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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

EUGÊNIA APARECIDA CESCONETO

ÁGUA: O DIFÍCIL PERCURSO DE PRESERVAÇÃO E ACESSO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO VERDADEIRO

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

2012

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

EUGÊNIA APARECIDA CESCONETO

ÁGUA: O DIFÍCIL PERCURSO DE PRESERVAÇÃO E ACESSO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO VERDADEIRO

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Serviço Social, sob a orientação da Profª Dra. Aldaíza Oliveira Sposati.

SÃO PAULO

2012

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ÁGUA: O DIFÍCIL PERCURSO DE PRESERVAÇÃO E ACESSO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO

SÃO FRANCISCO VERDADEIRO

Eugênia Aparecida Cesconeto

ERRATA

Página § Texto Original Alteração

iv Maria Lúcia Martinelli Maria Lúcia Carvalho da Silva

v Sub-bacia sub-bacia

vii BNH Repete - excluir

viii FGTS Repete - excluir

x metrológica meterológica

xii Quadro 1

Comitês de Bacia no Rio Paraná Comitês de Bacia no Paraná

18 1º país Países

22 2º boa Boa

26 rodapé 2005 A 2010 2005 a 2010

41 1º Rio Paraná III Rio Paraná

55 2º direitos de segunda geração direitos humanos

106 rodapé Nota 51 fonte e tamanho da letra está errada

110 1º O conselho de O conselho municipal de

110 1º O “sistema .... o “sistema ...

123 1º entre eles entre elas

130 1º instituídos em 2000 instituídos em 2002

130 4º Agência Estadual de Águas Instituto das Águas do Paraná

133 1º Comitês de Bacia no Rio Paraná Comitês de Bacia no Paraná

135 3º possamos se possa

138 1º Apesar de a Apesar da

156 2º sub-bacia sub-bacia paranaense

158 1º trabalho Trabalhado

159 2º e se divulgados e divulgados

164 2º recursos recursos hídricos

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iii

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

PROFª DRA. ALDAIZA OLIVEIRA SPOSATI

ORIENTADORA

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

São Paulo,____/____/_______

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iv

AGRADECIMENTOS

Escrevi essa tese com prazer, apesar de grande o esforço. Cresci e aprendi muito com a experiência do doutorado e não foram poucas as pessoas que colaboraram para a finalização desse ciclo da minha vida.

Primeiramente ao Sandro, Junior e Samuel que juntos formam o eixo que direciona minha vida, agradeço pela paciência, respeito e compreensão nesse longo processo. Amo vocês.

Ao apoio incondicional de minha mãe (Almerinda) e minha irmã (Silvana) que não mediram esforços para me auxiliar. Aos demais membros da família que, mesmo sem compreender muito bem as razões de meus estudos, sempre me acompanhou, apoiou e se preocupou com meu bem estar e minha felicidade.

Um agradecimento muito especial à minha orientadora, a Profª Dra. Aldaíza Oliveira Sposati, pelo acompanhamento cuidadoso e responsável na elaboração da tese.

Aos que muito gentilmente me concederam entrevistas durante o levantamento de dados nos municípios da sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro meu muito obrigada. Sou grata pelo respeito e seriedade que tiveram com meu trabalho.

A Profª. Dra. Maria Lucia Martinelli e ao Prof. Dr. Ladislau Dawbor, titulares da banca de qualificação, pela criteriosa leitura do texto e relevantes sugestões feitas. Aos professores do Programa de Estudos Pós- Graduados em Serviço Social da PUC/SP. A todos obrigada pelas valiosas contribuições a minha produção acadêmica.

Aos colegas da Turma de 2008 do Doutorado, todos sem nenhuma exceção, que muito mais que colegas se tornaram amigos, compartilhando momentos memoráveis, tanto nas discussões teóricas como em muitas outras, nem tão teóricas assim. Todos esses momentos foram essenciais para meu crescimento acadêmico e pessoal.

A Marli, Zelimar e Luciana, amigas de longa data, de horas “amargas” e muitos momentos felizes, companheiras de inúmeras iniciativas e tantas ações conjuntas. Muito obrigada pela compreensão, amizade, apoio, e sonhos acalentados de uma vida melhor e de outro mundo possível!

Ao Colegiado do Curso de Serviço Social da UNIOESTE/Campus de Toledo pelo apoio e liberação para cursar o doutorado.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) pelo incentivo financeiro dispensado na realização do doutorado.

Ao Prof. Dr. Célio Escher pela revisão da tese.

Muito Obrigada!

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v

RESUMO

O tema desta investigação procura elucidar o papel desempenhado

pelos Comitês Gestores do Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu

Binacional na gestão da política de recursos hídricos integrada à de

saneamento na sub- bacia do Rio São Francisco Verdadeiro, que no

processo de gestão ambiental buscam fomentar a modificação das práticas

predatórias que potencializam o risco de exaurimento dos recursos naturais.

Destaca-se como objetivo entender como os membros dos comitês gestores

participam do processo de gestão democrática de acesso à água na sub-

bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, através do Sistema

Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH), garantindo o

saneamento básico, de modo a fortalecer o pacto social necessário entre

todos os envolvidos nesta tarefa (governo estadual e municipal e a sociedade

civil). Uma vez que, apesar dos esforços empreendidos pelos municípios,

pouco se alteraram as práticas ambientais desenvolvidas, sendo realizadas

com forte centralismo, com traços de privatismo e de cunho repressivo. Para

elaboração da tese Água: o difícil percurso de preservação e acesso na sub-

bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, utiliza-se como recurso

metodológico o estudo de caso, com entrevistas aos membros dos Comitês

Gestores do Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional pautadas

em roteiros semiestruturados, análise de fontes primárias e acervo

bibliográfico. Parti do pressuposto que o Programa Cultivando Água Boa, da

Itaipu Binacional, executado através dos Comitês Gestores, tem, com

certeza, fornecido as condições e a quantidade de água suficiente para a

geração de energia para a hidrelétrica de Itaipu, mas não como estratégia de

socialização e acesso igualitário à água, pois, apesar de ter contribuído para

a melhora de alguns aspectos da qualidade de vida da população da sub-

bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, não vem ocorrendo a

implementação da interface da política de recursos hídricos com o

saneamento, hipótese que se mostrou verdadeira.

Palavras-chave: Recursos Hídricos, Saneamento, Gestão Ambiental, Comitês

Gestores

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vi

ABSTRACT

The aim of this investigation was to clarify the role performed by the

Managing Committees of the Itaipu Binational Cultivating Good Water

Program and the management policies of the hydric resources integrated to

the sanitation of São Francisco Verdadeiro River subbasin, in which

environmental management is promoting the modification of the predatory

practices, which strengthen the natural resources exhaustion. One of the

objectives is to understand how the members of the managing committees

participate of the democratic management process to access the water in the

São Francisco Verdadeiro River subbasin by the Integrated System of Hydric

Resources Management (SIGRH), guaranteeing the basic sanitation

strengthening the social agreement necessary among the involved in this task

(state and municipal governments and the citizens). Despite the efforts of the

municipalities, little was altered in the environmental practices developed,

which are developed with strong centralism, carrying traces of privativism and

in a repressive way. Water: the difficult journey of preservation and access in

the São Francisco Verdadeiro River Subbasin in Paraná, for its thesis

elaboration the methodological resource study case was used, having

interviews with the Committees members managing the Itaipu Binational

Cultivating Good Water Program, with semi-structured interviews, primary

sources analyses and bibliographical reference. It is widely recognized that

the Cultivating Good Water Program, executed by the Managing Committees,

has supplied the conditions and enough water for the generation of energy for

Itaipu Hydroelectric Dam, but not as a socialization strategy and equal access

to the water. Despite the contribution to the improvement of some life quality

aspects of the population of São Francisco Verdadeiro River subbasin, the

implementation of the interface of the hydric resources with the sanitation is

not occurring, in which such hypothesis showed to be true.

Key Words: Hydric Resources, Sanitation, Enviromental Management,

Managing Committees

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vii

LISTA DE SIGLAS

ABES- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária

ABNT – Associação Brasileira de Normas e Técnicas

ANA - Agência Nacional das Águas

APPs - Áreas de Preservação Permanentes

ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento

BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNH - Banco Nacional de Habitação

BNH - Banco Nacional de Habitação

CAB – Cultivando Água Boa

CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor

CBH - Comitês de Bacia Hidrográfica

CECA- Comissão Estadual de Controle Ambiental

CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica

CEMA - Conselho Estadual de Meio Ambiente

CEPRAM - Conselho Estadual de Proteção Ambiental

CERH - Conselho Estadual de Recursos hídricos

CFCs - Cloro Flúor Carbonos

CBH – Comitê de Bacia Hidrográfica

CIH - Centro Internacional de Hidroinformática

CIPAM – Comitê de Integração de políticas Ambientais

CMMA – Conselho Municipal de Meio Ambiente

CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNM - Confederação Nacional Municípios

CNRH- Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

CODAPAR - Companhia de Desenvolvimento do Paraná

CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

COMAM – Conselho Municipal de Meio Ambiente de Cascavel

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

ConCIDADES - Conselho das Cidades

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viii

COPAM- Comissão de Política Ambiental

COPEL – Companhia Paranaense de Energia Elétrica

CRV – Centro de Recepção de Visitantes

EIA - Estudos de Impacto Ambiental

EMATER – Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural

ENCA - Encontro Nacional de Colegiados Ambientais

EP - Emendas Parlamentares

ETE - Estação de Tratamento de Esgoto

FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

FASUL – Faculdade Sul Brasil de Toledo

FEA – Programa de Formação de Educadores e Educadoras Ambientais nos Municípios da Bacia do Paraná III, área de influencia da Itaipu e entorno do Parque Nacional do Iguaçu

FEEMA- Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FMI – Fundo Monetário Internacional

FNMA – Fundo Nacional de Meio Ambiente

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

FUNTEF – Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa, Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

GA-CTS- Grupo de Acompanhamento do Comitê Técnico de Saneamento Ambiental do Conselho das Cidades

GEWEX – Experimento sobre os Ciclos Globais da Água e Energia

GTI- Grupo de Trabalho Interministerial

HELP – Hidrology for the Environment, Life and Policy

IAP - Instituto Ambiental do Paraná

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM-E- Índice de Desenvolvimento Humano - Educação

IDHM-L - Índice de Desenvolvimento Humano – Longevidade

IDHM-R - Índice de Desenvolvimento Humano - Renda

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ix

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Ampliado

ISO – Organização Internacional de Normatizações

ITEPA - Instituto de Pesquisa para a Reforma Agrária

MdasCIDADES - Ministério das Cidades

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MP - Ministério Público

OGU - Orçamento Geral da União

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONGs – Organizações Não Governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PFC/SAN - Programa de Financiamento a Concessionários Privados de Saneamento

PIB – Produto Interno Bruto

PL – Projeto de Lei

PLANASA - Plano Nacional de Saneamento

PLANSAB - Plano Nacional de Saneamento Básico

PLS – Projeto de Lei Suplementar

PMSS - Programa de Modernização do Setor de Saneamento

PNADs - Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios

PNEA – Política Nacional de Educação Ambiental

PNMA - Política Nacional do Meio Ambiente

PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos

PNS - Política Nacional de Saneamento

PNSA - Política Nacional de Saneamento Ambiental

PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PNMA II – Programa Nacional de Meio Ambiente II

PNUMA- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PAP – Pesquisa Ação Participante

PROSAM/PR - Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba

PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RDH – Relatório de Desenvolvimento Humano Internacional

ReCESA - Rede de Capacitação em Saneamento Ambiental

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x

RIDE’s - Regiões Integradas de Desenvolvimento

RM`s - Regiões Metropolitanas

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto

SANEPAR - Companhia de Saneamento do Paraná

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMA- Secretaria Especial de Meio Ambiente

SEMA/PR - Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SERT – Secretaria de Estado Emprego e Relações Trabalho

SFV- São Francisco Verdadeiro

SIGRH – Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

SINGREH - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

SNPU- Secretaria Nacional de Programas Urbanos

SNSA - Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental

SUNC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

SRH/MMA - Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente

SUDERHSA - Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

UDC – União Dinâmica Cataratas

UEM – Universidade Estadual de Maringá

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

WMO – Organização Metrológica Mundial

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xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Conferências Internacionais

TABELA 2 - Gestores do Programa Cultivando Água Boa

TABELA 3 - Regiões Hidrográficas Brasileiras e suas áreas

TABELA 4 - Fases Históricas da Criação da SUDERHSA

TABELA 5 - Instrumentos de Gestão de Bacias Hidrográficas

TABELA 6 - Bacias Hidrográficas do Estado do Paraná

TABELA 7 - Emendas Parlamentares apropriação dos recursos do OGU para o

saneamento básico

TABELA 8 - Abastecimento de água pelo sistema SANEPAR, nos municípios

da sub-bacia do rio São Francisco Verdadeiro (SFV)

TABELA 9 - Atendimento de esgoto pelo sistema SANEPAR, nos municípios da

sub-bacia do rio São Francisco Verdadeiro (SFV)

TABELA 10 - Saneamento Ambiental na sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro

TABELA 11 - Desmembramento dos municípios componentes da sub-bacia

paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

TABELA 12 - População sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro

TABELA 13 - Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios da sub-bacia

paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

TABELA 14 - Composição dos comitês aprovados pelo Conselho Estadual de

Recursos Hídricos

TABELA 15 - Assentamentos beneficiados pelo Programa Cultivando Água Boa

TABELA 16 - Agroindústrias implantadas, município, famílias beneficiadas

TABELA 17 - Agroindústria em parceria com INCRA/EMATER nos

Assentamentos

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xii

LISTA DE QUADRO

QUADRO 1 - Comitês de Bacia no Rio Paraná

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xiii

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Área dos Estados na Bacia Hidrográfica do Paraná

GRÁFICO 2 - Quantidade de resíduos sólidos por tipo de disposição na Bacia

Hidrográfica do Paraná

GRÁFICO 3 - Abastecimento de Água nos municípios da sub-bacia paranaense

do Rio São Francisco Verdadeiro

GRÁFICO 4 - Abastecimento de Água de ligações residenciais da SANEPAR

nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

GRÁFICO 5 - Atendimento de Esgoto por categoria nos municípios da sub-

bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro no Estado do Paraná

GRÁFICO 6 - Atendimento de Esgoto de ligações residenciais da SANEPAR

nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

GRÁFICO 7 - Uso do solo na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro

GRÁFICO 8 - População do município estimada na sub-bacia paranaense do

Rio São Francisco Verdadeiro

GRÁFICO 9 - Taxa de Pobreza relativa a população total dos municípios da

sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

GRÁFICO 10 - Conselhos de Meio Ambiente por região do país

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xiv

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Sub-bacias do Rio Paraná III

Mapa 2 - Comitês de Bacia Hidrográfica no Paraná

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xv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16

1 PLANEJAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO ESTADO DO PARANÁ

......................................................................................................................... 36

1.1 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARANÁ III ........................................... 41

1.2 POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO .................................... 55

1.3 A SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO VERDADEIRO .. 90

2 OS ESPAÇOS PÚBLICOS DE CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA

AMBIENTAL NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO

VERDADEIRO ............................................................................................... 105

2.1 CONSELHOS DE MEIO AMBIENTE ........................................................... 110

2.2 COMITÊ DE BACIA DO RIO PARANÁ III ................................................... 127

2.3 COMITÊS GESTORES DO PROGRAMA CULTIVANDO ÁGUA BOA ........ 135

3 – A CONTROVERSA CONTRIBUIÇÃO DOS COMITÊS GESTORES NO

PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE RECURSOS

HÍDRICOS E SANEAMENTO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO SÃO

FRANCISCO VERDADEIRO ......................................................................... 156

3.1 COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS COMITÊS GESTORES DO

PROGRAMA CULTIVANDO ÁGUA BOA DA ITAIPU BINACIONAL .............. 163

3.2 AS PRÁTICAS SOCIAIS E A PARTICIPAÇÃO DOS SUJEITOS DA

PESQUISA ..................................................................................................... 170

3.3 AS AÇÕES DESENVOLVIDAS E OS IMPACTOS NOS MUNICÍPIOS ....... 187

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 200

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 208

ANEXOS............................................................................................................ 225

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16

INTRODUÇÃO

A água potável é um elemento fundamental para a sobrevivência

humana e das demais espécies vivas do ecossistema1. Em pleno século XXI,

a água limpa e de qualidade é um direito humano que está fora do alcance

de muitos habitantes do planeta Terra. Conforme dados divulgados pelo

Ministério do Meio Ambiente (2005), em todo o Globo, mais de um bilhão de

pessoas não têm acesso à água tratada e quase 2,5 bilhões vivem sem

saneamento básico, além de que cerca de 80% das doenças e das mortes

em países em desenvolvimento estão relacionadas à falta de abastecimento

de água potável.

O tempo de permanência nos seus três principais compartimentos

naturais (atmosfera, superfície da terra e subsolo) permite concluir que a

água, recurso renovável, não está acabando, como querem nos fazer crer,

pois a quantidade de água no planeta, em seus diferentes estados, é

exatamente a mesma. O que vem se esgotando é a água potável. Assim,

portanto, o que preocupa, e necessita de atenção redobrada, é a intervenção

humana no ciclo da água.

Este estudo está centrado no campo do acesso à água e se localiza

no exame das propostas de seu gerenciamento e distribuição, o que é de

fundamental relevância para um desenvolvimento eficiente e que resulte na

equitativa distribuição dos bens e serviços produzidos a toda a sociedade.

Na década de 1970, as entidades internacionais advertiam sobre uma

iminente escassez de alimentos, de petróleo e de outros bens essenciais

como consequência, quase que inevitável, do aumento da demanda de

recursos limitados. Mais recentemente, se fazem projeções de futuras e

inevitáveis "guerras pela água", projeções pautadas no temor de que não

1 Ecossistema: descrição de todos os componentes de uma área específica (definição arbitrária: bioma, hábitat, lago, floresta ou tronco), incluindo os componentes vivos (organismos) e os fatores não vivos (como ar, solo e água), além das interações que existem entre todos esses componentes. Essas interações proporcionam uma diversidade relativamente estável de organismos e envolvem uma contínua reciclagem de nutrientes entre os componentes. (DASHEFSKY, 2003, p. 105).

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17

tenhamos água potável suficiente para responder às necessidades de uma

população que cresce e se avoluma, cada vez mais, em centros urbanos.

(ONU, 2010).

Esse alerta faz parte da preocupação internacional e nacional quanto

à expansão capitalista, que produz a exploração da natureza, e da força de

trabalho, pois, ao ocupar o ambiente, o ser humano sempre o transforma.

Por meio do modo de produção, ele extrai e utiliza recursos naturais na

produção de bens necessários à sua sobrevivência. O modo como a

ocupação humana se dá hoje no mundo, e os graves desequilíbrios

resultantes de sua ação no ambiente, além de provocarem a morte de muitos

animais e vegetais, comprometem seriamente o abastecimento de água às

populações do planeta. Ou seja, o modo de produção capitalista “[...]

contradiz as exigências de preservação do meio ambiente e de saúde da

força de trabalho.” (LÖWY, 2005, p. 55).

Os estudos e as pesquisas promovidos pelas mais diversas

instituições cientificas e agências multilaterais demonstram que a natureza2

evidencia sinais de esgotamento de suas potencialidades, criando obstáculos

a serem superados pelo sistema capitalista. Assim, dada a expansão

incessante da produção mercantil, tais obstáculos podem se evidenciar seja

pela via da escassez de matérias-primas, seja pela dimensão dos danos

sociais, políticos e econômicos causados pela depredação ambiental e pela

poluição.

A esse conjunto de deficiências na reprodução do sistema capitalista,

que se origina na impossibilidade ou escassez de elementos do processo

produtivo advindos da natureza, Silva (2010, p. 67) denomina de “questão

ambiental”, no capítulo 1 do seu livro "Questão Ambiental e Desenvolvimento

Sustentável: um desafio ético político ao Serviço Social". Ou seja, o planeta

tornou-se incapaz de prover, indefinidamente, os recursos necessários à

reprodução da vida em condições históricas e sociais marcadas pelo alto

nível de produção e consumo do atual estágio do capitalismo.

2 Natureza entendida como conjunto de elementos (mares, montanhas, árvores, animais, etc.) do mundo natural; conjunto de seres do Universo. (HOUAISS; VILLAR & FRANCO, 2009, p. 523).

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18

A extensão e a profundidade da “questão ambiental” tem se

manifestado através de fenômenos naturais intensos, os quais não têm sido

possível controlar, como: enchentes mais volumosas, secas mais

prolongadas e aumento do nível dos oceanos e da temperatura do planeta,

etc., fenômenos que se refletem na contaminação dos recursos hídricos. A

questão ambiental também tem se manifestado pela poluição atmosférica,

pelo desmatamento das florestas, pela caça indiscriminada, pelo

esgotamento dos solos, pela poluição alimentar, pela redução ou destruição

dos hábitats faunísticos. E, por fim, tem se manifestado na forma de grandes

desigualdades sociais entre hemisférios, regiões e país, e cujas

consequências para a humanidade ainda não é possível precisar.

Para o capital, a “questão ambiental” se constitui problema na medida

que cria obstáculos ou mesmo inviabiliza a utilização das formas de que

historicamente se utilizou para apropriar-se da natureza, isto é, a propriedade

dos bens sociais e naturais e a sua transformação em mercadorias (SILVA,

2010, p 118).

A questão ambiental, ao incluir em suas análises a dimensão social

dos processos econômicos, como a pobreza e a desigualdade mundial,

tende a realçar um quadro social unificador, um processo unitário da história

humana em suas múltiplas experiências grupais, locais, regionais e culturais

em que a sustentabilidade é essencial. Essa questão da sustentabilidade

social foi exemplarmente expressa no Relatório Brundtland (1987), da

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Como forma de incorporação da problemática ambiental na agenda

econômica e social entram em cena as políticas internacionais e nacionais de

meio ambiente, que, através das chamadas Conferências, se utilizam de

espaços coletivos de avaliação e proposição de diretrizes para a área

ambiental. Tais políticas foram incorporadas pelo Brasil, algumas

tardiamente, através de seu aparato jurídico institucional desenhando um

novo modelo de gestão da política ambiental. Conforme se pode verificar na

tabela abaixo:

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Tabela 1 – Conferências Internacionais

Ano Evento Conferência

Aparato Institucional Documento

1968 Clube de Roma

Departamento Nacional de Águas e Energia 1961

Código de Águas 1934

Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) 1962

Plano Nacional de Saneamento Básico 1964

Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

(IBDF) 1966

Código Florestal 1938

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) 1967

Código da Mineração 1940

Superintendência de Desenvolvimento da Pesca

(SUDEPE) 1967

Código da Pesca 1938

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) 1970

Estatuto da Terra 1964

1972 1977

Conferência de Estocolmo Conferência de Mar Del

Plata

Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) 1973 –

Ministério do Interior

Zoneamento Urbano 1975

1986 Conferência Mundial

sobre a Conservação e o Desenvolvimento

Política Nacional do

Meio Ambiente 1981

1990

1992

1992

Conferência Ministerial sobre Meio Ambiente

Conferência das Unidas

do Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CNUMAD) – Rio/92

Conferência Internacional sobre a Água

Secretaria de Meio Ambiente 1990

Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) 1990

Ministério do Meio Ambiente (MMA) 1992

1997 I Fórum Mundial da Água

Secretaria Nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) 2007 – Ministério do

Meio Ambiente

Política Nacional de Recursos Hídricos

(PNRH) 1997

2000 II Fórum Mundial da Água Agência Nacional das Águas (ANA)

2000

2003 III Fórum Mundial da Água

Ministério das Cidades 2003 Estatuto da Cidade

2001

Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA)

2003

Plano Nacional de Recursos Hídricos

2003

2006 IV Fórum Mundial da Água

Política Nacional de

Saneamento Básico 2007

2009 V Fórum Mundial da Água

Fonte: Dados organizados pela autora (2011)

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O processo de discussão internacional e nacional sobre a água se

pauta no reconhecimento inicial de um bem primário, e que passa, a partir do

final da década de 1990, a ser discutida como um direito humano,

principalmente porque não é simplesmente um bem de consumo; é um bem

cultural e social; é um tema que demanda a realização de uma autêntica

consulta democrática e a participação popular nas decisões que afetam as

fontes de distribuição do recurso; o acesso deve se realizar sobre uma base

de não discriminação (ONU, 2010). Mesmo assim, no entanto, o acesso à

água tem sido marcado pelas disparidades e discriminações que marcam

determinações sociais e de saúde.

Ao sustentar que o acesso à água é um direito humano, significa

reconhecer que é de responsabilidade da coletividade assegurar as

condições necessárias e indispensáveis para garantir o direito a todos.

Contrariamente, há uma tendência que trata a água “[...] como um bem-

mercadoria, um bem econômico, em que o adjetivo econômico é definido

unicamente segundo os princípios da economia capitalista de mercado.”

(PETRELLA apud NEUTZLING, 2004, p. 15).

Como enfatizado na Agenda 21 (2000), o principal problema ambiental

global a ser enfrentado pela civilização do século XXI advém do seu próprio

modelo de desenvolvimento capitalista. Tal modelo, alimentado pela força de

suas contradições, gera uma modernização que atinge os espaços e a

sociedade de forma desigual e seletiva, levando à marginalização parte

importante da população. Nesse sentido, a incorporação do elemento social

nas discussões em torno do tema meio ambiente e desenvolvimento foi um

passo importante para o entendimento da relação homem/natureza.

Os impactos ambientais do atual modelo de desenvolvimento

econômico atingem toda a sociedade e o conjunto do sistema de vida, porém

são os segmentos menos favorecidos economicamente que sofrem as

consequências de modo mais acentuado. Entre eles estão: moradores

próximos a indústrias poluentes, pescadores, seringueiros, comunidades

indígenas, quilombolas e outras que vivem da existência equilibrada do

ecossistema. Também os moradores de encostas perigosas, as

comunidades compulsoriamente deslocadas de seu ambiente sociocultural

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para construção de hidroelétricas, as populações que vivem nas cercanias de

lixões ou lixos tóxicos, etc., todos esses grupos têm uma cidadania

precarizada pelas injustiças socioambientais.

Hoje o debate ambiental vem exigindo atenção de todas as áreas do

conhecimento e campos profissionais, onde a questão não é apenas dominar

informações técnicas e quantitativas a respeito de catástrofes anunciadas.

Capacitar-se para o debate ambiental é percebê-lo complexo, inerente à

dinâmica social e tão excludente quanto qualquer outro aspecto do debate

social de forma mais ampla. Carece, portanto, de melhor qualificação por

parte de todos os que dele participam, na intenção de promover e sustentar o

desenvolvimento de um trabalho que garanta a todos a melhoria de

qualidade de vida:

De todos os problemas enfrentados pelo sistema mundial, a degradação ambiental é talvez a mais intrinsecamente transnacional e, portanto, aquele que, consoante o modo como for enfrentado, tanto pode redundar num conflito global entre o Norte e o Sul, como pode ser a plataforma para um exercício de solidariedade transnacional e intergeracional. O futuro está, por assim dizer, aberto a ambas as possibilidades, embora só seja nosso na medida em que a segunda prevalece sobre a primeira. (SANTOS, 2000, p. 296).

Configura-se, nesse campo, um espaço em que o Serviço Social

poderá vir a somar forças, entrar no debate em curso, incorporando ideias e

estimulando reflexões. Emerge dessa afirmativa o fato de que o

desenvolvimento de trabalhos socioambientais deverá pressupor a presença

de ações que englobem a defesa do patrimônio dos recursos naturais como

um direito do homem, tanto quanto as exigências feitas pelos homens para a

adaptação de espaços sociais e culturais às suas necessidades.

O tema desta investigação procura elucidar os limites e as

possibilidades de implementar a política de recursos hídricos integrada à de

saneamento a partir dos princípios e das diretrizes para a gestão que fazem

do município o locus privilegiado de sua realização das políticas, devendo

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ser modificadas as práticas predatórias que potencializam o risco de

exaurimento dos recursos naturais.

O exame do objeto de estudo busca entender como surgiram os

Comitês Gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional,

descrevendo como se constituíram e agiram os sujeitos envolvidos na

instauração da política de recursos hídricos integrada ao saneamento nos

municípios. Ou seja, estudou-se o papel desempenhado pelos Comitês

Gestores no processo de implementação da política de recursos hídricos e

saneamento básico na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro. Investiga-se o assunto uma vez que, apesar dos esforços

empreendidos pelos municípios, pouco se alteraram as práticas ambientais

desenvolvidas, sendo realizadas com forte centralismo, com traços de

privativismo e de cunho repressivo.

As complicações que a superexploração do recurso natural, água, vem

trazendo ao seu trato, bem como as soluções legais, técnicas e sociais que

estão sendo encontradas e a efetiva participação da sociedade civil nesse

processo, eis uma discussão necessária, mas o estudo empírico destaca o

modo pelo qual a prática dos comitês gestores do Programa Cultivando Água

boa da Itaipu Binacional fortalece ou não a disseminação do valor da

proteção à água na bacia, elencando os diversos espaços de controle e de

participação instituídos na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro.

No Brasil, o acesso à água é garantido pela política de saneamento

(2007). Já a sua regulação/gestão é garantida pela política de recursos

hídricos (1997). A discussão de vinculação de ambas (saneamento e

recursos hídricos) ocorreu devido às recomendações internacionais na área

ambiental, como: a gestão integrada, a participação da sociedade, a

preservação dos recursos naturais, o desenvolvimento sustentável, a

redução da pobreza, entre outras, adotadas gradativamente pelo país.

A Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente, em Dublin,

em 1992, foi a que explicitou mais claramente a relação entre a água e a

diminuição da pobreza e das doenças; a proteção e as medidas de proteção

contra os desastres naturais; a conservação e o reaproveitamento da água; o

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desenvolvimento urbano sustentável; a produção agrícola e o fornecimento

de água potável ao meio rural; a proteção dos sistemas aquáticos e as

questões transfronteiriças e se reconheceu a existência de conflitos

geopolíticos derivados da posse das bacias hidrográficas. (ONU, 2010).

A gestão dos recursos hídricos, que historicamente esteve nas mãos

do Estado, hoje em dia vem sendo trabalhada de forma descentralizada e

participativa, numa clara demonstração da necessidade da busca de novos

caminhos, condizentes e coerentes às gradativas conquistas democráticas

da sociedade brasileira. Esse modelo de gestão está pautado no direito

ambiental e no surgimento de novos sujeitos de direito: gerações futuras e a

própria natureza, o que “[...] implica na construção de uma cidadania de tipo

novo. O conteúdo dessa cidadania será definido pela luta política e prática

concreta, uma disputa histórica que pressupõe a politização da relação

sociedade-natureza.” (SANCHES, 2000, p. 26).

A promulgação da Constituição Federal de 1988 foi um marco

importante no nosso processo de democratização, e reflete as conquistas do

movimento ambientalista brasileiro. Em seu capítulo VI, parte da Ordem

Social, é dedicado ao meio ambiente, declara que todos têm direito a um

meio ambiente ecologicamente equilibrado e responsabiliza o Poder Público

e a coletividade em sua defesa. Busca, assim, estabelecer as competências

concorrentes entre os poderes federal, estadual e municipal, e promove a

descentralização administrativa da política ambiental. Especificamente no

setor de águas, isso se reflete num complexo sistema legal, qual seja, a

Política Nacional de Recursos Hídricos, que define as bacias hidrográficas

como bases territoriais para uma gestão descentralizada, e constitui os

Comitês de Bacias Hidrográficas, estes com a incumbência de discutir,

pensar, propor e resolver problemas locais. (BRASIL, 1988).

A gestão dos recursos hídricos por bacia hidrográfica define a

dimensão territorial da questão ambiental (espaço geográfico) de atuação

para promover o planejamento regional, o desenvolvimento e o intercâmbio

entre regiões com interesses comuns, ou entre as que disputam o direito de

utilizar a água para determinado fim. Diz respeito também à necessidade de

proteger e conservar as fontes de água e tudo o que se relaciona a ela.

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A gestão dos recursos hídricos possui muitas interfaces, envolvendo

vários setores com diferentes interesses e seu controle através da restrição

legal e punição ao infrator não abarca sua complexidade. A gestão

descentralizada, territorializada e participativa se apresenta como a proposta

mais eficaz; a criação dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs) com

representação do Estado, municípios e sociedade civil, dentro do Sistema

Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH), tem essa

finalidade, mas enfrenta inúmeros entraves para a sua operacionalização.

Uma das interfaces da política de recursos hídricos é a política de

saneamento básico, pois a área de saneamento é usuária dos recursos

hídricos, evidenciando que não é possível pensar na gestão de tais recursos

sem considerar a necessidade de equacionar o problema de saneamento

básico no Brasil. Alguns dos temas e interesses comuns tratados pelas duas

áreas são: a outorga para uso e para lançamento de efluentes, a proteção de

mananciais, o monitoramento da qualidade da água, o licenciamento

ambiental de obras hidráulicas, controle social sobre o uso da água, a

atuação dos comitês de bacias, entre outros. (MMA, 2006).

O saneamento ambiental3 é o controle de todos os fatores do meio

físico do homem que exercem ou podem exercer efeitos danosos sobre seu

bem-estar físico, mental ou social (MMA, 2006). Além dos recursos hídricos;

o saneamento mantém interface com outras políticas, como: a política

ambiental (aparato legal e conselhos de meio ambiente); a política urbana

(infraestrutura, planejamento, desenvolvimento e conselho da cidade); a

política agrária (política de assentamentos); no setor de transporte e tráfego

urbano (planejamento viário e sua relação com os vales urbanos); no setor

3 Saneamento ambiental envolve o conjunto de ações técnicas e socioeconômicas, entendidas

fundamentalmente como de saúde pública, tendo por objetivo alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental, compreendendo o abastecimento de água em quantidade e dentro dos padrões de potabilidade vigentes, o manejo de esgotos sanitários, de águas pluviais, de resíduos sólidos e emissões atmosféricas, o controle ambiental de vetores e reservatórios de doenças, a promoção sanitária e o controle ambiental do uso e ocupação do solo e prevenção e controle do excesso de ruídos, tendo como finalidade promover e melhorar as condições de vida urbana e rural. (MORAES & BORJA, 2005).

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educacional (estratégias de educação sanitária e de saúde); e no setor de

saúde (instrumentos legais e conselhos de saúde).

As ações de saneamento estiveram por um longo período articuladas

às de saúde pública, pois as ações de saneamento visavam à redução dos

problemas de saúde pela higienização ou embelezamento das cidades, mas

mais recentemente vinculam-se à infraestrutura urbana.

Ao longo de seu percurso histórico, a área de saneamento não teve

como prioridade a dimensão ambiental, e também não se observou a

superação do distanciamento com a área de recursos hídricos. Esses fatos

denunciam a falta de definição e orientação para o setor, pois os estados se

omitem de suas responsabilidades sob o pretexto de ser responsabilidade

das companhias estaduais, tendo como perspectiva a visão limitada de

saneamento e amplitude geográfica. A mesma omissão ocorre em alguns

municípios, ao não assumirem a responsabilidade pelo saneamento,

principalmente nos que tem contratos de concessão para a área.

As condições de saneamento têm implicações diretas na qualidade de

vida da população e o seu processo de universalização tem como objetivo

final a redução da pobreza, expressão da “questão social”, que é o campo de

atuação dos assistentes sociais. A natureza das ações de saneamento

básico coloca-se como essencial à vida humana e à proteção ambiental,

sendo uma ação eminentemente coletiva em face da repercussão da sua

ausência, constituindo-se, portanto, uma meta social. Como meta social,

situa-se no plano coletivo, no qual os indivíduos, a comunidade e o Estado

têm papéis a desempenhar. Considerada a sua natureza, isto é, seu caráter

de monopólio natural, o esforço para a sua promoção deve-se dar em vários

níveis, envolvendo diversos atores. As ações de saneamento básico, além de

fundamentalmente de saúde pública, contribuem para a proteção ambiental,

representando também bens de consumo coletivo, serviços essenciais,

direito social de cidadania, direito humano fundamental e dever do Estado.

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Como pesquisadora4, venho acompanhando, indiretamente, ou seja,

participando de algumas instâncias do processo de discussão da

implementação do comitê da Bacia Hidrográfica do Paraná III, na região

oeste do Paraná, e nesta pesquisa investiga-se os Comitês Gestores do

Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional.

O estudo da “questão ambiental”, na visão dos membros dos Comitês

Gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional, nos

municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro,

permite uma ampliação na percepção da realidade das pessoas que ali

habitam e trabalham, que a produzem e a reproduzem. Percebe-se o quanto

o planejamento proposto não contempla sua dinamicidade e concretude

social, tomando-se, no debate das questões ambientais, rumo diverso

daquele que busca eliminar o processo de apartação social, ainda que seja

esta a intenção inicial. Os aspectos sociais transformam-se em meros

subsídios às tomadas de decisões técnicas. Dessa forma,

[...] precisamos olhar as coisas não simplesmente pelo viés da eficácia dos serviços, mas pelas conseqüências e impactos que os mesmos causam em termos de redução de desigualdades, da redistribuição de oportunidades e do acesso aos bens públicos. Necessita-se de uma gestão que pertença ao público, que seja voltada prioritariamente à construção da cidadania e ao reconhecimento dos direitos individuais e coletivos. (SPINK, 1999, p. 197).

Os espaços de controle garantem a representação da sociedade civil,

mas, ao mesmo tempo, também reproduzem interesses conflituosos ou até

antagônicos. Assim, portanto, muito ainda há de se caminhar para que a

democratização das decisões que dizem respeito à gestão integrada dos

recursos hídricos se efetive.

Mesmo com todas as dificuldades e tentativas de impedimento a que

sempre se viu sujeita, a participação da sociedade civil de forma mais ampla

vem ocorrendo das mais variadas maneiras. A conquista do respeito às

4 Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional – GEPEC, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2005 A 2010), e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Políticas Ambientais e Sustentabilidade – GEPPAS (2011).

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realidades e culturas locais na elaboração de projetos, reconhecendo suas

dinâmicas e níveis de organização, as articulações regionais e nacionais são

fatores que vêm contribuindo no seu êxito.

Partindo dessas considerações iniciais, propõe-se pesquisar parte

desse processo histórico, marcado por mudanças institucionais ocorridas na

área ambiental, em particular a partir da introdução da nova legislação de

recursos hídricos e saneamento, legislação nova que criou os instrumentos

legais cuja aplicação pretende alterar as características que marcaram as

ações ambientais desenvolvidas no país. Como nas demais políticas

públicas, as ações ambientais estiveram marcadas pela centralização no

governo federal, com forte cunho privatista, quase sempre voltada à proteção

do ecossistema e espécies, mas sem uma dimensão social claramente

incorporada. As leis aprovadas antes davam ênfase ao controle e à

repressão de práticas lesivas ao meio ambiente, depois passam a prever

mecanismos e instrumentos de gestão dos bens ambientais, e não apenas

de repressão a determinadas condutas e atividades.

As legislações de recursos hídricos e saneamento formaram a base

para que se criassem as instituições jurídicas, os mecanismos de

participação, o compartilhamento da gestão entre o Estado e a sociedade

civil, a integração às demais políticas, e as formas de controle social sobre o

setor. Mesmo assim, no entanto, o fato de existir essa estrutura formal não

garante a eficácia das medidas nelas supostas, o exercício prático do

controle social e que pode viabilizar a concretização da democracia.

No contexto local é que se pode perceber se os propósitos políticos

propalados no âmbito nacional estão sendo aplicados na prática, e se

existem entraves que dificultam a implementação da política hídrica na sub-

bacia do Rio São Francisco Verdadeiro. Leva-se em consideração que a

perspectiva de descentralização esteja presente, com a criação de espaços

de controle social na gestão local, possibilitando a definição de prioridades

para área hídrica, através da participação conjunta do poder público e da

sociedade civil, que superasse a dificuldade de acesso a água de qualidade.

Entender como os membros dos comitês gestores do Programa

Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional participam do processo de gestão

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democrática de acesso à água na sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro, através do Sistema Integrado de Gerenciamento dos

Recursos Hídricos (SIGRH), garantindo o saneamento básico, de modo a

fortalecer o pacto social necessário entre todos os envolvidos nesta tarefa

(governo estadual e municipal e a sociedade civil), tornou-se o grande

objetivo destacado.

Além desse objetivo de entendimento, trabalhamos com a seguinte

hipótese: o Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional, executado

através dos comitês gestores, tem, com certeza, fornecido as condições e a

quantidade de água suficiente para a geração de energia para a hidrelétrica

de Itaipu, mas não como estratégia de socialização e acesso igualitário à

água, pois, apesar de ter contribuído para a melhora de alguns aspectos da

qualidade de vida da população da sub-bacia do Rio São Francisco

Verdadeiro, não vem ocorrendo a implementação da interface da política de

recursos hídricos com o saneamento.

A pesquisa abrange o período de 2003 a 2009, pois demarca a

criação e a atuação dos comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa,

da Itaipu Binacional, no espaço delimitado para a pesquisa. Foram

escolhidos como sujeitos da pesquisa 11 informantes governamentais e 8

não governamentais dos comitês gestores do Programa Cultivando Água

Boa dos municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro, por serem esses os espaços colegiados locais que

discutem e implementam ações relativas à água. Em dois municípios não

houve a participação de gestores ambientais não governamentais, e um não

aceitou participar da entrevista. Também foram pesquisados registros

documentais, como atas, dados dos municípios, além de um levantamento

sobre legislação. Enriqueceram ainda esta pesquisa as informações junto ao

Instituto Ambiental do Paraná (escritório Toledo) e SANEPAR.

A metodologia5 de pesquisa escolhida para este trabalho, o estudo de

caso6, abrangeu dois momentos complementares. O primeiro compreendeu

5 A metodologia, segundo Minayo (2010, p. 14), “[...] a inclui simultaneamente a teoria da

abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas)

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uma aproximação preliminar e de conhecimento dos comitês gestores do

Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional, na sub-bacia

paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, a caracterização dos

municípios que a compõem e suas respectivas dinâmicas. Para tanto, foram

pesquisados documentos específicos, como leis de criação, dados

estatísticos dos municípios, artigos de jornais e revistas, além de entrevistas.

No segundo momento foram realizadas as entrevistas com informantes

governamentais e não governamentais dos comitês gestores do Programa

Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional, na sub-bacia paranaense do Rio

São Francisco Verdadeiro, a fim de conhecer como se desenham as relações

entre os agentes locais, como vocalizam as estratégias de atuação, ou como

se organizam e/ou negociam com o poder público sobre as questões de

água.

Para o estudo, a fim de garantir nosso acesso a informações

qualificadas, optamos por realizar a escolha intencional do informante,

privilegiando a realização de entrevistas com os representantes que

exercessem cargo na diretoria do comitê gestor do Programa Cultivando

Água Boa, da Itaipu Binacional, ou possuíssem atuação destacada em suas

atividades, ou seja, que haviam participado das reuniões do comitê gestor

realizadas até o ano de 2009, data de formalização legal desses espaços.

Em duas das onze entrevistas realizadas com representantes do poder

público participaram dois gestores ambientais e nas demais localidades a

entrevista foi realizada diretamente com o informante escolhido.

Constatamos que os membros mais atuantes nas atividades do comitê gestor

eram os representantes dos usuários dos recursos hídricos.

Sendo assim, foi elaborado o roteiro de entrevista semiestruturado

(Anexo I), que, após sua formulação, passou pela banca de qualificação

composta por pesquisadores da Pontifica Universidade Católica de São

e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade)”.

6 O estudo de caso está entre os mais relevantes tipos de pesquisa qualitativa. É definido como “[...] um método de pesquisa que conduz a uma análise compreensiva de uma unidade social significativa. Análise compreensiva, pois o significado que os sujeitos pesquisados atribuem a suas vidas, aos fenômenos e às relações sociais são os centros de atenção do pesquisador” (MEKSENAS, 2002, p. 118).

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Paulo. O interesse foi registrar como os gestores ambientais (Anexo II) se

articulam e negociam as suas demandas, como se relacionam com o poder

público (Secretaria de Meio Ambiente e de Agricultura, SANEPAR, IAP) e

com a instância de gestão partilhada (Comitê da Bacia Hidrográfica Paraná

III e Conselho de Meio Ambiente), como vocalizam as impressões, as

percepções que têm sobre os conflitos para o acesso e a preservação da

água, críticas percebidas e sugestões construídas durante o processo, e

como negociam os direitos, como os estabelecidos em leis, que incluem o

direito à água, a relação com o local, a bacia hidrográfica e sua preservação.

As entrevistas ocorreram entre agosto de 2010 a fevereiro 2011 e foram

gravadas e transcritas. Abaixo tabela dos entrevistados sua qualificação,

data e local das entrevistas, e representação no Programa Cultivando Água

Boa.

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33

A leitura dos dados empíricos foi sucedida da análise de conteúdo,

procedimento em que se buscou, através das respostas do roteiro de

entrevista, categorizar as informações a fim de obter respostas ao problema

de pesquisa. A técnica de análise de conteúdo tem o objetivo de

compreender criticamente o sentido das comunicações, em seu conteúdo

manifesto ou latente. Procura reduzir a quantidade de informações a algumas

características particulares ou categorias conceituais que permitam “[...]

passar dos elementos descritivos à interpretação, ou investigar a

compreensão dos atores sociais no contexto cultural em que produzem a

informação [...].” (CHIZZOTTI, 2000, p. 99).

Além das entrevistas, buscou-se complementar as informações junto

ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP/Toledo), por esse instituto

acompanhar, assessorar e fiscalizar as ações desenvolvidas nos respectivos

municípios, analisando esses dados como secundários e complementares.

Os resultados deste estudo permitiram avaliar como se vem efetivando a

gestão participativa de acesso e de preservação da sub-bacia paranaense do

Rio São Francisco Verdadeiro durante o período analisado. Tais resultados

compõem este estudo, que permitiram estruturar o trabalho em três

capítulos.

No primeiro capítulo foi tratado do planejamento e gestão dos recursos

hídricos no Paraná e sua interface com o saneamento básico, um breve

histórico estadual em articulação com o nacional das tentativas legais para o

seu enfrentamento. Esse processo está expresso na política nacional de

recursos hídricos e no sistema nacional de gestão dos recursos hídricos, que

se pautam no conhecimento das potencialidades e dos limites dos recursos

hídricos, propondo uma série de inovações para dar conta da realidade

brasileira. Para tal fim, utilizam-se da articulação entre as lideranças

regionais do Estado, dos municípios e da sociedade civil, como os conselhos

municipais, os consórcios intermunicipais e os comitês de bacia hidrográfica,

e, no Paraná, os comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa com o

objetivo de superar e/ou enfrentar os desequilíbrios ambientais.

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34

A discussão contemporânea coloca que os serviços públicos em geral,

e a água em particular, devem assumir uma nova perspectiva, a do acesso à

água como direito humano e não como mero bem econômico, bem esse

meramente sujeito às regras do mercado.

Aborda-se ainda, nesse primeiro capítulo a caracterização

socioambiental da área de abrangência da sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro, onde se busca compreender o processo de uso e

ocupação do solo no contexto do desenvolvimento e da expansão urbana da

região oeste do Paraná, explicitando os fatores de pressão externos e

internos que vêm influenciando a dinâmica do território.

O segundo capítulo aborda os espaços públicos de controle social na

área ambiental na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro,

detalhando a forma de organização e atuação do conselho de meio

ambiente, o conselho de recursos hídricos, comitê de bacia e o comitê gestor

do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional. A criação dos

espaços de participação e de controle se torna importante instrumento de

gestão e planejamento, determinante no desenho do território, pois

estabelece critérios de intervenção e níveis de restrição. Estamos dizendo

que o poder local tem a possibilidade concreta de definir suas diretrizes de

desenvolvimento, preservação e acesso à água de forma sustentável,

seguindo parâmetros hierarquicamente definidos no nível estadual e federal.

