FUNDAÇÃO DOM CABRAL
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS POPULAR
E CONVENCIONAL:
Um estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu
Gilmar Chagas da Silva
Nova Lima 2018
Gilmar Chagas da Silva
TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS POPULAR
E CONVENCIONAL:
Um estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Administração da
Fundação Dom Cabral como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de concentração: Gestão Contemporânea
das Organizações
Linha de Pesquisa: Liderança
Orientador: Prof. Dr. Anderson de Souza
Sant'Anna.
Co-orientador: Prof. Dr. Ricardo Augusto Alves
de Carvalho.
Fundação Dom Cabral
Nova Lima
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca Walther Moreira Salles
Fundação Dom Cabral
Silva, Gilmar Chagas da
S586t Tipos de empreendedores em shopping centers popular e convencional: um
estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu/
Gilmar chagas da Silva. Nova Lima, 2018.
116 f.: il.
Orientador: Anderson de Souza Sant’Anna
Co-orientador: Ricardo Augusto Alves de Carvalho Dissertação (Mestrado) – Fundação Dom Cabral. Programa de Mestrado
Profissional em Administração.
1. Empreendedorismo. 2. Centros comerciais. 3. Teoria da ação. I. Sant’Anna,
Anderson de Souza. II. Carvalho, Ricardo Augusto Alves de. III. Fundação Dom
Cabral. Programa de Mestrado Profissional em Administração. IV. Título.
CDU: 005.332
Bibliotecária: Mônica dos Santos Fernandes Rodrigues – CRB 6/1809
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, tudo por Ele, nada sem Ele, só gratidão aos meus passos e meu
caminhar, força, fé, persistência e determinação.
In memórian (31 de janeiro de 2004) a Sebastião Rufino da Silva, meu pai, embora nos
deixou muito cedo fisicamente, suas lições de homem sério, planejado, firme e empreendedor,
ficaram como presentes e legados em mim e em meus irmãos.
In memórian (Recente 26 de janeiro de 2018) à minha rainha, amada, modelo de inspiração,
persistência, fé e determinação, a Sra. Dona Nair Chagas da Silva. Nessa mulher há um “quê”
de tudo em mim, suas digitais são visíveis. Ela, humilde, pobre, separada do marido, criou
sozinha seis filhos numa cidade pequena do Estado do Pará (Castanhal), onde faltava de tudo
em casa, menos o amor dela, o respeito, a persistência, a saga em desejar e de lutar para que
os filhos crescessem e estudassem para ser alguém na vida. Mamãe trabalhou duro como dona
de casa (faxineira), foi balconista de lanchonete, bares da cidade, fez jogo do bicho (passava
parte do dia andando sob o sol escaldante do Pará), foi lavadeira, vendeu comida... Seu
esforço era para dar o caderno, a caneta, o lápis e não deixar faltar o básico em casa. Eu
sonhava em ter um Faber-Castell, um lápis famoso dessa marca ao escutar na infância a
música Aquarela do Toquinho na televisão. E uma das coisas que minha mãe falava era: -
Filho, estuda, não desanime pela falta do que não temos, não passe por cima das pessoas para
conquistar seus sonhos, lute pelos seus, aonde deseja chegar e o que quer ser na vida. Eu
entendi a mensagem, embora tudo muito confuso na minha cabeça pela falta de maturidade,
era uma criança. Então sai aos 18 anos e fui para Goiânia, lá fiz Administração na UEG,
trabalhei duro em várias atividades, anos depois fui para São Paulo, fiz o MBA na USP, e
após, já morando em Minas Gerais, entrei no mestrado da Fundação Dom Cabral, esse era o
meu maior desejo. Sonho esse que hoje virou fato através dessa dissertação que pelo tema,
penso que nada acontece por acaso, tocar nos capitais culturais e simbólicos de Bourdieu (A
distinção), na Teoria dos dois circuitos da economia de Milton Santos e na abordagem
Effectuation de Sara, talvez tenha algo da minha vida impregnado nisso ou seria uma mera
coincidência?
Pois bem, essa é apenas uma sinopse da minha vida, continuarei a história no meu livro em
que estou esboçando: A Saga de um Vencedor, título preliminarmente escolhido por mim ao
narrar histórias de pessoas que saem de casa para tentar a vida em outras cidades, lugares,
países. Entendo que o modo como encaramos as dificuldades é que faz a diferença e tudo isso
aflora quando as circunstâncias exigem, quando se sabe que existe um objetivo maior a ser
alcançado.
Dedico também à pessoa que mais foi sacrificada pelas minhas ausências durante o mestrado,
minha esposa e parceira, Fabíola Nogueira Porto Casarin. Gratidão, carinho e amor!
E à minha flor e filha Liz Chagas Casarin que também esteve comigo no ventre de sua mãe
durante esse período de muito estudo, ausência e dedicação. Foram muitas noites, tardes,
manhãs, madrugadas e feriados sem a minha presença para lhe acalentar no ventre materno.
Um dia ela entenderá, nada foi por acaso, tudo terá sentido, o amor maior, pelo presente e
futuro que quero lhe dar, e muito mais, por um propósito, um legado.
“Diante de mim havia duas estradas, eu escolhi a
estrada menos percorrida, e isso fez toda a
diferença”.
Robert Frost
AGRADECIMENTOS
Aqui eternizará o meu apreço e respeito aos meus pares que contribuíram direta e indiretamente para a
realização deste estudo e a minha saga desde a matrícula no mestrado da Fundação Dom Cabral, em
especial:
Ao meu orientador Anderson Sant’Anna, que foi além desse papel, foi amigo e mentor. O seu
acompanhamento foi fundamental da ideia à concepção desse projeto, às vezes que eu ia à Belo
Horizonte, Sant’Anna não media esforços para combinar a sua agenda à minha. Só elogios, palmas e
reconhecimento;
Ao meu co-orientador, professor Dr. Ricardo Alves Carvalho, que se interessou pelo meu trabalho e
me acompanhou até aqui desde a qualificação, suas considerações foram levadas a cabo;
Ao Prof. Reed Elliot Nelson, pelas contribuições em minha banca de qualificação mostrando como o
meu projeto poderia ficar melhor e mais interessante. E também por ter aceitado o convite para
compor a mesa de professores para a defesa de dissertação;
À professora Dra. Daniela Martins Diniz da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), por ter
aceitado o convite para compor a mesa de professores para a defesa de dissertação;
Aos amigos do mestrado FDC/MPA, foram momentos e micromomentos vividos. Destaco em especial
o empresário nato Bruno Correia e ao amigo Rener Gregório, essa dupla se fez presente em todos os
momentos dessa dura trajetória. Fica aqui o meu apreço e admiração pelos seres humanos que são;
Ao colega de mestrado, Ramon Batista, que foi parceiro de estrada. Foram tantas idas e vindas para o
mestrado, viagens divertidas, perigosas, reflexivas e cansativas, porém, de muito aprendizado;
Aos professores Sigmar Malvezzi, Rosileia Milagres, Samir Lotfi, Hugo Tadeu, Paulo Renato, Paulo
Tarso, Paulo Vicente, Rodrigo Zeidan, Ana Massa, meu apreço;
À equipe da biblioteca da Fundação Dom Cabral, sempre muito solícita e pronta para nos ajudar;
À diretoria e gerência do SEBRAE-MG, Marden Magalhães, Roberto Marinho, Afonso Rocha e
Anderson Cabido, que na hora de eu decidir por fazer o mestrado na FDC, tive total apoio, valeu por
tudo estimados;
Ao meu líder/gestor Cláudio Oliveira da Regional Norte Montes Claros que sempre me jogou para
cima, tive apoio, mentoria e feedbacks. Chefe, meu apreço e gratidão;
Aos parceiros de trabalho do Sebrae Montes Claros: Yuri Rodrigo, Jácyle Souza, Albertino Filho,
Débora Negrão, Hebbe Mendes, Cláudia Martins que quando eu mais precisei de ajuda financeira para
honrar as mensalidades do mestrado, foram fundamentais, estenderam as mãos. Fica o meu carinho e
reconhecimento eterno aqui registrado para sempre, vocês foram anjos;
Aos Analistas da Regional Norte que facilitaram as minhas agendas e deram apoio e liberdade para
que eu conseguisse conciliar com o estudo. Muito obrigado, reconheci tudo dando o meu melhor para
gerar resultados em cada microrregião: Salinas, Pirapora, Janaúba, Januária e Montes Claros;
Créditos à fotógrafa Montesclarence Silvana Mameluque, que gentilmente resgatou vários momentos
da expansão do Montes Claros Shopping e cedeu as imagens para esse trabalho;
Agradeço também à Cida Santana da agência ideia.com assessoria de imprensa, por colaborar com
várias matérias sobre a história do Quarteirão do Povo;
Dedico também aos meus irmãos: Haroldo Gomes, Dalva Patrícia, Silvana Moraes, Denise Chagas e
Ivo Gomes;
E já ao final da jornada, o cansaço e reverses da vida foram inevitáveis e incontroláveis. De repente,
eis que surgem amigos como o Pedro Viana, Elder da Silva de Almeida, Jonas Bovolenta e João
Ricardo de Oliveira (todos do SEBRAEMG), estenderam suas mãos para me auxiliar. Foram
contribuições pertinentes, relevantes e efetivas. De coração, obrigado!
RESUMO
Este estudo tem como propósito investigar, a partir de marco teórico estabelecido em
Bourdieu (2008), diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos -
mobilizados por empreendedores em dois centros de compras da cidade de Montes Claros
(MG): o Quarteirão do Povo e o Montes Claros Shopping. O objetivo é melhor compreender
diferenças e semelhanças entre essas duas modalidades de centros comerciais no que tange
aos empreendimentos e perfis de seus empreendedores, incluindo a consideração dos modelos
de negócios, estilos de gestão e estratégias utilizadas com vistas ao domínio dos campos em
que se inserem. Para tal, é adotada pesquisa de abordagem qualitativa, conduzida por meio da
adoção de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, contemplando as categorias de
análise alvo do estudo, em particular as noções de Campo, Habitus e Capital – Social,
Econômico, Cultural e Simbólico – conforme estabelecidas pela Teoria da Ação Prática de
Boudieu (2008). Como sujeitos de pesquisa foram considerados trinta empreendedores
instalados nas duas espacialidades estudadas. De acordo com os achados, constata-se uma
diversidade de tipos de empreendimentos, faixas etárias dos proprietários, níveis de
experiência, origens e histórias familiares, graus de escolaridade, disposição para inovar, bem
como atributos comumente associados ao perfil empreendedor, tais como: capacidade de
planejamento, de persuasão, iniciativa, comprometimento com o negócio e autoconfiança. Em
ambos os espaços registra-se, também, como valor reiteradamente manifesto pelos
pesquisados, a persistência diante de dificuldades, destacando-se, como forma de superá-las, a
adoção de parcerias, a capacidade de mobilização dos recursos disponíveis à mão e o senso de
oportunidade. Em suma, a partir do conjunto dos dados, constata-se a predominância de dois
tipos de empreendedores, conforme propostos por Sant’Anna et al. (2011): os
Empreendedores Tradicionais e os Empreendedores Modernos. No caso do Quarteirão do
Povo, predominando ambos os tipos e no Shopping Montes Claros, dominando o tipo
Empreendedor Moderno. Ademais, cabe destacar o Quarteirão do Povo como lócus em que
procura reproduzir, no contexto da região central da cidade, a lógica de negócios dominante
no Shopping Montes Claros, como a ênfase no embelezamento arquitetônico e paisagístico,
bem como na introdução de dispositivos “modernos” de gestão. Como resultante, registra-se
traços de gentrificação do espaço integrado pelo Quarteirão, com impactos em variáveis de
vitalidade, segurança e sustentabilidade, conforme preconizado por Jacobs (2011).
Palavras-Chave: Empreendedorismo, Tipos de Empreendedores, Teoria da Ação Prática,
Bourdieu, Effectuation.
ABSTRACT
This study aims to investigate from a theoretical framework established by Bourdieu (2008)
different types of capitals like economic, social, cultural and symbolic mobilized by
entrepreneurs in two shopping centers in the city of Montes Claros, State of Minas Gerais,
Brazil: the Quarteirão do Povo - People Street Block and the Montes Claros Shopping. The
purpose of this research is to understand the differences and similarities between these two
purchasing center modalities in relation to their entrepreneur’s ventures and profiles including
consideration of business models, management styles and strategies used to master the fields
in which one. To insure this study a qualitative research was adopted conducted through the
adoption of semi-structured and in-depth interviews. The script was planned and organized in
order to contemplate the categories of analysis included in this study. In particular, the notions
of Campo, Habitus and Capital: Social, Economic, Cultural and Symbolic recommended in
Boudieu's practical action theory (2008). The research subjects are consisted by thirty
entrepreneurs installed in the two different commercial places. According to the findings,
there are several types of entrepreneurship, owners’ age groups, experience’s levels, family
origins and life histories, degrees of education and willingness to innovate increasing these
attributes commonly associated with the entrepreneurial profile, such as: planning capacity,
persuasion, initiative, commitment to the business and self-confidence. In both analyzed
commercial areas we can find, as a value repeatedly expressed by the respondents, the
persistence in face difficulties highlighting as a way to overcome it the adoption of
partnerships, the ability to mobilize available resources by hand and the sense of opportunity.
In summary, from the data set we can see the predominance of two types of entrepreneurs as
proposed by Sant'Anna et al. (2011): Traditional Entrepreneurs and Modern Entrepreneurs.
In the case of the People Street Block there is a predomination of both types of entrepreneurs
and in the Montes Claros Shopping there is a domination of the Modern Entrepreneur type. In
addition, it is possible to emphasize in the People Street Block a king of reproduction in the
context of the central region in Montes Claros city the dominant business logic of Montes
Claros Shopping like the emphasis on the architectural and landscape embellishments, as well
as in the introduction of "modern management devices". As a result, there are traces of
gentrification of the space integrated by the People Street Block with impacts on variables of
vitality, safety and sustainability, as recommended by Jacobs (2011).
Keywords: Entrepreneurship, Types of Entrepreneurs, Practical Action Theory, Bourdieu,
Effectuation.
RÉSUMÉ
Cette étude vise à étudier à partir d'un cadre théorique établi par Bourdieu (2008) différents
types de capitaux économiques, sociaux, culturels et symboliques mobilisés par des
entrepreneurs dans deux centres commerciaux de la ville de Montes Claros, État du Minas
Gerais, Brésil: Quarteirão do Povo - Quartier populaire et le Montes Claros Shopping. Le but
de cette recherche est de comprendre les différences et les similitudes entre ces deux
modalités du centre d'achat par rapport aux entreprises et aux profils de leurs entrepreneurs, y
compris les modèles économiques, les styles de gestion et les stratégies utilisées pour
maîtriser les domaines. Pour assurer cette étude, une recherche qualitative a été menée à
travers l'adoption d'entretiens semi-structurés et approfondis. Le scénario a été planifié et
organisé afin de contempler les catégories d'analyse incluses dans cette étude. En particulier,
les notions de Campo, Habitus et Capital - Social, Economique, Culturel et Symbolique ont
été recommandées dans la théorie de l'action pratique de Boudieu (2008). Les sujets de
recherche sont constitués d'une trentaine d'entrepreneurs installés dans deux lieux
commerciaux différents. Selon les résultats, il existe plusieurs types d'entrepreneuriat, groupes
d'âge des propriétaires, niveaux d'expérience, origines et antécédents familiaux, degrés
d'éducation et volonté d'innover qui augmentent les attributs généralement associés au profil
entrepreneurial, tels - capacité de planification, persuasion, initiative, engagement envers
l'entreprise et confiance en soi. Dans les deux zones commerciales analysées, nous pouvons
trouver, comme une valeur exprimée à maintes reprises par les répondants, la persistance dans
les difficultés rencontrées soulignant comme moyen de surmonter l'adoption de partenariats,
la capacité à mobiliser les ressources disponibles à la main et le sens des opportunités. En
résumé, à partir de l'ensemble de données, nous pouvons voir la prédominance de deux types
d'entrepreneurs comme proposé par Sant'Anna et al. (2011): Entrepreneurs traditionnels et
entrepreneurs modernes. Dans le cas du Quartier populaire, il y a une prédominance des deux
types d'entrepreneurs et dans le Montes Claros Shopping il y a une domination du type
Entrepreneur Moderne. En outre, il est possible de souligner dans le Quartier populaire un roi
de la reproduction dans le contexte de la région centrale dans la ville de Montes Claros la
logique commerciale dominante de Montes Claros Shopping comme l'accent sur les
embellissements architecturaux et paysagers, ainsi que l'introduction de "dispositifs de gestion
modernes". En conséquence, il existe des traces de gentrification de l'espace intégré par le
Quartier populaire avec des impacts sur les variables de vitalité, de sécurité et de durabilité,
tel que recommandé par Jacobs (2011).
Mots-clés: Entrepreneuriat, Types d'entrepreneurs, Théorie de l'action pratique, Bourdieu,
Effectuation.
ABSTRACTO
El objetivo de este estudio es investigar desde un marco teórico establecido por Bourdieu
(2008) diferentes tipos de capitales como el económico, social, cultural y simbólico
movilizado por empresarios en dos centros comerciales en la ciudad de Montes Claros, Estado
de Minas Gerais, Brasil: el Quarteirão do Povo – Distrito Popular y Montes Claros Shopping.
El objetivo de esta investigación es comprender las diferencias y similitudes entre estas dos
modalidades de centro de compras en relación con las iniciativas y perfiles de sus
emprendedores, incluida la consideración de los modelos comerciales, los estilos de gestión y
las estrategias utilizadas para dominar los campos en los que se basa. Para asegurar este
estudio, se adoptó una investigación cualitativa realizada mediante la adopción de entrevistas
semiestructuradas y en profundidad. El guión se planificó y organizó para contemplar las
categorías de análisis incluidas en este estudio. En particular, las nociones de Campo, Habitus
y Capital: Social, Económico, Cultural y Simbólico recomendado en la teoría de la acción
práctica de Boudieu (2008). Los sujetos de investigación están conformados por treinta
empresarios instalados en los dos lugares comerciales diferentes. Según los resultados, hay
varios tipos de emprendimiento, grupos de edad de los propietarios, niveles de experiencia,
orígenes familiares e historias de vida, grados de educación y voluntad de innovar,
aumentando estos atributos comúnmente asociados con el perfil emprendedor, tales como:
capacidad de planificación, persuasión, iniciativa, compromiso con el negocio y
autoconfianza. En ambas áreas comerciales analizadas podemos encontrar, como un valor
reiteradamente expresado por los encuestados, la persistencia en las dificultades de cara a
destacar como una forma de superarlo la adopción de alianzas, la capacidad de movilizar
recursos disponibles a mano y el sentido de oportunidad. En resumen, del conjunto de datos
podemos ver el predominio de dos tipos de empresarios según lo propuesto por Sant'Anna et
al. (2011): Emprendedores tradicionales y Emprendedores modernos. En el caso del Distrito
Popular predominan ambos tipos de emprendedores y en Montes Claros Shopping existe una
dominación del tipo Emprendedor Moderno. Además, es posible destacar en Distrito Popular
a un rey de la reproducción en el contexto de la región central de la ciudad de Montes Claros,
la lógica empresarial dominante de Montes Claros Shopping como el énfasis en los adornos
arquitectónicos y paisajísticos, así como en la introducción de "dispositivos de gestión
modernos". Como resultado, hay rastros de gentrificación del espacio integrado por Distrito
Popular con impactos en las variables de vitalidad, seguridad y sostenibilidad, según lo
recomendado por Jacobs (2011).
Palabras clave: Emprendimiento, Tipos de emprendedores, Teoría de la acción práctica,
Bourdieu, Effectuation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estudos Teóricos Referenciais sobre Educação Empreendedora SEBRAE – Modelo
Effectuation ......................................................................................................................... 40 Figura 2 - Rua Simeão Ribeirão (Quarteirão do Povo). ......................................................... 48
Figura 3 - Mini praça após revitalização do Quarteirão do Povo. .......................................... 51 Figura 4 - Rua Simeão Ribeiro, Quarteirão do Povo – Café Galo. ........................................ 52
Figura 5 - Empreendedores do Quarteirão do Povo em visita a Santa Catarina. .................... 52 Figura 6 - Loja de artigos para recém-nascidos situado à rua Simeão Ribeiro. ...................... 53 Figura 7 - Rua fechada: Comércio do Quarteirão do Povo. ................................................... 54
Figura 8 - Ação de treinamento e desenvolvimento de vendedores de lojas do Quarteirão do
Povo. ................................................................................................................................... 55
Figura 9 - Quarteirão do Povo: Loja com produtos em promoção. ........................................ 59 Figura 10 – Loja do varejo de confecção situada à rua Simeão Ribeiro ................................. 67
Figura 11 – Joalheria tradicional situada à rua Simeão Ribeiro ............................................. 68 Figura 12 - Corredor do Shopping Montes Claros ................................................................ 72
Figura 13 – Expansão do Montes Claros Shopping ............................................................... 78 Figura 14 – Loja do Varejo de confecção e acessórios .......................................................... 80
Figura 15 – Loja de produtos de informáticas dentro do shopping ........................................ 83 Figura 16 – Box de Crossfit situado dentro do estacionamento do shopping ......................... 84
Figura 17 – Quiosque de Churros situado dentro do shopping .............................................. 85
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Características dos dois circuitos da economia urbana dos países
subdesenvolvidos ................................................................................................................. 23 Quadro 2 - Capitais, conforme definições de Bourdieu (2008). ............................................. 35
Quadro 3 - Tipologia de Empreendedores segundo habitus e capitais mobilizados. .............. 37 Quadro 4 - Princípios do pensamento Effectual. ................................................................... 39
Quadro 5 - Sujeitos de pesquisa: Quarteirão do Povo. .......................................................... 44 Quadro 6 - Sujeitos de pesquisa: Montes Claros Shopping ................................................... 44 Quadro 7 - Categorias Analíticas .......................................................................................... 46
Quadro 8 - Princípios e respectivos relatos dos empreendedores do Quarteirão do Povo. ...... 56 Quadro 9 - Características do comportamento empreendedor EMPRETEC. ......................... 58
Quadro 10 - Perfil do Empreendedor Entrevistado – Quarteirão do Povo ............................ 65 Quadro 11 – Capitais mobilizados no Quarteirão do Povo de acordo com o habitus ............. 69
Quadro 12 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo os capitais. ........ 69 Quadro 13 - Relação de empreendimentos (Montes Claros Shopping Center) ...................... 73
Quadro 14 - Vantagens e Desvantagens de ser um franqueado e franqueador ....................... 77 Quadro 15 - Princípios do Effectuation presentes no Montes Claros Shopping ..................... 87
Quadro 16 – Perfil do Empreendedor Entrevistado do Montes Claros Shopping ................... 89 Quadro 17 - Síntese dos capitais presentes no Montes Claros Shopping ............................... 91
Quadro 18 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo capitais
mobilizados.......................................................................................................................... 92
Quadro 19 - Resumo comparativo entre espaços pesquisados ............................................... 95
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 21 2.1 O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana ................................................ 21 2.1.1 O circuito superior ....................................................................................................... 24
2.1.2 O circuito inferior ........................................................................................................ 26 2.2 A sociologia de bourdieu ................................................................................................ 28
2.2.1 A teoria da ação prática de bourdieu ............................................................................ 28 2.3 A teoria da efetuação ...................................................................................................... 37
METODOLOGIA .............................................................................................................. 42 3.1 Características básicas da pesquisa ................................................................................. 42
3.2 Sujeitos de pesquisa ....................................................................................................... 43 3.3 Estratégia de coleta de dados .......................................................................................... 45
3.4 Tratamento e análise de dados ........................................................................................ 45
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS .................................................................. 47 4.1 O Quarteirão do Povo ..................................................................................................... 47 4.1.1 O campo ...................................................................................................................... 47
4.1.2 O habitus ..................................................................................................................... 53 4.1.3 Os empreendedores e capitais mobilizados .................................................................. 64
4.2 Montes Claros Shopping ................................................................................................ 71 4.2.1 O campo ...................................................................................................................... 71
4.2.2 O habitus ..................................................................................................................... 78 4.2.3. Perfil do empreendedores e capitais mobilizados ........................................................ 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 93
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 101
APÊNDICE ...................................................................................................................... 109
APÊNDICE A.................................................................................................................... 109
15
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como proposta investigar a composição de diferentes capitais -
econômicos, sociais, culturais e simbólicos -, mobilizados por empreendedores instalados em
shopping centers popular e convencional, localizados na cidade de Montes Claros (MG).
Com ruas estreitas, sem estacionamento, com comércios de todos os tipos, trânsito intenso,
diversidade de públicos, céu aberto e com caráter estritamente “bricoler” (Baker & Nelson,
2005; Strauss, 1966), o shopping center popular localiza-se na região central da cidade. Já o
outro grupamento de empreendedores investigado, instala-se em bem montada estrutura, com
ampla gama de requisitos e atributos favoráveis à atração de clientes que visam experiências
satisfatórias de compra.
De modo geral, os espaços da rua e do mercado têm sido submetidos a distintas lentes de
interpretação. As contribuições da sociologia de Pierre Bourdieu são, nessa direção,
paradigmáticas, em particular ao permitir elementos concretos à leitura de espacialidades,
incluindo jogos de competição e colaboração, que permitem evidenciar relações entre
diferentes agentes, contribuindo com elementos significativos à produção de conhecimentos
associados a contextos de diversidade, inovação e mudança.
Isso, na medida em que a produção da cidade e seus diversos lugares e dinâmicas encontram-
se intrinsecamente relacionados à (re-)produção de discursos, relações e práticas sociais
(Sant’Anna, 2016). Sob tal ótica, o arcabouço teórico de Bourdieu (2009; 2010) oferece
dispositivos expressivos para a compreensão das arenas em que se inserem tais agentes e dos
modos como cada um mobiliza diferentes capitais, tendo em vista a constituição de lugares
distintivos em seus respectivos campos de atuação.
