PORTO, 1999, p. 11). Portanto, só faz

sentido falar do amor, se este puder ser vivido nas relações humanas, que se

estenderão as outras dimensões do cuidado. Cuidar é um estilo de vida. “Com a

piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo

em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem

infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Pe 1.7-8).

Portanto, “coloquemos esmeradamente em prática as direções já dadas acerca do

cultivo e do cuidado ao princípio do amor de Cristo” (WILBERFORCE, 2006, p. 63).

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1. O ATO DE CUIDAR

Quando alguém chega a ti e te pede ajuda, não te compete recomendá-lo piedosamente: “tem confiança e entrega a Deus tuas necessidades”, mas deves então agir como se não existisse Deus, como se em todo o mundo não existisse senão uma pessoa que pudesse ajudar a este homem, tu, somente tu.

Martin Buber

Para definir o significado de cuidado vários conceitos foram cunhados.

HOUAISS (2001, p.885) no seu Dicionário da Língua Portuguesa, define o verbo

cuidar como, meditar com ponderação; cogitar, pensar, preocupar-se com,

interessar-se por, responsabilizar-se por (algo). Sua origem latina, deriva do verbo

cogitare, que é sinônimo de pensar, refletir, meditar, cuidar, o que significa também

agitar no espírito, remover no pensamento, etc., encontramos também referências

na palavra latina “curare”, que significa “empregar seus cuidados em alguma coisa”.

O substantivo cuidado do latim “cogitatus’”, refere-se à atividade do pensamento,

remoer no pensamento, pensar, refletir. Para Macedo & Dias (s/d), “é possível supor

que a prática de cuidado tem duplo sentido, um no campo da ação do pensamento,

reflexão e outro no campo da aplicação do espírito, materializando-se em atitudes

para com o outro”.

Cuidado pode ser entendido como atitude mental que envolve um

conhecimento, uma preocupação. Outra possibilidade na definição do termo é o que

o relaciona com a questão do sofrimento, cuidar é mostrar interesse por uma pessoa

que sofre. O conceito de cuidado tem como objeto uma reflexão prévia e uma

disposição de atender uma necessidade. Por outro lado, o cuidado tem também uma

dimensão prática que envolve ação e atitude.

Considerando que “cuidado” é uma palavra polissêmica e abrangente, Boff

(1999, p.90) comenta que precisamos descobrir as riquezas escondidas e contidas

nas mesmas, pois segundo ele “As palavras nascem dentro de um nicho de sentidos

originários e a partir daí desdobram outras significações afins”. Para ele, cuidado

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inclui duas significações básicas, “primeiro, a atitude de desvelo, de solicitude e de

atenção para o outro. A segunda, de preocupação e de inquietação, porque a

pessoa que tem cuidado se sente envolvida e afetivamente ligada ao outro” (BOFF

1999, p. 91-92). Entendemos que independente do sentido ou da categoria, a atitude

de cuidar não é uma ação mental somente, mas uma ação que é gestada na mente

e concretizada na prática.

Na área da saúde, o tema cuidar/cuidado vem sendo estudado e pesquisado

por Waldow2 ao longo de quase duas décadas. Para ela o cuidado abrange várias

categorias e pode ser definido como: “um resultado, deliberações e ações de

cuidar/assistir oportunizando o crescimento através de atitudes morais”. (WALDOW,

2001, p. 103). No aspecto holístico Waldow descreve cuidado como uma maneira de

“ver o outro de forma global, respeitando suas características e se possível, planejar

junto ações terapêuticas, tanto a nível preventivo como curativo [...] ver o outro, que

é um ser que pensa, vê, age (...)” (WALDOW, 2001, p. 101).

No início da era cristã a filosofia também estava envolvida com as questões

relacionadas ao cuidado do ser. Para mencioná-la usa-se a tradução escrita por

Leloup (2007), sobre o filósofo Fílon3 de Alexandria. Fílon entendia o cuidado numa

dimensão holística, que abrangia o homem na sua totalidade. Na época, existiam

comunidades chamadas de “terapeutas do deserto”, onde o verdadeiro papel do

terapeuta era de cuidar, colocar-se junto ao necessitado utilizando seu saber, a fim

de oferecer o melhor cuidado possível, portanto, destacavam-se na atenção ao Ser

em todas as suas dimensões: corpo, alma e espírito. O Dicionário Vine (2003, p.

526) define curar como: therapeuõ, que significa principalmente “servir como

therapõn, assistente”; então “cuidar dos doentes, tratar, curar, sarar”. Assim, sua

função era:

Antes de tudo, cuidar do que não é doente em nós, do Ser, do Sopro que nos habita e inspira. Também cuidar do corpo, templo do Espírito, cuidar do desejo, reorientando-o para o essencial; cuidar do imaginal, as grandes imagens arquetípicas que estruturam a nossa consciência e cuidar do outro,

2 Waldow é enfermeira, Mestre em Educação pela Universidade do Rio Grande do Sul e Doutora em Educação,

na área de Educação em Enfermagem, pelo Teachers College da Columbia University de New York, Estados

Unidos. Faz pesquisas sobre o cuidado humano na área da saúde.

3 Fílon de Alexandria, judeu de cultura helenista, foi contemporâneo de Cristo. Precursor de Orígenes, Fílon é

conhecido, sobretudo por sua “arte de interpretação” dos sonhos e dos textos sagrados.

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o serviço, a comunidade, o próprio centramento do ser. (LELOUP, 2007, p. 9-10).

Sua principal ferramenta para o cuidado era o ouvir, inclinavam-se até o leito e

de forma atenciosa e amorosa procuravam ouvir não só o que era dito, mas também

buscavam compreender o que permanecia no silêncio. Vine (2003, p. 210) diz que

“ter um coração que ouve é ter discernimento ou entendimento”. É interessante olhar

para o passado e contemplar pessoas que tinham este discernimento e não estavam

só preocupadas, mas, dispostas ao cuidado do Ser na prática. “Aqueles que se

tornaram terapeutas não o fizeram por exortação ou solicitação de outrem, mas

impulsionados pelo amor divino. (LELOUP, 2007, p.39).

No cristianismo, Jesus é o próprio Ser-de-cuidado, pois, suas ações estavam

sempre voltadas ao homem, a fim de proporcionar-lhe vida, isso no aspecto mais

amplo da palavra. Oliveira (2005, p. 30), escreve que “a tradição cristã nos

apresenta o Deus-Encarnado, Jesus de Nazaré, como alguém que vivenciou

cuidados, inclusive tocando pessoas enfermas e curando-as”. Jesus é

inegavelmente “O” modelo de cuidado integral. Por várias vezes cuidou do aspecto

físico, moral, espiritual e emocional. No Evangelho de Marcos vemos um destes

exemplos de cuidado (físico), “Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão,

tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! No mesmo instante, lhe desapareceu a lepra,

e ficou limpo” (Mc 1.41-42). Em outro momento está preocupado com a multidão,

cuidando assim para que sua fome fosse suprida, “E, chamando Jesus os seus

discípulos, disse: Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece

comigo e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não

desfaleça pelo caminho” (Mt 15.32). Jesus cuida também das questões espirituais,

“Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque

eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc

6.34); “Vendo-lhe a fé, Jesus disse ao paralítico, Homem, estão perdoados os teus

pecados” (Lc 5.20). Outro exemplo é o da mulher samaritana (Jo. 4.1-30), uma

mulher desprezada pela sociedade e sofria emocionalmente por diversos fatores.

Além de mulher era samaritana, o que fazia com que os judeus a desprezassem,

tinha tido vários maridos (prostituta), portanto, não tinha nenhum valor em sua

época. Mas Jesus mudou o seu caminho para encontrar-se com ela, cuidou e curou-

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lhe as feridas da alma, salvando-a e libertando-a de todos os aspectos que a

aprisionavam.

Ao falar de Jesus como um ser de cuidado, Boff (1999, p. 168) escreve que:

“Morrendo na Cruz cuida dos ladrões crucificados ao seu lado e cuida de sua mãe,

entregando-a aos cuidados do discípulo predileto”. É desnecessário citar todos os

momentos que Jesus esteve cuidando das pessoas em suas muitas aflições. Ele

veio para sarar/curar não só o que é visível, mas todas as dimensões que envolvem

o ser humano.

Nessa perspectiva, Barth (2007, p.116), ressalta que o labor teológico é

serviço. “De modo geral é uma forma de querer, de atuar e de agir na qual a pessoa

não procede em defesa da própria causa nem segue a seus próprios planos, mas na

qual age com vistas à causa de outrem, de acordo com as necessidades e as ordens

deste”. Portanto, este Deus que é o objeto da teologia, é amoroso, se compadece, é

presente, não é um Deus solitário e egoísta, mas se relaciona com a humanidade.