Os espaços públicos de controle social são canais de participação que

articulam representantes da população, membros do poder público e do

mercado. Esse processo de participação não está desvinculado das lutas

sociais por acesso aos direitos socais e à cidadania. Dentre eles destaca-se:

os Conselhos de Meio Ambiente, que são entes da administração pública e

integrantes do SISNAMA. Esses conselhos são um fórum de diálogo e de

construção de conhecimentos sobre o meio ambiente; os comitês de bacias

hidrográficas (CBH) são colegiados deliberativos e consultivos e atuam na

área de sua unidade de gerenciamento, ou seja, na sua bacia, e estão

subordinados diretamente ao Conselho Nacional e Estadual de Recursos

Hídricos; e os comitês gestores que são parte do processo de gestão e

implementação do programa socioambiental da Itaipu Binacional,

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35

denominado de Programa Cultivando Água Boa, a proposta pressupõe a

participação dos diversos usuários da água que se encontram na Bacia do

Paraná III.

O terceiro capítulo se dedica ao processo de criação e constituição

dos comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional,

na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro. Apresentam-se

os aspectos relevantes desse processo, privilegiando os aspectos da origem

institucional e social dos membros que compunham os comitês gestores,

buscando caracterizar a correlação de forças políticas neles existentes; logo

após o funcionamento, suas principais competências e a dinâmica de suas

principais funções. Destaca-se a forma de contribuição proposta pelos

comitês gestores, enquanto modelo gerencial de gestão ambiental no

processo de implementação da política de recursos hídricos e saneamento

ambiental. Os representantes dos comitês gestores ganham voz,

apresentando como se desenham as relações entre os agentes locais,

vocalizam as impressões, percepções que têm sobre os conflitos para o

acesso e uso da água, críticas percebidas e sugestões construídas durante o

processo, as estratégias de atuação, ou como se organizam e/ou negociam

com o poder público sobre as questões de água. A forma de participação foi

muito importante para constatar se a sociedade civil se reconhece e se

insere nesse processo.

Nas considerações finais constata-se que somos um país rico em

recursos hídricos e em legislação sobre eles; porém, para que nossa

disponibilidade hídrica se mantenha em quantidade e qualidade,

necessitamos iniciar ações básicas de implementação das diretrizes e dos

princípios da política hídrica, criação da estrutura técnica e administrativa

para a sua gestão, criação dos conselhos locais e/ou fortalecimento do

comitê de bacia do Paraná III. Falta-nos experimentar o processo atual de

afirmação política e técnica na área ambiental, pois, num país sem tradição

participativa na construção de políticas públicas, corre-se o risco de essa

participação se caracterizar apenas como formalidade, sem que se

descubram as dificuldades enfrentadas e sem que haja valorização das

diferentes manifestações de participação que se apresentam.

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36

1 PLANEJAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NO ESTADO DO PARANÁ

O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos

Lao Tsé (Pensador)

Este capítulo analisa a interface no processo de gestão das políticas

de recursos hídricos (planejamento) e saneamento básico (distribuição) na

bacia hidrográfica paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, inserida na

Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III, que representa um importante

manancial na região oeste do Estado do Paraná. O pressuposto desta

análise é o de que, para entender a participação popular, é preciso entender

o território onde esse processo se dá e suas características.

Analisam-se também as tentativas de aproximação e de

distanciamento entre a política de recursos hídricos e a política de

saneamento, sendo que a primeira segue sua vinculação com a área

ambiental, enquanto a área de saneamento básico passa por oscilações de

endereço institucional e dificuldades de estabelecer-se como política pública.

A política de saneamento (2007) vincula a gestão dos serviços e a

regulação ao programa de gestão de recursos hídricos (1997). Esse

processo foi resultado das discussões internacionais sobre meio ambiente7 e

as suas determinações para a sustentabilidade ambiental, econômica e

social; o saneamento propõe a garantia da sobrevivência da biodiversidade,

questões prioritárias ao bem-estar da população e a preservação ambiental.

Mesmo assim, no entanto, apesar dessa tentativa recente de vinculação

entre ambas, a marca histórica das duas trajetórias ocorreu sem qualquer

traço de convergência.

7 Dentre eles destaca-se: o Clube de Roma, 1968; a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, em Estocolmo - Suécia, em 1972; a I Conferência das Nações Unidas sobre a Água, realizada em março de 1977, em Mar del Plata - Argentina; a Conferência Mundial sobre a Conservação e o Desenvolvimento, em Ottawa - Canadá em 1986; o “Relatório Brundtland” ou “Nosso Futuro Comum”, 1987; o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Conferência Ministerial sobre Meio Ambiente, em Bergen - Noruega, 1990; a Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente, Dublin - Irlanda, 1992; a Conferência das Nações Unidas do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), Rio de Janeiro, 1992; a Agenda 21 Global, 1992; os Fóruns Mundiais da Água (1997, 2000, 2003, 2006,2009) ; e a Agenda 21 brasileira, 2000.

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37

A interface entre as políticas de recursos hídricos e de saneamento

verifica-se em dois aspectos, na oferta de água e no tratamento de esgoto,

pois, tendo o Brasil apresentado baixos índices de coleta e de tratamento de

esgotos, identifica-se a sua contribuição para o comprometimento da

qualidade das águas superficiais, e uma possível inviabilidade de uso desses

recursos hídricos. A área de saneamento é, portanto, usuária dos recursos

hídricos, evidenciando que não é possível pensar na gestão de tais recursos

sem considerar a necessidade de equacionar o problema de saneamento

básico no Brasil.

Os temas e interesses comuns tratados pelas duas áreas, recursos

hídricos e saneamento, enquanto estrutura do aparelho de Estado, são: a

outorga para uso e para lançamento de efluentes, a proteção de mananciais,

o monitoramento da qualidade da água, a pesquisa hidrológica e

hidrogeológica, o licenciamento ambiental de obras hidráulicas, o controle

social sobre o uso da água, a atuação dos comitês de bacias e programas de

economia de água, dentre vários outros. (MMA, 2006, p. 59).

Esse processo está expresso na política nacional de recursos hídricos

e no sistema nacional de gestão dos recursos hídricos, que se pautam no

conhecimento das potencialidades e dos limites dos recursos hídricos,

propondo uma série de inovações para dar conta da realidade brasileira,

entre elas: (i) a formação de unidades de planejamento e gestão (nível das

bacias hidrográficas), (ii) a criação dos comitês de bacia, (iii) a perspectiva de

cobrança pelo uso da água e (iv) a questão da regulação do saneamento.

Para tal fim, utilizam-se da articulação entre as lideranças regionais do

Estado, dos municípios e da sociedade civil, como os conselhos municipais,

os consórcios intermunicipais e os comitês de bacia hidrográfica, e, no

Paraná, os comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa com o

objetivo de superar e/ou enfrentar os desequilíbrios ambientais.

O direito humano a água tem repercussão principalmente a nível

internacional porque seu reconhecimento pretende combater uma das

principais manifestações da pobreza no mundo. Segundo dados da ONU

(2010), são mais de 900 milhões de pessoas que não têm acesso a água

potável e 2,5 bilhões de pessoas não têm saneamento básico, e cerca de

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1,5 milhão de crianças menores de 5 anos morrem a cada ano por causa de

doenças vinculadas à água e ao saneamento.

A discussão contemporânea coloca que os serviços públicos em geral,

e os de água em particular, devem assumir uma nova perspectiva, a do

acesso a água como direito humano e não como mero bem econômico8, bem

meramente sujeito às regras do mercado.

Essa perspectiva, ao contrário da política em curso, exige o

reconhecimento da água como bem público, universal e comum, o que

reforça o papel do Estado em relação às obrigações de administração,

assegurando a proteção da água e dos ecossistemas aquáticos com base

em princípios de equidade e de sustentabilidade, bem como, em relação à

necessidade de manter sob propriedade e gestão públicas e sem fins

lucrativos os serviços públicos de água e saneamento como condição

indissociável da coesão social e territorial do país e do acesso de todos a

água como direito de cidadania.

Ao tomar os territórios ambientais e ocupados, faz-se necessário

entender esse conjunto que é uma unidade de planejamento como uma

bacia hidrográfica. É frequente no meio urbano, a aplicação de medidas

pontuais, isto é, parciais, voltadas aos córregos e afluentes, sem conectá-los

à bacia hidrográfica, o que termina por agudizar e não superar, por exemplo,

problemas de enchentes, exceto com manejo a montante ou a jusante, ou

em um trecho sem considerar a condição de seu deságue. É a típica postura

de quem separa engenharia de geografia e meio ambiente, sem manejo e

gestão ambiental.

Território é entendido por Santos (2010) como o espaço habitado, fruto

da interação entre os homens e síntese das relações sociais, historicamente

definido. Território corresponde ao seu uso e forma de apropriação, ocupado

e transformado; um lugar de negociações e dominação; de conflitos e

contradições; de revoltas e resistências, de continuidades e rupturas, que

8 O processo de mercantilização da água tem causado uma série de alterações no trato, na discussão e nos encaminhamentos referentes à temática a nível mundial e nacional.

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39

expressa as práticas sociais e os significados atribuídos pelos diferentes

sujeitos que nele habitam. A territorialidade extrapola as relações de poder

político, os simbolismos dos diferentes grupos sociais e envolve, ao mesmo

tempo, os processos econômicos centrados em seus agentes sociais.

O território significa objetos, ações e a constituição de redes, e pode

ser compreendido como sinônimo de espaço geográfico socialmente

organizado e ainda destaca a importância da natureza (elemento do

território) e a abordagem territorial como um caminho para se elaborar e

atuar em projetos de desenvolvimento local. (SANTOS, 1996, p. 51).

Quando se fala da água, as divisões geográficas e políticas definidas

pela sociedade (como municípios, estados e países) e que impõem barreiras

não comportam a dinâmica da natureza. Assim, portanto, para gerenciar e

resolver conflitos da água sem fronteiras, a partir da década de 1970 o Brasil

adotou o critério da bacia hidrográfica para a gestão dos recursos hídricos,

critério pautado no modelo francês, que passou a ser difundido e consolidado

no país.

Entende-se por bacia hidrográfica uma área de grande superfície,

formada por um conjunto de terras por onde corre um rio principal e seus

afluentes, incluindo cabeceiras ou nascentes, divisores de água, cursos

d′àgua principais, afluentes e subafluentes, entre outros. É também o “[...]

espaço que recolhe a água das precipitações pluviais, de acordo com as

características fisiográficas e ecológicas do solo, armazena e distribui as

águas.” (VIEIRA, 2006, p. 19).

A gestão dos recursos hídricos por bacia hidrográfica define a

dimensão territorial da questão ambiental (espaço geográfico) de atuação

para promover o planejamento regional, o desenvolvimento e o intercâmbio

entre regiões com interesses comuns, ou entre as que disputam o direito de

utilizar a água para determinado fim. Diz respeito, também, “[...] a

necessidade de proteger e conservar as fontes de água e tudo o que se

relaciona a elas (solo, florestas, matas ciliares, seres vivos, entre outros,

atividades econômicas e de ocupação do solo) num determinado ambiente

físico promovendo a discussão de soluções com diferentes setores e

pessoas.” (SILVEIRA, 2006, p. 20).

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40

A bacia hidrográfica, como uma unidade física desse meio, está sendo

tratada, em várias políticas internacionais e nacionais, como ideal para

manejo e gestão ambiental, porque se mostra eficaz para o trabalho

interdisciplinar e para a busca de alternativas aos problemas.

Na bacia, as relações entre o clima, o solo, os organismos e as

atividades humanas são facilmente visualizadas e passíveis de serem

estudadas. O solo é um dos elementos importantes, pois é devido à sua

distribuição na bacia e à sua grande interação com os recursos hídricos que

as atividades humanas são regidas, e os efeitos dos usos inadequados dos

solos podem ser percebidos, através do carreamento de partículas na

estação chuvosa. A água que não infiltra, pela redução da cobertura vegetal,

ganha energia ao se concentrar, provocando erosão.

A cobertura vegetal tem como atributos e/ou funções nas áreas

marginais aos cursos d´água a regularização de sua vazão e o impedimento

físico da erosão, inibindo o processo de assoreamento, garantindo o

equilíbrio do microclima, a qualidade da água, a formação de corredores

naturais (deslocamento de espécies da fauna e da flora para a garantia da

biodiversidade), bem como, retendo os resíduos (barreira natural de

agrotóxicos, evitando a poluição da água). São as chamadas Áreas de

Preservação Permanentes (APPs), ou seja, áreas nas quais a vegetação não

pode ser suprimida, conforme determina o Código Florestal Brasileiro 9

(1965).

Nas áreas onde ocorreu a supressão, o Código Florestal estabelece a

obrigatoriedade da recuperação, por parte do proprietário ou do Poder

Público. Ao longo do processo, o Ministério Público (MP) tornou-se um

defensor no processo de recuperação das áreas de preservação

permanentes, órgão que passou, de acordo com Rossi & Schiavetti (apud

SCHIEL et al., 2003, p. 96), “[...] a partir de 1985, a exercer a defesa dos

interesses difusos e coletivos, tanto por ações civis públicas quanto por

ações populares.” Assim, portanto, a conservação dos recursos depende da

organização comunitária e o interesse da comunidade para tal fim, podendo

9 Código Florestal Brasileiro criado pela Lei nº 4.771/1965, de 15 de setembro de 1965.

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41

recorrer ao Ministério Público para que garanta os direitos de toda a

coletividade, sendo que estabeleceu a bacia hidrográfica como referência

para tal fim.

1.1 A Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III

A bacia hidrográfica do Rio Paraná III, conjuntamente com as bacias

do Grande do Iguaçu, do Paranaíba, do Paranapanema e do Tietê, formam a

Região Hidrográfica do Paraná, que possui uma área de 879.860 km² (10%

do território nacional) e abrange os estados de São Paulo, Paraná, Mato

Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Distrito Federal, com a

seguinte distribuição:

Gráfico 1 – Área dos Estados na Bacia Hidrográfica do Paraná

Fonte: PNRH, 2006, dados organizados pela autora.

A vazão média da região corresponde a 6,4% do total do país. Essa

região originalmente apresentava os biomas de Mata Atlântica e Cerrado, e

cinco tipos de cobertura vegetal: Cerrado, Mata Atlântica, Mata de Araucária,

Floresta Estacional Decídua e Floresta Estacional Semidecídua. O uso do

solo na região passou por grandes transformações ao longo dos ciclos

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42

econômicos do país (agropecuária, pastagens, lavoura, parque industrial),

que ocasionaram um grande desmatamento e ocupação (PNRH, 2006).

Uma característica que marca a Região Hidrográfica do Paraná é a de

que dela faz parte a Bacia Hidrográfica do Paraná III cujo uso principal é o

energético, ou seja, segundo dados do Plano Nacional de Recursos Hídricos

(2006), a região toda possui a maior capacidade instalada de energia do país

(59,3% do total nacional), assim como a maior demanda (75% do consumo

nacional). Existem 176 usinas hidrelétricas na região, com destaque para

Itaipu, Furnas, Porto Primavera e Marimbondo. Não existe disponibilidade de

novos aproveitamentos hidrelétricos de grande porte nos rios principais,

ocorrendo atualmente uma tendência de desenvolvimento de projetos de

pequenas centrais hidrelétricas em rios de menor porte.

O uso energético demanda quantidades de água muito maiores que o

abastecimento das cidades ou quaisquer outros usos. Como para o uso

energético não há necessidade de um padrão rigoroso de qualidade (desde

que não seja água excessivamente corrosiva), ele é conflitante com outros

usos. O crescimento industrial e a elevação do nível de conforto e

modernidade exigem um crescimento desproporcional do fornecimento de

energia em relação ao crescimento demográfico. Daí a prioridade que tem

merecido, em geral, o fator energia no planejamento das bacias

hidrográficas, portanto, conciliar usos distintos requer a delimitação de

prioridades, através de um rigoroso planejamento.

A bacia hidrográfica pode ser entendida como uma unidade de

planejamento integrada em sua concepção de gestão de recursos hídricos no

meio ambiente, uma vez que tem papel primordial na sobrevivência do

homem no planeta e orienta os programas e projetos ambientais. O Conselho

Nacional de Recursos Hídricos10 (CNRH) e a Agência Nacional de Águas

(ANA), através da Resolução CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003,

definiram as 12 principais regiões hidrográficas brasileiras: Amazonas,

Tocantins-Araguaia, Atlântico NE Ocidental, Parnaíba, Atlântico NE Oriental,

10

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos será detalhado no capítulo 2.

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São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sudoeste, Paraná, Paraguai,

Uruguai, Atlântico Sul (ANA, 2008).

Tabela 3 – Regiões Hidrográficas Brasileiras e suas áreas

Região Hidrográfica Área

(km²)

% do Brasil

Amazônica 3.843.402 45,0

Tocantins-Araguaia 967.060 11,3

Paraná 879.860 10,3

São Francisco 638.323 7,5

Atlântico Leste 374.677 4,4

Paraguai 363.447 4,3

Parnaíba 334.113 3,9

Atlântico NE Oriental 287.348 3,4

Atlântico NE Ocidental 254.100 3,0

Atlântico Sudeste 229. 972 2,7

Atlântico Sul 185.856 2,2

Uruguai 174.612 2,0

Brasil 8.532.770 100

Fonte: PNRH-DBR (2005) (Grifo Nosso)

A região hidrográfica do Paraná apresenta cerca de 30% das

demandas nacionais por água para usos consuntivos11, concentra mais de

32% da população brasileira – mais que o dobro da segunda mais populosa,

que é o Atlântico Sudeste. Possui, porém, menos que 7% da disponibilidade

hídrica do Brasil, evidenciando potenciais situações de escassez ou conflitos

entre usos múltiplos da água. Além disso, é responsável por mais de 40% do

PIB brasileiro, apresenta o maior e mais desenvolvido parque industrial

nacional e diversificadas atividades agropecuárias, o que apresenta relação

direta com os usos da água e potenciais impactos negativos, qualitativos ou

quantitativos (IBAMA, 2006).

11

Os usos consuntivos, isto é, que consomem água e, portanto, reduzem a disponibilidade hídrica, correspondem essencialmente ao uso da água na indústria, na agropecuária (irrigação e dessedentação animal) e no setor doméstico (urbano e rural). (MMA, 2007).

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44

As concentrações populacionais impõem um dos maiores desafios da

região, que é o gerenciamento e a gestão de áreas altamente urbanizadas e

povoadas, com evidentes interferências na qualidade das águas, degradadas

pelas atividades antrópicas, bem como situações potenciais de escassez

(grandes demandas em relação às disponibilidades de água existentes).

Decorrente disso ocorre uma série de problemas sociais, como: perdas nas

redes de água e formas diversas de desperdício; problemas de drenagem

urbana e situações de inundação; necessidade de proteção ou recuperação

da cobertura vegetal e dos mananciais; gerenciamento de resíduos sólidos;

entre outros.

Constituem-se ainda um desafio na Região Hidrográfica do Paraná as

cargas poluidoras de origens diversas: “doméstica; industrial; postos e

sistemas retalhistas de combustíveis; veículos automotores; sistemas de

saneamento in situ; cargas difusas, incluindo o uso de produtos agroquímicos

e fertilizantes, erosão e assoreamento, etc.” (IBAMA, 2006). Do outro lado,

destacam-se também as ações que contribuem para a preservação, como os

sistemas de tratamento de efluentes líquidos e gasosos; a disposição

adequada de resíduos sólidos; o gerenciamento e a recuperação de áreas

contaminadas ou degradadas; o manejo do uso do solo; e o gerenciamento

de resíduos, com práticas que priorizam a redução na geração, a reciclagem

e o reuso.

O Rio Paraná possui uma extensão de 2.570 km até sua foz, extensão

que, somada aos 1.170 km do próprio Rio Paranaíba, seu afluente principal,

totaliza 3.740 km, sendo o terceiro rio mais extenso das Américas. (PNRH,

2006).

A bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação da

Política Nacional de Recursos Hídricos, política de que o órgão coordenador

e formulador é a Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio

Ambiente (SRH/MMA). Os instrumentos da política são estabelecidos pelo

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).

O gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III pauta-se no

Plano Estadual de Recursos Hídricos, que, segundo a Secretaria Estadual do

Meio Ambiente e Recursos Hídricos (2007), constitui-se em uma bacia

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45

peculiar em termos de uso e de conservação dos recursos hídricos nos 28

municípios12 de sua abrangência direta na região oeste no Estado do Paraná

e o município de Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul. Sua área de

drenagem é de 8.000 km² e contribui para o potencial energético da maior

hidrelétrica do mundo e passa a desafiar o coletivo dos atores sociais no

planejamento e na gestão do uso múltiplo ou social dos recursos hídricos e

naturais além dos limites do reservatório da Itaipu Binacional13, tanto no lado

brasileiro como paraguaio. Trata-se de uma realidade geopolítica e de gestão

ambiental que reflete as consequências e as responsabilidades nacionais e

internacionais, como a poluição sem fronteiras, a degradação dos

ecossistemas e o uso dos recursos naturais disponíveis. Na sequência

apresenta-se em mapa a visualização da Bacia do Paraná III.

A gestão dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III

centra-se em desafios públicos postos à coletividade quanto às frágeis

condições de sustentabilidade dos recursos hídricos no Planeta Terra no

início do século XXI, bem como das práticas individuais imprescindíveis para

se assegurar a gestão ambiental integrada desse recurso natural, a água,

como um direito humano e bem público, finito e vulnerável, segundo o que

preconiza tanto a Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005, quanto o

preconizam as políticas ambientais brasileiras e a Agenda 21.

12

Municípios do Paraná: Altônia, Cascavel, Céu Azul, Diamante do Oeste, Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itaipulândia, Matelândia, Marechal Cândido Rondon, Maripá, Medianeira, Mercedes, Missal, Nova Santa Rosa, Ouro Verde do Oeste, Pato Bragado, Quatro Pontes, Ramilândia, São José das Palmeiras, São Pedro do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Santa Helena, Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha do Itaipu, Toledo, Terra Roxa e Vera Cruz do Oeste. (www.sema.gov.br/2007).

13 O Lago Binacional de Itaipu, formado em 1982, com orla de 1.350 km

2 e largura média de 7

km, vem assegurando estrategicamente a produção de energia elétrica para o Brasil (em torno de 25%) e para o Paraguai (em torno de 95%), estimada em 14.000 MW. O lago binacional acompanha o território lindeiro brasileiro localizado no extremo oeste do Paraná, composto por 15 municípios, e a partir de 2003 teve sua atuação ampliada para os 28 municípios que compõem a bacia do Rio Paraná III. (ROESLER, 2002).

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MAPA 1 – Bacia do Paraná III

Fonte: Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

(SEMA/PR), 2009.

A diversidade de exigências constitui a causa evidente de conflitos

quando uma mesma fonte de água é utilizada para fins diversos como é o

caso da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III. Por outro lado, é evidente que,

prestando-se a água a uma multiplicidade de usos, os recursos hídricos

demandam um cuidadoso planejamento de maneira a permitir o seu uso

múltiplo permanente. De acordo com Porto (1991, p. 3), “[...] do ponto de

vista puramente qualitativo, pode-se intuir que a condição natural do curso

d’água constitui a condição mais favorável ao uso [...]”, por reduzir custos e

investimentos nas formas de tratamento, a fim de estabelecer o padrão de

qualidade exigido a determinados usos. Isso, no entanto, não ocorre de

imediato, pois há divergências instituídas quanto ao padrão de qualidade

para os diversos fins.

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47

As exigências quanto ao grau de pureza absoluta ou relativa variam

com o emprego que será feito da água. Essa qualidade varia, pois, de uma

água destinada às necessidades ligadas aos processos biológicos, à água

necessária à navegação, à operação de energia elétrica, à refrigeração de

máquinas, aos processos químicos industriais e construtivos, à limpeza de

ruas e ao transporte de dejetos e resíduos em geral. Assim, portanto, a

expressão qualidade da água não se refere a um grau de pureza absoluto, e

sim “[...] a um padrão tão próximo quanto possível do natural, isto é, da água

tal como se encontra nos rios e nascentes, antes do contato com o homem

[...]”, condição que deve ser mantida através de políticas de preservação.

Nesse sentido, o termo qualidade não é mais empregado com o “[...]

significado de característica ou de propriedade da substância em questão,

mas passa a ser usado como o sentido de mérito, grau ou valor.” (PORTO,

1991, p. 4, grifo nosso).

O uso de água potável é tomado como o mais nobre, e nele existem

variações extremas de tolerância às impurezas. Prioriza-se então um

patamar mínimo de qualidade do manancial, pois o sistema de tratamento a

que será submetida, dependendo do processo e da instalação empregados,

torna-se inviável, daí a necessidade de se estabelecerem políticas de

preservação dos mananciais, como: levantamentos sanitários, zoneamento

preventivo, disciplinamento do uso do solo nas bacias hidrográficas, medidas

de interceptação, derivação ou tratamento de águas residuárias ou poluídas,

entre outros.

O conjunto de ações e interferências diretas e indiretas sobre a

qualidade da água de um manancial caracteriza um estado geral que recebe

a denominação de poluição14 das águas. A obrigatoriedade da preservação

da qualidade da água em todo o território nacional está estabelecida pela

14

A palavra “poluição” deriva do latim polluere, que significa manchar, sujar. O termo "contaminação", costuma ser empregado como sinônimo de poluição, especialmente pelos países de língua espanhola da América Latina. Este último termo provém da palavra latina contaminare, cujo significado é misturar ou também infectar, sujar, manchar. O seu uso com o sentido de “infectar por contato” é muito consagrado pela literatura médica e microbiológica. Por isso alguns autores aplicam o vocabulário somente aos efeitos diretos de contágio através da água e não aos aspectos dinâmicos, ecológicos, da poluição. (PORTO, 1991, p. 14).

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Constituição Federal, de 1988, como consequência do artigo 225, que

estabelece o preceito da proteção ao meio ambiente e referenda alguns

ecossistemas considerados mais importantes, os recursos hídricos e os

recursos naturais. Já os artigos 20 ao 24 apontam em alguns de seus

incisos a importância, o gerenciamento e a necessidade da preservação dos

recursos hídricos em todo o território nacional, sob a responsabilidade da

União, reforçando o processo descentralizado e participativo da política

hídrica. (BRASIL, 1988).

Para subsidiar as ações de conservação da qualidade das águas, no

Estado do Paraná foi criada em 1992, a Secretaria de Estado do Meio

Ambiente e Recursos Hídricos15 (SEMA/PR), que tem por finalidade formular

e executar as políticas de meio ambiente, expressa nas políticas de recursos

hídricos, política florestal, política cartográfica, política agrária e fundiária e

política de saneamento ambiental. Ligada a essa Secretaria de Estado está a

entidade autárquica denominada Instituto Ambiental do Paraná (IAP),

responsável pela fiscalização e pelo cumprimento das normas federais e

estaduais de proteção ambiental, impondo as respectivas sanções

administrativas, penalidades, apreensões e embargo mediante instrumentos

próprios, tendo a sua ação organizada de forma descentralizada através de

escritórios regionais e locais em território paranaense.

A SEMA/PR tem utilizado os instrumentos de outorga e licenciamento

das atividades potencialmente poluidoras. Como estratégia geral, implantou

um sistema de monitoramento da qualidade das águas baseado no conceito

de cargas poluentes, o que possibilita usar as informações existentes,

complementando-as de modo a adequar a rede de coleta às necessidades

de representatividade, seleção de variáveis e frequência amostral, de modo a

possibilitar o efetivo controle e redução das cargas poluentes geradas na

área de drenagem (rios tributários16) da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III.

15

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA/PR) foi criada pela Lei Estadual nº 10.066/1992, regulamentada pelo Decreto nº 1.502, de 4 de agosto de 1992 e, posteriormente, pela Lei Estadual nº 11.352, de 13 de fevereiro de 1996.

16 Os rios tributários da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III: Rio São Francisco Falso e Rio São Francisco Verdadeiro, Rio Ocoí, Rio Taturi, Rio Guaçu, Rio Chororó, Rio Dois Irmãos, Rio Pinto, Rio São Vicente e Rio Passo Cuê. (SEMA/PR, 2009).

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O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos constitui-

se a partir da articulação de três níveis institucionais distintos, com

identidades e instrumentos próprios de atuação. São eles (PARANÁ, Água:

s/d):

primeiro, a instância que concentra as atividades de

planejamento estratégico e a condução política do processo: o

Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/PR), a

Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

(SEMA) e a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos

Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA);

segundo, colegiados de âmbito e identidade regionais, com

o encargo de cotejar e convergir os interesses dos usuários frente

ao interesse público mais amplo, mediante a análise e aprovação

dos Planos de Bacia: os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH);

terceiro, braços executivos do Sistema, inicialmente

previstas como Unidades Executivas Descentralizadas, na lei

federal admitidas apenas como Agências de Bacia Hidrográfica, e,

no caso paranaense, flexibilizadas para também acolher

prioritariamente as Associações de Usuários de Recursos

Hídricos e os Consórcios Intermunicipais, e atualmente propostas

como Agências de Bacias Hidrográficas, cujas funções e

competências foram assumidas pela SUDERHSA.

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos17 (CERH/PR) foi instituído

em 2001. Suas principais atribuições são estabelecer princípios e diretrizes

da política estadual para os planos de bacias e plano estadual de recursos

hídricos; aprovar a proposição do plano estadual de recursos hídricos;

aprovar a proposição de comitês de bacia; arbitrar e decidir conflitos entre

comitês de bacia; estabelecer critérios e normas gerais para outorga dos

17

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos foi criado pela Lei Estadual nº 12.726, de 26 de novembro de 1999. Depois foi regulamentado pelo Decreto Estadual nº 2.314, de 17 de julho de 2000 e instituído pelo Decreto Estadual nº 4.320, de 28 de julho de 2001.

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direitos de uso e cobrança dos recursos hídricos. Esse item será detalhado

no Capítulo 2.

A Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e

Saneamento Ambiental (SUDERHSA18), criada em 1996, passou a funcionar

como Agência Estadual de Águas e órgão gestor do sistema, assumindo as

seguintes funções a partir de 2004: Secretaria Executiva do CERH/PR; a

responsabilidade da emissão da outorga de lançamento de efluentes em

corpos hídricos; a construção do Sistema Estadual de Informações de

Recursos Hídricos; a gestão do Fundo Estadual de Recursos Hídricos; a

elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos; e o apoio à

implementação do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (PARANÁ, 2009).

Tabela 4 - Fases históricas da criação da SUDERHSA

SUCEAM SUREHMA

Anos 40: Departamento de Obras Especiais

(DEOE)

1948: Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE)

1976: Superintendência de Controle de Erosão (SUCEPAR)

1973: Administração de Recursos Hídricos

(ARH)

1987: Superintendência de Controle de Erosão e Saneamento Ambiental (SUCEAM)

1978: Superintendência de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SUREHMA)

1992 – SUREHMA + ITCF19

= IAP

1996 – SUCEAM + RECURSOS HÍDRICOS DO IAP = SUDERHSA

Fonte: IAP, 2009.

A SUDERHSA é, conjuntamente com os 16 Comitês de Bacias

Hidrográficas20, responsável pela gestão das políticas hídricas, disciplinando

e regulando os usos e cobrando dos usuários das águas pelo seu aporte de

18

A SUDERHSA foi criada pela Lei Estadual nº 11.352, de 13 de fevereiro de 1996. Depois foi regulamentada pelo Decreto Estadual nº 2.315, de 17 de julho de 2000, e passa a ter um novo regulamento a partir da publicação do Decreto Estadual nº 3.619/2004.

19 Instituto de Terras, Cartografia e Florestas (ITCF) foi instituído em 1985 (IAP, 2009).

20 Os comitês de bacia hidrográfica serão apresentados no Capítulo 2.

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consumo ou pelo exercício de atividades degradadoras da sua qualidade,

pautando-se na PERH/1999, que criou o fundo estadual de recursos hídricos

e constituiu o sistema de gerenciamento e disciplinamento dos diversos usos

de água21 no território paranaense. Os instrumentos da Política Estadual de

Recursos Hídricos22, são:

o Plano Estadual de Recursos Hídricos;

o Plano de Bacia Hidrográfica;

o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os

usos preponderantes da água;

a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

a cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos;

o Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos.

TABELA 5 - Instrumentos de gestão de bacias hidrográficas

INSTRUMENTO OBJETIVO

Planos de Bacia Hidrográfica Fundamentar e orientar a gestão de recursos hídricos na Bacia Hidrográfica

Enquadramento dos corpos d’água em classes segundo os usos preponderantes da água

Assegurar às águas qualidade compatível com os usos e diminuir os custos de combate à poluição das águas mediante ações preventivas permanentes

Outorga de direitos de uso de recursos hídricos

Garantir o controle quantitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água

Cobrança do uso de recursos hídricos

Incentivar a racionalização do uso da água e obter recursos financeiros para o financiamento dos programas de intervenções contemplados nos Planos de Recursos Hídricos

Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

Armazenar dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos para caracterizar a situação da Bacia.

Fonte: PEREIRA (apud ROORDA, 2005, p. 42).

21

Os usos da água foram regulamentados pelo Decreto Estadual nº 2.315, de 17 de julho de 2000.

22 Os instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, instituídos pela Lei Estadual nº 12.726/1999 em seu capítulo V, artigo 6º, assemelha-se aos instrumentos instituídos pela Lei Federal nº 9.433/1997 em seu capítulo IV, artigo 5º.

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O modelo de gestão proposto visa dar conta do contexto em que o

Estado do Paraná se insere. Este tem uma área territorial de 199.324 km²,

área que, a rigor, possui apenas duas bacias hidrográficas, separadas pela

Serra do Mar. A leste da Serra do Mar está a Bacia Atlântica ou Litorânea, e

a oeste está a Bacia do Rio Paraná, que faz parte da Bacia do Prata23. Como

forma, de facilitar os estudos e o gerenciamento dos recursos hídricos do

Estado, foi dividido em 16 bacias hidrográficas, apresentadas na tabela

abaixo:

Tabela 6 - Bacias hidrográficas do Estado do Paraná

Bacia Área (km²)

Bacia Área (km²)

Cinzas 9.714 Paranapanema I 1.252

Iguaçu 55.352 Paranapanema II 699

Itararé 5.216 Paranapanema III 3.765

Ivaí 36.796 Paranapanema IV 4.172

Litorânea 5.798 Piquiri 24.867

Paraná I 1.339 Pirapó 5.052

Paraná II 2.840 Ribeira 9.179

Paraná III 8.435 Tibagi 24.848

Fonte: SUDERHSA, 2009

Como aporte financeiro para implementar o modelo de gestão por

bacia hidrográfica no Estado do Paraná, além dos recursos próprios e dos da

Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), o governo estadual

utilizou parte do recurso que foi obtido junto ao Banco Internacional para a

Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) para o desenvolvimento do

Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana

23

A Bacia Hidrográfica do Rio da Prata, ou Rio da Prata, tem origem no encontro dos Rios Paraná, Uruguai e Paraguai, na fronteira entre a Argentina e Uruguai. A bacia tem uma superfície de aproximadamente 1.397.905,5 km² e é a segunda maior do país, estendendo-se entre Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina. Disponível em: <http://www.portalbrasil.net/brasil_hidrografia.htm>. Acesso em: 23/nov./2009.

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(PROSAM/PR24), o que possibilitou a contratação de estudos e serviços de

consultoria que colaboraram nesse processo de construção. Como resultado,

destaca-se a aprovação da Política Estadual de Recursos Hídricos, além da

melhoria da qualidade ambiental e a recuperação ambiental na região

metropolitana de Curitiba. (ROORDA, 2005, p. 21).

O modelo de gestão dos recursos hídricos proposto no Paraná segue

as linhas gerais expressas pelo Sistema Nacional de Gerenciamento dos

Recursos Hídricos, apresenta algumas peculiaridades:

cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos;

apresenta fatores a serem observados no cálculo da cobrança pelo

direito de uso de recursos hídricos;

apresenta um capítulo específico sobre águas subterrâneas;

prevê, para o exercício das funções de Agências de Bacia

Hidrográfica, as Unidades Executivas Descentralizadas; e

isenta as captações destinadas à produção agropecuária da

cobrança pelo direito de uso da água.

O Fundo Estadual de Recursos Hídricos tem garantido ao Estado do

Paraná, através da legislação vigente, o retorno dos recursos arrecadados

com a cobrança pelo uso da água em 92,5% para a área de abrangência do

comitê de bacia onde foram originados, sendo que se respeita o percentual

mínimo de 80% no financiamento de estudos, programas, projetos e obras

inclusas no plano de bacia hidrográfica. Os 7,5% restantes são destinados ao

pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos

e entidades integrantes do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos

Hídricos. Já a isenção da cobrança das captações destinadas à produção

agropecuária tem originado inconsistência e incorreção frente à Lei Nacional

e às de todos os demais Estados, além de problemas para a aplicação de tal

dispositivo em razão da existência de diferentes domínios (federal e

24

Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana (PROSAM/PR), foi firmado através do contrato de empréstimo nº 3.505/BR, realizado no período de 1993 a 1998, que previa, em seu plano de aplicação dos recursos, o subcomponente específico para a “Estruturação da Base de Gestão dos Recursos Ambientais.”

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estadual) na mesma bacia hidrográfica. Ocorre, porém, que essa isenção

resultou de um processo político de negociação com a Poder Legislativo.

(SEMA/PR, 2009).

Pode-se dizer que a outorga25 é um instrumento que tem como

objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água; e o

direito de acesso a água, caracterizado por uma habilitação para o seu uso.

A garantia do uso ou da disponibilidade da água efetiva-se pelo exercício da

gestão integrada dos recursos hídricos em nível de bacia hidrográfica. A

implementação da outorga demanda do sistema de informações os dados

relativos à disponibilidade hídrica e de qualidade, os quais, juntamente com o

cadastro de usuários, constituem insumos fundamentais para seu exame e

concessão.

A outorga também expressa a transformação da água, que é um bem

gratuito, em um bem econômico, principalmente quando começa a se tornar

escassa a água potável e que, “[...] pelo seu caráter de bem essencial tanto

para o consumo humano direto como para os processos produtivos, exige

formas colaborativas de regulação dos seus usos”. A água obedece à lei de

oferta e procura, e sua escassez a tornará, com certeza, um recurso muito

valioso. A cobrança pelo seu uso começou a ser discutida a partir do final da

década de 1990, atribuindo valor àquilo que até pouco tempo atrás parecia

não ter nenhum, devido a posturas enraizadas na cultura da população. A

poluição da água reduz o acesso de todos, e torna mais lucrativa a

apropriação, gerando um círculo vicioso. (DAWBOR, 2008, p.128).

O próprio Banco Mundial (2002, p.100), propõe que a sustentabilidade

da água no Brasil deve pautar-se no seu processo de privatização, além da

25 A outorga expressa também a internalização das externalidades que, segundo Pigou (1920),

citado por Rocha (2004), partiu do princípio de que todos os efeitos involuntários das atividades produtivas, tanto individuais como empresariais, são denominados externalidades. Por sua vez, estas poderão ser positivas, mesmo que raras, quando beneficiam a outros, e negativas, mais habituais, quando prejudicam (ROCHA, 2004, p. 4 e 8). Assim, propõe que o Estado assuma as regulamentações e/ou impostos que corrijam ou compensem as externalidades negativas, ou seja, “internalizar as externalidades”. Esse método ficou conhecido como o princípio do poluidor pagador.

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gestão descentralizada e comunitária das bacias hidrográficas, pois entende

que os direitos de suprimento de água, ao estarem definidos e cumpridos,

haverá pressões para a implantação de melhorias na gestão, uma vez que os

detentores de direitos sobre a água têm fortes interesses em sua

sustentabilidade. O preço da água promove a operação sustentável da

infraestrutura, posição essa que indica a visão privatista do órgão, e que foi

expressa na política nacional de recursos hídricos.

1.2 Política Nacional de Saneamento Básico

O saneamento básico compreende o abastecimento de água, o

esgotamento sanitário, a limpeza urbana e a drenagem. Essa concepção

relaciona os padrões sanitários à saúde pública, bem como, o controle social

e a cidadania. Com isso, busca-se estabelecer parâmetros para o que se

denomina de qualidade de vida urbana.

A qualidade de vida vincula-se aos chamados direitos de segunda

geração, os diretos sociais e econômicos conquistados no século XX a partir

do movimento operário e sindical, tais como: direito ao trabalho, à saúde, à

educação, aos meios de bem-estar social, que tornam reais os direitos

formais, conquistados a partir do século XVII. (VIEIRA & BREDARIOL, 1998).

A fim de garantir a qualidade de vida urbana, o poder público deve

garantir a prestação dos serviços de saneamento ambiental observando os

princípios que objetivam a concretização da cidadania, através da

universalização do acesso, da equidade, da participação, do controle social e

da adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as

peculiaridades locais e regionais.

O saneamento ambiental, segundo o manual de saneamento da

FUNASA (2004), é o conjunto de ações socioeconômicas que têm por

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objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental26, por meio de

abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos

sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo,

drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e

obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições

de vida urbana e rural. Esse conceito foi incorporado e reapresentado pela

política de saneamento básico, deixando de lado, porém o controle de

vetores.

O saneamento27 é o controle de todos os fatores do meio físico do

homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem-

estar físico, mental ou social (MMA, 2006). Além dos recursos hídricos, o

saneamento mantém interface com outras políticas, como: a política

ambiental (aparato legal e conselhos de meio ambiente); a política urbana

(infraestrutura, planejamento, desenvolvimento e conselho da cidade); a

política agrária (política de assentamentos); no setor de transporte e tráfego

urbano (planejamento viário e sua relação com os vales urbanos); no setor

educacional (estratégias de educação sanitária e de saúde); e no setor de

saúde (instrumentos legais e conselhos de saúde).

A quantidade de água/dia por pessoa, recomendada pela Agenda 21

(2000), é de 40 litros de água tratada, no entanto temos uma desigualdade

na distribuição e consumo das águas tratadas no país. A escassez de água,

a contaminação dos mananciais e as enchentes representam as maiores

ameaças à saúde e à segurança, em virtude da maneira como são

estabelecidos os processos de apropriação dos recursos ambientais, em

especial aquelas apropriações oriundas das formas vigentes de produção e

consumo; dessa forma, cabe ao Estado estabelecer a política para o setor de

saneamento. Iniciativas ocorreram ao longo dos anos, com limitações em

26

Salubridade ambiental é “[...] o estado de higidez em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover aperfeiçoamento de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem estar.” (FUNASA, 2004).

27 Saneamento significa sanear, ou seja, “tornar saudável”, e cabe aos municípios estabelecer as regras para o abastecimento de água, coleta e destinação adequada do esgoto e do lixo, garantindo menor índice de mortalidade infantil e de outras doenças de veiculação hídrica. (OLIVEIRA, 2004, p. 25).

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diferentes períodos históricos vivenciados no Brasil, até a consolidação da

política de saneamento básico, em 2007.

A escassez de água decorre de três possíveis situações. Na primeira,

sob o ponto de vista do cidadão, a água de qualidade é escassa, mesmo

quando o volume de água seja abundante na natureza, principalmente

quando as comunidades não são servidas por sistema de abastecimento

constituído por estações de tratamento, adutoras e rede de distribuição. Essa

condição prevê a disponibilização de água nas torneiras, bem como coletar e

dar destino adequado ao esgoto que resulta do uso da água. Apenas cerca

de metade dos domicílios brasileiros são servidos por um precário sistema de

coleta de esgoto, constituído por tubulações que conduzem o esgoto bruto de

volta aos rios, em geral sem a necessária remoção da carga poluidora,

causando a contaminação da captação de água. Quanto ao esgoto não

coletado, a maior parte polui os aquíferos subterrâneos ou escoa pelas valas,

com alto risco de disseminação de doenças infecto-contagiosas,

especialmente entre as crianças. A segunda situação de escassez ocorre

quando a quantidade de água é insuficiente para atender ao consumo

doméstico e à produção agrícola, industrial ou energética. E a terceira,

quando a quantidade de água é suficiente, mas de tão má qualidade que não

pode ser utilizada.

O ser humano não consegue viver longe das fontes da água que bebe

e dos resíduos que produz. Essa parece ser uma preocupação que

acompanha as civilizações desde as épocas mais remotas. Os aglomerados

de homens e habitações tendem a produzir acúmulos de lixo, de esgotos e

de outros detritos que favorecem a proliferação de ratos e de insetos e a

poluição dos rios. As doenças transmitidas por esses veículos começaram a

atingir maior número de pessoas, originando as epidemias, e o saneamento

acaba sendo uma necessidade social. A higienização avança com a

organização das cidades, como uma estratégia dos poderes constituídos no

Estado Moderno, principalmente por ter como pano de fundo a questão

sanitária. Os hábitos e as condutas familiares e sociais estabelecem

socialmente o lugar de cada um. As diferenças vão, aos poucos, sendo

demarcadas pelo ideário de higiene e de limpeza que acaba por ordenar e

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classificar os sujeitos e o espaço no qual estão inseridos, apartando

espacialmente o limpo e o sujo. (CESCONETO, 2002).

A água consumida era retirada de rios, sangas, fontes e poços, e

ingerida sem qualquer tipo de tratamento, pois se acreditava que as fontes

eram puras, por isso a filtragem muitas vezes não fazia parte da tradição

cultural. A população sentia-se capaz de manter as fontes potáveis por meio

de tratamento com cal virgem, sal e carvão vegetal, além de protegê-las com

bocais ou tampas, soluções individuais que perduraram por um bom tempo.

Nos centros urbanos, porém, os serviços não poderiam mais ser pensados

de forma individual e sim de forma coletiva, por isso “inicialmente a

construção de fontes e chafarizes em praças públicas que serviam à

distribuição de água à população”, na sequência, o abastecimento por rede,

alcançando um maior número de pessoas, e o descarte dos detritos realizado

através de fossas sépticas ou transportados para as canalizações de águas

pluviais, que, conjuntamente com “a rápida proliferação de indústrias

lançavam seus resíduos nas águas”, contribuíam para agravar o problema de

poluição ambiental. (CAVINATTO, 1992, p. 21).

Essa situação obrigou o homem a procurar soluções de saneamento

para tratar os esgotos sanitários e abastecer os centros urbanos com água

de boa qualidade. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia permitiu que

fontes contaminadas se tornassem potáveis após o tratamento. Hoje existem

métodos diversificados para que o esgoto e o lixo não afetem a saúde e o

meio ambiente.

Ainda segundo Cavinatto (1992), os médicos e sanitaristas tiveram

uma contribuição importante no processo de implantação das medidas de

saneamento no Brasil no século XX, pois, graças à sua atuação política e

técnica, nos anos 30 as capitais já possuíam sistemas de distribuição de

água e coleta de esgotos. Mesmo assim, no entanto, a implementação de

obras de saneamento para servir a população com água potável ou

recolhimento de lixo e esgoto nunca acompanhou o ritmo de crescimento das

áreas urbanas. Em consequência, o quadro de saúde do Brasil ainda

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apresenta sérios problemas decorrentes das doenças de veiculação

hídrica28.

As ações de saneamento estiveram por um longo período articuladas

às de saúde pública29, inicialmente ao Serviço Especial de Saúde Pública

(1947), pois as ações de saneamento visavam à redução dos problemas de

saúde pela higienização ou embelezamento das capitais. Assim, portanto,

sob o ponto de vista histórico, os dados sobre saneamento sempre

apresentaram resultados insatisfatórios, com investimentos irregulares e

insuficientes frente à demanda populacional. Até a década de 60 não havia

uma política de âmbito nacional para o setor. As iniciativas, quando ocorriam,

restringiam-se quase sempre a um local específico, vinculando-se a uma

visão de prestação de serviços públicos.