Além das diferenças visíveis, do ponto de vista teórico, o foco deste estudo é na maior
compreensão de características desses atores – suas semelhanças e diferenças – no processo
de produção dos espaços em análise. Recorrendo a Santos (2000), a organização e a divisão
do espaço urbano em espacialidades de países economicamente menos desenvolvidos
evidenciam dois circuitos principais: o superior e o inferior.
16
Além disso,
[...] a sociedade e a cultura brasileira são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas por coloridos
herdados dos índios americanos e dos negros africanos. O Brasil emerge, assim,
como um renovo mutante, remarcado de características próprias, mas atado
geneticamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas de ser e de
crescer só aqui se realizariam plenamente (Ribeiro, 1995).
Sob tal diferenciação, no Brasil sertanejo, as práticas, os habitus e os capitais mobilizados
adquirem coloridos intensos na “princesinha” do Norte: Montes Claros (MG). Por suas vias se
plasmam diversos modos rústicos de ser do brasileiro, distinguindo-os, como sertanejos do
nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do sudeste e do centro do país,
gaúchos das campanhas sulinas, além dos ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros, nipo-brasileiros.
Todos esses tipos marcados pelo que têm de comum, como brasileiros, pelas diferenças e
adaptações regionais, funcionais ou de miscigenação e aculturação, emprestam fisionomia
própria a uma ou outra parcela da população (Ribeiro, 1995).
Nessa seara, seu espaço é multipolarizado, submetido e pressionado por múltiplas influências
e diversidade. Ademais, quanto menor a escala do lugar, mais numerosos são os impactos, o
que permite uma decomposição do tempo à escala local (Santos, 1973). O comportamento do
espaço acha-se, assim, afetado por disparidades de situações históricas, geográficas, temporais
e individuais. No entanto, enquanto novos gostos são introduzidos e se difundem, gostos
tradicionais subsistem, requerendo aos aparatos econômicos se adaptar tanto aos imperativos
de uma “modernização” poderosa quanto às realidades sociais localmente instituídas. Outra
característica do lugar é a desigualdade de renda entre os diversos segmentos sociais e, por
conseguinte, as diferenças em relação às possibilidades de consumo, motivo pelo qual, a
cidade “não pode mais ser estudada como uma máquina maciça” (Santos, 1973, p. 21).
Conforme também observa Santos (1973), cabe acrescentar que o circuito superior da
economia nesses contextos se origina diretamente da “modernização tecnológica”, sendo seus
elementos mais representativos, os grandes monopólios internacionais. O essencial de suas
relações se dá, portanto, fora da cidade e da região que as abrigam. Já o circuito inferior,
formado por atividades de pequena dimensão e endereçado principalmente às populações
pobres é, ao contrário, bem enraizado, mantendo relações privilegiadas com a sua região.
Ao exigir a formulação do postulado da conversibilidade das diferentes espécies de capital,
condição da redução do espaço à unidimensionalidade, a construção de um espaço com duas
17
dimensões permite-nos evidenciar que a taxa de conversão das diferentes espécies de capital
constitui significativo pretexto nas lutas entre as diferentes frações de “classe”, cujo poder e
privilégios estão relacionados com uma ou outra e, em particular, à luta sobre o princípio de
dominação (Bourdieu, 2008).
Em linhas gerais, a divisão em “classes” operada pela ciência, conduz à raiz comum de
práticas classificáveis, produzidas por diferentes agentes, bem como por julgamentos
classificatórios sobre as práticas dos outros ou suas próprias. O habitus resultante é, com
efeito, princípio gerador de práticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo, sistema
de classificação - principium divisionis - de tais práticas (Bourdieu, 2008).
Para Calvelli (2001), desse processo decorre a constituição de pessoas capacitadas a exercer
certos tipos de serviços por serem “detentores exclusivos da competência específica
necessária à reprodução de um corpus deliberadamente organizado de conhecimentos”
(Bourdieu, 1984, p. 39). Soma-se a isso, a produção de valores simbólicos. Em outros termos,
a divisão não é só de trabalho, porque a própria divisão do trabalho expressa uma divisão
social entre “fazedores” e “consumidores”.
Se não se pode afirmar radicalmente que, nos casos estudados, categorias sociais distintas se
colocam em posições polares quanto à produção e ao consumo de bens simbólicos, eles pelo
menos nos levam a observar que a posição de “produtoras” recebe dados marcadores sociais.
Nesse sentido, a divisão de trabalho não tem apenas uma função prática relativa à reprodução
das condições materiais e racionais dos bens mágico-religiosos, mas desempenham, também,
a função simbólica de expressar distinções sociais entre seus produtores e consumidores.
Logo, produzem e consumem mantendo marcas da distinção.
Para Bourdieu (2008) é essa relação entre as capacidades que se definem os habitus, ou seja, a
capacidade de produzir obras e práticas classificáveis, assim como a capacidade de as
diferenciar e as apreciar (gosto), constituindo o mundo social representado; ou seja, os
espaços dos estilos de vida (Bourdieu, 2008). Disso pode-se derivar que os estilos de vida são
produtos sistemáticos do habitus, que percebidos em suas relações mútuas e segundo seus
esquemas, tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados – como “distintos”,
“vulgares”, “sofisticados”. Em outros termos, a dialética das condições e dos habitus é
18
fundamento da “alquimia” que transforma a distribuição do capital em sistema de diferenças
percebidas, de propriedades distintivas, ou seja, em distribuição de capitais.
Ainda de acordo com Bourdieu (2008), considerando a impossibilidade de se justificar as
práticas, a não ser pela revelação sucessiva das séries de efeitos que se encontram na sua
origem, uma análise superficial das relações em jogo faz desaparecer, em primeiro lugar, a
estrutura do estilo de vida característico de um agente ou de uma classe de agentes; isto é, a
unidade que se dissimula sob a diversidade e a multiplicidade do conjunto das práticas
realizadas em campos dotados de lógicas diversas e, portanto, capazes de impor formas
múltiplas de realização segundo a fórmula: [(habitus) (capital)] + campo = prática. Faz
desaparecer, também a estrutura do espaço simbólico delineado pelo conjunto dessas práticas
estruturadas, de todos esses estilos de vida distintos e distintivos, que se definem sempre
objetivamente – e, às vezes, subjetivamente – nas e pelas relações mútuas.
Como alternativa, um primeiro passo consiste em definir cada circuito da economia urbana,
suas relações recíprocas e com a sociedade, assim como com o espaço circundante.
Reconhece-se, desse modo, que as dinâmicas no urbano são condicionadas pelas dimensões
qualitativas e quantitativas de cada circuito. Cada circuito mantendo, com o espaço de
relações do espaço, tipos particulares de relações: cada espacialidade tem, portanto, suas
zonas de influência (Santos, 1973).
Assim sendo, parte-se da premissa que um dado “ecossistema empreendedor” é forjado por
uma rede de agentes, com interesses plurais, operando em diferentes escalas e mobilizando
distintos capitais – econômicos, sociais, culturais e simbólicos –, que se diferenciam,
produzindo vantagens competitivas específicas (Sant’Anna et al., 2011).
Sob tal perspectiva, Sant’Anna et al. (2001), ao investigarem processo contemporâneo de
reconversão de funções econômicas vivenciado pela cidade histórica de Tiradentes (MG), a
qual se desloca de cidade “esquecida”, após exaustão de ciclo econômico baseada na
mineração aurífera, para configurar-se em polo de turismo e da indústria criativa aponta para
uma diversidade de clusters de empreendedores, cada qual buscando o domínio do campo
empreendedor, por meio da mobilização de capitais disponíveis. Para a categorização dos
diferentes tipos de empreendedores emergentes, contribuição fundamental foi aportada pela
“Teoria da Ação Social”, proposta por Pierre Bourdieu.
19
Associando a perspectiva aportada por esses autores, este estudo também incorpora
contribuições da noção de Effectuation ou Abordagem Efetiva, a qual compreende processo
dinâmico e criativo que tem por objetivo o desenvolvimento de novas ideias em um dado
ambiente, tendo por base o “aprender fazendo” sob a lógica da “tentativa e erro”, conforme
delineada por Sarasvathy (2000, 2008).
Posto isso, ampliar e dar sequência aos estudos desenvolvidos por tais autores, envolvendo a
investigação da dinâmica das relações que se estabelecem na comercialização de produtos e
serviços entre empreendedores em distintas espacialidades – a céu aberto e em espaços
privados – parece relevante e significativo. Afinal, como se dão as relações entre os agentes
que compõem esses grupamentos de empreendedores? O que os caracteriza e os distingue?
Sob tal perspectiva, deriva a pergunta central de investigação que orientou a condução da
pesquisa que subsidiou os resultados desta dissertação: De que forma diferentes capitais -
econômicos, sociais, culturais e simbólicos - são mobilizados por empreendedores localizados
em shoppings centers popular e convencional, tendo por base tipologia desenvolvida por
Sant’Anna et al. (2011), com base no arcabouço teórico de Bourdieu (2008)?
Dessa problemática, tem-se como propósito central investigar diferenças e semelhanças
entre capitais mobilizados por empreendedores com estabelecimentos localizados em
um shopping center popular vis-à-vis shopping center convencional, tendo por base o
arcabouço teórico de Bourdieu (2008). Já, como objetivos específicos, propõe-se:
1. Descrever os espaços físico, social, econômico, cultural e simbólico dos centros de
compras alvo do estudo;
2. Investigar capitais - sociais, econômicos, culturais e simbólicos - mobilizados pelos
empreendedores pesquisados em ambos os centros de compra objeto da pesquisa;
3. Analisar diferenças e semelhanças entre os capitais suas formas de mobilização e
implicações sócio-organizacionais, em ambos os tipos de centros de compra pesquisados.
Quanto à sua justificativa, em nível teórico, o estudo visa ampliar pesquisas desenvolvidas
sobre o tema, iniciadas por Sant’Anna e colaboradores. Espera-se, também, que contribua
20
para a produção acadêmica nas áreas de empreendedorismo e liderança empreendedora. Em
consonância, igualmente, ampliar os olhares e contribuições teórico-conceituais-
metodológicas que favoreçam a construção de espacialidades mais aderentes à diversidade.
Já em termos práticos, se propõe a contribuir com subsídios ao desenvolvimento de políticas
públicas direcionadas ao espaço urbano estrategicamente ocupado por agentes que visam
interesses pessoais, coletivos e de diferentes tipos de capitais. Outra contribuição é a
possibilidade de aportar elementos a programas de formação e desenvolvimento de
empreendedores, tendo em vista os espaços geográficos e humanos em que se inserem.
Assim sendo, no capítulo seguinte será abordado o referencial teórico adotado.
21
Capítulo 2
REFERENCIAL TEÓRICO
Como marcos teórico para a realização deste estudo foi adotada a Teoria da Ação Prática,
desenvolvida pelo pensador francês Pierre Bourdieu, com destaque para suas noções de
campo, habitus e capital (Bourdieu, 2010, 2009, 2009a, 1990), direcionadas a analisar,
estudar, decodificar e ilustrar lógicas socioculturais e econômico-simbólicas que caracterizam
as relações que se estabelecem entre diferentes agentes da cena social. Com vistas a se atingir
os objetivos propostos, procede-se também a revisão de literatura envolvendo diferentes
tipologias - nacionais e internacionais - de empreendedores, assim como suas relações com a
dimensão espacial, com ênfase em estudos empíricos sobre o tema conduzidos com base na
sociologia de Bourdieu.
2.1 O ESPAÇO DIVIDIDO: OS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA
Descontínuo, instável, o espaço, notadamente em contextos de economias menos
desenvolvidas, é igualmente multipolarizado, ou seja, submetido e pressionado por múltiplas
influências e diferenciações oriundas de distintos níveis de decisão. E, conforme salienta
Santos (1973), tão polarização tende a se acentuar quanto menor a escala do lugar. O
comportamento do espaço acha-se, desse modo, afetado por disparidades de situação
geográfica, temporal, histórica e simbólica. Afinal, como “gostos” novos se difundem,
enquanto aqueles tradicionais subsistem, o aparelho econômico deve se adaptar ao mesmo
tempo aos imperativos de uma modernização poderosa e às realidades sociais, novas ou
herdadas.
Outro traço desses espaços periféricos é a grande desigualdade de renda entre seus diversos
segmentos sociais e, por conseguinte, as diferenças em relação às possibilidades de consumo.
Assim, complementa Santos (1973, p. 21), as espacialidades “não podem mais ser estudadas
como uma máquina maciça. Elas, ao contrário, compõem-se de diferentes circuitos em
constante interação: o circuito superior e o circuito inferior.
22
De acordo com esse autor, o circuito superior origina-se diretamente da modernização
tecnológica e seus elementos mais representativos são os monopólios econômicos. O
essencial de suas relações ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e têm por cenário
o seu exterior. O circuito inferior, por sua vez, é constituído por atividades de pequena
dimensão, endereçado principalmente às populações pobres, caracterizando-se pelo enraizado
e por relações privilegiadas com a região.
De acordo com Santos (1973), qualquer análise espacial deve partir da compreensão da
interação entre tais circuitos, suas relações internas, recíprocas e com a sociedade, assim
como o espaço circundante. A vida urbana é condicionada pelas dimensões qualitativas e
quantitativas de cada circuito. Cada circuito mantendo um tipo particular de relação: cada
espacialidade tendo, portanto, suas zonas de influência (Santos, 1973).
Para Santos (1979), esse dualismo não existe porque têm a mesma origem precípua ou mesmo
um conjunto de causas interligados. Segundo ele, o que existe é uma aparente
interdependência que se constrói entre os circuitos, em que o inferior depende do superior e
vice-versa. Assim, as atividades informais são consequências diretas da posição hegemônica
do circuito superior. Desse modo, as principais diferenças entre os circuitos se identificam nas
formas de organização, na tecnologia, no capital, conforme sugerem os dados do Quadro 1.
23
Quadro 1 - Características dos dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos
Circuito Superior Circuito Inferior
Tecnologia Capital intensivo Trabalho intensivo
Organização Burocrática Primitiva
Capitais Importantes Reduzidos
Emprego Reduzido Volumoso
Assalariado Dominante Não-obrigatório
Estoques Grande quantidade e/ou alta
qualidade
Pequena quantidade/qualidade
Preços Fixos (em geral) Submetidos à discussão entre
comprador e vendedor
Crédito Bancário institucional Pessoal não institucional
Margem de lucro Reduzida por unidade, mas
importante pelo volume de
negócios (exceção produtos de
luxo)
Elevada por unidade, mas pequena
em relação ao volume de negócios.
Relações com a clientela Impessoais e/ou com papéis Diretas, personalizadas
Custos Fixos Importantes Desprezíveis
Publicidade Necessária Nula
Reutilização dos bens Nula Frequente
Overhead capital Indispensável Dispensável
Ajuda governamental Importante Nula ou quase nula
Dependência direta do exterior Grande, atividade voltada para o
exterior
Reduzida ou nula.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Santos (1979)
Dada a desigualdade de oportunidades de acesso a níveis de vida mais adequados, o espaço,
ou seja, o espaço dividido da economia resulta em lugares de consumos diferenciados, tendo-
se essas diferenças ampliadas na medida em que se aprofundam as desigualdades sócio-
territoriais. Assim, cada local terá duas zonas de influência, uma comandada pela dinâmica de
seus circuitos superior e inferior. Importante ressaltar que não há uma rigidez entre tais zonas,
principalmente quando se refere aos consumidores. Esses transitam nos dois circuitos,
eventual ou parcialmente, dependendo da acessibilidade oferecida. Segundo Corrêa (2001,
p.75):
Os dois circuitos da economia são facilmente revelados através da paisagem das
grandes cidades do terceiro mundo: modernos shoppings centers que, muitas vezes,
não estão distantes de um conjunto de biroscas, ruas onde convivem lojas
departamentais, pertencentes às grandes organizações capitalistas, ou lojas
especializadas em artigos de luxo e vendedores ambulantes com sucedâneos mais
baratos dos artigos vendidos nas lojas.
Mais especificamente, cabe salientar que o circuito inferior é composto pelo comércio de
pequena dimensão, não só o comércio e serviços, mas também pela pequena produção
manufatureira. Seus componentes, habitualmente trabalham com um volume de capital muito
pequeno, o que os torna altamente dependentes do dinheiro líquido. Assim, enquanto no
24
circuito inferior o trabalho é o fator mais destacado, no circuito superior é o capital que
prevalece. Vejamos, a seguir, uma melhor caraterização dos circuitos.
2.1.1 O CIRCUITO SUPERIOR
De acordo com Santos (1979), o circuito superior envolve principalmente as atividades
decorrentes do progresso tecnológico e todos os setores e pessoas que se beneficiam dele. Por
isso, esse circuito também é denominado de circuito moderno. Nele estão incluídos os bancos,
o comércio, a indústria de exportação e indústria urbana moderna.
Santos (1979) enfatiza que três atividades o caracterizam: as atividades puras, as impuras e as
mistas. O autor denomina de atividades puras o comércio e os serviços modernos da indústria
e ao mesmo tempo atividades específicas das cidades e do circuito superior. Já as atividades
impuras envolvem a indústria e o comércio de exportação instalados na cidade, mas cujo
interesse é ser negociado fora do centro urbano. Por fim, as atividades mistas, como o próprio
nome já indica, compreendem a duplicidade, mantendo dupla ligação com os circuitos, como
os atacadistas e os transportadores, atendem tanto ao comércio e indústria não moderna, como
ao comércio moderno e à indústria moderna.
De acordo com Santos (1979), os atacadistas estão no topo de uma cadeia decrescente de
intermediários, que chega frequentemente no nível do feirante ou do simples vendedor
ambulante. Dessa forma, o atacadista contribui para que os produtos do circuito superior
cheguem aos níveis inferiores das atividades comerciais e consequentemente dos
consumidores.
O comércio no circuito superior caracteriza-se, desse modo, por extrapolar as fronteiras
locais, ele apresenta-se em um circuito extrarregional. Os shoppings centers, as grandes
cadeias de lojas especializadas, os supermercados, os hipermercados são exemplos de
comércio moderno do circuito superior, abrangendo número significativo de consumidores.
Esses consumidores, comumente recorrem a dispositivos bancários para efetuar suas compras,
sendo tal modalidade de negócios amplamente suportada, a jusante e a montante, por formas
institucionalizadas de crédito e financiamento.
25
Assim sendo, o sistema financeiro suporta as atividades comerciais e, geralmente, está ligado
a instituições sediadas nos grandes centros urbanos ou em metrópoles globais. Desse modo,
suas transações são comandadas por um aparelho centrado eminentemente no lucro e na
acumulação:
Ora, um crescimento harmonioso do circuito superior só pode ocorrer a partir do
momento em que sua política for elaborada no âmbito da cidade e do país. É a partir
do momento em que eles se articulam que os laços de dependência locais se criam e
tendem a se fortalecer (Santos, 1979, p. 123).
De acordo com Santos (1979), outra característica do circuito superior é seu caráter imitativo.
Além disso, o Circuito Superior possui um conjunto de características que facilitam a
compreensão de seu funcionamento:
1. No circuito superior, a quantidade de mercadoria produzida e comercializada é enorme.
Essas quantidades reduzem, somente no caso de lojas especializadas, onde os preços são
elevados, devido à qualidade do produto, à moda e ao tipo de clientela;
2. Nesse circuito, o emprego é resultado da combinação das seguintes variáveis: capital e
tecnologia, ou seja, os capitais são volumosos em relação com a tecnologia utilizada,
empregam poucas pessoas quando comparados com o valor e o volume da produção, e
existe uma tendência da diminuição do emprego na indústria;
3. Em tal circuito, enquanto na indústria há uma tendência da diminuição do emprego, nos
serviços existe um aumento significativo dos empregos, tanto empregos proporcionados
pelo governo (serviços públicos), como também serviços relacionados diretamente à
atividade econômica (serviços privados). Esse último localiza-se em sua maioria nas
grandes cidades e nas regiões mais desenvolvidas do país. A relação de trabalho
predominante no Circuito Superior é o assalariado;
4. No circuito superior, os preços geralmente são fixos e planejados com uma margem de
lucro contabilizável por um prazo maior, mas nunca estão abaixo do preço de mercado;
5. Já os lucros no circuito superior contribuem para acumular capitais que são necessários
para dar continuidade às atividades e também para acompanhar as inovações
26
tecnológicas. São reduzidos por unidade produzida e elevados no que corresponde ao
volume da produção;
6. A publicidade é um dos meios utilizados pelo circuito superior para influenciar os gostos
dos consumidores e mudar o perfil da demanda;
7. Por sua vez, os custos fixos das atividades produtivas do circuito superior são importantes
e aumentam de acordo com o porte, o lugar e o ramo de fabricação;
8. O consumo, por seu turno, é seletivo porque está diretamente relacionado ao poder de
compra das pessoas;
9. Em nível governamental, as atividades do circuito superior recebem apoio total do
Estado, através de financiamentos, da construção de infraestruturas caras, legislações
fiscais discriminatórias, subsídios à produção, dentre outras. Percebe-se, pela análise do
autor, que as atividades do Circuito Superior controlam a economia da cidade ou do país
onde está inserido, seja diretamente, seja por intermédio do Estado, cria as oportunidades
ao invés de se adaptar a elas.
2.1.2 O CIRCUITO INFERIOR
Em se tratando de circuito inferior, Santos (1979, p. 39) salienta parecer:
[...] difícil chamá-lo tradicional, não somente porque é um produto da modernização,
mas também porque está em processo de transformação e adaptação permanente e
ainda porque, em todas as cidades, uma parte de seu abastecimento vem, direta ou
indiretamente, dos setores ditos modernos da economia.
De acordo com o autor, o que existe é uma dependência do circuito inferior em relação ao
circuito superior. Assim, o setor informal e as formas de atividades que a ele se ligam, como o
trabalho informal, o comércio informal, são uma consequência dessa posição de dependência
do circuito inferior. Tal conexão não é somente em relação ao circuito superior. O circuito
inferior é também dependente de todo um sistema econômico, por isso muito difícil de ser
geograficamente delimitado. Por exemplo, enquanto alguns habitantes das favelas não se
enquadram no perfil do circuito inferior, outros que não moram nesse local estão ligados a ele
(Santos, 1979).
27
O circuito inferior da economia apresenta outros aspectos bem diferentes da realidade do
circuito superior:
1. No circuito inferior, as atividades trabalham com pequenas quantidades de mercadorias;
2. Nele, os preços são passíveis de mudanças; existe, nesse circuito, o que popularmente é
chamado de pechinchar, com o objetivo de reduzir os preços das mercadorias;
3. Já os lucros não têm a função de acumular capitais, trata-se na verdade de sobreviver e
assegurar a manutenção da família e, se possível, tomar parte de certas formas de
consumo particulares à vida moderna;
4. Além disso, o circuito inferior não dispõe de recursos para investir em publicidade, isso
porque a margem de lucro vai diretamente para a subsistência do trabalhador e de sua
respectiva família; a publicidade restringe-se apenas ao contato direto com os
consumidores;
5. Seus custos fixos são irrisórios, pois o que se destaca nesse circuito é trabalho intensivo;
6. Já o apoio governamental raramente se apresenta significativo. Ao contrário,
frequentemente são mesmo perseguidas, como no caso dos vendedores ambulantes em
numerosas cidades;
7. Por fim, o consumo no circuito inferior não é seletivo, ele resulta da demanda.
O Circuito Inferior constitui, portanto, mecanismo de integração permanente, que interessa
em primeiro lugar a toda uma massa de excluídos e migrantes insolventes e não qualificados.
Fornece uma quantidade de empregos máxima para uma imobilização mínima de capital.
Responde, ao mesmo tempo, às necessidades do consumo e à situação geral do emprego e da
renda (Santos, 1979, p. 260).
Tal distinção apresentada por Santos (1979) revelar-se-à significativa à compreensão das
espacialidades alvo da pesquisa que subsidia os resultados deste estudo, apresentando-se
28
significativa notadamente quando articulada com o arcabouço teórico em Bourdieu, sobre o
qual se discorrerá no próximo tópico.
2.2 A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU
Neste tópico serão aportados, como forma de evidenciar o ser humano em seus
comportamentos e ações, sendo esse, produto do meio social, práticas e julgamentos. A partir
da exposição sobre suas fontes epistemológicas de habitus (constitui nossa maneira de pensar,
agir, perceber, julgar, valorizar o mundo), o conceito de campo (em que os agentes atuam
conforme suas posições relativas no campo de forças, conservando ou transformando a sua
estrutura (Bourdieu, 1999, p. 50) e noções de capitais econômico, social, simbólico e cultural.
2.2.1 A TEORIA DA AÇÃO PRÁTICA DE BOURDIEU
Os estudos desenvolvidos por Bourdieu têm-se mostrado, ao longo do tempo, uma importante
vertente na área das ciências sociais, influenciando pesquisas nos campos da Sociologia,
Antropologia, História e dos estudos organizacionais e urbanos em diversos países. Isto, na
medida em que o autor dá uma nova roupagem às relações entre os agentes sociais e a
sociedade, estabelecendo uma mediação focada no produto das relações entre eles, que se
descontroem e se reconstroem de forma dinâmica, ativa e mútua.
Suas contribuições se mostram inovadores também ao investigar objetos empíricos pouco
pesquisados, como sociedades tribais, sistemas de ensino, processos de reprodução e os
integram em diferentes áreas de conhecimento, buscando alcançar uma ciência social
transdisciplinar. Por meio de seu arcabouço teórico, o autor também visa superar dicotomias
tradicionais no campo científico, como macro e microssociologia, perspectivas “objetivistas”
e “subjetivistas”, ao incorporar constructos práticos, operatórios, como habitus, reprodução,
poder simbólico, capital, distinção e campo (Bourdieu, 2010).