Oliveira (2005, p. 34) observa que, “a teologia, portanto, embora centrada em Deus,

é aos seres humanos que fala, tornando-se uma ciência viva”. Assim, para cuidar do

humano, é preciso descobrir o conceito que define sua natureza e sua finalidade. A

revelação bíblica apresenta o ser humano como imagem e semelhança de Deus. Pacot

(2001, p. 45) nos diz que esta verdade essencial, ontológica, é revelada desde as

primeiras linhas da Bíblia. A imagem de Deus está inscrita no fundo de cada ser

humano. Nesse sentido, a “vida humana é sagrada, porque tem sua fonte e meta em

Deus” (BRUSTOLIN, 2006, p. 447). Neste sentido, quanto mais consciência e

proximidade com esta fonte, mais a sua essência (amor) será revelada por nós ao nosso

próximo e tudo que se relaciona a vida que é sagrada. Sendo nossa identidade a de

filhos de Deus, não podemos viver alheios, sem viver esta identidade, mas, devemos

vivê-la amando, ajudando, compadecendo-nos dos necessitados. Sathler-Rosa (2004, p.

16) coloca que, “o amor e cuidado de Deus se concretizam na existência humana”. Pois

Deus é amor e deixou um mandamento a ser praticado, “... Amarás o Senhor, teu

Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este

é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a esse, é: “Amarás o

teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39). Em suma, quem não ama ao próximo,

não ama a si mesmo e nem a Deus. Noé (2005, p. 79) diz que “o amor é o princípio

que perpassa toda a existência. Ele brota da vida e faz florescer vida. Este é o amor

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segundo o exemplo de Jesus, é atitude, é ação que se manifesta em cuidado, pois

amor significa doação, disposição em dar-se ao outro”.

Para Oliveira (2005, p. 39) o cuidado tem “seu sentido bíblico-teológico ancorado

na misericórdia e compaixão, só sendo possível este modo-de-ser pela inclusão e não

pela exclusão que se dá nas relações de poder”. Nesse sentido, podemos encontrar em

Jesus todas as diretrizes para um cuidado moldado na compaixão, no amor, no

compromisso e na amizade. Boff (1999, p.92) diz que cuidado “é um modo de ser-no-

mundo que funda as relações que se estabelecem com todas as coisas. [...] no jogo

de relações, na co-existência e con-vivência”.

Em outras palavras, cuidado é um fenômeno existencial, se dá nas relações

como modo de ser-no-mundo refletindo a imagem de Deus, tornando-se

fundamental para a sobrevivência. Waldow (2008, p. 87) em sua análise das

questões relacionadas ao cuidado, escreve que: “O ser humano é um ser de

cuidado; o Ser nasce com este potencial, portanto, todas as pessoas são capazes

de cuidar e necessitam, igualmente, de serem cuidadas”. Considerando este

pensamento, o cuidado vai desde o cuidado por si próprio, com o próximo e também

com o meio ambiente. Assim, o homem deve buscar desenvolver suas

potencialidades na arte de cuidar, cuidando com qualidade e objetividade;

dedicando-se a todas as situações que colaboram para seu bem estar, seu

crescimento e sua preservação. Entretanto, entendemos que quando este potencial

não é desenvolvido, resultará um cuidado apenas no sentido de subsistência

própria. Um cuidado egoísta, com a intenção de que o resultado seja revertido em

seu próprio benefício, não um cuidado consciente que se estende ao próximo.

Nessa perspectiva, pode-se perceber que a prática de cuidar está presente

na vida do ser humano desde sua criação. O cuidado de Deus para com o homem

pode ser observado desde o princípio, quando, ao colocar o homem no jardim, “Do

solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para

alimento... (Gn 2.9)”. Vemos neste ato um cuidado voltado para a sobrevivência do

Ser. Segundo Oliveira (2005, p.29) este é o “cuidado primeiro, ou seja, o de Deus

para com ser humano (dimensão vertical)”. Em seguida vemos a incumbência dada

por Deus, para que o homem cultive e guarde o jardim, “Tomou, pois, o Senhor Deus

o homem e o colocou no jardim para cultivar e guardar” (Gn. 2.15). Deus cria o

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homem para ajudá-lo, para ser Seu colaborador. Mueller, (2004, p. 211) escreve

que: Deus, em sua graça infinita, fez concessão de sua imagem divina ao ser humano, a fim de que ele o pudesse conhecer e servir e pudesse experimentar perfeito gozo em comunhão com Deus e fosse seu governante representativo na terra (Gn. 1.27-28). O domínio do ser humano sobre as criaturas, de acordo com a Escritura foi conseqüência imediata de sua posse de imagem divina [...]. O domínio do ser humano deve ser considerado como soberania efetiva, de forma que as demais criaturas de boa vontade lhe prestaram serviço. Depois da queda, o ser humano possui apenas vestígios pálidos desse domínio absoluto [...], porque, agora, é obrigado a empregar a força e astúcia para controlar as criaturas sobre as quais procura governar.

Deus não somente cuida do homem, como também confere a este homem a

responsabilidade de cuidar, assumindo sua essência como ser de cuidado. Este fato

se projeta para o relacionamento na raça humana, quando Deus age providenciando

uma companheira (auxiliadora), uma colaboradora para ajudar e ser ajudada, “Disse

mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora

que lhe seja idônea” (Gn 2.18). Nasce o relacionamento numa (dimensão horizontal).

Assim, em tudo e desde o princípio, Deus demonstra a grandeza dos

relacionamentos, bem como, a importância do cuidado e amor pelo cuidar. Uma

grande demonstração do seu cuidado é sem dúvida, quando, em vista da

desobediência e queda humana, Deus providencia vestimentas adequadas para o

homem. Atitude esta, que revela o grande amor e preocupação de Deus por seu

objeto de cuidado, amor incondicional que se revelou tanto antes como depois da

queda. Deus cuidou do homem independente de sua condição. Um pequeno

vislumbre desse amor pode ser encontrado no livro do profeta Isaías. “Ouve-me, ó

casa de Jacó e todo o restante da casa de Israel; vós, a quem desde o nascimento

carrego e levo nos braços desde o ventre materno. Até a vossa velhice, eu serei o

mesmo e, ainda até as cãs, eu vos carregarei e vos salvarei” (Is. 46.3-4).

Sem dúvida, o amor e o cuidado de Deus podem ser sentidos e

experimentados em todo tempo e circunstância, de forma prática e concreta ao

longo da história humana, desde a criação até o momento que culmina em Jesus,

que é a revelação máxima de seu amor. No evangelho de João Jesus declara: “...eu

vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo 10.10). Oliveira comenta

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que com esta declaração, Jesus enfatiza “seu cuidado no modo-de-ser, como

alguém que serve, e se doa, a partir de si mesmo, da sua pessoa, e não somente de

seus atos de bondade” (OLIVEIRA, 2005, p.30). Em suma, o cuidado está

intimamente ligado a vida, pois em todo tempo, cuidamos e somos cuidados. Boff

(1999, p.34) reforça este pensamento quando escreve:

O cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. O seu modo de ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano. E que sem o cuidado o homem deixa de ser humano. Se não receber cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. Se, ao longo da vida não fizer com cuidado tudo o que empreender, acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta.

Isso significa que o agente do cuidado deve ajudar a constituir o outro como

ser-de-cuidado, potencializando suas qualidades e assim melhorando sua qualidade

de vida, bem como da comunidade em que está inserido. Salienta Sathler-Rosa, “o

cuidado [...] refere-se a atitudes, ações, métodos, visando à salvação, ou seja, à

harmonia, ao bem estar, ‘aqui e agora’ do ser humano total, no seu contexto de

múltiplos relacionamentos: com Deus, com o próximo, com a criação, consigo

mesmo, com sua comunidade...” (SATHLER-ROSA, 2004, p. 41). Hoje, não existe

mais um grito surdo de ajuda. Mas, um desesperado apelo de respeito e valorização

do Ser. Assim, lembra-nos Leloup.

Se vivemos um tempo de desespero, então a arte é a de confiar desesperadamente e, ainda assim, confiar. É a de amar desesperadamente e, ainda assim amar. É a de cuidar desesperadamente e, ainda assim, cuidar. (LELOUP, 2007, p. 16)

É esse cuidado, que carece de amor para ser transformador, elemento

primeiro, a fonte que move o sentimento para o ato de cuidar. Só assim esta atitude,

pode transformar a nós mesmos, ao próximo e a comunidade.

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2. CUIDADO DE SI

“O importante não é o que fazem de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós”.