Com o governo militar instaurado em 64, inaugurou-se uma nova era

no tratamento dado ao setor de saneamento básico. Foi implantado o Plano

Nacional de Saneamento (PLANASA), com características centralizadoras e

autoritárias, o plano perdurou durante décadas no país, comandado por um

corpo de tecnoburocratas cujo plano de metas previa a execução por

empresas públicas estaduais, que se tornaram concessionárias dos serviços

municipais de saneamento. Também foi “[...] estabelecida a fonte de

financiamento do setor, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),

Banco Nacional de Habitação (BNH), determinou que os serviços deveriam

buscar sua própria sustentação financeira, privilegiando a arrecadação por

meio de tarifas, complementada pela política de subsídios cruzados,

praticando-se o modelo tarifário único no âmbito de cada estado.” (MMA,

2006, p. 20).

28

Doenças de veiculação hídrica: diarreia e disenterias (cólera e giardíase), leptospirose, amebíase, hepatite infecciosa, poliomielite, infecção na pele e nos olhos, esquistossomose, malária, febre amarela, febre tifoide, dengue, elefantíase, entre outras. (SNIS, 2009).

29 Saúde pública é a ciência e a arte de prevenir doença, prolongar a vida e promover saúde e eficiência física e mental, através esforços organizados da comunidade para o saneamento do meio, o controle das doenças infecto-contagiosas, a educação do indivíduo em princípios de higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo das doenças e o desenvolvimento da maquinaria social de modo a assegurar a cada indivíduo da comunidade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde. (MORAES & BORJA, 2005, p. 34).

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A revisão e a crítica a esse Plano deu-se pelo reconhecimento da

problemática ambiental, das doenças causadas pela falta de saneamento e

da queda nos investimentos em infraestrutura, bem como da necessidade de

se ajustar à política urbana, principalmente após a aprovação do Estatuto da

Cidade30 em 2001. Esse estatuto estabelece o princípio da “[...] garantia do

direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à

moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e

aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras

gerações.” Pode-se dizer, em síntese, que saneamento é uma necessidade

inserida no âmbito de toda a política urbana.

Em termos político-institucionais, após a extinção do BNH em 1986,

agente financeiro do PLANASA, e aprovação da Constituição Federal em

1988, houve várias iniciativas no sentido de se estabelecer um novo marco

legal e institucional para o saneamento no país, porém sem que resultasse

em um novo modelo claramente definido e com estabilidade frente a

mudanças pelos sucessivos governos federais.

Com a Constituição Federal de 1988 houve o fortalecimento do nível

municipal, que passou a contar com maior autonomia político-administrativa,

sem a correspondente e imediata alocação de recursos para o setor de

saneamento, condições que, apesar do fortalecimento, estão aquém da

proposta desejada de descentralização. As ações não são implementadas a

nível municipal por impossibilidade financeira ou por ausência de vontade

política, além da complexa designação das competências entre os diferentes

níveis de governo.

A proposta de descentralização segue os rumos propostos pela

doutrina neoliberal, pois não houve uma proposta político-institucional que

substituísse o modelo simbolizado pelo BNH, e então as oscilações

acompanham a sucessão dos mandatos governamentais com períodos de

30

O Estatuto da Cidade, criado pela Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, estabelece as normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como, do equilíbrio ambiental.

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“[...] oscilações institucionais anárquicas (período 1985-90), de supervalorização dos agentes privados na determinação dos rumos políticos do setor (período 1990-92), de um nacionalismo com poucos resultados para o setor (período 1992-94), de tentativas sistemáticas e mal sucedidas de ampliação da participação privada (período 1995-2002) e de tentativa de ordenação institucional do setor (a partir de 2003).” (MMA, 2006, p. 22).

Pode-se dizer que se mantiveram os pressupostos básicos do

PLANASA até a aprovação da Lei de Saneamento Básico em 2007, como: as

companhias estaduais e seus contratos de concessão; o princípio da

autossustentação financeira; a ausência do controle social; a valorização do

financiamento das ações de abastecimento de água e de esgotamento

sanitário; a baixa e/ou escassa articulação com as áreas de saúde pública,

recursos hídricos, planejamento urbano, etc.

As iniciativas31 de implementação do processo de descentralização e

municipalização do serviço de saneamento são expressas pela revisão do

PLANASA com início em 1993, com a aprovação legislativa do Projeto de Lei

Complementar nº 199, que dispunha sobre a Política Nacional de

Saneamento e seus instrumentos, que foi integralmente vetado pelo

Presidente Fernando Henrique Cardoso, com a justificativa de ser contrário

aos interesses públicos32, apresentando como alternativa o Projeto de

Modernização do Setor de Saneamento, pautado nas diretrizes neoliberais.

Quanto ao financiamento em 1997, foi aprovada pelo Conselho

Curador do FGTS a criação do Programa de Financiamento a

Concessionários Privados de Saneamento (PFC/SAN), por intermédio do

qual foram disponibilizados, pela primeira vez, recursos desse fundo à

iniciativa privada. Em 1998 foi criado o Programa de Assistência Técnica e

Parceria Público/Privada na gestão dos serviços de saneamento, contando

31

Segundo Saker (2008), em 1996, através do Projeto de Lei nº 266/1996, foi proposta a transferência do poder concedente dos municípios para os Estados, conforme lei complementar, nos termos do parágrafo 30 do artigo 25 da Constituição Federal de 1988, projeto arquivado em 9/42003.

32 Em 1995 foi sancionada, por Fernando H. Cardoso, a Lei Federal n.º 8.987, conhecida como Lei das Concessões, que regulamenta o regime de concessões e permite a prestação de serviços públicos pela iniciativa privada.

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com recursos da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). (MMA, 2006).

No ano de 2001, uma nova revisão do PMSS, através do Projeto de

Lei nº 4147/2001, previa a municipalização da titularidade, ou seja, a

titularidade relaciona-se com a responsabilidade pela bacia hidrográfica, se o

rio (curso d´água principal) for municipal, o município; se estadual, o Estado;

se federal, a União; propôs-se a concessão não onerosa (maior investimento,

menor tarifa), o estabelecimento da tarifa limitada pelo Índice de Preços ao

Consumidor Ampliado (IPCA), ou a um índice setorial de custos; porém a

revisão de titularidade não foi aprovada, retirada de tramitação em 24/5/2005,

apesar da mobilização da Associação Nacional dos Serviços Municipais de

Saneamento (ASSEMAE) e da Frente Nacional de Saneamento Ambiental,

que lutavam para instituir o comando do poder municipal na prestação dos

serviços de saneamento.

Nesse período pode-se dizer que o saneamento foi sinônimo de

política de abastecimento de água e esgotamento sanitário, mais a primeira

que a segunda, dada a sua forma de organização e financiamento, que

pouco avançou no processo de implantação dos sistemas de esgotos

sanitários. Tal escolha política conduziu a algumas consequências sobre os

recursos hídricos, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2006), dentre

elas:

a ênfase em prover a crescente e cada vez mais urbana população com água, conduziu à busca por mananciais que atendessem às demandas, em muitos casos estabelecendo-se conflitos de uso, sobretudo com a agricultura;

mananciais, mais fortemente nas décadas de 1970 e 1980, trouxe muitos problemas, qualitativos e quantitativos, para a própria segurança do abastecimento;

a obsessão pela auto-sustentação financeira dos serviços, a visão da água como um bem econômico e os esforços de concretização desse princípio por meio das iniciativas de privatização tiveram o efeito de provocar a iniqüidade de acesso a este bem público e natural, excluindo dele justamente as camadas mais pobres da sociedade;

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o absoluto descaso com a disposição ambientalmente adequada dos esgotos amplia em muito os impactos sobre os corpos receptores, na medida em que se evolui de uma situação anterior, quando maciçamente os esgotos eram dispostos em sistemas estáticos com infiltração no subsolo, para uma situação em que se incrementa significativamente a extensão de rede coletora de esgotos, sem a correspondente implantação de unidades de tratamento;

o descaso com a implementação de políticas públicas de limpeza pública e de drenagem urbana, a par com o intenso crescimento das cidades, provoca importantes impactos nos recursos hídricos resultantes do carreamento de resíduos sólidos domésticos e seus lixiviados e de enchentes e inundações ditadas pela modificação do uso e ocupação do solo;

problemas de saúde pública decorrentes destes fatores são conseqüência inevitável.

Assim, portanto, a área de saneamento não teve como prioridade a

dimensão ambiental, e também não se observou a superação do

distanciamento com a área de recursos hídricos. Esses fatos denunciam a

falta de definição e de orientação para o setor, pois os estados omitem-se de

suas responsabilidades sob o pretexto de o assunto ser responsabilidade das

companhias estaduais, tendo como perspectiva a visão limitada de

saneamento e amplitude geográfica. A mesma omissão ocorre em alguns

municípios ao não assumirem a responsabilidade pelo saneamento,

principalmente nos que têm contratos de concessão para a área.

Outra tentativa de organização do setor foi no governo Luiz Inácio Lula

da Silva, em 2003, com a criação do Ministério das Cidades, que teve sua

estrutura baseada nos três principais problemas sociais que afetam as

populações urbanas, quais sejam: a moradia, o saneamento ambiental (que

agrega água, esgoto, drenagem e coleta e destinação de resíduos sólidos) e

as questões reunidas sob o tema do transporte da população urbana –

mobilidade e trânsito, que se encontram sob a responsabilidade das

seguintes secretarias: Habitação, Saneamento Ambiental, Transportes e

Mobilidade Urbana, e Programas Urbanos.

A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) pauta-se em

dois eixos estratégicos de atuação, um voltado ao planejamento, formulação

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e implementação da política setorial, respeitando o pacto federativo; outro

relacionado à identificação de fontes de financiamento que busquem

assegurar a contínua elevação dos investimentos no setor; garantindo a

universalização do saneamento, os preços e as tarifas justas, bem como a

qualidade e a regularidade dos serviços mediante o controle social (SNSA,

2009).

O financiamento do setor dá-se mediante o repasse de recursos

federais para os estados e municípios mediante o parâmetro do tamanho da

população. Conforme dados do Ministério das Cidades (2009), os municípios

com população superior a 50 mil habitantes ou integrantes de Regiões

Metropolitanas (RMs), ou Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs)

ou participantes de consórcios públicos afins, recebem recursos da

Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, para atender ao

abastecimento de água, ao esgotamento sanitário e ao manejo de resíduos

sólidos urbanos. Os municípios de menor porte, com população de até 50 mil

habitantes, têm o atendimento viabilizado pelo financiamento do Ministério da

Saúde, via Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Com relação ao

componente manejo de águas pluviais urbanas verifica-se o

compartilhamento de responsabilidades entre Ministério das Cidades e o

Ministério da Integração Nacional, além de intervenções da FUNASA do

Ministério da Saúde em áreas com forte incidência de malária.

Em 2005 ganhou expressão o debate sobre a definição das diretrizes

para os serviços públicos de saneamento básico e a Política Nacional de

Saneamento Ambiental (PNSA). O governo federal encaminhou ao

Congresso o Projeto de Lei nº 5.296/2005 (Saneamento para Todos), o texto

estava dividido em duas partes, a primeira institui as diretrizes para o serviço

de saneamento básico e a segunda dispõe dobre a Política Nacional de

Saneamento (PNS). Esse texto foi convertido, posteriormente, na Lei Federal

nº 11.445/2007. A proposta previu a regulamentação pela via da gestão

associada, através de diversos arranjos institucionais (parcerias público-

privadas, sistema integrado, gestão associada consórcios públicos33 e

33

Lei Federal nº 11.107/2005, que institui a possibilidade legal de se afirmarem consórcios públicos e convênios de cooperação.

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licitações34), inovou com relação aos direitos do cidadão por meio de tarifas

previamente fixadas, e do controle social (planejamento e a avaliação

periódica dos serviços com a participação da comunidade), posto que o

saneamento básico compreende os “[...] serviços públicos cuja natureza

sejam o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, o manejo de

resíduos sólidos e o manejo de águas pluviais.” (MIRANDA, 2007, p. 7).

Ao longo dos dois anos de tramitação e discussão o PL nº 5.296/2005

se expressaram os conflitos e as disputas de interesses presentes no setor,

em paralelo tramitava um outro PLS, o PLS nº 155/2005, com concepção

muito distinta daquele, que reduz a compreensão do saneamento a apenas

os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, nesse ponto

fazendo eco a uma distorção frequentemente denunciada na formulação do

PLANASA. O resultado foi a expressão das várias discussões e das 800

emendas propostas, com a promulgação da Lei Federal nº 11.445, de 8 de

janeiro de 2007, que instituiu a Lei de Saneamento Básico, que se divide em

duas partes, em que a primeira estabelece as diretrizes nacionais para o

setor e a segunda, a Política Nacional de Saneamento Básico. (SAKER,

2008, p. 82 e 85).

A nova regulamentação não incorporou a dimensão ambiental,

proposta que já constava do aparato institucional, voltando-se, assim, para o

saneamento básico. Essa definição dificulta a clareza da terminologia, pois o

governo federal denomina de Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental

a instância encarregada das ações de abastecimento de água, esgotamento

sanitário, limpeza pública e drenagem pluvial e designa por saneamento

básico as mesmas ações.

O saneamento básico é um serviço de interesse público, cuja gestão é

privativa do Estado, mas tem-se a disputa entre o poder público e o poder

privado para a prestação dos serviços. Para Saker (2008, p. 50), contudo,

“[...] o Estado é sempre o titular desse serviço, sendo possível a execução

por entes privados, porém com a indelegabilidade da regulamentação,

controle e fiscalização, privativos do Poder Público sempre”. Ocorre que,

34

Lei Federal nº 8.666/1993, que institui as licitações.

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pelos critérios constitucionais, não se permite que esses serviços sejam

caracterizados como atividade econômica. Mesmo assim, no entanto, não se

pode afirmar que esse princípio predomine nas disputas em torno do objeto

saneamento.

A nova regulamentação induz a mudanças estruturais no setor de

saneamento, emoldurando novas formas de relação entre os órgãos gestores

da regulação e da execução dos serviços básicos, a partir da redefinição das

instâncias de poder e delas para com a população. Também atualiza os

objetivos da SNSA, que propõe “[...] assegurar os direitos humanos

fundamentais de acesso à água potável em qualidade e quantidade

suficiente, e de vida, em ambiente salubre nas cidades e no campo, segundo

os princípios fundamentais da universalidade, equidade e integralidade.”

(SNSA/MdasCIDADES, 2009).

A Política Nacional de Saneamento Básico está assentada sobre um

conjunto de diretrizes, tais como: a promoção da equidade social,

universalização e integralidade; o controle social; o estímulo à adequada

regulação dos serviços; o planejamento com base em indicadores

epidemiológicos e de desenvolvimento social; o desenvolvimento urbano e

regional; a afirmação do papel do Estado e do sentido público do

saneamento; a centralidade do papel do município, fortalecendo o poder

local; o fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico; e o

favorecimento ao acesso aos serviços à população de baixa renda. (Lei

Federal nº 11.445/2007).

Define ainda as competências quanto à coordenação e à atuação dos

diversos agentes envolvidos no planejamento e na execução da Política

Nacional de Saneamento Básico. No seu artigo 52 estabelece o conteúdo e

atribui ao governo federal (Ministério das Cidades), a responsabilidade pela

coordenação e elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico

(PLANSAB). Para viabilizar o acompanhamento e a elaboração do

PLANSAB, o Ministério das Cidades instituiu, em 2007, o Grupo de Trabalho

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Interministerial35 (GTI), que, juntamente com o Grupo de Acompanhamento

do Comitê Técnico de Saneamento Ambiental do Conselho das Cidades

(GA-CTS), elaborou um “Projeto Estratégico de Elaboração do PLANSAB” de

caráter participativo, levando em consideração as interfaces com as áreas de

desenvolvimento urbano e regional, de recursos hídricos, de proteção

ambiental, de promoção da saúde, de combate e erradicação da pobreza e

de ciência e tecnologia.

Outra contribuição para a consolidação do PLANSAB foi o “Pacto pelo

Saneamento Básico e pela Cidadania”, em 2009, com o propósito de

mobilizar os diversos segmentos da sociedade (governos municipais,

estaduais e federal, universidades e sociedade civil) e assim marcar o

compromisso do Brasil com o “Ano Internacional do Saneamento” e os

“Objetivos de Desenvolvimento do Milênio36” estabelecidos pela ONU.

(SNSA, 2008).

A proposta do PLANSAB foi divulgada pela SNSA em abril de 2011 e

está dividida em 10 capítulos, abrangendo: a análise da situação atual do

saneamento básico no país; cenários para a política do setor em 2030; metas

de curto, médio e longo prazos; necessidades de investimentos;

macrodiretrizes e estratégias; programas de saneamento básico integrado,

rural e estruturante; além do monitoramento, avaliação sistemática e revisão

do Plano. A proposta será submetida à consulta pública ao longo do corrente

ano, pois estabelece os programas, as ações e as estratégias de

investimento no setor para os próximos 20 anos, com vistas à

35

O Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) é composto pelos seguintes representantes: Ministério do Meio Ambiente (Departamento de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano) coordenador, Casa Civil da Presidência da República, o Ministério da Fazenda, o Ministério do Turismo, a Agência Nacional de Águas, o Ministério da Integração Nacional, a CODEVASF, o Ministério da Saúde, a FUNASA, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e o Conselho das Cidades sob a coordenação do Ministério das Cidades. (SNSA, 2008, p. 2).

36 Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/BR), os objetivos de desenvolvimento do milênio são: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade na infância, melhorar a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. (PNUD, 2010).

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68

universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um

direito social. (SNSA, 2011).

O PLANSAB ainda deverá ser aprovado pelo Conselho das Cidades

com a apreciação prévia dos Conselhos Nacionais de Saúde, de Meio

Ambiente e de Recursos Hídricos e, posteriormente, o plano será

encaminhado para homologação do presidente da República, e promulgado

através de decreto. A demora no processo de aprovação do plano demonstra

que as disputas e as divergências em torno do saneamento ainda estão

longe de serem equacionadas. A falta de orientação para o setor retarda o

salto de qualidade que almejamos. Algumas tímidas mudanças ocorreram,

mas não foram arrojadas como o tema merece, uma vez que delas depende

o avanço da qualidade da saúde pública, da qualidade ambiental dos

recursos hídricos e, consequentemente, o desenvolvimento econômico e

social.

Quanto aos investimentos no setor de saneamento até a definição final

do PLANSAB, estão organizados da seguinte forma. A partir de 2007, o

Ministério das Cidades, através dos programas de investimentos, tem

priorizado a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC), que contempla os investimentos em saneamento tendo como foco

prioritário a população de baixa renda, ou seja, está pautado na perspectiva

neoliberal. Os investimentos no setor de saneamento básico são constituídos

por recursos não onerosos, oriundos do Orçamento Geral da União, e

onerosos, provenientes de financiamentos do Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), onde os

empréstimos são concedidos a longo prazo com taxas de juros reduzidos.

Os recursos de saneamento básico são alocados nos seguintes

Ministérios: das Cidades, da Saúde (FUNASA), da Integração, do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Meio Ambiente (ANA,

FNMA), nos seguintes programas: serviço urbano de água e esgoto; gestão

da política de desenvolvimento urbano; pró-água infraestrutura; drenagem

urbana sustentável; saneamento rural; resíduos sólidos urbanos;

revitalização de bacias hidrográficas em situação de vulnerabilidade; acesso

a alimentação; urbanização, regularização e integração de assentamentos

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69

precários; fortalecimento da gestão urbana; e integração de bacias

hidrográficas. O total de recursos em 2009 para saneamento foi de R$ 12

bilhões, sendo 63% oriundos do Orçamento Geral da União (OGU) e 37% de

financiamentos não foram inclusos os financiamentos do BNDES.

(MdasCIDADES, 2009).

Quanto aos recursos oriundos do FGTS para o saneamento básico a

partir de 2007, o Ministério das Cidades passou a destinar parte para o setor

privado, sendo que, em 2008, dos R$ 4,6 bilhões destinados, o repasse para

o setor público foi de 3,9 bilhões e para o setor privado de 0,7 bilhões; em

2009 o percentual total foi o mesmo, ao setor público foi destinado 4,42

bilhões e ao setor privado 0,18 bilhões, demonstrando um crescimento do

investimento no setor privado. (MdasCIDADES, 2009).

Os recursos programados para o investimento no setor de

saneamento, assim como nas demais áreas, nem sempre são integralmente

desembolsados, que, aliados à prática de uso das emendas parlamentares,

tem dificultado a alocação dos recursos (critérios mais eficientes), pois essas

estabelecem a vinculação e o destinatário específico, que é determinado pelo

autor da emenda. Para se ter ideia da apropriação dos recursos do

saneamento pelas emendas parlamentares, veja-se a tabela abaixo:

Tabela 7 - Emendas Parlamentares (EP) apropriação dos recursos do OGU

para o saneamento básico

Ano Percentual apropriado por EP

2004 58,4%

2005 65,6%

2006 65,0%

2007 72,8%

2008* 41,0%

2009* 50,3%

Fonte: Ministério das Cidades, 2009

*Alteração devido ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

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70

A prioridade para os investimentos do PAC, segundo o Ministério das

Cidades (2010), foi de R$ 1,5 bilhão, destinados aos municípios com

população superior a 50 mil habitantes, para eliminar os 3 mil lixões

existentes no país, que deveriam ser transformados em aterros sanitários

regulares, por meio da formação de consórcios regionais entre municípios.

Nos municípios com população inferior a 50 mil habitantes, onde o

saneamento é de responsabilidade da FUNASA, no período de 2007 a 2010,

em articulação com o Ministério das Cidades e da Integração Nacional, foram

priorizados cinco eixos de atuação para os investimentos do PAC. São eles:

1. Saneamento em áreas especiais: por meio do atendimento de ações de saneamento em áreas indígenas e em comunidades remanescentes de quilombos, sendo priorizadas as comunidades tituladas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), as comunidades em processo de titulação, e comunidades com maior adensamento de famílias;

2. Saneamento em áreas de relevante interesse epidemiológico: serão desenvolvidas ações de melhoria habitacional para o controle da doença de chagas nos municípios pertencentes à área endêmica da doença e de drenagem nos municípios com alta incidência da malária;

3. Saneamento em municípios com população total de até 50.000 habitantes: serão desenvolvidas ações visando a implantação e/ou ampliação de sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e de saneamento domiciliar, em municípios com maiores taxas de mortalidade infantil, com potenciais riscos à saúde devido a fatores sanitários e ambientais e aqueles localizados na bacia do rio São Francisco;

4. Saneamento rural: serão priorizadas as populações rurais dispersas ou localidades rurais com população de até 2.500 habitantes. Serão atendidos também os assentamentos da reforma agrária, reservas extrativistas e as escolas rurais;

5. Ações complementares de saneamento: refere-se ao apoio às ações de controle da qualidade da água para consumo humano, assim como o apoio à reciclagem de materiais. (FUNASA, 2011).

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71

Os serviços adequados de saneamento podem minimizar ou reduzir

os riscos à saúde pública. Assim, para o Ministério da Saúde (FUNASA) e o

das Cidades (2011), a utilização de água potável é vista como o fornecimento

de alimento seguro à população; o sistema de esgoto promove a interrupção

da “cadeia de contaminação humana”; a melhoria da gestão dos resíduos

sólidos reduz o impacto ambiental e elimina ou dificulta a proliferação de

vetores; e a drenagem urbana utilizada para eliminação da malária humana.

O discurso governamental incorpora os elementos da integração entre as

diversas políticas, mas de fato isso ainda não ocorreu, pois as várias

tentativas se têm dado no nível político institucional.

A implementação da política nacional de saneamento básico e os

investimentos buscam reverter a situação apresentada pela Secretaria

Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) quanto à panorâmica de

cobertura dos serviços de saneamento, segundo dados do MMA e da ANA

(2006)37: no abastecimento de água, no período de 1991 a 2003, a cobertura

percentual por rede de abastecimento de água para a população urbana

subiu de 87% para 91,4%, e a população rural de 9,3% para 25,7%, com

cobertura incipiente frente à proposta de universalização do atendimento. Na

bacia hidrográfica do Paraná, o atendimento urbano com rede de distribuição

de água apresenta um percentual de 85% a 100% no Estado do Paraná, e

com algumas variações nos demais estados que compõem a bacia. A água

fornecida nem sempre apresenta segurança e garantia de qualidade, pelo

reconhecimento da poluição nos mananciais e os processos de tratamento

inadequados que causam riscos à saúde. O Distrito Federal apresenta

situação mais crítica, acompanhado de situações preocupantes nas Regiões

Sul (Santa Catarina e Paraná), Sudoeste (Rio de Janeiro, São Paulo e

Espírito Santo), Nordeste (Alagoas e Sergipe) e Norte (Roraima e Acre).

(grifo nosso).

37

Os dados apresentados pelo MMA e ANA pautam-se no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) para indicadores sobre água e esgotamento sanitário e na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) e (IBGE, 2002), referente ao ano de 2000, para resíduos sólidos e drenagem, que buscam demonstrar a situação do saneamento no Brasil sob os aspectos do atendimento populacional e de sua associação com os recursos hídricos.

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72

A rede coletora teve um aumento de 62% para 75% na população

urbana e a população rural tem apenas 16% dos domicílios atendidos. A rede

coletora em locais desprovidos de interceptores e tratamento de esgotos

pode até provocar uma acentuação dos problemas de saúde humana, caso

prevaleça a infiltração dos efluentes no subsolo por diferentes tipos de fossas

utilizadas. Nesse caso, a rede termina por concentrar os esgotos nos corpos

de água do meio urbano, expondo as populações e aumentando a circulação

ambiental de microrganismos patogênicos. Quanto à natureza do

atendimento, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) e IBGE

(2002) informam que 4.097 (42%) dos 9.848 distritos38 possuem rede

coletora, mas que apenas 1.383 deles têm estação de tratamento e 118

realizam desinfecção dos esgotos. Do total de volume coletados de esgotos,

apenas 35% recebem algum tipo de tratamento, resultando em cerca de

9.400.000 m³ de esgotos brutos encaminhados diariamente aos corpos de

água do país, considerando-se somente aqueles coletados por rede. Na

bacia hidrográfica do Paraná, o volume em m³/dia de esgoto, segundo a ANA

(2006), é o seguinte: esgoto produzido 8.924.369, esgoto coletado 6.655.568,

esgoto tratado 2.417.791,0.

Os esgotos sanitários são os grandes responsáveis pelo

comprometimento da qualidade ambiental dos corpos d'água no país, e o

controle dessa poluição requer a implantação de soluções que permitam

coleta, transporte, tratamento e destinação final de forma adequada e viável

técnica e economicamente, o que prevê, dentre outras intervenções, a

realização de obras civis, a instalação de equipamentos eletromecânicos,

procedimentos operacionais e de manutenção específicos, e que resultam,

sem outra alternativa, em custos financeiros muito elevados, condição que

contribui para o grande descaso com o esgotamento sanitário nacional.

A limpeza pública, com a coleta de resíduos sólidos, tem mostrado

um crescimento sustentado no período de 78% para 96% na população

urbana, e de 5% para 19% na população rural, havendo ainda um passivo de

27,5 milhões de habitantes a serem atendidos. Quanto à natureza do

38

O termo distrito diz respeito à associação dos municípios com as bacias hidrográficas.

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73

atendimento, a PNSB indica que 5.366 distritos-sede têm coleta residencial,

sendo 3.274 com frequência diária, 1.104 durante três vezes na semana, 680

durante duas vezes por semana ou menos.

A destinação final dos resíduos revela situação mais preocupante. A

PNSB indica que, dos 8.381 distritos com coleta, 6.056 (72%) lançam os

resíduos em vazadouros a céu aberto, ou em áreas alagadas,

correspondendo a 21% da massa total de resíduos coletados. Ou seja, 49 mil

toneladas de lixo são dispostas inadequadamente a cada dia, poluindo o solo

e, muitas vezes, a água e o ar, além de provocar desequilíbrios no meio

biótico. Dos 5.564 municípios, em 1.548 deles (28%) existem catadores nos

locais de destino final, denunciando a relação entre a crise social e as

questões ambientais.

Na bacia hidrográfica do Paraná existem diferenças entre os estados

(Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa

Catarina e Distrito Federal) quanto à disposição final dos resíduos sólidos

considerada como adequada39, sendo que o Estado do Paraná apresenta a

classificação entre 50% a 70% na disposição final do lixo. Quanto à

quantidade de resíduos sólidos (tonelada/dia) por tipo de disposição na

bacia, apresenta a seguinte condição:

39

Condição adequada de coleta - considerada quando assumida como diária ou três vezes por semana, já a disposição final dos resíduos sólidos - considerada quando se utiliza de aterro controlado, aterro sanitário, aterro de resíduos especiais, usina de compostagem, usina de reciclagem e incineração. (ANA, 2006).

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74

Gráfico 2 – Quantidade de Resíduos Sólidos por tipo de disposição na Bacia

Hidrográfica do Paraná

Fonte: ANA, 2006, dados organizados pela autora.

A destinação final dos resíduos sólidos ainda é um problema grave a

ser enfrentado pela política de saneamento, pois a inadequação quanto ao

destino final vem poluindo o solo e, muitas vezes, a água e o ar, além de

provocar desequilíbrios no meio biótico. Essa inadequação ainda denuncia a

relação entre a crise social e as questões ambientais, com a existência de

catadores nos locais de destino final.

Quanto à drenagem urbana dos 5.565 municípios brasileiros, 4.327

(79%) dispõem de sistema de drenagem, sendo que, destes, 85% possuem

rede subterrânea de drenagem. Uma porção de 15% desses municípios

adota o sistema unitário, ou seja, as águas pluviais e os esgotos sanitários

são recolhidos pela mesma rede. Essa interconexão contribui para a poluição

dos corpos receptores, para o aumento de risco à saúde, para a deterioração

física dos condutos e para a geração de maus odores. Ao problema de

conexão sanitário-pluvial soma-se a ineficiência de infraestrutura em

interceptores e em tratamento de esgotos, pois praticamente todo o

lançamento de efluentes do sistema de drenagem é feito em cursos de água,

sendo que 76% dos casos cursos perenes.

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75

Do universo de 4.327 municípios com sistema de drenagem, adotam-

se bacias de detenção (técnica compensatória de impacto de urbanização)

em apenas 353 deles. Ocorrem problemas de assoreamento na rede de

drenagem, declarados por 41% dos municípios. Processos erosivos que

afetam o sistema de drenagem ocorrem em 25% dos municípios que

dispõem do sistema: desmatamentos (37%), ocupação desordenada do solo

(42%). Esses são fatores agravantes da erosão e, portanto, agravantes da

drenagem.

Dos municípios com drenagem, 3.856 (89%) declararam desenvolver

atividades de manutenção, como limpeza e desobstrução de dispositivos de

captação (57%) e de varrição e limpeza de vias (77%), tarefas que

contribuem para o bom funcionamento do sistema.

Avaliando os riscos à população e seus fatores agravantes, a PNSB

registra a presença de áreas de risco em 1.340 municípios (24% dos

municípios brasileiros e 31% dos que possuem sistema de drenagem). As

ocupações de áreas sujeitas a deslizamentos de encostas são mencionadas

por 38% dos municípios contendo áreas de risco, sendo que alguns

mencionaram presença de áreas sujeitas a inundações (31%) e com

processos erosivos intensos (25%).

Em 2004 foram registrados, pela ANA, 1.235 municípios com

inundações, o que representa 22% dos municípios. Problemas de

manutenção (obstrução de bueiros e de bocas de lobo) foram considerados

fatores agravantes das inundações em 51% dos municípios afetados. Segue-

se o adensamento populacional, este atuando como fator agravante em 32%

dos casos, e obras inadequadas relacionadas em 28% dos casos. No

Sudeste e Sul, os municípios que são afetados por inundações superam os

30%.

O sistema de drenagem, até a aprovação da política de saneamento,

era de responsabilidade municipal. Essas condições demonstram a pequena

capacidade financeira e técnica de muitos municípios, uma vez que todo o

lançamento de efluentes é feito em curso perene de água, assim causando

sérios danos aos municípios, como as enchentes e as inundações, pois

decorre da falta de disciplinamento da ocupação do solo, principalmente a

ocupação urbana, que tem um custo bastante alto de controle quando o

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76

desenvolvimento já está implantado. A drenagem é considerada uma medida

preventiva desse processo com custo reduzido se incorporada no

planejamento urbano.

A situação descrita para as condições de saneamento da população

brasileira tem provocado demandas (abastecimento humano, operação e

manutenção dos sistemas de esgotamento sanitário, limpeza pública e

drenagem) e impactos (quantidade e qualidade da água, e ações

incompletas de saneamento) de diversas ordens nos recursos hídricos.

As chuvas e as enchentes no Sul e no Nordeste do país que

ocorreram ao final de 2009, início de 2010 e 2011 demonstram o

agravamento dessa situação, embora não esteja ainda contabilizada em seu

impacto. Quando, portanto, se confronta discursos, leis, planos e projetos

formais e a produção concreta do ambiente construído, marcado por

profunda desigualdade social, predação ambiental e aplicação arbitrária da

lei, se vê demonstrado o peso das heranças colonial e escravista40 da

formação das cidades, que expressa a contradição não somente da

igualdade social e da sustentabilidade ambiental, mas até mesmo algumas

das condições gerais necessárias para o processo de reprodução do capital

devido ao alto custo do crescimento urbano a que temos assistido na

atualidade.

No Estado do Paraná, a prestação de serviço de saneamento básico é

feita pela Companhia de Saneamento do Paraná41 (SANEPAR). O Estado do

Paraná é composto por 399 municípios, dos quais 344 são atendidos pela

SANEPAR. Dentre os 55 municípios restantes, 54 são atendidos por

autarquias municipais e apenas um, o de Paranaguá, é atendido pela

iniciativa privada (SANEPAR, 2009).

40

A formação social brasileira foi estudada e apresentada por vários intérpretes, cada um a seu tempo, podendo-se citar dentre eles: Sérgio Buarque de Hollanda, Roberto Schwarz, Francisco de Oliveira, Florestan Fernandes, Caio Prado, Celso Furtado, Raymundo Faoro, entre outros.

41 A SANEPAR foi criada em 23 de janeiro de 1963. Ela é uma empresa estatal, de economia mista, cujo maior acionista é o governo do Estado, com 60% das ações. A SANEPAR tem como parceiro estratégico o Grupo Dominó, formado pelas empresas Vivendi, Andrade Gutierrez, Opportunity e Copel, que, juntas, detém 39,7% das ações.

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77

Segundo dados oficiais da SANEPAR (2009), a Companhia leva água

tratada a 8,8 milhões de pessoas, o que representa o atendimento de 100%

da população urbana. Com relação ao esgotamento sanitário, em sua área

de concessão, a Companhia atende a 5,1 milhões de pessoas, o que

representa 58,0% da população urbana, sendo que em cidades com mais de

50 mil habitantes esse índice alcança 80,0%. O índice de tratamento de

esgoto coletado pela Companhia alcança 97,0%, sendo destaque no país.

O Programa Tarifa Social atende a milhares de famílias paranaenses

que pagam tarifa reduzida pelos serviços de saneamento. São beneficiadas

pelo Programa as famílias que moram em imóveis com até 70 m² de área

construída, que tenham rendimento de no máximo dois salários mínimos por

mês e consumo mensal, de água, inferior a 10 m³. Em 2008, mais de 271 mil

famílias foram atendidas, pagando ao mês R$ 5,00 pela tarifa de água e R$

2,50 pela tarifa de esgoto (SANEPAR, 2009). Dessa forma, pode-se dizer

que o Estado do Paraná, ao delegar à Companhia a execução dos serviços

de água e esgoto, cumpre as determinações constitucionais de viabilizar o

acesso à água e ao esgoto, ficando sob sua responsabilidade a fiscalização

dos serviços.

Na área delimitada para pesquisa de campo que abrange onze

municípios na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, os

serviços de água e esgoto prestados pela SANEPAR atendem a sete

municípios (os quatro restantes têm atendimento público municipal).

A SANEPAR atua segundo as metas de concessão estabelecidas com

os municípios, sendo que cada município também realiza a fiscalização e o

acompanhamento dos serviços prestados. Um dos trabalhos que tem sido

realizado pelo escritório da SANEPAR/Toledo (2010) é identificar e orientar a

população toledense quanto à instalação da rede de esgoto. A população

tem aceitado e alterado as condições atuais conforme a orientação, em que o

esgoto é pago de acordo com a vazão de água utilizada. Nos municípios de

Santa Helena, Ouro Verde do Oeste, São José das Palmeiras e São Pedro

do Iguaçu não existe a rede de esgoto, mas as negociações estavam sendo

realizadas junto às prefeituras. Cabe mencionar, porém, que tem sido lento o

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78

processo de implantação dos planos de saneamento nos municípios, pois

demandam vontade e interesse político.

O escritório da SANEPAR Toledo tem realizado palestra de educação

ambiental junto aos municípios e no escritório para as escolas, que

organizam grupos de estudantes, da pré-escola à universidade, para discutir

e entender o processo de captação, tratamento, distribuição da água e o

esgoto e seu tratamento. Abaixo se apresenta a tabela de abastecimento de

água nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro:

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80

Os municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro atendidos pela SANEPAR representam um percentual

total de 21,86% das 2.390.271 ligações de abastecimento de água no Estado

do Paraná. As ligações por categoria representam o seguinte percentual das

ligações no Estado do Paraná:

Gráfico 3 – Abastecimento de água nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Fonte: SANEPAR, IPARDES (2008), dados organizados pela pesquisadora.

Os municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro representam um percentual pequeno de abastecimento de água

por categoria, frente ao número de municípios que compõe o Estado do

Paraná.

Quanto à rede de abastecimento de água, segundo as ligações

residenciais da SANEPAR, por município fica assim distribuída:

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81

Gráfico 4 – Abastecimento de água de ligações residenciais da SANEPAR nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Fonte: SANEPAR, IPARDES (2008), dados organizados pela autora.

Essa forma de apresentação dos dados é parcial, pois exclui de sua

contagem as ligações comerciais, industriais, utilidade pública e poder

público, como forma de melhor visualizar o atendimento direto dos domicílios

particulares. Esse critério é utilizado pelo Programa de Modernização do

Setor de Saneamento e o Sistema Nacional de Informações sobre

Saneamento (SNIS) com base nas Pesquisas Nacionais por Amostra de

Domicílios (PNADs) do IBGE.

Outro componente do saneamento básico é o esgotamento sanitário

que se encontra da seguinte forma nos municípios da sub-bacia paranaense

do Rio São Francisco Verdadeiro, na sequência a tabela do atendimento de

esgoto:

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83

Os sete municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro atendidos pela SANEPAR representam um percentual

total 22,55% do atendimento de esgoto por categoria no Estado do Paraná.

Sendo que as ligações residenciais representam o seguinte percentual das

ligações do Paraná:

Gráfico 5- Atendimento de esgoto nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Fonte: SANEPAR, IPARDES (2008), dados organizados pela autora.

Pode-se observar que o atendimento de esgoto está muito aquém da

desejada universalidade do serviço, pois a melhoria das condições de vida

da população e a redução da poluição hídrica dependem da ampliação desse

atendimento.

Quanto à rede de esgoto, segundo as ligações residenciais da

SANEPAR por município na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro tem-se a seguinte distribuição:

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84

Gráfico 6 – Atendimento de Esgoto de ligações residenciais da SANEPAR nos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Dados organizados pela autora

Os dados aqui apresentados são parciais, tal como no caso do

abastecimento de água. Dos sete municípios que são de responsabilidade da

SANEPAR o atendimento de esgoto, somente três municípios dispõe do

serviço. A empresa tem dado prioridade no atendimento aos municípios com

população acima de 50.000 habitantes, conforme dados apresentados nas

Tabelas 8 e 9.

Fora do sistema Sanepar estão os municípios de Quatro Pontes,

Entre Rios do Oeste, Pato Bragado e Marechal Candido Rondon, em que a

rede de abastecimento de água e o esgoto é da responsabilidade pública

municipal. O município de Marechal Cândido Rondon, que é atendido pela

autarquia municipal de Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE)42,

recebe um abastecimento de água que cobre 100% da população na sede

municipal e distritos, e nas comunidades rurais chega-se a 98% da

população.

42

Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), a autarquia municipal foi criada pela Lei Municipal nº 223, de 19 de agosto de 1966.

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85

O Programa “Tarifa Social de Água” do SAAE rondonense43 instituído

em 2009, visa beneficiar a população de baixa renda com a redução do valor

da tarifa de água de R$ 15,00 para R$ 7,50 a cada 10 m³. Observam-se as

seguintes exigências: a renda mensal familiar não pode ultrapassar a dois

salários-mínimos, além de a família estar inserida em algum programa social

do governo federal.

A rede coletora de esgoto está em processo de implantação com

previsão de conclusão em 2010, que abrange a bacia do Lajeado

Guavirá, com a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que deverá atender

35% da população da sede municipal na primeira etapa. A segunda etapa

prevê a instalação de rede coletora na Bacia do Lajeado Guará. Atualmente

tem em operação uma pequena ETE e que atende a um único conjunto

habitacional com 309 ligações. Os outros domicílios municipais têm disposto

o efluente gerado em fossas/sumidouros44. (SAAE, 2009).

As sedes dos municípios, ou seja, as cidades, na área central,

apresentam características comuns, como meio-fio com calçamento e

canalização de águas pluviais, bocas-de-lobo, rede de iluminação pública,

arborização, as ruas com canteiros centrais de grama e de flores, que aos

poucos estão sendo substituídos por ciclovias.

A urbanização das cidades, o nível de renda da população e a

disponibilidade de recursos para investimentos são fatores que se fazem

extremamente favoráveis ao atendimento pleno e regular da população,

mesmo que utilizando tecnologias menos econômicas, como são os casos

dos sistemas ditos convencionais.

A intervenção humana no espaço urbano através da urbanização e da

industrialização incide diretamente no fluxo da bacia provocando a redução

do volume de água pela redução da infiltração das águas pluviais. Múltiplos

43

O Programa “Tarifa Social de Água” do SAAE rondonense foi aprovado pela Lei nº 4.113, de 25 de setembro de 2009.

44 Semidouros, também conhecidos como poços absorventes ou fossas absorventes, são escavações feitas no terreno para disposição final de efluente de tanque séptico, que se infiltram no solo pela área vertical (parede). Segundo a ABNT, NBR nº 13.969/1997, “[...] seu uso é favorável somente nas áreas onde o aqüífero é profundo, onde possa garantir a distância mínima de 1,50 m (exceto areia) entre seu fundo e o nível aqüífero máximo.” (FUNASA, 2004, p. 40).

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86

fatores ocasionam essa redução, como: o aumento das áreas

impermeabilizadas; a concentração das águas pluviais; a ocupação das

encostas e dos vales fluviais; o aumento da poluição dos solos, do ar e da

água; o aumento das enchentes e dos alagamentos; o desencadeamento de

processos erosivos; o assoreamento dos corpos hídricos e,

consequentemente, dos mananciais que abastecem a população urbana.

Esses fatos têm causado grandes impactos ambientais (estragos) em várias

localidades e têm sido veiculados constantemente pela mídia. Toda essa

situação exige ações conjuntas no processo de gestão ambiental urbana,

para preservação da bacia.

Mesmo assim, porém, os municípios podem e devem adotar ações e

medidas que auxiliam no processo de preservação dos mananciais e,

consequentemente, da bacia hidrográfica, como a reposição da mata ciliar, o

gerenciamento dos resíduos sólidos, a arborização urbana, a recuperação e

adequação de vias, a construção de bases largas e estreitas para a

conservação do solo, a conservação de nascentes, o monitoramento de rios,

o desassoreamento de rios e canais, a restauração de margens dos rios, a

construção de abastecedouros comunitários, a regularização de cemitérios,

os aterros, entre outros. Abaixo apresenta-se a tabela do saneamento

ambiental da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro:

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88

Os dados apresentados na Tabela 10 demonstram a disparidade no

atendimento de água e esgoto; o esgotamento sanitário lançado diretamente

nos rios e lagos, devido à falta de instalações sanitárias, causa grande dano

aos recursos hídricos. Comparando a Tabela 10 com a Tabela 9, tem-se que

a rede geral de esgoto está implantada somente nos municípios de Cascavel,

Toledo e Santa Helena. Nos demais municípios utiliza-se a rede pluvial para

esse atendimento. Cabe perguntar: Como ocorre a fiscalização e o

acompanhamento dos contratos de concessão com a SANEPAR, sendo que

as renovações ocorreram recentemente (2009 e 2010) para um prazo de 20

anos?

No abastecimento de água, e no esgotamento sanitário por conta da

gestão adotada, a prestadora de serviço SANEPAR é levada, assim como

outras prestadoras, à escolha sobre quem terá os serviços e quem não os

terá, o que configura uma questão de ordem política, e cuja decisão é,

invariavelmente, pelos municípios de maior população e, consequentemente,

mais ricos. É dessa forma que o atendimento por abastecimento de água, e

ainda mais pelo esgotamento sanitário, se realiza numa forma praticamente

proporcional ao nível de renda do cidadão.

Quanto ao lixo, os municípios apresentam coleta parcial de até 50%

(Quatro Pontes e São Pedro do Iguaçu). Os demais apresentam coleta acima

de 50%. A segunda opção é a queima do lixo, considerada inadequada pelos

problemas que causa à saúde, e todos com disposição final inadequada

(lixões a céu aberto, controlados). A reciclagem encontra-se em processo em

desenvolvimento.

No Estado do Paraná, segundo a Secretaria de Estado de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos (2004), 211 municípios já dispõem em aterros

sanitários, destinando de forma adequada 70% dos resíduos sólidos urbanos

gerados. A Secretaria estabeleceu o prazo de 2010, para que os municípios

disponibilizassem as áreas e implantassem as obras necessárias para a

destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos, bem como, recuperar as

áreas degradadas pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e

a elaboração dos planos de gestão de resíduos.

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89

Todos os municípios da sub-bacia paranaense do Rio SFV dispõem

de coleta de lixo, no entanto a coleta não atinge toda a população, levando a

parte não atendida a buscar alternativas que nem sempre são as mais

corretas ambientalmente. O desafio urbano-ambiental é planejar a cidade de

forma a organizar seus espaços, mantendo sob controle o processo da

urbanização e buscando melhorar qualidade ambiental para as populações

residentes. A questão é como os municípios têm enfrentado tal situação

frente à política ambiental e a política de saneamento? Que medidas estão

sendo adotadas?

Considerando que o saneamento se tornou uma necessidade inserida

no âmbito da política urbana, em articulação com a política de saúde pública

e as questões ambientais, tem ele conjuntamente responsabilidade para com

as vulnerabilidades urbanas. Com esta perspectiva é preciso fomentar uma

política de saneamento condizente com a realidade, e a participação social

nos processos de controle social da gestão torna-se fundamental.

O fato de a lei de saneamento básico propor o controle social na

dinâmica da ação não significa que o mesmo ocorra de forma imediata, pois

é preciso vontade política e envolvimento social para a sua efetivação, pois a

forma de representação destacada é a consultiva e a luta deve ser no sentido

de transformá-la em deliberativa, ou seja, capaz de intervir efetivamente na

política. Daí a importância da atuação dos conselhos de meio ambiente e dos

comitês de bacia hidrográfica, que podem ser utilizados como canais de

implementação e fiscalização das ações de saneamento que contribuem

para a preservação das bacias, assim como podem garantir o direito de

todos os cidadãos ao acesso, à prestação e ao consumo de serviços

públicos essenciais ao bem-estar da coletividade.