De modo geral, um dos principais conceitos propostos por Bourdieu (2004) é a noção de
habitus, compreendida como sistema de disposições adquirido pela experiência e nos
processos de socialização, que variam segundo o lugar e o momento. Trata-se, desse modo, de
29
formas de agir, fazer, perceber, sentir e pensar interiorizadas como resultado das condições de
sua existência:
Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de existência
produzem habitus, sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas
estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como
princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser
objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor intenção consciente de fins e o
domínio expresso das operações necessárias para alcançá-los (Bourdieu, 2009, p. 87).
Junto do habitus, o conceito de campo ocupa lugar de destaque na Teoria da Ação Prática.
Como um espaço multidimensional, o campo não deve ser tratado unicamente pela dimensão
econômica, devendo considerar também as lutas simbólicas que ocorrem em seu interior
(Bourdieu, 2010).
Nesse sentido, para Bourdieu, a sociedade deve ser entendida como um conjunto de campos
sociais atravessados por lutas entre grupamentos. Cada campo é, desse modo, marcado por
agentes sociais providos de mesmos habitus, sendo a relação entre habitus e campo uma
relação de condicionamento: o campo estrutura o habitus. Bourdieu (2010) busca sintetizar a
noção de campo como:
[…] um espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode
ser definida em função de um sistema multidimensional de coordenadas cujos
valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes
distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o volume global do capital
que possuem e, na segunda dimensão, segundo a composição do seu capital – quer
dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das duas posses
(BOURDIEU, 2010, p. 135).
Ou seja, cada elemento do campo é um agente que comunga de interesses e capitais similares.
Logo, os campos se organizam hierarquicamente a partir de capitais, símbolos de poder e de
dominação. Em outros termos, as diferentes formas de capital permitem estruturar o espaço
social. Desse modo, para compreender como se organiza tal espaço, torna-se relevante uma
análise dos diferentes tipos de capitais mobilizados.
Uma vez que a luta no interior de um dado campo é motivada pelo desejo de acúmulo de
capital simbólico, o campo, além de ser um espaço social de conflitos e negociações,
incorpora uma dimensão simbólica (Bourdieu, 2010). Portanto, ele é organizado segundo a
lógica da diferença, isto é, de um traço distintivo ou certa qualidade que só existe em relação a
30
outras propriedades. Assim sendo, os indivíduos de um dado campo buscam se distinguir e
preservar uma identidade social própria, seja por meio do nome da família, da profissão, da
posse de bens, do cargo que ocupam, das instituições a que se vinculam, entre outros.
A sociologia de Bourdieu também contribui na superação do antagonismo entre abordagens
“objetivistas” e “subjetivistas”, criando uma teoria mais integrada e, segundo o autor, baseada
no “conhecimento praxiológico” (Bourdieu, 2009), notoriamente focada na práxis e no plano
da realidade, se afastando do subjetivismo e, com foco, como dito anteriormente, nas relações
estabelecidas entre o sujeito e o ambiente, sendo esse sujeito produto e produtor de sua
história. Por fim, o autor sintetiza dessa forma suas premissas epistemológicas:
Se eu tivesse que caracterizar o meu trabalho em duas palavras, (...) eu falaria de
constructivist structuralism ou de structuralism constructivist. Por estruturalista ou
estruturalismo quer-se dizer que existem no próprio mundo social e não apenas nos
sistemas simbólicos – linguagem, mito – estruturas objetivas independentes da
consciência e da vontade dos agentes, as quais são capazes de orientar ou coagir suas
práticas ou representações. Já por construtivismo, reconhece-se que há, de um lado,
uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e ação que são
constitutivos do que chamo de habitus e, de outro, estruturas sociais, em particular,
campos e grupos (Bourdieu, 1994, p. 149).
A busca da objetividade por Bourdieu, de forma articulada com a subjetividade para superar a
dicotomia dita acima, se dá pelas noções de habitus e campo social. De forma geral, Bourdieu
traz à tona o entendimento de que os atores sociais, dotados de habitus similares ou distintos,
e de capitais distribuídos de modo desigual, se inter-relacionam no interior de um espaço
social, em que se desenrolam conflitos e alianças, na busca da manutenção ou transformação
do estado vigente de poder.
Tal consideração coloca em evidência, portanto, importantes conceitos propostos pelo autor:
habitus, campo e capital (Bourdieu 2009; 2010). Bourdieu (1996, 2010) define habitus como
um sistema de disposições e princípios duráveis, que permanecem no tempo em determinado
ambiente e regram os comportamentos nesses, funcionando, portanto, como estruturas
estruturantes, isto é, como esquemas geradores e organizadores de ações coletivas e
individuais. O habitus se define, assim, como um conjunto de princípios de visão de mundo,
gostos e preferências que orientam a escolha dos indivíduos e ações dos indivíduos em
determinado campo. Atores sociais dotados de habitus distintos tendem, em decorrência, a se
comportar de forma diferente.
31
Sob tal entendimento, o habitus seria então incorporado por indivíduos mediante a
interiorização das estruturas sociais reproduzidas em determinado ambiente que facilitariam a
ambientação nesse. Ao se socializarem, é provável que os habitus sejam incorporados de
forma quase que inconsciente, regidos pelas leis de funcionamento de seu grupo e se
comportem de acordo com essas disposições, homogeneizando comportamentos de pessoas
dentro de um mesmo grupo social. Já o campo, compreende um espaço multidimensional,
dinâmico, composto por posições distintas, lutas econômicas, simbólicas e culturais, e
determinadas pelo volume de capitais detidos por cada um de seus agentes e forças (Bourdieu,
1994).
De fato, por intermédio das condições econômicas e sociais que elas pressupõem, as
diferentes maneiras, mais ou menos separadas ou distantes, de entrar em relação com as
realidades e as ficções, de acreditar nas ficções ou nas realidades que elas simulam, estão
estritamente associadas às diferentes posições possíveis no espaço social e, por conseguinte,
estreitamente inseridas nos sistemas de disposições (habitus) características das diferentes
classes e frações de classe. O gosto classifica aquele que procede à classificação: os sujeitos
sociais distinguem-se pelas distinções que eles operam entre o belo e o feio, o distinto e o
vulgar; por seu intermédio, exprime-se ou traduz-se a posição desses sujeitos nas
classificações objetivas.
E, desse modo, a análise estatística mostra, por exemplo, que oposições de estrutura
semelhante às que se observam em matéria de consumo cultural encontram-se, também, em
matéria de consumo alimentar: a antítese entre a quantidade e a qualidade, a grande comilança
e os quitutes, a substância e a forma ou as formas, encobre a posição, associada a
distanciamentos desiguais à necessidade, entre o gosto de necessidade – que, por sua vez,
encaminha para os alimentos, a um só tempo, mais nutritivos e mais econômicos – e o gosto
de liberdade – ou de luxo – que, por oposição à comezaina popular, tende a deslocar a ênfase
da matéria para a maneira (de apresentar, de servir, de comer, etc.) por um expediente de
estilização que exige à forma e às formas que operem uma denegação da função (Bourdieu,
2008).
Ainda de acordo com Bourdieu (2008), a disposição estética é a dimensão de uma relação
distante e segura com o mundo e com os outros que pressupõe a segurança e a distância
objetivas; a manifestação do sistema de disposições que produzem os condicionamentos
32
sociais associados a uma classe particular, de condições de existência quando eles assumem a
forma paradoxal da maior liberdade concebível, em determinado momento, em relação às
restrições da necessidade econômica. No entanto, ela é, também, a expressão distintiva de
uma posição privilegiada no espaço social, cujo valor distintivo determina-se objetivamente
na relação com expressões engendradas a partir de condições diferentes.
Como toda a espécie de gosto, ela une e separa: sendo o produto dos condicionamentos
associados a uma classe particular de condições de existência, ela une todos aqueles que são o
produto de condições semelhantes, mas distinguindo-os de todos os outros e a partir daquilo
que tem de mais essencial, já que o gosto é o princípio de tudo o que se tem, pessoas e coisas,
e de tudo o que se é para os outros, daquilo que serve de base para se classificar a si mesmo e
pelo qual se é classificado.
Segundo Bourdieu (1990) é também nesse ambiente em que se desenrolam lutas e alianças
entre tais agentes em busca da manutenção ou transformação do estado vigente de forças.
Essas lutas e alianças se dariam uma vez que a posse de capital tende a ser desigual entre
atores sociais dentro de um mesmo campo, favorecendo a ação em busca do maior domínio de
capitais possível, gerando um conflito permanente em que os grupos dominantes buscam
manter seus privilégios e os demais tentam alterar a distribuição de capital vigente (Bourdieu,
2010).
Cada campo, portanto, tem sua história, seu próprio objeto (artístico, educacional, político) e
mecanismos específicos. Esse campo ainda sofreria influência de campos distintos, que
afetariam sua dinâmica. Ainda que cada campo apresente atributos peculiares, é possível
destacar algumas características universais: 1. Inserção num campo exige a internalização de
suas leis de funcionamento; 2. A estrutura do campo é reflexo das diferentes posições
ocupadas pelos agentes e do volume de capital detidos por eles e; 3. A sua natureza dinâmica
(Bourdieu, 2010).
Ademais, o entendimento do conceito de capital é fundamental para a compreensão da obra de
Bourdieu. Este, é definido como a principal forma de poder no interior de um campo sendo,
simultaneamente, instrumento e objeto de disputa. Bourdieu pressupõe a existência de três
tipos de capital (econômico, social, cultural e simbólico), superando, segundo Sant´Anna et
33
al. (2012, p. 385) “abordagens anteriores que reduzem o mundo social à perspectiva
econômica”, em uma clara referência à teoria marxista.
Além disso, Bourdieu (2010) propõe que as formas de capital podem ser conversíveis umas
nas outras. O capital cultural, por exemplo, pode ser reconhecido socialmente em determinado
campo e, com isso, ser transformado em capital simbólico e vice-versa. Em linhas gerais, os
capitais podem-se ser caracterizados, conforme a seguir:
1. Capital econômico: recursos associados aos fatores de produção (terra) e aos ativos
econômicos, como os bens materiais;
2. Capital social: envolve a manutenção das relações sociais, baseada na obtenção de
benefícios obtidos por determinado sujeito ou grupo ao estabelecer tais relações;
3. Capital cultural: conjunto de conhecimentos e qualificações intelectuais transmitidas pela
família e pelas instituições escolares ao longo da vida do sujeito. Esse capital pode
adquirir três formas: o estado incorporado, como uma característica durável do corpo (a
forma de falar, hábitos familiares); o estado objetivo, como a posse de bens culturais
(obras de arte); o estado institucionalizado, como títulos acadêmicos;
4. Capital simbólico: relacionado à acumulação de prestígio e reconhecimento social por um
indivíduo que preserva sob seu domínio os recursos considerados essenciais num
determinado campo.
Segundo o autor, os bens culturais possuem, também, uma economia, cuja lógica específica
tem de ser bem identificada para escapar ao economicismo. Neste sentido, deve-se trabalhar,
antes de tudo, para estabelecer as condições em que são produzidos os consumidores desses
bens e seu gosto; e, ao mesmo tempo, para descrever, por um lado, as diferentes maneiras de
apropriação de alguns desses bens considerados, em determinado momento, obras de arte e,
por outro, as condições sociais da constituição do modo de apropriação, reputado como
legítimo. (Bourdieu, 2008).
Ainda segundo Bourdieu (2008), as lutas, cujo pretexto consiste em tudo o que, no mundo
social, se refere à crença, ao crédito e ao descrédito, à percepção e à apreciação, ao
34
conhecimento e ao reconhecimento – nome, reputação, prestígio, honra, glória e autoridade -,
em tudo o que torna o poder simbólico em poder reconhecido, dizem respeito forçosamente
aos detentores “distintos” e aos pretendentes “pretensiosos”. As lutas simbólicas sobre o ser e
o parecer, sobre as manifestações simbólicas que o sentido das conveniências e
inconveniências, tão estrito quanto as antigas leis suntuárias, atribui às diferentes condições –
“Quem ele pensa que é? ” – Ao estabelecer a separação, por exemplo, entre o verdadeiro
“chique” (feito de facilidade, naturalidade e desenvoltura) e a simples “chiqué”, desvalorizada
pela suspeita de premeditação e afetação, portanto, de usurpação, tem como fundamento e
pretexto a parcela de liberdade em relação à condição fornecida pela lógica própria das
manifestações simbólicas.
As diferentes espécies de capital – cuja posse define o pertencimento à classe e cuja
distribuição determina a posição nas relações de força constitutivas do campo do poder e, por
conseguinte, das estratégias suscetíveis de serem adotadas nessas lutas (em outras épocas,
“nascimento”, “fortuna” e “talentos”; atualmente, capital econômico e capital escolar) – são,
ao mesmo tempo, instrumentos de poder e pretextos de luta pelo poder, desigualmente
poderosos de fato e desigualmente reconhecidos como princípios de autoridade ou sinais de
distinção da hierarquia entre as frações ou, o que dá no mesmo, a definição dos princípios de
hierarquização legítimos, ou seja, dos instrumentos e dos pretextos de luta legítimos é, em si
mesma, um pretexto de lutas entre as frações. Bourdieu (2008). Essas diferenças podem ser
sintetizadas conforme apresentadas no Quadro 2.
35
Quadro 2 - Capitais, conforme definições de Bourdieu (2008).
Fonte: Sant´Anna et al., 2016, p. 79.
Por fim, as diferenças existentes no interior de um campo entre os diversos capitais geram a
divisão do espaço em classes sociais ou posições de classe, as quais estão associadas a um
habitus específico. Ao optarem por um estilo de vida, os indivíduos acabam se auto
classificando como membros de uma dada classe social ou posição de classe (Bourdieu,
2010).
Dessa forma, seriam produzidas as distinções entre os indivíduos presentes no campo.
Bourdieu (2008), ao relatar a forma como a educação é passada aos indivíduos de
determinada sociedade, fala de uma “sociologia interpretativa”, na qual o desenvolvimento
dos gostos de determinado sujeito passa pelo entendimento de sua trajetória sócio-histórica.
Sendo assim, as instituições responsáveis pela educação, como a família e a escola,
participariam de um jogo de poder, tentando incorporar, em seus educandos, valores culturais
Capitais Escopo Exemplos
Econômico
Recursos associados aos fatores de produção (terra, fábrica e
trabalho) e aos ativos econômicos, como a renda e os bens
materiais. Pode ser acumulado e reproduzido por meio de
estratégias de investimento econômico e de outros mecanismos
associados à obtenção ou à manutenção de relações sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos
economicamente úteis.
Terra, trabalho,
dinheiro, patrimônio,
bens materiais
Cultural
Corresponde ao conjunto de conhecimentos, habilidades e
qualificações intelectuais transmitidas pela família e pelas
instituições escolares ao longo da vida do indivíduo. O capital
cultural pode adquirir três formas: 1. O estado incorporado,
como uma característica durável do corpo (a forma de falar); 2.
O estado objetivo, como a posse de bens culturais; 3. O estado
institucionalizado, decretado por instituições de ensino.
Valores familiares,
obras de arte, títulos
acadêmicos e os títulos
nobiliários no contexto
de sociedades
aristocráticas.
Social
O capital social corresponde à agregação de recursos atuais ou
potenciais que têm estreita conexão com a rede de relações
institucionalizadas de reconhecimento e de Inter
reconhecimento entre indivíduos e grupos. Envolve a manutenção das relações sociais individuais e coletivas,
acumulando-se pelo processo de socialização.
Rede de
relacionamentos e os
recursos que podem ser
acessados a partir dessas conexões.
Simbólico
Está relacionado à acumulação de prestígio, honra e de
reconhecimento social por um indivíduo/grupo que preserva
sob seu domínio os recursos considerados essenciais num
determinado campo. A posse do capital simbólico não implica,
necessariamente, domínio de uma propriedade “objetiva”, e
sim de um recurso simbólico que foi legitimado pelos atores
sociais num campo específico, podendo não ser relevante em
outro espaço social. Deter e manter a posse sobre esses
recursos simbólicos requer muito investimento, tempo e
disposição pessoal para reafirmar as visões de mundo e sistemas classificatórios vigentes.
Síntese dos capitais
econômicos e culturais
que foram reconhecidos
como legítimos em
determinado campo
social.
36
e simbólicos tidos por elas como importantes, de forma a desenvolver nessas pessoas habitus
específicos.
Compreende-se que, por intermédio do habitus, que define a relação com a posição
sincronicamente ocupada e, as tomadas de posição práticas ou explícitas sobre o mundo
social, a distribuição das opiniões políticas entre a direita e a esquerda corresponde
intimamente à distribuição das classes e das frações de classe no espaço definido, em sua
primeira dimensão, pelo volume do capital global e, na segunda, pela estrutura desse capital: a
propensão para votar à direita cresce à medida que aumenta o volume global econômico na
estrutura do capital, ao passo que a propensão para votar à esquerda aumenta, nos dois casos,
em sentido inverso.
A homologia entre as oposições que se estabelecem sob essas duas relações, a oposição
secundária entre as frações dominantes e as frações dominadas da classe dominante, tende a
facilitar os encontros e as alianças entre os ocupantes de posições homólogas em espaços
diferentes: a mais visível dessas coincidências paradoxais estabelece-se entre as frações
dominadas da classe dominante – intelectuais, artistas ou professores – e as classes dominadas
que têm em comum o fato de exprimir sua relação (objetivamente bastante diferente) com os
dominantes (comuns) em uma propensão particular para votar à esquerda.
De acordo com Bourdieu (2008), a adaptação a uma posição dominada implica uma forma de
aceitação da dominação. Em outros termos, os efeitos da mobilização política têm
dificuldades de contrabalançar completamente as consequências da dependência inevitável da
autoestima em relação aos sinais do valor social, tais como o estatuto profissional e a renda,
antecipadamente legitimados pelas sanções do mercado escolar. Seria fácil enumerar os traços
do estilo de vida das classes dominadas que, por meio de sentimentos da incompetência,
fracasso ou indignidade cultural, contêm uma forma de reconhecimento dos valores
dominantes.
Frente a isso, um conjunto recente de estudos junto a processos contemporâneos de
reconversão de funções econômicas de cidades (Sant’Anna et al., 2011; Oliveira et al., 2012;
Sant’Anna et al., 2015), bem como de requalificação de espaços urbanos (Sant’Anna et al.,
2016; Oliveira et al., 2016) tem procurado investigar, a partir da sociologia de Bourdieu, de
que formas distintos agentes e grupamentos socioeconômicos, se interagem buscando o
37
domínio de seu campo de atuação, por meio da mobilização de diferentes capitais em
contextos de interação entre circuitos superior e inferior da economia. Desses estudos, revela-
se significativa a construção de tipologia de empreendedores, desenvolvida a partir dos
capitais bourdeusianos (Quadro 3).
Quadro 3 - Tipologia de Empreendedores segundo habitus e capitais mobilizados.
CATEGORIA SUB-CATEGORIA CAPITAIS DISTINTIVOS
Empreendedores
Tradicionais
Empreendedores
Remanescentes
Simplicidade, sabedoria, conhecimento tácito,
naturalidade, emoção, recato, família, conservadorismo.
Empreendedores
Pioneiros
Erudição, cultura, requinte, sofisticação, nobreza,
refinamento, bom gosto, estilo, beleza, distinção,
elaboração, respeito, justiça, bravura, coragem, dignidade,
postura, atitude, elegância, charme, etiqueta, classe,
discrição, essência, prestígio, reputação.
Empreendedores Modernos
Empreendedores
Negociais
Curto prazo, lucro imediato, marketing, agressividade,
competitividade, resultado financeiro, crescimento,
expansão, diversificação, negócios.
Empreendedores
Profissionais
Qualificação, profissionalismo, gestão, cientificidade, qualidade, certificação, competência, modernidade,
responsabilidade social, preservação ambiental, ecologia,
cidadania empresarial, desenvolvimento sustentável,
politicamente correto.
Empreendedores
Pós-modernos
Empreendedores
Camaleões
Improvisação, imitação, informalidade, cópia, “jeitinho
brasileiro”, senso de oportunidade, aventura, risco,
flexibilidade, adaptabilidade.
Empreendedores
Vanguardistas
Arte, criação, novo, originalidade, subjetividade,
sensibilidade, independência, vanguarda, intelectualidade,
autonomia, liberdade, polêmica, visão crítica,
transgressão, desconstrução, provocação, contestação,
sensibilidade, desprendimento.
Fonte: Sant’Anna et al., 2011, p. 397.
Além das contribuições desses autores, cabe salientar a pertinência de maior aproximação
com a noção de Effectuation. Originada da tese de doutorado de Read S. Sarasvathy (2001a),
a ideia de Effectuation adota pressupostos diferentes daqueles utilizados pela lógica causal,
predominantes nos estudos sobre o empreendedorismo, tendo, por isso, ganhado relevância e
abrangência desde a última década (Fisher, 2012).
2.3 A TEORIA DA EFETUAÇÃO
A lógica causal e a lógica effectual são duas abordagens alternativas e não excludentes
utilizadas por empreendedores no processo de criação e desenvolvimento de novos negócios
(Sarasvathy, 2001a, 2008). É importante que se reconheça que os indivíduos utilizam tanto
38
uma quanto outra e as duas podem acontecer simultaneamente, de maneira sobreposta ou
intercalada.
Como alternativa ao modelo de racionalidade causal, o modelo do Effectuation, apresenta um
processo de racionalidade que se desenvolve a partir dos meios disponíveis, trazendo
resultados emergentes e delineando objetivos que se tornam evidentes apenas no desenrolar
da ação no tempo (Sarasvathy, 2001).
Dessa forma, enquanto o raciocínio causal assume objetivos pré-determinados, enfatiza as
tarefas a partir de objetivos pré-determinados e utiliza estimativas para explorar e desenvolver
mercados latentes e já existentes; o effectuation parte de uma lógica reversa (Sarasvathy,
2001). A partir destes pressupostos, o modelo de decisão na lógica do Effectuation se define
por quatro princípios:
1. Perdas toleráveis ao invés de retornos esperados: enquanto a lógica causal concentra-se
em maximizar os retornos potenciais de uma decisão, o effectuation parte de um valor de
perda tolerável e centra-se na experimentação das estratégias possíveis dentro do limite
imposto pelos meios;
2. Alianças estratégicas em lugar de análise competitiva: modelos causais de análise do
mercado enfatizam a necessidade de neutralizar forças competitivas (Porter, 1980).
Contudo, a lógica do effectuation prioriza a formação alianças estratégicas e
compromissos com stakeholders (partes interessadas), como forma de reduzir ou eliminar
a incerteza e para criar barreiras de entrada;
3. Exploração de contingências ao invés de exploração de conhecimento: o modelo causal
pode ser indicado na exploração do conhecimento, contudo, na incerteza que caracteriza
o effectuation, a capacidade de explorar contingências que aparecem ao longo do tempo é
mais valiosa;
4. Controlar do futuro imprevisível em lugar de prever o futuro incerto: processos causais se
concentram nos aspectos previsíveis de um futuro incerto, na lógica de que na medida em
que se pode prever o futuro, seria possível controlá-lo. No effectuation o foco concentra-
39
se nos aspectos controláveis de um futuro imprevisível, na lógica de que na medida em
que se pode controlar o futuro, não é necessário prevê-lo (Sarasvathy, 2001).
Nesse sentido, o Quadro 4 apresenta significativa contribuição para uma síntese da aplicação
do pensamento Effectual de Sarasvathy baseado em cinco princípios. Eles permitem que o
empreendedor comece a visualizar os recursos que poderá perder, suas metas, listar o que já
possui, possibilidades e parceiros.
Quadro 4 - Princípios do pensamento Effectual.
Ordem Princípio Premissa
1
Comece com o que você
tem
Se você já tentou empreender, pode ter parado porque não
tinha dinheiro suficiente, faltava conhecimento técnico ou
clientes. É assim que um não empreendedor pensa. Se
esperar o momento ideal, correrá o risco de manter suas
ideias presas no papel. Empreender pede que você execute logo seus projetos, a partir do que já tem. Lembre-se:
comece listando quem você é, o que você sabe e quem
você conhece.
2
Defina as perdas aceitáveis
Estabeleça seus limites [até quanto e até quando? ]. Pense
e enumere quais perdas você conseguiria suportar. De que
você estaria disposto a abrir mão para empreender?
3
Explore as possibilidades
Imagine as inúmeras possibilidades que seu negócio
poderia ter, seja para seus clientes ou para você. Listar
possibilidades permite que você sempre tenha “cartas na
manga” caso algo não funcione.
4
Cresça por meio de
parcerias
Ninguém cresce sozinho. Pense nas pessoas que você
conhece e que estariam dispostas a colaborar com você.
Ter bons parceiros é fundamental para empreender.
5
O futuro é imprevisível
Um dos achados mais incríveis de Sarasvathy é como uma
pessoa Causal e uma Effectual veem o futuro. O Causal pensa: como sou eu quem decide o caminho para o futuro,
eu posso prevê-lo. O Effectual pensa: como sou eu quem
constrói o futuro, então, eu não preciso prevê-lo. Achar
que é possível controlar o futuro é ilusão. Estabeleça metas
de curto e médio prazo para dar pequenos passos na
construção de um futuro de sucesso.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dentre os meios disponíveis para o empreendedor, três categorias se ressaltam: a identidade
(“quem é o empreendedor”), o conhecimento (“o que ele sabe”) e a rede de relacionamentos
(“quem ele conhece”) (Sarasvathy, 2001).
A lógica causal é consistente com conceitos econômicos neoclássicos (Kirzner, 1979),
estratégia deliberada (Ansoff, 1965; Mintzberg, 1978), identificação de oportunidades por
meio de busca sistemática (Fiet & Patel, 2006) e desenvolvimento das oportunidades em
função da previsão de retorno sobre investimentos (Drucker, 1998).