Jean-Paul Sartre

Com este pensamento de Sartre, pode-se entender que, o primeiro cuidado,

deve ser direcionado a si próprio. Cuidar de si é uma atitude que implica vários

aspectos, como coloca Hoch e Noé, “O cuidado de si mesmo envolve a parte

orgânica, física, bem como a emocional e a espiritual” (HOCH & NOÉ, 2003, p.29).

Nesse sentido, é importante compreender que o Ser é complexo e completo,

portanto, precisa estar em conexão, para que assim se sinta pleno. Está é uma

condição básica para quem deseja desenvolver o cuidado do outro. Uma questão

está intimamente ligada à outra, na mesma intensidade do mandamento “amarás o

teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.38). Entendendo que só se pode dar o que se

têm, amar/cuidar do próximo só é possível a partir do valor e amor/cuidado

dispensado a si mesmo. O professor Buscaglia traduz este pensamento quando diz:

“Só se pode amar os outros e ajudá-los a crescer no amor na profundidade e

extensão da responsabilidade que se sente em crescer no amor a si próprio”

(BUSCAGLIA, 2007, p.124).

O pressuposto aqui é que cuidar de si está a priori de qualquer outra prática de

cuidado. Não é tarefa fácil, requer autoconhecimento, saber seus limites e

potencialidades, e a partir daí, desenvolver uma relação de respeito consigo mesmo.

Cuidar-se requer uma escuta atenciosa de si, a fim de ouvir aquilo de nos traz

frustrações e conseqüentemente sofrimentos, e também o que nos dá prazer e

alegria. Para Feitosa, “o desenvolvimento pessoal requer conhecimento e reflexão

da história de vida, identificação e tratamento das fraquezas, valorização das

capacidades e o reconhecimento da imagem e semelhança de Deus em si mesmo”

(FEITOSA, 2006, p.3). Neste contexto, estar disposto a mudanças é fundamental,

fazendo uma auto-análise e avaliando a percepção que se tem de si. Para esta

atitude, coragem é elemento fundamental, é virtude necessária ao ser humano, pois

este olhar para si, muitas vezes revela-lhe o que é e também o que não é. Muitas

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vezes são sentimentos dos quais não lhes agrada e de certa forma, causam dor,

frustração, medo e ansiedade, o que dificultam vida. Tillich em seu livro Coragem de

Ser, fala que: “A coragem de ser, em todas as suas formas, tem, por si mesma,

caráter revelador” (TILLICH, 1967, p.130). Esta revelação por mais que seja

dolorosa, tem a função de tomada de consciência do próprio “eu”, para o

psicanalista Rollo May, “quanto mais autopercepção tenha a pessoa, tanto mais viva

será”. (MAY, 2002, p.83).

Cuidar de si implica em retirar a máscara e parar de representar, enfrentar o

risco de não ser aceito, tomar consciência de que o ser humano não é perfeito e

está em constante transformação. Powell fala que:

É de um momento de verdade e de um hábito de verdade que precisamos [...] meu emprenho em ser honesto comigo mesmo diante dessas questões será o fator decisivo e a condição essencial para o crescimento como pessoa, uma pessoa em crescimento renova-se a si mesma... Tão nova quanto um novo dia. (POWELL, 1994, p. 25-26).

Fazer este movimento para dentro de si, talvez seja uma das maiores

aventuras do ser humano. Nem sempre é voluntário, quase sempre é motivado por

momentos de crises como: solidão, sentimento de vazio, perda do sentido da vida,

entre outros tantos que assolam o individuo ao longo de sua existência. Viver é

arriscado, demanda força e energia. Várias etapas da vida devem ser transpostas,

infância, meninice, adolescência, fase adulta e desta para a velhice. Mas, a questão

é como lidamos com tudo isso, alguns aproveitam as dificuldades para aprender e

crescer, outros vivem a margem ou a sombra dos outros. Anulam-se, ignoram seus

desejos, não têm uma idéia nítida do que são ou do que sentem. São incapazes de

agir por conta própria, não se estimam, vivem aprisionadas, sempre dependentes e

desta forma se perdem de si, já não se reconhecem mais. May (2002) traduz bem

esta realidade quando menciona o pensamento de Nietzsche, Marx e Kafka, quando

ainda em sua época diziam que a raiz de nossos males é a perda do sentido, do

valor e dignidade do ser humano:

Nietzsche o predisse ao apontar que o individuo estava sendo absorvido pela multidão e que estávamos vivendo segundo uma “moralidade de escravos”. Marx também o predisse ao proclamar que o homem moderno esta sendo “desumanizado”, e Kafka demonstrou em suas surpreendentes

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histórias que as pessoas podem literalmente perder a própria identidade. (MAY, 2002, p.47)

Cuidar de si é estar atento a toda situação ou relacionamento

intrapessoais/interpessoal que lhes roube de si mesmos. Para o teólogo Melo,

È muito fácil perder a liga existencial, o cordão que nos costura a nós mesmos... É muito fácil a gente se perder na pluralidade do mundo, é muito fácil entrar nos cativeiros. É muito fácil ser roubado. Há prisões que são mais que paredes e celas. Há prisões que não são concretas, e por isso não há nada que possa concretamente ser quebrado. (MELO, 2008, p.35).

Aqui talvez resida o grande desafio, o resgate de si, e para isso uma

metanóia4 deve acontecer. Ou seja, tomar consciência de si próprio, ter coragem de

buscar o que não lhe agrada e precisa ser mudado, valorizar as suas

potencialidades, aprender a reconhecer seus limites e principalmente fortalecer a

identidade como filhos de Deus. Mas, essa mudança só será possível, se tivermos

consciência da necessidade em mudar a mentalidade, a maneira de encarar os

fatos, o mundo e as pessoas. Este processo demanda tempo e disposição para a

prática de uma escuta afetuosa e sensível do ser interior.

Fílon de Alexandria, fala dessa escuta como sendo de suma importância para

a interpretação dos males que assolam os indivíduos. Para ele “é um exercício

espiritual, onde é colocado em prática o primeiro dos mandamentos: “Escuta, ó

Israel...” Escutar é o começo da saúde mental; é também o começo da salvação”.

(LELOUP, 2007, p.98).

Os Terapeutas do deserto também cuidavam do silêncio, para que a sua

escuta fosse aberta e inclusiva. Para eles a “qualidade da escuta chama e desvela

palavras e emoções que estavam retidas, que não haviam sido ditas anteriormente”

(LELOUP, 2007, p.62). Essa escuta atenciosa é o meio facilitador do encontro do ser

consigo mesmo, ela pode ser aquela que o leve ao mais profundo do seu ser, onde

os conflitos acontecem, mas também, onde a consciência e o conhecimento afloram,

dando total significado a sua existência, pois o ser humano é criado a Imagem

4 metanoia metanóia: como acontece a alguém que se arrepende, mudança de mente (de um propósito que se

tinha ou de algo que se fez). Bíblia Online – Módulo Avançado V. Versão: 3.00

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daquele que lhe amou primeiro. Só a partir dessa consciência, é que se pode

entender o real significado do “cuidado de si”, em todas as dimensões. Esse

processo de escuta pode ser longo, mas resultará em liberdade. Uma liberdade que

Vanier (1998) descreve, como aquela que abre o coração e conduz o ser à

descoberta da sua humanidade comum. Essa descoberta lhes liberta das

compulsões dos males interiores, ou seja, livres de si mesmos. Para Vanier (1998)

ser livre é:

Saber quem somos com tudo o que é belo e com toda fragilidade que há em nós; é amar nossos próprios valores, abraçá-los e desenvolvê-los; é estar ancorado em uma visão e em uma verdade, mas também estar aberto aos outros e, assim, às mudanças. (VANIER, 1998, p. 126-127).

Para mudar precisa-se ter liberdade. A graça de Deus liberta para enfrentar o

que realmente se é. A possibilidade de ver a verdade sobre si prepara para receber

mais plenamente a graça de Deus. Esta liberdade é uma verdade em Cristo. Nela se

é liberto para o amor e para o serviço. Ela liberdade não julga ou condena, mas

ama, entende e perdoa. A máxima é que, quando libertos do “eu” interior, que muitas

vezes sufoca e oprime, se é impelidos ao “tu” e conseqüentemente ao “nós”. Sendo

assim,

... vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Gl 5.13-14).