O poder público, através da Secretaria Nacional de Saneamento

Ambiental, tem buscado incorporar as novas determinações que dizem

respeito à democratização do setor, com seu processo de modernização e ao

estabelecer as diretrizes que permitam atingir tal propósito. Entre as

diretrizes estão:

“[...] a formação de parcerias entre o setor público e o privado; a instituição de legislações e regulamentos adequados para o exercício das funções de regulação e

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90

controle nos três níveis de governo; a estruturação do poder público para o desempenho dessas funções, o que inclui a criação de agências reguladoras, sobretudo no nível estadual.” (PENA & ABICALIL, 1999, p. 121).

A política de saneamento propõe que o controle social seja realizado

através de um órgão colegiado (a ser criado ou através da adaptação de um

já existente), de caráter consultivo, com representações dos titulares dos

serviços, de órgãos governamentais relacionados ao saneamento, das

prestadoras de serviços, dos usuários e de entidades da sociedade civil. Isso

limita a participação ao processo de execução da política, uma vez que o

debate em torno das escolhas políticas não pode ser alterada ou

redimensionada a partir dessa forma de participação. Outra limitação é a

transferência dessa responsabilidade para a sociedade civil.

1.3 A Sub-Bacia Paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

A sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro está localizada no oeste

do Estado do Paraná, Brasil, tem uma área de 2.219,11 km², abrangendo

onze municípios, com área estimada em 6.009 km². Ela integra, juntamente

com outras 12 sub-bacias no triângulo Guaíra-Cascavel-Foz do Iguaçu, a

Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III. Os municípios que a compõem são os

seguintes: Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, Quatro Pontes, Marechal

Cândido Rondon, Santa Helena, São José das Palmeiras, São Pedro do

Iguaçu, Toledo, Ouro Verde do Oeste, Santa Tereza do Oeste, Cascavel.

(SEMA, 2009).

A caracterização geral da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro, segundo dados do Centro Internacional de Hidroinformática

(CIH), da Itaipu Binacional (2009), é a seguinte: perímetro de 262,124 km;

canal principal com 239,19 km; comprimento axial do canal principal com 60

km; comprimento total de 3.280,1124 km; altitude máxima de 880 m; altitude

mínima de 220 m; amplitude altimétrica de 660 m; densidade de drenagem

de 1,4781 km/km²; densidade hidrográfica de 1,8327 canais/km²; índice de

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91

sinuosidade de 3,9848; fator de forma de 0,2511; coeficiente de

compacidade de 1,558; índice de circularidade de 0,406.

A sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro é a maior em extensão

dentro da Bacia hidrográfica do Rio Paraná III, nasce dentro da cidade de

Cascavel e sua foz está em Entre Rios do Oeste, onde o rio deságua no

reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Ao longo do trajeto de 152

quilômetros, o curso d'água e seus tributários passam por milhares de

propriedades rurais, dentro de uma região especializada na conversão de

proteína vegetal em proteína animal. Ou seja, a organização da cadeia

produtiva desenvolvida na região pelos produtores rurais faz com que ocorra

desde o plantio de soja e milho até a industrialização de carne suína e de

aves, e também a produção de leite. (Folder BHPRIII, s/d).

Essas são atividades agropastoris de alto impacto ambiental e que

geram resíduos que podem causar problemas ou degradar a qualidade da

água. Um desses problemas é o da erosão, que arrasta para os rios enormes

quantidades de solo misturado com fertilizantes, agrotóxicos, dejetos

animais, lixo, esgoto e demais resíduos que comprometem a qualidade da

água e a tornam imprópria para qualquer uso. A perda do solo obriga a

gastos cada vez maiores na produção, que passa a exigir mais adubo, mais

agrotóxico, o que novamente degrada solo e água e compromete a vida da

população da região.

A área de floresta foi largamente substituída por pastagens e pelos

cultivos. A Floresta Ombrófila Mista, ou Floresta de Araucárias, ocorre nas

proximidades da cidade de Cascavel e tem fisionomia característica pela

presença de uma espécie vegetal típica, o Pinheiro do Paraná (Araucária

angustifólia), sendo facilmente reconhecida. Já a Floresta Estacional

Semidecidual, que ocorria em grandes extensões do território, está

relacionada, em toda a sua área, com a ocorrência de um clima com duas

estações definidas, uma chuvosa e outra seca, ou, então, uma acentuada

variação térmica. A área de ocorrência dessas florestas era originalmente a

Bacia do Rio Paraná e a Bacia do Rio Iguaçu. Atualmente está praticamente

restrita à área do Parque Nacional do Iguaçu. Esse parque, com 175.000 ha, é

o último grande remanescente das florestas estacionais semideciduais do

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92

Brasil e representa um importantíssimo potencial genético desse ecossistema.

Excluindo-se o Parque Nacional do Iguaçu, a maior parte das formações

vegetais do território encontra-se bastante alterada, constando com raros

remanescentes das florestas originais (SEMA, 2008).

O uso do solo na área de abrangência da sub-bacia paranaense do

Rio São Francisco Verdadeiro perfaz um total de 2219 km², segundo dados

da Itaipu Binacional (2006), e está assim distribuído:

Gráfico 7 – Uso do solo na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Fonte: CIH/ ITAIPU, 2006, dados organizados pela autora

O uso preponderante do solo é da agricultura, seguido da

vegetação/Floresta que apresenta esse quantitativo fruto da reposição da

mata ciliar. Esses dados têm subsidiado as administrações públicas no

planejamento da ocupação ordenada do território, na demarcação das áreas

degradadas e/ou críticas, e no monitoramento dos recursos naturais.

A região oeste do Estado do Paraná, onde está localizada a sub-bacia

paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, foi explorada pela Companhia

Mate Laranjeiras S/A, fundada em 1909 e que atuou até 1965,

estabelecendo-se nas margens do Rio Paraná, abaixo das Sete Quedas,

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situada entre o Rio Piquiri (Guaíra) e o Rio Iguaçu (Foz do Iguaçu). A região

foi a mais explorada por empresas argentinas e paraguaias, algumas com

licenças (a maioria não as tinham) do governo brasileiro, para extração e

exportação da madeira e erva-mate. (NIDERAUER, 2004).

Em 1881 foi fundada a Vila Iguaçu, pois, além da extração desses

produtos (madeira e erva-mate), as empresas estrangeiras utilizavam o

regime escravagista no território, levando o governo do Brasil a fundar, em

21 de novembro de 1889, a Colônia Militar de Foz do Iguaçu. Em 1914, foi

criado o Município de Foz do Iguaçu45, que abrangia toda a Região do

Extremo Oeste Paranaense, entre os Rios Piquiri e Iguaçu, totalmente

coberta por matas e completamente desabitada, salvo alguns acampamentos

de colheita de erva-mate pertencentes às empresas da Argentina e do

Paraguai que operavam na Região. (PFLUCK, 2002).

A Fazenda Britânia, pertencente aos ingleses da Compañia de

Maderas del Alto Paraná, com sede operacional em Porto Britânia, media

aproximadamente 43 quilômetros ao longo do Rio Paraná, desde a foz do

Rio Guaçu até a foz do Rio São Francisco Falso e 78 quilômetros de Oeste a

Leste, formando um retângulo contendo 274.752,846 hectares de matas

nativas e de riquíssima fauna. (PFLUCK, 2002).

Esses ingleses, sem expectativas de conseguirem atingir seus

objetivos, colocaram à venda a sua grande propriedade. Um grupo de

pessoas ligadas ao comércio atacadista gaúcho resolveu adquirir a Fazenda

Britânia e, para isso, constituiu a empresa Industrial Madeireira Colonizadora

Rio Paraná S/A. (MARIPÁ), com sede em Porto Alegre/RS (desde 1946), que

instalou seu principal escritório em Toledo, com o objetivo de subdividir o

latifúndio em pequenas propriedades, 13.162 colônias de 10 alqueires

paulistas (aproximadamente 24 hectares), com uma infraestrutura

organizada, tudo construído com a receita advinda da exploração de parte da

madeira existente. Cada colônia poderia ser ocupada por uma família, e os

núcleos ou vilas (futuras cidades) deveriam concentrar de 3 a 4 mil famílias.

(PFLUCK, 2002; NIDERAUER, 2004).

45 O município de Foz do Iguaçu foi criado pela lei nº 313, de 14 de março de 1914.

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94

A colonizadora Maripá traçou um grande projeto de investimento que

não poderia fracassar. Assim, segundo Pfluck (2002), planejou e implantou o

sistema de lotes rurais (colônias) longos, denominado “Espinha de Peixe”,

respeitando a topografia e a rede hidrográfica, beneficiando cada

propriedade com pelo menos um curso d′àgua, através de sangas, lajeados,

arroios ou rios. Um conjunto de colônias formava um perímetro, um perímetro

encerrava de 100 a 300 ou até mais colônias. A fazenda foi dividida em 50

perímetros de diferentes tamanhos, facilitando a venda e a ocupação da

região. Em 1956 já haviam sido vendidas 9.618 colônias rurais (73%),

restando 3.544 unidades, demonstrando o sucesso do empreendimento.

A região oeste é composta por 51 municípios, no entanto, para este

estudo destacamos apenas os 11 municípios que compõem a sub-bacia

paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, sendo que fazem parte da

área da Fazenda Britânia, as terras de propriedade da Empresa Industrial

Madeireira Rio Paraná S/A (Maripá), os seguintes municípios: Entre Rios do

Oeste, Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Pato Bragado, São José

das Palmeiras, Toledo, Ouro Verde do Oeste, cujo objetivo da empresa era

inicialmente a exportação, industrialização, beneficiamento e exportação da

madeira, depois a erva-mate com seu beneficiamento e exportação, a

colonização, seguido pela agricultura, pastagens, e comércio em geral.

(NIDERAUER, 2004).

Os municípios de Cascavel, Santa Tereza do Oeste derivaram das

terras que pertenciam a obrage Nunes e Gibaja, na Fazenda Britânia.

(Wachowicz, 1982, p.64).

As terras de propriedade de Meier e Annes & Cia, dentro da qual está

localizada a cidade de Santa Helena e as terras inicialmente do latifúndio

Imóvel Matte foram colonizadas pela Empresa Bentheim & Cia, contratada

pelo Banco do Estado do Paraná nos anos 1960, com disputa litigiosa até os

anos 1980 com a família Padovani, que ficou com 158 alqueires na região

lindeira ao Rio São Francisco Verdadeiro, local onde se encontra a cidade de

São Pedro do Iguaçu. (PFLUCK, 2002).

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95

Tabela 11 - Desmembramento dos municípios componentes da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Município Data de Criação Desmembramento do Município

Toledo 1952 Foz do Iguaçu

Cascavel 1952 Foz do Iguaçu

Marechal Cândido Rondon 1961 Foz do Iguaçu e Toledo

Santa Helena 1968 Marechal Cândido Rondon e Medianeira

São José das Palmeiras 1986 Santa Helena

Santa Tereza do Oeste 1990 Cascavel e Toledo

Ouro Verde do Oeste 1990 Toledo

São Pedro do Iguaçu 1993 Toledo

Quatro Pontes 1993 Marechal Cândido Rondon

Entre Rios do Oeste 1993 Marechal Cândido Rondon

Pato Bragado 1993 Marechal Cândido Rondon

Fonte: IPARDES, 2009

Outra informação importante é que a sub-bacia paranaense do Rio

São Francisco Verdadeiro (bacia operacional) faz parte do Programa HELP

(Hydrology for the Environment, Life and Policy), que é uma iniciativa do

Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO, em cooperação com

a Organização Meteorológica Mundial (WMO) e o Experimento sobre os

Ciclos Globais da Água e Energia (GEWEX). A iniciativa fomenta o

gerenciamento de bacias hidrográficas em todo o mundo de acordo com

critérios sustentáveis. O Rio São Francisco Verdadeiro é a única bacia

brasileira e quinta latino-americana a ser incluída no HELP. (ITAIPU, 2009).

O Programa HELP propõe a gestão integrada dos recursos hídricos da

bacia estudada, através da criação de uma estrutura para que

pesquisadores, gestores de recursos hídricos e os usuários trabalhem juntos

em problemas correlacionados. Destaca-se aqui a gestão que envolve

diversas parcerias formais e informais da Itaipu Binacional, através de sua

Diretoria de Coordenação, a Fundação PTI, o Centro Internacional de

Hidroinformática, órgãos governamentais de diversos níveis e instituições do

setor privado.

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96

O HELP estabelece tecnicamente como objetivo aprimorar as

pesquisas em hidrologia, utilizando a bacia hidrográfica como espaço

territorial de análises, porém as pesquisas desenvolvidas abrangem não

somente a hidrologia, mas também a climatologia, ecologia e todo meio

físico-químico e biológico da bacia, bem como, as áreas socioeconômica,

administrativa e legislação ambiental, desenvolvendo técnicas que permitam

o desenvolvimento sustentável da região estudada.

A bacia do Rio São Francisco Verdadeiro se caracteriza por ser o foco

de pesquisas e aplicação de projetos da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional,

devido ao elevado índice de degradação ambiental das águas encontrado

pelo programa de monitoramento da empresa. A execução dos projetos ali

implantados faz parte do Programa Cultivando Água Boa, que abrange desde

a recuperação de passivos ambientais à preservação da biodiversidade,

passando pela educação ambiental das comunidades locais, onde vivem

cerca de 500 mil pessoas, segundo dados do IBGE 2006.

Os resultados dos projetos são gerenciados através de um software

livre, o Sig@Livre, ferramenta desenvolvida em software livre pela Itaipu

Binacional, que permite obter um diagnóstico completo de cada propriedade

rural georreferenciada. Foram essas características metodológicas que

chamaram a atenção da UNESCO e favoreceram a inclusão da bacia do Rio

São Francisco Verdadeiro no programa HELP como uma bacia operacional.

(ITAIPU, 2009).

Quanto ao setor produtivo, pode-se dizer que a produção de milho é

estimada em 250.000 toneladas/ano, a de soja em 720.000 toneladas/ano e

a de trigo em 150.000 toneladas/ano. Isso faz da região oeste uma das

grandes produtoras de grãos do Paraná. As atividades agropecuárias de

suínos e de bovinos destacam-se, com uma proporção de 25 a 389 suínos

(1/km²) e 46 a 154 bovinos (1/km²), distribuídos ao longo dos municípios que

compõem a sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro. A

população da bacia está distribuída em um total de 443.695 habitantes para

todos os municípios e, desse total, é estimado um percentual de 52,51% dos

habitantes na área de contribuição da bacia. (IBGE, IPARDES, CIH/ITAIPU,

2006).

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97

Tabela 12 - População na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Municípios da sub-bacia

Rio SFV

População Total

(nº/%)

População (%)

Urbana Rural

População Total Estimada na sub-bacia Rio SFV (%)

Toledo 98.200 22,13 22,67 18,97 37,63

Cascavel 245.369 55,30 60,34 25,79 36,80

Marechal Cândido Rondon 41.007 9,24 8,25 15,08 11,87

Santa Helena 20.491 4,62 2,59 16,49 2,60

Santa Tereza do Oeste 10.754 2,42 1,99 4,97 2,50

Ouro Verde do Oeste 5.472 1,24 0,89 3,23 2,08

São Pedro do Iguaçu 7.277 1,64 1,06 5,06 2,24

Pato Bragado 4.049 0,91 0,62 2,63 1,59

São José das Palmeiras 4.102 0,92 0,60 2,85 0,81

Entre Rios do Oeste 3.328 0,75 0,53 2,07 1,32

Quatro Pontes 3.646 0,83 0,46 2,86 0,56

Total 443.695 100 100 100 100

Fonte: IBGE 2000, IPARDES 2006, CIH/ITAIPU 2006.

Os municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio SFV

apresentam grande diferença quanto à sua população total e a abrangida pela

bacia, conforme mostra a Tabela 12. Sete municípios apresentam população

inferior a 10.000 mil habitantes, dois com menos de 50.000 mil habitantes e

dois com mais de 100.000 mil habitantes, expressando a grande diferença

entre os municípios. A população municipal estimada na área da sub-bacia é

de 5 municípios com população que varia de 80% a 100%, 3 municípios com

população que varia de 50% a 70% e 3 municípios com população que varia de

30% a 40%, demonstrando que a intervenção humana incide diretamente no

fluxo da bacia, provocando a redução do volume de água pela redução da

infiltração das águas pluviais ou pelo processo de erosão do solo, demandando

a correção de ações antrópicas ao meio natural.

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Gráfico 8 – População do município estimada na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Dados organizados pela autora

Os municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro tem um percentual bastante grande de residentes na

área da bacia, o que interfere no processo de preservação, caso as medidas

de proteção não sejam tomadas de forma articulada a outras políticas

públicas. O processo de urbanização ainda se encontra em expansão, pois a

grande concentração ocorre na área rural, pois nove municípios apresentam

um percentual populacional rural maior que o urbano, demonstrando que a

agricultura ainda é forte nessa região. A estruturação do espaço, ou seja, o

uso do solo de forma inadequada afeta os recursos hídricos, em especial os

mananciais, que são priorizados para o abastecimento humano. Assim,

existe a necessidade de rever o modelo de ocupação do solo de acordo com

as características físicas e a capacidade de diluição e autodepuração dos

reservatórios instalados em face do padrão de água que pretende

estabelecer.

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99

Seu IDH médio é de 0,78, sendo que, no Paraná, a média é de 0,82 e

no Brasil é de 0,8, e a densidade demográfica na abrangência da bacia está

assim constituída: os municípios de Ouro Verde do Oeste, São José das

Palmeiras e São Pedro do Iguaçu apresentam uma densidade entre 19 a 24

hab/km²; Entre Rios do Oeste e Quatro Pontes entre 24 a 35 hab/km²; Santa

Tereza do Oeste; Santa Helena e Pato Bragado entre 35 a 43 hab/km²;

Toledo e Marechal Cândido Rondon entre 43 a 59 hab/km²; e Cascavel entre

89 a 135 hab/km² (IBGE, 2006). Essa concentração populacional por

quilômetro quadrado ocorre em uma área total de 6.009 km² entre os

municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro.

De acordo com as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o Brasil tem 5.564 municípios, além do Distrito Federal. O

IBGE define os municípios como de pequeno, médio e grande porte. Já a

política de saneamento ambiental, conforme o Ministério das Cidades (2009),

adota, para fins de financiamento, o parâmetro populacional superior a 50 mil

habitantes e considera como municípios de menor porte aqueles com

população até 50 mil habitantes.

O critério de classificação do que é urbano46 ou rural no Brasil,

segundo Blume (2004, p. 65 -73), obedece ao Decreto-Lei nº 311, baixado

por Getúlio Vargas, em 1938, que estabelece a delimitação administrativa

das cidades47 brasileiras. O referido decreto é ainda o embasamento oficial

para as delimitações territoriais que regulamentam o Censo Demográfico

46

A Lei Federal nº 5.172/1966, no artigo 32, define que a zona urbana deve observar o requisito mínimo da existência de melhoramentos em pelo menos dois dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público: I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; II - abastecimento de água; III - sistema de esgotos sanitários; IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de três quilômetros do local considerado. A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio.

47 O Decreto-Lei nº 311/1938, no artigo 3º, assim delimita as unidades territoriais: “toda a sede do município tem a categoria de cidade e lhe dá o nome”. Já o artigo 4º regulamenta o distrito: “este será designado pelo respectivo nome de sua sede, a qual, enquanto não for erigida em cidade, terá a categoria de vila.” (BLUME, 2004, p. 68).

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100

utilizado pelo IBGE. Toda população com domicílio na sede do município48

(cidade) é contada como “urbana”, distinguindo-a do seu entorno, o externo,

que é contada como população “rural”. As categorias rural e urbana são

definidas por lei municipal, compreendendo a zona urbana como a área de

um município caracterizada pela edificação contínua e a existência de

equipamentos com funções urbanas básicas, como habitação, trabalho,

recreação e circulação.

Os municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro são especializados na conversão de proteína vegetal

em proteína animal, ou seja, segundo o Plano de Desenvolvimento Regional

(2000), a organização da cadeia produtiva desenvolvida pelos produtores

rurais faz com que ocorra desde o plantio de soja, trigo, milho, cana-de-

açúcar e mandioca à industrialização de carne suína e de aves, e, também, a

produção de leite, mel de abelha e ovos de galinha.

A agricultura é vista como um setor produtivo, internacionalmente

competitivo, e aponta o agronegócio como impulsionador da economia

regional. No entanto, o modelo de produção adotado pauta-se na agricultura

de alta tecnologia. Tal tecnologia é dependente de vultosos investimentos,

concentradora de terra e renda, consumidora de energia e água, provoca

graves impactos sobre o ambiente e a saúde, e, consequentemente, fragiliza

a pequena produção agrícola familiar, empurrando uma grande massa

humana em direção às cidades.

A área da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro, em

decorrência do sistema produtivo adotado, apresenta problemas. A erosão, a

distribuição da população no meio urbano, os sistemas de tratamento dos

recursos hídricos e dos resíduos sólidos, a infraestrutura de saneamento

urbano e rural, dentre outros elementos, contribuem para a fragilização da

perenidade dos recursos naturais e da qualidade ambiental.

48

Na busca de informação mais rigorosa na contagem da população urbana brasileira, o Ministério das Cidades solicitou ao IBGE medição detalhada. Essa medição revelou que 79,9% da população brasileira reside em “área urbanizada de vila ou cidade”, independentemente de estar localizada em zona rural ou urbana assim classificada pelos municípios. (Cadernos do Ministério das Cidades, vol. 1, Governo Federal, 2004).

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101

O consumo dos recursos naturais por parte dos habitantes do planeta

terra tem sido o fator determinante do nível de intervenção humana na

natureza49. As formas como são extraídos e transformados os recursos

naturais, as tecnologias utilizadas, o nível de eficiência e as perdas no

sistema produtivo determinam o grau de degradação do meio ambiente.

Na sequência apresenta-se a tabela do Índice de Desenvolvimento

Humano dos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco

Verdadeiro:

49

Em 2004, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (UNEP Annual Report), apresentou a crise ambiental mundial, destacando seis principais problemas que causam risco à vida. São eles:

1. Aquecimento da Terra ou efeito-estufa – aumento do gás carbônico por queima de combustíveis fósseis: indústria, produção de energia elétrica e uso do automóvel causando degelo, inversão térmica de inverno e ilhas de calor.

2. Chuva ácida – presença de plumas de poluentes industriais e de automóveis na atmosfera, que se precipitam com as chuvas. Causa a perda de áreas agrícolas. Nas cidades, causa a poluição das águas pluviais e a corrosão de elementos do ambiente construído, com impactos especialmente no patrimônio de interesse histórico, arquitetônico e artístico.

3. Extinção de ambientes naturais – principalmente através do desmatamento para a expansão agrícola e a expansão da ocupação humana pelas cidades e complexos industriais. A retirada da cobertura vegetal nos diferentes biomas destrói os locais de nidificação e restringe o número de espécies em função das suas necessidades de espaço vital.

4. Destruição do ozônio atmosférico: efeito sinérgico do uso de cloro flúor carbonos (CFCs) em refrigeração e aerossóis e compostos de flúor. O buraco da camada de ozônio nos deixa vulneráveis à radiação ultravioleta, com riscos cancerígenos e mutacionais.

5. Erosão, decorrente da retirada da cobertura vegetal e exposição de solos às intempéries (chuvas e ventos), seja para a expansão urbana (obras de terraplenagem, empreendimentos implantados parcialmente, etc.), seja pela atividade agrícola em solos frágeis ou com técnicas inadequadas; e, mais recentemente;

6. Perda de fontes de água doce. Causada pela poluição das águas por esgotos domésticos e industriais em quantidade superior à capacidade de autodepuração dos rios, e a retirada excessiva de águas dos rios para irrigação e produção industrial, comprometendo o abastecimento humano. (BUENO, 2008, p.102, grifo nosso).

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9.

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103

O IDH médio dos municípios que compõem a sub-bacia paranaense

do Rio São Francisco Verdadeiro é de 0,78, sendo que no Paraná a média é

de 0,82 e no Brasil de 0,8. Conforme a Tabela 11, a esperança de vida ao

nascer varia de 68,30 a 77,67, sendo que a média no Paraná é de 69,80; a

taxa de alfabetização é de 77,54 a 97,57, enquanto a média no Paraná é de

90,50; a taxa bruta de frequência escolar varia de 81,40 a 95,10, enquanto a

média no Paraná é de 82,90; a renda per capita varia de 150,67 a 347,0,

enquanto a média no Paraná é de 321,40; a longevidade (IDHM-L) varia de

0,722 a 0,878, enquanto a média no Paraná é de 0,747; a educação (IDHM-

E) varia de 0,794 a 0,944, enquanto a média no Paraná é de 0,879; a renda

varia de 0,610 a 0,749, enquanto a média no Paraná é de 0,736; o índice de

GINI varia de 0,460 a 0,590, enquanto a média no Paraná é de 0,607.

O IDH foi introduzido pelo Relatório de Desenvolvimento Humano

Internacional (RDH), elaborado para o PNUD em 1990, e desde seu início

apresenta três dimensões, participando com pesos iguais 1/3 na

determinação final do índice: Longevidade, Educação e Renda.

As famílias em situação de pobreza variam de 0,40 a 54,41,

expressando o percentual relativo à somatória das famílias nessa situação e

não o percentual relativo à população total de cada município.

O percentual de pessoas em situação de pobreza nos municípios variam

de 0 a 10% dois municípios (Quatro Pontes e Entre Rios do Oeste); de 11 a

20% quatro municípios ( Marechal Cândido Rondon, Toledo, Cascavel e Pato

Bragado); de 21 a 30% dois municípios (Santa Tereza do Oeste e Santa

Helena); e mais de 30% três municípios (São José das Palmeiras, São Pedro

do Iguaçu e Ouro Verde do Oeste). Essas diferenças se expressam no âmbito

de desigualdades sociais e econômicas entre os municípios, resultando em um

desequilíbrio nas dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais entre

tais realidades.

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104

Gráfico 9 – Taxa de pobreza da população total dos municípios da sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro

Fonte: IBGE/IPARDES, 2009

A população em situação de pobreza exige ações efetivas que lhes

permita enfrentar e superar essa situação, essa é uma responsabilidade do

Estado, ou seja, ele deve criar e implementar políticas econômicas e sociais

capazes de enfrentar a pobreza, as desigualdades sociais, com possibilidades

concretas de acesso aos bens e riquezas produzidas socialmente.

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105

2 OS ESPAÇOS PÚBLICOS DE CONTROLE SOCIAL DA POLÍTICA

AMBIENTAL NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO

VERDADEIRO

Que nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a justiça e a paz pela alegre celebração da vida.

(Carta da Terra, 2000)

Os conselhos gestores, como forma de participação sociopolítica no

século XXI, têm se constituído em espaços de inovação e de negociação dos

conflitos no processo de democratização da sociedade. Trata-se de canais

de participação que articulam representantes da população, membros do

poder público e do empresariado. Esse processo de participação não está

desvinculado das lutas sociais por acesso aos direitos sociais e à cidadania.

A ideia da participação na gestão pública confronta a ideologia

disseminada pelas agências internacionais de financiamento, quando estas

destacam que os processos participativos seriam desfavoráveis ao

crescimento econômico na medida em que dificultariam a tomada rápida de

decisões. Aos poucos, essa ideia foi cedendo espaço à ideia de que “[...] a

participação conteria um valor em si, como também seria relevante para o

fornecimento de sustentabilidade às políticas públicas e ao próprio

desenvolvimento.” (NOGUEIRA, 2004, p. 131).

A participação é vista de maneira ampliada, não objetiva eliminar os

conflitos, mas torná-los transparentes, bem como adotar normas e padrões

para a sua administração. Dentro desta vertente, o Estado é visto como uma

arena de luta de classes e de interesses, valorizando a dimensão do espaço

público.

Nesse sentido, os interesses da maioria estarão incluídos nos

processos de decisão política e no direito de todos à participação na vida

pública. O desafio que tal perspectiva coloca é o de construir uma

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interlocução entre sujeitos sociais preocupados com a publicização50 da

sociedade política e da sociedade civil em busca da universalização dos

direitos.

Na década de 80 o contexto social é marcado pela Constituição, a

crise fiscal do Estado, a flexibilização nas relações de trabalho e, com ela, o

desemprego estrutural, a intensificação do processo de globalização e a

adoção e hegemonia do ideário neoliberal. Este paradoxo – avanço na Carta

Constitucional e retrocesso na realidade teve seus reflexos, na década de

1990, reforma ou “contra reforma” do Estado51, numa certa paralisia dos

movimentos sociais e num aprofundamento da crise da sociedade brasileira

em todos os aspectos.

A participação baseada nos princípios do liberalismo é caracterizada

pela redução do escopo da ação política e contribui para a despolitização do

processo. O modelo gerencial reinterpreta essa exclusão e negação da

política, associando-a à participação. A abertura dos canais

institucionalizados de participação é um dos mecanismos pelos quais se

realiza essa despolitização do debate público. Seria, portanto, preciso

adaptar o processo democrático à hegemonia neoliberal. Supõe-se que não

poderia ter uma participação qualquer ou uma “autêntica” cidadania num

quadro determinado pelo mercado. Trata-se então de despolitizar o processo

de abertura do Estado para a sociedade (TATAGIBA, 2003, p. 43).

Nesse contexto, emergem os Conselhos de meio ambiente contexto

que, do ponto de vista político, propugna um modelo de gestão democrática,

mas que, do ponto de vista econômico (do modelo econômico adotado),

representa um retrocesso no avanço dos direitos sociais e políticos.

Os conselhos, como mecanismos institucionalizados de participação na

elaboração das políticas públicas, tanto podem servir para uma maior

50

Neste trabalho, a concepção de publicização está sendo entendida no sentido de tornar público, tornar o recurso e a coisa pública mais transparentes, capaz de ser conhecida e entendida por todos; de uma esfera pública como espaço de explicitação de interesses em conflito, de confronto entre projetos sociais e de luta pela hegemonia. (RAICHELIS, 1998, p. 62).

51 Contra-reforma do Estado, a discussão encontra-se em BEHRING, Elaine R. Brasil em contra-reforma. Desestruturação do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003.

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participação e um contraponto na defesa dos direitos, como podem servir para

engessar, rotinizar e burocratizar a participação, contribuindo para um

desalento da participação social ou despolitização do processo.

A proposta de descentralização e o reconhecimento do município como

ente federal, segundo Arretche (2000), representou importantes alterações nas

relações entre as três esferas do governo (federal, estadual e municipal), e,

assim, cada uma delas assume a soberania em seu nível de competência. A

descentralização supõe que os estados e os municípios sejam dotados de

autonomia fiscal e política para o desempenho das funções da gestão pública,

no entanto, devido às desigualdades regionais e locais, faz-se necessário o

incentivo por parte do governo federal para que tal requisito seja cumprido.

O pressuposto é que o processo de descentralização deva contribuir

para a autonomia, a consolidação da democracia e da participação social,

sendo essas entendidas como medidas políticas que interferem na redefinição

das relações de poder, com vistas ao pluralismo e à estruturação da ação

compartilhada entre Estado, mercado e sociedade na provisão de bens e

serviços que atendam às necessidades humanas básicas52. A ideia de

descentralização trouxe consigo uma específica recuperação das ideias de

participação, cidadania e sociedade civil.

A redefinição das relações de poder se expressa na municipalização e

no poder local e, segundo Dawbor (1994), ao analisarmos as transformações

que marcam o processo de descentralização das políticas publicas para a

esfera local, devemos atentar para o contexto no qual tais modificações se

sucedem, ou seja, o acelerado processo de urbanização das várias regiões do

país, urbanização que traz associada consigo a proliferação da pobreza no

campo e na periferia das grandes cidades. Graves problemas de ordem social

e econômica antes inexistentes têm se reproduzido no âmbito dos municípios,

obrigando os governos locais a tratar de questões que vão muito além de sua

52

Na política de assistência social, segundo Sposati (2004, p. 43), o entendimento de necessidades humanas básicas se expressa na proteção social, que, além de provisões materiais, deve afiançar meios para o reforço da autoestima, autonomia, inserção social, ampliação da resiliência aos conflitos, estímulo à participação, equidade, protagonismo, emancipação, inclusão social e conquista da cidadania. Entendo que essa condição deve ser extensiva às demais políticas, em específico à política ambiental.

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ação tradicional, ocupando-se de aspectos que abrangem desde questões

ambientais até programas de enfrentamento da pobreza.

Embora a garantia de condição para a existência das políticas públicas

seja de competência do Estado, tal fato não resulta de decisões impositivas e

unilaterais do governo para a sociedade, visto que elas envolvem relações de

reciprocidade e de antagonismos. Assim, portanto, mesmo considerando a

primazia do Estado na condução das políticas sociais, a participação da

sociedade civil nos processos de definição e de controle da sua execução

(conselhos, fóruns, conferências) é fundamental para a consolidação da sua

dimensão, efetivamente, pública.

Para Raichelis & Wanderley (2004, p. 11), “[...] o público é a expressão

da democracia aplicada ao conceito do que deve e pode ser universal. Mas

também um modo de pensar a reorganização da nossa sociedade marcada

por esta dicotomia entre o privado e o estatal [...]”. Inerente ao conceito de

público está a responsabilidade do Estado e da sociedade, em um mesmo

movimento, de forma simultânea, complementar e contraditória.

A Constituição Federal de 1988, segundo Gohn (2001), pauta-se na

cidadania e prevê instrumentos para o seu exercício através da democracia

participativa. As leis orgânicas específicas, promulgadas após 1988,

passaram a regulamentar o direito constitucional à participação por meio de

projetos de lei de iniciativa popular, de referendos e de plebiscitos. Destaca

também os conselhos deliberativos, de composição paritária, entre

representantes do poder executivo e de instituições da sociedade civil.

No contexto da gestão das políticas públicas, o espaço destinado à

articulação entre os setores governamental e privado são primordialmente os

conselhos de gestão, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. No

debate sobre essa gestão, os conselhos aparecem relacionados à

capacidade de interferirem na descentralização, no fortalecimento da

autonomia e na abertura de canais que incorporam diferentes segmentos e

interesses.

A institucionalização dos conselhos de gestão é parte de uma luta

histórica em que se supõem os avanços da onda democrática, defendida por

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sujeitos políticos e movimentos sociais imbuídos desses compromissos. Ou,

como diz Raichelis (1998, p. 75), “[...] a luta pela democratização do Estado,

relacionada com a participação de segmentos organizados da sociedade civil

nas decisões e prioridades das políticas públicas [...]”, exige transformações

radicais no padrão de relacionamento entre ambos, onde os conflitos possam

ser publicizados e as soluções negociadas.

As experiências dos conselhos de políticas sociais e de defesa dos

direitos são compreendidas como conquistas políticas e institucionais, no

formato da gestão das políticas sociais brasileiras. As adequações e/ou

reformas operadas no Estado, nos anos 90, articularam a existência dos

conselhos ao repasse de recursos financeiros, do nível federal ao estadual e

municipal. Aqui se destacam os conselhos de meio ambiente e de recursos

hídricos, que, conjuntamente com os conselhos de defesa do consumidor e

do patrimônio histórico cultural, são classificados por Gohn (2001) como

conselhos de interesse geral da comunidade.

Os conselhos estão sendo implantados gradativamente e, deveriam:

[...] auxiliar a administração pública no processo de gestão para melhoria dos serviços públicos; serem restauradores de influência direta do cidadão comum nos negócios da cidade; participar das decisões do que fazer com as verbas; colaborar na elaboração de políticas, leis e programas de interesse público; desenvolver atividade permanente e paralela na elaboração de diretrizes, ações e decisões dotadas de legitimidade própria, etc.(GOHN, 1990, p.85).

Os conselhos e os comitês de bacia pretendem criar as condições

para a efetiva participação da sociedade civil nas decisões sobre a política

ambiental em igualdade de condições com o poder público, estabelecer uma

nova racionalidade administrativa e um consistente movimento de

democratização das decisões política. Por outro lado, as administrações

resistem em reconhecê-los enquanto instrumento de gestão do sistema local,

criando instrumentos e instâncias paralelas.

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110

2.1 Conselhos de Meio Ambiente

O conselho de meio ambiente é um dos espaços de controle instituído

na sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro, pois existe ainda o comitê de

bacia do Rio Paraná III e os comitês gestores do Programa Cultivando Água

Boa. Esses espaços buscam viabilizar o controle e a participação da

sociedade civil na implementação da política ambiental e de saneamento. A

Política Nacional de Meio Ambiente considera, em seu processo de

implementação, a preocupação com fatores econômicos, sociais, culturais e

ecológicos: O “sistema descentralizado e participativo” tem sido, aos poucos,

incorporado à construção das políticas públicas, de acordo com o

reconhecimento e o envolvimento dos atores, como é o caso da Política

Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que reconhece a necessidade de

implantação desses preceitos, porém se enfrentam inúmeras dificuldades e

resistências. Mais recentemente foi atribuída aos conselhos de meio

ambiente a responsabilidade do controle social da implementação da política

de saneamento ambiental.

A Declaração da RIO 92 estabelece que “[...] as questões ambientais

são melhor administradas com a participação de todos os cidadãos

interessados, nos níveis apropriados”. A Agenda 21 Global prevê ampla

participação pública na tomada de decisões, principalmente através do

envolvimento ativo das organizações não governamentais e de todos os

grupos relevantes, e dedica o capítulo 40 ao tema do acesso à informação.

Esses tratados internacionais se referem à participação pública como um

pressuposto do desenvolvimento sustentável53, entendido enquanto um

consenso diplomático aceito num momento determinado, um ponto de

partida, para repensar as políticas ambientais e desenvolvimentistas.

53

O conceito de desenvolvimento sustentável foi estabelecido pelo “Relatório Brundtland” ou “Nosso Futuro Comum” (1987), sob a presidência da 1ª ministra da Noruega, Sra. Gro Harlem Brundtland, como sendo aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas.

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111

Outra norma sobre o tema da participação pública partiu da 4ª

Conferência Ministerial da série “Meio Ambiente para a Europa”, e ficou

conhecida como Conferência de Aarhus54, que aprovou a convenção sobre o

“acesso à informação, à participação pública em processos decisórios e à

justiça em matéria ambiental”. O artigo 1º enuncia o direito à participação,

[...] para contribuir para a proteção do direito de qualquer pessoa das presentes e futuras gerações a viver num ambiente adequado para seu bem estar, deverá ser garantido o seu direito de acesso à informação, à participação pública em processos decisórios e à justiça em matéria de meio ambiente. (Observatório Eco, 2010).

A convenção prevê ainda que o público deve participar na preparação

dos planos e programas relacionados ao meio ambiente e na elaboração de

normas infralegais. No Brasil, a manifestação a favor da adoção dessa

Convenção ocorreu como recomendação dos participantes do Congresso

Internacional “O Novo no Direito Ambiental por Michel Prieur”, realizado em

São Paulo, em 2010, chamada de Carta de São Paulo, ou seja, um

manifesto, processo ainda em construção na política ambiental e de

saneamento básico.

Por influência da Rio 92, no nível mais imediato no Brasil se obteve a

criação do Ministério do Meio Ambiente55, em outubro de 1992, no governo

de Itamar Franco, tendo como missão

[...] promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento, a proteção e a recuperação do meio ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização dos serviços ambientais e a inserção do desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas, de forma transversal e compartilhada, participativa e democrática, em todos os níveis e instâncias de governo e sociedade. (Lei 8.490/92 - MMA).

54

Conferência de Aarhus, realizada em 25 de junho de 1998, na Dinamarca, entrou em vigor em 30de outubro de 2001, sendo ratificada por 16 países membros da UNECE e pela União Européia.

55 A primeira referência ao processo de institucionalização da política ambiental foi a criação, em 1972, da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), em 1985, o Ministério do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente, e em 1992 o Ministério do Meio Ambiente, pela Lei Federal nº 8.490, de 19/11/1992.

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112

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA)56 foi instituída em 1981,

e propõe a gestão integrada dos recursos naturais. Estabelece a definição de

meio ambiente, entendido como:

O conjunto de leis, influências e interações de ordem física, química, biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; e os recursos ambientais que compreendem a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera57, a fauna e a flora. (PNMA, 1981).

O texto da PNMA, no capítulo IV, relativo ao meio ambiente, atribui a

todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao

poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e as futuras gerações.

O objetivo da PNMA, expresso no artigo 2º, prevê a preservação, a

recuperação e a melhoria da qualidade ambiental, para propiciar uma vida

mais saudável para toda a população. Para isso, porém, é preciso garantir o

desenvolvimento socioeconômico sustentado, com vistas à proteção de

interesses de segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

A referida Política prevê a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA) e do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).

O SISNAMA, conforme o artigo 6º da PNMA/1981, é constituído pelos

órgãos e pelas entidades responsáveis pela proteção e gestão da qualidade

ambiental (nas esferas federal, estadual e municipal), além dos órgãos da

administração federal cujas atividades estejam relacionadas à problemática

ambiental. Ele tem como órgão consultivo e deliberativo o CONAMA, o que

56

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) foi instituida em pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981; regulamentada pelo Decreto Federal nº 88.351/1983, com posteriores modificações efetivadas pela Lei Federal nº 7.084/1989, Lei Federal nº 8.808/1990 e Lei Federal nº 11.284/2006. E o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) foi criado pela Lei Federal nº 7.797/1998.

57 Por biosfera entende-se qualquer porção de nosso planeta que contém vida. Trata-se de uma porção incrivelmente pequena. Os organismos podem ser encontrados: a) na porção mais baixa da atmosfera (troposfera); b) na camada que fica sobre ou logo abaixo da superfície da terra (litosfera); e c) no interior dos corpos de água (hidrosfera) e nos sedimentos imediatamente abaixo. Com algumas exceções, isso coloca todas as formas de vida poucos centímetros abaixo ou centenas de metros acima da terra e das águas do planeta. (DASHEFSKY, 2003, p. 47).

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“[...] propiciou um caráter inovador na legislação ambiental no Brasil.”

(SÁNCHEZ, 2000, p. 80).

O CONAMA58 foi regulamentado em 1997, o conselho faz parte da

estrutura básica do MMA e tem o objetivo de realizar estudos e propor

diretrizes políticas para o meio ambiente, prestar assessoria ao Conselho do

Governo (órgão da Presidência da República, a que está vinculado), além de

decidir as normas e os padrões de uso dos recursos naturais, visando à

manutenção do equilíbrio ecológico e à qualidade de vida59.

O CONAMA é composto de plenário, Comitê de Integração de

Políticas Ambientais (CIPAM), grupos assessores, câmaras técnicas e

grupos de trabalho, sendo presidido pelo ministro do Meio Ambiente. É um

órgão colegiado composto por 104 membros, com funções consultivas e

deliberativas, com representantes de cinco setores: órgão federal, estadual e

municipal, setor industrial e da sociedade civil (integrada por organizações

ambientalistas, comunidade científica, populações indígenas e tradicionais,

órgãos de classe e movimento sindical). E tem as seguintes atribuições:

estabelecer, mediante proposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, dos demais órgãos integrantes do SISNAMA e de Conselheiros do CONAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e Municípios e supervisionado pelo referido Instituto;

determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como às entidades privadas, informações, notadamente as indispensáveis à apreciação de Estudos Prévios de Impacto Ambiental e respectivos Relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, em especial nas áreas consideradas patrimônio nacional;

58

O CONAMA58

foi regulamentado pelo Decreto Federal nº 2.120/1997 e as adequações ao contexto histórico foram expressas no Decreto Federal nº 3.942/2001.

59 O conceito qualidade de vida tem sido amplamente debatido em diferentes fóruns, inclusive os acadêmicos, onde se tem procurado demonstrar a íntima relação entre qualidade de ambiente e vida, como um fenômeno tanto pessoal quanto coletivo e que se constitui num direito de cidadania. (HERCULANO, 2000).

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decidir, após o parecer do Comitê de Integração de Políticas Ambientais, em última instância administrativa, em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA;

determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição causada por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;

estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos;

estabelecer os critérios técnicos para a declaração de áreas críticas, saturadas ou em vias de saturação;

acompanhar a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) conforme disposto no inciso I do art. 6 o da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000;

estabelecer sistemática de monitoramento, avaliação e cumprimento das normas ambientais;

incentivar a criação, a estruturação e o fortalecimento institucional dos Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e gestão de recursos ambientais e dos Comitês de Bacia Hidrográfica;

avaliar regularmente a implementação e a execução da política e normas ambientais do País, estabelecendo sistemas de indicadores;

recomendar ao órgão ambiental competente a elaboração do Relatório de Qualidade Ambiental, previsto no inciso X do art. 9 o da Lei 6.938, de 1981;

estabelecer sistema de divulgação de seus trabalhos;

promover a integração dos órgãos colegiados de meio ambiente;

elaborar, aprovar e acompanhar a implementação da Agenda Nacional do Meio Ambiente, a ser proposta aos órgãos e às entidades do SISNAMA, sob a forma de recomendação;

deliberar, sob a forma de resoluções, proposições, recomendações e moções, visando o cumprimento dos objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente;

elaborar o seu regimento interno. (MMA, 2010).

O CONAMA, através das resoluções, tem implementado as novas

diretrizes para a área ambiental, que são aplicadas quando se trata de

deliberação vinculada às diretrizes e às normas técnicas, aos critérios e aos

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padrões relativos à proteção ambiental e ao uso sustentável dos recursos

ambientais. Os temas afetos à gestão de recursos ambientais objetos dessas

resoluções visam à proteção e à conservação dos recursos naturais, por isso

regulam temas como: gestão de resíduos e produtos perigosos, áreas

protegidas, biomas, gestão de espécie de fauna e flora, qualidade da água,

controle da poluição sonora e do ar, licenciamento ambiental, sistema de

dados e informações. A ênfase na formulação de normas ocorre em

detrimento da efetivação da política, expressando o excesso de burocracia

da área.

As inovações na PNMA abrem a possibilidade de estados e

municípios formularem suas próprias leis ambientais, para o que devem

contar com a participação da sociedade na efetivação das ações relativas à

problemática ambiental.

Os Conselhos Estaduais de Meio Ambiente foram consagrados por

meio da Política Nacional do Meio Ambiente, porém já existiam antes da

própria lei. Eles foram inspiradores da criação do CONAMA e do próprio

Sistema Nacional de Meio Ambiente.

As primeiras experiências de conselho de meio ambiente datam de

1973, inicialmente na Bahia com o Conselho Estadual de Proteção

Ambiental (CEPRAM), em Santa Catarina com o Conselho Estadual de

Tecnologia e Meio Ambiente de Santa Catarina, no Rio de Janeiro em 1975

com a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) e da

Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA), todos deliberativos; em

Minas Gerais em 1977 com a Comissão de Política Ambiental (COPAM),

que foi considerada o primeiro conselho normativo e deliberativo,

transformado, posteriormente, no Conselho Estadual de Política Ambiental

em 1989. Inspirados nessas iniciativas, outros conselhos foram criados em

Sergipe (1978), em Alagoas (1979) e no Mato Grosso do Sul (1979); e

também no governo federal, com a criação do Conselho Nacional do Meio

Ambiente (1981); os últimos conselhos criados foram em 2003, no Amazonas

e em Roraima. (BRASIL, 2007).

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No Paraná, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEMA) foi

instituído em 198460, entretanto a atuação efetiva ocorre a partir dos anos

2001. Ele é um órgão superior de caráter colegiado, consultivo, normativo e

deliberativo, subordinado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e

Recursos Hídricos (SEMA).

O Brasil já instituiu os CEMAs nos 26 Estados, além do Distrito

Federal, todos com competência normativa e deliberativa, com exceção do

Espírito Santo, Pernambuco e Tocantins. Dos 27 CEMAs, 13 são consultivos

(Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pará,

Pernambuco, Paraná, Piauí, Roraima, Santa Catarina, Tocantins), sendo que

os conselhos de Minas e Bahia têm competência licenciadora. O Conselho

de São Paulo aprova relatórios e estudos de impacto ambiental (EIA-Rima)

mediante parecer da Secretaria de Meio Ambiente do Estado. (BRASIL,

2007).

