A construção do social
Área de Integração
Professora: Sandra Martins
Aluno: Kevin Cardoso/2ºCISP
Viana do Castelo, 14 de Fevereiro de 2013
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Índice
Introdução ............................................................................................................................... 3
1. Sociologia e História e a construção do social ......................................................... 4
1.1. Indivíduo como sujeito histórico ....................................................................................... 4 1.2. Comunidade, sociedade e cultura ..................................................................................... 5
2. Modelos de estratificação social ao longo da história .......................................... 7
2.1. A escravatura -‐ o «lugar natural» de Aristóteles .......................................................... 7 2.2. As castas – estratificação em sociedades fechadas ...................................................... 8 3. As ordens ou estados – estratificação nas sociedades do ocidente pré-‐moderno 8 3.1. As classes sociais – estratificação nas sociedades modernas .................................. 9
4. A modernidade e a abertura à permeabilidade social ...................................... 10 4.1. O “ideário” da Revolução Francesa ................................................................................ 10 4.2. Doutrinas utopistas e socialistas dos séculos XIX e XX ........................................... 11 4.3. Revoluções sociais do século XX ..................................................................................... 12
5. Mudança social – marcos históricos significativos ............................................. 13
5.1. A construção dos nacionalismos ..................................................................................... 14 5.2. As colonizações e a construção dos impérios coloniais .......................................... 14 5.3. O desenvolvimento científico e tecnológico dos séc. XIX e XX .............................. 15 5.4. As duas guerras mundiais do século XX ....................................................................... 15 5.5. A construção da democracia ............................................................................................ 16 5.6. As descolonizações ............................................................................................................... 16
6. A relatividade dos valores – tolerância e intolerância ...................................... 17
7. Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos ...................... 19
7.1. Organização das Nações Unidas ...................................................................................... 19 7.2. Amnistia Internacional ...................................................................................................... 19 7.3. Médicos sem fronteiras ...................................................................................................... 19 7.4. AMI ............................................................................................................................................ 20 7.5. Oikos – Cooperção e Desenvolvimento ......................................................................... 20
Conclusão ............................................................................................................................... 21
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Introdução
Com este trabalho pretendo esclarecer todos os conceitos relacionados com o tema em estudo, que tem como nome “A construção social”.
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1. Sociologia e História e a construção do social
A sociologia surge da sociedade moderna no século XIX associada às várias
transformações da sociedade ocidental, e à crença que os homens são responsáveis pela
condução da sua própria vida social.
A sociologia constituiu-‐se como o “conhecimento da contemporaneidade social”
mas, sendo ao mesmo tempo a expressão privilegiada dessa modernidade, o trabalho da
sociologia foi, orientado historicamente, pois as obras dos seus fundadores – Marx,
Durkheim e Weber –, tentam encontrar explicações para analisar historicamente as
estruturas e as mudanças sociais.
• Deste modo, a análise da sociedade e mudança social implica reflectir sobre:
A multiplicidade de abordagens que foram produzidas;
• O inter-‐relacionamento entre sociologia e história, pois esta última é
construída pelos próprios indivíduos, não existindo um destino socialmente
histórico exterior à ação humana.
1.1. Indivíduo como suje ito histór ico
O termo indivíduo remete para o indivisível, para uma pessoa que é uma unidade em
si mesmo e que se define pela presença da consciência – conhecimento de algo.
Por sua vez, o termo sujeito caracteriza-‐se como aquele que está exposto a qualquer
coisa, como por exemplo, uma criança ser obrigada a aprender as regras sociais. Desta
forma, o sujeito está sempre associado a um indivíduo.
Desde o Renascimento, no séc. XV, em especial com o advento da sociedade moderna
e a desintegração das conceções religiosas, defendem-‐se novos elementos como a
subjetividade, o individualismo e a racionalidade. Tais princípios padronizam uma nova
conduta para o indivíduo em defesa da liberdade, capacitando-‐o na afirmação da sua
subjectividade, quer na sociedade quer na vida pública. Contudo, não sendo esta uma visão
consensual, gera-‐se um debate que passa pela sociologia, a história, a filosofia, etc., à volta
de duas posições extremas:
• Teorias da acção: para alguns, a realidade social é uma construção a partir da ação
dos indivíduos).
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• Estruturalismo: para outros, a evolução da sociedade é independente da vontade
dos indivíduos).