Só no amor há liberdade. Porque quebra os cativeiros que aprisionam,

devolvendo-lhes a liberdade, permitindo crescimento e aprimoramento pessoal e

também dos que os rodeiam. Mas existe uma condição que não é somente

necessária, mas, indispensável para amar ao próximo; primeiro tenho que amar a

mim mesmo. Schwarz (1998) define o amor como sendo:

Na verdade, o amor a mim mesmo é, realmente, o oposto do egoísmo, o egoísta não ama a si mesmo. Ele sofre pelo fato de não ter paz consigo mesmo e por nunca ter aprendido a se aceitar como criatura de Deus com suas falhas e fraquezas. O egoísta vive em grande ansiedade procurando preencher sua carência de amor sugando o amor e o reconhecimento das outras pessoas. Apenas quem se aceitou a si mesmo está em condições de

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abrir mão de si mesmo e pode tornar-se uma pessoa amorosa e altruísta. Quem não descobriu seu próprio valor pessoal está ainda tão enredado nos seus problemas que está escravizando ao seu próprio EU. Ninguém nasce com este amor a si mesmo. Precisamos aprender a nos amar assim como precisamos aprender a amar as outras pessoas. (SCHWARZ, 1998, p.53- 54).

Portanto, todo aquele que ama cuida de si, da comunidade e da natureza. Para

viver em plenitude é necessário que haja uma harmonia em todas as dimensões que

envolvem o ser humano. E assim, resgatar e viver o verdadeiro Shalom bíblico5, que

tem um alcance e profundidade muito maior do que “paz” somente. Sua raiz semita

(sh-I-m) significa também, estar cheio, sentir-se completo. Shalom, no sentido mais

lato da palavra, abrange o bem-estar (Juízes 19.20); a saúde física (Isaías 57.18;

Salmo 38.3); a prosperidade (Salmo 73.3); o contentamento ao adormecer (Salmo

4.8) e no momento da morte (Gênesis 15.15, etc.); boas relações entre as nações e

os homens (1Reis 5.26; Juízes 4.17; 1Crônicas 12.17-18); salvação (Isaías 43.7;

Jeremias 29.11; cf. Jeremias 14.13). Para Santiago (2006), Shalom não é apenas

um sentimento, mas a experiência plena de uma vida cheia de sentido. É a paz dos

que dão o melhor de si próprio e não têm vergonha de não serem infalíveis. É a

sensação de que todas as nossas dimensões caminham unas como um rebanho só,

no amor a um mesmo pastor. Shalom é estar de bem com a vida, consigo próprio,

com Deus e com o próximo. Portando, é não se sentir disperso ou derramado como

água, como vários ‘eus’ a fugir um para cada lado.

5 Shalom: completo, saúde, bem estar, paz. Totalidade (em número). Segurança, saúde (no corpo). Bem estar,

saúde, prosperidade. Paz, sossego, tranqüilidade, contentamento. Amizade, referindo-se às relações humanas,

com Deus especialmente no relacionamento proveniente da aliança. Paz (referindo-se a guerra). Paz (como

adjetivo). Bíblia Online – Módulo Avançado V. Versão: 3.00

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3. CUIDADO DO OUTRO

“Cuidar é universalmente humano. E só podemos receber cuidado se cuidarmos de outros. Trata-se de uma atitude e não de dois atos. Não nos tornamos pessoas sem o encontro com outra pessoa”.

Paul Tillich

O estilo de vida moderno e competitivo. Uma sociedade globalizada que

privilegia a economia em detrimento das pessoas, o consumismo que desorienta e

inverte os valores éticos e morais, é sem dúvida um grande cenário para ações de

cuidado. Pois resultam em dificuldades para a vida das pessoas. Nesse contexto o

indivíduo está preocupado e ocupado em buscar segurança e estabilidade, que

supostamente possam lhe proporcionar tranqüilidade. Um dos sintomas deste

cenário é o que bem coloca Hoch & Noé (2003, p. 3) “As pessoas estão encontrando

cada vez mais dificuldades em administrar seus problemas: na área econômica, na

família, na afetiva. Isto tem gerado doenças, ansiedade, estresse e, sobretudo, uma

sensação de incapacidade de gerenciar suas vidas”. Nessa corrida o homem,

perde-se de si, de seus reais valores e ideais. Para Pires,

Os grandes centros urbanos são uma espécie de selva onde o isolamento das pessoas é cada vez maior. No meio de uma multidão, espremidos em elevadores, ônibus, ou metrô, muitos padecem de solidão, vivendo mais preocupados com a segurança e conforto material do que com os próprios sentimentos. O medo, a raiva e a tristeza acabam sufocando a alegria e o amor. Nesse cenário, multiplicam-se os casos de depressão e ansiedade. Estes distúrbios emocionais acabam provocando uma série de doenças psicossomáticas que abarrotam os consultórios e hospitais (PIRES 2007, p. 85).

Infelizmente a ação de cuidar ainda é vista por muitos como meramente física,

e por isso subentende-se que deva ser realizada por profissionais da área da saúde.

Mas, não é só isso, o cuidar vai muito além, compreende também uma palavra

amiga e acolhedora nos momentos difíceis. Leloup (2007, p. 70-71) salienta: “Não

há corpo sem alma: um corpo sem alma, não sendo mais “animado”, não merece

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nome de corpo, mas de cadáver. Cuidar do corpo de alguém é prestar atenção ao

sopro que o anima”. Dessa forma, cabe ressaltar a importância de um cuidado

sensível, atencioso e preocupado.

Hoch & Noé (2003, p. 3) colocam que: “Ao lado dos componentes físico,

psicológico e social, o dilema da presente geração se configura também como um

problema da alma humana”. Assim, cuidado implica em cuidar do outro em todas

suas dimensões, entendendo o ser como uma combinação bio-psico-social e

espiritual e, em algum momento de sua vida, o indivíduo pode apresentar

necessidades ou deficiências em uma dessas áreas. Portanto, essas dificuldades ou

carências podem acarretar em desorganização interior, e gerará angústias e medos.

Friesen (2000, p. 23) salienta bem esta idéia, quando escreve que “as dimensões

humanas interagem entre si. Se uma dimensão sofre um abalo, estímulo ou impulso

influencia diretamente e em proporções semelhantes às outras”. Assim, se o

indivíduo carece de alimento, não basta apenas orar por ele, requer uma ação que

vai além de atitudes subjetivas. Cuidar por cuidar, pelo simples fato de uma

consciência tranqüila, qualquer um pode fazer, até mesmo sem amor. Mas, o

cuidado que vai além, que vê o individuo como a si mesmo, requer envolvimento,

responsabilidade e, sobretudo amor, que assiste à pessoa no seu todo. Hoch & Noé

dizem que: “O cuidado do ser só pode ser viabilizado na perspectiva do amor que

não se satisfaz em ser teorizado, mas quer ser vivido de uma forma autentica por

quem é alcançado pelo amor divino” (HOCH & NOÉ, 2003, p. 4). Este cuidado pode

ser descrito em forma de ajuda, como descreve Collins,

Psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, pastores e outros profissionais nessa área, mas, de um ou outro modo, todos nós temos oportunidades de ajudar quase todos os dias. Orientando nossos filhos numa crise, consolando um vizinho enlutado, aconselhando um adolescente, encorajando uma família de um alcoólatra – todas essas são situações de ajuda. [...] Os ajudadores não profissionais podem ter pouco ou nenhum treinamento, mas causam, mesmo assim, bastante impacto (COLLINS, 2005, p.19).

Assim, para cuidar deve-se ter disposição para isso e um coração doador. Bem

como ter sempre em mente o que (Lc 6.31) relata, “Como quereis que os homens

vos façam, assim fazei-o vós também a eles”, ou seja, se eu quero ser tratado com

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amor e respeito, então devo amar e respeitar, pois são nossas atitudes que mudam

não só nossa vida, mas também daqueles que nos rodeiam. Um célebre exemplo de

cuidado desprendido, despretensioso, desprovido de qualquer outro sentimento e

que está ao alcance de todos, é o exemplo deixado por Jesus em sua parábola do

Bom Samaritano. Com este exemplo Jesus ensina como deve ser o nosso

comportamento com relação ao próximo, não deixando dúvidas sobre quem é este

próximo. Reforça ainda a mensagem básica do cristianismo “amar ao próximo como

a si mesmo”. Pode-se ver que o Samaritano verdadeiramente se envolveu com o

desvalido e o atende cuidando dele movido pela compaixão. Deu de si mesmo

quando deixou seus próprios interesses, dispôs de seu tempo, seus bens (dinheiro,

óleo, vinho e seu animal), acolheu e protegeu numa atitude de cuidado movido pela

compaixão. Esta parábola é sem dúvida o reflexo da filosofia de vida de Jesus. Para

Lima,

A parábola nos leva à secularidade da vida concreta. O amor ao próximo se dá no campo das relações simplesmente humanas, fora de um ambiente religioso e “espiritual”. Ela mostra que amar o próximo implica encarar o ambiente pesado, de lutas, conflitivo, político e não fugir para o mundo das abstrações mentais ou espirituais. É no concreto da vida que os mandamentos do Senhor devem entrar e transformar a existência humana (LIMA, 1990, p.70).