Os conselhos estaduais de meio ambiente em geral têm composição

similar, segundo dados do Encontro Nacional de Colegiados Ambientais

(ENCA) (2007, p. 22): “[...] 45% de conselheiros do Poder Público das três

esferas de governo, 23% do Ministério Público, ONGs e Setor Acadêmico,

15% do Setor Econômico e 15% de outros setores”. Com algumas diferenças

regionais significativas, a região Centro-Oeste apresenta o maior equilíbrio

entre os diferentes segmentos; na região Norte, destaca-se a participação

expressiva de órgãos do executivo federal, possivelmente pela importante

presença da União na gestão pública dessa região, um fenômeno

parcialmente remanescente do período em que alguns estados eram

territórios federais; na região Sul, aí chama a atenção a participação

expressiva do poder público estadual; nas regiões Norte e Nordeste, a

presença de ONGs ambientalistas é menor do que nas demais regiões; a

participação das associações e conselhos profissionais decresce do Norte

para a região Sul do país.

60

O Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEMA) foi criado pela Lei Estadual nº 7.978, de 30 de novembro de 1984, alterado pelas Leis Estaduais nºs 8.289, de 7 de maio de 1986; 8.485, de 3 de junho de 1987; e 11.352, de 13 de fevereiro de 1996. E suas competências e composição foram estabelecidas pelo Decreto Estadual nº 4447, de 12/7/2001.

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117

Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são entes da

administração pública, integrantes do SISNAMA. Esses conselhos são fóruns

de diálogo e de construção de conhecimentos sobre o meio ambiente local.

São também um espaço para administrar conflitos, propor acordos e

construir um modelo de gestão ambiental que esteja em consonância com os

interesses econômicos e sociais locais de forma participativa e

descentralizada. Os conselhos assumem a função de dinamizar a

administração pública e, ao mesmo tempo, essa ideia facilita ao governo

municipal imprimir maior racionalidade à gestão da política ambiental,

buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus

recursos, adotando, em muitos casos, o planejamento por objetivos e metas,

de que os planos setoriais são exemplos dessa forma de administrar.

Segundo o IBGE (2004), 2.039 municípios brasileiros possuem

CMMAs (36% dos 5.564 municípios). A proporção de municípios que

dispõem desse instrumento de gestão ambiental não se manifesta, no

entanto, de forma idêntica nas diversas unidades da federação. A região

Sudeste é a que concentra o maior número de CMMAs (40% dos CMMAs

brasileiros) e a região Norte o menor (6%). Nos estados, o Piauí e a Paraíba

aparecem com o menor percentual de municípios dotados de conselho (6% e

9%, respectivamente); no outro extremo, os estados de Roraima, Minas

Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentam o

maior percentual (entre 67% e 58% dos municípios). Além dessas

disparidades, ainda existem variações entre os estados que compõem uma

mesma região do país. (BRASIL, 2007).

No quadro geral dos conselhos participativos de políticas públicas é

baixa a presença de Conselhos Municipais de Meio Ambiente. Os CMMAs

ocupam o 6º lugar, após os Conselhos da Saúde, Assistência Social,

Educação, Crianças e Adolescentes, Emprego e Trabalho (IBGE, 2004).

O Ministério do Meio Ambiente61, através do CONAMA, realizou, em

março de 2007, um estudo do perfil dos CMMAs. Dos 5.564 municípios,

61

As informações estão disponíveis no sítio eletrônico do Ministério do Meio Ambiente: <www.mma.gov.br/enca>.

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118

1.329 participaram do levantamento, sendo que 913 declararam ter conselho.

Os municípios cadastrados representam 16% dos municípios brasileiros e

abrigam quase a metade da população brasileira (48%); e 90% deles

possuem órgãos ambientais. Esse quadro mostra que a política ambiental

caminha a passos lentos na concretização da política descentralizada e

participativa. Outro aspecto diz respeito à falta de incentivo por parte dos

gestores no processo de reestruturação da política ambiental,

diferentemente, por exemplo, da assistência social e da saúde, que

imprimem e direcionam estratégias de assimilação do processo, elaboram as

ferramentas para que haja mudança na prática dos profissionais e demais

envolvidos na efetivação da nova concepção da política.

Gráfico 10 – Conselhos de Meio Ambiente por região

Fonte: Ministério do Meio Ambiente/CONAMA, 2007, dados organizados pela

autora

A proporção de municípios com Conselho se mostrou ligeiramente

mais elevada nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, do que nas regiões

Norte e Nordeste. Em comparação com os dados do IBGE, o levantamento

dos CMMAs implementado pelo MMA apresenta, portanto, um déficit de

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119

cadastramento em todas as regiões, sobretudo nas regiões Centro-Oeste,

Sul e Sudeste do país. (MMA, 2009).

A região Sudeste concentra um maior número de entidades

ambientalistas pautadas nos movimentos ambientalistas que reivindicam do

Estado o enfrentamento da questão ambiental, bem como, a sua participação

no processo de implementação da política ambiental, fato esse que pode ter

contribuído para a criação dos conselhos municipais de meio ambiente.

Dos CMMAs cadastrados, “[...] o primeiro a ser criado foi o Conselho

de Natal/RN, em 1974. Desde então, o número de CMMA criados por ano

seguiu um pequeno crescimento até 1990, para ter a partir desta data um

aumento mais acentuado, com picos de criação nos anos 2001 (126 novos

conselhos), 2005 (143) e 2006 (123)”. Os fatores que contribuíram para esse

crescimento foram: a repercussão da ECO-92, a promulgação da Lei

Orgânica dos Municípios, seguindo as Constituintes Estaduais e a

Constituição Federal de 1988. Na sequência, a Resolução/CONAMA nº

237/1997 condicionou o licenciamento ambiental por município à existência

de CMMA de caráter deliberativo e participativo. A promulgação do Estatuto

das Cidades foi outro estímulo ao impulsionar Planos Diretores Municipais

Participativos, especialmente a partir de 2003. A Política Ambiental Integrada

e a diretriz de fortalecimento do SISNAMA a partir de 2003, com a criação

das Comissões Tripartites em todos os Estados, bem como a realização das

Conferências de Meio Ambiente (2003 e 2005) e o lançamento do Programa

Nacional de Capacitação de Gestores e Conselheiros do SISNAMA, foram

iniciativas primordiais no fortalecimento da institucionalidade dos CMMAs

(BRASIL, 2007).

A composição dos CMMAs existentes foi agregada em quatro setores

pelo Ministério do Meio Ambiente, a partir dos debates realizados em 2007:

Região Norte: setor público 45%, sociedade civil 35%, setor econômico 10%, outros 10%;

Região Nordeste: setor público 48%, sociedade civil 38%, setor econômico 9%, outros 8%;

Região Centro-Oeste: setor público 44%, sociedade civil 30%, setor econômico 15%, outros 10%;

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120

Região Sudeste: setor público 48%, sociedade civil 35%, setor econômico 11%, outros 8%;

Região Sul: setor público 42%, sociedade civil 39%, setor econômico 12%, outros 5%.

Assim, portanto, uma variação do setor público de 42% a 48%; da

sociedade civil de 30% a 39%; do setor econômico de 9% a 15%; e outros

segmentos de 5% a 10%. A orientação do CONAMA quanto à composição

do CMMA é que o conselho possa ter prevalência em sua composição de um

segmento sobre outro. Não se trata de uma proposta igualitária, mas

majoritária e, pelos dados, é o poder público que ocupa esse lugar, embora

60% seja não público. Sugere uma composição paritária ou que evolua de

maneira negociada para essa condição. Sugere a igualdade numérica, entre

representantes do poder público e da sociedade civil organizada. Essa

composição pode ser bipartite, poder público (municipal, estadual e federal) e

outros segmentos (empresarial, sindical, academia, entidades ambientalistas,

etc.); – ou tripartite, poder público; setor produtivo (empresarial e sindical) e

entidades sociais e ambientais. Cabe, portanto, ao município definir qual é a

melhor composição do conselho de meio ambiente, a fim de garantir a

representatividade das forças locais interessadas na qualidade ambiental, e

nas questões relevantes à qualidade de vida da população.

Quanto aos conselhos de meio ambiente na sub-bacia do Rio São

Francisco Verdadeiro, conforme constatamos, a implantação ocorreu em 4

municípios, dos 11 investigados, sendo que um deles não está em

funcionamento. Assim, portanto, os três conselhos62 em funcionamento

encontram-se nos municípios de maior população: em Cascavel e em

Marechal Cândido Rondon o conselho municipal de meio ambiente tem

composição tripartite (poder público, órgãos prestadores de serviços e

sociedade civil organizada); no município de Toledo a composição é bipartite

(poder público e sociedade civil organizada).

62

Criação dos conselhos municipais de meio ambiente: em Cascavel (COMAM), Lei nº 3.238/2001, de 17/5/2001; em Toledo (CMMA), Lei nº 1.881, de 30/6/2004; e em Marechal Cândido Rondon (CMMA); Lei nº 3.627, de 22/7/2005.

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121

Nesses municípios já havia maior receptividade à perspectiva de

descentralização da política ambiental, pois os municípios já haviam tido

experiências de expansão da democracia municipal e instituído espaços de

participação da população em outras políticas públicas, entre os municípios,

assim como, os problemas ambientais começam a tornar-se mais visíveis e

as entidades organizadas e os órgãos estaduais e federais de meio ambiente

passaram a cobrar maior intervenção local na área. Outra influência foi a

própria proposta de gestão ambiental disseminada por parte da Itaipu,

condições essas que passam a direcionar o rumo da política ambiental local.

Quanto à criação e constituição dos conselhos municipais de meio

ambiente, os procedimentos foram idênticos. Inicialmente houve a divulgação

do conteúdo da política ambiental e a criação de comissões locais

encarregadas de redigir e apresentar às instituições envolvidas e ao poder

executivo anteprojetos de lei destinados à normatização da política municipal

de meio ambiente e do fundo municipal de meio ambiente. Logo após, os

anteprojetos de lei foram encaminhados às câmaras municipais para serem

aprovados.

Uma vez sancionada a legislação municipal que cria o conselho local,

o passo seguinte consistiu no processo de discussão e implementação das

diretrizes da política ambiental, a começar por traçar o regimento interno do

conselho e a constituir as comissões técnicas – entendidas como instâncias

encarregadas de desenvolver, examinar e relatar ao plenário as matérias de

sua competência - são elas: de recursos hídricos, de resíduos sólidos, de

fauna e flora, e de educação ambiental, dando organicidade e direção para

as ações a serem executadas. Destacam-se os principais objetivos do

conselho municipal de meio ambiente:

planejar e desenvolver estudos e ações que promovam à proteção, conservação, preservação, restauração, reparação, vigilância e melhoria da qualidade ambiental;

a definição e o controle da definição dos espaços territoriais de acordo com sua potencialidade;

a elaboração de programas de educação ambiental e proteção ao meio ambiente;

juntamente com órgãos federais e estaduais, promover o controle da poluição ambiental; definir as

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122

áreas prioritárias de ação governamental visando à preservação e à melhoria da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

identificar, criar e administrar unidades de conservação e outras áreas de interesse para a proteção de mananciais, ecossistemas naturais, recursos genéticos e outros bens, estabelecendo normas de sua competência a serem nelas observadas; e

estabelecer diretrizes específicas para a proteção de recursos hídricos, através de planos de uso e ocupação de áreas de drenagem de bacias e sub-bacias hidrográficas.

Os conselhos municipais têm como responsabilidade a formulação de

diretrizes para a política municipal do Meio Ambiente. Isso inclui opinar sobre a

realização de estudos alternativos sobre as possíveis consequências

ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando das entidades

envolvidas (órgãos públicos, entidades e comunidade) as informações

referentes ao meio ambiente, decidir, junto com órgãos executivos do meio

ambiente, a aplicação dos recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente. A

experiência tem sido construída aos poucos, enfrentando os entraves políticos

e administrativos que se expressam em cada um dos municípios. Toledo e

Cascavel têm demonstrado um crescimento da política ambiental, enquanto

Marechal Cândido Rondon não tem demonstrado eficácia em suas atribuições.

Quanto aos principais assuntos abordados, a partir da consulta às

atas63 dos conselhos podemos destacar: os planos de gerenciamento de

recursos sólidos e hídricos, os planos de arborização e saneamento básico,

os aterros, as formas de utilização dos recursos dos fundos, a conservação

de nascentes urbanas, os parques municipais, as ações diversas de

educação ambiental, a utilização inadequada de áreas de preservação

ambiental e mata ciliar para a prática de atividade esportiva (trilheiros de

moto e de Jeep, e pesca ilegal) e os problemas ambientais diversos

(remodelação de praças e avenidas, pombas e andorinhas, cães nas ruas,

abelhas, postos de combustível e lavagem inadequada, zoológico municipal

de Cascavel e parque das aves em Toledo). Ainda, no município de

Marechal Candido Rondon, a discussão por parte do conselho quanto à

63

As atas dos conselhos de meio ambiente consultadas foram do período de 2005 a 2009, sendo as que se encontravam organizadas.

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123

necessidade da criação da Secretaria de Meio Ambiente, pois ela é um

departamento da agricultura, e a alegação é que existem perspectivas

antagônicas entre eles, o que tem dificultado a implementação da política

ambiental.

As ações desenvolvidas diretamente no Rio São Francisco Verdadeiro

foram a realização de um estudo da qualidade da água para o

desenvolvimento do monitoramento biológico da etiofauna, o

desassoreamento do leito do rio, além de pequenas obras de infraestrutura

desenvolvidas pela Secretaria de Meio Ambiente do Toledo, após discussão

e disponibilização de recursos por parte do Conselho de Meio Ambiente.

A construção de uma política ambiental descentralizada e

democrática nos municípios requer a superação das formas tradicionais de

organização burocrática dos serviços governamentais, resgatando-se o

caráter público dos serviços e dando fim às práticas distorcidas que impedem

a afirmação dos direitos do cidadão. Não podemos esquecer que os

governos municipais muitas vezes têm a racionalidade administrativa

cerceada e também confrontada com os limites impostos pelas medidas de

políticas macroeconômicas levadas a cabo no país. Assim, deve-se

considerar também o papel dos agentes locais e nacionais, a correlação de

forças que se estabelece em torno da elaboração e da gestão das políticas

públicas nacionais.

Nos demais municípios se constatou que os gestores municipais

resistem à ideia de implementação do processo de descentralização, ou seja,

há dificuldade em instituir os conselhos de meio ambiente como espaços de

negociação e de pactuação da política ambiental. Outro fato levantado é que

os representantes governamentais entendem que a Itaipu Binacional, através

do Programa Cultivando Água Boa e das parcerias estabelecidas com os

municípios, supre as demandas da área ambiental. Dessa maneira, os

municípios não planejam aumentar os recursos destinados à política

ambiental em suas gestões, nem entendem ser necessária a criação de

novas estruturas políticas, técnicas ou administrativas em função de seus

serviços. Essa decisão política tende a caracterizar a desresponsabilização

dos governos locais na implementação da política ambiental, o que

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124

demonstra a eficácia da estratégia de semear as concepções ideológicas do

“Estado Mínimo”, ao transferir para a iniciativa privada essa

responsabilidade. O relato do representante governamental64 expressa essa

realidade:

A não constituição do Conselho Municipal de Meio Ambiente, uma porque o nosso município é pequeno (4.000 habitantes). E para nós, hoje a prefeitura tem 9 secretarias se aumentar mais uma, nós temos que gastar mais, contratar mais um secretário. O orçamento é restrito. E isso implica, então, em redução em outras coisas, fazer cortes em outras coisas. Devido a isso nós não criamos ainda o nosso conselho. Efetivamente, não [...] a gente ainda não avaliou justo porque nós temos o Comitê Gestor do Cultivando Água Boa, apenas já comentamos isso, tem várias reuniões. Até com esse pessoal da Itaipu, a gente já comentou, criar o Conselho de Meio Ambiente, mas, como nós temos uma pequena população, nós chegamos a uma [...] a uma conclusão que tem tantas associações e comitês e praticamente todos participam. Saem de uma reunião, vão pra outra. Porque daí você envolve praticamente as mesmas pessoas. Foi uma opção. [...] Outra questão e que como nosso município é pequeno todo mundo conhece todo mundo. Por exemplo, se o pessoal do Conselho vai ter que aplicar uma multa para um vizinho, eu vejo uma grande dificuldade. Ele vai ser o fiscalizador, eu vejo que vai haver uma certa resistência de alguém querer participar disso. [...]. É o problema que nós temos hoje com o Conselho de Sanidade Agropecuária, ele tem que fiscalizar todo mundo e a gente sabe disso. Esbarra nessa questão aí, porque todo mundo conhece todo mundo. Não quer se expor, nem se envolver. Sabe que quando dá briga de família, ou vizinhos é bem complicado, esse é o maior empecilho que eu vejo. (Entrevista 12, 2010).

A fala demonstra a dificuldade de lidar com os conflitos existentes na

área ambiental na localidade. Reforça ainda o poder de mando de alguns. É

um universo que desconhece normas para a resolução dos conflitos. A

64

Entrevista realizada com os representantes governamentais membros do Comitê Gestor do Programa Cultivando Água Boa, em 2010.

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125

ausência do Estado e, a ignorância sobre os direitos e deveres, não podem

ser considerados aspectos banais, pois explicam os aspectos da violência

crescente.

A questão ambiental, como problemática social, segundo Leff (2001, p.

153), emerge dos processos de desenvolvimento e incide sobre o problema

da distribuição do poder, da renda, da propriedade formal (da terra e dos

meios de produção) e da incorporação da população aos mecanismos de

participação.

Esses fatos têm dificultado a implementação das demais políticas

setoriais que demandam dessa estruturação inicial da política ambiental

como forma de articulação e integração das políticas de recursos hídricos,

estrutura urbana e saneamento.

Os conselhos gestores da política ambiental, ao serem implantados,

passam a enfrentar desafios que são específicos dessa área, ou seja, a

PNMA estabelece a descentralização político-administrativa no processo de

gestão, porém não deixa claro quais são os princípios organizativos das

instâncias de governo; também fixa o recorte geográfico dos recursos

hídricos através de bacias hidrográficas65 e, quanto ao processo de

desenvolvimento econômico e social, utiliza-se do disposto na Constituição

Federal, que privilegia o setor privado na modalidade de gestão adotada.

Se, por um lado, a PNMA, por meio da política nacional de recursos

hídricos, estabelece a bacia hidrográfica como unidade de gestão, por outro,

a Constituição Federal de 1988, título VIII (Da Ordem Social), capítulo VI (Do

Meio Ambiente) pressupõe o território66 como unidade para se projetar os

65

Bacia hidrográfica é uma superfície limitada por divisores de água que são drenados por um curso d’água, como um rio e seus tributários, às vezes formando um lago. (ALMEIDA et al., 2004, p. 166).

66 Território, conforme Santos & Silveira (2001) é o conjunto indissociável de sistemas naturais, substrato físico, e instrumentos materiais impostos pelo homem. É entendido como uma base geográfica; ou todo espaço no qual se encontra uma relação de poder. Território do Estado é o espaço marcado pela presença de um poder soberano, ou seja, o espaço sobre o qual o Estado exerce seu poder exclusivo de intervenção. Os territórios dos Estados são demarcados por limites, que podem ser naturais (rios, cadeias montanhosas, lagos, mar), ou artificiais, também conhecidos como matemáticos ou astronômicos (são aqueles resultantes de acordos entre os Estados, os quais relegam a presença de acidentes naturais um valor secundário e lançam mão de limites artificiais ou imaginários). (NUNES, 2006).

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126

processos de desenvolvimento econômico e social. O ordenamento do

território consiste no planejamento do modo e da finalidade da ocupação,

potencializando o aproveitamento das infraestruturas existentes e

assegurando a preservação de recursos limitados. O fato é que, seja pela

unidade de bacia ou do território, os tratados internacionais sobre o meio

ambiente, dos quais o Brasil é signatário, priorizam os procedimentos

necessários ao desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, no processo de execução de uma política de meio

ambiente, os modelos de ordenação do território devem ser complementares

e não excludentes, uma vez que a finalidade a ser alcançada deve ser de

desenvolvimento equilibrado e sustentável, cujo objetivo, segundo Almeida et

al. (2004, p. 44), é a de construir uma civilização na qual a distribuição de

renda e riqueza seja mais equitativa, bem como aumentar, substancialmente,

os direitos das grandes massas populacionais e reduzir a distância existente

entre os padrões de vida. A Constituição de 88 (Artigo 174, §1º) prevê a

preferência de um desenvolvimento voltado para a satisfação das

necessidades (materiais e imateriais) de toda a população (e não submetido

à lógica da produção exigida como um fim em si mesmo). Essa condição

enfrenta inúmeras resistências e entraves no processo de desenvolvimento

do capitalismo, em que as empresas industriais se associam às instituições

financeiras e assim passam a comandar o processo de acumulação com

respaldo dos Estados Nacionais, com um modo específico de dominação

social e política, inviabilizando o processo de desenvolvimento sustentável.

O capital internacionalizado, segundo Iamamoto (2010, p. 111), produz

a concentração da riqueza em um polo social (que é também espacial), e

noutro, a polarização da pobreza e da miséria, potenciando

exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que se sustenta

a questão social.

Os espaços de controle são as instâncias onde se apresentam os

interesses contraditórios e, portanto, espaços de lutas e de disputas políticas,

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127

assim como podem ser capturados por aqueles que apostam na reiteração

do conservadorismo político.

A incorporação da participação popular na proteção do meio ambiente

no Brasil não se tem dado de forma tão linear como no plano internacional,

experimentando inúmeros percalços, os quais acompanham as mudanças da

própria política ambiental.

2.2 Comitê de Bacia do Rio Paraná III

Os comitês de bacias hidrográficas (CBH) são colegiados deliberativos

e consultivos e atuam na área de sua unidade de gerenciamento, ou seja, na

sua bacia.

Os comitês de bacia estão subordinados diretamente ao Conselho

Nacional e Estadual de Recursos Hídricos. A gestão de recursos hídricos por

bacia hidrográfica define um espaço geográfico de atuação para promover o

planejamento regional, o desenvolvimento e o intercâmbio entre regiões com

interesses comuns, ou entre as que disputam o direito de utilizar a água para

determinado fim. Diz respeito, também, “[...] a necessidade de proteger e

conservar as fontes de água e tudo que se relaciona a ela (solo, florestas,

matas ciliares, seres vivos, entre outros, atividades econômicas e de

ocupação do solo) num determinado ambiente físico promovendo a

discussão de soluções com diferentes setores e pessoas” (SILVEIRA, 2006,

p. 20).

A bacia hidrográfica, como uma unidade física desse meio, está sendo

tratada, em várias políticas internacionais e nacionais, como ideal para

manejo e gestão ambiental, porque se mostra eficaz para o trabalho

planejado a curto, médio e longo prazo, proposta essa adotada pela Política

Nacional de Recursos Hídricos.

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128

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/PR)67 foi instituído em

2001, ele é uma instância superior do Sistema Estadual de Gerenciamento

de Recursos Hídricos. O Conselho dispõe de uma Secretaria Executiva para

prestar-lhe apoio técnico, logístico e administrativo, exercida no âmbito da

SUDERHSA. Seguindo os moldes do Conselho Nacional68, dispõe de

Câmaras Técnicas de assessoramento para suporte à tomada de decisão

dos conselheiros. Foram aprovadas, no âmbito do CERH/PR, a Câmara

Técnica de acompanhamento do processo de elaboração do Plano Estadual

de Recursos Hídricos, a Câmara Técnica para análise e discussão sobre

enquadramento de cursos d’água de domínio do Estado do Paraná, a

Câmara Técnica para análise de Assuntos Legais e Institucionais, e a

Câmara Técnica de acompanhamento do Fundo Estadual de Recursos

Hídricos. Suas principais competências são:

opinar sobre propostas de legislação relativa à gestão de recursos hídricos;

promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com o planejamento nacional, regional e de outros Estados vizinhos, bem como setores usuários e, em especial, com o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

estabelecer princípios e diretrizes para implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos; examinar e aprovar a proposta do Plano Estadual de Recursos Hídricos;

acompanhar a execução do Plano Estadual de Recursos Hídricos;

aprovar a instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica; arbitrar e decidir sobre conflitos entre Comitês de Bacia Hidrográfica;

estabelecer critérios e normas gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos; e

estabelecer critérios e normas gerais para a cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos.

A composição do Conselho Estadual de Recursos Hídricos –

CERH/PR é estabelecida pelo artigo 34 da Lei Estadual de Recursos

Hídricos, e pelo artigo 2º do Decreto Estadual nº 2.314/2000 (PARANÁ,

67

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/PR), que foi instituído pelo Decreto nº 4.320, de 28 de junho de 2001.

68 O Conselho Nacional de Recursos Hídricos foi criado em pela Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.

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129

2000), que determina que o Conselho será presidido pelo titular da Secretaria

de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos69 (SEMA), a quem caberá,

nos procedimentos decisórios, exercer apenas o voto de qualidade, tendo

composição total de 29 membros, com igual número de suplentes, obedecida

a seguinte representação:

14 representantes de instituições do poder executivo estadual com

atuação nas questões de meio ambiente, recursos hídricos e

desenvolvimento sustentável;

2 representantes da Assembleia Legislativa Estadual;

3 representantes de municípios;

4 representantes de entidades da sociedade civil com atuação

direcionada à área de recursos hídricos; e

5 representantes de setores usuários de recursos hídricos.

Na proposta de criação do CERH/PR buscou-se assegurar a

presidência por parte do governo, impossibilitando o exercício democrático

de todos terem direito ao cargo de presidente, ou uma presidência alternada

entre setor governamental e não governamental, viabilizando novos

direcionamentos políticos do espaço.

A proposta da política de recursos hídricos, ao incorporar a

participação popular, busca dinamizar as formas de intervenção nos corpos

d′àgua e minimizar os conflitos a partir dos usos múltiplos. E destaca também

a particular atenção à articulação entre a gestão dos recursos hídricos e a

gestão do uso do solo, tomando como referência o Plano Estadual de Bacia

Hidrográfica, que se baseia nos objetivos de recuperação, preservação e

conservação dos recursos hídricos e contempla o desenvolvimento de

programas de ações e obras necessárias para o cumprimento desses

propósitos na área de abrangência do Comitê de Bacia Hidrográfica, com os

respectivos custos e cronograma de implementação.

69

A SEMA desenvolve as funções de presidência do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, bem como a formulação da Política Estadual de Recursos Hídricos.

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130

Os comitês de bacia70 são considerados a base do sistema de

gerenciamento e foram instituídos em 2000. São órgãos colegiados locais

cujas atribuições são: promover o debate das questões relacionadas a

recursos hídricos; articular a atuação das entidades intervenientes, bem

como arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados

aos recursos hídricos; aprovar o plano de recursos hídricos da bacia;

acompanhar a sua execução; e sugerir as providências necessárias ao

cumprimento de suas metas.

É também de sua competência propor ao Conselho Nacional e aos

Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as acumulações, derivações,

captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de isenção da

obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo

com os domínios destes, bem como estabelecer os mecanismos de cobrança

pelo uso de recursos hídricos, sugerindo os valores a serem cobrados, e

ainda estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso

múltiplo, de interesse comum ou coletivo. (PNRH, p. 19).

A composição do conselho nacional de recursos hídricos foi definida,

preliminarmente, pela PNRH, no artigo 3971, sugerindo a participação de

representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios

se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação;

dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação; dos

usuários das águas de sua área de atuação; e das entidades civis de

recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

No Estado do Paraná, a Superintendência de Desenvolvimento de

Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA) desenvolve suas

atribuições como Agência Estadual de Águas, que, conjuntamente com os 17

Comitês de Bacias Hidrográficas, é responsável pela gestão das políticas

hídricas, disciplina e regula os usos e cobra dos usuários das águas pelo seu

70

Os comitês de bacia foram instituídos pela Resolução CNRH nº 5, de 10 de abril de 2000.

71 Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997.

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aporte de consumo ou pelo exercício de atividades degradadoras da sua

qualidade, pautando-se na Política Estadual de Recursos Hídricos72.

A cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos é o instrumento

econômico da Política de Recursos Hídricos que visa o uso racional,

buscando a conservação dos recursos hídricos. O valor da cobrança pela

água é consensualizado e definido no âmbito do Comitê de Bacia, e deve ser

compatível com o plano de investimentos previsto no Plano de Bacia.

A outorga é o ato administrativo mediante o qual o Poder Público

outorgante (União, Estados ou Distrito Federal) faculta ao outorgado o uso de

recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições

expressas no respectivo ato em que o outorgado é identificado e estão

estabelecidas as características técnicas e as condicionantes legais do uso

das águas que o mesmo está sendo autorizado a fazer. Os usos que

dependem de outorga são:

a derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo d'água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

a extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

uso de recursos hídricos com fins de aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. (ANA, 2010).

Os comitês de bacia73 no Estado do Paraná têm como competência

promover o debate de questões relacionadas aos recursos hídricos e

72 Lei Estadual nº 12.726, de 26 de novembro de 1999, institui a Política Estadual de Recursos

Hídricos, que criou o Fundo Estadual e constituiu o sistema de gerenciamento e disciplinamento dos diversos usos de água no território paranaense.

73 Os comitês de bacia no Estado do Paraná foram instituídos pelo Decreto nº 2315, de 17/07/2000.

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132

articular a atuação de órgãos, entidades, instituições e demais pessoas

físicas e jurídicas intervenientes, realizando, obrigatoriamente, oficinas,

encontros e seminários destinados ao fortalecimento da participação social

comunitária na gestão dos recursos hídricos; arbitrar, em primeira instância

administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos. Abaixo os

comitês de bacia existentes no Estado do Paraná:

Mapa 2 - Comitês de Bacia Hidrográfica no Paraná

Fonte: SUDERHSA, 2009

Os Comitês de bacia aprovados pelo Conselho Estadual de Recursos

Hídricos são os seguintes: Comitês das Bacias do Alto Iguaçu e do Alto

Ribeira, Comitê da Bacia do Rio Tibagi, Comitê da Bacia do Rio Jordão,

Comitê da Bacia do Paraná III e Comitê da Bacia do Rio Pirapó, e podem ser

demonstrados da seguinte forma:

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133

Quadro 1 - Comitês de Bacia no Rio Paraná

Comitê Instrumento de Criação

Data Criação Área

Aproximada População Município

CBH do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto

Ribeira Dec. 5.878 13/12/2005 5.800 3.057.000 21

CBH do Rio Tibagi Dec. 5.361 13/06/2002 24.400 1.391.000 46

CBH do Rio Jordão Dec. 5.790 13/06/2002 5.000 207.000 7

CBH Paraná III Dec. 2.924 05/05/2004 8.600 1.000.000 28

CBH dos Rios Pirapó, Paranapanema 3 e Paranapanema 4

Dec. 2.245 03/03/2008 13.600 737.000 58

Fonte: SUDERHSA, 2009.

Os comitês de bacias hidrográficas tiveram um período de anos após

a sua definição como base do sistema, para serem implementados no Estado

do Paraná, demonstrando a dificuldade de operacionalização da política, que

alterou a estrutura político-administrativa, redefiniu papéis e qualificou os

profissionais da área, a fim de corrigir práticas administrativas contrárias aos

preceitos constitucionais e legais. Além disso, tiveram que administrar as

pressões do setor privado na execução da política.

Os comitês de bacias já instituídos apresentam a seguinte

composição, respeitados os critérios estabelecidos na legislação:

Tabela 14 - Composição dos comitês aprovados pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos

Legislação (critérios composição)

Alto Iguaçu/

Alto Ribeira

Tibagi Jordão Pirapó Paraná III

Poder Público (até 40%)

11 (27,5%) 14 (35,0%) 09 (39,0%) 12 (33,3%) 13 (39,4%)

Usuários Rec. Hídr. (até 40%)

16 (40,0%) 16 (40,0%) 09 (39,0%) 12 (33,3%) 13 (39,4%)

Sociedade Civil (mín.20%)

13 (32,5%) 10 (25,0%) 05 (22,0%) 12 (33,3%) 07 (21,2%)

TOTAL (mín. 10 e máx. 40)

40 40 23 36 33

Fonte: SEMA, CERH/PR (2009)

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134

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraná III74 foi instituído em 2004,

é composto por 33 membros titulares e respectivos suplentes. A área de

atuação e jurisdição do Comitê de Bacia do Paraná III compreende as bacias

dos rios: Boici, Matias Almada, Guabiroba, Passo Cuê, Ocoí, São João, São

Vicente, São Francisco Falso Braço Sul, São Francisco Falso Braço Norte,

São Francisco Verdadeiro, Branco, São Cristóvão, São Luis, Guaçu, Zororó,

Salamanca Capivara, Taturi, Córrego do Meio e todos os seus afluentes, com

uma área total de 8389,31 km².

As competências do Comitê constam no capítulo III do referido

decreto. O texto destaca as diretrizes definidas pelo Conselho Estadual de

Recursos Hídricos (CERH). São elas:

I – promover o debate de questões relacionadas aos recursos hídricos e articular a atuação de órgãos, entidades, instituições e demais pessoas físicas e jurídicas intervenientes, realizando, obrigatoriamente, oficinas, encontros e seminários destinados ao fortalecimento da participação social comunitária na gestão dos recursos hídricos;

II – arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos.

As Câmaras Técnicas definiram as proposições com vistas à

construção de diretrizes do Plano de Ação da Bacia do Rio Paraná III. Os 5

grandes eixos temáticos foram constituídos: Saneamento Ambiental e Uso de

Recursos Hídricos; Reposição Florestal e Biodiversidade; Educação

74

O CERH/PR aprovou a instituição do Comitê de Bacia do Rio Paraná III por meio, da Resolução nº 13, de 28/5/2002. Porém, ele foi criado pelo Decreto Estadual nº 2.924, de 5 de maio de 2004. Sua composição foi definida no capítulo I, está organizada da seguinte forma: 13 representantes do Poder Público (União 1, Estado 6, Municípios 6), 13 representantes dos Setores Usuários de Recursos Hídricos (Abastecimento de água e diluição de efluentes urbanos 3, Hidroeletricidade 1, Captação industrial e diluição de efluentes industriais 4, Agropecuária e irrigação, inclusive piscicultura 3, Drenagem e resíduos sólidos urbanos 1, Lazer, recreação e outros usos não consultivos 1) e 7 representantes da Sociedade Civil (Organizações não governamentais 2, Entidades de Ensino e Pesquisa 2, Entidades Técnico Profissionais 1, Comunidade Indígenas 1, Área de Proteção Ambiental 1). O capítulo VII trata das atribuições dos membros do comitê e do plenário do comitê, estabelecendo, no artigo 12, que o desempenho das funções de membro do Comitê é considerado serviço de relevante interesse público, e não remunerado.

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Ambiental e Desenvolvimento Sustentável; Gestão Territorial e

Licenciamento Ambiental; e Agropecuária Sustentável.

Essas áreas foram definidas levando em consideração os usos

múltiplos da bacia do Rio Paraná III, que são: lazer, navegação, pesca,

agricultura, abastecimento de água potável às populações, agropecuária,

irrigação, dessedentação animal, entre outros.

O Plano de Bacia do Rio Paraná III, no período de realização da

pesquisa, estava em processo de construção, sob a responsabilidade da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), e contava com

profissionais de várias áreas, entre eles assistentes sociais, tendo como

atribuição definir as propostas de aplicação de recursos financeiros, além de

programas e ações que visam promover a integração entre os usuários das

águas, a manutenção e a recuperação dos recursos hídricos.

Para a concretização desse importante desafio é imprescindível

renovar a cooperação entre todos os campos do saber, estabelecendo uma

maior vinculação entre universidade – sociedade meio ambiente,

vinculação que permite o fortalecimento, o aprofundamento e a consolidação

do papel da educação em geral, e, em particular, do Serviço Social, para

que, de maneira conjunta, possamos contribuir, de forma ativa e

descentralizada, na solução dos problemas de gerenciamento dos recursos

hídricos.

2.3 Comitês Gestores do Programa Cultivando Água Boa

Os comitês gestores são parte do processo de gestão e

implementação do programa socioambiental da Itaipu Binacional75,

75

A Itaipu é uma entidade binacional, criada em igualdade de direitos e obrigações pelos Presidentes do Brasil e Paraguai, que tem por finalidade realizar o aproveitamento hidroelétrico. A Itaipu é constituída pela Eletrobrás (empresa de capital aberto controlada pelo governo brasileiro) e pela ANDE (empresa técnicoeconômica de energia elétrica controlada pelo governo paraguaio), com igual participação no capital, e rege-se pelas normas estabelecidas no Tratado de Itaipu. (Decreto Legislativo Nº 23, de 26/04/1973). O Tratado de Itaipu foi alterado em 11/05/2011.

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136

denominado de Programa Cultivando Água Boa. A proposta pressupõe a

participação dos diversos usuários da água que se encontram na Bacia do

Rio Paraná III. Dentre eles destacam-se os representantes dos diversos

programas e projetos socioambientais da Itaipu Binacional, órgãos

municipais, estaduais e federais, cooperativas, empresas, sindicatos,

entidades sociais, universidades, escolas e agricultores.

A água é a matéria-prima da Itaipu Binacional76, o que coloca

determinações e exigências quanto à sua forma de administração e de

produção de energia, pois essas determinações e exigências devem estar de

acordo com as políticas públicas do sistema elétrico e hídrico no Brasil e no

Paraguai, bem como, atender aos anseios dos municípios pertencentes à

Bacia do Rio Paraná III.

Essa condição impõe uma nova cultura empresarial, onde a empresa

se vê na contingência de reavaliar o peso dos efeitos das suas atividades e

corrigir a sua conduta, através da adoção de “tecnologias limpas” e as

práticas socioambientais da responsabilidade social.

A Hidrelétrica Binacional de Itaipu estabeleceu, a partir dos anos

1970, o planejamento estratégico e operacional entre o Brasil e o

Paraguai, uma estratégia condominial de aproveitamento da potência

energética do Rio Paraná. Segundo Roesler (2002), esse planejamento

teve parâmetros acordados na institucionalização do sistema da Bacia do

Prata77, entre os seguintes países: Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e

Uruguai, de cooperação, de solidariedade e de segurança do

desenvolvimento equilibrado, no aproveitamento dos grandes recursos

naturais regionalizados e na preservação para as gerações futuras. No

período subsequente ocorreram as intensas negociações diplomáticas e

de bases de relações regionais, negociações consolidadas no conhecido

Tratado de Itaipu, que estabelece os acordos para a operacionalização

76

O grande lago de Itaipu é resultado da barragem da Hidrelétrica Binacional de Itaipu, barragem cuja construção foi concluída em 1982. A formação do lago nesse ano resultou, dentre outros impactos sobre o curso natural do Rio Paraná, no desaparecimento dos Saltos de Sete Quedas.

77 O Tratado da Bacia do Prata foi promulgado pelo Decreto Federal n

o 67.084, de 19 de

agosto de 1970. (Diálogos da Bacia do Prata, 2005).

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137

da obra, que teve início em 1975, com término em 13 de outubro de

1982, quando se deu início à formação do Reservatório de Itaipu com a

conclusão das obras da barragem e fechamento das comportas do canal

de desvio.

O impacto ambiental da criação do Reservatório de Itaipu pode ser

percebido pelo movimento das águas do Rio Paraná represadas e seus

afluentes, que fez

[...] submergir 11.332 alqueires de solo e de áreas agricultáveis, o que alterou bruscamente as práticas cotidianas dos cidadãos ribeirinhos: índios, pescadores, pequenos comerciantes, produtores rurais, moradores urbanos e rurais desapropriados. Estima-se que desapropriou cerca de 42.444 habitantes, isto é, um forte contingente de força de trabalho ativa ocupada principalmente na agricultura e em pequenos empreendimentos comerciais. (ROESLER, 2002, p. 86 e 89).

O Plano Diretor da Itaipu Binacional (1982) estabeleceu as

diretrizes para as ações ambientais previstas e regulamentou o

aproveitamento múltiplo do Reservatório, de forma ordenada e

simultânea em ambas as margens, almejando à melhor utilização

daquele novo ambiente, bem como, a conservação dos recursos naturais

existentes em sua área de influência.

A produção energética da Usina Binacional de Itaipu é responsável

pelo suprimento de cerca de 79% da energia consumida no Paraguai e

de aproximadamente 25% da demanda energética consumida no

mercado brasileiro. Dentre as características gerais do empreendimento,

no Lago da Itaipu Binacional encontra-se a bacia Hidrográfica do Paraná

III. (ITAIPU, 2009).

A área controlada pela Itaipu Binacional78 era constituída,

inicialmente, por 16 municípios, chamados de lindeiros; a partir de 2003,

com a aplicação do novo modelo de gestão, houve uma ampliação para a

78

A área controlada pela Itaipu Binacional foi estabelecida pelo Decreto no 83.225, de 1

o de

março de 1979, no Brasil; e pela Lei nº 752, de 20 de julho de 1979, no Paraguai. (ROESLER, 2002, p. 93).

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138

área de abrangência à bacia do Rio Paraná III, composta por 28

municípios no Estado do Paraná.

A partir da década de 1990, a Itaipu Binacional inicia o pagamento

dos royalties79, forma compensatória destinada a estados, órgãos

federais e municípios, por causa da exploração da água, dinamizando as

ações políticas e administrativas do desenvolvimento local e regional. Os

recursos previstos dos royalties, para os estados e municípios devem ser

aplicados80 exclusivamente em energia; pavimentação de rodovias;

abastecimento e tratamento de água; irrigação; proteção ao meio

ambiente e saneamento básico. Essa condição não foi integralmente

observada pelo estado e municípios, pois a região ainda apresenta um

grande déficit na implementação do saneamento básico. Questiona-se,

portanto, onde estão sendo aplicados os investimentos e de que forma

contribuem para a formação de práticas de sustentabilidade ambiental e

de condições de qualidade de vida para os municípios da bacia do Rio

Paraná III.

Os municípios têm autonomia de estabelecer os percentuais para as

áreas prioritárias instituídas pela Itaipu Binacional. Aqui o acompanhamento

e controle por parte da população não foi priorizado. As administrações a

partir da gestão 1997-2000 começam a ter repasse regular dos royalties, e

nas gestões subseqüentes, alguns municípios passaram por momentos de

muita tensão nas disputas políticas, devido ao montante de recurso

disponível, fato esse que se repete no acirramento político entre dois grupos,

principalmente nos municípios pequenos. Apesar de a Política Nacional de

Recursos Hídricos e seus desmembramentos instrumentais nos sistemas

estaduais de gerenciamento ter propiciado a descentralização e a

garantia da participação dos usuários desse recurso em sua gestão, isso

não aconteceu de imediato.

79

Os royalties foram instituídos pelo setor elétrico brasileiro, através da Lei Federal nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e regulamentada posteriormente pelo Decreto Federal nº 1, de 11 de janeiro de 1991. (ROESLER, 2002, p. 94).

80 A aplicação dos recursos é definida pelo artigo 24 da Lei Federal nº 8.001, de 13 de março de 1990.

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O panorama econômico, social e ambiental do capitalismo

mundial, a partir do século XX, é resultado de um amplo processo de

globalização e de reestruturação do setor produtivo, o que, por meio da

introdução de novas tecnologias, vem modificando a dinâmica da

economia e redefinindo o processo de produção, o processo de trabalho,

a organização das empresas e a vida dos trabalhadores e,

consequentemente, toda a sociedade.

A crise do capitalismo é um processo global que tem solicitado

também uma responsabilidade global e, como parte intrínseca desse

processo, a crise ambiental. Estudos e pesquisas promovidos pelas mais

diversas instituições científicas e agências multilaterais demonstram que a

natureza evidencia sinais de esgotamento de suas potencialidades, criando

obstáculos a serem superados pelo sistema capitalista, ou seja, criando

obstáculos à expansão incessante da produção mercantil, seja pela via da

escassez de matérias-primas, seja pela dimensão dos danos sociais,

políticos e econômicos causados pela depredação ambiental e pela poluição.

Os impactos ambientais do atual modelo de desenvolvimento

econômico atingem toda a sociedade e o conjunto do sistema de vida. Nesse

cenário, porém, são os segmentos menos favorecidos economicamente que

sofrem as consequências de modo mais acentuado.

Nesse contexto de mudanças, o meio ambiente passa a ser

incorporado pela economia, buscando fundamentar cientificamente a

relação entre a utilização dos recursos naturais e as necessidades sociais. A

ciência econômica passa a incorporar os custos ambientais em seus

cálculos, atribuindo valor aos elementos antes gratuitos (o ar, os oceanos, a

água) e isso ocorre à medida que desenvolve o conceito de internalização

das (antes consideradas) externalidades. (ROCHA, 2004; SILVA, 2010).

A incorporação do meio ambiente à economia também traz consigo o

peso dos obstáculos ou entraves comerciais, estes estabelecidos pela

Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2008, e levados a efeito pelas

grandes corporações internacionais, através de acordos bilaterais, ou as

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140

chamadas barreiras comerciais81, que restringem o campo de ação das

empresas que não atendam às exigências ambientais e tornam o mercado

mais seletivo. Os obstáculos comerciais têm demonstrado a força das

corporações no plano político global e a sua capacidade de intervenção nas

expressões da questão social e ambiental, segundo Silva (2010), como parte

das suas estratégias de legitimação e de enfrentamento das contradições

com as quais se deparam.

A Agenda 21 Brasileira (2000), no artigo 6º, também destaca a

ecoeficiência e responsabilidade fiscal das empresas e propõe a adoção,

pelas empresas brasileiras, de padrões internacionais de ecoeficiência e de

responsabilidade social que incorporam valores éticos e culturais ao

processo de decisão dos negócios. Do ponto de vista gerencial, destaca a

necessidade de fortalecer a eficiência empresarial.

As estratégias de competitividade, segundo Silva (2010, p. 121),

ganham expressão na introdução dos chamados rótulos ambientais82 e nas

normas e certificações de qualidade, como é o caso da Organização

Internacional de Normatizações (ISO). Assim foram formuladas e aprovadas

as ISOs 9000 e 9001/2000 (exigências do consumidor); 14000 a 14065

(dimensão ambiental).

Para a área empresarial, o respeito às normas ambientais, antes

vistas apenas como fator de custo, se relaciona cada vez mais com a sua

imagem e define, em grande medida, o seu lugar no mercado, passando,

assim, a integrar as suas estratégias lucrativas. As empresas passam a

adotar as boas práticas de gerenciamento e atualizam seu discurso em torno

das chamadas práticas positivas e/ou sustentáveis, que proclamam o

81

Uma barreira comercial pode ser entendida como lei, regulamento, política, medida ou prática governamental que imponha restrições ao comércio exterior. De acordo com a Apexbrasil (2010), há três categorias mais comuns de barreira, quais sejam: barreiras tarifárias (tarifas de importação, taxas diversas e valoração aduaneira); barreiras não tarifárias (restrições quantitativas, licenciamento de importação, procedimentos alfandegários, medidas de antidumping e compensatórias); e barreiras técnicas (normas e regulamentos técnicos, regulamentos sanitários, fitossanitários e de saúde animal).

82 Os rótulos ambientais são conhecidos como “selo verde”, “selo ambiental” ou “rótulo ecológico”. No Brasil temos o Selo de Qualidade Ambiental da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Trata-se de um selo representante da ISO no Brasil, também conhecido como “rótulo ecológico brasileiro.” (APEXBRASIL, 2010).

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respeito à vida e à natureza, como parte das estratégias mercantis,

expressas no modus operandi, chanceladas pelas agências internacionais,

em particular o Banco Mundial.