Por exemplo, para Marx, os homens fazem a sua história, mas não a fazem
livremente, sendo um produto da ação dos indivíduos, e simultaneamente condicionada
pela estrutura social. Ou seja, para Marx, o estruturalismo sobrepõe-‐se à teoria da acção,
em que os homens são sujeitos históricos, mas a sua ação principalmente coletiva e
condicionada pela estrutura social.
Para Durkheim, o sujeito é um produto da sociedade, sendo o individuo isolado uma
pura abstração. A sociedade é regida por leis de reprodução e transformação, dado
considerar que as mudanças têm uma lógica própria, independentemente das vontades
individuais e do seu uso. Durkheim tem assim, uma visão histórica independente da
vontade dos indivíduos.
Em contraposição, outros autores partem do lugar do sujeito e da subjetividade,
para analisar as estruturas sociais, considerando a realidade como uma construção a
partir da ação social dos indivíduos, que possui significado e intencionalidade – teorias da
ação. Um desses autores é Weber, que reforça a importância do ator social. Segundo ele, é
necessário compreender o significado da acção para entender os processos sociais, quer
de reprodução, quer de mudança. Porém, defende que a compreensão da sociedade e dos
processos sociais requer sempre uma análise multidimensional.
1.2. Comunidade, soc iedade e cultura
Uma comunidade é um conjunto de indivíduos com objetivos e interesses comuns
que vivem no mesmo local, organizando-‐se (por exemplo, os habitantes que vivem numa
aldeia, podem formar uma comunidade). Assim, a comunidade caracteriza-‐se por relações
internas fortes, uma grande coesão e espírito de solidariedade entre os seus membros,
face ao exterior. As comunidades ao estarem organizadas têm regras e procedimentos, aos
quais os seus membros devem obedecer, pois poderão ser expulsos. Desta forma, quando
os indivíduos estão integrados numa comunidade, deixam de lado os seus interesses
individuais, passando a defender os objetivos comuns, participando, de forma direta e
indireta, nos assuntos.
Assim, uma sociedade é um sistema de inter-‐ligações, onde os indivíduos se
envolvem coletivamente. Deste modo, ao existir interação recíproca entre os indivíduos
existe sociedade.
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Contudo, a forma como são estabelecidas as interacções ou como são criadas as suas
instituições é determinada pela cultura comum que partilham. Neste sentido, a cultura e a
sociedade são conceitos, interdependentes – nenhuma cultura pode existir sem sociedade,
como também nenhuma sociedade pode existir sem cultura.
O conceito de cultura define -‐ se como um conjunto de elementos que caracterizam
uma determinada sociedade, ou seja, abrange todos os tipos de atividade humana. Tais
elementos, que se articulam e se influenciam mutuamente, podem ser espirituais,
incluindo as crenças, os valores as normas e os costumes; ou materiais, isto é, os estilos de
vida, tais como a alimentação, o vestuário, habitação, entre outros.
Assim, a cultura é tudo aquilo que é socialmente aprendido e partilhado pelos
membros de uma sociedade, sendo que a análise dos traços culturais permitam avaliar o
tipo de organização de uma dada sociedade bem como o seu padrão de desenvolvimento.
Por exemplo, a existência de desigualdades sociais é um traço cultural comum a todas a
sociedades ate aos dias de hoje.
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2. Modelos de estratificação social ao longo da história
As desigualdades sociais são um fenómeno presente em todas as sociedades,
apresentando divisões com base no género, idade, riqueza material ou poder. O conceito
de estratificação social é utilizado pelos sociólogos para descrever as desigualdades
sociais, que significa a divisão da sociedade em camadas. Assim, a estratificação refere-‐se a
uma hierarquização humana, em que os indivíduos têm um acesso diferente às
recompensas, de acordo com a sua posição no sistema. Por exemplo, os mais favorecidos
encontram-‐se no topo, ao passo que os menos privilegiados em baixo. Desta forma, cada
camada é ocupada por indivíduos que possuem a mesma posição social, isto é, cujo
estatuto social é comparável. Ao longo da história, podem identificar-‐se quatro sistemas
básicos de estratificação:
• Escravatura;
• Castas;
• Ordens ou estados;
• Classes.
2.1. A escravatura - o « lugar natural» de Aristóte les
A escravatura consiste numa forma de desigualdade extrema, em que um indivíduo
assume direitos de propriedade sobre outro, designado assim por escravo.