O samaritano viu com os olhos do coração. Segundo Pessini, “o ver do

samaritano é distinto. Somente vendo e reconhecendo que quem caiu em poder dos

maus e foi espancado é meu irmão, a quem sou chamado a amar como a mim

mesmo, então é que os sentimentos de compaixão [...] serão verdadeiros” (PESSINI,

2005, p.28). Portanto cuidar requer compaixão (Palavra latina pati e cum, que juntas,

significam “sofrer com”). Nouwen entende que,

A compaixão nos pede que vamos até onde existem feridas, que entremos em lugares onde existe o sofrimento, que compartilhemos os desânimos, os temores, as confusões e as angústias dos nossos semelhantes. A compaixão nos apresenta o desafio para que clamemos com aqueles que estão na miséria, que nos lamentemos junto com aqueles que se encontram abandonados [...] quando encaramos a compaixão dessa forma, torna-se óbvio que algo mais está envolvido nela do que uma simples benevolência

ou uma sensibilidade generalizada (NOUWEN, 1998, p.14).

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O “sofrer com” importa em colocar-se no lugar do outro, sentir sua dor e buscar

meios de amenizá-la tornando-a suportável. Compaixão significa colocar-se

incondicionalmente ao lado do outro, sem nenhum outro sentimento que não seja o

de proporcionar alivio a sua situação. Assim, somos desafiados a sair de nosso

comodismo, da nossa indiferença, abandonando-se os apegos e ir ao encontro dos

necessitados. Este sentimento motiva a ação. Jesus em muitas situações, movido

por grande compaixão assistiu aos pobres em suas necessidades materiais, físicas e

espirituais. Para Boff (2000, p. 15) “compaixão trata-se de sair de si mesmo e de seu

próprio círculo e entrar no universo do outro enquanto outro, para sofrer com ele,

para cuidar dele, para alegrar-se com ele e caminhar junto a ele.” Boff ainda ressalta

o pensamento de Agostinho que diz: “Temos compaixão quando em nosso coração

compartilhamos o sofrimento pela necessidade alheia e com isso, quando podemos

ajudar, somos impelidos à ajuda” (AGOSTINHO, apud BOFF, 2000, p.90).

Agostinho fala de compartilhar o sofrimento, e é nesse ambiente que as

relações de cuidado e ajuda se tornam ativos, pois quando o outro compartilha seus

sentimentos, necessidades e ansiedades, está se abrindo a uma possível ajuda.

Hoch e Noé colocam que há um alívio quando compartilhamos, ou seja, uma “cura

pela fala” (HOCH & NOÉ, 2003, p. 29). Assim, este cuidar do outro deve se pautar

em compromisso ético, pois envolve formação de vínculos afetivos. Boff cita o

pensamento de Adam Smith que escreve:

Como se sentem aliviadas as pessoas infelizes, quando encontram alguém a quem possam comunicar a causa de sua aflição! Parecem descarregar uma parte de seus sofrimentos sobre a simpatia do outro, e por isso dizemos, não sem razão, que elas “compartilham” seus sofrimentos. [...] e é manifesto que isto lhes traz um sensível alívio; pois a simpatia do ouvinte é para elas tão doce que parece mais do que compensar a amargura da aflição que reavivaram e renovaram para obter simpatia; por outro lado, a mais cruel injúria que pode se feita a uma pessoa infeliz é mostrar-lhe que não se leva a sério sua desgraça. Fazer nosso companheiro notar que sua alegria não nos atinge é apenas uma falta de civilidade; mas não demonstrar tristeza quando nos contam seus cuidados e preocupações é realmente uma flagrante falta de humanidade (SMITH, apud BOFF, 2000, p.105).

Todavia, se não existir empatia e reciprocidade entre duas pessoas, onde

uma se coloca a escutar e receber o que a outra tem a dar, mesmo que seja suas

aflições, não se pode dizer que estamos exercendo o nosso modo-de-ser, ou seja,

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cuidadores. Pois, sem dúvida, a comunicação é o meio que consiste em transmitir e

receber uma mensagem com a finalidade de afetar o comportamento das pessoas.

Cavalcanti (1990, p. 103) coloca que:

Quando nos dispomos a ouvir com interesse e amor, percebemos que principiamos ouvindo fatos e passaremos a ouvir sentimentos. À medida que o relacionamento se aprofunda, começamos a ouvir confissões íntimas que aliviam a pessoa. A confissão a Deus encarnada no ouvido atento e perdoador do irmão é um recurso poderoso para promover saúde.

Quando nos dispomos a ouvir este sentimento mais profundo, o amor suscita

outra dimensão, a questão da responsabilidade, pois só haverá o compartilhar que

gera a dimensão do bem estar, quando o outro se sente seguro para isso. Como diz

Saint-Exupéry (2004, p.74) em seu livro O Pequeno Príncipe, “Tu te tornas

eternamente responsável por aquilo que cativas”. Cativar as pessoas é ser

responsável pelos seus sentimentos, cria-se uma empatia, uma afetividade, um

relacionamento amoroso, momento ideal para uma ação de cuidado. Como bem

coloca o psicólogo Frankl, pautado em sua grande experiência pessoal:

... O amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo de sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-lo, por seu amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições do seu amado, mais ainda, ela vê o que está potencialmente contido nele. Através do amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar estas potencialidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria vir a ser, aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar (FRANKL, 1991, p.100).

Quando uma pessoa está passando por problemas, sejam físicos ou

emocionais, o que anseia e precisa é de alguém que pelo menos a ouça. “O amor

incondicional é aquele que com a palavra expressa, não coloca nenhuma condição

para ser vivido. [...] que cria relações, gera laços, funda comunhão. Vai ao outro e

repousa no outro assim como ele é”. (BOFF, 2003, p. 131-132)

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4. CUIDADO PASTORAL

O cuidado pastoral é em essência surpreendentemente simples. Tem um propósito fundamental: ajudar as pessoas a conhecer o amor, tanto como algo a receber como algo a dar.

(Alastir Campbell)

Não havendo sábia direção, cai o povo; mas na multidão de conselheiros há segurança.

(Provérbios 11.14)

Sabemos que sempre houve necessidade de cuidado pastoral, mas nunca

tanto como nos dias atuais, pois, o que não faltam são problemas. “Os processos

envolvidos na vida humana criam a pauta que motiva agentes pastorais a facilitar,

por meio de cuidado, o crescimento humano na busca da vida plena” (SATHLER-

ROSA, 2004, p. 15). Nossa sociedade passa por profundas mudanças, difíceis de

acompanhar e, no curso da vida, o ser humano passa por diversas situações de

perdas e muitas frustrações, trazendo o que Sathler-Rosa (2004, p.11) chama de

“tempos de imensos vazios, de desorientação”. O que se apresenta é o que

poderíamos chamar de um vasto campo de atuação do cuidado pastoral.

Muitas são as técnicas e práticas de cuidado, uma delas é o cuidado pastoral,

que tem como um dos instrumentos terapêuticos o “aconselhamento pastoral”. A

intenção não é tratar as variantes do termo “pastoral”, nem mesmo se é uma

vocação ou função, mas fazer uma leitura enquanto prática de cuidado que visa o

Ser em sua totalidade. O termo pastor é traduzido no Dicionário Vine (2003, p. 856)

por: “poime, pastor, aquele que cuida de rebanhos” e é usado metaforicamente

acerca dos “pastores” em Efésios 4.11-12, onde o apóstolo Paulo ensina que os

pastores são dados às igrejas para a edificação do corpo de Cristo: “E ele mesmo

concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e

outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o

desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”. O termo também

é usado por Pedro: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por

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constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida

ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram

confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo

Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”. (1Pe 5.2-4).

Mulholland (2004, p. 103) escreve que “o relacionamento pastor-ovelha é tão belo

que o povo de Deus é apresentado como seu rebanho”.

Por cuidado pastoral entendemos uma atitude de guiar, proteger, cuidar do

rebanho, ou seja, uma “poimênica”. Jesus muitas vezes compara de forma

metafórica o ser humano à “ovelha”, quem sabe dado à fragilidade da mesma, que

necessita de cuidados constantes. Assim como os pastores de ovelhas, os pastores

(líderes) das igrejas devem proteger e conduzir seu rebanho. Clinebell afirma que: “A

poimênica e o aconselhamento pastoral são valiosos instrumentos através dos quais

a igreja permanece relevante para a necessidade humana. Eles são formas de

traduzir a boa-nova para a “linguagem dos relacionamentos”. (CLINEBELL, 1987, p.