Para enfrentar os obstáculos antepostos à “expansão” do capitalismo,

no final do século XX houve uma conversão de estratégias e de novas

orientações das agências internacionais no trato com os danos ambientais,

que influenciaram o discurso e as práticas do Estado e do empresariado

brasileiro e mundial, práticas essas que se expressam no processo de gestão

ambiental.

De acordo com Kraemer (2003) e Silva (2010), a gestão ambiental

pode ser entendida da seguinte forma:

a) Tem como objeto manter o meio ambiente saudável (à medida do possível), para atender às necessidades humanas e atuais, sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras;

b) Busca meios de atuar sobre as modificações causadas no meio ambiente pelo uso e/ou descarte dos bens e detritos gerados pelas atividades humanas, a partir de um plano de ação viável técnica e economicamente, com propriedades perfeitamente definidas;

c) Adoção de instrumentos de monitoramentos, controles, taxações, imposições, subsídios, divulgação, obras e ações mitigadoras, além de treinamento e conscientização;

d) Definição de base de atuação e diagnósticos (cenários) ambientais da área de atuação, a partir de estudos e pesquisas dirigidos em busca de soluções para os problemas que forem detectados.

A gestão ambiental também pode ser entendida como um processo de

mediação de interesses e de conflitos entre os atores sociais que agem no

meio físico, natural e construído, de modo a alterar a qualidade do meio

ambiente e também como se distribuem os custos e os benefícios

decorrentes da ação desses agentes.

A Itaipu Binacional compatibiliza-se com as novas determinações

internacionais e nacionais através do Plano Diretor de Gestão Ambiental

(2000), onde sintetiza, juntamente com outras informações, a visão

empresarial na definição de novas políticas e diretrizes de conservação

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ambiental na região de influência. Os principais objetivos da proposta de

gestão ambiental, são: a) identificar e caracterizar temas importantes para a

adequada gestão ambiental da Entidade; b) estruturar a gestão ambiental da

Entidade; c) definir a área de atuação da Entidade em assuntos de natureza

ambiental; d) compatibilizar as ações ambientais com as disposições legais,

tanto no Brasil como no Paraguai; e) orientar as normas e os procedimentos

para a interação regional, principalmente em concessões de uso das áreas

protegidas (a faixa de proteção, as reservas e os refúgios biológicos).

(ITAIPU, 2009).

A gestão ambiental, segundo Leff (2001, p. 57), não se limita a

regular o processo econômico mediante normas de ordenamento

ecológico, métodos de avaliação de impactos ambientais e instrumentos

econômicos para a valorização dos recursos naturais. Os seus princípios

devem pautar-se na racionalidade ambiental, oferecer novas bases para

construir um novo paradigma produtivo alternativo que esteja integrado

no potencial ecológico, na inovação tecnológica e na gestão participativa

dos recursos em bases democráticas e sustentáveis do processo de

desenvolvimento.

Ainda segundo o autor, gestão ambiental está propondo, além da

oportunidade de reverter custos ecológicos e sociais resultantes da crise

econômica, a possibilidade de integrar a população marginalizada num

processo de produção para satisfazer às necessidades fundamentais a

partir do aproveitamento do potencial ecológico de seus recursos

ambientais e respeitando as identidades coletivas.

O Programa Cultivando Água Boa83 tem como base os seguintes

fundamentos: (i) a Ética do Cuidado – quem ama cuida; (ii) a Carta da Terra

(que estabelece princípios como respeitar e cuidar da comunidade devida;

integridade ecológica; justiça social e econômica; democracia, não violência

e paz); (iii) as Metas do Milênio (acabar com a fome e a miséria; educação

83

O texto a seguir foi produzido com base nas informações disponibilizadas pela Itaipu, na Revista Cultivando Água Boa: Programa Socioambiental da Itaipu Binacional e Parceiros (2009); na Apresentação do Programa Cultivando Água Boa, V Fórum Mundial da Água, Istambul (2009), e as entrevistas realizadas com representantes municipais.

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143

básica de qualidade para todos; igualdade entre os sexos e valorização da

mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes;

combater a AIDS, a malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito

ao meio ambiente; todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento); (iv) o

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global; (v) a Água para Todos, Água para Vida; (vi) a

Agenda 21; (vii) a Conferência Nacional de Meio Ambiente; (viii) a Eco Rio

92; (ix) o Pacto Global; (x) as Políticas Públicas do Governo Brasileiro; (xi) a

Conferência Nacional de Meio Ambiente; e (xii) o Plano Nacional de

Recursos Hídricos.

O Programa Cultivando Água Boa estabeleceu como problemas a

serem observados e enfrentados ao longo da Bacia do Paraná III:

1) a eutrofização, que tem como causa o aporte de nutrientes

orgânicos e minerais provenientes, principalmente, da exploração

agropecuária, suinocultura e avicultura, e dos dejetos da população urbana

da região, com o agravante da erosão do solo, que arrasta consigo os

fertilizantes e a matéria orgânica, provocando a proliferação de plantas

aquáticas e algas (tóxicas), caracterizando um ambiente degradado

(eutrofizado), o que pode limitar a geração futura de energia, assim como os

usos múltiplos do reservatório.

2) O assoreamento detectado através do monitoramento ao longo da

bacia demonstrou que o processo de aporte de sedimentos na entrada

principal do reservatório atinge a média anual de 6 a 7 milhões de toneladas,

com grande variação de ano para ano, dependendo da maior ou menor

incidência de enxurradas a montante. A esse volume soma-se o depósito de

milhares de toneladas de terra nos rios da Bacia do Paraná III que

desembocam no reservatório. É a erosão do solo. Segundo dados da

UNESCO (2008), “[...] o Brasil perde US$ 190 milhões por ano em elementos

químicos (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio), além das perdas

patrimoniais do solo”. A Itaipu monitora a sedimentação a partir de estações

distribuídas nos seguintes Rios: Ivinhema, Porto São José, Guairá, Iguatemi,

Piquiri, Ivaí, São Francisco Falso e Carapá/Paraguai.

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144

3) O mexilhão dourado (limnoperna fortunei), que é uma espécie

exótica de molusco, originário da Ásia, acredita-se que veio grudado em

cascos de navios, e sua presença em solo sul-americano foi observada pela

primeira vez no Rio da Prata, na Argentina, em 1991. Alguns anos depois foi

encontrado no reservatório da Usina de Itaipu. De rápida proliferação, o

molusco não tem predador natural por aqui, por isso seu controle é difícil.

Desde que foi constatada sua presença, passou a ser encontrado em todas

as tubulações, filtros e sistemas de resfriamento dos geradores. Seu controle

é feito sem procedimentos ambientalmente agressivos.

4) Os agrotóxicos, que são duplamente poluentes: as embalagens um

passivo de 6,7 milhões de embalagens contaminadas e sem destino final

adequado, assim com as aplicações de baixas e de altas escalas. Segundo

dados do IBGE (2008), os agrotóxicos são “[...] no Brasil a 2ª maior causa de

contaminação da água, onde 21,5% dos municípios que têm atividade

agrícola apresentam solo contaminado por agrotóxicos”.

5) O desmatamento e os usos múltiplos do reservatório: a colonização

do Oeste do Paraná, região em que está inserida a Bacia do Paraná III, até

os meados do século XX foi marcada pela devastação florestal, onde a mata

existente deu lugar à agricultura e pecuária de larga escala, precedidas de

forte comércio de madeira. Os impactos ambientais causados pelo

desmatamento são muitos e graves, como perda de biodiversidade e

alterações climáticas. Já os usos múltiplos do reservatório têm possibilitado à

Itaipu cumprir com seu objetivo, ou seja, buscar a manutenção e a melhoria

da qualidade do reservatório e das bacias hidrográficas que o abastecem,

através da: sustentabilidade dos pontos de captação de água para consumo

humano; balneabilidade das áreas públicas de lazer (praias), que atraem

milhares de turistas regionais, nacionais e internacionais nas temporadas de

verão; bases náuticas que integram o complexo turístico dos municípios

lindeiros; corredores de dessedentação do gado; pontos de captação de

água para irrigação; áreas de apoio às atividades de pesca profissional com

a criação dos Pontos de Pesca que atendem a cerca de 800 pescadores

artesanais, na perspectiva de cumprir as diretrizes do governo federal, de

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gerar proteína animal para integrar os programas de erradicação da fome no

país, a partir da piscicultura em tanques-rede.

Enquanto isso, os gestores municipais destacaram que a problemática

social e ambiental permanece em decorrência da construção da Hidrelétrica

Binacional de Itaipu e da formação do lago, segundo dados empíricos da

pesquisa realizada por Roesler (2002, p. 106), os seguintes problemas foram

relatados: falta de segurança, visto que é fácil os ladrões passarem pelo lago

transportando produtos roubados e a facilidade de negociá-los no lado

paraguaio; expulsão e evasão populacional não superada totalmente nas

unidades municipais; a diminuição do potencial pesqueiro; facilidade de

contaminação e transmissão de doenças infectocontagiosas e outras, em razão

da formação do lago e das singularidades da divisa internacional; quantidade

de terra produtiva inundada; baixo nível de escolaridade da população migrante

na região, o que implica oferta de cursos para a qualificação profissional dessa

mão de obra (órgãos envolvidos: SERT, CEFET, SENAC, SENAI e EMATER);

impactos nas condições climáticas; problemas ambientais decorrentes da

instabilidade do nível de água do reservatório, implicando variação na

qualidade das áreas de lazer e na morte de peixes; impactos negativos sobre

os ecossistemas; queda do potencial cultural e econômico; falta de espaço

político regional.

Como forma de enfrentar os problemas elencados anteriormente, a

Itaipu desenvolve o seguinte modelo de gestão por bacia hidrográfica,

pautando-se em quatro componentes estratégicos: a gestão por programas,

a gestão da informação territorial, a gestão participativa e a gestão ambiental.

Esse modelo é aplicado a partir de 20 programas estratégicos e de 63 ações

no Programa Cultivando Água Boa, definindo como território a Bacia

Hidrográfica do Paraná III, sendo que na margem paraguaia está sendo

aplicado o projeto na sub-bacia do Rio Carapá Ypoti. Os programas são os

seguintes:

Biodiversidade Nosso Patrimônio

Produção de Peixes em Nossas Águas

Educação Ambiental

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Mexilhão Dourado – ações ambientais

Monitoramento e Avaliação Ambiental

Educação Corporativa

Gestão de Processos e Conhecimentos Empresariais

Turismo Nota 10

Infraestrutura Eficiente ações de investimento

Desenvolvimento Rural Sustentável

Gestão Organizacional da DC

Infraestrutura Eficiente

Recursos Humanos da Itaipu

Gestão da Informação Territorial

Saneamento da Região

Saúde na Fronteira

Sustentabilidade de Segmentos Vulneráveis

Valorização do Patrimônio Institucional e Regional

Melhoria da Infraestrutura e Equipamentos de Serviços Empresariais.

A Bacia do Paraná III conta aproximadamente com 1 milhão de

habitantes. A Itaipu selecionou 150 microbacias para serem trabalhadas.

Destas, 70 microbacias já foram recuperadas, e conta com cerca de 2.146

parceiros para a sua realização. A Itaipu parte do princípio de que a bacia

hidrográfica estabelece uma inter-relação entre os assentamentos humanos

e os fenômenos, e as dinâmicas naturais e sociais que ocorrem dentro dela,

exigindo, o reconhecimento dessas interdependências na “ação solidária e

harmônica” entre seus atores.

O Programa Cultivando Água Boa tem por objetivos: recuperação de

cada microbacia da Bacia do Paraná III, através da gestão participativa;

conexão global e ação local; apoio a segmentos socialmente vulneráveis e

promoção da justiça social; construção da cultura da paz; construção da

cultura da água; implantação da ética do cuidado; construção da

sustentabilidade; busca de novo jeito de ser/sentir, viver, produzir e consumir;

construção da solidariedade entre as pessoas, e delas com a natureza.

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147

O Programa Gestão por Bacia tem os seguintes objetivos: promover a

conservação dos solos da Bacia do Paraná III; melhorar o sistema viário

rural, reduzindo o aporte de sedimentos das estradas para o reservatório e

contribuindo para a qualidade de vida dos agricultores; implementar medidas

de saneamento rural, reduzindo a contaminação dos recursos hídricos e

beneficiando diretamente os agricultores; contribuir para a correção de

passivos ambientais das propriedades rurais nas diferentes microbacias

hidrográficas; minimizar impactos da atividade agropecuária sobre o

reservatório da Itaipu, em termos de aporte de sedimentos, nutrientes e

agrotóxicos; fazer a gestão dos recursos hídricos proporcionando os usos

múltiplos das águas, em conformidade com Política Nacional de Recursos

Hídricos; e contribuir para a proteção das áreas de matas ciliares (ITAIPU,

2009).

O Programa Gestão por Bacia Hidrográfica está organizado em cinco

ações. São elas: práticas conservacionistas de água e solo; saneamento

rural; adequação de instalações agropecuárias; diagnóstico dos recursos

naturais renováveis das propriedades rurais existentes nas microbacias

hidrográficas da Bacia do Paraná III; diagnóstico dos sistemas de produção

atuais e ajuste para sistemas sustentáveis. No terceiro capítulo os sujeitos

envolvidos relatam como esses objetivos são concretizados nos municípios

da sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro.

Para a implantação do programa nas microbacias, os técnicos da

Itaipu adotaram uma metodologia em que, inicialmente, é realizada a seleção

das microbacias, priorizando as dos mananciais que abastecem a cidade, e,

na sequência, os ajustes de parcerias, a sensibilização da comunidade

(problemas, ações corretivas e práticas ambientalmente corretas), o pacto

das águas, a formação do comitê gestor, a assinatura dos convênios

(condições e contrapartidas das partes), as oficinas do futuro (reflexão

socioambiental, a partir de três momentos: o muro das lamentações, a árvore

da esperança, o caminho adiante) e o acompanhamento dos resultados,

ações e avaliações são de responsabilidade dos comitês gestores.

Ao longo do processo de implantação, o Programa realizou 66

reuniões de sensibilização e 175 oficinas do futuro; conta com

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aproximadamente 5.915 pessoas sensibilizadas; 29 comitês gestores

formados; 2.146 parceiros envolvidos, sendo 1.633 parceiros de microbacias;

43 Pactos das Águas assinados visando à melhoria da qualidade de vida e

das águas; 67 convênios formalizados; implantou o Projeto de cisternas para

o reuso da água da chuva nos 29 municípios e as hortas orgânicas

escolares; e em 2007 houve a assinatura do convênio entre Itaipu Binacional

e a Fundação Roberto Marinho, chamado de SOS H2O 2007, para a

implantação do primeiro curso sobre a utilização e a gestão das microbacias.

(ITAIPU, 2009).

Os dados apresentados pela Itaipu buscam demonstrar o número de

pessoas envolvidas nas ações, e sua participação na implementação do

Programa, porém os números por si só não demonstram o efetivo

envolvimento dos sujeitos no processo, que precisam ser analisados com

cautela.

As cidades que participam do Pacto das Águas foram as seguintes,

em destaque as pertencentes à microbacia do Rio São Francisco Verdadeiro:

Céu Azul, Santa Terezinha do Itaipu, Matelândia, Mundo Novo, Marechal

Cândido Rondon, Quatro Pontes, Missal, Santa Helena, Foz do Iguaçu,

Medianeira, Guaíra, Pato Bragado, São Miguel do Iguaçu, Altônia,

Itaipulândia, Entre Rios do Oeste, Mercedes, Santa Tereza do Oeste, Terra

Roxa, Maripá, São José das Palmeiras, Vera Cruz do Oeste, Cascavel,

Toledo, Nova Santa Rosa, Ouro Verde do Oeste.

As secretarias municipais de cultura e educação também viabilizam a

participação dos municípios da Bacia do Paraná III, com atividades

desenvolvidas no Ecomuseu da Itaipu com exposições, visitas institucionais e

turísticas; oficinas em museologia e história; seminários em museus

regionais; atividades educativas, de pesquisa e eventos; ciclos de memória

regional; e oficinas museológicas. Já as atividades desenvolvidas nos

municípios são as exposições itinerantes; os ciclos de memória regional e

oficinas museológicas; pré-encontros dos seminários do Programa

Cultivando Água Boa, e na região foi estabelecida a rede regional de museus

e patrimônio cultural e natural; a elaboração do plano de trabalho; o convênio

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de cooperação técnica; a parceria institucional com Ministério da Cultura e as

oficinas no VI Cultivando Água Boa em 2009.

Na gestão por bacias foram efetivadas as seguintes ações coletivas,

com base nos 4.733 diagnósticos e projetos elaborados: a reconstituição da

mata ciliar (plantio de 2.531.506 mudas de árvores plantadas nas áreas

protegidas e Bacia PRIII e instalação de 507,4 km de cercas nos municípios

de Marechal Cândido Rondon, Ouro Verde do Oeste e Itaipulândia); a

adequação de 321,81 km de estradas rurais; uma área de 4.404, 22 ha de

conservação de solo (terraceadores, plantio direto, adubação verde); a

instalação de 109 abastecedouros comunitários (o que evita o abastecimento

de pulverizadores agrícolas diretamente nos cursos d’água e,

consequentemente, a contaminação das águas por agrotóxicos);

agropecuária sustentável (agricultura orgânica, agricultura familiar,

diversificação da produção); distribuição adequada de dejetos, com 93

distribuidores e destinação adequada de 445,71 toneladas de embalagens de

agrotóxicos; os 557,5 hectares drenagem expressam o saneamento da

região; capacitação de 1.053 produtores e técnicos; o cascalhamento de

210,85 km; recuperação de nascentes no município de Cascavel; assim

como: a produção de peixes, a educação ambiental, o corredor da

biodiversidade, a coleta solidária, as plantas medicinais, as comunidades

indígenas; o monitoramento da qualidade da água, entre outras. (ITAIPU,

2009).

O Programa Cultivando Água Boa desenvolve ações junto às

comunidades indígenas da região. São elas: Tekohá Añatete (46 famílias

indígenas, aproximadamente 300 pessoas) no município de Diamante

d’Oeste; Oco Y (134 famílias indígenas, aproximadamente 600 pessoas) no

município de São Miguel do Iguaçu; Itamarã (25 famílias indígenas,

aproximadamente 120 pessoas) no município de Diamante d’Oeste. Como

ações desenvolveram-se as seguintes: forneceu 182.580 kg de alimentos;

implantou o saneamento rural; perfuração de poço artesiano; atendimento às

famílias no Programa Incentivo à Produção; as crianças atendidas no

Programa Nutrição Infantil; plantação de mudas no Projeto Plantas

Medicinais; casas entregues com rede elétrica; implantação de tanques-rede.

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150

O Comitê Gestor desses municípios contempla a população indígena

na sua composição, juntamente com representantes das prefeituras de São

Miguel do Iguaçu e de Diamante d'Oeste, e parceiros como o Ministério

Público Federal, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a Fundação

Nacional de Saúde (FUNASA), o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA), a Cooperativa Agroindustrial Lar, a Diocese de Foz do Iguaçu, a

Pastoral da Criança, o Centro Trinacional de Artesanato Ñandeva.

O programa gestão por bacia atende a 5 Assentamentos, com um total

de 534 famílias, nos municípios citados na tabela abaixo:

Tabela 15 - Assentamentos beneficiados pelo Programa Cultivando Água Boa

MUNICÍPIO ASSENTAMENTO Nº DE FAMÍLIAS

ATENDIDAS

Mundo Novo Pedro Ramalho 83

Diamante d'Oeste Ander 109

Ramilândia 16 de Maio 220

São Pedro do Iguaçu Nova União 42

São Miguel do Iguaçu Antonio Companheiro

Tavares

80

Fonte: Programa Cultivando Água Boa, 2009 (grifo nosso).

Dentre as ações realizadas nos assentamentos destaca-se: o curso de

ensino fundamental com agroecologia; a reforma e a entrega de

equipamentos; o preparo de hortas comunitárias; a assistência técnica na

edificação de residências; e o curso básico de agricultura orgânica para os

assentados.

Outra ação realizada na Bacia do Paraná III é a capacitação dos

atores sociais envolvidos no processo com a realização de atividades

didáticas, jornadas de agroecologia, palestras e cursos como: leite a pasto;

fruticultura; sistemas agroflorestais; plantas medicinais; plantio direto;

sementes crioulas (depósito e banco de germoplasma) e; manejo sustentável

(cisternas). Para essa capacitação dos citados atores sociais, a Itaipu

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151

construiu uma unidade de 459 m², chamada de Instituto de Pesquisa para a

Reforma Agrária (ITEPA), que serve de referência e acompanhamento das

atividades propostas.

O incentivo à agroindústria beneficia a agricultura familiar na Bacia do

Paraná III, portanto fomenta o desenvolvimento local, viabilizando melhores

condições de inserção no processo de comercialização. Abaixo as

agroindústrias implantadas:

Tabela 16 - Agroindústrias implantadas, município, famílias beneficiadas

Tipo Município Famílias a serem

Beneficiadas

Processamento de frutas e

geleias

Quatro Pontes 12

Vinícola de vinho e sucos Terra Roxa 32

Beneficiamento de grãos Mercedes 50

Abate de frangos caipiras Marechal C. Rondon 18

Frigorífico de frangos caipiras Vera Cruz do Oeste 400

Unidade de beneficiamento de mel e derivados

Marechal C. Rondon 280

Unidade de produção de derivados de droga vegetal obtido de plantas medicinais

Pato Bragado 15 famílias

Processamento de frutas e geleias Guairá 28

Unidade de beneficiamento de mel e derivados

Diamante do Oeste 40

Vinícola (vinho e sucos) Missal 18

Abate de frangos caipiras Palotina 27

Pasteurização e envase de leite Missal 20

Pasteurização e envase de leite São Miguel do Iguaçu 20

Processamento de frutas e verduras com ponto de vendas

São Miguel do Iguaçu 90

Fonte: Programa Cultivando Água Boa, 2009 (grifo nosso).

Na sequência as agroindústrias que foram implantadas em

assentamento, através de parceria com o Instituto Nacional de Colonização e

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Reforma Agrária (INCRA) e Empresa de Assistência Técnica de Extensão

Rural (EMATER):

Tabela 17 - Agroindústria em parceria com INCRA/EMATER nos Assentamentos

Tipo Município Famílias a serem beneficiadas

Usina de açúcar mascavo Assentamento Antonio Tavares

São Miguel do Iguaçu

18

Usina de açúcar mascavo Assentamento Ander Henrique

Vera Cruz do Oeste

23

Moinho de milho/trigo e descascador de arroz

Assentamento Ander Henrique

Vera Cruz do Oeste

109

Moinho de milho/trigo e descascador de arroz

Assentamento 16 de Maio

Ramilândia

220

Usina de açúcar mascavo Assentamento 16 de Maio

Ramilândia

40

Fonte: Programa Cultivando Água Boa, 2009.

As 12 agroindústrias implantadas nos municípios beneficiam a 1.533

famílias diretamente e a 6.132 famílias indiretamente. Os produtos gerados

são diversos, entre eles geleias, doces, compotas, massas e pães, açúcar

mascavo, melado, etc. Como parte do processo, a Itaipu auxilia também no

marketing e na comercialização dos produtos, através da Feira Vida

Orgânica, realizada na região, e da ampliação pela exportação dos derivados

da apicultura.

As atividades do Programa de Saneamento da Região, do Cultivando

Água Boa, são realizadas na própria Itaipu Binacional com um trabalho de

levantamento e de correção de problemas encontrados internamente. E nos

municípios da Bacia do Paraná III são realizadas em trabalho conjunto com

as administrações municipais e outros parceiros, visando resolver as

questões referentes à destinação dos efluentes líquidos e sólidos, onde são

propostas estratégias e soluções para os problemas encontrados em cada

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microbacia. O trabalho inclui substituição da rede de esgoto, construção de

cercas de proteção, implantação de sistemas de distribuição de água

(abastecedouros comunitários), dentre outras medidas.

Como resultados do saneamento da região são apresentados pela

Itaipu os seguintes dados: a implantação de estação compacta para

tratamento do esgoto sanitário do Centro de Recepção de Visitantes (CRV),

Ecomuseu e Barreira; a revitalização da Estação de Tratamento de Esgoto

do CRV; a correta destinação do esgoto sanitário lançado irregularmente no

Rio Bela Vista, com a substituição da rede de esgoto; a destinação adequada

de todo lixo biológico produzido na região; a construção de cerca de proteção

para a área da mata e mina na Vila C, em Foz do Iguaçu; a implantação de

sistema de distribuição de água no município de Santa Terezinha de Itaipu,

comunidade de Rio Bonito; a recuperação da Sanga Pinheirinho, no

município de Toledo.

A Itaipu Binacional, por meio da Plataforma de Energias Renováveis e

seus parceiros tem produzido energia elétrica a partir dos resíduos orgânicos

provenientes da atividade agropecuária. O resultado já pode ser observado

na Granja Colombari, em São Miguel do Iguaçu. Nessa propriedade,

produtora de suínos em larga escala, foi instalada uma microcentral

termelétrica a biogás, que gera energia elétrica para a propriedade a partir

dos resíduos orgânicos de sua produção. Outras unidades de teste já estão

em funcionamento nos municípios de Itaipulância (biomassa da suinocultura),

Matelândia (biomassa da criação de aves) e Céu Azul (biomassa de um

frigorífico de aves), em propriedades da Cooperativa Lar. Há ainda projetos

de energias renováveis em andamento na Estação de Tratamento de Esgoto

Ouro Verde, da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), em Foz do

Iguaçu (biomassa e solar) e na Fazenda Ibrahim, em Vera Cruz do Oeste

(biomassa da pecuária leiteira e produção de biodiesel). Esse trabalho está

alinhado ao conceito de sustentabilidade regional.

As ações individuais na gestão por bacia têm se dado através da

atuação nas propriedades rurais, envolvendo a elaboração de diagnóstico

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que levanta as necessidades de correção de passivos ambientais84,

melhorias em pocilgas, estábulos, aviários, etc., e projetos de adequação

elaborados mediante convênios com as universidades e faculdades da Bacia

do Paraná III, dentre elas: a Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa,

Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico da Universidade Tecnológica

Federal do Paraná (Funtef) de Medianeira, Faculdade Sul Brasil (Fasul) de

Toledo, PUC de Toledo, Unioeste de Toledo, Unioeste de Marechal Cândido

Rondon, Unioeste de Cascavel, União Dinâmica Cataratas (UDC) e

Uniamérica de Foz do Iguaçu. Convênios há também com empresas de

assessoria como Conceito Assessoria, Planotec, Ecop, Futura, Palmares.

Uma das ferramentas utilizadas pelo Programa Gestão por Bacia tem

sido a gestão da informação territorial que tem por objetivo subsidiar a

tomada de decisão para adequada evolução da gestão territorial e ambiental,

assim como, manter, disponibilizar e evoluir o acervo de informações

cartográficas e geográficas da região de influência da Itaipu.

As ações do Programa Gestão por Bacias do Cultivando Água Boa

trazem resultados para toda a população da Bacia do Paraná III. São

benefícios diretos, como a melhoria da qualidade dos recursos hídricos que

abastecem a região, e indiretos, como o terraceamento de áreas agrícolas,

adequação de estradas rurais, recuperação de nascentes, adubação verde,

entre outros.

Como resultados das ações individuais são apresentados os seguintes

dados pela Itaipu (2009):

a) na assistência técnica e extensão rural conta-se hoje com 967 agricultores orgânicos ou em conversão com assessoramento técnico de 26 assessores técnicos e 60 agentes de extensão rural; os agricultores obtiveram os insumos para apoio à produção como sementes de milho (110 sacas), sementes de aveia (200 sacas), adubo orgânico (6.700 kg) e 26 animais para pesquisa leiteira; e o fomento, apoio no preparo de 327 ha de terra, doação de 6 veículos, disponibilização de 12 equipamentos de tração animal e 3 distribuidores orgânicos, perfuração de 2 poços artesianos;

84

Passivo Ambiental - poluição difusa devido à inadequação dos meios de produção,falta de infraestrutura e dejetos orgânicos.

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155

b) na pesquisa houve a construção de laboratório de manejo biológico de pragas, elaboração de 15 projetos de pesquisa e estudos em agroecologia, sendo estes aplicados em 30 propriedades de referência e 4 unidades de teste de validação; a fundação de 2 cooperativas (COOFAMEL e COPERFAM); a criação do selo de certificação participativa da rede ECOVIDA – selo de certificação; a agrotransformação de produtos, através de 12 agroindústrias familiares atendidas e 28 produtos orgânicos produzidos; e a disponibilização de insumos para pesquisa como adubo orgânico (120 toneladas) e sementes variadas (360 kg);

c) os assentamentos humanos receberam assistência técnica, com 1 construção civil; 2 pesquisas agronômicas. (ITAIPU, 2009).

Os comitês são os espaços para discussões e construção das

mudanças que se pretendem realizar na Bacia do Paraná III. A Itaipu

Binacional tem os seguintes comitês instalados internamente: o de

voluntários, o gestor de responsabilidade social e ambiental, o de gênero, e o

binacional de educação ambiental; externamente: o gestor de bacias

hidrográficas, o de saúde na fronteira, o de enfrentamento à exploração

sexual infantojuvenil. Esses espaços têm dinamizado a atuação da Itaipu

Binacional na região, ao contribuir com seus saberes para a resolução dos

problemas que se apresentam, no entanto, os parceiros, ao ingressarem

nesses espaços, devem abrir mão de seus direitos autorais.

O destaque neste trabalho são os Comitês Gestores de bacia

hidrográfica, sendo que cabe aos gestores de bacias o acompanhamento e o

apoio às ações do programa, que executam diversas atividades junto às

prefeituras, órgãos regionais e agricultores, tais como: contato com

prefeituras municipais, órgãos regionais e parceiros; acompanhamento da

execução das atividades; verificação das manutenções e uso de obras

efetuadas em anos anteriores; orientação, divulgação e sensibilização,

principalmente de lindeiros ao reservatório e das áreas protegidas, sobre a

preservação ambiental; monitorar as áreas protegidas e definir ações visando

à sua preservação, planejando, coordenando, orientando e supervisionando

as equipes de campo das conveniadas e contratadas da Itaipu que executam

os serviços nas áreas protegidas e no Corredor de Biodiversidade.

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3 – A CONTROVERSA CONTRIBUIÇÃO DOS COMITÊS GESTORES NO

PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE RECURSOS

HÍDRICOS E SANEAMENTO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO SÃO

FRANCISCO VERDADEIRO

“Apesar da engenhosidade humana em várias dimensões, usando diferentes instrumentos para um mesmo fim, ela nunca encontrará uma invenção mais bonita, mais fácil ou mais econômica do que a da natureza, pois em sua constituição nada falta, nada é supérfluo.”

(Leonardo da Vinci)

Este capítulo analisa o processo de implementação da política de

recursos hídricos e de saneamento na sub-bacia hidrográfica paranaense do

Rio São Francisco Verdadeiro, inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná

III, importante manancial da região oeste do Estado do Paraná a partir da

dinâmica dos Comitês Gestores. A análise nele contida busca contribuir com

os Comitês Gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional,

enquanto modelo empresarial gerencial de gestão ambiental que se propõe

participativo. Toma como fontes analíticas o conteúdo das entrevistas

realizadas com representantes governamentais e não governamentais85 e as

leis e dispositivos de criação dos Comitês Gestores.

Como ponto de partida toma-se o processo de criação e constituição

dos Comitês Gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu

Binacional na sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro. A seguir

destacam-se os aspectos relevantes desse processo, privilegiando aqueles

85

Foram realizadas 21 entrevistas no período de agosto de 2010 a fevereiro de 2011, conforme descrito na introdução tabela 2. Foram examinadas as legislações destacando a forma de composição do comitê gestor, a paridade de representação, a diversidade de segmentos representados, e as competências definidas para o funcionamento, comparando-as com o comitê de bacia. A análise desses aspectos foi pautada na literatura sobre estratégias de ação de conselhos, pois os comitês gestores pautam-se nessa formatação. A perspectiva é a de que os comitês gestores venham a tornar-se espaços de controle e gestão partilhada da política de recursos hídricos, destacando os princípios de autogestão e democracia participativa. Os entrevistados são: agricultores que respondem por cargos políticos, agricultores beneficiários das ações, tecnólogo ambiental, administrador, pescador, pedagoga, fiscal ambiental, professora.

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que se reportam à origem institucional e social dos membros desses Comitês

Gestores. A análise busca detectar a correlação das forças políticas na

dinâmica dos Comitês Gestores e a partir do exercício de suas funções com

destaque aos dois tipos de representantes: os governamentais e não

governamentais.

A composição dos onze (11) Comitês Gestores do Programa

Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional estudados variou tanto na origem

de seus membros quanto no número de sua composição. O menor Comitê

Gestor possuía 12 membros titulares, e o maior 69, portanto existe uma

variação maior que 5 vezes entre eles quanto ao número de representantes.

Entre 2003 a 2009 não existia qualquer critério previamente determinado

para estabelecer o número desejável de cadeiras em um Comitê Gestor. O

número variável constituiu-se em um recurso que favoreceu a representação

em um dos diversos beneficiários das ações propostas pelo Programa

Cultivando Água Boa, através de convênio com as prefeituras municipais.

Dessa forma, naquelas localidades em que existia maior número de famílias

residentes e/ou maior extensão das microbacias a serem atendidas, maior

também, foi o número de representantes nos Comitês Gestores.

O início dos trabalhos ocorreu em 2003, quando a Itaipu Binacional

lançou o Programa Cultivando Água Boa e como forma de operacionalizá-lo

estabeleceu os convênios de cooperação técnica e financeira com as

prefeituras pertencente à área de abrangência da Bacia Hidrográfica do

Paraná III. Com o programa, a Itaipu Binacional86 propôs a desenvolver o

modelo de gestão por bacia hidrográfica, pautando-se em quatro

componentes estratégicos: a gestão por programas, a gestão da informação

territorial, a gestão participativa e a gestão ambiental. Esse modelo foi

aplicado a partir de 20 programas estratégicos e 63 ações componentes do

Programa Cultivando Água Boa. Os prefeitos ao assinarem os convênios

definiam as ações a serem implementadas no município em geral pautando-

86

A Itaipu Binacional é uma empresa do ramo de energia elétrica, e tem uma missão pré-estabelecida a ser cumprida: “Gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. (ITAIPU, 2011).

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se na execução de práticas conservacionistas do solo e água e de educação

ambiental.

O início das ações envolveu em 2003, 6 municípios da sub-bacia do

Rio São Francisco Verdadeiro: Pato Bragado, Santa Tereza, Marechal

Candido Rondon, Ouro Verde do Oeste, Santa Helena, Quatro Pontes. Em

2005 esse número cresceu para 11 com a presença dos municípios de: Entre

Rios do Oeste, São José das Palmeiras, Toledo, Cascavel, São Pedro do

Iguaçu. A prioridade inicial estabelecida pela Itaipu considerava que o rio a

ser trabalho deveria ser manancial87, e partia do diagnóstico dos rios

tributários da bacia do rio Paraná III. Desta forma a empresa terminava por

indicar o rio, o córrego, o arroio e os prefeitos acatavam a indicação.

Após essa delimitação e acordos entre as partes com menos

capacidade técnica, organizaram-se os Comitês Gestores, que passaram a

planejar e coordenar, conjuntamente com os técnicos da Itaipu, a

implementação das ações nos respectivos municípios. Os membros dos

Comitês Gestores, portanto, não participaram da decisão política inicial.

Tornaram-se, portanto coexecutores das ações previstas pela Itaipu

Binacional acatadas pelos prefeitos. Pode-se inferir daqui uma redução da

autonomia participativa dos membros dos Comitês Gestores e por

conseqüência, da experiência reivindicada pela população na determinação

de prioridades. Nesta situação os Comitês Gestores assumem mais a

condição de força de trabalho do que propriamente a condição de parceiros

no estabelecimento de prioridades. Diga-se que de certa forma este também

acaba por ser o lugar dos prefeitos.

Há, no entanto, representantes que entendem que ao estarem

presentes nas reuniões para a socialização das informações estão

participando. Não há uma regularidade instituída para as reuniões. Elas são

convocadas quando os técnicos da Itaipu se fazem presentes no município,

rapidamente contatam as pessoas da comunidade para se fazerem

87

Mananciais são fontes disponíveis de água (superficiais e subterrâneas) determinados pelas condições locais, com os quais a população pode ser abastecida. Deve possuir quantidade e qualidade de água adequada ao uso. A classificação dos usos é determinada pelo CONAMA. (SNRH, 2009).

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presentes, em alguns momentos não participam os envolvidos diretamente

os agricultores. Os entrevistados afirmam que:

Nosso pessoal é bem participativo, e todos eles podem opinar, eles têm esse direito. [...] o comitê gestor é bem diversificado, todas as áreas têm gente que faz parte, eles realmente queriam participar: os empresários, a terceira idade, a Pastoral da Criança, a comunidade de agricultores. (Entrevista 5, 2010).

A maioria participa por interesse, porque pode se beneficiar da ação. (Entrevista 7, 2010).

O número de pessoas nas reuniões define as cotas. (Entrevista 8, 2010).

Há pouco repasse de informações, fica mais com a diretoria. (Entrevista 18, 2010).

Por ser um município pequeno há pouca participação nos encontros. (Entrevista19, 2010).

O número de pessoas presentes nas reuniões conforme abordado

pelos representantes, também define as cotas, ou seja, o número de

representantes do município que podem participar do Encontro Anual do

Programa Cultivando Água, em Foz do Iguaçu, com as despesas de

hospedagem, alimentação e transporte pagas pela Itaipu Binacional, o maior

número é sempre de representantes governamentais. Nesses encontros são

socializadas as experiências municipais, e se divulgados os relatórios de

sustentabilidade e as ações da Itaipu Binacional. Ali é proposto o

realinhamento das ações, através da sensibilização dos participantes, em

diversas oficinas, que buscam oferecer um novo sentido educativo no olhar e

na leitura da realidade social do ecossistema, o “despertar da consciência

planetária”, uma nova referência ética e social: “a civilização planetária”.

Há toda uma metodologia desenvolvida pelos técnicos da Itaipu

Binacional junto aos participantes dos Comitês Gestores: primeiro passo –

construção do “muro das lamentações”, onde são levantados os problemas

que detectam na sub-bacia selecionada; segundo passo – construção da

“árvore da esperança”, onde são indicados as ações a serem realizadas.

Nossos passos são construídos a partir dos problemas que vão surgindo. É

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interessante notar uma certa tendência à “religiosidade” na nomenclatura das

fases.

Depois há representantes que entendem que a participação não

existe nos comitês gestores, pois reconhecem que não influenciam nas

decisões políticas. Para expressarem essa condição, utilizam-se de

metáforas: “no município estamos evoluindo da fase do chupim (dependência

completa do outro) para a do joão-de-barro” (Entrevista 1, 2010;, “a

participação é baixa, muito fraca” (Entrevista 4, 2010;, “foi bem trabalhoso,

muito resistência da população” (Entrevista 15, 2010); “o comitê é um espaço

informal” (Entrevista 9, 2010); “é assim já vem mascado, ninguém fala, um

fica olhando para o outro na reunião” (Entrevista 10, 2010); “as pessoas se

envolvem porque tem algum interesse próprio, ou podem se beneficiar de

alguma forma” (Entrevista 21, 2011) .

Conforme dados da pesquisa, os Comitês Gestores quando de

municípios de maior porte conseguiram estabelecer uma certa regularidade

das reuniões, mensalmente, mesmo que com um grupo reduzido de

pessoas. Nos municípios de pequeno porte, as reuniões não ocorriam. Em

Santa Tereza e em São José das Palmeiras, por exemplo, dois funcionários

acompanhavam as ações, sem envolvimento direto de outras pessoas, seja

do poder público ou da comunidade. A dificuldade relatada era a não

condição de estabelecer a contrapartida financeira solicitada e disponibilizar

pessoal para o acompanhamento das ações. Assim, realizam-se as

atividades que necessitam de baixo investimento, e maior envolvimento

pessoal no processo de educação ambiental, convencimento dos agricultores

para permitir o acesso às propriedades para plantar as mudas, erguer as

cercas, sensibilizar para a coleta das embalagens de agrotóxicos.

Os Comitês Gestores, entre os anos de 2003 a 2009, se assentavam

em caráter informal, mais como espaço de informação das ações que

estavam sendo desenvolvidas a partir dos desdobramentos do convênio

firmado entre a Itaipu e as prefeituras. As reuniões foram direcionadas para

sensibilizar os produtores quanto à necessidade de implementar as práticas

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conservacionistas88 de solo e água, e a proposta de educação ambiental.

Pode-se aqui supor que essa metodologia favorece a despolitização dos

sujeitos. Os representantes governamentais confundem a noção de estatal

com público e se reservam o direito de manter o monopólio da decisão

acerca do que consideram de interesse público.

A formalização político-institucional dos Comitês Gestores só ocorreu

no segundo semestre de 2009, por iniciativa da Itaipu e não dos municípios.

Os representantes governamentais foram indicados pelo poder público a

partir das Secretarias de agricultura, e os não governamentais foram

convidados pelo poder público ou por funcionários da Itaipu Binacional. As

pessoas que integravam o comitê gestor já desenvolviam alguma ação

voluntária na área ambiental, gostavam do que faziam, eram atuantes e

participavam de outros espaços organizativos. Por isso foram chamadas pelo

poder público e pela coordenação ambiental da Itaipu.

Assim, portanto, no período de realização das entrevistas, os

representantes ainda não tinham vivenciado a nova configuração e suas

implicações no andamento do Programa Cultivando Água Boa, e suas

implicações na política de recursos hídricos e saneamento local. Por

sugestão da Itaipu Binacional, as reuniões foram previstas para ocorrer

bimestralmente, e na dinâmica buscam incentivar os membros a assumir

uma discussão acerca da política ambiental local.

As onze leis que analisadas definem atribuições similares aos Comitês

Gestores seguem, portanto padrão homogêneo ao estabelecer que cabe ao

Comitê Gestor planejar e coordenar a gestão e a implementação do

Programa Cultivando Água Boa no município. As atribuições são de natureza

administrativa e técnica, conquanto seu exercício não exige grau de

qualificação dos componentes dos Comitês Gestores, diferentemente, os

representantes da Itaipu Binacional são técnicos contratados para esse fim.

A dinâmica dos Comitês Gestores ocorre em paralelo ao Comitê de

Bacia do Paraná III onde, do ponto de vista legal, é instância de deliberação,

88

Por práticas conservacionistas se entende as mudanças na forma de usar e tratar o solo e a água, através da difusão de tecnologias apropriadas em manejo e conservação de solo e práticas de preservação e uso sustentável dos recursos hídricos. (ITAIPU, 2010).

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162

acompanhamento e avaliação da política hídrica na bacia, e deve exercer

com autonomia o papel de estrutura institucional de participação popular nas

decisões sobre a política. Percebe-se que não há vinculação direta entre

ambos, pois os representantes desconhecem as ações conjuntas Comitê de

Bacia e Comitê Gestor. Chegam a confundir o Comitê de Bacia com as

ações socioambientais da Itaipu.

Nas entrevistas aparece esse alheamento em relação ao processo de

integração entre as duas instâncias, mesmo que os municípios tenham

cadeira como suplente no Comitê de Bacia do Paraná III, como é o caso dos

municípios de Entre Rios do Oeste (secretário de Agricultura e Meio

Ambiente), Quatro Pontes (Secretário de Administração), São Pedro do

Iguaçu (Prefeito), fato esse que demonstra o grau de envolvimento político

dos representantes, e sua capacidade de mobilização das ações coletivas.

Estas deveriam ser discutidas e encaminhadas de forma integrada com base

na proposta de gestão ambiental da Itaipu, assim como a Política Nacional

de Recursos Hídricos.

Como aponta Tatagiba (2003), “essa participação revela-se como uma

estratégia de composição e articulação visando à cooperação na solução de

problemas,” que são comuns, os usos consuntivos da água na Bacia do

Paraná III, definidos de forma unilateral, pois se propõe a desenvolver a ação

com a ausência de conflito. O Comitê Gestor então é o espaço de “diálogo de

desiguais”, um diálogo interrompido embora expresse a pluralidade de

representação política, técnica e social.

Os valores e as práticas vivenciadas pelos participantes no cotidiano

de suas atividades se confrontam com as tensões produzidas nas reuniões

do Comitê Gestor, ao trazerem à tona a nova concepção que a área

ambiental exige. Os assuntos mais polêmicos são a área de preservação

ambiental89, as áreas de preservação permanente (mata ciliar), a reserva

legal, o estudo de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental

89

Lei Florestal do Estado do Paraná, Lei nº 11.054, de 11 de janeiro de 1995.

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163

(RIMA)90 para as propriedades com projetos agropecuários acima de 1.000

ha e as diversas atividades poluidoras da água (como dejetos orgânicos, uso

de agrotóxicos, aterro sanitário), o manejo do solo, irrigação, entre outros.

Para esse convencimento e/ou disseminação da ideologia ambiental, a

educação ambiental tem sido a estratégia mais utilizada, papel atribuído pela

Itaipu ao gestor ambiental municipal, que pode ou não ser membro do

Comitê Gestor.

A divulgação das ações da Itaipu ocorre em nível nacional e

internacional, e o reconhecimento das ações socioambientais desenvolvida

por ela resulta em vários prêmios internacionais, e parcerias nacionais.

3.1 Composição e Funcionamento dos Comitês Gestores do Programa

Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional

Quanto à composição dos Comitês Gestores constata-se que seguiam

os preceitos existentes na Lei de Recursos Hídricos. Os onze Comitês

consultados possuem representantes dos três segmentos (setor público,

usuários e sociedade civil organizada). Mesmo assim, no entanto, o seu

caráter consultivo ocorre a limitada participação política dos representantes,

que acabam muito mais por acatar e executar o que lhes é solicitado, sem

questionamentos ou enfrentamentos das determinações estabelecidas pela

Itaipu Binacional. Uma das questões que favorece essa condução é a grande

quantidade de recurso financeiro91 disponível para realização do programa.

Os municípios com baixo IDH (Ouro Verde do Oeste, São José das

Palmeiras e São Pedro do Iguaçu), a partir de 2008, passaram a ter 60% dos

recursos disponibilizados pela Itaipu Binacional para a realização das ações

90

Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental regulamentados pelo CONAMA, através da Resolução nº 1, de 23/01/1986 e Resolução nº 11, de 18/03/1986, respectivamente.

91 Os valores estipulados para os convênios variam de acordo com custo total da operação,

com percentual mínimo de 30%, tomando como referência a tabela de custos de equipamentos praticados pela Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODAPAR), e as políticas específicas do Estado do Paraná para esses fins, como o Programa Paraná 12 Meses. A partir de 2008, os municípios com baixo IDH passaram a receber a contrapartida de até 60% da Itaipu. (Gerência Executiva do CAB, 2010).

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propostas. Esta condição se diferencia da execução da política nacional de

recursos, na qual os recursos devem ser originários das ações de cobrança

pelo uso da água na própria bacia, demandando um tempo maior para a sua

efetivação. Na Bacia do Rio Paraná III ainda não se encontra implementada

a cobrança pelo uso da água, pois isso acarretaria um retardamento nas

ações efetivas da política de recursos hídricos.

A Itaipu Binacional utiliza o lago como referência, porque assume o

significado de aproximação e articulação dos municípios da Bacia do

Paraná III por meio das compensações financeiras (royalties). Incentiva

“a exploração de atividade turística e de lazer, a atividade fluvial e

portuária, a implementação de projetos para irrigação na agricultura,

piscicultura, etc.”. Estas extrapolam a política local e por vezes, até a

inibem ou imobilizam os municípios a propor novas alternativas a partir

das suas realidades e condições. (ROESLER, 2002, p. 57).