Um dos primeiros filósofos a abordar a problemática da legitimidade da escravidão
foi Aristóteles, na medida em que considerava todos os homens livres por natureza, em
oposição à escravatura instituída em virtude da lei do mais forte. Assim, Aristóteles propôs
uma distinção entre escravo por lei ou natureza, pois só demonstrando a naturalidade da
escravidão, é que a mesma pode ser justificada. Desta forma, a escravidão legal apenas
será justa no caso em que escravos por lei e por natureza coincidam.
Aristóteles define o conceito de escravo como objeto de propriedade do senhor e
instrumento de produção, ou seja, um escravo é aquele que “pertence por natureza não a
si mesmo, mas a outra pessoa”. Segundo ele, desde o nascimento, que alguns estariam
destinados ao domínio, e outros à submissão. Porém, dado não existir nenhuma “marca”
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exterior capaz de distinguir o escravo natural dos outros homens, as próprias vicissitudes
da vida seriam responsáveis pela selecção do homem livre para o estado de escravidão.
O filósofo comparava a aquisição dos escravos aos animais, no sentido em que o
escravo pertence a outro, no entanto de uma forma diferente dos animais, na medida em
que estes últimos não tinham a capacidade de perceber a razão e o comando. Apesar das
várias tentativas de Aristóteles, ainda não se encontra uma definição propriamente
satisfatória para definir o conceito de “escravo por natureza”.
2 .2 . As castas – estrat if icação em sociedades fechadas
As castas são grupos sociais organizados na hierarquia social por grau de pureza
religiosa, ou seja, a estrutura e a hierarquia social justificam-‐se pelo sistema religioso.
O sistema de castas mais conhecido é o da Índia, em que o estatuto do indivíduo
passa de pai para filho, ou seja, é um agrupamento social hereditário. Desta forma, as
castas caracterizam-‐se pela endogamia, em que as pessoas só podem casar com pessoas da
mesma casta. As castas indianas estão relacionadas com o hinduísmo: acredita-‐se que os
indivíduos que não vivam de acordo com os deveres e rituais da sua casta renascerão
numa posição inferior na próxima encarnação.
Desta forma, ao código completo de relações sociais, bem como todo um modo de
vida é definido pela pertença a uma casta. Pode ainda afirmar-‐se, que as castas
representam uma sociedade onde os papéis e funções são atribuídos a cada um, para toda
a sua vida, sendo transmitida de geração em geração. Tal significa que os membros de cada
casta não podem descer ou subir na hierarquia social, ou seja, as castas são sociedades
fechadas.
3 . As ordens ou estados – estrat if icação nas sociedades do
ocidente pré-moderno
Entre o século XIV e XVIII, a hierarquia baseava-‐se nos princípios da superioridade
do serviço a Deus e do serviço de armas. Desta forma, existem três ordens hierarquizadas,
divididas em subordens igualmente hierarquizadas: o clero, a nobreza e o 3º Estado
(povo).
Cada uma das ordens diferenciava-‐se das outras por possuir um código de leis
próprias, que lhes concediam privilégios (no caso do clero e da nobreza) e ainda, deveres e
direitos para o povo (servos mercadores e artesãos).
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Estas ordens assemelham-‐se muito às castas, no entanto são mais abertas, na
medida em que a mobilidade social ascendente é difícil, porém não impossível.
Por sua vez, as ordens privilegiadas caracterizam-‐se por grupos fechados, nos quais,
excecionalmente, se deixa entrar alguém (por exemplo, quando a filha de um rico casava
com um nobre, tornava-‐se assim membro da nobreza). Assim, as desigualdades sociais
eram resultado da aceitação dos direitos e deveres hereditários, mantidos pelas ordens e
pelo Estado. Porém, esta estrutura social tinha um fundamento jurídico baseado em
documentos, para além de assentar nesse conjunto de costumes. Desta forma, até ao
século XVIII, a nobreza, o alto clero e a Coroa repartem o poder numa estrutura social
estável graças a uma série de vínculos:
-‐ Tradicionais (aceitação dos costumes);
-‐ Jurídicos ou legais (direitos senhoriais);
-‐ Político-‐sociais (monopólio de altos cargos);
-‐ Económicos (vinculação das propriedades rurais).