40
De posse da lógica causal, o empreendedor define inicialmente os objetivos que pretende
alcançar e identifica oportunidades advindas de fissuras mercadológicas de mercado que lhe
permitam alcançar tais objetivos. Diante disso, decorre que o processo se foca na seleção dos
meios necessários para alcançá-los. A lógica effectual, por sua vez, é consistente com
conceitos da economia comportamental (Simon, 1959), da estratégia emergente (Mintzberg,
1978), da criação de oportunidades por meio da ação humana (Weick, 1979) e do
desenvolvimento das oportunidades em função dos acontecimentos imprevisíveis (March,
1978).
Utilizando a lógica effectual, o empreendedor inicia o processo de criação do negócio com
uma ideia genérica do que pretende fazer e utiliza os recursos existentes para interagir com
potenciais stakeholders e agir sobre elementos que possa influenciar (Figura 1).
Figura 1 - Estudos Teóricos Referenciais sobre Educação Empreendedora SEBRAE – Modelo Effectuation
Fonte: Adaptado de Fischer, 2012.
Em suma, de acordo com Sarasvathy (2001a, 2008), empreendedores que atuam sob a
perspectiva effectual: 1. identificam oportunidades a partir de recursos existentes, 2. tomam
decisões de investimento com base no que estão dispostos a perder, 3. aproveitam as
contingências, 4. estabelecem relações estratégicas com stakeholders.
41
Em estudo realizado para validação do construto, Chandler et al. (2011) propõem que
effectuation é formado por quatro dimensões: 1. experimentação, ou seja, a utilização de
diferentes abordagens de negócio para definição do conceito; 2. perda aceitável, isto é,
estabelecimento do valor investido com base no montante que o empreendedor está disposto a
perder; 3. flexibilidade, ou seja, adaptação da ideia inicial às contingências, circunstâncias e
conhecimento adquirido; 4. pré-acordos, isto é, estabelecimento de acordos estratégicos com
stakeholders.
Já Fisher (2012), ao analisar como a teoria Effectuation se traduz em comportamentos
individuais, define comportamentos associados a cada uma das dimensões de Chandler et al.
(2011), bem como para cada um dos quatro comportamentos, tipificando ações que
caracterizam o conteúdo de tais comportamentos.
Uma vez explicitadas as teorias que preliminarmente auxiliarão num melhor entendimento
dos resultados, achados e relatos da pesquisa, a seguir, apresentar-se-á a metodologia
utilizada.
42
Capítulo 3
METODOLOGIA
Neste capítulo são descritas as características básicas, os sujeitos de pesquisa investigados,
bem como as estratégias, técnicas e instrumentos adotados para a coleta e tratamento de
dados, incluindo o conjunto dos procedimentos adotados.
3.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA PESQUISA
A pesquisa que subsidiou os resultados deste estudo pode ser caracterizada como de natureza
qualitativa, recomendada para entender, descrever e explicar fenômenos em maior grau de
aprofundamento que uma abordagem unicamente quantitativa (Neves, 1996). Pode também
ser caracterizada como de caráter descritivo, tendo sido desenvolvida por meio do método de
estudos múltiplos de casos (Yin, 2015). Segundo Triviños (1987), o estudo de caso pode ser
compreendido como uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa
profundamente. Ainda de acordo com esse autor, pode-se identificar três tipos de estudos de
caso: estudo de caso histórico-organizacional; estudo de caso observacional e história de vida.
Para fins deste estudo, optou-se pelo estudo de caso observacional, envolvendo a realização
de entrevistas semiestruturadas e em profundidade junto a empreendedores das unidades de
investigação alvo do estudo.
Cabe salientar que o roteiro de entrevista foi planejado e organizado a fim de contemplar as
categorias de análise constante do estudo, tendo por base as noções de Campo, Habitus e
Capital – Social, Econômico, Cultural e Simbólico – conforme preconizadas pela Teoria da
Ação Prática de Boudieu (2008).
Para Triviños (1987, p. 146), a entrevista semiestruturada tem como característica fomentar
questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da
investigação levada a cabo. Questionamentos que permitem o delineamento de novas
questões, emergentes das respostas obtidas. O foco principal é, então, colocado no
43
investigado, o que “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua
explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”, além de manter a presença consciente e
atuante do pesquisador no processo de coleta dos dados (Triviños, 1987, p. 152).
De forma similar, Manzini (1990/1991, p.154), evidencia estar a entrevista semiestruturada
focalizada em assunto sobre o qual se elabora roteiro com perguntas principais,
complementadas por outras, inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o
autor, esse tipo de entrevista permite o emergir de dados de forma mais livre, com respostas
não condicionadas a uma padronização de alternativas previamente estabelecidas. Manzini
(2003) salienta, ainda, ser possível um planejamento da coleta de informações por meio da
elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos pretendidos. O roteiro se
prestando, além de coletar as informações básicas, como um meio para o pesquisador se
organizar para o processo de interação como os informantes.
Além da realização de entrevistas, também se fez uso de análise de documentos e observação
direta – do tipo não participante -, por meio dos quais foi possível melhor caracterizar os
espaços alvo do estudo.
3.2 SUJEITOS DE PESQUISA
Quanto ao público-alvo, a pesquisa envolveu 15 (quinze) empreendedores com lojas de
diversos segmentos no Quarteirão do Povo (Quadro 5).
44
Quadro 5 - Sujeitos de pesquisa: Quarteirão do Povo.
Entrevistado Cargo Natureza do Empreendimento
EP1 Proprietário Aviamento, Confecções e artigo de armarinho
em geral.
EP2 Proprietário Vestuário, acessórios, cosméticos e higiene
pessoal.
EP3 Proprietário Varejo de Calçados
EP4 Proprietário Varejo de Calçados, acessórios, vestuário.
EP5 Proprietário Relojoaria e Joalheria.
EP6 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EP7 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EP8 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EP9 Proprietário Artigos de Joalheria.
EP10 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EP11 Proprietário Varejo de Calçados.
EP12 Proprietário Varejo de Calçados e Acessórios.
EP13 Proprietário Acessórios, vestuário, calçados.
EP14 Proprietário Varejo de artigos de viagem.
EP15 Proprietário Artigos de vestuário e acessórios.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Igualmente, envolveu 15 empreendedores localizados no Montes Claros Shopping (Quadro
6).
Quadro 6 - Sujeitos de pesquisa: Montes Claros Shopping
Entrevistado Cargo Natureza do Empreendimento
EC1 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EC2 Proprietário Atacado e Varejo de informática, escritório e
papelaria em geral.
EC3 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EC4 Proprietário Cabeleireiro, Manicure e Pedicure.
EC5 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EC6 Proprietário Equipamentos de Telefonia e Comunicação.
EC7 Proprietário Atividades de condicionamento físico.
EC8 Proprietário Reparação e Manutenção de equipamentos de
comunicação.
EC9 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EC10 Proprietário Artigos e Acessórios e Óptica.
EC11 Proprietário Vestuário e Acessórios.
EC12 Proprietário Alimentos.
EC13 Proprietário Varejo de Calçados e confecção.
EC14 Proprietário Atividade Odontológica.
EC15 Proprietário Varejo de brinquedos, artigos recreativos,
calçados, vestuário e acessórios.
Fonte: Dados da pesquisa.
45
3.3 ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados, o roteiro de entrevista foi previamente testado e validado. Incluídas as
adequações requeridas, a versão final (Apêndice A) foi formatada e aplicada, resultando em
30 relatos gravados, por meio de gravador de voz modelo Samsung (áudio), utilizando
aplicativo Rec. Foge II Versão 1.2.5G disponível gratuitamente na Play Store. Posteriormente,
foi procedida a digitalização das entrevistas, permitindo o processamento dos relatos.
As entrevistas no Quarteirão do Povo foram realizadas no período entre 06 a 17 de novembro
de 2017, precedidas por agendamento via aplicativo WhatsApp e conduzidas conforme
comodidade de cada respondente, em seus respectivos estabelecimentos comerciais. Cada
entrevista durou de quarenta a noventa minutos. Durante as entrevistas, não raro, alguns
entrevistados tiveram que interromper para atender no caixa, retornar ligações de
fornecedores ou atender a clientes. Isso, todavia, não afetando de forma significativa a
condução das mesmas. Ao contrário, permitiram, quando verificadas, melhor compreender a
dinâmica dos empreendimentos e estilos de atuação dos empreendedores.
Assim como a observação direta - do tipo não participantes, a análise documental, constituiu
possibilidades significativas para maior inserção do pesquisador no cotidiano dos
respondentes, abrindo espaços para a captura de modos de pensar e agir, estórias e formas de
organização que fundamentam as relações empreendedor-empreendimento-comunidade.
Em relação ao Montes Claros Shopping, as entrevistas foram realizadas no período de 20 de
novembro de 2017 a 05 de janeiro de 2018. Dado ao movimento do shopping, face às datas
comemorativas de Natal e Ano novo, as entrevistas se estenderam para além do prazo
incialmente previsto (20 de dezembro de 2017). De toda forma, as mesmas também tiveram
duração entre 40 a 60 minutos, tendo sido, igualmente, conduzidas nos estabelecimentos
instalados no interior do mall.
3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS
O tratamento de dados por meio de entrevistas utilizou-se o método de análise de conteúdo
por categoria (Bardin, 2014; Richardson, 1985). Nesse procedimento são utilizadas técnicas
46
de sistematização, interpretação e descrição do conteúdo das informações coletadas. Para
compreender, depurar, analisar, avaliar, aprofundar, extrair e organizar detalhes que são
relevantes ao contexto da pesquisa (Eisenhardt, 1989; Godoy, 1995).
O conjunto dos relatos foi transcrito e cuidadosamente tratado de forma mecânica, tendo por
base os marcos teóricos definidos para este estudo. O Quadro 7 sintetiza as categorias
investigadas, associando-as aos itens do roteiro semiestruturado de pesquisa adotado.
Quadro 7 - Categorias Analíticas
Categorias Dimensões Questões do Roteiro
Campo
Localização do Empreendimento Questões 1, 11, 35
Natureza do Empreendimento Questões 5, 6
Tamanho do Empreendimento Questão 19,20
Habitus
Histórico do Empreendedor Questões 16, 17, 18
Histórico do Empreendimento Questões 1, 4, 15
Características do Empreendimento Questões 21, 22, 23
Modelo de Negócios Questões 5
Modelo de Gestão Questões 6, 16, 36, 37, 38, 39
Capital
Econômico Questões 30, 31
Social Questões 4, 7, 32, 33
Cultural Questões 20, 40, 41, 42, 43
Simbólico Questões 12, 14, 44
Fonte: Elaborado pelo autor.
No que tange à estratégia de coleta de dados, o estudo foi conduzido em três etapas que
compreenderam: visitas in loco, análise documental e a realização das entrevistas, conforme
anteriormente relatado.
47
Capítulo 4
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
Neste capítulo são apresentadas características e peculiaridades dos centros de objetos de
investigação: o Quarteirão do Povo e o Montes Claros Shopping, ambos localizados na cidade
de Montes Claros (MG), a qual conta, atualmente, com população estimada em 336.947
habitantes (IBGE, 2004), tendo desde os primórdios da colonização da região norte mineira se
constituído como importante centro regional de comércio e serviços, em particular por sua
posição geográfica estratégica, favorecida pela abertura de estradas ligando-a aos principais
municípios da região e deles com os principais centros comerciais e industriais do país. Soma-
se a isso, a distância de Montes Claros e região, da capital mineira, reforçando seu o status de
polo regional de compras e serviços.
4.1 O QUARTEIRÃO DO POVO
4.1.1 O Campo
Em linhas gerais, o Quarteirão do Povo resulta de parceria entre comerciantes da Rua Simeão
Ribeiro, no centro de Montes Claros (MG), no intuito de movimentar a economia local por
meio de projeto de “Shopping a Céu Aberto”, iniciativa que se tornou popular em várias
cidades do Brasil. Com o apoio de prefeituras e órgãos do Governo, como o SEBRAE e
associações comerciais locais, o propósito da iniciativa é beneficiar famílias que, por não
terem emprego ou qualquer outra fonte de renda, estabelecem nele seu comércio de bens e
serviços, na sua maioria, produtos a preços populares (SEBRAE, 2018)
48
Figura 2 - Rua Simeão Ribeirão (Quarteirão do Povo).
Fonte: Acervo do autor.
A iniciativa de se criar um shopping a céu aberto, teve a parceria entre o SEBRAE Minas e os
lojistas instalados no Quarteirão do Povo. Os trabalhos de sensibilização começaram em
2015, com ações de palestras sobre cooperativismo, associativismo, liderança, além de visitas
e missões a outros centros modelos de shopping a céu aberto no Brasil. Atualmente, o projeto
conta com a adesão de 17 lojistas dos setores de confecções, calçados, joalherias, entre outros,
permitindo aos comerciantes atrair clientes, ao lhes propiciar maior conforto e opções de
compras.
Também visa dinamizar o comércio local, a partir de melhorias na infraestrutura e
revitalização do espaço físico das lojas, da gestão de negócios e do atendimento.
O quarteirão do povo é histórico. A cidade começou aqui no Quarteirão, era uma
área nobre, uma espécie de “Savassi”. As melhores lojas eram aqui. Acredito eu, não
era da minha época. Diria que o QP encolheu, em relação ao que foi e o que é. Uma
função de modismo, os shoppings centers fizeram com que houvesse migração de
lojistas e clientes para esses. Vim estudar em 1978 em Montes Claros, e aqui era o
point de encontro geral, local que frequentavam pela proximidade da igreja, do
centro cultural (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
De acordo com especialista do SEBRAE local entrevistada, com a chegada dos shoppings
tradicionais, os comerciantes da área central perderam vendas. Nesse sentido, salienta ser o
shopping a céu aberto uma estratégia para reconquistar os consumidores: “Lá existem lojas
tradicionais que sempre tiveram uma clientela fidelizada, mas que, ultimamente, migrou para
os shoppings em busca de maior conforto”. Conforme salienta um comerciante entrevistado:
Na verdade, o Quarteirão do Povo foi criado muito antes do Montes Claros Shopping. Eu era criança, a cidade precisava de um espaço para as pessoas
49
caminharem e assim foi criado. Quem começou o movimento de franquia, fui eu.
Abri uma loja de franquia no shopping e resolvi abrir uma outro no Quarteirão do
Povo. Pois percebi que o público era diferente do shopping em relação ao centro. Aí
falei com o pessoal da Cacau Show, Arezzo para trazerem suas marcas para cá
(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).
Aqui no Quarteirão do Povo temos um pequeno espaço e bom padrão. Agradável e
com relativa segurança. Com relação a vitalidade do espaço, é um ponto que sempre
está sendo necessária manutenção para conservação, identidade própria. Esses
aspectos são importantes. Para passar a ideia de atual (Relato Empreendedor
Quarteirão do Povo, EP10).
As facilidades de infraestrutura, bem como a disponibilidade de cursos de planejamento de
marketing, gestão e atendimento direcionados aos empreendedores e seus colaboradores,
segundo a entrevistada, permitem mesmo aos “lojistas que ainda não aderiram à iniciativa
perceberem que o conceito promove maior conforto, qualidade e valor aos seus negócios,
atraindo novos clientes” (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).
Além disso, o projeto visa propiciar maior visibilidade do espaço, incluindo a promoção de
campanhas como a “Campanha Aqui Tem”. Sob o slogan “Aqui tem”, aos sábados, são
desenvolvidas atividades que despertam a curiosidade de quem passa pelo local, como ações
no atendimento de saúde e beleza. Outra é a “Campanha do Dia dos Pais”, em que se investe
em exposição de veículos em parceria, apresentação da banda do Batalhão da Policia Militar e
exposição de cães visando atrair mais público para o espaço.
Não obstante os avanços, empreendedores ainda relatam a ausência de maior cooperação entre
os comerciantes do local.
Em termos de lições que geram vitalidade e diversidade, é muito difícil quando se
tem muitas pessoas com ideias diferentes. Principalmente na criação da associação
dos lojistas. Pensar no todo não é fácil. Não tenho paciência para ser político, ter de
conquistar as pessoas, convencer (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP12).
Queixas também são apresentadas quanto à iluminação, limpeza, coleta seletiva, jardinagem,
pavimentação, campanha de natal e de capacitação de pessoal. Para um dos coordenadores da
iniciativa junto ao SEBRAE-MG,
[...] a iniciativa tem como objetivo unir forças para melhorar o ambiente comercial
da área central da cidade, em que se encontram as empresas e, consequentemente, aumentar o fluxo de pessoas, melhorar as vendas e aumentar o lucro. O
envolvimento do poder público e das empresas torna possível construir melhorias
para o comércio local. A participação e a união dos empreendedores, todavia, é
50
elemento fundamental para que um bom resultado venha a acontecer (Relato
Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
Embora diferentes níveis de engajamento entre si e com o projeto, o principal interesse dos
empreendedores está em transformar o Quarteirão do Povo em um “importante shopping a
céu aberto”, gerando melhorias tanto para o conjunto dos empreendedores, quanto para a
população local e dos municípios vizinhos.
A impressão que temos, é a variedade e conforto para se locomover. Não há espaço no centro como um todo. No Quarteirão, é uma rua fechada e dá essa flexibilidade
ao cliente (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).
De toda forma, o projeto já propicia resultados visíveis como a reestruturação da
pavimentação e da fachada das lojas; ampliação da segurança e da iluminação; aumento do
número de bancos e das lixeiras; padronização do layout das lojas; reabilitação do paisagismo
e da jardinagem; e instalação de cobertura:
Finalmente, com o Quarteirão do Povo, o espaço passa por uma revitalização. Na
verdade, estava passando da hora de se fazer essas melhorias e, não fosse a
mobilização de alguns lojistas junto ao Sebrae e à Prefeitura de Montes Claros, o
local ainda estaria sem as condições ideais para atender a população (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP10).
O espaço tem também se convertido em ponto de encontro e sociabilidade local.
Aproveitando-se dos equipamentos urbanísticos instalados, pessoas de diferentes faixas
etárias e regiões da cidade e de municípios da região têm no local possibilidades, além de
compras, de interações sociais (Figura 3)
51
Figura 3 - Mini praça após revitalização do Quarteirão do Povo.
Fonte: Acervo do autor.
Além do grande público anônimo, é possível constatar pelos relatos obtidos, que o espaço se
constitui em “região tradicional da cidade”, frequentada por figuras influentes do cenário local
e nacional. O Café Galo, por exemplo, funciona como uma espécie de bricoler, onde pessoas
de diversas cidades do interior mineiro se confundem com políticos, empresários e jornalistas:
Os locais onde as pessoas costumam se encontrar no Quarteirão do Povo são o café
galo e um barzinho em frente ao Café Galo, esse era ponto de encontro onde
políticos, autoridades se encontravam para conversar, atualizar-se. Tem até
manuscrito e fotografias do JK, ele e outros frequentavam o Café Galo (Relato
Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
Existe o bar mais antigo, o Café Galo. A tradição no local, isso se perdeu, quem
frequenta é o pessoal mais velho. Lá não se ver mais jovens. Acho que eles se reúnem na praça Dr. Carlos para esperar ônibus. Eu não vou lá, mas meu sogro com
certeza. Não há oxigenação dos jovens nesse lugar (Relato Empreendedor
Quarteirão do Povo, EP15).
O Café Galo, por exemplo, é super tradicional. É uma mistura do público com o
privado. No café galo, por exemplo, encontram-se aposentados, políticos, pessoas
diversas. Ali, dá-se notícia de tudo que acontece na cidade (Relato Empreendedor
Quarteirão do Povo, EP6).
Tem o café Galo e a lanchonete Cristal na esquina do Quarteirão do Povo. As
pessoas mais velhas, chegam entre às 06h e 07h da manhã, vem fofocar, falar de
política, é uma tradição. Aqui tinha um bar tradicional era do seu “Zimbolão”, o café dele era famoso. Fechou, e passou para o café Galo. É interessante, ver o pessoal
mais antigo conversando, os jornalistas veem pegar dicas para elaborar os seus
textos nesse local (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).
52
Figura 4 - Rua Simeão Ribeiro, Quarteirão do Povo – Café Galo.
Fonte: Acervo do autor.
Em 2017, novas intervenções e ações foram incorporadas, com o apoio da Prefeitura. Para ta,l
foram conduzidas reuniões de alinhamento e construídos com os comerciantes indicadores de
resultados. Ações de revitalização do espaço, consultorias In Company, treinamento de
atendimento e de vendas, capacitação de lideranças, acompanhamento do planejamento de
mídia, programas de cliente oculto, criação de logomarcas e identidades visual foram também
promovidas, contando com o apoio técnico do SEBRAE-MG.
Além disso, missão de empreendedores locais para conhecer modelos de shopping a céu
aberto em Santa Catarina, palestras, criação de campanhas promocionais e de capacitações
foram também realizadas.
Figura 5 - Empreendedores do Quarteirão do Povo em visita a Santa Catarina.
Fonte: Acervo do autor.
53
4.1.2 O Habitus
Compreender o sentido e refletir sobre a nossa formação nos remete às origens, à história e
aos modos como um lugar se constitui e se desenvolve. A realidade e achados obtidos
constituem, desse modo, dispositivo privilegiado para se apreender como negócios são
forjados, a partir da influência da cultura, da família e do jeito de ser de um povo. Conforme
observa Ribeiro (1996, p. 19), constitui oportunidade de se apreender como se pode
[...] inaugurar uma forma singular de organização socioeconômica, fundada num
tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, no entanto, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num
povo tão sacrificado, que alenta e comove.
Constituído basicamente por pequenos negócios, o Quarteirão do Povo reflete a busca pela
junção entre o tradicional e o moderno, uma conciliação entre jeitinho brasileiro e inovação;
entre informalidade e formalidade; entre desigualdade socioeconômica e competitividade,
entre crescimento econômico e sobrevivência. Por um lado, a evidenciação de um comércio
popular, centrado em modos tradicionais de venda e crédito, na pessoalidade e nas relações de
confiança. Por outro, sistemas pré-formatados de comercialização e negócios, centrados em
tecnologias e mecanismos de atendimento, publicidade e vendas de última geração. E, para
ambos os tipos envolvidos, o ideário de construção de um ambiente de negócios e de
sociabilidade capaz de integrar as duas pontas, por meio da introdução de tecnologias
gerenciais e de comercialização, organização do espaço e modernização dos estabelecimentos
e formas de sua interação com o público vis-à-vis a (re-) significação dos valores, das
tradições e dos laços sociais tradicionais.
Figura 6 - Loja de artigos para recém-nascidos situado à rua Simeão Ribeiro.
Fonte: Acervo do autor.
Concomitantemente, visa promover a convivência de empreendedores por vocação,
por oportunidade e por necessidade, mirando a construção de um espaço em que por
54
meio da técnica e práticas de gestão transmitidas por cursos e campanhas
institucionalmente apoiadas a forjar um contexto em que mesmo a necessidade
possa se converter em negócios e quiçá sobrevivência:
Foi obrigatoriedade. Não foi por querer. Foi por necessidade. Aqui era um bar, eu
era cliente desse bar, e o proprietário, futuramente seria o meu esposo, então, depois
nos conhecemos e casamos e tomei de conta do negócio (Relato Empreendedor do
Quarteirão do Povo, Entrevista EP1).
Ter um negócio aqui no Quarteirão do povo há dois lados, o positivo: pioneirismo,
tradição, experiência. E negativo, talvez a perca do espaço para a concorrência de
shoppings centers, comércios centralizados em bairros. A falta de lugar para parar
no centro é um problema (Relato Empreendedor do Quarteirão do Povo, Entrevista EP3).
Figura 7 - Rua fechada: Comércio do Quarteirão do Povo.
Fonte: Acervo do autor.
Nessa direção, desempenha papel relevante a adoção de abordagens como a Effectuation
(Sarasvathy, 2001), a qual tem como ênfase o trabalho junto a três dimensões fundamentais: a
identidade (“quem é o empreendedor”), o conhecimento (“o que ele sabe”) e a rede de
relacionamentos (“quem ele conhece”). Contando com o apoio do SEBRAE-MG, os
empreendedores e suas equipes têm vivenciado diversos programas de capacitação orientados
por tal metodologia, conforme Figura 8, que ilustra ação de treinamento e desenvolvimento de
vendedores de lojas do Quarteirão do Povo, realizado nas dependências do SEBRAE Montes
Claros.
55
Figura 8 - Ação de treinamento e desenvolvimento de vendedores de lojas do Quarteirão do Povo.
Fonte: Acervo do autor.
No formato de bootcamps, a transmissão da metodologia adquirida tem ampla capilaridade e
aceitação do público do Quarteirão do Povo, em particular de empreendedores prospects, que
quem têm uma ideia e a quer tirar do papel, ou que já possuem um negócio e querem se
diferenciar. O termo Bootcamp surgiu nos EUA, derivado dos acampamentos de treinamento
militar, em que são realizadas atividades físicas de alta intensidade. No campo da gestão, a
expressão tem sido utilizada para se referir a programas de imersão com ênfase na prática -
aprender fazendo - tarefas a serem desempenhadas.
No geral, o programa oferecido aos empreendedores abrange um curso vivencial e prático,
com 24 horas de duração, realizado ao longo de três dias. Nele, os participantes têm a
oportunidade de aprender a empreender, usando novas ferramentas e técnicas para criar
projetos e negócios, incluindo como conteúdos: Mindset empreendedor; cliente e mercado;
resolução de problemas; prototipagem e mínimo produto viável; canais, vendas e modelos
financeiros; lean canvas; storytelling e construção de pitches.
No Quadro 8 sintetiza-se considerações dos respondentes do Quarteirão do Povo quanto aos
princípios que compõem a abordagem da Effectuation:
56
Quadro 8 - Princípios e respectivos relatos dos empreendedores do Quarteirão do Povo.