14). Para Libanio, “a ação pastoral é a ação de Javé no Antigo Testamento em

relação do seu povo, defende-o, cuida dele, liberta-o, apascenta-o com carinho,

envolve-o com solicitude afetuosa” (LIBANIO, 1983, p. 30). A expressão pastoral que

advém do termo “pastor” é entendida por muitos como uma tarefa exclusiva

daqueles que desempenham o ministério pastoral - os pastores - como o nome

supõe, porém, entende-se aqui que essa é uma responsabilidade de toda a

comunidade. Uma ação de cuidado não precisa necessariamente de um local

destinado para tal, um horário previamente estabelecido, uma grande mobilização

ou o pastor assentado em seu gabinete a espera do aconselhando, mas pode

ocorrer em qualquer lugar, onde existam pessoas disponíveis para ouvir e prontas

para acolher. Seitz diz que esta era uma prática natural da vida comunitária na

cristandade primitiva, por “poimênica entendia-se a responsabilidade recíproca,

fundamentada em Cristo, pela fé e pelo bem-estar interno e externo do próximo”

(SEITZ, 1987, p. 61).

Embora o aconselhamento pastoral enquanto poimênica, tenha se tornado uma

prática atribuída a pastores e sacerdotes com formação especifica para tal, a sua

prática continua sendo tarefa de toda a comunidade que se sinta no dever de cuidar

e qualificadamente capacitada para isso. Para Seitz “poimênica é assistência a partir

do evangelho nas situações fundamentais da vida. Seu destinatário é o ser humano

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todo na sua condição de criatura alienada de Deus. Seu alvo é a cura do ser

humano através da conversação assistencial na confissão de fé” (SEITZ, 1987,

p.61). Segundo Clinebell, Poimênica é “o ministério amplo e inclusivo de cura e

crescimento mútuo dentro de uma congregação e de sua comunidade, durante todo

o ciclo de vida”. (CLINEBELL, 1987, p.25).

Enfim, a ação pastoral destina-se às comunidades cristãs comprometidas com

a missão confiada por Jesus, que é modelo de poimênica “fundamentada na ética e

na misericórdia” (BOFF, 2000, p. 17). Visualiza-se isso em (Mt 9.36) “Vendo ele as

multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas

que não têm pastor”. É centrada nesse modelo de poimênica que a igreja

contemporânea deve buscar sua prática, uma ação de amor, misericórdia e ajuda

para seus membros e outras pessoas que buscam apoio em suas dificuldades. Para

Evans, “uma comunidade que não é amorosa tampouco será terapêutica para si

mesma e para as demais pessoas” (EVANS, 2008, p. 54). Moldado por este cuidado

deve estar o aconselhamento pastoral cujo objetivo não é dar conselhos, mas

caminhar junto, acompanhar até que a pessoa se torne capaz de seguir sozinho.

Para Friesen o aconselhamento deve:

Tratar das tensões interiores e dos diferentes complexos que interferem na qualidade de vida. Deve promover a libertação de atitudes inadequadas e distorções de percepção quanto à realidade. Deve favorecer a libertação dos medos, culpas e das iras inadequadas. Estas tarefas deverão ser efetuadas com os recursos da Palavra de Deus, somado aos recursos que o conselheiro poderá obter da pedagogia, psicologia e filosofia. Os recursos bíblicos devem permanecer básicos e preponderantes, estas como diretrizes, aqueles como complementares e auxílios instrumentais do aconselhamento (FRIESEN, 2000, p. 26)

Partindo desta compreensão, o modelo de aconselhamento pastoral com base

na Palavra de Deus sugere um serviço prestado à comunidade cristã como corpo de

Cristo, cuja ênfase está no amor, devendo proporcionar cura, libertação, crescimento

e o bem estar. Sathler-Rosa traz uma definição tradicional: “o cuidado pastoral

consiste de atos de ajuda realizados por representantes cristãos, voltados para

curar, suster, guiar e reconciliar as pessoas em dificuldades, cujos problemas

emergem no contexto de preocupação e significados últimos” (CLEBSCH & JAEKLE,

apud SATHLER-ROSA, 2004, p. 37). As perspectivas das outras áreas do

conhecimento destinadas à ajuda, como as citadas acima por Friesen, podem ser

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muito úteis e importantes no processo de aconselhamento. Porém, o

aconselhamento pastoral oferecido pela comunidade de fé, tem grande potencial em

suscitar a comunhão, que, segundo Collins, é fator importante para “aceitação,

sentimento de pertencer e segurança” (COLLINS, 2005, p. 165), imprescindíveis no

processo terapêutico do aconselhamento. Segundo Collins o Novo Testamento usa

o termo grego Koinonia para descrever esse tipo de comunhão, que dá a idéia de:

Cristão compartilhando juntos, levando os fardos uns dos outros, confessando mutuamente suas faltas, submetendo-se mutuamente, encorajando uns aos outros, e edificando um ao outro à medida que andam com o Senhor. Em uma palavra, a comunhão cristã é a expressão contínua do amor (COLLINS, 2005, p. 166).

Este é o grande desafio das comunidades cristãs; promoverem um ambiente

de renovação à medida que relacionamentos significativos são construídos. Pois

uma das características de nossa época é a superficialidade, que inevitavelmente

leva a relacionamentos descomprometidos, geradores de uma grande fonte de

desamor. Há que se buscar mudanças nessa tendência, pois como fala Clinebell

“tanto a cura como o crescimento dependem da qualidade de nossos

relacionamentos” (CLINEBELL, 1987, p. 31). Por isso é essencial fortalecer os

relacionamentos com atitudes acolhedoras, que promovam cura no estilo terapêutico

de Jesus, cuja característica básica é a misericórdia. Boff descreve como “Ele é o

Deus misericordioso com o filho pródigo, com a ovelha tresmalhada, com a pecadora

pública” (BOFF, 1999, p. 127). Viver esta compaixão é cuidar, é disponibilizar tempo

para ouvir, tempo para construir laços afetivos e significativos, em suma, é acolher.

Segundo Seitz.

A vinda de Jesus ao ser humano caracteriza-se pelo envolvimento nas necessidades do indivíduo, pela reintegração daqueles que estavam afastados da comunhão sadia e pela consciência de que todos os seres humanos necessitavam profundamente deste seu serviço, [...] a preocupação divina que envolve o ser humano e que foi revelada em Cristo tem continuidade dentro e através da comunidade. Ela faz parte da vivacidade e do fruto da fé, [...] não está limitado, portanto a comunidade, mas se encontra sobre o prisma do estar aí para o outro de modo geral (SEITZ, 1987, p. 76-77) .

Portanto, o aconselhamento pastoral moldado no exemplo de Cristo, também

tem caráter de serviço (diakonia) prestado à comunidade, como o próprio Cristo diz

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em (Mc 10.45) “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para

servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Roldão (2006, p.19) coloca que “as

relações de ajuda e cuidado entendidas como ato diaconal, são práticas/serviço

exercidas por pessoas, ou comunidades, e dirigidas a pessoas e/ou comunidades.

Funda-se em princípios cristãos advindos do exemplo e dos ensinos de Jesus”.

Nossa tarefa não pode ser diferente, ensimesmada e alienada. Roldão citando

Gilbert (2006, p.16) destaca uma reflexão interessante.

Toda vez que você perceber certa inércia de sua parte, uma relutância em agir diante do sofrimento alheio, observe atentamente para ver onde estão as suas mãos: tapando os seus olhos, obstruindo os seus ouvidos ou fechando a sua boca? A posição certa para as nossas mãos é: uma segurando na mão de Deus e a outra estendida para o nosso próximo

A questão é que, a cada dia somos mais e mais conhecedores das

dificuldades, dores e sofrimentos que assolam as vidas, mas como estamos

respondendo a isso é a questão fundamental. Entendemos não ser tarefa fácil, pelo

fato de que “trabalhar com pessoas, implica em desgaste pelo fato de serem

humanos e não divinos, é próprio dos profissionais serem falíveis e cometerem

erros, mesmo buscando justamente ajudar” (ROLDAO, 2006, p.11). Por isso é

importante ter sempre em mente que, quando vamos ao encontro de alguém

necessitado, vamos em nome de Jesus e “podemos estar seguros de que somos

respaldados pelo Deus trino e uno” (MALDONADO, 2005, p. 58). O que não

descarta a necessidade de se buscar conhecimentos teóricos, treinamento

adequado, a fim de desenvolver qualidades e habilidades pessoais, bem como

mediar uma orientação adequada. Collins cita o pensamento de Wayne Oates que

contribui com este pensamento quando diz:

O pastor, sem levar em conta o seu treinamento, não tem o privilégio de escolher se irá ou não aconselhar o seu povo. Eles inevitavelmente levam-lhe os seus problemas, a fim de obter orientação e cuidado. Não é possível evitar tal coisa caso permaneça no ministério pastoral. A sua escolha não é feita entre aconselhar ou não aconselhar, mas entre aconselhar de maneira disciplinada e hábil ou aconselhar de modo indisciplinado e inábil (MAYNE OATES, apud COLLINS, 1986, p. 11)

Em outras palavras, é fundamental que o conselheiro desenvolva

características que são importantes para o aconselhamento. Para Friesen as

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principais características são: “Conhecer a Jesus de maneira pessoal, convicções,

coragem, imparcialidade, ter seu próprio conselheiro, autenticidade, receptividade

com distanciamento e empatia apurada” (FRIESEN, 2000, p.85-88). Pois um

aconselhador competente pode libertar as pessoas de suas prisões interiores,

favorecendo crescimento e transformação.