3 .1 . As c lasses sociais – estrat if icação nas sociedades
modernas
A partir do século XVIII, a Revolução Industrial e o desenvolvimento do capitalismo
provocam transformações significativas na estruturação e organização das sociedades. A
industrialização, associada ao aparecimento da produção mecanizada baseada no uso de
recursos energéticos inanimados, tais como o vapor e a electricidade, produziu efeitos a
vários níveis:
→ A maioria da população ativa passou a trabalhar em fábricas;
→ A população concentrou-‐se nas cidades, levando ao seu desenvolvimento;
→ As organizações em grande escala, como o Estado, passaram a influenciar mais
directamente a vida populacional.
Deste modo, o poder económico passa a estar na posse de um novo grupo social, a
burguesia, que diz respeito a indivíduos ligados ao comércio, à indústria ou à finança.
Assim, o sistema de estratificação transforma-‐se, dado que a determinação social de um
indivíduo passa a ser determinada pela posse ou propriedade de recursos económicos,
designando-‐se agora os novos estratos sociais por classes sociais. As classes sociais
servem para designar grupos de indivíduos que partilham recursos semelhantes, podendo
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ser económicos, culturais, sociais e/ou simbólicos. A distinção entre as classes sociais e as
formas anteriores de estratificação é visível nos seguintes níveis:
→ As classes não são estabelecidas por disposições legais ou religiosas, ou seja, os
seus membros não herdam uma posição de classe, nem ascendem pelo costume ou
pela lei;
→ A mobilidade social é maior, uma vez que o estatuto do indivíduo pode ser
alcançado, não existindo restrições legais aos casamentos entre indivíduos de
classes diferentes;
→ Os factores de ordem económica passam a determinar a pertença a uma classe
social, ao invés dos religiosos, legais e tradicionais;
→ A pertença a uma classe não impõe um sistema de relações pessoais de dever ou de
obrigação.
4. A modernidade e a abertura à permeabilidade social
4.1. O “ ideár io” da Revolução Francesa
Apesar da consolidação do capitalismo e do poder económico detido pela burguesia,
a nobreza continuava a ter prestígio social e a possuir o poder político, ou seja, o regime
político era absoluto e monárquico.
Segundo o filósofo inglês Lock, que criticava o absolutismo, a propriedade privada
era um direito natural dos homens, concedido por Deus, como fruto do seu trabalho. Por
sua vez, o Estado deveria garantir esse direito.
Esta teoria legitimava assim:
→ A existência das desigualdades com base na propriedade dos recursos económicos;
→ O sangue e a hereditariedade da nobreza deixavam de ser as únicas fontes de
legitimação do poder, sendo a burguesia detentora desses recursos.
Desta forma, a propriedade concebida como um direito natural, livre de quaisquer
encargos, foi um dos pilares da Revolução Francesa, juntamente com a defesa da liberdade
e da igualdade. Assim, o Artigo 17º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de
1789 consagrou a propriedade como um direito inerente à natureza humana.
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4.2. Doutr inas utopistas e soc ial istas dos séculos XIX e XX
Entre os séculos XVIII e XIX, as mudanças económicas e sociais são muito grandes:
→ Agrupam-‐se os donos das indústrias, passando a constituir a elite que também
domina a política;
→ Cada vez em maior número, os trabalhadores das fábricas constituem uma nova
classe, o proletariado operário.
No início da industrialização foram cometidas muitas injustiças e violados os mais
elementares direitos humanos, sendo que a constatação dessas desigualdades sociais
levou ao aparecimento de concepções sociais e políticas que o criticavam enquanto
sistema produtor de perigosas desigualdades sociais e defendiam uma repartição mais
equilibrada da riqueza. Por oposição à situação de desigualdade, estas concepções
defendiam que a evolução humana deveria caminhar no sentido de uma maior igualdade
entre cidadãos e solidariedade cívica.
Estas primeiras correntes surgem como um impulso ético de combater a injustiça
social, conhecidas como as doutrina do Socialismo Utópico. Os primeiros projetos
programáticos foram iniciativas voluntárias, destacando-‐se as seguintes:
→ Robert Owen (1771-‐1858), um industrial defensor das ideias de emancipação dos
operários e de cooperação, defendia a garantia da “harmonia entre a sociedade e a
natureza”. Owen defendia, que o Estado devia intervir no processo de produção
através de legislação adequada, e responsabilizar os patrões em remediar a
situação de miséria dos trabalhadores. Defendia ainda, a abolição da propriedade
privada e a constituição de cooperativas operárias.