Princípios Relatos
Cresça por meio de
parcerias
“Essa necessidade de crescimento é real em nossa vida como empreendedor.
Infelizmente poucos empresários se envolveram e buscaram o SEBRAE para ajudar
nesse processo de idealização do Quarteirão do Povo”. (Relato Entrevista EP2).
Explore as
possibilidades
“Se eu começasse do zero hoje, com certeza começaria um outro negócio. Talvez algo
ligado à tecnologia, nicho de mercado. Que tivesse escalabilidade. Com serviços
agregados. ”. (Relato Entrevista EP4).
Comece com o tem
“Essa foto (fachada) nos remete a nossa mudança, nós começamos com distribuição de
cosméticos. E em 2011 migramos para o segmento de moda feminina íntima. Temos a
foto da distribuição de cosméticos e temos da loja atual. Foi uma mudança muito
radical na nossa vida como empreendedores. Ao olhar para essa foto, ela me emociona,
pois começamos bem pequenininha num corredor, sempre quis ter uma loja bonita e minha. Deus nos ajudou. E hoje estamos com três lojas e sou grata e fico emocionada
de falar da nossa história e não tínhamos a condição financeira adequada e mesmo
assim a vontade de empreender era maior e deus está conosco sempre. Juntamos tudo
que tínhamos, planejamos e fomos crescendo aos poucos. “. (Relato Entrevistado EP2)
O futuro é
imprevisível.
“Quem para fica estagnado. Se você não busca, você não modifica, se você não
modifica, é engolido pelo tempo, pela informática, pela tecnologia, pelo progresso. Isso
é tênue, se não busca, você não encontra. É uma coisa muito heterogênea, saia da zona
de conforto. ”. (Relato Entrevista EP5).
Defina as perdas
aceitáveis
“Tenho orgulho de mim mesma como empreendedora. Fracassei várias vezes e levantei
sozinha. Sempre me remete vitória e aprendizado quando olho minha loja. ”. (Relato
Entrevista EP14).
Cresça por meio de
parcerias
“O que mais gostei de tudo e vivenciei foi válido só com o acompanhamento do
SEBRAE, como tinha uma instituição por trás, os empresários não tiveram de deixar os
negócios para se envolver tanto. E outra coisa muito positiva foram os treinamentos
proporcionados por essa instituição. Acho que não deixar os empresários liderar, é uma boa ideia, tem de ter uma instituição para fazer isso. Temos um modelo que foi a visita
técnica a um shopping a céu aberto em Florianópolis. “. (Relato Entrevista EP4).
O futuro é
imprevisível
“Considero-me um empreendedor moderado. Gosto de explorar esse perfil. Tem uma
vantagem de ser assim, pois dá para controlar os recursos, planejar, logo que a
oportunidade aparece, estamos preparados. Antes as pessoas se satisfaziam com
poucos itens. Hoje é preciso ter pouca coisa de tudo para atender às necessidades dos
clientes. As pessoas estão antenadas, e se viu algo no blog ou redes sociais, elas logo
procuram. ”. (Relato Entrevista EP10).
Cresça por meio de
parcerias
“O empreendedor para ser bem-sucedido, primeiro precisa buscar conhecimento,
informação, se preparar profissionalmente, e volto a dizer que o SEBRAE é um bom
lugar para isso. Além de gostar de indicadores. É preciso entender, ter e trabalhar
indicadores. “ (Relato Entrevista EP2).
Explore as
possibilidades
“Eu vejo hoje um só desafio: estão descentralizando o comércio do centro. Com isso,
os bairros terão seus centros de compras, os shoppings centers oferecem mais comodidade de pagar um estacionamento mais barato que o centro. Shopping tem uma
mistura de coisa para fazer lá dentro. Tem tudo perto. Desafio e oportunidade para nós
do Quarteirão do Povo: é de manter o comércio ativo. “. (Relato Entrevista EP3).
Defina as perdas
aceitáveis
“Em se tratando de incertezas, perdas, erros e tentativas, minha visão mudou muito
com o BootCamp do SEBRAE. Antes gastava muito tempo planejando. Tentando
aumentar ao máximo as informações para tomar decisões. Hoje calculo riscos, encaro
perder, prefiro testar e buscar obter o resultado que é o effectuation. ” (Relato
Entrevista EP4).
Explore as
possibilidades
“Tomo decisões baseadas em dados, notícias, tudo isso. A gente ver fatos, usa a
intuição. São muito importantes, apensar das pesquisas, precisamos ter a nossa opinião.
Às vezes fico andando pela rua perambulando, mas observando, analisando, avaliando.
Fico aprendendo com os outros. Participo de feiras, vejo muitas informações e
transformo-as em resultados para o meu negócio. “. (Relato Entrevista EP3).
Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Sarasvathy, 2001.
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Considerando a afirmativa de Sarasvathy (2001), de que o empreendedorismo pode ser
desenvolvido, o SEBRAE disponibiliza aos empreendedores outro programa, o EMPRETEC.
Esse programa, fruto de parceria entre o SEBRAE, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento – PNUD, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento – UNCTAD e a Agência Brasileira de Cooperação – ABC, do Ministério
das Relações Exteriores, direciona-se a desenvolver um conjunto de características que
compõem o perfil ideal de empreendedor.
A metodologia do EMPRETEC inclui palestras, vídeos, dinâmicas individuais e em grupo,
permitindo um estímulo adicional para os empreendedores participantes, além de fortalecer a
estratégia para a condução de seus negócios, de forma competitiva. Por meio dele, os
participantes são orientados a identificar oportunidades, entender seu comportamento ao
assumir riscos calculados, avaliar seu planejamento e sua capacidade para solução de
problemas, entre outros tópicos.
Realizado em imersão, o programa objetiva proporcionar aos participantes ambiências que
incentivem a identificar oportunidades empresariais e a entender o próprio comportamento em
determinadas situações do cotidiano da empresa. Durante os seis dias de sua duração, os
empreendedores são estimulados a aprender, também, a fazer avaliações sistemáticas do
planejamento da empresa, fundamentais para definir metas e objetivos (Quadro 9). Para tal,
são previamente submetidos à entrevista de seleção visando diagnosticar a situação em que se
encontram frente às competências a serem desenvolvidas pelo programa.
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Quadro 9 - Características do comportamento empreendedor EMPRETEC.
Características Comportamentos
Busca de Oportunidade e Iniciativa Antecipar-se aos fatos e criar novas oportunidades de negócios.
Persistência Enfrentar os obstáculos decididamente.
Correr Riscos Calculados Assumir desafios ou riscos moderados e responder pessoalmente por
eles.
Exigência de Qualidade e Eficiência Decisão de fazer sempre as expectativas de prazos e padrões de
qualidade.
Comprometimento Com o cliente e com o próprio empresário.
Busca de Informações Busca pessoalmente, consulta especialistas.
Estabelecimento de Metas Estabelece metas de longo e curto prazo mensuráveis.
Planejamento e Monitoramento
Sistemáticos
Planeja e aprende a acompanhá-lo sistematicamente a fim de atingir
as metas a que se propôs.
Persuasão e Rede de Contatos Saber persuadir e utilizar sua rede de contatos atuando para
desenvolver e manter relações comerciais.
Independência e Autoconfiança Busca autonomia em relação a normas e procedimentos para alcançar
o sucesso.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do Sebrae.
Assim sendo, por meio da requalificação do espaço, com ênfase na qualificação dos imóveis,
vias públicas – sem tráfego de automóveis – e no cuidado com os equipamentos públicos dá-
se ao espaço uma dimensão “higienizada” ao mesmo tempo em que visa mudanças no
comportamento dos empreendedores, por meio de treinamentos de vendas e de atendimento,
capazes de adaptá-los às demandas de um mercado mais “moderno”, centrado na eficiência
econômica:
Não diria implicação da expansão do centro da cidade. Mas modernização (singela).
O comércio de hoje é diferente do antes, do agora e daqui dez anos. Essa
reorganização que foi feita aqui no Quarteirão do Povo dá para explicar em conjunto
as oportunidades, isso é uma nova cultura com muita reserva. Por exemplo, o
shopping já age assim. Aqui ainda está a caminho. As pessoas tendem a esperar
muito do poder público (Relato Entrevista EP7).
Contamos com a ajuda do Sebrae, CDL, ACI. E dos lojistas. Formamos uma
comissão e demos a cara para bater. Gosto das coisas bonitas, bem decoradas, foi
positiva essa parceria. “ (Relato Entrevista EP5).
Há muitos anos, fechou-se a rua Simeão Ribeiro para não transitar carros. Tornou-se um atrativo muito grande para o comércio e pessoas. Desde 2014 que a gente vem
tentando transformar o Quarteirão do Povo em Shopping a Céu Aberto. Mas, foi
com o calçamento da rua, a troca de fachadas, vitrines, tendências, decoração, visual
diferente e novo que essa mudança se deu início por aqui (Relato Entrevista EP5).
Implicações, todavia, podem ser constatadas na perda de referenciais tradicionais. De ponto
de convivência e integração, o centro se torna lócus de negócios. De praça de relações a
espaços de comercialização. De espacialidades de pessoalidade a ambientes de individuação:
Aqui já tivemos integração com as pessoas. Hoje o centro não tem mais essas
características mudaram. É mais comércio. Os moradores estão transformando suas
casas em comércio. Ainda tem, mas são poucos. Um local como a Dr. Veloso era
59
uma rua de comadre, de pessoas que se cumprimentavam, hoje não é mais assim, é
uma rua comercial. Tinha novena de natal, as pessoas faziam orações. Hoje não tem
(Relato Entrevista EP5).
Os clientes valorizam aqui no Quarteirão do Povo: atendimento e variedade. Minha
loja não vende, ela serve o cliente (Relato Entrevista EP1).
Figura 9 - Quarteirão do Povo: Loja com produtos em promoção.
Fonte: Acervo do autor.
Em outros termos, são significativos os esforços de modernização do espaço, a partir dos
mesmos dispositivos adotados pelos empreendimentos localizados em shoppings centers
convencionais. A filosofia, igualmente, centra-se em estratégias de crescimento, suportadas
pela requalificação dos espaços, facilitação da mobilidade, introdução de tecnologias de
informação e comunicação e dispositivos gerenciais:
Acho que o que está ocorrendo é um outro movimento, que é o movimento de expansão, criação de áreas comerciais fora do centro. Muitos pontos vagos no centro.
E tempos hoje tipo Jardins, Major Prates, Jardins Palmeiras, Maracanã, Coronel Luís
Maia. Com isso atrai franquias, bancos e outros segmentos para essas novas áreas.
Criação de novos núcleos. Quando o cliente vem ao centro, é uma eventualidade, não
uma coisa rotineira. Em outras metrópoles, ou cidades, o centro vem perdendo força
nesse aspecto. ” (Relato Entrevista EP10).
O papel importante é do Sebrae que é uma entidade que agrega muito nesse processo.
Em contrapartida nós deveríamos ter o apoio da prefeitura. Não culpo só a prefeitura.
Precisamos ter a união e visão dos lojistas, pois embora o centro (Quarteirão do Povo)
seja composta por mais de setenta lojistas, pouco mais de vinte aderiram à associação
Quarteirão do Povo. Com o apoio da prefeitura, a ajuda do SEBRAE e união nossa, a coisa pode fluir por aqui (Relato Entrevista EP2).
O SEBRAE ajudou muito na constituição do Quarteirão do Povo. Várias coisas foram
apoiadas e executadas por essa entidade e principalmente o know-how que ela possui
para fazer acontecer. Pensei, agora vai fluir, pois vi o planejamento. Não tinha alguém
para puxar antes (Relato Entrevista EP4).
“Penso que a cidade não está comportando o trânsito. É negativo. A cidade cresce,
mas o centro não consegue mais absorver o trânsito. E o transporte público não atende
à demanda. ” (Relato Entrevista EP4).
60
Uma vez mais, uma consequência parece ser a gentrificação do espaço. Definição cunhada
pela socióloga britânica Ruth Glass, nos anos 1960. Naquele contexto se observava a
transformação da composição social dos residentes de certos bairros centrais de Londres com
a substituição de camadas populares por camadas médias assalariadas, aumentando o valor
imobiliário do espaço (Bidou-Zachariasen, 2006).
O termo vem do inglês gentrification - derivado da palavra gentry, que significa "de origem
gentil, nobre" – portanto, significa o enobrecimento e elitização de um espaço urbano por
meio de uma reestruturação que leva à mudança das dinâmicas sociais e econômicas,
valorizando a região e afetando a população local.
O relato abaixo elucida e traz à luz do conhecimento que pode ser um fenômeno presente em
mais cidades brasileiras, no caso de Montes Claros, o trecho deixa claro que isso é mais um
problema. A visão é negativa de que há uma camada interessada em obter lucro, vantagem e
retorno financeiro, capital econômico de Bourdieu (2008), em que dinheiro, patrimônio, bens
materiais são associados à obtenção ou à manutenção de relações sociais que podem
possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis para alimentar interesses.
Acho que não existe mais interação e integração das pessoas que moram no entorno
do Quarteirão do Povo não. O pessoal antigo foi embora, o centro ficou muito difícil
de morar, o final de semana é morto. As casas não têm garagem, não oferecem
espaços melhores, e essas pessoas foram embora para outros bairros que ofereciam
melhor estrutura. Tem de pagar garagem aqui no centro. A saída desses moradores era para melhorar o padrão de vida (Relato Entrevista EP3).
Conforme salienta Jacobs (2011), tal fenômeno pode, a médio e longo prazos, significar perda
de vitalidade e dinamismo de um dado espaço, ampliando os níveis de insegurança pública e
de isolamento das áreas gentrificadas.
No Brasil, a cidade de Salvador é um caso emblemático de renovação urbana de sérios efeitos
sociais. Este fenômeno é descrito por vários pesquisadores que analisaram os impactos dessa
intervenção no Centro Histórico e no Pelourinho, caracterizando-o, não raro, como modelo
brasileiro de gentrification (gentrificação).
61
O termo gentrificação, herdado dos projetos de embelezamento de áreas degradadas e
marginalizadas, inicialmente propostos pelos ingleses, obteve rápida influência em outros
países da Europa e da América do Norte, chegando mais tarde aos países da América Latina.
Vários autores classificam esse movimento como intervenções urbanas voltadas ao city
marketing ou à transformação de degradados sítios históricos em áreas de entretenimento
urbano e consumo cultural, ocasionando mudanças no caráter de ocupação de uma dada área
(Smith, 1996; Zukin, 1995; Featherstone, 1995; Harvey, 1989).
Muitas das vezes, o que acaba ocorrendo, na prática, é o efeito perverso de elevação dos
valores dos bens imobiliários, no caso de sítios históricos, em sua maioria sob a tutela de
órgãos de proteção do patrimônio, e consequente saída de seus antigos moradores,
estimulados pelos altos valores ofertados aos seus imóveis. Além desse fator, o próprio
conceito de enobrecimento proposto para a área é, por si só, uma das razões de mudança,
tendo em vista que, em muitos dos casos, a adequação à nova dinâmica que se instala não
encoraja a permanência.
A solução encontrada por alguns desses projetos em áreas de interesse histórico e artístico por
seu viés gentrificador é a construção e até mesmo aproveitamento de imóveis já existentes
para projetos de habitação de interesse social. Em muito dos casos, no entanto, o poder
público, tendo como mote principal os princípios do desenvolvimento econômico e da atração
de empregos, acaba privilegiando somente os investimentos em empreendimentos comerciais
de suporte à atividade turística.
No caso de Salvador, a questão centrou-se essencialmente na restauração dos imóveis para
atender à crescente demanda turística que a cidade passa a vivenciar a partir da década de
1990. Segundo estudo realizado por Nobre (2003), a maioria dos imóveis foi destinada a
estabelecimentos comerciais (cerca de 65% segundo levantamento realizado em 1999).
Durante as obras de restauração e infraestrutura urbana na área, a população residente recebeu
propostas de realocação com compensação financeira, das quais a grande maioria se
interessou, resultando em queda dramática do número de residentes no centro histórico
(Nobre, 2003).
Esse é, segundo vários autores, um dos casos mais emblemáticos, no Brasil, de enobrecimento
do centro histórico visando atender à demanda turística (Nobre, 2003; Fischer, 1996). De
62
acordo com eles, foi um processo que trouxe dividendos a uma população restrita, limitando a
desejável possibilidade de diversificação dos usos do patrimônio, na área.
Fortemente marcado por laços históricos e pela tradição, processos de requalificação, ao não
se atentarem devidamente à construção de ambiências de diversidade, marcadas pela
pluralidade de capitais – econômicos, sociais, culturais, simbólicos – em curso:
Sou do interior, oriundo da cidade de Janaúba, em 1978 vim estudar em Montes
Claros. Era um menino da roça, tenho orgulho de dizer que vim e sou da roça. Estudei na escola técnica de Montes Claros. Trabalhei numa empresa na função de
eletroeletrônico por dez anos. Tinha um emprego nessa área. Fui estudar e graduei-
me em economia pela Unimontes. A primeira loja meu pai abriu em 1952. Dizem
que na época quem ganhava bem era gerente de banco. Meu irmão mais novo
faleceu por uma fatalidade em 1989. Tínhamos algumas lojas, e na época eu morava
em Belo Horizonte, quando esse fato ocorreu, pedi conta e voltei para assumir a
nossa loja em Porteirinha. E de lá expandimos para Espinosa, Monte Azul, Montes
Claros. Todos nós, uma família unida trabalhando, oito irmãos. Cada um assumiu
uma loja (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
É tradição, foi de pai para filho. O negócio existe desde 1949. Eu casei e há 30 anos
estou à frente do negócio. Tenho superior incompleto em pedagogia. Tudo que eu faço é com paixão e dedicação, fui professora da alfabetização. Dei aulas em várias
escolas tradicionais de Montes Claros (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo,
EP5)
Quando eu fiz o curso de economia, fiz um estágio. E o meu pai já tinha um
negócio, sociedade com o meu tio. Trabalhei fora, na época meu pai me deu cinco
mil cruzeiros e achou melhor eu ir para o comércio. Comecei como sacoleira (roupa
feminina), tinha tino comercial, montei uma loja na rua Dr. Santos. Essa loja ficou
seis meses e o meu pai me convidou para tomar conta da loja e estou até hoje
(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP6).
De pai para filho. Nós, meu pai tinha uma loja no interior, não tinha loja de sapato,
ou de roupa na cidade. Eu vendia bacia, tecido, mala. Na minha época, vendia tecido
para fazer caixão para enterrar pessoas. Então as lojas vendiam as partes e tinham de
montar por exemplo o caixão. E eu fornecia o pano, outro fornecedor vendia a
madeira. Então o carpinteiro ou marceneiro da época montava o caixão. Eu e meus
irmãos tivemos a oportunidade de sair do interior, estudar, fazer curso superior. Hoje
dos sete irmãos, cinco tem lojas e um morreu. Um é político, prefeito de uma cidade
do Norte de Minas (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
Fui bancário por mais de cinco anos, fiz cursos de informática. Trabalhei como
gerente de informática em uma empresa de Montes Claros por um bom tempo.
Sempre gostei de empreender. Queria abrir um negócio. Minha esposa trabalhou um tempo no comércio e unimos nossas forças começando com uma loja de cosméticos
de representação. Não era um negócio. Migramos para roupa feminina na área
íntima. Eu indico muito o Sebrae que me ajudou muito na concepção da loja. Ao ser
atendido no início o consultor disse que eu teria de registrar a marca, levei um susto,
como faria isso? Eu me perguntei. Mas tive os caminhos, vi que era possível,
registrei a marca, criamos um produto que é uma marca roupas íntimas e hoje
estamos satisfeitos (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).
Além disso, segundo Jacobs (2011), existem quatro condições espaciais indispensáveis para
gerar uma diversidade “exuberante” nos distritos e ruas. São elas: 1. A rua, e sem dúvida o
63
maior número possível de segmentos que a compõem, deve atender a mais de uma função
principal: de preferência, a mais de duas. Estas devem garantir a presença de pessoas que
saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam
capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (Jacobs, 2011); 2. A maioria das quadras da rua
deve ser curta; ou seja, as ruas e as oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes
(Jacobs, 2011); 3. A rua deve ter uma combinação de edifícios com idades e estados de
conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar
rendimento econômico variado. Essa mistura deve ser compacta (Jacobs, 2011); 4. Deve
haver densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso
inclui alta concentração de pessoas cujo propósito é morar lá (Jacobs, 2011).
Para tal, Jacobs (2011) aponta como características-chave de diversidade de um distrito ou
rua: 1. capacidade de atender a mais de um segmento de forma a sempre ter pessoas
transitando; 2. dispor de quadras curtas; 3. contar com uma combinação de edifícios com
idades e estado de conservação variados; 4. dispor de densidade suficiente de pessoas,
principalmente moradores, mas também em trânsito. Segundo a autora, o somatório desses
quatro pontos resulta em combinações de usos economicamente eficazes.
Ademais, a autora ressalta como componentes relevantes para tal efetividade: 1. Necessidade
de usos principais combinados; 2. Atendimento a mais de um segmento principal; 3.
Movimentação de pessoas de forma contínua; 4. Usos que combinem com o perfil da rua e
nunca o contrário; 5. Usos principais como âncoras; 5. Prevalência de escritórios, comércios,
escolas e moradias como tipos comuns de uso principal.
Outro importante elemento diz respeito à vinculação subjetiva dos indivíduos ao espaço.
Quando perguntados sobre o que primeiro lhes veem à mente quando se menciona a
expressão “Quarteirão do Povo”, grande parte dos respondentes o associam a valores
tradicionalmente vinculados ao comércio popular de rua, incluindo significantes como:
movimento, nostalgia, amor pela cidade, história e tradições:
Falar no Quarteirão do Povo é falar de movimento, gente, rapidez, facilidade, diversidade cultural e social (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP11).
Um shopping a céu aberto. Um centro bem estruturado, bonito, felicidade, interação,
movimento de ações, campanhas de natal, de crianças, desfile, glamour. Quero
64
Montes Claros viva bonita. Quero mudar isso, mais limpa, mais organizada,
estruturada e o QP ainda melhor (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).
Nostalgia. Quando era criança o QP era convivência, tinha sorveteria. Se
conseguíssemos resgatar essa história de tradição naquele espaço, seria o ideal. ”
(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).
É um lugar que tem possibilidades de melhoria e onde a população de Montes
Claros tem opção e referência de variedade, além de história da cidade. Quem está
aqui acaba tendo essa credibilidade por levar o nome do Quarteirão do Povo junto (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).
O Quarteirão do Povo é uma área nobre. Centro de Montes Claros. É como se fosse
uma “Savassi” em Belo Horizonte. Tenho ido à Savassi, vejo muitos negócios
fechados já. Acho que assim como lá, aqui empresários estão migrando para
shopping: clientes e lojistas (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).
4.1.3 Os Empreendedores e os Capitais Mobilizados
Conforme apresentado no Quadro 10, o Quarteirão do Povo é composto por um conjunto de
empreendedores, com predominância de indivíduos do sexo masculino (73%), com idade
média de (47,8 anos) e com curso superior completo (73%). Em grande parte, já presentes no
local há mais de 20 anos em média (22,5). Como bem observa Ribeiro (1995), como em sua
maioria os pequenos negócios no Norte de Minas veem de origem familiar, predominam a
herança e a figura masculina como representantes do controle dos negócios de família.
65
Quadro 10 - Perfil do Empreendedor Entrevistado – Quarteirão do Povo
Nome Sexo Idade Escolaridade
Nome do
Empreendimento
(Fantasia)
Endereço Tempo de
empreendimento
Maria Celina Batista
de Faria F 70
Segundo
Grau Adolar S. Ribeiro 32
Antônio Assis
Cardoso M 51
Superior
completo Lojas Adoro. S. Ribeiro 4
Júlio Freire da Costa
Filho M 37
Superior
Completo Arezzo S. Ribeiro 7
André Martins
Machado M 41
Superior
Completo
Constance Sapatos e
Acessórios. S. Ribeiro 9
Márcio Ferreira
Tiago M 46
Superior
Completo Lojas CRAZE. S. Ribeiro 18
Filogonio Mendes M 57 Superior
completo Futurista Calçados. S. Ribeiro 52
Hyldon Hebert Dias
Mendes M 41
Pós-
Graduação Lojas Gama Esporte Total. S. Ribeiro 28
Rosany Godinho
Nunes Avelar
Coelho
F 55 Superior
Completo Joalheria Coelho Ltda. S. Ribeiro 33
Leonardo Mendel
Martins de Freitas M 43
Superior
Completo Lojas Mães e Filhos. S. Ribeiro 33
Ane Silveira Bastos F 45 Segundo
Grau Shopping das Malas. S. Ribeiro 8
Silvia Sandra
Ribeiro Lopes F 62
Superior
completo O Camiseiro S. Ribeiro 51
Leandro Eustáquio
Candelori de Moraes M 35
Pós-
graduação
Candelori Moraes
Comércio – Roka 78. S. Ribeiro 20
Márcio Ferreira
Tiago M 46
Superior
completo Lojas T D B! S. Ribeiro 8
Wilson Parrela Filho M 51 Superior
completo
Taco (Roma Comercio de
Roupas Ltda - Epp). S. Ribeiro 7
Ricardo Guimarães
Viana M 58
Superior
completo Voga Joias Ltda. S. Ribeiro 28
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nesse ecossistema, diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos - são
mobilizados por empreendedores localizados em shopping center popular, tendo por base
tipologia desenvolvida e ancorada no arcabouço teórico de Bourdieu (2008).
Sob a perspectiva do empreendedor, um negócio bem-sucedido envolve postura,
comportamento, atitudes, ações. Para tal, apontam uma mescla de diferentes capitais
econômicos (relacionado a bens materiais), sociais (relações sociais estabelecidas no meio
para obter vantagem/benefício), cultural (conhecimentos acumulados, títulos, família de
tradição) e também simbólicos (associados a prestígio, reputação e status).