Para Costa as características de um aconselhador são, “espiritualidade,

gratuidade (dar graças), disponibilidade, compaixão, maturidade religiosa,

maturidade emocional, inteligência e inteligência social” (COSTA, 2005, p. 139-144).

Além das características citadas, acrescento uma boa comunicação, pois uma

palavra bem colocada, em tom amável e no momento adequado, pode estimular a

pessoa a expressar seus sentimentos, alcançando-se assim abertura e confiança.

Costa cita Rudio (2005, p. 91) que coloca, “a relação de ajuda em termos gerais é

uma conversa diferente das comuns, onde existe um objetivo a ser atingido”.

Acrescento ainda, um ouvir atento, sensível, empático e profundo, ao ponto do

aconselhando sentir que suas palavras são valorizadas.

São muitas as pessoas à procura de um ouvido que as ouça. Elas não o encontram entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. Quem não mais ouve a seu irmão [ou irmã], em breve também não ouvirá mais a Deus. (...) Quem não consegue ouvir demorada e pacientemente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com os outros, embora não esteja consciente disto. (BONHOEFFER, 1997, p. 76).

Mas, acima de tudo, a disposição em amar é um elemento fundamental neste

processo. Como fala Miranda, o ajudador “precisa ter disponibilidade interna para

ajudar o outro e para amá-lo no decorrer do processo de ajuda” (MIRANDA, 1986, p.

29)

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5. CUIDADO ESPIRITUAL

A espiritualidade cristã é integral porque nos chama a reconhecer e a viver o senhorio de Deus sobre toda a vida e sobre toda a criação, ao mesmo tempo que nos convoca para nos comprometermos com o seu Reino, na transformação de tudo o que foi criado, conforme o sonho de redenção do Criador.

H.S. Carmona

Entende–se a sociedade como “um conjunto de pessoas que compartilham e

que interagem entre si constituindo uma comunidade” 6. Esta sociedade vive uma

verdadeira crise de valores e sentidos e, nesse contexto, o ser humano é parte

integrante. É nesta realidade que, segundo Bonhoeffer, a única tarefa das

comunidades cristãs “ é praticar o amor dentro das estruturas seculares existentes,

isto é, penetrá-las, na medida do possível, com uma nova mentalidade, suavizar

extremos, tomar conta das vítimas dessas estruturas e estabelecer uma nova ordem

própria dentro da comunidade” (BONHOEFFER, 2005, p. 177). As vítimas dessas

estruturas estão carentes em seu físico e sua alma. Assim, uma espiritualidade

enraizada e fortalecida na palavra de Deus, pode contribuir e muito para qualidade

de vida da comunidade.

Levin alerta que a espiritualidade pode influenciar a qualidade de vida. Para ele,

“um estado de doença, ou de saúde, raramente é produzido por fatores isolados que

atuem direta e instantaneamente. Em vez disso, a doença e o bem-estar tendem a

se desenvolver ao longo do tempo, em virtude de muitos fatores que atuam

conjuntamente. De maneira semelhante, a espiritualidade atua em conjunto com

características e funções tanto do corpo como da mente para influenciar a nossa

saúde.” (LEVIN, 2001, p. 26).

Neste mesmo raciocínio pode-se dizer que, da mesma forma que há tratamento

para as desordens da psique e dos distúrbios físicos, também há solução para os

problemas espirituais (FISCH e SHELLY 1986, p. 11). Cabe aqui, tentar esclarecer 6 Wikipedia.org. Usei está definição pela proximidade do pensamento proposto.

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um pouco o termo espiritualidade, sabendo de antemão que não é tarefa fácil, pois

este termo pode ter vários sentidos e conotações, dependendo da comunidade onde

é expresso. Pensando em espiritualidade, logo nos vem à questão da religiosidade

como se fossem sinônimos, mas isso não é necessariamente verdade, Vine (2003,

p. 939) define religião ‘threskeia’ como serviço externo. Cita Tiago 1.26-27 para

descrever o real significa de religião, “A religião pura e sem mácula, para com o

nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si

mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. Já no Dicionário Aurélio digital versão

5.0, “religião é a crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais.

Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve

uma posição filosófica, ética, metafísica, etc. “Essa definição engloba

necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas,

mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como

característica fundamental um conteúdo metafísico, isto é, de além do mundo físico” 7. Tem também um aspecto Institucional. Já a espiritualidade é inerente ao homem,

independente dele ter ou não uma religião, ele é um ser espiritual. Religião é apenas

o meio pelo qual o homem exterioriza ou expressa sua espiritualidade.

Segundo Boff, “Espiritualidade está relacionada com aquelas qualidades do

espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência e tolerância, capacidade

de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia – que

trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros, ou seja, uma

vida segundo o Espírito” (BOFF, 2006, p.15). Zabatiero escreve que: “espiritualidade

cristocêntrica, também será, inevitavelmente, solidária, uma vez que a solidariedade

com o mundo, a compaixão pelos pecadores e pecadoras foi uma das marcas

distintivas da identidade de Jesus” (ZABATIERO, 2005, p. 93). Portanto, precisa-se

atentar para as condições em que se encontra o ser humano e as possibilidades de

um cuidado espiritual solidário, centrado e comprometido com a formação integral,

bem como o resgate de valores construtivos; a fim de orientar, encorajar e incentivar

as pessoas em momentos difíceis e de conflito. Para Jung Mo Sung, está é a

principal tarefa da comunidade cristã no mundo hoje:

7 Wikipedia.org.

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A de anunciar uma espiritualidade que aponte para um sentido mais humano e divino da vida e ofereça forças espirituais para perseverar nesse caminho, mesmo contra todas as pressões das forças ideológicas e idólatras da sociedade. Uma espiritualidade que mostre que o sentido último da vida humana não está em acumular mais riquezas [...] em um mundo onde bilhões de pessoas morrem de fome e de doenças associadas à pobreza. (MO SUNG, 2006, p. 29).

Para que essa espiritualidade se concretize, nossa teologia deve transcender

os níveis teóricos e abstratos, como a exemplos de muitos: Lutero, Calvino (eu sou

pastor de Genebra), Wesley (O mundo é minha paróquia) e tantos outros, que além

de uma teoria totalmente relevante, praticaram-na, onde a comunidade necessitada

se encontrava. Mesmo quando tudo se mostrava contrário, até mesmo impossível,

suas convicções de fé e missão estavam acima de qualquer questão. Este exemplo

é exatamente o que Zabatiero coloca como uma:

Teoria bem formulada é extremamente prática. Jesus foi o pastor, o mestre, o teólogo por excelência. Sem escrever nenhum livro, fez teologia – e excelente teologia. Não escreveu em pergaminho, mas escreveu em corações e mentes de pessoas concretas (ZABATIERO, 2005, p. 15-16).

Teologia teórica, que se mostra verdadeira na prática é quando muda a vida da

comunidade. Sathler-Rosa (2004) lembra que nossa prática tem se caracterizado por

certo reducionismo, perdendo a visão do conjunto. Lembra ainda, que vozes

protestantes têm se manifestado em favor de maior inclusividade, uma delas é a do

metodista Justo González quando diz que uma doutrina corretamente entendida “há

de levar-nos para mais além de qualquer pseudo-santidade privada e individualista,

e chamar-nos a ser fiéis nos âmbitos mais amplos da vida social, política e

econômica” (GONZÁLEZ, apud SATHLER-ROSA, 2004, p. 48).

Um exemplo de fé engajada com assuntos da comunidade é a do inglês William

Wilberforce. Ao se tornar cristão, confessou que “Deus Todo-Poderoso colocou

diante de mim dois assuntos – a abolição do comércio de escravos e a reforma dos

costumes na Inglaterra”, (WILBERFORCE, 2006, p.12). Sua fé tinha uma visão

abrangente das Escrituras e de suas aplicações à vida diária. Modelo de

“espiritualidade integral e de uma missão integral” (WILBERFORCE, 2006, p.16). Um

político que, antes de tudo, estava comprometido com sua convicção de fé. Tomou

para si a causa da abolição dos escravos que foi uma “luta prolongada, árdua, cheia

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de adversidades, de incompreensões, de calúnias, de tentativas de desmoralização,

e de desmobilização, de reações de poderosos e dos privilegiados, como sempre.