A outra questão é a forma de estruturação do Programa Cultivando

Água Boa e sua capilaridade (desenvolvimento local integrado), que

desresponsabilizam os municípios, principalmente os pequenos, de

implantarem a Política Nacional de Recursos Hídricos e fiscalizar sua

execução, dentro dos princípios estabelecidos. Priorizar a água como um

bem público e essencial à sobrevivência e à promoção da vida humana é

um papel nem sempre fácil de ser cumprido nesse contexto de disputa

de interesses conflituosos.

A proposta do desenvolvimento local integrado pauta-se nos

objetivos propostos pelo Relatório de Desenvolvimento Sustentável para

as políticas ambientais e desenvolvimentistas, que são: retomar o

crescimento econômico; alterar a qualidade do desenvolvimento; atender as

necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, água e

saneamento; manter um nível populacional sustentável; conservar e melhorar

a base de recursos; reorientar a tecnologia e administrar o risco; incluir o

meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões (Relatório

Brundtland, 1987, p. 53).

No plano local e municipal vem sendo utilizada a estratégia de

desenvolvimento local sustentável entendida como o

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[...] processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e equidade social, partindo de um compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações. (MORAES e BORJA, 2005, p. 7).

Os objetivos do desenvolvimento sustentável envolvem relações

complexas entre as diversas dimensões da realidade, como a econômica, a

social, a cultural, a ambiental, a tecnológica, a política e a institucional. Estes

são marcados por processos e dinâmicas nem sempre convergentes no

tempo e no espaço, o que demanda da administração pública a realização de

planejamento que busque contemplar esses elementos a partir da realidade

local.

Devido à incapacidade financeira e à pouca vontade política, alguns

municípios não conseguiram cumprir os convênios. Assim, as ações

previstas ficam pela metade, essa situação causou certo incômodo entre os

agricultores, pois alguns não tiveram que desembolsar recursos para

implementar requisitos da legislação hídrica e ambiental e outros teriam que

pagar para realizar as atividades, caso não ocorresse novo convênio com a

Itaipu binacional. Todavia, nem mesmo essa situação limite impulsionou a

organização dos agricultores junto ao Comitê Gestor a que pertenciam, isto

é, os membros a cobrar maior empenho do município. Eles próprios

entendiam que era uma ação desnecessária e que não era necessário

realizarem o que estava sendo proposto.

Em alguns municípios o processo de negociação demorou dois anos,

para que os agricultores aceitassem as ações propostas para suas

propriedades. Isto demonstra que embora não tenham participado das

primeiras decisões tem formas de resistências que vão permitindo

negociações. A partir de resultados que vão sendo obtidos em outros

municípios, relatados nas reuniões técnicas da Itaipu Binacional, somados as

ações de educação ambiental terminaram por gerar a compreensão da

necessidade. Alguns municípios utilizam da legislação para pressionar os

agricultores. Provocando para que eles ou aceitem a ajuda, que esta sendo

disponibilizada sem contrapartida, ou assumam por conta própria. Pode-se

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dizer que a pressão funciona, pois, nos rios delimitados para implementação

das ações, todos os agricultores foram beneficiados.

Frente às dificuldades relatadas pelos representantes dos municípios,

a Itaipu Binacional iniciou o repasse de recursos diferenciados para cada

ação proposta. Em algumas delas a Itaipu Binacional assumiu 100% do

custo. Essa condição favoreceu os municípios de pequeno porte no processo

de implementação do Programa Cultivando Água Boa.

Quanto à articulação entre os agentes locais, identificam-se

dificuldades decorrentes das várias formas de entendimento sobre a questão

ambiental. Essas diferenças se expressam em diversos segmentos da

administração, nos usuários e na sociedade civil.

A prefeitura aqui de Santa Helena tem água encanada em 100% do município. Com poços artesianos, mantidos pelo município. Um dos exemplos, nós temos dentro da cidade, no perímetro urbano a SANEPAR é responsável, mas no interior do município, nos distritos, mais da metade é população não urbana. Então, o município fornece água gratuita, não tem cobrança pelo uso da água. E o pessoal da administração vê, assim, o lado político acha que é vantagem estar dando a água de graça por questões política. Os adversários da administração acham que deveria ser cobrado. O prefeito que está no poder não quer cobrar, porque não quer ser o primeiro a dizer: Não, a população vai ter que pagar água. Esse assunto foi discutido pelo comitê gestor, e como não temos conselho de meio ambiente, encaminhamos um ofício ao Secretário de Agricultura informando que o comitê entende que a água deve ser cobrada, para a discussão não ficar somente a partir da decisão política do prefeito. (Entrevista 9, 2010).

A prefeitura de São José das Palmeiras é responsável pela água encanada até as propriedades rurais. Eu particularmente sou contra isso, esse prefeito está passando a mão na cabeça do pessoal, acha que está fazendo a parte dele. O pessoal cobra que está sem água, mas ninguém procura ver qual é o problema a ser solucionado. Esperam tudo da prefeitura, tenho que largar tudo aqui para procurar ao longo da rede onde e qual é o problema. Eu acho que isso não está certo, eles não

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pagam pelo uso da água. Não participam das discussões sobre a água só querem ser beneficiados, é muito paternalismo. (Entrevista 7, 2010).

Será que a água como bem público, e produto da natureza isenta de

pagamento é paternalismo? Há que se distinguir o uso da água para as

pessoas, do uso para processos burocráticos de produção. A situação da

cobrança pelo uso da água no meio rural deve-se ao fato de que a água

canalizada para atender o abastecimento, serve para a criação de porcos e

de galinhas, ou seja, todos usos da propriedade. O encanamento das minas,

fontes ou poços até a propriedade é de responsabilidade da prefeitura. Toda

vez que se rompe ou ocorre algum problema com a tubulação, a Prefeitura é

acionada para resolver. A comunidade não assume a manutenção da rede

de tubulação que atravessa sua propriedade. Talvez tivesse que se distinguir

a responsabilidade pela rede quando localizadas em áreas de passagem

pública daquelas particulares.

Essa questão de financiar a despesa com a manutenção da água

canalizada é um problema sério a ser discutido no processo de

implementação da política de saneamento. As condições diferenciadas de

acesso são as causas de conflitos, que estão de certa forma sendo adiadas

nas discussões dos Comitês Gestores. Na maioria dos municípios, os

representantes disseram que esse assunto ainda não foi tratado nos Comitês

Gestores.

A PNRH estabelece como responsabilidade do governo viabilizar os

recursos financeiros para que o consumo humano de água seja atendido. Já

os usos que produzirão resultados econômicos como, por exemplo, as

atividades comerciais, industriais e agrícolas devem ser cobrados, isso

para incentivar o uso racional e eficiente do recurso, responsabilidade essa

atribuída ao comitê de bacia.

O uso potável da água é considerado como um fim mais nobre, para

isto, existem variações de tolerância às impurezas. Prioriza-se um patamar

mínimo de qualidade do manancial, pois o sistema de tratamento a que essa

água será submetida (dependendo do processo e da instalação empregados)

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pode-se tornar inviável. Daí a necessidade de que se estabeleçam políticas

de preservação dos mananciais, como: levantamentos sanitários,

zoneamento preventivo, disciplinamento do uso do solo nas bacias

hidrográficas, medidas de interceptação, derivação ou tratamento de águas

residuárias ou poluídas, entre outros.

Outra situação que aparece como empecilho aos processos de

negociação decorre das rivalidades políticas instituídas nos pequenos

municípios. Via de regra existem duas alas fortes (situação e oposição) que

praticamente anulam tentativas de avanço ou inovação na municipalidade. A

cada eleição há pelo opositor uma negação total e completa do que foi

realizado pela administração anterior. Esse movimento niilista também se

expressa na composição dos Comitês Gestores. Dos onze municípios

investigados somente em três deles foi mantido em sua composição algum

representante da administração anterior. Na data da pesquisa, alguns

entrevistados manifestaram desconhecer o que já havia sido realizado em

decorrência dos convênios Prefeitura - Itaipu, ou simplesmente, se negaram

a falar do que fora realizado anteriormente.

Olha, para falar a verdade, é muita política. A cada 4 anos muda. Por exemplo, o prefeito anterior priorizava algumas ações e trabalhou muito para a agricultura. Esse agora está trabalhando mais para a cidade (área urbana). Tanto que no novo convênio com a Itaipu para 2010, a prioridade é a área urbana. Nas reuniões não estão presentes os que são contrários a nova orientação. Esses não são chamados e, quando o são, não podem se manifestar, caso o façam estarão enroscados. Entendo que isso é errado. Porque não adianta se bater contra, tem que ter união no grupo, se não vira rolo. (Entrevista 11, 2010).

Eu não sei o que foi feito antes de 2009, comecei a participar agora através da Secretaria de Educação, juntamente com a outra gestora indicada. Nos duas mantemos esse elo de gestão da Itaipu com o município, dali para trás não tenho nenhum dado, porque as pessoas da época não forneceram e nós não fomos atrás das informações. [...] Talvez o

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Secretário de Agricultura tenha mais informação. Ela fica mais com os agricultores. Nós ficamos mais com a educação ambiental. Ainda há muita coisa para fazer. Na medida do possível a gente desenvolve. [...] Há muito que apreende. Então à medida que vamos aprendendo vamos aplicando. [...] Não tivemos tempo ainda de nos reunir para discutir as ações coletivas no Comitê Gestor. Cada um optou por uma área de ação ali a está desenvolvendo. Estou na área de educação ambiental. (Entrevista 16, 2010).

Percebe-se que não há nos municípios pequenos uma forma de

registro que possa constituir a memória de cada Comitê Gestor e suas

ações. As atas de reunião são um importante instrumento de registro quando

utilizada de forma correta, pois em alguns municípios, ela apresenta somente

a lista de presença, não destaca os assuntos tratados nas reuniões. Os

registros são realizados pela empresa de eventos contratada pela Itaipu

Binacional para organizar os encontros, nesse caso existe a gravação, as

listas de presenças, as fotos, as filmagens para ser divulgadas

posteriormente pela empresa, mas não são disponibilizadas individualmente

para os municípios, esses recebem as informações através do jornal do

Programa CAB. Como não existe uma secretaria do Comitê Gestor as

informações ficam dispersas entre os representantes.

O espaço do Comitê Gestor é para ser coletivo, para discutir e

encaminhar coletivamente as ações, no entanto as estratégias utilizadas,

principalmente nos pequenos municípios, têm sido o encaminhamento

individualizado. As informações são mantidas nas Secretarias de Agricultura,

que desenvolve as ações como sendo parte integrante do programa ou

planejamento da administração municipal e não, de um convênio específico,

com duração limitada, com ações predefinidas e financiadas pela Itaipu

Binacional. A visibilidade maior é para a educação ambiental, mais divulgada,

com disponibilidade maior de informações, encontros mais frequentes

envolvendo todos os membros da comunidade, com enfoque prioritário para

as escolas. Há aqui um vazio de circulação de informações que precisa ser

destacado e reforçado, sem memória não há história.

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As disparidades entre o grau de domínio das informações qualificadas

da área e também das ações desenvolvidas entre os representantes do

poder público e os da sociedade civil são evidentes. Essa condição que

prejudica o acompanhamento, a participação e o processo de decisão nas

reuniões do Comitê Gestor. Apesar do grande esforço empreendido pelos

técnicos da Itaipu, os Comitês Gestores ainda não assumiram sua autonomia

em serem espaços efetivos de discussão da área ambiental nos municípios.

Segundo o relato dos entrevistados, ficou claro que não existe

deliberação das ações. A participação está condicionada ao conhecimento e

entendimento dos problemas técnicos de elaboração de estratégias de ação.

O comitê gestor não tem um envolvimento político, nem capacidade de

mobilização e de ação coletiva. Portanto, o grau de influência dos

representantes não alcança o teor da proposta relacional apresentada pela

Itaipu Binacional.

3.2 As Práticas Sociais e a Participação dos Sujeitos da Pesquisa

As práticas respectivas vivenciadas pelos representantes não

governamentais possibilitaram a sua inserção nos Comitês Gestores do

Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional. Os agricultores, pelas

experiências de participação nos espaços organizativos já existentes

(associação de produtores orgânicos, associação de agricultores, sindicatos

rurais, entre outros), foram convidados a integrar-los a pedido dos

representantes da Itaipu ou pelos prefeitos. Descrevem como seu processo

de inserção ocorreu:

“O prefeito nos convidou” (Entrevista 18, 2010), (Entrevista 19, 2010), (Entrevista 2, 2010);

“Bom, fui incluído pelo prefeito porque sou presidente da associação de orgânicos, e o nosso Córrego Avarana foi o escolhido para as ações iniciais do Cultivando Água Boa, cada associação tem um membro no comitê gestor” (Entrevista 11, 2010);

“Fui convidada pela Itaipu pelo envolvimento há dez anos com a associação de orgânicos no município” (Entrevista 4, 2010).

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Houve também agricultores que participaram das reuniões iniciais do

Programa Cultivando Água Boa, como moradores da localidade onde as

ações estavam sendo desenvolvidas, e na sequência assumiram cargos nas

prefeituras, como os de diretor do Departamento de Meio Ambiente e

Secretário da Agricultura:

Comecei a trabalhar na Secretaria de Agricultura, como diretor do Departamento de Meio Ambiente, em março de 2009, já existia convênio anterior com a Itaipu em 2006 e 2007 onde foram feitos alguns trabalhos, e me coloquei a disposição, pelo conhecimento sobre as tarefas e fui aprovado. (Entrevista 17, 2010);

Estou no Comitê Gestor desde o início das atividades do CAB no município 2005, pois já estava na Secretaria de Agricultura. (Entrevista 7, 2010).

Como se percebe há por vezes um transito do representante da

sociedade como representante governamental. O trabalho desenvolvido

pelas associações de produtores orgânicos não tem necessariamente uma

trajetória de luta instituída na região, foram incentivados pelo Sindicato Rural,

e apoiado pelas empresas EMATER, SEBRAE, CAPA, a fim de proporcionar

melhores condições de negociação com os setores do governo com o próprio

mercado de modo que sua presença pudesse resultar em subsídios para a

manutenção da agricultura familiar na região.

Um fator importante para a agricultura foi a escolha das microbacias

hidrográficas como unidade de planejamento, o que substituiu a “ação

conservacionista”, pautada em propriedades individuais. Esse modelo

perdurou no período de 1989 a 1997. Essa alteração ocorreu a partir da

evolução do conhecimento científico acerca dos processos de erosão hídrica,

da evolução nas técnicas de medição das perdas de solo, da contaminação,

e da sedimentação das águas. Esses são problemas comuns na região onde

se localiza a sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro, onde as pequenas

propriedades ficam, muitas vezes, espremidas entre os grandes latifúndios.

Sua não incorporação ao processo poderia levar ao fracasso da proposta de

integração no planejamento do solo com a contribuição dos agricultores.

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Aceitar a implementação da tecnologia de conservação de solo proposta pela

política agrícola, sem que ocorressem grandes problemas, era incentivado

pela EMATER e pelas cooperativas de forma a auxiliar o processo. O

problema maior registrado foi o da implantação do planejamento integrado

dos recursos hídricos incluindo-se a reserva legal.

A falta de informação e a resistência inicial dos agricultores foi de que

a cobrança de reserva legal recaia somente sobre o meio rural. Os centros

urbanos não são responsabilizados da mesma forma. Essa alegação dos

pequenos proprietários sustenta-se no fato de que, ao cumprirem a

legislação, podem perder até a sua residência, dependendo do número de

fontes de água que ocorrem sob sua propriedade. Outro fato é que

desconhecem a possibilidade de utilizar a reserva legal como forma de

exploração sustentável, condição permitida pela lei. Aqui cabe destacar o

papel que vem sendo desenvolvido nesse sentido pela EMATER, Instituto

Ambiental do Paraná e secretarias municipais de agricultura, esclarecendo e

possibilitando outra visão que não a da perda da terra.

Os pequenos produtores sofrem com as dificuldades impostas pela

legislação ambiental, mas também, pela política agrícola em vigência, que

privilegia os grandes produtores em detrimento dos pequenos. Os problemas

se expressam na produção e na comercialização de seus produtos,

principalmente os produtores orgânicos, que precisam de no mínimo três

anos para fazer o processo de conversão de sua produção, condição nem

sempre fácil de ser vencida pelos produtores que tiram seu sustento da terra.

A fase inicial precisa ser suportada com produções alternativas, conforme

relato dos agricultores:

[...] nos falta prática na forma de organização que a produção orgânica exige, os técnicos não vão a campo, trabalham entre quatro paredes, muita coisa os produtores têm que ir atrás sozinhos, se eu fosse mais nova iria me capacitar e fazer o curso técnico para ir a campo. Nossos filhos estudam, mas não voltam para casa, preferem trabalhar na cidade. As Universidades programam palestras com pessoas de nome, que só falam da teoria, e teoria você pega em todo lugar, livro, internet, mas o trabalho diário apresenta situações novas que você não sabe lidar.

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Por exemplo, eu vou produzir tomate orgânico, que alternativas eu posso usar para evitar o agrotóxico, quem vai fornecer o produto? O agricultor terá que fazer a composição de ervas. Seria mais fácil se tivesse um laboratório que disponibilizasse a composição já pronta, como ocorre com os produtos químicos (agrotóxicos). Outra dificuldade é a comercialização, que tem de enfrentar uma burocracia enorme. Por isso, a importância da associação e agora, recentemente na região, a criação da cooperativa virtual, condição exigida pelo governo para repasse de recursos para a produção. A situação não é fácil no campo. (Entrevista 4, 2010).

[...] Na associação há uma contribuição dos sócios, para as atividades de deslocamento (venda, eventos, etc.). O trabalho começou a melhorar depois que a Itaipu Binacional assumiu o pagamento de um técnico junto as empresas Biolabore e Maytenus para nos auxiliar. Disponibilizou durante um ano uma camioneta para a comercialização. Agora estamos sem carro. Vendemos de casa em casa, nas escolas e na feira, o que diminui a produção e, consequentemente, a renda. Os agricultores familiares e orgânicos estão desistindo frente às dificuldade. É mais fácil ir ao mercado comprar a mandioca, a batata, as hortaliças, do que tratar, plantar e cuidar para comer. Tem agricultor que só mora na terra, tá mal acostumado – tudo pela facilidade. A produção de orgânicos no município pequeno é difícil. O comprador no mercado quer a verdura bonita, não é pelo tipo ou classe, se tem ou não veneno, só olha o lado bonito. Outro problema é quando temos pedidos de cooperativas ou outras instituições fora do município e não temos como atender por falta de transporte. Até a prefeitura se nega em auxiliar nesses casos. Houve até uma proposta de juntar as 32 associações do circuito da região para comprar o caminhão, cada uma disponibilizaria R$ 2.000,00 reais, praticamente a metade do valor do veículo, mas aí tem os que não querem participar. Morreu a proposta por falta de colaboração. [...] A quantidade de terra minha e do meu filho dá 9 hectares. É para duas famílias sobreviverem, o recurso é pequeno. Não podemos contar com a Secretaria de Agricultura do município porque só tem um gol velho que fica a maior parte do tempo parado, e portanto, não atendem os agricultores. Onde a gente vai recorrer? Eu gostaria de ajudar, mas não tenho, não posso, então o que

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vai fazer? Pedimos para Itaipu Binacional comprar o caminhão, mas esse ano não deu certo, é ano político, mas tenho certeza que não vai fazer, porque é difícil. Eu ainda tenho fé que uma hora nós vamos conseguir. Não, não dá para parar de lutar ainda. Eu não quero morrer ainda, eu quero viver mais alguns anos, ai tenho que lutar em cima disso. (Entrevista 11, 2010).

[...] temos 25 famílias na associação, algumas estão em processo de conversão para orgânicos. A principal ação do Comitê Gestor foi disponibilizar assistência técnica, através da empresa Biolabore. A participação no Comitê Gestor é mais quando tem assuntos específicos da agricultura orgânica, nas demais não participo. No começo da produção orgânica é bem complicado, a produção diminui, o pessoal está desequilibrado. tem perdas. Se não estiver bem conscientizado ele desiste logo. Na conversão tem que ter um apoio maior, principalmente até que o solo se estruture e volte a ter vida de novo. Esse processo leva três anos. [...] Alguns produtores ainda necessitam da irrigação, utilizam um caminhão e a água vem do poço. Na associação cada produtor se responsabiliza pela produção de um ou dois produtos para atender aos mercados. Os que entregam porta a porta ficam fora do planejamento, mas são poucos. Os produtos de origem animal são mantidos por 5 famílias, leite e seus derivados (queijo, nata, iogurte), galinha caipira. As adequações vão sendo implementadas aos poucos na propriedade é muito trabalho e pouca mão de obra, a família é quem trabalha distribuindo as tarefas. (Entrevista 18, 2010).

“Nossa associação se organizou para cuidar da questão da água. Alguns pagam pelo fornecimento, outros utilizam das nascentes e não pagam, outros ainda, usam o abastecimento público. Algumas comunidades não pagam nem luz, quer dizer pagam uma taxa de 5% do total utilizado. A prefeitura paga as despesas da comunidade, aqui está muito presente as questões políticas. As dificuldades são muitas, todos só visam o lucro imediato, adotaram as ações propostas pela Itaipu, porque estavam sentido a falta de água na pele, com os períodos de seca constante. Muitas vezes o poder de negociação da associação é criticado. (Entrevista 8, 2010).

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A partir das inquietações constantes dos agricultores em 2010, a Itaipu

Binacional iniciou uma ação de formação de jovem lideres rurais na Bacia do

Paraná III. Os jovens recebem uma capacitação dentro do Pronaf92

Sustentável. A ideia é motivar a permanência dos jovens no campo, na

perspectiva da produção orgânica, contribuindo para a melhoria do processo

de sucessão na agricultura familiar. A formação proposta pela Itaipu

Binacional tem 6 meses de duração, organizada em 40 oficinas que

abordam: formação de liderança nível 1 e 2, desenvolvimento local,

ferramentas para análise de projetos de desenvolvimento, diagnóstico de

organizações sociais, meio ambiente, agroecologia, associativismo e

cooperativismo. (CAB, 2010).

Os produtores relatam as dificuldades de produção como: falta de

incentivos fiscais, dificuldade de organização dos interessados, falta de

assistência técnica condizente com a produção orgânica, ausência de

condições materiais para lidar com o cotidiano da sobrevivência. Consideram

as associações estratégias para pensar condições de manutenção e socorro

em períodos de crise, como festas de comunidade (café colonial, jantares,

almoços), as feiras regionais e locais que viabilizam recursos para, as

famílias associadas. Outra estratégia proposta pelas ações da Itaipu

Binacional é a expansão da criação de agroindústrias, já que algumas estão

em funcionamento. Não dá para negar que os pequenos produtores precisam

de assistência e apoio na execução das suas atividades.

Os representantes dos municípios que dispõem de royaltes,

interrogam quanto a sua aplicação. Nos municípios pequenos as condições

poderiam ser melhoradas se houvesse interesse dos dirigentes e

92 O Pronaf é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, destina-se ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua família. Entende-se por atividades não agropecuárias os serviços relacionados com turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e outras prestações de serviços no meio rural, que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão de obra familiar. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2010).

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transparência na aplicação dos recursos. Em algumas situações, os recursos

são utilizados para a manutenção da própria administração pública.

Os pequenos agricultores, eles podem plantar mudas de espécies

nativas para repor a mata ciliar, caso os recursos sejam disponibilizadas pelo

Programa Paraná Biodiversidade93. Podem auxiliar também os produtores

que têm criação de animais, desde façam o isolamento das áreas próximas

às margens dos rios. Essas são estratégias adotadas pelo IAP e pela

EMATER e respectivas secretarias municipais de agricultura e meio

ambiente, que prestam assistência técnica aos agricultores, capacitação,

incentivos, controle e fiscalização.

Há propriedades rurais que precisam fazer todo o processo de

adequação ambiental. Isso implica custos altos, já que requer a redistribuição

na propriedade das construções, das pocilgas, do despejo dos dejetos. Este

remanejamento face as limitações de cunho financeiro dos pequenos

agricultores acaba por não ser feito. Em algumas propriedades da sub-bacia

do Rio São Francisco Verdadeiro, através do convênio Itaipu Binacional,

Universidades e Prefeituras, as adequações estão sendo realizadas com

custo bastante reduzido para os agricultores. A exemplo em oito

propriedades no Arroio Fundo e uma na Sanga Ajuricaba, no município de

Marechal Cândido Rondon. Outras cinco propriedades no Arroio Quatro

Pontes, no município de Quatro Pontes. O atual padrão de produção

encontra-se muito distante das condições necessárias ao atendimento

mínimo das exigências de preservação do meio ambiente.

Os pescadores foram convidados a participar dos comitês gestores,

pelas prefeituras e por representantes da Itaipu Binacional, dependendo da

organização e influência exercida na região. Eles são importante, por ter uma

relação direta com o rio, de onde extraem sua sobrevivência. Encontram-se

organizados em colônias de pescadores são nove colônias na região. Eles

93

O Programa Paraná Biodiversidade difunde técnicas de mínimo impacto produtivo, isolamento de áreas, educação ambiental e recuperação de ambientes em regiões consideradas corredores da biodiversidade, beneficia o pequeno produtor rural, com propriedade de até 30 hectares, que pretende isolar a margem do rio para recompor a mata ciliar com a doação de cercas. (SEMA/PR, 2010).

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também relatam, em sua representatividade, as dificuldades para

manutenção da atividade pesqueira e sobrevivência. Cadastram-se junto a

programas de assistência social dos municípios, conforme o relato:

Fui convidado pela diretoria da Itaipu Binacional para participar do Comitê Gestor. Muitos benefícios foram conquistados pela associação. As negociações são diretas com a Itaipu e com o Ministério da Pesca. Conseguimos uma cozinha industrial, um caminhão-feira, um telecentro. Eu não gosto nem de tocar no assunto. Eu não sei porque a administração pública não desenvolve alguma coisa para os pescadores, pescador aqui é discriminado. Nossos grandes parceiros são o Ministério da Pesca, a Unioeste, a UEM, e a Itaipu temos um convênio firmado e o recurso mantém a colônia. [...] Os pescadores são humildes e têm muito medo de falar, denunciar as irregularidades. Aqui, a política impede a participação, se você é do lado deles bem, se não é, fica quieto porque é discriminado. São dois grupos políticos fortes. O superintendente (Ministério da Pesca) disse assim, „vocês não podem se calar, se vocês estão recebendo ajuda de fora‟. A administração sabe, a população também tem que saber da falta de apoio interno. Por exemplo, a administração terceiriza a limpeza do lago. O serviço custa R$ 30,00 por dia de trabalho. Quando é a colônia que faz a limpeza pagam R$ 5,00 por dia. Estava há dois anos sem fazer a limpeza por causa disso. Ali, agora foi acordado no Comitê Gestor que a colônia fará a limpeza em 2010 e receberá os R$ 30,00 de diária. [...] Temos enfrentado inúmeros problemas com as administrações locais. O não cadastramento dos pescadores nos programas sociais, a não disponibilização de cesta básica, que foi comprada com verba específica para esse fim, isto é para o período que não podemos pescar. Recentemente uma funcionária quase perdeu o emprego por informar a colônia que as cestas estavam disponíveis. Adiantei e fiz um chamado coletivo pela rádio. No dia seguinte tinha fila na prefeitura. A assistente social me ligou e disse horrores, dizendo aos pescadores que procurassem o presidente da associação que ele entregaria essas cestas básicas. Onde é que se viu? Humilhou as pessoas. Como não houve a entrega, uma mulher disse „que estavam passando a mão‟ - foi um tumulto só. Queriam que eu falasse o nome da funcionária que informou, provavelmente ganharia a

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conta. Mas eu não falei quem era coitada, também sem merecer. Estou nessa associação há 19 anos sei muito bem como as coisas acontecem por aqui. [...] Outra perda foi a prefeitura não aceitar implantar os 90 tanque-rede para produção de peixe, a contrapartida deveria ser do município, além da compra posterior para a merenda escolar, o convênio seria de 162 mil dólares, a prefeitura não assumiu, deixou escapar a proposta com a Itaipu. O Comitê Gestor preferiu atender os agricultores, entendendo que a contrapartida seria menor. Sei também que a mata ciliar contribui para o aumento dos peixes. [...] Também temos problemas com uma produtora de areia, que estava poluindo o rio. Fizemos um boletim junto à Policial Florestal. Não houve intervenção local. Passamos a informação diretamente para o IAP e para o Ministério da Marinha que solicitou a parada imediata da atividade da areieira. Estamos há dois anos sem esse problema, está tudo na Justiça aguardando. Essas situações causam grande desgaste à diretoria da colônia, que é constantemente questionada de seus posicionamentos e enfrentamentos. (Entrevista 10, 2010).

A condição de vida dos pescadores depende, eminentemente, da

quantidade de peixes disponíveis nos rios, e essa condição se encontra

bastante alterada, tanto que uma das ações desenvolvidas pela colônia em

parceria com as universidades, Ministério da Pesca e Itaipu é a criação de

larvas para reposição (repovoamento do rio): “[...] o pescador não só destrói,

ele tem contribuído para preservar os rios [...]”, sendo que a legislação e a

educação ambiental têm grande peso nessa mudança de comportamento

dos pescadores.

A luta para preservar a aquicultura tem sido nacional. A criação do

Ministério da Pesca busca estabelecer um diferencial no atendimento desse

segmento social, que, por muito tempo, ficou marginalizado nas políticas

públicas.

A partir de 2010, na 4ª Oficina Territorial de Aquicultura e Pesca para

o Estado do Paraná, sediada pela Itaipu, coordenada pelo Ministério da

Pesca e Aquicultura, Superintendência do Estado do Paraná, houve a eleição

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de uma comissão com representantes de todas as entidades presentes, para

a elaboração do plano de implementação da Política de Desenvolvimento da

Aquicultura e Pesca para o Estado do Paraná. Discutiu-se também, as

demandas dos piscicultores, pescadores e cultivadores em tanque-rede, para

subsidiar as políticas e investimentos do governo federal para o

desenvolvimento sustentável par região oeste do Paraná (CAB, 2010).

A pobreza também é denunciada pelos pescadores. Segundo Sposati

et al. (2010, p. 64), “[...] identidade que se dá enquanto vivência de

espoliação, de carência e da necessidade de subsistir”. Apesar das ações

realizadas junto às associações de pescadores há mais de 7 anos,

orientando-os quanto ao uso e ocupação dos pontos de pesca, adequação

das estradas para escoamento da produção pesqueira, plantio de árvores

frutíferas junto aos rios, retirada de animais domésticos, limpeza e

fornecimento de lixeiras, realização de dia de campo para difundir as

tecnologias desenvolvidas pelas pesquisas, repasse de cesta básica, entre

outros. Percebe-se que a condição de pobreza dos pescadores não se

alterou. Questiona-se, portanto: Essas ações são idealizadas e boas mas,

será que efetivamente estão promovendo a sustentabilidade da atividade

pesqueira?

Quanto à proposta apresentada sobre o desenvolvimento sustentável,

segundo o Relatório Brundtland (1987), pauta-se na indicação diferenciada

de ações para ricos e pobres. A proposta voltada para os ricos sugere que a

sustentabilidade se paute na transformação do estilo de vida, na melhoria da

eficiência energética, na moderação do consumo e na reciclagem. Para os

pobres, onde existam recursos naturais, trata-se de programar a exploração

não predatória que minimize impactos adversos, priorize a rentabilidade, gere

empregos e renda, como é o caso estudado.

A dimensão social dos processos econômicos da pobreza e da

desigualdade socioeconômica mundial, conhecida como sustentabilidade

social, foi inclusa no Relatório Brundtland (1987, p. 2), e foi incorporada nos

acordos e documentos internacionais subsequentes, em que ficou explicitado

que “a pobreza é uma das principais causas e um dos principais efeitos dos

problemas ambientais no mundo. É, portanto, inútil tentar abordar esses

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problemas sem uma perspectiva mais ampla, que englobe os fatores

subjacentes à pobreza mundial e à desigualdade internacional”.

O binômio “pobreza e meio ambiente” tem sido tratado, segundo Silva

(2010, p. 188), a partir de duas concepções distintas. Uma dessas

concepções é a tese do “círculo vicioso”, que foi hegemonicamente utilizada

pelos ideólogos do grande capital, dos anos 1970 até meados dos anos

1990, segundo a qual os pobres são sujeitos e vítimas do processo de

dilapidação da natureza, visto que, compelidos pela busca de satisfação de

suas necessidades imediatas, e por serem mais numerosos, utilizam mais

intensivamente os recursos naturais. Assim, entende-se que o combate à

pobreza passa a ser uma mediação importante para se mitigar a depredação

ambiental.

Já para tese do “duplo caminho”, a pobreza passa a não mais ser

considerada a principal causa da degradação ambiental, mas deve ser

enfrentada como meio para se proteger o meio ambiente.

Nesse caso, é de extrema importância a interface entre política de

assistência social, meio ambiente e desenvolvimento local. As ações

propostas pelo governo federal de enfrentamento à pobreza, concretizam-se

sem observar a universalidade da demanda, pois há segmentos que

permanecem à mercê da própria sorte. A existência da associação como

forma organizativa dos pescadores ainda não está devidamente politizada na

luta por direitos, pois, como relata o pescador, “ainda temos muito medo de

nos manifestar” e essa posição fragiliza a luta de classe. Como diz Sposati

(2002, p. 12), “[...] a condição de conhecimento militante exige a construção

de vínculos com o direito e com a política, para que o saber se transforme

em alteração do mundo, da vida, dos homens e construção da felicidade e da

justiça”.

A inserção dos professores nos Comitês Gestores deu-se pela ação

de educação ambiental, programa desenvolvido conjuntamente por Itaipu,

Ministério da Educação e Ministério do Meio Ambiente, que tinham com o

objetivo a Formação de Educadores Ambientais (FEA). Foram criados 300

Coletivos Educadores em todo o país para a educação ambiental abranger a

totalidade da área geográfica no Brasil, a fim de que a educação ambiental

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garantisse a diversidade de saberes, as características das regiões, e a

participação popular. (ROESLER & CESCONETO, 2006).

O Programa de Formação de Educadores e Educadoras Ambientais

nos Municípios da Bacia do Paraná III, área de influência da Itaipu e entorno

do Parque Nacional do Iguaçu (FEA), implantado em 2005, consistiu no

processo de formação de educadores populares, denominados de “Coletivos

Educadores”, formado por lideranças e representantes da comunidade que

trazem o seu apoio para o processo de atuação educacional em um

determinado território, a Bacia do Paraná III. Adotou-se a estratégia de

estabelecer 3 núcleos formadores, nas cidades de Toledo, Cascavel e Foz

do Iguaçu, buscando viabilizar a participação dos 28 municípios do território,

critérios de participação previsão de seis grupos de 50 pessoas, as cotas

representativas de todo o tecido social. Priorizaram-se os históricos pessoais

comprometidos com questões ambientais, denominados de PAP394. O curso

dispunha de projeto político-pedagógico próprio, com base na proposta de

metodologia pesquisa-ação-participante (PAP), com duração de 2 anos. As

pessoas que participaram desse curso passaram a desenvolver atividades de

educação ambiental em seus municípios. Vários deles eram professores. As

escolas foram os locais privilegiados para o desenvolvimento das ações

ambientais e também contribuíram para a inserção dos educadores

ambientais nos comitês gestores. (ROESLER & CESCONETO, 2006).

Vejam-se os relatos:

[...] fui convidada pelo prefeito, quando assumi a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, mas já desenvolvia ações ambientais junto à escola que atuava, sou uma gestora ambiental. O ano passado (2009), quando nós assumimos a secretaria,veio o pessoal da Itaipu, porque houve troca de prefeito, de secretários, daí o pessoal da Itaipu Binacional veio. A gente se reuniu, teve essa discussão de que poderia estar participando, [...] eu achei interessante porque posso estar envolvendo as escolas, os alunos, e ali a gente consegue atingir um grande

94

A organização dos grupos ocorreu da seguinte forma: os representantes institucionais propositores foram denominados PAP1, os representantes indicados pelas diversas instituições PAP2, e os membros da comunidade selecionados através de seus currículos individuais PAP3.

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números de pessoas. [...] Anteriormente, as ações do Cultivando Água Boa eram realizadas pela Secretaria de Agricultura e pelos gestores ambientais. Tinham dois no município, e havia alguns professores que faziam cursos em parceria com a Itaipu, que são os chamados PAP3, e que participavam de alguns encontros e discussões da questão ambiental. (Entrevista 20, 2010).

[...] Eu sou gestora de educação ambiental do município, que represento o município dentro da Itaipu Binacional (Comitê Gestor do Cultivando Água Boa), e o presidente é o secretário da Agricultura, e eu sou secretária do comitê. Assim sinceramente, poucas coisas foram feitas no sentido de promover esse espaço (Comitê), porque, não criticando, mas colocando a realidade, nunca foi feita uma reunião para gente traçar e colocar as ideias. Então, as ideias que a gente traça são através das reuniões que a gente faz juntamente com o pessoal da Itaipu dentro do PAP3, dentro da gestão de educação ambiental, que sou e a fiscal ambiental. Tanto eu quanto ela, somos as secretárias do Comitê Gestor. Então, somos nós que mais articulamos a questão da educação ambiental dentro do município. [...] No Dia da Água, a gente propôs que cada escola escolhesse uma mina, um rio e fizesse um trabalho de levantamento de dados dessas minas. [...] Um deles é o córrego descoberto, que nasce aqui próximo do Pinhalzinho e deságua no Rio São Francisco Verdadeiro. Nesse córrego é feito um bom trabalho com o envolvimento da comunidade do Pinhalzinho. Os alunos da escola, participam onde escolhemos uma área para estar fazendo a mata ciliar, que fica bem próximo da escola. No ano passado (2009), foram plantadas 500 mudas de árvore no Dia da Árvore nas margens desse rio. [...] Pretendemos junto com os alunos de primeira a quarta série ampliar esse espaço em mais ou menos 500 metros, estamos ampliando esta área de preservação ambiental com a mata ciliar. (Entrevista 16, 2010).

[...] Sou educadora ambiental da Secretaria de Meio Ambiente, as ações propostas são plantio de árvores, através de dois Programas Sementes do Amanhã (fundo de vale) parceria com IAP e Vai pela Sombra (calçadas e bairros). Estamos implementando o Plano de Arborização Urbana; a coleta e tratamento de resíduos, através da Cooperativa de Catadores – ECOLIXO parceria com

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a Itaipu, expansão da coleta seletiva de 3 caminhões fomos para 7 atendendo 17 bairros, 3 barracões de depósito 110 toneladas/mês. O aterro sanitário parte da educação ambiental visando o controle de resíduos no projeto Troca Legal (resíduos sólidos por alimentos). Educação ambiental junto às escolas com visitas, palestras, cursos, informações, teatro, dança, canto entre outros. [...] Outras ações junto ao viveiro municipal, zoológico, adequação de parques, recuperação de nascentes urbanas. Ainda estamos com um projeto em discussão para a construção do Centro de Educação Ambiental que será próximo à Secretaria de Meio Ambiente, com valor estimado em R$800.000,00 e prevê a implantação de três laboratórios (água e solo), um ecomuseu, trilhas ambientais, salas para conselhos. No município, as relações entre o Conselho de Meio Ambiente, a Secretaria e o Comitê Gestor são estreitas, no entanto, falta uma ação mais efetiva da Associação Comercial e Industrial do município. (Entrevista 13, 2010).

A rede de facilitadores de educação ambiental tem propiciado a

realização das reuniões com os agricultores, chamadas de “Oficinas do

Futuro”, tendo como foco a inter-relação do ser humano, a comunidade, a

agricultura, a sobrevivência, e as reuniões para os professores da rede de

ensino dos municípios. Nas “Oficinas de Ecopedagogia” trazem como tema

norteador a visão sistêmica, pautados no Tratado de Educação Ambiental

para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

As ações desenvolvidas pelo coletivo de educadores são: campanhas

de monitoramento da qualidade dos rios, eventos nas datas comemorativas

ambientais (Dia da Água, Semana do Meio Ambiente, entre outros), palestras

nas escolas, atividades ambientais com os alunos (visitas, plantio de árvores,

retirada de lixo dos rios, produção de maquetes ambientais, confecção de

horta escolar, etc.). Buscam aglutinar pessoas de diferentes segmentos e,

juntos, organizar e criar uma dinâmica de formação, reflexão e diagnóstico

socioambiental da realidade do município, e planejar ações a serem

implantadas. As decisões tomadas podem ser levadas às reuniões do Comitê

Gestor, ou à Comissão de Educação Ambiental da Itaipu Binacional.

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A educação ambiental95 tem sido utilizada como uma ferramenta pelo

sistema capitalista no enfrentamento da questão ambiental. Pautada na ideia

do desenvolvimento sustentável, a educação ambiental propaga a nova

relação ética entre sociedade e natureza, que se expressa na mudança de

comportamento do homem, e na associação da tecnologia à eficiência dos

programas e projetos governamentais ou não propostos para o

desenvolvimento.

A ação pedagógica proposta converte a questão ambiental em uma

problemática individual cuja superação depende da mudança radical de

comportamento, em que cada um deve assumir “a sua parte”, com o

consumo consciente96 (propagandas), a responsabilidade ecológica, a

reciclagem, entre outros. Mas, também pode se constituir em um campo de

possibilidades, questionando a forma de organização da sociedade

capitalista e sua natureza predatória do meio ambiente. Trata-se de uma

educação política que possibilite o exercício da democracia.

A participação dos técnicos da área ambiental no comitê gestor

pressupõe que podem contribuir significativamente para o encaminhamento

das ações e para o processo de articulação local a partir do seu

envolvimento comunitário, pois desenvolvem um importante papel de

sustentação teórica ao dominarem o conhecimento da política de meio

ambiente e de recursos hídricos, viabilizando a sua implementação no

município.

Mesmo assim, no entanto, a contratação de técnicos para responder

pela área ambiental ainda não é condição observada pelos gestores

municipais. Predominam as identificações e as vinculações políticas.

[...] Eu sou engenheiro químico, e fiz meu mestrado na UNIOESTE, na área de Gerenciamento

95

No Brasil, a proposta de educação ambiental foi instituída pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) instituída pela Lei nº 9.795, de 27/04/1999, é definida como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente.

96 NEME, Fernando J. Campanhas ecológicas para um mundo melhor. São Paulo: Ícone, 2010 (Coleção Conhecimento e Vida). O livro apresenta uma panorâmica dessa proposta de educação ambiental.

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Ambiental e Recursos Hídricos, estou respondendo pela Secretaria de Meio Ambiente há dois meses (2º semestre de 2010). Mas já participava antes como diretor. Em março de 2009 teve uma eleição, e eu fui o segundo mais votado, fiquei de vice. O pessoal fez a reunião e decidiu isso. [...] Não tenho me envolvido muito, quem está à frente é a Secretaria de Agricultura. Encaminho o que é solicitado. Estou sem tempo.[...] No Comitê Gestor as discussões são para implementação das ações propostas pela Itaipu Binacional. Não existe participação, diferentemente do Conselho de Meio Ambiente onde todos têm direito a voz e voto, e como espaço representativo passa, por dificuldades que precisam ser sanadas para a implantação da política ambiental. (Entrevista 14, 2010).

[...] Sou tecnólogo ambiental e acredito que o Comitê Gestor é uma coisa muito nova, então você vai buscando a identidade, a sua maneira de participar. Ela vem acontecendo gradativamente, e isso é bom. Não acredito nas coisas impostas, e sim nas coisas que vão se pactuando. Então eu participo na prefeitura como gestor de meio ambiente. Tem uma parceria Prefeitura e Itaipu Binacional. E minha participação direta no Comitê Gestor. Ela está começando agora, ainda eu não tomei conhecimento do que eu posso fazer, ela começou agora em 2010. [...] Participava informalmente antes de ingressar na Secretaria. Como técnico percebia as dificuldades do município cumprir as ações estabelecidas no convênio com a Itaipu Binacional. A negociação política é direto com o prefeito, mas o chefe do departamento tem de executar. Não houve empenho dos envolvidos. Não se cumpriram as metas dos primeiros convênios (cercas, mata ciliar, pedra irregular para adequação de estradas). [...] Em 2009 reiniciamos um novo convênio, de aproximadamente R$ 2 milhões para finalizar as ações anteriores e implantar os biodigestores, através do aproveitamento dos dejetos animais produzir fertilizantes e biogás (dejetos transformados em bioenergia), armazenados em uma central que beneficia diretamente 41 agricultores. Eles poderão usar essa energia e o excedente será comprado pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL). Dentro de todos os projetos já desenvolvidos pela Itaipu esse foi um alicerce, uma referência para as outras ações acontecerem, até porque, dentro disso, os dejetos dos animais não

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serão mais jogados na natureza. Vamos retirar o biogás, no momento, já é feito o fertilizante, vai passar a ser desenvolvido o fertilizante com padrões adequados para ser utilizado na lavoura. [...] A integração ainda é fragilizada entre o Conselho de Meio Ambiente, a Secretaria e o Comitê Gestor, é importante ter as pessoas certas. Nesses espaços descobre-se que há pessoas que podem contribuir, com os cargos e as representações, mas, não estão envolvidos, como envolvê-las depois no processo? Como lhe disse, estamos aprendendo. (Entrevista 6, 2010).

[...] sou fiscal ambiental e respondo pela Secretaria de Meio Ambiente, pois estamos sem secretário, estou trabalhando mais diretamente na questão de regularização da parte ambiental, que não estava regularizada no município. Como o cemitério, que estava sem licenciamento, o aterro, o parque industrial, o posto de saúde, a elaboração do plano de gerenciamento de recursos sólidos e de recursos hídricos. (Entrevista 15, 2010).

A presença dos técnicos na realização das ações tem buscado dar um

direcionamento para o cumprimento da legislação vigente sobre o meio

ambiente, mas esbarram nas limitações administrativas e políticas da

localidade. Há falta de integração entre as áreas e o não reconhecimento

dessas ações como prioritárias acabam por relegá-las a um segundo plano.

A participação dos técnicos pode ser a de facilitador de acesso à

informação relevante e disponível para a tomada de decisão na área de

recursos hídricos. Podem subsidiar o processo participativo, disponibilizando

antecipadamente a informação ambiental de forma utilizável e compreensível

para todos, num período de tempo razoável, com isto, possibilitam a melhoria

na qualidade das decisões tomadas e sua implementação, e ainda fomentam

o direito à participação pública. Essas são condições que faltam ser

fomentadas nos Comitês Gestores, pois os convênios são renovados

anualmente, e as informações ambientais, se bem trabalhadas poderia

possibilitar alterações e ou redefinições, a partir das demandas da população

e não, somente, da empresa.

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3.3 As Ações Desenvolvidas e os Impactos nos Municípios

Independentemente da participação dos sujeitos envolvidos nos

Comitês Gestores as ações ocorreram nas propriedades delimitadas. Dentre

elas destacam-se:

a) Gestão por bacia: reconstituição da mata ciliar, instalação de cercas,

adequação de estradas rurais, drenagem rural, cascalhamento;

(Anexo III);

b) Conservação de solo: terraceadores, plantio direto, adubação verde;

(Anexo IV);

c) Qualidade da água: recuperação de nascente, monitoramento da

qualidade da água, instalação de abastecedouros comunitários (o

que evita o abastecimento de pulverizadores agrícolas diretamente

nos cursos d’água e, consequentemente, a contaminação das águas

por agrotóxicos); (Anexo V);

d) Agropecuária sustentável: (agricultura orgânica, agricultura familiar,

diversificação da produção), distribuição adequada de dejetos,

aquisição de distribuidores de esterco; (Anexo VI);

e) Destinação dos resíduos: destinação adequada das embalagens de

agrotóxicos, implantação da coleta seletiva; (Anexo VII);

f) Produção de peixes: criação de tanques-rede, fortalecimento das

associações de pescadores; (Anexo VIII);

g) Educação ambiental: coleta solidária, capacitação de produtores e

técnicos; (Anexo IX);

h) Valorização do patrimônio cultural; (Anexo X);

i) Corredor da biodiversidade: preservação das espécies da fauna e

flora;

j) Plantas medicinais;

k) Assentamento; entre outras.