66
Visão baseada no negócio com objetivos e metas. Além disso tudo, está cada vez
mais importante, a presença do dono no negócio, faz a diferença. A presença dele no
balcão. Se antes tínhamos a visão do dono no escritório fechado, não existe mais, é
preciso passar uma vibração positiva ao cliente e ao negócio, é preciso “pôr a mão
na massa”. Ouvir o cliente, perceber o que está acontecendo. Resumindo, o sentir.
Mesmo com o controle remoto, câmeras, sistemas, é preciso passar parte do tempo
dentro do negócio (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP10).
Fizemos curso do SEBRAE o Bootcamp, deu uma sacudida, faz repensar nossa
forma de atuar no cenário. Busco informação constantemente. Consultorias do mercado para compartilhar conhecimento externo. Gosto de trazer conhecimento
para gerar resultado. A equipe fica motivada (Relato Empreendedor Quarteirão do
Povo, EP2).
Impressionante como as pessoas tem a capacidade de relacionar a pessoa com a
empresa. É uma extensão do nome. Então costuma ser a igreja para melhor
relacionar-me, foi dentro de encontro de casais, pois gera uma amizade forte, sincera
e ainda negócios que é consequência (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo,
EP3).
O meu círculo de amizade é a igreja, entidades de classes e público específico de corrida, pois aproveito, sou corredor de rua. Tenho um site “Gamados por corrida”,
fazendo link com a loja (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).
É muito amplo o meu círculo. Trabalhei no banco por muitos anos, tive
oportunidade de conhecer muita gente. Mas a igreja, campanhas que são provocadas
pela CDL, ACI. Mas pela padronização da franquia, submetemos tudo a ela (Relato
Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).
Os dados permitem também evidenciar distinções entre o público que frequenta o Quarteirão
do Povo ao longo do tempo. Tais mudanças deixam claras que há espaço para uma
intervenção na área de políticas públicas juntamente com os empresários e entidades de classe
(melhoria da experiência de compra, associação efetiva dos lojistas, campanhas para atração
de negócios, área cultural que possa resgatar a linha do tempo do que foi e o que simbolizou o
Quarteirão do Povo desde a geração passada).
Desde quando entramos, vi que eram pessoas de um poder aquisitivo maior. Porém,
após a chegada do Montes Claros Shopping, foi-se esvaziando o centro da cidade
desse público. Porém, vieram outros públicos, C e demais. Nós mudamos o
posicionamento do produto justamente por isso, mudança de público. E aproveitamos tal oportunidade (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).
A rotatividade aqui é enorme. São todos os públicos, por ser um local público. Não é
fácil distinguir. Acho que falar assim em divisão de classes aqui seria um bullying
social (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).
É um ponto que não temos certeza. Mas tenho um público cativo que vem
frequentemente à minha loja. Temos clientes rotativos e bastante de fora. O centro
consegue atender a uma gama de clientes variados. De poder aquisitivo, de diversas
idades. Aqui tem de tudo (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP8).
Do Gari ao Prefeito. Todo mundo passa por aqui, da classe A à classe C. Todo
mundo vem aqui. Já no shopping passa a ideia mais elitizada (Relato Empreendedor
Quarteirão do Povo, EP9).
67
O público que é caracterizado como A, o top circula aqui, mas não consomem mais
aqui. O Quarteirão do Povo é tipo comparado com a Madona ou Michel Jackson. O
público que curte a Madona a rainha do POP, que era dessa época com certeza já
ouviu ou cantou “Like a Virgin”, aqui todas as classes circulam, por ser pop, não de
popular, mas por ter esse gosto (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP15).
Constata-se, desse modo, significativo papel atribuído ao capital simbólico como fator de
distinção dos empreendedores do Quarteirão vis-à-vis ao Montes Claros Shopping. Curioso
observar que, ao mesmo tempo em que se registra a incorporação de formas modernas de
franquia, os quais visam permitir ao comerciante incorporar, mais rapidamente, atributos de
“modernidade”, a dimensão de valores mais típicos aos tradicionais valores associados ao
comércio de rua se mantêm no imaginário dos empreendedores. A tradição, o nome de
família, se constituindo ainda como fatores-chave de proximidade e intimidade com os
clientes e a cidade:
A taco tem uma política nacional de franquia. O atendimento é padrão, a mesma
música, mesmo cheiro, mesma forma de organização. É uma experiência igual, da loja do Rio de Janeiro em relação a de Montes Claros (Relato Entrevistado EP7).
Figura 10 – Loja do varejo de confecção situada à rua Simeão Ribeiro
Fonte: Acervo do autor.
Eu amo o nosso nome “Joalheria Coelho”. Quando eu vejo a fachada, tem um “quê” de esforço, dedicação, tradição. Quando ouço que o cliente ficou feliz, isso me
remete sentimento de gratidão (Relato Entrevista EP5).
68
Figura 11 – Joalheria tradicional situada à rua Simeão Ribeiro
Fonte: Acervo do autor.
Tal sentimento também se faz notar em uma série de outros relatos:
Quando olho a loja, sinto-me como parte do negócio, não de posse. Tenho vontade
de criar um plano de carreira para que os meus funcionários tenham condições de
continuar no meu lugar. Tenho orgulho disso, não tenho a sensação de realização e
nem de vaidade por ser o dono (Relato Entrevista EP7).
Quando eu entro na loja, vejo tudo funcionando perfeitamente e ao mesmo tempo tento olhar mais criticamente para ver o que pode ser melhorado. Uso o sentimento
do “odiar” para justamente encontrar defeitos e melhorar sempre. Se eu amar muito
acabo caindo na mesmice e não enxergando a melhoria. ” (Relato Entrevista EP8).
Vamos fazer os quarenta anos da loja, e não guardei fotos, logos antigas. Mas
quando eu entro na loja, desde a fachada, isso remete ao sentimento de gratidão, de
alívio, tipo já fiquei desempregado. Então toda vez que venho para cá, vejo
oportunidades olhando assim. Tenho ânimo, motivação para encarar esse sentimento
positivo (Relato Entrevista EP10).
[...] essa foto da Família perto do computador representa o maior patrimônio, e simboliza meus 50 anos, foi festa para 200 convidados. Então tem minha família,
minha base. Motivação e coragem para trabalhar. Foi feita no estúdio profissional
com máquina profissional (Relato Entrevista EP3).
Esse espaço me passa satisfação, o tanto que a gente sofre. Atender a todas as
pessoas, da humilde a mais exigente, vestir bem, mexe com o ego, a autoestima, a
vaidade. Isso para mim não tem preço (Relato Entrevista EP15).
O quadro abaixo salienta habitus que caracterizam o Quarteirão do Povo, bem como os
principais capitais mobilizados por Bourdieu (2008), levando em consideração a tradição,
história do local e dos empreendedores e o que tudo isso representa para a cidade de Montes
Claros observados no quadro abaixo:
69
Quadro 11 – Capitais mobilizados no Quarteirão do Povo de acordo com o habitus
Campo Habitus Principais Capitais
Quarteirão do Povo
No espaço Quarteirão do Povo foi observado
que tais Habitus são muito heterogêneos,
principalmente por ter empreendedores com
muita experiência de vida, histórias diferentes
que ora permite empresário que montou
negócio na raça, sem recursos e com coragem,
ora há casos de transferência de negócio por
herança. A união para criação de campanhas publicitárias para que ser retorno financeiro e
obter vantagem competitiva. Há também a
força política dos empreendedores que se
unem quando precisam atingir resultados
coletivos, tais como a associação Quarteirão
do Povo para a criação de um shopping a céu
aberto no centro da cidade.
Econômico: Este capital foi observado nos
empreendedores por meio de significantes tais
como: trabalho, dinheiro, bens materiais e
patrimônio acumulado. Estratégia de domínio
do campo.
Social: Registra-se uma forte presença desse
capital entre os empreendedores que fazem
reuniões, possuem grupos de WhatsApp.
Porém, quando o assunto é interação com a
comunidade que mora no centro, a relação é fria, poucos ou não se conhecem. Os
empresários revelam postura pessoal e
profissional, valorizam locais frequentam na
cidade no intuito de manter e fazer amizades e
rede de contatos.
Cultural e simbólico: Esses dois capitais tem
forte base no Quarteirão do povo e é percebido
mediante a herança de valores familiares,
dispositivos tradicionais de poder e títulos
acadêmicos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Os empreendimentos identificados para cada tipo dentro da Tipologia de Bourdieu e
principais capitais mobilizados constam no quadro abaixo, e foram divididos e dois grupos:
empreendedores tradicionais e modernos.
Quadro 12 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo os capitais.
Tipo de Empreendedor Nome do Empreendimento Capitais
Distintivos
Tradicional
Futurista Calçados, Adolar
Aviamentos e Confecções, Gama
Calçados, Joalheria Coelho, Loja
Mães e Filhos acessórios e roupas para crianças, O Camiseiro, Voga
Joias. Shopping das Malas.
Social, Cultural e Simbólico.
Moderno
Lojas Adoro (moda mulher),
Arezzo sapataria e acessórios,
Constance acessórios e sapataria.
Lojas Craze, Roka78 moda e
confecção, Lojas T D B!, Lojas
Taco (roupas e acessórios).
Econômico, Social, Cultural.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em síntese, à luz dos diferentes tipos de empreendedores identificados por Sant’Anna et al.
(2011), registra-se no Quarteirão uma mescla entre Empreendedores Tradicionais, com
significativo apelo a atributos como emoção, família, simplicidade; e os Empreendedores
Modernos, os quais procuram se distinguir por atributos como o profissionalismo, inovação,
competência e capacidade de gestão). Nesse último caso, aproximando-se dos
70
empreendedores do Montes Claros Shopping ou reproduzindo no Quarteirão negócios nele
instalados.
Interessante, salientar, todavia, a pequena participação de Empreendedores Camaleões – ou
Bricolers. Certamente, estratégias direcionadas à requalificação do espaço tenderam a
direcioná-los para outros espaços, senão trabalhado os mais propensos aos padrões de
modernização propostos. Resta, todavia, melhor compreender o destino atribuído aos
ambulantes e comerciantes informais, incluindo os processos adotados para sua exclusão, bem
como os impactos sobre outras espacialidades da região central e mesmo, a construção de
novas espacialidades nas áreas periféricas.
Tais achados revelam-se significativos, em primeiro lugar, ao evidenciar implicações de
processos de revitalização de áreas centrais sobre a gentrificação dos espaços. Em segundo
lugar, os riscos quanto a processos de especulação imobiliária, os quais acabam por expulsar
os pequenos comércios, afetando a diversidade do ecossistema, a imitação e o isomorfismo
espacial. Em terceiro lugar, ao promoverem os processos de concentração de renda e
intensificação da desigualdade social, ao minar possibilidades de sistemáticas de relações de
troca típicas do circuito inferior da economia (Santos, 2011). Finalmente, somam-se os riscos
associados à perda de capitais valiosos à construção de ambiências de diversidade e vitalidade
(Jacobs, 2011).
Em estudo recente à rua Santa Juliana na cidade de Sete Lagoas em Minas Gerais, Jelihovschi
(2017), constatou significativo - e constante - crescimento desse espaço, fruto de sua expansão
à condição de “nova centralidade”. Entre 2001 e 2005, foi registrada a abertura de 98
negócios, com 15 registros de serviços distintos, ainda com o domínio de comércio varejista e
serviços básicos. Diversificação de públicos, massificação dos negócios, movimentação de
pessoas, produtos e serviços são elementos caracterizadores do local.
Nessa mesma linha, o Quarteirão do Povo, situado à rua Simeão Ribeirão, no centro de
Montes Claros, Minas Gerais, possui características e achados semelhantes no que tange às
condições de diversidade e vitalidade, segundo atributos da Jacobs (2011), diversidade de
funções, quadras curtas, combinação de edifícios novos e velhos e densidade de pessoas.
71
Outro achado comparativo em ambos os estudos, é a ampla mobilização de capitais sociais e
simbólicos (Bourdieu, 2008), incluindo a confiança, a manutenção das relações sociais, a
valorização das redes informais de contatos; isto, tanto junto aos agentes da Rua Santa Juliana
e os do Quarteirão do Povo, ao que parece estratégias típicas à busca pelo domínio no campo
empreendedor.
O Quarteirão do Povo, no entanto, segue modelo de requalificação planejada (com apoio de
diversos parceiros, bem como dos próprios agentes empreendedores), enquanto a Rua Santa
Juliana constitui processo orgânico, não planejado.
4.2 MONTES CLAROS SHOPPING
4.2.1 O Campo
Inaugurado em 1997, o Montes Claros Shopping está localizado na região centro-sul da
cidade, numa área privilegiada, próximo ao centro, ao lado do maior terminal rodoviário do
Norte de Minas, hospitais, escolas, postos de combustíveis, Câmara Municipal, bancos,
hotéis, Polícia Militar, Prefeitura, tendo como vizinhos, além da região central, bairros
residenciais bem estruturados, inclusive com três parques com grande área verde (Sapucaia,
Milton Prates e Mangueiras).
O acesso é fácil e tranquilo, com avenidas bem sinalizadas e um moderno trevo que recebe
fluxo de trânsito de toda a cidade, e ainda de visitantes de cidades de todo o país. Com um
leque de opções em lazer, cinema, gastronomia em sua praça de alimentação, supermercado,
prestação de serviços, área de eventos e horário que se estende até o final da noite, de segunda
a segunda sempre buscando a comodidade e conforto dos clientes que o frequentam (Figura
12).
72
Figura 12 - Corredor do Shopping Montes Claros
Fonte: Acervo do autor.
O Montes Claros Shopping constitui empreendimento administrado pelos grupos SFA Malls,
Grupo Belmont e Administradora Replan, compreendendo a locação de espaços para seis
lojas “âncora”; quatro “mega-lojas”, 25 quiosques e oitenta posições de venda satélites. Isso,
além de 85 lojas e dois centros de lazer. O fluxo mensal de transeuntes é da ordem de 510 mil
pessoas de uma área de influência de 2 milhões e setecentas mil pessoas.
Cabe mencionar, também, que o Montes Claros Shopping ocupa um terreno de 148.803 m²,
com área total construída de 59.434 m². Nesse espaço planejado, conta com amplo
estacionamento para 1.700 vagas (800 cobertas / 900 descobertas); cinco salas de cinema,
sendo duas equipadas com sistema 3D; praça de alimentação com 18 lojas. O Quadro 13
apresenta a relação dos 155 estabelecimentos atualmente integrantes do shopping.
73
Quadro 13 - Relação de empreendimentos (Montes Claros Shopping Center)
Relação de Empresas
Ordem Lojas Segmentos/Categoria
1 Açaí Tropical Brasil Alimentação
2 Açaí Twister Alimentação
3 Adrenalina Kart Diversões
4 Aec Serviços
5 Aeroshake Alimentação
6 Airsoft Diversões
7 Alphabeto Moda Infantil
8 Amávia Cosméticos Cosméticos/Perfumaria
9 Americanas Loja Departamento
10 Anacapri Calçado Feminino
11 Angela Ferraz Moda Feminina
12 Arezzo Calçado Feminino
13 Artex Cama, Mesa e Banho
14 Atelier Unhas Bia Queiroz Serviços
15 Banco 24h Agência Bancária
16 Banco Bradesco Agência Bancária
17 Bb Básico Moda Infantil
18 Bella Bárbara Moda Íntima / Moda Praia
19 Bella Bijoux Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios
20 Bem Estar Massagem
21 Bh Cell Manutenção Em Celular
22 Brasil Cacau Bomboniere
23 Brinquedoteca Diversões
24 Burger King Alimentação
25 C&A Loja Departamento
26 Cacau Show Bomboniere
27 Caixa Econômica Federal Agência Bancária
28 Calçados Itapuã Calçado Unissex
29 Cantinho Do Kaká Diversões
30 Caridon Moda Unissex
31 Carmen Steffens Calçado Feminino
32 Casa Da Esfiha Alimentação
33 Casas Bahia Eletrodomésticos
34 Centauro Esportes Artigos e Materiais Esportivos
35 Chili Beans Quiosque Óculos
36 Chilli Beans Óculos
37 Cia. Do Terno Moda Masculina
74
38 Cinemais Cinema
39 Claro Telefonia
40 Classic Ternos Moda Masculina
41 Clínica Sorrisus Serviços
42 Clube Melissa Calçado Feminino
43 Coco Belo Alimentação
44 Colmeia Arquitetura Serviços
45 Constance Calçado Feminino
46 Craze Moda Jovem
47 Cris Jóias Requinte Jóias
48 Cvc Viagens Agência de Turismo
49 Donciotto Alimentação
50 Drogaria Minas Brasil Drogaria E Perfumaria
51 Dsiqueira Moda Feminina
52 Ducarmo Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios
53 Educação E Cia Livraria E Papelaria
54 Eletrosom Eletrodomésticos
55 Empório Do Aço Semi-Jóias, Bijuterias E Acessórios
56 Emporium Man Calçado Masculino
57 Faculdade Santo Agostinho Ensino
58 Flor Do Cerrado Alimentação
59 Fragolizia Alimentação
60 Gamma Calçados Calçado Unissex
61 Gamma Esportes Artigos e Materiais Esportivos
62 Giraffas Alimentação
63 Guarda Capacete Serviços
64 Havaianas Calçado Unissex
65 Hering Kids Moda Infantil
66 Hering Store Moda Unissex
67 Hiper Bretas Hipermercado
68 Hope Moda Íntima / Moda Praia
69 Hospital Dos Olhos Serviços
70 Hotel Ibis Hotel
71 Ice Way Alimentação
72 Imaginarium Artigos Diversos
73 Impreshop Gráfica
74 Infopark Acessórios Para Celulares
75 Iplace Informática
76 Jac's Café Alimentação
77 Jac's Fast Food Alimentação
78 Jac's Mix Alimentação
75
79 Kelmo Calçados Calçado Unissex
80 Kids Mania Salão de Beleza
81 Laboratório Voumard Laboratório
82 Lacoste Moda Unissex
83 Laçus Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios
84 Levis Moda Unissex
85 Licota Moda Feminina
86 Lider Notebooks Informática
87 Litoraneus Artigos e Materiais Esportivos
88 Livraria Nobel Livraria e Papelaria
89 L'occitane Cosméticos/Perfumaria
90 Loja Do Cabeleireiro Artigos Diversos
91 Lojas Avenida Loja Departamento
92 Lojas Renner Loja Departamento
93 Lotesorte Loteria
94 Lug's Batata Belga Alimentação
95 Lupo Moda Íntima / Moda Praia
96 Madagascar Diversões
97 Manga Rosa Moda Feminina
98 Mardelle Moda Íntima / Moda Praia
99 Marisa Loja Departamento
100 Mc Donald's Alimentação
101 Mega Ótica Ótica
102 Mega Ótica Quiosque Ótica
103 Mercatto Moda Feminina
104 Mmartan Cama, Mesa e Banho
105 Moc Cambio - Wu Serviços
106 Montana Grill Alimentação
107 Montes Claros Vôley Esporte
108 Morana Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios
109 Multicoisas Artigos Diversos
110 Multimarcas Presentes Artigos Diversos
111 Myplace Moda Feminina
112 Nação Fanáticos Artigos e Materiais Esportivos
113 O Boticário Cosméticos/Perfumaria
114 Octoo Beni Alimentação
115 Palimontes Livraria e Papelaria
116 Pinup Store Moda Íntima / Moda Praia
117 Planet Sport Diversões
118 Polishop Artigos do Lar
119 Polo Wear Moda Unissex
76
120 Posto Bretas Posto de Combustível
121 Quem Disse, Berenice? Cosméticos/Perfumaria
122 Restaurante Yama Kuria Alimentação
123 Ri Happy Brinquedos
124 Riachuelo Loja Departamento
125 Ricardo Eletro Eletrodomésticos
126 Roka Moda Jovem
127 Sabor Supremum Alimentação
128 Samsung (Quiosque) Informática
129 San Jorge Jeans Moda Feminina
130 Santa Lolla Calçado Feminino
131 Sapazio Calçado Feminino
132 Sapázio Kids Calçado Infantil
133 Sello's Acessórios Semi-Jóias, Bijuterias E Acessórios
134 Shop Tower Moda Masculina
135 Sketch Moda Masculina
136 Sl Store Moda Unissex
137 Smith Hair Studio Salão De Beleza
138 Soavitá Cosméticos/Perfumaria
139 Sóbrancelhas Estética
140 Spoleto Alimentação
141 Subway Alimentação
142 Sunset Street Surf Wear
143 Taco Moda Unissex
144 Tim Celulares Telefonia
145 Toli Moda Feminina
146 Uai Tchê Grill Alimentação
147 Universo Da Empada Alimentação
148 Via Laser Estética
149 Via Mia Calçado Feminino
150 Via Única Moda Unissex
151 Villagio Duomo Moda Masculina
152 Vivo Telefonia
153 Web Lot Negócios Imobiliários
154 Wolver Crossfit Academia
155 World Tennis Artigos e Materiais Esportivos
Fonte: Elaborado pelo autor.
Segundo diversos relatos, montar um negócio e mantê-lo em funcionamento dentro de um
shopping exige do empreendedor foco em várias frentes de trabalho e variáveis que exigem
77
profissionalismo no gerenciamento: lucratividade, capacitação de colaboradores, escolha ideal
de fornecedores, rentabilidade, ponto de equilíbrio, margem de lucro, fluxo de caixa, plano de
vendas, merchandising visual, relacionamento com clientes, redes sociais e vendas via
internet.
Esse conjunto de variáveis pode ser definido a partir da escolha do modelo de negócio -
franquia ou loja própria, por exemplo. Em outros termos, adquirir um negócio pronto já
testado, validado e com rotinas e procedimentos definidos (Franquia) ou começar do zero,
planejar, pesquisar, testar e validar (negócio próprio). Dentre esses dois modelos, o
empreendedor deve avaliar o seu perfil para que obtenha sucesso, retorno financeiro e atinja
os resultados esperados. Segundo dados dos entrevistados, um conjunto de fatores positivos e
negativos deve ser ponderado, com destaque para aqueles indicados no Quadro 14.
Quadro 14 - Vantagens e Desvantagens de ser um franqueado e franqueador
VANTAGENS DESVANTAGENS
Para o franqueador:
Desenvolvimento de uma rede de pontos de venda sem investimento;
Utilizar os recursos para o desenvolvimento
da marca e dos produtos e não para seu
escoamento;
Não lhe compete fazer a gestão das lojas
franqueadas.
Para o Franqueado:
Pode aproveitar o know-how de quem já teve
sucesso;
Possibilidade de partilhar as experiências com os demais franqueados de sua rede;
A sua marca é ou poderá vir a ser muito
conhecida no mercado;
Proteção concorrencial, devido ao ganho da
escala da rede.
Para o franqueador:
Pode ser afetado pelos erros do franqueado;
Tem que estar constantemente formando e
informando os franqueados.
Para o Franqueado:
Deve seguir as regras da rede;
Deve pagar as contrapartidas para utilizar a
marca;
Pode ser afetado pelos erros dos outros
franqueados;
Dependência muito forte das decisões do
franqueador.
Fonte: Elaborado pelo autor
Superado esse primeiro desafio – a definição do modelo de negócios – o empreendedor de
shopping deverá se dispor a lidar com uma ampla gama de atrativos a provocar sensações e a
mexer com os sentidos dos clientes e transeuntes, com vistas a despertar sua atenção e atraí-
los ao seu empreendimento: cores, cheiros, músicas que oscilam da bossa nova ao sertanejo,
iluminação, manequins ousados nas vitrines, sinalização, cenários, eventos atrativos, brindes,
cupons, amostras, sorteios, experimentação e degustação, concursos, programas de fidelidade
78
e pontuação em compras. Além disso, um conjunto de capitais se faz determinante ao
desenvolvimento de negócios em tais espacialidades
4.2.2 O Habitus
Em sua proposta, o Montes Claros Shopping visa ser um espaço de compras e lazer capaz de
oferecer aos seus frequentadores uma experiência única de conforto, comodidade, luxo,
opções em alimentos, entretenimento, ações de marketing, lojas de diversos setores,
estacionamento, hospedagem, segurança, banheiros limpos, drogarias e, enfim, uma vivência
capaz de torná-lo interessante para o consumo.
Figura 13 – Expansão do Montes Claros Shopping
Fonte: Silvana Mameluque (2011).
Em relação ao perfil e motivação para abertura de um negócio dentro do Shopping Montes
Claros, foi observado também que nem todos os empreendedores estudaram negócios ou
tiveram formação na área, mas enxergaram uma lacuna de mercado ou forma de empreender e
realizar o sonho. Compondo o Habitus do empresário.
A criação dessa loja dentro do shopping não tem nada a ver com a minha área de
formação. Sou psicólogo. Então, morava em Contagem Minas Gerais. Sempre usei
roupa social, tive empatia pelo setor e também tinha contato da empresa que
fabricava. Então resolvi trazer uma franquia para Montes Claros. Agora essa é
multimarcas (Relato Entrevista EC9).
79
Exalta-se, também, no comportamento do perfil empreendedor e habitus dos empresários de
visualizar a mudança e fazer acontecer, aos moldes do princípio cunhado por Sarasvathy
(2001), associado ao lema “explores as possibilidades”:
Inicialmente tivemos uma loja de rua, no shopping popular. Era uma loja de periféricos. Sempre acompanhava a família. Meu irmão era o proprietário. Surgiu a
oportunidade no MOC Shopping e tudo começou como degrau a mais.
Reconhecimento dos clientes e fornecedores. Mudança que simbolizou um avanço. ”
(Relato Entrevista EC2).