Mas, pelo Espírito, houve obediência, perseverança e vitória” (WILBERFORCE,

2006, p. 16). Era uma fé que produzia força particular para suportar os desafios das

dificuldades e da desordem da vida privada e pública.

Castro (2000) colabora com esta idéia quando, ao descrever a dimensão

pública da igreja, destaca que “a teologia não descreve mais a fé somente com

categorias intelectuais, existenciais e personalistas, como adesão, decisão,

encontro, mas capta-a na dimensão política de seu fazer-se práxis na história e na

sociedade” (CASTRO, 2000, p. 84). Uma teologia preocupada com a práxis da

mensagem cristã, que não é outra senão, a fé em ação, Sathler-Rosa colabora

quando diz que,

É o cuidado [...] que se estende aos domínios públicos e que, portanto, reclama uma teologia e ação pastoral dedicada à vida pública. Agentes pastorais, clérigos e leigos, devem ser encorajados a assumir sua vocação e ministério na sociedade e não apenas nos círculos de suas igrejas (SATHLER-ROSA, 2004, p. 49).

Um cuidado que não está sob domínio privado das comunidades cristãs, mas

como diz Boff (2004), “O seu lugar é na comunidade, pela comunidade e para a

comunidade”. Pois se a teologia embora centrada em Deus, é ao homem que fala,

ela só poderá cumprir sua função se for capaz de produzir mudanças onde esse

homem se relaciona e convive, contribuindo para uma vida espiritual mais madura,

resultando em força e esperança para suportar os desafios. Nessa perspectiva, é

fator primordial entender que existe uma dimensão humana, que é invisível, mas,

nem por isso menos importante. E assim, Compreendendo o ser humano na sua

totalidade, é que se pode visualizar a importância e o desafio do cuidado espiritual,

numa sociedade que busca por significados, tanto para a vida como também para a

morte. Para Hoch & Noé (2003, p.10) “o resgate da dimensão da espiritualidade

recompõe a unidade do ser humano”.

Apesar de todos os desafios, entende-se que é possível inserir cuidado

espiritual no processo de tornar a sociedade mais amorosa, justa, humana e

comprometida com valores e princípios éticos, morais e espiritual. Militar por esta

causa é também uma questão de comprometimento com a missão do evangelho.

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Segundo Castro (2000), “o cristão não pode abandonar o espaço público e da ação

e se refugiar na falsa segurança de uma fé intimista” (CASTRO, 2000, p.19) e dessa

forma conduzir-se, sem esperança de mudanças no presente, visualizando paz e

justiça somente num futuro, relacionado ao reino prometido por Cristo ainda por

chegar. Para Moltmann,

O reino futuro de Cristo ressuscitado não só deve ser esperado e aguardado. Esta esperança e expectativa devem moldar igualmente a vida histórica da sociedade. Por isso, missão significa não somente propagação da fé e da esperança, mas também transformação histórica da vida. (MOLTMANN, apud CASTRO, 2000, p. 85).

Cristianismo é esperança em um presente, onde se possa viver um pouco do

futuro, hoje. Jesus libertou e curou no momento em que os fatos aconteciam e em

momento algum declarou que tais coisas aconteceriam somente num reino futuro a

ser aguardado. Portando, Se a exemplo de Jesus a ação cristã assim se conduzir,

“...as comunidades cristãs serão protótipos e primícias do Reino de Deus, espaços

onde as pessoas poderão encontrar amizade, companheirismo, sentido para a vida

e, especialmente, poderão encontrar Deus presente e atuante” (ZABATIERO, 2005,

p. 28). A mensagem de Jesus era prática, suscitava fé e esperança para prosseguir

anunciando e praticando esta mensagem. Assim, cuidado espiritual, além de amor,

respeito, compaixão e solidariedade, requer também ação, cujo objetivo seja

promover justiça e transformações práticas na vida e nas comunidades. Boff (2004)

entende que o teólogo deve ser criativo, avançar tentativas de soluções, ajudando a

comunidade em sua própria capacidade de pensamento, procurando nos momentos

de partilhas e encontros, promover reflexões a fim de desenvolver valores e

princípios, os quais possibilitem o desenvolvimento de uma cidadania mais justa e

comprometida. Em outras palavras,

Ele não pensa simplesmente o que lhe apetece, mas aquilo que lhe é proposto pela comunidade [..] Daí se deriva a importância de ouvir a comunidade, apreciar seus valores, aproveitar as formulações que vão surgindo nos grupos (BOFF, 2004, p. 167-168).

Neste processo, é importantes que as pessoas sintam-se valorizadas e

incentivadas a desenvolver um relacionamento consigo mesmo (auto-estima, paz,

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alegria), com o próximo (amor e respeito), com a natureza (responsabilidade) e com

Deus (Confiança), pois o ser humano é um ‘todo’ e não partes isoladas. Contemplar

esses aspectos pode resultar numa comunidade mais solidária, que busque

promover o bem de todos. Com esta esperança, cuidado espiritual, não só é

possível como também necessário, levando em conta a dimensão espiritual do

homem e sua eterna busca por significados para sua vida. Stott escreve que, “o ser

humano busca pelo transcendente, “pois o materialismo não pode satisfazer o

espírito humano” (STOTT, 1998, p. 247). Ocorre que os bens materiais não

conseguem preencher o vazio de Deus. É nesse contexto que o cuidado espiritual é

fundante, pois quando o hedonismo não corresponde, podem ocorrer desorientação

e perda do sentido da vida. O resultado desse cuidado pode, em parte, ser visto e

sentido no trabalho já reconhecido dos Capelães, que atuam em hospitais, escolas,

creches e instituições de longa permanência. Pois, “o trabalho teológico só será obra

boa onde puder ser realizado em amor e onde de fato for decididamente realizado

em amor” (BARTH, 2007, p. 123). Marcondes Filho (2007, p. 28) colabora com esta

idéia quando escreve: “que o conhecer teológico e o inquirir teológico da verdade só

irão por bom caminho, se deixarem transparecer a vida e atuação do perfeito amor”.

É com esse amor que o ser humano deve ser contemplado, pois tem necessidade

de ser ouvido, acolhido, olhado com um olhar atencioso e, principalmente, se sentir

amado. Atitudes como estas são cada vez mais raras na nossa sociedade

individualista, interesseira e muitas vezes desinteressada das pessoas.

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CONCLUSÃO

“Tente, de alguma maneira, fazer alguém feliz. Aperte a mão, dê um abraço, um passo em sua direção. Aproxime-se, sem cerimônia. Dê um pouco do calor de seu coração. Sente bem perto e deixe-ficar, muito tempo, ou pouco tempo. Não conte o tempo de se dar. Deixe o sorriso acontecer. E não se espante se a pessoa mais feliz for você”.

Clara F. Miranda

O pensamento de Hoch & Noé sintetiza o que entendemos por cuidado: “O

cuidado do ser só pode ser viabilizado na perspectiva do amor que não se satisfaz

em ser teorizado, mas quer ser vivido de uma forma autêntica por quem é alcançado

pelo amor divino” (HOCH & NOÉ, 2003, p.4). A conclusão que chegamos ao

decorrer da pesquisa foi da total relevância do amor no processo de cuidar, e que

somente alcançaremos este cuidado amoroso na perspectiva do amor de Deus. O

amor centrado na verdade divina é fundamental numa época de profundas

mudanças na sociedade.

Fica evidente a importância do amor a si mesmo no processo do cuidado, pois

só poderemos amar se amamos a nós mesmos. O amor ao próximo não é uma

questão de escolha, mas um mandamento, portanto, quem ama cuida, não um

cuidado por obrigação, mas de doação. Cuidar é um modo concreto de amar. Cuidar

do outro é ação que promove a paz e o bem-estar.

O cuidado pastoral, enquanto missão de uma terapêutica que prima pelo

modelo de Jesus, não pode ser outro, senão aquele realizado na ótica do amor. O

labor teológico, que busca por uma espiritualidade sadia, deve estar fundamentado

no amor pelas almas enquanto eternas, bem como pela sua qualidade de vida

enquanto seres finitos.

Este trabalho evidencia em todos os seus aspectos a importância de um

cuidado amoroso, operante, prático e responsável, tendo em vista o ser humano

como imagem e semelhança de Deus. Assim, aponta-se para a relevância desta

reflexão, bem como o resgate da pessoa humana na sua totalidade, pois o cuidado

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está relacionado com a preservação da vida. Diante do exposto entendemos que o

amor não é um sentimento apenas, mas uma decisão em cumprir uma missão, pois

tudo que venha a ser feito, “... se não tiver amor, nada disso se aproveitará” (I Co.

13.3).

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