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Todas essas ações visam minimizar os impactos negativos causados

a água, e encontram-se em jogo no espaço dos Comitês Gestores do

Programa Cultivando Água Boa. Eles caminham no sentido de neutralizar os

conflitos. Esse espaço de medidas que deveria ser ocupado pela política

hídrica, para viabilizar o encontro de concepções inovadoras e tradicionais

sobre a prática produtiva e preservação ambiental, discutindo e construindo

democraticamente o acesso a água.

As ações foram desenvolvidas nos rios, arroios e córregos tributários

da sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro, no entanto todos os

entrevistados foram perguntados sobre as ações que interferiam na sub-

bacia, todavia somente em três municípios é que citaram que as ações

propostas são integradas e, portanto, interferem na sub-bacia. Os demais

relataram que nada havia sido feito nessa sub-bacia, ou seja, desconhecem

que o planejamento das ações faz parte da proposta de educação

socioambiental para todos os rios tributários da Bacia do Paraná III. Assim,

os entrevistados relatam, erroneamente, os resultados como se interferissem

ou dissessem respeito somente à localidade.

Assim, portanto, apesar do período de realização das ações do

Programa Cultivando Água Boa, os representantes dos Comitês Gestores

ainda não incorporaram a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.

Não há, portanto, uma visão de totalidade, assim a gestão por bacia parece

ser mais um componente do discurso do que uma mudança material da

população incentivando a preservação solidária. Não participam do

planejamento, senão apenas da execução das ações, condição essa que

dificulta a visualização do todo. Talvez por isso, o Comitê Gestor não tenha

se tornado de fato no embrião para configurar e concretizar a política hídrica,

na condução de fórum permanente de discussão que fomentaria a criação

dos Conselhos de Meio Ambiente e a visibilidade do Comitê de Bacia. Falta a

visão de integração de medidas e sua correspondência.

O planejamento por bacia pressupõe manter a proximidade da

população e seus problemas, junto aos instrumentos institucionais de gestão

e intervenção, comprometendo a sociedade com as decisões, as iniciativas e

as prioridades na resolução dos problemas. Planejar envolve decisões e

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escolhas de alternativas em torno de objetivos coletivos, pois a definição de

ações futuras passa pela negociação e pela formulação política, ou seja, o

planejamento incorpora as dimensões técnica e política não só dos

dirigentes, mas também da população.

As ações e o planejamento da política nacional de recursos hídricos

pautam-se no conhecimento das potencialidades dos recursos hídricos, e

utilizam-se da articulação entre as lideranças regionais do Estado, dos

municípios e da sociedade civil, como os conselhos municipais, os

consórcios intermunicipais e os comitês de bacia hidrográfica, com o objetivo

de superar e/ou enfrentar os desequilíbrios ambientais.

Como respaldo para planejar as alternativas futuras tem-se utilizado

da Agenda 21 para o Brasil (2001, p. 30), ao esse documento propor que as

ações devem propiciar de forma compatibilizada o crescimento econômico

(geração de emprego e renda), a justiça social (equidade social) e a

conservação ambiental (valorização do capital social e dos recursos

humanos). Tais são os rumos para o desenvolvimento sustentável, condição

que os municípios ainda têm grande dificuldade de implementar.

A modernização agrícola prescindiu da força de trabalho e expulsou a

população rural. Esse comportamento se manifestou nas regiões onde foram

mais acentuadas a incorporação tecnológica, a expansão produtiva, a

mudança na pauta de produção, a concentração fundiária, a redução da mão

de obra familiar e a constituição de uma camada de assalariados. Estes

procedimentos alterariam o lugar dos produtores não proprietários que

ocupando pequenas unidades aparecem não só como aqueles que acirram o

processo de diferenciação social na agricultura.

O desafio em estabelecer os rumos para o desenvolvimento na sub-

bacia pesquisada pauta-se na falta de perspectivas de oferta de empregos

para as atuais e novas gerações devido: à não descentralização urbana das

indústrias, a falta de incentivos para o fortalecimento do comércio nas vilas e

distritos. Isto tem produzido a formação de vazios ocupacionais, vazios

resultantes dos fluxos migratórios para outras regiões e para áreas urbanas

maiores. Esse quadro tem-se agravado com a falta de incentivos à

manutenção da agricultura familiar e orgânica, pois “[...] a agregação de

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pequenas áreas rurais por grandes propriedades, mas que não

influenciaram, necessariamente, na geração de novos empregos, assim

como a falta ou frágil segurança na área fronteiriça.” (ROESLER, 2002, p.

178).

Quanto ao saneamento, o Programa Cultivando Água Boa desenvolve,

em parceria com as prefeituras municipais, o programa de saneamento rural.

As atividades são acompanhadas pelos Comitês Gestores, como: a

instalação de abastecedouros comunitários; a destinação adequada das

embalagens de agrotóxicos usados na agricultura; a drenagem rural; o

monitoramento da qualidade da água; a recuperação de nascente; a coleta

solidária; e a destinação dos dejetos orgânicos, principalmente, os

procedentes da suinocultura, (que recebem tratamento preventivo, para

posterior utilização por meio de espalhadores de adubo orgânico nas

lavouras para evitar o fluxo dos dejetos para os rios). Mesmo assim, no

entanto, os entrevistados de sete municípios relataram que nada havia sido

realizado na área de saneamento.

Não tem plano de saneamento e não foi discutido nada no Comitê Gestor, o diretor do meio ambiente foi conhecer uma proposta de tratamento de esgoto, junto com os representantes da SAEE rondonense no Rio Grande do Sul. Lá não utilizam lagoa, e outro sistema. Houve a troca de experiências, pois o abastecimento de água aqui é municipal. [...] Comentaram em uma reunião do Comitê Gestor, alguma coisa sobre o plano de recursos hídricos que tem que ser feito. (Entrevista 5, 2010).

[...] Não, ainda não fizemos nada na área de saneamento básico, não tem, até coloquei para a diretoria do Cultivando Água Boa que essa deveria ser a próxima ação, porque vamos precisar de ajuda. É uma coisa urgente. Aqui só tem fossa e a água tratada é de responsabilidade da prefeitura. Utilizam-se de poços artesianos. A água destina-se ao consumo humano (3.800 habitantes), mas também aos porcos, aves, gado leiteiro e para passar defensivos na lavoura, a um

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custo de R$ 9,50, a cada 10 m³ de água. [...] Para ter uma ideia todo mês nosso sistema de água fecha no vermelho. [...] Há poucos dias tivemos que afundar os poços em torno de 60 metros, para ter água de novo. No alto verão temos a Linha Rota Gaúcha que precisa ser abastecida de caminhão pipa. A conservação das nascentes será realizada a partir desse convênio de 2010. (Entrevista 14, 2010).

O abastecimento de água é responsabilidade da SANEPAR, temos 20 mil habitantes, portanto, o esgotamento não é obrigatório, temos fossas sépticas, mas ainda não se discutiu isso. (Entrevista 15, 2010).

A não relação entre as ações de saneamento rural e o saneamento

básico demonstra o quanto ainda falta de informação sobre a proposta

de integração entre a política de recursos hídricos e a política de

saneamento. Superar essa condição viabilizaria soluções conjuntas para

os problemas enfrentados nessa área, como a redução da quantidade

água nos poços artesianos nos períodos de verão, bem como a

recuperação das nascentes e das minas d′àgua.

Os municípios mantêm legislações distintas para o saneamento

rural, que propõe:

a) Realizar projetos e ações de saneamento rural, possibilitando a

melhoria da qualidade de vida à população do meio rural;

b) Implementar ações de melhoria do sistema viário e do acesso às

propriedades rurais;

c) Realização de terraplenagem ou escavações para construção de

chiqueirões, aviários, estábulos, esterqueiras, biodigestores, galpões,

receptáculos de silagem e demais instalações de infraestrutura;

d) Elaboração de projetos para execução, construção e perfuração de

poços e abastecedouros comunitários e redes de abastecimento de

água potável;

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e) Implantação de estações de tratamento de água em localidades e

distritos, cabendo aos respectivos consumidores a responsabilidade

pela sua operação e manutenção, entre outros.

Os municípios de Toledo e Cascavel já elaboraram os planos

municipais de saneamento básico, Santa Tereza do Oeste estava em

processo de elaboração, compatíveis com o plano de bacia, pautados na

PNSA, que estabelece o plano municipal como um instrumento de

planejamento para a prestação de serviços de saneamento. A elaboração

e a edição do plano de saneamento é de responsabilidade do município.

Ele é o titular dos serviços e estes devem contemplar o abastecimento de

água potável, o esgotamento sanitário, a limpeza urbana e o manejo de

resíduos sólidos, bem como, a drenagem e manejo das águas pluviais

urbanas. Cada um deles pode ser detalhado em planos específicos. O

plano municipal de saneamento básico faz-se necessário na medida em

que deve propor a realização de um serviço integrado urbano e rural.

Nos municípios de Toledo e de Cascavel, a prestação de serviço de

saneamento é realizada por meio de delegação da prestação dos serviços de

água e esgoto, prestados pela SANEPAR, por meio de Contrato de

Concessão de Serviços Públicos, com período de 20 anos, mas atua na área

urbana. No que se refere ao abastecimento das comunidades isoladas, o

abastecimento se dá por sistemas próprios (poços, minas), sendo operadas

diretamente pelas próprias comunidades, sem a intervenção da

concessionária que opera o sistema urbano.

O município de Toledo constituiu, em 2006, o Conselho Municipal dos

Usuários de Serviços Públicos de Abastecimento de Água e de Esgoto

Sanitário de Toledo97, tendo como atribuição: efetuar a fiscalização

permanente da prestação dos serviços públicos de abastecimento de água e

de esgoto sanitário; analisar as informações sobre os aspectos técnicos,

operacionais, administrativos e financeiros dos serviços de saneamento;

receber e encaminhar reclamações e sugestões referentes aos serviços

97

O Conselho Municipal dos Usuários de Serviços Públicos de Abastecimento de Água e de Esgoto Sanitário de Toledo foi criado pelo Decreto nº 306, de 10 de agosto de 2006.

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prestados pela SANEPAR; e discutir e analisar outras questões relacionadas

à prestação dos serviços de saneamento. (TOLEDO, 2006).

Uma das ações dentro do Programa Cultivando Água Boa é o

saneamento na região, no entanto, entre os convênios desenvolvidos até

a data de realização da pesquisa, nenhum município havia estabelecido

essa ação para ser executada. A proposta inicial de saneamento foi

desenvolvida pela própria Itaipu Binacional. O estudo conjunto da

estratégia a ser desenvolvida contou com as seguintes parcerias: “[...] o

Ministério da Educação, a UNIOESTE, o Serviço Autônomo

Paranacidade, o PNUD, o IPEA, o BID e consultores como a FGV e

Hagller Bailly (U.S.A.) para o saneamento básico e para o manejo do

aterro sanitário.” (ROESLER, 2002, p.182).

O resultado da parceria foi a produção, em 2007, de um

diagnóstico sobre as condições de saneamento na Bacia do Paraná III.

Ali se constata que em 29 municípios:

a) quanto ao lixo: existe coleta seletiva em 33,96%, aterro sanitário

em 63,14%, usinas de reciclagem em 10 com aproximadamente 1.262

catadores; o lixo hospitalar em 79,83% é depositado nos aterros e 9,83%

são incinerados;

b) quanto ao esgoto: rede com tratamento havia 9,99%, rede sem

tratamento havia 10,42% e utiliza-se de fossa 86,29%;

c) quanto à água tratada: atinge a 69,60%, consumo humano por

poço artesiano 56,27%, e por minas 18,52%;

d) saneamento rural: com 699 abastecedouros comunitários

instalados e uma demanda a ser atendida de 440; embalagens de

agrotóxicos passivos de 1.178.150, com média mensal 134.703 e média

anual 1.619.462; dejetos orgânicos dos suinocultores 3.297, dos suínos

1.336.162. (CAB, 2007).

Portanto, a Bacia do Paraná III apresenta baixa infraestrutura de

esgoto e drenagem, uma situação crítica quanto aos dejetos suínos,

além de parte dela ser uma área de intensa exclusão econômica e social.

A situação acima descrita demonstra a necessidade de implementação

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da política de saneamento pautada na integração às demais políticas e

com a participação da população.

O município de São José das Palmeiras destaca o lixo como o

maior problema; e Entre Rios do Oeste reconhece que o maior problema

a ser enfrentado é a destinação dos dejetos suínos, pois de nada

adiantam as ações de preservação dos recursos hídricos e do solo, já

que a falta de tratamento adequado leva à infiltração e acaba por poluir

novamente os rios visto que o município: “[...] Tem aproximadamente

110.000 suínos produzindo dejetos diários, mais de 340.000 aves e

6.000 bovinos. Tudo precisa de água.” (Entrevista 12, 2010).

Deve-se pontuar que, no contexto das discussões e

implementação da política nacional de gerenciamento dos usos múltiplos

dos recursos hídricos, e das proposições do Conselho Estadual de

Recursos Hídricos do Estado do Paraná, o setor agropecuário foi isento,

inicialmente, da cobrança na captação de água, mas não da cobrança

punitiva pelo lançamento de resíduos poluidores nos recursos hídricos.

Essa condição pode ser alterada a partir da instituição do Comitê de

Bacia no Paraná III, das discussões e da implementação da cobrança

pelo uso da água.

O Ministério do Meio Ambiente iniciou em 2002 uma ação conjunta

nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, ou seja,

uma ação conjunta e articulada através do Programa Nacional de Meio

Ambiente (PNMA II). No Estado do Paraná foi denominado de Programa

de Controle da Contaminação Ambiental Decorrente da Suinocultura no

Estado do Paraná98, que tem por objetivo buscar alternativas de

98

O Programa de Controle da Contaminação Ambiental Decorrente da Suinocultura no Estado do Paraná foi proposto, inicialmente, para as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná, executado pela Embrapa, conforme diretrizes do Programa Nacional do Meio Ambiente II (PNMA II). Dentre as linhas interventivas, a Gestão Integrada de Ativos Ambientais centra-se em: ações corretivas no manejo zootécnico, que visam gerir os eventos geradores de efluentes e resíduos e controlar os desperdícios de água e rações; realocar instalações produtivas localizadas em áreas de reservas legais; adequação, hidráulica e arquitetônica, de instalações ambientalmente precárias; implementação de processos de tratamento sanitário de efluentes e resíduos objetivando um manejo adequado de dejetos e resíduos visando sua valorização para o uso agrícola e de proteção da qualidade dos recursos ambientais. Um programa que envolve em sua totalidade a melhoria

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tratamento e prevenção da contaminação ambiental por resíduos da

suinocultura sem comprometer o setor produtivo.

As atividades de suinocultura no Estado do Paraná e na região oeste,

segundo Roesler & Cesconeto (2002), tornam-se representativas nos efeitos

multiplicadores de renda e emprego em todos os setores da economia,

intensificando a demanda de insumos agropecuários e a expansão e

modernização dos setores de comercialização e agroindústrias. Essa é a

atividade econômica predominante nas pequenas propriedades. Ela é

responsável por empregar significativa mão de obra familiar, constituindo

uma importante fonte de renda e de estabilidade social no campo e com

reflexos positivos no meio urbano. Na cadeia produtiva, a suinocultura passa

a influenciar as cadeias produtivas do milho, da soja, e de avanços genéticos

na espécie animal, visando o seu fortalecimento e os elementos intrínsecos

nos parâmetros exigidos na segurança alimentar.

A preocupação com a recuperação do meio ambiente tem feito as

entidades ligadas à agricultura buscarem soluções integradas para se

adequarem às questões legais e à preservação. As ações interventivas na

suinocultura passam, principalmente, pela forma de produção e atenção aos

dejetos por causarem desequilíbrios ecológicos, adequando-os aos padrões

ambientais desejáveis à preservação dos recursos naturais.

A adequação quanto aos recursos hídricos pauta-se na política hídrica

do Paraná, cujos principais objetivos são: (i) adequação da rede amostral

existente de qualidade das águas, de modo a que ela represente a área de

drenagem da Bacia do Paraná III; (ii) complementar o plano amostral

existente, de modo a agregar indicadores válidos e sensíveis da redução de

carga poluente no âmbito das sub-bacias hidrográficas, com especial

enfoque nas intervenções corretivas previstas para a atividade da

suinocultura; (iii) instalação de estações de amostragem automática da

qualidade da água; (iv) estimar a significância da contribuição das cargas

pontuais e difusas na carga poluente total; (v) correlacionar a presença de

da qualidade das águas em seis bacias hidrográficas localizadas nas regiões oeste e sudoeste do Paraná. (ROESLER & CESCONETO, 2004, p. 4.)

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poluentes com seus efeitos sobre a comunidade aquática; (vi) possibilitar a

geração de cenários de qualidade final das águas baseadas nas atividades

de outorga e licenciamento de atividades poluidoras; (vii) capacitação técnica

local; e (viii) divulgação dos resultados às instituições interessadas e à

população em geral. (SEMA, 2008).

As medidas sanitárias nessa área de influência ambiental

objetivam o monitoramento e a manutenção de condições sanitárias e de

saúde pública, com vistas a detectar e prevenir a ocorrência de

endemias, dentre elas, a malária, a dengue, a esquistossomose, a

leptospirose, o tracoma, a filariose, a leshmaniose, a doença de Chagas

e também a cólera. O controle é feito em 22 pontos de coleta para

análise, conforme dados do Plano de Gestão Ambiental da Itaipu

Binacional/2000. (ROESLER, 2002, p. 187).

Para se ter ideia das doenças de veiculação hídrica na sub-bacia do

Rio São Francisco Verdadeiro no período de 2007 a 2009, segundo dados da

20ª Regional de Saúde de Toledo (2009), ocorreram os seguintes casos de

hepatite A: Marechal Cândido Rondon, 3 casos; São Pedro do Iguaçu, 13

casos; Toledo, 7 casos, totalizando 23 casos, dos 49 registrados na área de

abrangência da regional que são 18 municípios: “A hepatite é uma doença

viral aguda; os sintomas se assemelham a uma síndrome gripal, mas com

elevação das transaminases; apresenta-se de forma esporádica e sob a

forma de surtos; é freqüente em áreas sem saneamento básico, em

instituições fechadas e com baixo padrão de higiene”.

Outras doenças, como as diarreias agudas, têm elevada frequência,

sendo as medidas de controle a melhor forma de reduzi-las. Dentre elas

destaca-se a melhoria da qualidade da água, o destino adequado do lixo e

dos dejetos, o controle de vetores, a higiene pessoal e alimentar. E há ainda

as verminoses, que são causadas pela ingestão de alimentos ou água

contaminados com fezes humanas e dejetos.

Nos municípios, o monitoramento das águas no período da

pesquisa era realizado por representantes de coletivos ambientais,no

caso, os educadores ambientais, que, como referido anteriormente,

podem, ou não serem membros do Comitê Gestor. A ação ocorre através

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de: campanhas, cursos de capacitação nas comunidades, e reuniões de

mobilização. Como intervenção direta os educadores ambientais, com a

ajuda dos estudantes, coletam a água dos rios, córregos, arroios e

nascentes para análise, com orientação e supervisão dos representantes

das empresas Ambitec e Ecovis, que também disponibilizam material e

mensalmente prestam informações às empresas das coletas e análises

realizadas. Essa ação era de conhecimento dos sujeitos entrevistados,

apesar do andamento e dos resultados não serem apresentados e/ou

discutidos nos Comitês Gestores.

[...] Eles têm um projeto de monitoramento da água dos rios e das nascentes, mas é de responsabilidade da Secretaria de Agricultura. Não é discutido, nem repassado informação ao comitê gestor. (Entrevista 4, 2010).

Os educadores ambientais em parceira com as escolas recolhem as amostras de água para análise. Os relatórios são encaminhados para os laboratórios e para Itaipu binacional. Não se discute no Comitê Gestor. (Entrevista 20, 2010).

No monitoramento da água, principalmente a das nascentes, é

objetivo garantir a qualidade da água para o abastecimento humano e

demais usos. Assim, o acompanhamento se faz necessário,

primeiramente pela quantidade das ações impactantes existentes nesses

territórios. Sem o devido controle, elas podem comprometer a saúde e a

qualidade de vida da população. O risco à saúde pública está ligado a

fatores possíveis e indesejáveis de ocorrerem em áreas urbanas e rurais que

podem ser minimizados ou eliminados com uso apropriado de serviços de

saneamento. A utilização de água potável é vista como o “fornecimento de

alimento seguro à população”. O sistema de esgoto promove a interrupção

da “cadeia de contaminação humana”. A melhoria da gestão dos resíduos

sólidos reduz o impacto ambiental e elimina ou dificulta a proliferação de

vetores. A drenagem urbana tem sido utilizada para a eliminação da malária

humana. (FUNASA, 2011).

As questões relativas à saúde pública e a adoção de medidas

preventivas, são igualmente responsabilidade da Itaipu Binacional, em

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sua parceria com as prefeituras. Tratá-las nos locais onde as

embarcações atracam para carga, descarga e reparos, pontos de pesca

e portos localizados na Faixa de Proteção é essencial. A Faixa de

Proteção tem sido utilizada para facilitar o contrabando,

[...] Há inúmeras trilhas abertas na Faixa de Proteção, passagens clandestinas, que facilitam as ações do contrabando, tráfico de drogas, armas, passagens de veículos, fluxo de mercadorias sem controle sanitário e de maquinários roubados e levados para o Paraguai, via o lago Binacional de Itaipu. Em virtude disso, passou-se a envolver, nas ações repressivas aos crimes, a Polícia Militar do Estado do Paraná e os demais órgãos federais e estaduais vinculados à segurança desta área de fronteira e dos cidadãos da Bacia do Paraná III. (ROESLER, 2002, p.188).

Dessa forma, as ações desenvolvidas cumprem os objetivos

expressos na política ambiental, qual seja, manter a qualidade ambiental,

propiciar uma vida mais saudável para a população, garantir o

desenvolvimento socioeconômico e resguardar a segurança nacional.

As matas ciliares apresentam grande importância ambiental na

questão da cobertura vegetal. Elas compreendem as formações vegetais de

porte arbóreo que ocorrem ao lado dos rios e são consideradas legalmente

áreas de preservação, conforme o estabelecido pelo Código Florestal de

1965, uma vez que exercem a função filtrante. Formando mantos vegetais

nos respectivos solos, além de apresentar-se como corredores para a fauna,

as matas ciliares atuam simultaneamente na retenção dos defensivos

agrícolas e agentes poluentes, interferem contra o desencadeamento do

processo de erosão dos solos, processo que acarreta o assoreamento dos

córregos e dos rios. Tais efeitos das matas ciliares afetam diretamente e

positivamente a quantidade e qualidade da água, reduzem a possibilidade de

cheias em função do escoamento limitado da água superficial, têm reflexos

positivos quanto ao desenvolvimento da fauna aquática, espécies vegetais e

animais, e também na população humana.

A valorização do patrimônio tem garantido a ampliação do turismo na

sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro com a exploração

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das áreas de lazer através dos lagos artificiais (prainha – balneário) em

Santa Helena, em Entre Rios do Oeste e em Marechal Cândido Rondon

(distrito de Porto Mendes), bem como os lagos e os parques municipais de

lazer, em Toledo, Cascavel, Marechal Cândido Rondon e Santa Helena.

Nessa ampliação da base do turismo cabe incluir a base náutica; os esportes

aquáticos; o incentivo e ampliação do turismo rural (canoboia, asa-delta,

cachoeiras, grutas, restaurantes); as propriedades modelo; as culturas

alternativas como produção de vinho e cachaça orgânicos, de melado e seus

derivados; a pesca esportiva inclusa no calendário nacional de torneio de

pesca; entre outros.

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200

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo desenvolvido permitiu acompanhar o modo pelo qual

transcorreu a implantação da política de recursos hídricos e de saneamento

básico nos municípios que compõem a sub-bacia paranaense do Rio São

Francisco Verdadeiro, no oeste do Paraná.

Somos um país rico em recursos hídricos e em legislação sobre eles,

porém, para que nossa disponibilidade hídrica se mantenha em quantidade e

qualidade é necessário que ações básicas, como: tratamento de esgotos,

manutenção de matas ciliares, manutenção e ampliação de áreas verdes em

zonas urbanas, controle rígido do uso de insumos agrícolas e campanhas de

uso racional da água, nos setores agrícola, industrial e comercial;

despoluição de corpos d′àgua e bacia hidrográfica; erradicação de doenças

de veiculação hídrica; acesso à informação sobre saneamento e recursos

hídricos; fortalecimento dos processos de mobilização social; criação de

mecanismos de organização social; utilização de tecnologias socioambientais

adequadas à realidade social; recuperação de áreas degradadas; exercício

do controle social na fiscalização dos gastos públicos e no cumprimento da

legislação vigente, sejam efetivamente mantidos e mais do que isso sejam

integrados.

A proteção dos recursos hídricos deixa de ser uma mera atitude

visando à preservação de seus usos mais imediatos para se tornar um

processo de manutenção de sua utilidade. A manifestação da população se

caracteriza por um grande despreparo. Os conceitos se confundem com a

vontade de exprimir opiniões e de exercer uma forma de poder, como a de

influenciar na política. Essa condição pode levar a uma nova forma de

autoritarismo, qual seja, pelo exercício equivocado do poder de

representação. Assim, portanto, o amadurecimento das novas instituições

democráticas implica investimento no terreno educacional, visando ao

aprimoramento do processo de escolha (seleção ou de indicação) dos

representantes, bem como, uma melhor representatividade da opinião

pública nos colegiados deliberativos.

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201

Ao se discutir o ambientalismo se percebe o quanto nos falta saber do

lugar onde vivemos. Ou, como nos diz Sposati (2002, p. 30), “[...] não

aprendemos a geografia da cidade, não sabemos o nome dos rios da cidade,

o nome dos córregos da cidade, nós somos ignorantes no ambiente onde

vivemos”.

Com os sujeitos da pesquisa não foi diferente. Tratam das questões

gerais do meio ambiente, mas têm dificuldade de falar do seu lugar, onde

estão e quais os problemas que vivenciam. Não porque não sabiam, mas

porque não é de seu hábito falar e sim agir, ou seja, produzem, pescam,

cuidam da terra, da água à sua maneira, mas têm dificuldades em verbalizar

as ações que desenvolvem e vivenciam no cotidiano. Dos dezoito

entrevistados, somente dois deles relatam mais proximamente sua vivência

cotidiana.

Para se ter uma ideia da difícil integração entre as políticas hídrica e

de saneamento - que deveria ocorrer a partir de seus órgãos de base e de

participação, que são os conselhos de meio ambiente, das cidades, de

recursos hídricos, e os comitês gestores - a primeira forma de integração foi

proposta pela política ambiental há 30 anos. Ela foi estabelecida pela Política

Nacional de Meio Ambiente, e propõe a integração desde 2003 entre o

Sistema Nacional de Meio Ambiente e o Sistema Nacional de Recursos

Hídricos. A relação deste com o saneamento básico ocorreu somente em

2007.

A situação de implementação do SISNAMA indica limitações

evidentes, tais como: 58% dos municípios não têm legislação ambiental, 66%

não têm Conselhos de Meio Ambiente, 82% não têm recursos financeiros e

somente 8,1% têm os três instrumentos (BRASIL, 2007, p. 12).

O risco à saúde pública está ligado a fatores possíveis e indesejáveis

que ocorrerem em áreas urbanas e rurais, mas podem ser minimizados ou

eliminados com uso apropriado de serviços de saneamento. A utilização de

água potável é vista pela FUNASA (2011) como o fornecimento de alimento

seguro à população. O sistema de esgoto promove a interrupção da “cadeia

de contaminação humana”. A melhoria da gestão dos resíduos sólidos reduz

o impacto ambiental e elimina ou dificulta a proliferação de vetores. A

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202

drenagem urbana tem sido utilizada para eliminação da malária humana. Ao

longo da história da civilização, o saneamento tem se colocado e servido

como uma condição estratégica para o desenvolvimento.

O abastecimento de água apresenta importância sanitária, social e

econômica. Quanto à importância sanitária, pode ser expressa pelo: controle

e prevenção de doenças; implantação de hábitos higiênicos na população

(lavar as mãos, o banho, a limpeza dos utensílios e a higiene do ambiente);

facilitar a limpeza pública; facilitar as práticas desportivas; propiciar conforto,

bem-estar e segurança; aumentar a expectativa de vida da população.

Quanto à importância social, esta se expressa pelo aumento da vida média

pela redução da mortalidade; pelo aumento da vida produtiva do indivíduo

(quer pelo aumento da vida média quer pela redução do tempo perdido com

doença). Quanto à importância econômica, em facilitar a instalação de

empreendimentos produtivos, em especial a instalação de indústrias,

inclusive a de turismo, e, consequentemente, ao maior progresso das

comunidades; e também facilitar o combate a incêndios, cada vez mais

frequentes diga-se ainda que de passagem.

No Estado do Paraná, o consumo de águas para o abastecimento

público, segundo dados da SEMA/PR (2007), é em 68,36% proveniente da

captação de águas superficiais e em 31,64% de mananciais subterrâneos. O

consumo total na Bacia do Paraná III é de 5,94 m³/s, portanto (6,5%) do total

do Estado. O maior consumo é para o abastecimento humano, em volume de

3,45 m³/s ou 58% do total do consumo da bacia.

A Itaipu Binacional, ao assumir a proposta de gestão ambiental na

Bacia do Paraná III, pautada na lógica empresarial de defesa da sua matéria-

prima a água para a produção de energia, estabeleceu uma direção que

anulou de certa forma a operacionalização da Política Nacional de Recursos

Hídricos, pois deixou de ser uma política pública descentralizada e

participativa, uma vez que oito dos municípios investigados na sub-bacia do

Rio São Francisco Verdadeiro deixaram ou “abriram mão” da implantação

dos espaços de definição e controle da política ambiental e hídrica,

entendidas como complementares ao seu processo de operacionalização. Os

representantes dos municípios entendem que, no contexto local, a Itaipu

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responde melhor às ações diretas no processo de conservação e

preservação dos recursos hídricos, principalmente pelo investimento

financeiro realizado, refletindo em melhorias na condição de vida dos

beneficiários diretos e indiretamente, a toda a população. O próprio Comitê

de Bacia instituído passou a ter forte influência e direcionamento das ações a

partir das demandas estabelecidas pela Itaipu. Uma delas foi o custeio de

elaboração do Plano de Bacia do Paraná III, como se sabe, pautadas mais

em uma intencionalidade do que na efetividade das medidas.

O discurso da sustentabilidade e de responsabilidade social e

ambiental, inserido nas agendas de muitos empreendimentos, permite que se

legitimem visões “mercadológicas” na expropriação da força de trabalho. Do

mesmo modo, pode dissimular abusos na utilização ou na exploração dos

bens naturais.

O SINGREH tem a atribuição de definir a outorga de direito de uso, e

sendo a Itaipu uma grande usuária da água, ela tem todo o interesse em

implementar os espaços de discussão da água ausentes de conflito,

portanto, em paralelo ao Comitê de Bacia, para tanto, tem contado com

grande apoio dos municípios. Os potenciais energéticos, assim como as

águas, são considerados bem da União, conforme o artigo 20 da

Constituição Federal (1988), e o artigo 21 estabelece as condições de

aproveitamento energético dos cursos d′àgua.

O resultado da combinação entre a carência econômico-financeira e a

dependência política das prefeituras locais foi, para a política hídrica e de

saneamento, um persistente crescimento da disparidade entre as demandas

da população local e o conjunto de serviços prestados pela área ambiental

nos municípios. Por isso, na ampla maioria dos municípios estudados, o

poder público local não dispõe de infraestrutura técnica, administrativa e

financeira para implementar a política hídrica e de saneamento. Essa

condição é insuficiente para permitir propor as tarefas que a descentralização

exige. A opção adotada foi a transferência da responsabilidade do poder

público para o setor privado na execução da política.

O reflexo desse quadro se agrava com a taxa de pobreza da

população de alguns municípios da sub-bacia do Rio São Francisco

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204

Verdadeiro, que varia de 7,92% a 36,30%, números da Tabela 12 no

percentual que trata do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M 2000)

dos municípios da sub-bacia do Rio São Francisco Verdadeiro. Essa situação

requer investimento não somente no setor ambiental e de saneamento, mas

também na política da assistência social, estabelecendo a interconexão

necessária para promoção da inclusão social, da melhoria da qualidade de

vida e da resolução dos problemas concretos da população desses

territórios.

Apesar da ampliação gradativa dos recursos para o setor de

saneamento, a partilha ou a distribuição entre os Ministérios das Cidades,

FUNASA (da Saúde), Integração, Desenvolvimento Social e Combate à

Fome e Meio Ambiente, a partir dos programas desenvolvidos, ainda é

bastante desigual. O percentual maior dos investimentos tem sido nos

serviços urbanos de água e esgoto, e, na sequência, a integração de

assentamentos precários. Apesar disso, frente à grande defasagem de ações

implementadas na coleta, destinação e tratamento do esgoto, a política de

saneamento tem dificuldades para cumprir um de seus objetivos, e talvez o

maior deles, a redução da pobreza.

Nas ações propostas pelo Programa Cultivando Água Boa está

presente o saneamento básico. No entanto, esta é uma ação a ser

desenvolvida a partir da demanda do município que, ao assinar o convênio

com a Itaipu Binacional, tem suas ações prioritárias a serem desenvolvidas.

A ação mais requisitada pelos municípios foi a relacionada aos resíduos

sólidos, com destaque para a organização e operacionalização do processo

de coleta seletiva, portanto menor investimento. Como resultado, houve a

construção de barracões, a disponibilização de prensas, de carinhos e de

uniformes e ainda, a realização de planos de resíduos sólidos com o apoio

do IAP e dos técnicos da Itaipu Binacional.

A reciclagem e a coleta seletiva são ações que têm sido incentivadas

na sub-bacia, pois propiciam a redução do volume de lixo que, por falta de

tratamento, termina por contaminar o solo, a água levando resíduos para a

atmosfera. Como vantagens dessas ações têm-se: a redução dos custos

com a manutenção dos aterros sanitários e a reparação dos problemas

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ambientais causados pelos lixões clandestinos; a economia de energia com a

geração de novos produtos, como, por exemplo, o biogás; e a preservação

dos recursos naturais. A ação é desenvolvida sem questionamentos. O que

mais tem no lixo é embalagem (vidro, plástico, isopor, madeira, papel e

papelão) e, portanto, tem um produtor de embalagem, que, segundo Sposati

(2002), é predatório pela matéria-prima que utiliza; pela não reposição da

mesma; e pelo impacto dessa matéria no meio ambiente; e, ainda mais,

transfere essa responsabilidade para o consumidor, transformando-o em

grande coletor de lixo, já que na maioria das vezes são produzidos para

suprir as necessidades da “fantasia do homem”.

A proteção das nascentes e afluentes, dos parques e das demais

unidades de conservação, manejo do solo, tratamento de esgoto e dos

efluentes (industriais), tratamento de resíduos sólidos e a redução do uso de

agrotóxicos, esses são alguns dos fatores que contribuem, de maneira

acentuada, na conservação da qualidade e da quantidade das águas, sejam

elas superficiais ou subterrâneas.

Na Bacia do Paraná III destacam-se os seguintes usos múltiplos: o

lazer, a navegação, a pesca, a agricultura, o abastecimento de água potável

às populações, o estímulo ao desenvolvimento da agropecuária, através da

irrigação e da dessedentação animal. Até a criação do Comitê de Bacia,

existia uma Comissão Técnica, segundo Roesler (2002, p. 179), formada

pelo Ministério Público, IAP e IBAMA, denominada Comissão Técnica de

Impacto Ambiental (CTIM), que era a responsável pela normatização dos

usos e das ocupações da faixa de proteção do lago de Itaipu Binacional. Ela

atendia aos pedidos como captação de água, navegação, pesca, instalação

de portos comerciais ou para a implementação de áreas de lazer.

Como a política de saneamento se pauta em diretrizes (tais como a

promoção da equidade social, o estímulo à adequada regulação dos

serviços, o planejamento com base em indicadores epidemiológicos, e de

desenvolvimento social, o desenvolvimento urbano e regional), pressupõe-se

que sua operacionalização de fato, possibilite a alteração das condições

sociais, se viabilize de forma democrática, partindo do espaço de controle já

instituído, no caso o Comitê de Bacia do Paraná III. Há uma grande

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expectativa quanto à forma de operacionalização proposta por esse Comitê,

que passe a ser o caminho de construção de nova sociabilidade, propalada

pelos diversos organismos nacionais e internacionais de meio ambiente.

Outro aspecto a ser destacado é que a sub-bacia do Rio São

Francisco Verdadeiro está na rota da globalização, ou seja, é uma bacia

operacional que faz parte do Programa Hidrology for the Environment, Life

and Police (HELP), que é uma iniciativa do Programa Hidrológico

Internacional (PHI) da UNESCO, em cooperação com a Organização

Meteorológica Mundial (WMO) e o Experimento sobre Ciclos Globais da

Água e Energia (GEMEX). Ele fomenta o gerenciamento por bacias

hidrográficas em todo o mundo de acordo com critérios sustentáveis. Talvez

se consiga buscar apoio em aliados internacionais, por meio de valores que

se coloquem como universais, como os direitos humanos e os ambientais,

articulando relações locais, regionais, nacionais e internacionais, como

ocorreu com os seringueiros da Amazônia, com sua política expressa na

pessoa do Chico Mendes.

Nesse caso, o território passa a ser a expressão da organização e da

mobilização dos diferentes agentes sociais locais em prol de seu próprio

desenvolvimento. Igualmente, é possível ressaltar a dimensão local do

sistema produtivo, do mercado de trabalho, da vida comunitária e das formas

de administração e gestão local e municipal.

As práticas de controle ambiental demandam processos abertos de

negociação e avaliação social e legal que superem a definição meramente

técnica dos problemas, ou o acobertamento de interesses privados. As

relações de poder podem influenciam decisivamente através da

implementação de práticas como o planejamento, o financiamento, o

gerenciamento, o controle e a avaliação das ações.

Outro aspecto a ser observado é que o processo de participação da

sociedade civil e das prefeituras vem sendo lento, uma vez que,

historicamente, e segundo suas especificidades, sempre ficaram à margem

da discussão e definição das grandes políticas; e a recuperação desse tempo

perdido tem sido a tônica das propostas políticas a serem implementadas

pelos municípios. Apesar disso, constituem-se os espaços e controle como

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fundamental para a construção da democracia, e imprescindível à

concretização de um projeto societário mais justo e igualitário.

Os espaços de controle instituídos encontram-se aprisionados à lógica

perversa do sistema capitalista, pois, ao mesmo tempo em que os setores

dominantes incentivam a sua criação, também estabelecem os limites de sua

atuação, retomando as velhas práticas políticas, no entanto, apesar dessa

condição, esses espaços ainda são uma alternativa para fomentar o debate,

estabelecer os consensos e apontar soluções possíveis na área de

saneamento básico e de preservação dos recursos hídricos.

O desafio de estabelecer os rumos para o desenvolvimento na sub-

bacia pesquisada pauta-se na falta de perspectivas da oferta de empregos

para as atuais e novas gerações. A não descentralização urbana das

indústrias e a falta de incentivos para o fortalecimento do comércio nas vilas

e distritos que têm produzido a formação de vazios ocupacionais, resultantes

do fluxo migratório para outras regiões e para áreas urbanas maiores. Estas

fatos agrava-se pela falta de incentivos à manutenção da agricultura familiar

e orgânica, à não geração de novos empregos na agricultura, assim como à

falta ou frágil segurança na área fronteiriça.

Há um potencial na presença dos representantes da sociedade para

que os processos sejam contínuos e persistentes desde que a educação

ambiental se democratize e as condições de participação se aproximem e

sejam mais igualitárias face a defesa do interesse público.

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BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília: Presidência da República, 1999.

BRASIL. Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, institui a Agência Nacional de Águas (ANA). Ministério do Meio Ambiente. Brasília: Presidência da República, 2000.

BRASIL. Resolução CNRH nº 16, de 8 de maio de 2001, estabelece critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos. Conselho Nacional de Recursos. Brasília: MMA, 2000.

BRASIL. Resolução CNRH nº 32, de 15 de outubro de 2003, define as Regiões Hidrográficas. Ministério do Meio Ambiente/Conselho Nacional de Recursos Hídricos e ANA. Brasília: MMA, 2003.

BRASIL. Resolução CNRH nº 5, 10 de abril de 2000, estabelece as diretrizes para a formação e funcionamento dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Brasília: MMA, 2000.

BRASIL. Resolução CNRH nº 58, de 30 de janeiro de 2006, aprova Plano nacional de Recursos Hídricos. Conselho Nacional de Recursos. Brasília: MMA, 2006.

BRASIL. Resolução CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986, dispõe sobre o Estudo de Impacto Ambiental. Brasília: MMA, 1986.

BRASIL. Resolução CONAMA nº 11, de 18 de março de 1986, dispõe sobre o Relatório de Impacto Ambiental. Brasília: MMA, 1986.

BRASIL. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Ministério do Meio Ambiente - CONAMA. Brasília: MMA, 2005.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 3.238, de 17 de maio de 2001, cria o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM). Cascavel, 2001.

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MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Lei Municipal nº 223, de 19 de agosto de 1966, cria o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). Marechal Cândido Rondon, 1966.

MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Lei Municipal nº 3.627, de 22 de julho de 2005, cria o Conselho Municipal de Meio Ambiente. Marechal Cândido Rondon, 2005.

MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Lei Municipal nº 4.113, de 25 de setembro de 2009, cria o Programa Tarifa Social de Água do SAAE Rondonense. Marechal Cândido Rondon, 2009.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 1651, de 4 de agosto de 2003, atribui a SUDERHSA a função de Agência de Bacia Hidrográfica. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2003.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 2.314, de 17de julho de 2000, regulamenta o Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2000.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 2.315, de 17 de julho de 2000, regulamenta o processo de instituição dos comitês de bacias hidrográficas. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2000.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 2.317, 17 de julho de 2000, regulamenta as atribuições e competências da SEMA e SUDERHSA. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2000.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 2.924, de 05 de maio de 2004. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2004.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 4.320, de 28 de julho de 2001, regulamenta o Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2001.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 4.646, de 31 de agosto de 2001, dispõe sobre o regime de outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2001.

PARANÁ. Decreto Estadual nº 4.647, de 31 de agosto de 2001, regulamenta o Fundo Estadual de Recursos Hídricos. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2001.

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PARANÁ. Decreto Estadual nº 5.361, de 26 de fevereiro de 2002, regulamenta a cobrança pelo direito de uso dos recursos hídricos. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2002.

PARANÁ. Lei Estadual nº 10.066, de 27 de julho de 1992, cria a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA). Curitiba, 1992.

PARANÁ. Lei Estadual nº 11.352, de 13 de fevereiro de 1996, cria a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA). Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 1996.

PARANÁ. Lei Estadual nº 12.726, de 26 de novembro de 1999, institui a Política Estadual de Recursos Hídricos. Curitiba, 1999. PARANÁ. Lei nº 11.054, de 11 de janeiro de 1995, institui a Lei Florestal do

Estado do Paraná. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 1995.

TOLEDO. Decreto Municipal nº 306, de 10 de agosto de 2006, constitui o Conselho Municipal dos Usuários de Serviços Públicos de Abastecimento de Água e de Esgoto Sanitário de Toledo. Toledo, 2006.

TOLEDO. Lei Municipal nº 1.881, de 30 de junho de 2004, cria o Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA) e o Fundo Municipal de Meio Ambiente. Toledo, 2004.

SITES CONSULTADOS

http://www.ana.gov.br

http://www.bancomundial.gov.br

http://www.bcb.gov.br

http://www.brasilpnuma.org.br

http://www.citizen.org/trade/portugues/omc

http://www.datasus.gov.br/

http://www.funasa.gov.br

http://www.iap.pr.gov.br

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http://www.ibama.gov.br

http://www.ibge.gov.br/home

http://www.ipardes.gov.br

http://www.mma.gov.br

http://www.observatorioeco.com.br

http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/bancomundial

http://www.onu-brasil.org.br

http://www.pnud.org.br

http://www.pnuma.org.br

http://www.portalbrasil.net/brasil_hidrografia.htm

http://www.pr.gov.br/meioambiente

http://www.sanepar.com.br

http://www.sema.gov.br

http://www.snis.gov.br

http://www.suderhsa.pr.gov.br

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ANEXOS

ANEXO I

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1- Como se deu sua inserção como representante no comitê gestor do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional?

2- Como os representantes participam no comitê gestor do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional?

3- Como percebem a dinâmica de participação no processo de efetivação do comitê gestor do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional?

4- Como se desenham as relações entre os agentes locais?

5- Como se organizam e/ou negociam com o poder público sobre as questões da água?

6- Como se articulam entre si e com os outros atores que se apresentam no contexto local?

7- Como ocorre a pactuação no processo decisório?

8- Como se dá o acompanhamento e a fiscalização do processo de implantação da política de saneamento ambiental na sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro?

9- Quais as ações desenvolvidas junto a sub-bacia paranaense do Rio São Francisco Verdadeiro?

Perfil dos entrevistados que autorizaram sua identificação.

Entrevista Profissão Representação Entidade Função Início da atuação

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ANEXO II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do Projeto: ÁGUA: O DIFÍCIL PERCURSO DE PRESERVAÇÃO E

ACESSO NA SUB-BACIA PARANAENSE DO RIO SÃO FRANCISCO VERDADEIRO

Pesquisadora responsável: Eugênia Aparecida Cesconeto. Convidamos a participar de nosso projeto que tem o objetivo entender como os

membros dos comitês gestores do Programa Cultivando Água Boa da Itaipu Binacional participam do processo de gestão democrática de acesso a água na sub-bacia paranaense do rio São Francisco Verdadeiro, através do Sistema Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH) garantindo o saneamento básico, de modo a fortalecer o pacto social necessário entre todos os envolvidos nesta tarefa: governo estadual e municipal e a sociedade civil, para isso será realizado o seguinte tratamento a sua pessoa, que consiste em responder as perguntas de uma entrevista.

Durante a execução do projeto os riscos serão os mínimos possíveis, porém pode ser que haja algum desconforto em responder certa pergunta. Deixamos claro que os dados serão utilizados apenas para fins científicos e a identidade será mantida em sigilo.

Para qualquer informação ou esclarecimento você poderá ligar para os telefones: (45) 9951-0761 professora executora da pesquisa; para a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (45) 3379-7050.

A pesquisa contribuirá para demonstrar a importância da avaliação no processo de implementação da política de recursos hídricos e de saneamento na sub-bacia paranaense do rio São Francisco Verdadeiro, assim como registrar os momentos históricos das mesmas.

Deve ficar claro que você não pagará e nem receberá nada para participar da pesquisa.

Caso ocorra algum imprevisto médico durante a execução da pesquisa será buscado o atendimento necessário junto a rede pública de saúde local. Você também poderá cancelar sua participação na pesquisa a qualquer momento pelo telefone da professora pesquisadora.

O resultado da pesquisa estará disponível na Instituição – na biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/ Campus de Toledo - para consulta.

Declaro estar ciente do exposto e desejo participar do projeto. Eu, Eugênia Aparecida Cesconeto (pesquisadora responsável), declaro que

forneci todas as informações referentes ao projeto aos participantes.

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