A intenção de montar uma loja no Montes Claros Shopping, foi que a cidade não
tinha marcas famosas para atender ao público A, e o mesmo se deslocava até Belo
Horizonte para comprar, então foi aí que resolvemos trabalhar com esse ramo. ”
(Relato Entrevista EC15).
Observa-se também, a herança familiar, legados, aprendizados e também a transferência de
bens às gerações, bem como a presença do capital econômico, Bourdieu (2008), e ao mesmo a
conversão de enxergar possibilidades, aprendizado, sucesso e oportunidade.
A família que montou visualizou muitas dificuldades, aluguel alto e muitos
contratempos. Mudaram de ponto e reduziram para esse em que está hoje. Penso que
o público do shopping é um pessoal que tem menos tempo e é mais exigente, estão
em busca de conforto que o shopping oferece. ” (Relato Entrevista EC1).
Antigamente, fazia-se feira de orquídeas bem na frente da minha loja, pois dava
muito fluxo. Eu cresci vindo para cá e via além de pessoas, muito lucro e retorno
financeiro e não somente fluxo de pessoas como está hoje. ” (Relato Entrevista
EC5).
A forma de pensar, agir, sentir, realizar ou mesmo se frustrar pela condição de “estar
empreendedor”, forjado no relato abaixo, o habitus denota a busca pela superação de desafios
e pelo “sucesso”, marcado, dentre outros aspectos, pelas expectativas de retorno financeiro,
nem sempre dentro do esperado:
Não foram boas as minhas experiências aqui no shopping. Acredito que o momento da crise e de economia muito ruim o que vejo são as pessoas indo para o shopping
para passear e não para comprar. ” (Relato Entrevista EC12).
De forma coerente, consta-se pelos relatos uma mistura de sentimentos e capitais,
principalmente o social (rede de relacionamento) e o cultural (modernas práticas de gestão,
uso de tecnologia e tendências como fatores que os distinguem e os diferenciam), levando
diversos empreendedores a “filtrarem os clientes que devem frequentar o Shopping”,
priorizando aqueles que visam experiências de consumo que valorem atributos como
80
comodidade, limpeza, decoração, experiência de consumo e produtos de qualidade superior
com renomadas marcas:
É uma mistura de tudo, observo que nos últimos meses, tem vindo lojas mais
populares. Não vejo mais aquele capricho, aquele zelo, talvez a administração do
shopping poderia buscar lojas mais sofisticadas que atraia mais o público A.” (Relato Entrevista EC1).
Aqui é uma mistura de tudo. O próprio shopping deveria estar atento. Por ser o
maior da região, não deixar qualquer loja ou construção dentro. ” (Relato Entrevista
EC4).
Tem diversificação de lojas. Aqui tem muita rotatividade. É uma vitrine, mas isso
tem um preço muito alto por estar aqui. Sobreviver é difícil. ” (Relato Entrevista
EC9).
Dentro do shopping vejo um pouco de tudo. Levando em consideração a cidade e para o padrão de Montes Claros, é excelente. Mas em suma, tudo tem regras,
precisam obedecer às regras. ” (Relato Entrevista EC14).
Relatos evidenciam, nesse sentido, papel de relevo dos elementos físicos e arquitetônicos do
Shopping e das lojas, incluindo os cuidados com a marca, a logo, os móveis e equipamentos,
os quais visam transmitir valores de sofisticação e diferenciação, trabalhando de forma
significativa as instâncias de autoestima e senso de realização dos empreendedores.
Figura 14 – Loja do Varejo de confecção e acessórios
Fonte: Acervo do autor.
Ver a fachada da minha loja, isso me dá um orgulho, prazer. Embora não tenha sido
idealizado por mim, mas suei para comprar e dá sequência. Tenho felicidade, por
saber que não subi nas costas de ninguém. Foi adquirida com muita luta, só e
somente só, por mim, sou muito religiosa, acredito em deus (Relato Entrevista EC1).
Essa loja me remete orgulho. Ela é um case de sucesso. Satisfação. Tive altos e
baixos, na loja do centro e aqui. Preciso melhorar. Quando olho para a minha loja,
para as coisas, o quadro, os detalhes. Isso vale a pena (Relato Entrevista EC6).
O primeiro deles é satisfação, um patrimônio que construí com o meu sócio. Realização, oportunidade que veio agregar à Montes Claros. Como empregador, isso
representa muito para a minha vida e opção para os clientes por atender muitas
cidades do norte de minas. Somos lembrados em Terno. Vejo a necessidade de
81
melhorar, penso que uma reforma geral, mudar o layout, já pedi um projeto
arquitetônico para que possa implementar mudanças (Relato Entrevista EC9).
Vejo a sete anos atrás, quando tudo começou, meu irmão dando o primeiro passo e
eu vim de Belo Horizonte para somar, enxergo com muito orgulho. Minha empresa
conhecida nacionalmente. Qualquer estado tem a nossa marca. Ver dessa forma sair
do zero e chegar aonde chegamos (Relato Entrevista EC2).
Primeiramente, quando vejo minha loja todos os dias agradeço a deus e penso vamos
à luta, vem à mente sobrevivência, a buscar pelo o melhor (Relato Entrevista EC8).
Olha para minha loja, passa, uma espécie de mudança. Penso que sair daqui. Mas
tenho amor pelo que faço. Não fechar a loja, mas mudar de ponto. Pois não preciso
do shopping. Mas amo o que faço e não preciso ter prejuízo (Relato Entrevista EC3).
Sinto uma satisfação muito grande, essa marca, esse nome já carrego há muito
tempo. Queria muito esse lobo da logomarca, tenho orgulho, sinto confiança na
marca e ela impõe respeito (Relato Entrevista EC7).
É uma alegria tão grande. Ver tudo funcionando. Aqui recebemos o pessoal e
tratamos o ser humano. Na hora que desço a escada e bato o olho na clínica, tenho realização. Buscamos dá o nosso melhor. Aqui é uma experiência. Mudando um
sorriso de cada vez, assim mudamos o mudo (Relato Entrevista EC14).
Felicidade, de ter um sonho realizado. De ter a própria loja, o pai ver isso realizado.
É muito bom, tanto lá em casa, somos cinco. Ver crescer e ser referência na cidade
(Relato Entrevista EC5).
Depoimentos apontam também para a influência do histórico familiar e de vida de diversos
dos empreendedores, os valores pessoais e ideias de realização e ascensão profissionais,
típicos das classes médias tradicionais (sabedoria, simplicidade, conhecimento, estilo de vida,
nobreza, justiça, qualificação, profissionalismo, dignidade, requinte, coragem, bravura,
emoção, razão, fortaleza).
Minha história é engraçada, só tenho um tio comerciante. Então esse tino para
empreender veio de família de professores. Entrei para trabalhar em escola, eu tinha
uma tia que vendia roupa. Sai de Grão Mogol para trabalhar e fiquei em uma
empresa mais de 10 anos no mesmo lugar. Conheci muita gente, trabalhei igual
escrava. Vi o crescimento do comércio, do meu ex-patrão. Não tinha vida nesse
período, mas ganhei em experiência e vivência. Estudar foi para ‘água a baixo’.
Agora lá, aprendi o que fazer e o que não fazer. Sai porque estava “estafada”. Nesse
meio tempo, descansei, e tenho coisas que gosto de fazer, contato com pessoas,
perdi o meu pai, foi doloroso. Tive depressão e aquilo me impulsionou. Fui convidada a trabalhar na nessa loja que estou. Enrolei um tempo, depois vim. Entrei
em contato com as pessoas. Mas tinha um projeto de montar um negócio para mim.
Hoje sou proprietária da loja (Relato Entrevista EC1).
Eu sou do interior. Vim de Itacambira, há 100km daqui. Foi para estudar. Trabalhei
07 anos com fotografia. Descobri o meu dom, cabelo e maquiagem. Ou seja,
trabalhei para outras pessoas, e logo após resolvi montar o meu negócio na raça. Fiz
faculdade e hoje estou aqui na segunda unidade do meu salão (Relato Entrevista
EC4).
“Eu comecei a trabalhar aqui com 16 anos, desde nova, ajudava minha família no
fechamento do caixa, pois era boa em matemática. Um dia um funcionário saiu de
82
férias, minha mãe pediu para eu vir para cá cuidar do caixa, aí eu vim e nunca mais
sai da aqui (Relato Entrevista EC5).
Nasci em Montes Claros. Formei na Unimontes, fiz especialização lá também.
Trabalhei muito em academias da cidade, foram várias. Ganhei experiência,
vivência. Depois casei e fui embora para Viçosa e passei cinco anos lá. Tentei fazer
o mestrado, mas não quis seguir, preferi virar empresário. Ter passado pela gestão
de academia, foi a melhor escola da minha vida. Pois não queria uma academia
convencional para mim, então conheci o CROSSFIT. E voltei para Montes Claros e
montei esse box que hoje é minha realização (Relato Entrevista EC7).
Eu era Cônego religioso. Origem rural. Fiquei 10 anos no convento. Comecei aqui
em Montes Claros, depois mudei para Contagem. Fiz Psicologia. Meu curso dá
embasamento para negócios. No convento, também tinha função de gestão
administrativa, então comecei a trabalhar muito cedo em comércio, com 10 anos.
Aos 13 anos entrei para trabalhar na confecção. Tenho um sócio que é o meu
sobrinho. Tenho amadurecido muito no negócio. Quero expandir (Relato Entrevista
EC9).
Sempre morei fora, em outras cidades. Estudei aqui e sai, gosto da área comercial,
vender, conversar. Fiquei em Uberaba. Fiquei cinco anos. Dei aula, trabalhei como vendedor, supervisor comercial. Devido ao tanto de viagem e correria, resolvi entrar
nessa empresa como negociador. Aceitei estar aqui como desafio. Quando entrei
aqui era estável, hoje está bem melhor. Quero vender mais, ajudar o cliente,
incentivando as pessoas a terem uma experiência com a nossa marca. Quem é
atendido aqui traz a família inteira. Assumi o cargo aqui para tirar as pessoas da
zona de conforto. ” (Relato Entrevista EC14).
Ainda segundo entrevistados do Montes Claros Shopping, para se diferenciarem e obter
vantagens competitivas, busca-se constantemente inovar e criar ações que sejam perceptíveis
aos olhos dos clientes, a seus ideais, a suas crenças, ao que pensam (habitus), mobilizando-se
para tal todo um aparato de capitais econômicos, culturais, sociais e simbólicos:
83
Figura 15 – Loja de produtos de informáticas dentro do shopping
Fonte: Acervo do autor.
Penso que trabalhamos com as principais marcas do segmento eletrônico (HP, Dell,
Acer...), marcas renomadas que levam credibilidade. Atendimento diferenciado, vejo que o cliente não sai insatisfeito hoje de nossa loja. Há casos em que assumimos um
pequeno prejuízo do que ver o cliente insatisfeito. Às vezes até arcamos com isso
(Relato Entrevista EC2).
Todo dia a gente inova, com vitrine, em redes sociais, sempre estamos colocando,
mexendo em alguma coisa aqui. Fazendo desfile de moda, estamos em constante
mudança (Relato Entrevista EC1).
Tentamos trazer uma ação com incentivo à solidariedade que na verdade não
tivemos sucesso. Mas percebi que não planejamos. Foi para uso de um aplicativo, e
não deu certo. Foi uma inovação, facilidade e também aprendizado (Relato Entrevista EC4).
Estamos na troca digital, venda online, tipo somente para empresários. Ele compra
comigo eu compro com ele, para criar vínculo de negócios, acredito que isso é
inovador (Relato Entrevista EC5).
Com o crescimento da cidade, maior individualização das relações sociais, via expansão de
condomínios fechados, gentrificação de áreas centrais, aumento dos níveis de insegurança,
pública, problemas de mobilidade e expansão das tecnologias pessoais, os entrevistados
relatam novas oportunidades junto aos modelos de negócios em shoppings centers. Em outros
termos, mudanças no comportamento dos consumidores reforçam para o deslocamento de
atividades outdoor, para aquelas cada vez mais realizadas em espaços fechados e mais
seletivos, incluindo academias de fitness, praças de alimentação, salões de festas e de jogos
privados:
84
Figura 16 – Box de Crossfit situado dentro do estacionamento do shopping
Fonte: Acervo do autor.
O Montes claros shopping virou uma “bagunça”, não sei qual o termo que você
utilizará para traduzir o que hoje ele representa. Não tem mais um público certo. Na minha loja, é mais seletivo, tenho médicos, advogados. Classificação aqui vai de A a
Z. Misturou demais os públicos. Tem de criar ações para não popularizar demais as
lojas. ” (Relato Entrevista EC1).
Vejo mudança de dia e horário. Durante a semana, pela manhã, o público vem
consumir, pela tarde e noite vem para andar. No final da semana, vem para passear e
talvez comprar, assistir a um filme e comer. Antigamente no sábado à noite era
muito bom. Há um tempo nossos clientes vinham com a família pela noite do
sábado, agora veem pelo sábado pela manhã. ” (Relato Entrevista EC5).
Não tem interação, acho que a falha nossa é justamente de não fazermos uma
comunicação voltada para esse público que mora aqui nas redondezas shopping. ” (Relato Entrevista EC6).
Desconheço alguma relação amigável. A população ao redor reclama muito do
shopping por vazamento de água, ou queda de energia, nós somos julgados. É bem
chata a situação. ” (Relato Entrevista EC7).
Tem muitas pessoas que moram aqui ao lado do shopping em condomínios, prédios
e que frequentam aqui por ser um centro de compra, por ter estacionamento, praça
de alimentação, lojas e comodidade. (Relato Entrevista EC4).
Observamos muitas pessoas dos bairros vizinhos que frequentam aqui para comprar, usar serviços, comprar produtos. A localização influenciou bastante (Relato
Entrevista EC14).
Em diversos aspectos, a adaptação dos empreendimentos aos padrões do Montes Claros
Shopping possibilita a emergência de oportunidades, mas, simultaneamente, os desafiam a
lidar em contextos de maior competitividade e individuação. Conforme observa Santos
(1979), as tentativas de atuação nas franjas dos circuitos superior e inferior da economia são
responsáveis por implicações não somente no nível econômico, mas também nas formas de
organização do espaço. A definição de cada circuito está relacionada a um conjunto de
atividades, valores e regras realizadas em certo espaço, levando em conta o setor da
população que se liga pela atividade e pelo consumo.
85
Como sintoma, as interações sociais - Capital Social -, no contexto do Montes Claros
Shopping são pequenas, tendentes a superficiais e marcadas por maior competitividade; isto,
associado ao vasto e diversificado cardápio de opções de todos segmentos da economia e
também pela pluralidade de públicos:
Figura 17 – Quiosque de Churros situado dentro do shopping
Fonte: Acervo do autor.
Como a população vê o shopping, talvez com o olhar de crítica, dúvida. Penso que o
shopping é um patrimônio para a cidade, gera emprego, é uma das poucas atrações
para as pessoas. Representa muito, evolução (Relato Entrevista EC9)
A cidade é grande. Mas o shopping era simples, então, com a expansão do mesmo,
vieram mais marcas, tivemos muita interação. Ou seja, abriu as oportunidades para fomentar o empreendedorismo aqui (Relato Entrevista EC14)
Acho que foi muito boa a expansão do shopping, benéfico demais. Até então, muita
gente nem sabia o que era um shopping aqui na nossa região. Vamos ressaltar as
atividades para dá acesso às pessoas. Tem gente aqui de Montes Claros que sai para
ir ao Iguatemi em São Paulo, assim como tem gente que nem conhece o shopping
cidade em Belo Horizonte (Relato Entrevista EC1)
Ao analisar fatores que distinguem gostos, percepção, preferências ou mesmo exclusão,
existem sim, dentro do Shopping Montes Claros forte presença dos capitais econômico,
cultural e simbólico de Bourdieu (2008), o que outrora, delineia e, na maioria dos casos,
compõe o Habitus. Tal relato evidencia as exigências tanto do empreendedor quando da
clientela que frequenta esse espaço e que valoriza o conforto, o status, a presença de marcas
famosas e ambiente mais requintado.
Penso que o cliente dá valor ao preço em Montes Claros. Porém, o que são
oferecidos aqui no shopping são muito semelhantes ao que outros centros avançados
têm. Aqui tem estacionamento, segurança, tranquilidade, música ambiente, acho que
aqui vem pessoas bonitas, consegue resolver tudo aqui, tem sombra, não sai
transpirando. Quando a pessoa vem para o shopping ela se preocupa em se arrumar.
No centro as pessoas tendem a ir mais espontâneas (arrumadas e desarrumadas), tem calor, trânsito puxado (Relato Entrevista EC4).
86
Comece com o que está na sua mão: quem é você? O que você sabe? Quem você conhece? O
que aprendeu? Que recursos tem? Qual é sua rede de contatos? Eis os princípios de
Sarasvathy (2008) que de alguma forma parecem inseridos na fala dos entrevistados do
Montes Claros Shopping e ao mesmo tempo tais questionamentos trazem reflexões acerca do
que o empreendedor também pensa, sente, age, o que legitima o habitus prevalente (Bourdieu,
2008), em suas histórias de vida, de fazer, de ser reconhecido naquele campo (capital
simbólico), bem como a sua posição aos demais agentes (Quadro 15).
87
Quadro 15 - Princípios do Effectuation presentes no Montes Claros Shopping
Princípio Relatos
Comece com o que você tem
“Montamos na raça esse negócio. Tive indicação do ponto no piso superior,
isso foi muito bom. Mas a luva do shopping era muito alta o valor. Quase
botamos os pés pelas mãos. Não ter o capital para honrar com os
compromissos e contar com a venda para avançar e crescer, não é fácil.
Tudo sem capital no começo. ” (Relato Entrevista EC2).
“Quando abrimos a primeira loja, foi em 19 dias, pois o shopping ia abrir
imediatamente, usei toda a experiência, fiz sem planejamento. ” (Relato
Entrevista EC13).
Defina as perdas aceitáveis
“ Em relação a desafios para o futuro o Montes Claros Shopping, no geral é de grande valia para a cidade. Por mais que ainda tenha a comodidade do e-
commerce. Tenho um exemplo em que procurei uma agenda numa papelaria
famosa da cidade e não encontrei, fui até à internet e achei a que eu queria e
comprei. Hoje tudo que é de informática tem na internet. É válido sim para o
mercado refletir, enquanto para o meu negócio fico receoso, vejo queda nas
vendas, perco muitos clientes para o e-commerce. ”. (Relato Entrevista
EC2).
“Lidar com incertezas, perdas, erros e tentativas são coisas que nos fazem
sofrer, ou seja, traz angustias. Acho que são desafios. Conseguimos chegar a
conclusões quando estudamos. Faço como o meu trajeto. ” (Relato
Entrevista EC9).
Explore as possibilidades
“Eu acho que a minha decisão, foi a mesma da minha família quem fundou. Eles fizeram um estudo. Então, vimos a oportunidade de roupa masculina
boa qualidade, beleza, famosa, marcas diferenciadas. Até então, na cidade
não tinha essas marcas. E todo mundo quer ganhar dinheiro. ” (Relato
Entrevista EC1).
“O que nos levou a montar um negócio dentro do Montes Claros shopping,
foi ter horário diferenciado. Qualquer clínica que se for aqui da cidade é
aberta no horário convencional, de 08h às 18h. Aqui fica aberto até 22h,
horário do shopping. Possibilita que qualquer pessoa que trabalhe durante o
dia possa ser atendida a qualquer horário com flexibilidade e comodidade. ”
(Relato Entrevista EC14).
Cresça por meio de parcerias
“Sempre fui muito apaixonada com boutique. Minha família tinha comércio em Brasília de Minas e morei em Mirabela. Fiz faculdade de Filosofia. E me
ajudou e muito, nunca tive dinheiro, só a vontade. Chamei uma amiga para
abrir comigo uma lanchonete e ela foi. Da lanchonete, foi para a boutique.
Vendi a lanchonete, o meu irmão me emprestou dinheiro e apostou em mim.
Eu tinha uma terra, e disse que se eu perdesse tudo, eu daria a terra no lugar.
Houve uma credibilidade, então eu queria arriscar. E arrisquei. Meu irmão
era gerente de banco. Na luta na raça, não tinha horário para almoçar, era
muito difícil. Tropeço e quedas, mas deu certo. Tenho várias marcas
famosas, mas não quero expandir por franquia. ” (Relato Entrevista EC3).
O futuro é imprevisível
“Foram várias experiências de sucesso no começo e agora de desafios.
Observo uma considerável queda nas vendas devido à internet (e-
commerce), isso vem balançando a gente. ” (Relato Entrevista EC2).
“Incerteza temos o tempo todo. Tudo é incerto. Previsão é necessária. Perdas
é lutar, corrigir, tem que vencer. Aí entra a correção no erro para superarmos
e atingir os resultados. ” (Relato Entrevista EC1).
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sarasvathy, 2008.
88
4.2.3. Perfil do Empreendedores e os Capitais Mobilizados
Já no Quadro 16 apresenta-se um extrato geral dos empreendimentos inseridos atualmente
presentes no Montes Claros Shopping.
89
Quadro 16 – Perfil do Empreendedor Entrevistado do Montes Claros Shopping
Nome Sexo Idade Escolaridade Nome do
Empreendimento Endereço Bairro
Tempo do
empreendimento
Maria Lúcia de
Oliveira
Aquino
F 27 Segundo grau Bh Cel
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 3
Delci
Rodrigues
Pego
M 46 Pós-
graduação
Di Pego Camisaria –
Classic Ternos
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 2
José Flávio de
Oliveira Filho M 38
Pós-
graduação Líder Notebook
Montes
Claros Shopping
C.
Nova 7
Ana Paula
Ferreira Maciel F 35
Mestrado
completo
APFN Comércio de
produtos Ópticos Ltda
– Mega Ótica
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 1
Benie Mendes
Oliveira F 46
Superior
Completo
My Place – Franquia
Carioca
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 7
Ana Heloisa
Batista F 32
Superior
completo
Quiosque Olha o
Churros
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 1
Silvana Simões
Oliveira F 55
Superior
completo Sapazio
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 20
Maria do
Socorro
Gonçalves de Souza
F 57 Superior
completo SL Store
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 6
Jonh Smith
Amaral Lima M 40
Superior
Completo
SN cabeleireiros e
Noivas
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 1
Victor Luís
Quintino
Spinor
M 28 Superior
Completo
LSM MIRANDA -
CLÍNICA SORRISUS
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 2
Raquel Martins
de Oliveira
Souza
F 41 Superior
Completo Tutti Bambini
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 7
Layne
Gabryelle
Antunes Mota
F 23 Superior
incompleto
Moda Ágape – Via
Única
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 20
Ronilda Soares
Nascimento F 44 Segundo grau
Ronilda Soares –
Vilaggio Duommo
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 9
Cristiane Santos Laetane
F 40 Superior completo
Delta Telecom Vivo Shopping
Montes Claros
Shopping
C. Nova
10
Márcio Pereira
de Oliveira M 34
Pós-
graduação Wolver CrossFit
Montes
Claros
Shopping
C.
Nova 2
Fonte: Dados da pesquisa.
Pelos dados do Quadro 16, tem-se, de forma similar ao registrado no Quarteirão do Povo, a
prevalência de empreendedores com curso superior completo. Incluem-se egressos de
programas de MBAs, no Brasil classificados como especializações, porém focadas em
90
negócios, e de programas de especialização, com carga horária mínima de 360 horas. Chama a
atenção a valorização de títulos, e experiências vividas na academia, em particular associadas
à transferência de conhecimentos em Management vis-à-vis à rede de relacionamentos que se
pode obter por esses meios.
Quanto ao sexo, registra-se o oposto do Quarteirão do Povo. No Montes Claros Shopping há a
prevalência de mulheres empreendedoras. Por ter em sua maioria lojas de moda, roupas, joias,
bolsas, sapatos, isso pode explicar a maior atração a esse público.
Já quanto à faixa etária, registra-se, igualmente diferenças comparativamente aos
empreendedores do Quarteirão do Povo. Embora heterogêneo, os empreendedores do Montes
Claros Shopping apresentam uma média etária mais baixa, com maior número de jovens, mais
escolarizados e influenciados pelas novas tecnologias de gestão e espírito de modernização.
O tempo de empreendimento é também um fator a ser considero com atenção. Em sua
maioria, os empreendedores apontam, ao longo de suas entrevistas, para a elevada
rotatividade dos negócios, marcada pelos preços dos alugueis, pelo “modelo engessado” e
dificuldades de mão de obra qualificada, apta aos padrões de atendimento e exigências quanto
aos horários de trabalho.
Em suma, a mobilização dos diferentes capitais, de diferentes formas, embasa o elemento
central à distinção Bourdieu (2008), notadamente no quadro síntese abaixo evidenciados
durante a entrevista aos empreendedores do Montes Claros Shopping (Quadro 17).
91
Quadro 17 - Síntese dos capitais presentes no Montes Claros Shopping
Campo Habitus Principais Capitais
Montes
Claros
Shopping
No espaço Montes Claros shopping foi notado a
prática de diversos estilos de vida dos
empreendedores em forma de julgar que é certo e
o que é errado em suas visões e percepções de
mundo. Há uma tentativa dos empreendedores do shopping em retomar o que a figura do mesmo
representava há 10 ou 20 anos, quando era
frequentado por um público de classe A. Isso fica
claro nos relatos da entrevista que hoje o fato de o
mesmo ser referência no norte de minas, a fama, a
propaganda, tudo contribuiu para ser mais
“popular” e ter heterogeneidade de pessoas, gostos
e lojas que talvez ao olhar dos empreendedores
pioneiros que ali instalaram empreendimentos,
não foi visto com bons olhos.
Econômico: Este capital foi observado nos
empreendedores em formato de: bens
materiais e patrimônio acumulado. O que
confere a cada um seu respectivo espaço, fazer
diferente (inovar, investir, renovar ou mesmo
expandir lojas).
Social: Foi observado pouca ou leve ausência
desse capital entre os empreendedores que
interagem em reuniões, possuem grupos de
WhatsApp. Isso se deve ao fato do modelo de negócio que também contribui, muitos
empresários possuem mais de uma loja no
shopping, na cidade ou na região (filial ou
franquia). Tendo escassez de tempo para tal
interação, ficou claro quando este estudo
buscou interface para entrevistar cada um.
Suas agendas dividem espaços com muitas
atribuições: viagens de negócios
(principalmente em busca de tendências da
moda).
Cultural: Há uma forte presença, e se
evidencia em títulos escolares, acesso a
eventos exclusivos e valores familiares transferidos de pais para filhos (persistência,
família, educação, foco).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Levando em consideração contribuições do arcabouço teórico de Bourdieu (2010), na
descrição e compreensão das formas como diferentes agentes sociais mobilizam distintos
capitais, em estudos prévios realizados por Oliveira, Sant’Anna e Diniz (2015), Sant’Anna et
al. (2013); Oliveira, Sant’Anna e Diniz (2012); Sant’Anna et al. (2011), corrobora-se, uma
vez mais, a opção pela utilização do marco teórico proposto.
Tendo por base a “Teoria da Ação Prática” (Bourdieu, 2008), os achados deste estudo
corroboram a importância dos estudos desenvolvidos por esses autores, notadamente, quanto
ao papel das noções de campo, habitus e capitais contempladas na “tipologia” de
empreendedores por eles aplicada.
Isto posto, com base nos estudos citados, o Quadro 18 contempla uma síntese na tipologia de
empreendedores e empreendimentos propostos por Sant’Anna et al. (2011), incluindo
atributos e capitais que caracterizam os habitus de cada um deles, os quais foram utilizados no
confronto com os achados empíricos obtidos da pesquisa empírica que subsidiou este estudo.
92
Quadro 18 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo capitais mobilizados.
Empreendedor Empreendimento Capitais
Prevalentes
Tradicional
Líder Notebook, Lojas Sapazio, Sl
Store, Tutti Bambini, Via Única,
Villagio Duommo,
Cultural
Moderno
Bh Cel, Classic Ternos, Mega
Ótica, Olha O Churros, Delta
Telecom Vivo,
Econômico e Cultural
Pós-Moderno
Wolver Crossfit, My Place, SN
Cabeleireiro (Smith Noivas),
Clínica Sorrisus
Social e Cultural
Fonte: Elaborado pelo autor.
A partir dos dados apresentados e discutidos, pode-se caracterizar os perfis de
empreendedores do Montes Claros Shopping, conforme a seguir:
1. 67% mulheres
2. 53% com curso superior completo;
3. Média etária dos respondentes: 39 anos
4. Tempo de atuação no local: 6,5 anos
5. Principais desafios enfrentados no negócio: falta de convergência de interesses entre a
administração do shopping versus lojistas, pois ao se tratar de atração de público para o
consumo de produtos e serviços naquele espaço;
6. Principais atributos de valor percebidos pelos clientes: qualidade e marcas, comodidade,
segurança, estacionamento, experiência de consumo, opções de produtos e serviços.
Vale registrar, no estudo conduzido por Jelihosvschi (2017) junto a shopping center na cidade
de Sete Lagoas (MG), semelhanças quanto ao perfil dos empreendedores e nos atributos
valorizados pelos clientes. Também lá busca-se por conforto, status, horário de atendimento,
movimento de pessoas diferentes, oscilação entre tradição da cidade versus modernidade,
convivência e interação das pessoas que moram nas proximidades.
93
Capítulo 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando ao objetivo de investigar diferenças e semelhanças entre os capitais mobilizados
por empreendedores com estabelecimentos localizados em um shopping center popular vis-à-
vis shopping center convencional, tendo por base o arcabouço teórico de Bourdieu (2008),
constata-se uma mistura de atributos associados a capitais sociais, econômicos, culturais e
simbólicos em ambos os ambientes alvo deste estudo.
Igualmente, é possível detectar diferenças quanto a gênero, idade, formação escolar e tempo
de atuação dos empreendedores nas espacialidades investigadas. No Quarteirão do Povo, por
exemplo, 73% dos respondentes possuem curso superior completo, igual percentual é do sexo
masculino e a média de idade é de 47,8, com média de 22,5 anos de atuação no local. Já
dentre os respondentes do Montes Claros Shopping, 53% possuem curso superior completo,
67% são do sexo feminino, com média de idade de 39 anos, e tempo médio de atuação no
espaço de 6,5 anos.
Por meio desse conjunto de dados, tem-se que no Quarteirão do Povo, os empreendedores
pesquisados apresentam maior tempo de vivência no mercado, o que cabe inferir mais
experiência, vivência, tradição. Muito provavelmente como segunda geração de
empreendedores, esse grupo atribui forte importância ao capital cultural, denotado no
significado atribuído aos títulos acadêmicos, ao estudo e ao capital intelectual (Bourdieu,
2008), muito embora, certo apego a tradições locais, como o forte valor atribuído ao “caráter
masculino” no controle e gestão dos negócios.
Outrossim, no Montes Claros Shopping, a priori parece se observar o inverso, pelo menos
quanto à predominância de mulheres empreendedoras. O que, todavia, pode ser atribuído a
certo imaginário do shopping como “espaço para o feminino”, “planejado”, “controlado” e,
portanto, mais seguro que o espaço da rua, mais afim ao masculino, “ao cabra macho”, ao
“boiadeiro sertanejo”; aberto à aventura, à liberdade.
94
O tempo de atuação em ambas as espacialidades também chama a atenção. A média, no
shopping é baixa, mesmo possuindo 20 anos de existência. Fatores como falta de incentivo da
administração, alta competitividade, alto valor das taxas de condomínio e dos aluguéis, falta
de mão de obra qualificada que atenda aos horários do shopping (noturno, finais de semana e
feriados), contribuem para uma movimentação de abrir e fechar constante de lojas, a maioria
administradas por gerentes e coordenadores com pequena presença direta dos proprietários,
quase sempre detentores de outros negócios na cidade ou região (franquias, filiais).
Em contraponto, o Quarteirão do Povo, apresenta, em sua maioria, empreendedores que além
de, em muitos casos, serem proprietários de seus imóveis, notabilizam-se por serem
conhecidos da população. Muitos deles já constituem segunda ou terceira geração de
empreendedores locais. Nesse sentido, fazem questão de estarem presentes no negócio, em
atender à sua clientela. Não são raros os cumprimentos, o tomar um café ali nas redondezas
em conjunto com amigos e clientes, o tratar as pessoas pelo nome, construindo-se – ou
sustentando-se – laços sociais fortes, por meio de relações pessoais e vínculos afetivos.
A busca por “modernização”, a garra, a determinação, a jovialidade, a tendência, o espírito de
fazer acontecer prevalece, no entanto, como características dos empreendedores de ambos os
espaços. No caso do Quarteirão do Povo, a própria mobilização direcionada à revitalização do
espaço, visando incorporar traços dessa “modernidade” denota a similaridade quanto aos
capitais envolvidos. Diferentemente de outras espacialidades da região central, o Quarteirão
do Povo parece buscar - sem, no entanto, eliminar elementos da tradição local - enfatizar o
capital cultural, bem como atributos associados ao simbólico inerente ao “circuito superior da
economia” (Santos, 2011).
O Quadro 19 sintetiza os principais significantes constantes nos relatos dos respondentes em
ambos os espaços investigados.
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Quadro 19 - Resumo comparativo entre espaços pesquisados
Campo Capitais Significantes
Quarteirão do Povo
Econômico Trabalho, dinheiro, bens materiais, patrimônio acumulado.
Social Amizade, proximidade, presença, rede de contatos,
contato.
Cultural Valores familiares, poder, título acadêmico,
educação, treinamento.
Simbólico Nome de família, tradição, jovialidade, renovação,
revitalização.
Montes Claros Shopping
Econômico Inovação, investimento, renovação, expansão,
estratégia.
Social Mobilidade, superficialidade, consumismo,
entretenimento, visibilidade.
Cultural Marketing, Diploma, Gestão, Modernização.
Simbólico Luxo, sofisticação, diferenciação, comodidade,
conforto, exclusividade.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quanto aos tipos de empreendedores identificados constata-se, a partir da tipologia
desenvolvida por Sant’Anna et al. (2011), a predominância, no Quarteirão, de dois tipos de
empreendedores: os Empreendedores Tradicionais e os Empreendedores Modernos. Não
obstante o nome “Quarteirão do Povo” não foi possível identificar Empreendedores Pós-
modernos. A ausência desse último grupamento, em particular dos “Camaleões” ou
“Bricolers”, tão comumente presentes nos demais espaços constitutivos da região central da
cidade, deriva muito certamente do processo de revitalização espacial promovido no
Quarteirão.
Como efeitos da “higienização” do espaço, promovida pela remodelação dos edifícios e das
fachadas, da intensificação dos aparatos de segurança pública e privada, registra-se uma
seletividade, tanto no público frequentador do espaço, quanto nos empreendimentos. A
escolha “profissional” dos empreendedores e empreendimentos, as regras, além dos
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investimentos requeridos no aparelhamento dos estabelecimentos revelam-se impeditivos a
empreendedores com menores volumes de capitais econômicos, culturais e simbólicos.
Cabe registrar, ainda, junto aos empreendedores do Quarteirão, relatos associados a
significantes que denotam a valorização do “moderno” como fator fundamental de
lucratividade e realização comercial. Nesse sentido, o efeito mimético, não raro, evidencia-se
como elemento central de diferenciação. A ideia subjacente é que é imperativo “modernizar”
o centro, incorporando a ele características como aquelas consideradas no âmbito do Montes
Claros Shopping. É necessário que o centro da cidade seja um “Shopping a Céu-aberto”,
tomado como sinônimo de eficiência, produtividade e lucratividade.
Curiosamente, no entanto, é na instância do Montes Claros Shopping que se registram os
maiores índices de mortalidade de empreendimentos, de fechamento de negócios e de
iniciativas. Nesse sentido, cabe a outros modelos de negócios - como o Quarteirão do Povo –
sem dúvida buscar se adaptar aos novos tempos, aprimorar seus dispositivos de gestão,
melhorar as condições físicas, instalações e equipamentos. O importante, porém, é se
“modernizar” sem perder as características que distinguem o espaço. Desenvolver
competências modernizantes sem, todavia, alterar sua essência, sem destruir aquelas que lhes
são distintivas.
Nesse cenário, constata-se a importância atribuída pelos empreendedores do Quarteirão à
Effectuation Theory, mecanismo rapidamente incorporado por seus empreendedores para
disseminar, além de mudanças orientadas à requalificação do espaço físico, também as
mudanças no habitus e nos capitais a serem apreendidos e mobilizados, com vistas a torná-los
mais aderentes aos valores preconizados pela lógica empresarial moderna e mais
competitivos.
À forma e ritmo das mudanças, associam-se desafios. Um deles tem a ver com a gentrificação
e com os riscos de perdas de vitalidade do Quarteirão (Jacobs, 2011). Afinal, como assegurar
o equilíbrio entre modernidade e tradição? Como manter o intenso fluxo de pessoas de
diferentes classes sociais e veículos, variedade e diversidade de residências e
estabelecimentos comerciais? A diversidade de usuários associada a idade, escolaridade e
orientações religiosas? E, quanto à heterogeneidade e mistura de prédios novos e antigos?
Elementos, esses, considerados por Jacobs (2011) como fatores centrais de vitalidade.
97
A partir da análise desse conjunto de dados, sugere-se diálogo aberto e estudos em torno da
gentrificação e de suas consequências. Esse pode ser um primeiro passo relevante para a
criação de uma consciência coletiva que proponha o desenvolvimento do espaço, integrando
seus agentes e os demais integrantes da região central, ao invés de separá-los, eliminando as
características de lócus tão significativo para a cidade e seus habitantes. Uma região que
carrega uma rica história, o legado de todo um conjunto de pessoas, que coletivamente,
produziram um habitus particular, traduzido em modos singulares de pensar, agir e sentir
(Bourdieu, 2008).
Conforme observa Schumpeter (1934), o empreendedorismo está diretamente ligado à
resolução de um problema ou ao atendimento de uma demanda até então não suprida,
geralmente relacionado com a criação de empresas ou novos produtos. Nesse sentido, esse
autor relaciona o conceito diretamente com o desenvolvimento e realização de novas
combinações, englobando a introdução de novos produtos, criação de novas formas de
produção, surgimento de novos mercados e o surgimento de novas empresas.
O mesmo afirma, ainda, que o empreendedor é um agente de transformação da inovação e
influenciador dinâmico na expansão e desenvolvimento da economia, bem como um ser capaz
de aliar com eficiência novas combinações de recursos, é o agente direto da realização.
Complementando tal perspectiva, para Drucker (1993), empreendedor é quem cria novos
mercados e novos consumidores, através da geração de um novo hábito de consumo em um
novo contexto. O empreendedor deve mudar, transformar os valores existentes. Segundo ele,
a “inovação é o instrumento específico do empreendedorismo. É o ato que dota os recursos
com uma nova capacidade para criar riqueza” (Drucker, 1993, p. 30).
Independente do ramo, atividade ou nicho de mercado, os empreendedores possuem algumas
características em comum para transformar as ideias em oportunidades. No entanto, é preciso
que esteja claro que não existe apenas um tipo ou perfil de empreendedor; isto é, um modelo
que possa ser identificado como único padrão para todos. Conforme já mencionado
anteriormente pela Organização das Nações Unidas – ONU, um conjunto de características do
comportamento empreendedor parece, todavia, ganhar relevância. Diante desse conjunto de
características, como forma de classificar o comportamento empreendedor, parece,
igualmente, evidenciada a necessidade não somente de entender as atitudes que levam o
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empreendedor a tomar decisões, assim como compreender, antes de qualquer coisa, a real
necessidade para criação de um empreendimento.
Para Dornelas (2010), pode-se considerar a existência de dois tipos de empreendedorismo,
aquele que condiciona a uma necessidade ou aquele que configura uma oportunidade de
negócio. De acordo com esse autor, os empreendedores que abrem seu próprio negócio por
necessidade são aqueles que não possuem opções de trabalho, encontram-se desempregados e,
para continuar com seu sustento, aventuram-se em abrir um negócio próprio, comumente sem
nenhum planejamento prévio ou conhecimento de gestão.
No entanto, para compreender melhor as taxas de abertura de empreendimentos, no Brasil,
com base nos tipos de empreendedorismo, conforme delineados por Dornelas (2015), deve-se
levar em consideração fatores influenciadores (drivers), como o nível da educação e o avanço
tecnológico, bem como a existência de instituições de fomento ao tema. Ainda segundo esse
autor, há que se considerar a relevância quanto a se melhor compreender o contexto em que se
inserem os empreendimentos, bem como os capitais - econômicos, sociais, culturais e
simbólicos - aportados e mobilizados por seus proprietários. Relevante, também, a
consideração do “ecossistema empreendedor” em que se inserem (Sant’Anna & Nelson, 2017;
Jelihosvschi, 2017; Nelson & Sant’Anna, 2012, 2011).
Nesse sentido, ações centradas unicamente em fatores extrínsecos, tais como requalificação
do espaço físico e desenvolvimento de ações de capacitação, orientadas a maior
“modernização” de processos e rotinas, podem, uma vez mais, obscurecer a realidade,
destruindo capitais singulares, reforçando processos de gentrificação e a competitividade do
ecossistema (Smith, 1996; Zukin, 1995; Featherstone, 1995; Harvey, 1989).
O estudo no Quarteirão do Povo, desse modo, explicita que há disposição dos
empreendedores envolvidos em se “modernizar”, em buscar novos conhecimentos e
tecnologias de gestão, em desenvolver espaços que visem à experiência agradável dos clientes
no que tange aos influenciadores de compras: limpeza (coleta seletiva do lixo), segurança,
manutenção da estrutura das ruas e praças, iluminação, problemas de origem social,
derivados, por exemplo, da presença de ambulantes que não pagam impostos, pedintes,
número insuficiente de câmeras de segurança, falta de policiamento. É, interessante salientar,
portanto, os esforços de elevação do nível de profissionalismo em negócios e gestão dos
99
empreendedores do Quarteirão, bem como a busca pela construção de parcerias com as
entidades representativas do comércio e serviços, na promoção de ações direcionadas à
incorporação da inovação, visando a melhoria dos processos nos estabelecimentos de
comércio e de serviços a que respondem. Parcerias, também, com entidades de ensino e
pesquisa, dentre outras.
De acordo com achados este estudo, tem-se, contudo, que nem todos os antigos moradores e
empreendedores do Quarteirão conseguiram se adaptar ao processo de renovação. Muitos
tiveram que deixar o espaço na direção de áreas periféricas da cidade. Causas desse fenômeno
podem ser associadas à elevação dos valores dos alugueis, à valorização dos imóveis e, por
conseguinte, o estímulo à venda. Como resultante, tem-se, conforme previsto por Jacobs
(2011), o vazio dos espaços à noite e nos finais de semana, deixando-os à mercê de vândalos e
até bandidos que veem aí oportunidades de atuação.
Em suma, uma vez mais, o desafio central evidenciado será a capacidade dos empreendedores
do Quarteirão de se “modernizar”, sem perder os elementos distintivos do local, da tradição e
da história. Como valorar e se qualificar, com metodologias, tecnologias e instrumentos de
gestão que mantenham um equilíbrio dinâmico entre os componentes do ecossistema
empreendedor que compõem o centro da cidade. Essa parece ser a arte do processo de
construção de uma região diversa, vital e sustentavelmente competitiva.
Quanto às suas limitações, ressente-se pelo não aprofundamento neste estudo da análise do
comportamento dos consumidores dos shoppings investigados, a partir da percepção desses
agentes. Nota-se que as mudanças, as atitudes e comportamentos são diretamente
influenciados pelo ambiente, ou seja, economia, cultura organizacional/regional, relações
interpessoais, entre outros, somados ao que foi apreendido pelo indivíduo diante dessas
interações e aliado ao seu repertório existente. Sendo assim, é possível relacionar o processo
de inovação nas pequenas e médias empresas com o desenvolvimento do comportamento de
seus clientes e prospects; isto, na medida em que o cenário de tais agentes também vem
mudando de forma contínua e juntamente com ela, os requisitos que pressupõem um
empreendedor apto a lidar com eles. Desse modo, recomenda-se futuras pesquisas sobre
empreendedorismo, a partir da perspectiva dos clientes e usuários das organizações alvo da
pesquisa, assim como das redes de relações que envolvem o tetraedro empreendedor-
empreendimento-governo-sociedade.
100
Não obstante as fragilidades, reitera-se como contribuições do estudo ações de
desenvolvimento, abordagens que fomentem a vitalidade dos espaços, por meio de formas de
atuação que extrapolem a dimensão individual - assim como os “intramuros” dos
empreendimentos e instituições - considerando a construção de competências capazes de
articular, simultaneamente, especificidades e inter-relações entre os principais capitais
envolvidos: econômicos, sociais, culturais, simbólicos e, também, espaciais.
A partir da observação do Quarteirão do Povo, constata-se que o centro de Montes Claros,
embora não possa se acomodar, desconsiderando esforços de requalificação e de
revitalização; às custas de se colocar fadado e vulnerável a fatores associados às práticas
comerciais contemporâneas, não deve ignorar perspectivas mais coletivas de envolver
entidades de diferentes setores e segmentos da sociedade local, além, é claro, dos moradores e
do conjunto dos comerciantes da região central.
Nessa direção, novas pesquisas e estudos poderiam levar em consideração a Teoria da
Bricolagem, desenvolvida por Baker e Nelson (2005), a qual permita a investigação de formas
de acesso a alternativas empreendedoras, a partir de recursos escassos. Por meio dela, poder-
se-ia melhor explorar o contexto empreendedor, em particular, o da região central de Montes
Claros. Entender como evoluíram e como utilizam de recursos, através da improvisação,
informalidade, senso de oportunidade, adaptabilidade ou mesmo cópia, dando um “jeitinho”
nos modos de constituição e desenvolvimento de seus empreendimentos, pode agregar
subsídios significativos a ações de capacitação de empreendedores do “circuito inferior” de
nossa economia (Santos, 2011).
Acredita-se, inclusive, que maior interação entre Bricolagem e Effectuation (Sarasvathy,
2001) possa revelar-se opção sine-qua-non na constituição do que há de mais inovador na
área do empreendedorismo. A contribuição, dependendo do espaço, problema ou contexto,
pode balizar a tomada de decisões e os dispositivos de gestão, permitindo propostas, mais
inclusivas, de melhoria de espacialidades locais, territórios e cidades, além de auxiliar na
compreensão da complexidade de mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.
101
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109
APÊNDICES
APÊNDICE A
Roteiro de Entrevista
IDENTIFICAÇÃO
Nome:
Sexo:
Idade:
Cargo:
Escolaridade:
Nome do Empreendimento:
Endereço:
Região:
Há quanto tempo possui o empreendimento:
BLOCO 1 – O ambiente
1. Em sua opinião, quais os principais fatores que levaram à criação do Quarteirão do Povo?
Desde sua criação o Quarteirão do Povo tem vivenciado uma significativa expansão, a que
você atribui esse crescimento?
2. Quais as principais oportunidades e melhorias decorrentes desse processo de crescimento?
3. E quanto às dificuldades decorrentes desse processo, quais você destacaria?
4. Que pessoas (empreendedores, políticos, formadores de opinião etc.) e instituições você
destacaria pela importância nesse processo? Que papel elas desempenharam?
5. Quais as principais atividades econômicas do Quarteirão do Povo? Há alguma atividade
predominante ou é possível observar bastante diversidade?
6. Como você caracterizaria o público que frequenta o Quarteirão do Povo? Você percebe ao
longo do tempo mudanças nesse público?
110
7. Como você caracteriza o QP do ponto de vista estético? Você observa a presença de
construções mais antigas, novas, ou há uma mistura de tipos?
8. Em qual horário/dia há maior movimento de pessoas no QP? Há concentração em um
horário específico (manhã, tarde ou noite) ou você observa grande contingente de pessoas em
horários diversificados?
9. Como você caracteriza o tráfego nessa região? É mais intenso em algum período do dia?
10. Quais os locais mais comuns onde as pessoas se encontram e interagem nessa região? São
geralmente espaços públicos ou privados?
11. Como você avalia o nível de integração e interação das pessoas que moram no entorno do
QP?
12. Quais as implicações que a expansão do centro da cidade tem trazido para a cidade de
Montes Claros como um todo?
13. Que lições a experiência do QP pode dar em relação a contextos que geram diversidade e
vitalidade?
14. Em relação ao futuro, quais os principais desafios para o desenvolvimento do QP?
BLOCO 2 – O Empreendedor e seu Empreendimento
15. O que você fazia antes de se instalar no QP? Por que resolveu abrir um negócio aqui?
Conte um pouco de sua história (familiar, escolar, profissional, empreendedora) antes de abrir
este negócio?
16. Quando você ouve a expressão “Quarteirão do Povo”, o que lhe vem, de imediato, à
mente?
17. Em sua opinião, quais são os aspectos positivos de ter um negócio no QP? E os aspectos
negativos?
111
BLOCO 3- O Empreendimento
18. Tendo em vista sua experiência no QP, que principais ações você acha que foram
importantes para torná-lo melhor, mais atrativo? E quanto ao seu negócio, o que tem
procurado fazer para torna-lo também mais atrativo?
19. Que principais características você apontaria para que um negócio seja bem-sucedido no
QP?
20. O que os clientes mais valorizam no QP?
21. Qual o papel do proprietário – empreendedor – para que o negócio seja bem-sucedido
(postura, comportamento, atitudes, ações)?
22. O que, na sua opinião, o distingue de outros empreendimentos nessa região (atendimento,
crediário, qualidade do produto, marca, preço, beleza da loja ou outro)?
23. Que empreendimento do QP você apontaria como uma referência?
24. Que características distinguem esse empreendimento?
25. Como você avalia o relacionamento do público com os negociantes do QP?
26. Como você descreveria os consumidores do QP?
27. Os clientes atribuem maior ênfase a que aspectos (atendimento, crediário, qualidade do
produto, marca, preço, beleza da loja ou outro)?
28. Quanto ao atendimento/recepção dos clientes como você o caracteriza? (Proximidade,
formal, personalizado)?
29. Quais os maiores canais de comunicação (divulgação de produtos e serviços) o seu
empreendimento utiliza para se diferenciar da concorrência e obter vantagens competitivas?
112
30. Os clientes costumam investir/gastar em média quanto por compras em seu negócio?
(Tíquete médio).
31. Como é o seu ciclo de amizades/relacionamento, são constituídos de pessoas de quais
lugares? (Igreja, trabalho, associações)?
32. Utiliza dos contatos sociais para promover seu negócio?
33. Em relação a outros centros de compra, quais os diferenciais, semelhanças e diferenças
(Montes Claros Shopping), você destacaria em relação ao QP? Por que comprar aqui?
BLOCO 4 – Perfil Empreendedor
34. Como você começou o negócio aqui no QP? (Herança, montou sozinho, fez empréstimo
bancário).
35. Você planejou? Ou teve a ideia e já foi iniciando as atividades?
36. Que principais dificuldades você teve no começo? E hoje? Em algum momento pensou
em desistir? Comente.
37. Quando toma uma decisão de negócios, em que você se baseia? (Intuição, dados, fatos,
notícias, influência de familiares, amigos).
38. Você trabalha com objetivos e metas? Em caso afirmativo, como os traça, comente.
39. Você se considera um negociante moderado, adaptável, resistente, inovador?
40. Se você começasse hoje (do marco zero), seguiria esse mesmo negócio? O que teria feito
de diferente?
41. Como você lida com incertezas, erros, perdas e tentativas?
113
42. Qual foi a última inovação que implementou em seu negócio? Que resultados ou
aprendizados ela lhe trouxe?