→ Saint-‐Simon (1760-‐1825) defendia que o Estado deveria ser dirigido por uma elite
esclarecida de sábios, engenheiros e industriais, bem como a reorganização da
economia, a fim de garantir uma maior justiça social.
→ Proudhon (1809-‐1865) denuncia os malefícios da propriedade privada, apesar de
aceitar as pequenas propriedades individuais. O seu pensamento libertário
defendia a organização voluntária e mutualista dos oprimidos para lutarem pela
igualdade e contra as raízes da injustiça, como a propriedade.
Assim, começa a desenvolver-‐se a organização “científica ” do movimento – o
Socialismo Científico – que corresponde à tentativa de compreender os fenómenos sociais,
numa perspectiva evolutiva, e necessária, no sentido da justiça social.
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K. Marx (1818-‐1883) e F. Engels (1820-‐1895) consideram impossível colocar essas
doutrinas em prática. Ambos redigem o “Manifesto do Partido Comunista” (1848), onde
defendem que os progressos técnicos levam a uma incompatibilidade entre o
desenvolvimento das forças produtivas e a forma capitalista da sua utilização. Assim, as
contradições sociais e a luta de classes determinariam o fim do modo de produção
capitalista, cabendo ao proletariado a função decisiva nessa transformação.
Desta forma, os antagonismos que defendiam as sociedades industriais seriam
utilizados para que as transformações se tornassem inevitáveis, atribuindo
progressivamente às classes oprimidas, a consciência do seu papel histórico. Assim, o
capitalismo daria origem ao socialismo, o que corresponderia a uma perpétua
transformação das sociedades humanas – visão determinista da história.
K. Marx e F. Engels defendiam que todos os trabalhadores se deveriam unir,
revoltando-‐se e impondo uma ditadura do proletariado. A exploração capitalista
terminaria com a expropriação dos proprietários, construindo-‐se uma sociedade sem
classes e sem Estado – a sociedade comunista.
4.3. Revoluções sociais do século XX
A primeira experiência histórica de um regime socialista correspondeu à Revolução
Russa de 1917, sendo que os bolcheviques chegaram ao poder, liderados por Lenine
(1870-‐1924). O modelo soviético conjeturava uma economia de direção central, baseada
na existência de uma autoridade que decidia sobre a distribuição de recursos, a fim de
satisfazer as necessidades colectivas. Deste modo, o Estado dirigia a economia através de
um Plano, onde eram definidos os objectivos de produção e de consumo.
O regime soviético tentou alargar a sua influência política à Europa, sendo que após
a 2ª Guerra Mundial (1945), com a partilha da Europa em duas zonas geográficas –
Estados Unidos e União Soviética – passou a influenciar os países da Europa Central e
Leste. Porém, também fora da Europa foram realizadas Revoluções comunistas nacionais:
• A revolução socialista chinesa em 1949, sob a direcção de Mao Zedong (1893-‐1976),
onde o modelo com um forte sentido pragmático sobreviveu à morte do seu
fundador e à queda do regime soviético.
• A revolução cubana, lançada por Fidel de Castro (1927) e Ernesto Che Guevara
(1928-‐1967), onde ainda hoje procura manter fidelidade aos princípios do
socialismo e colectivismo.
Porém, como poderia haver um único país a seguir um sistema diferente? Como
poderia a Rússia ser a ilustração do determinismo histórico, dado o seu regime capitalista
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encontrar-‐se num grau de desenvolvimento menos avançado do que o de outros países
ocidentais?
Deste modo, no inicio dos anos 20 do século passado, esta experiência teve como
consequência cisões no seio dos partidos da Associação Internacional dos Trabalhadores:
→ Os Partidos Comunistas, na experiência soviética;
→ E por outro lado os Partidos Socialistas e Social-‐Democratas, que se mantiveram
fiéis à lógica liberal e ao parlamentarismo no funcionamento das instituições
politicas.
Este socialismo reformista marcou-‐se pelo modelo soviético, defendendo assim que
o voto democrático e livre e a expressão dos movimentos da sociedade permitiriam obter
reformas que, anteriormente, teriam exigido insurreições sangrentas. O sufrágio universal
ajudaria, assim, a reforma gradual do capitalismo e a sua superação.
De ponto de vista liberal e democrático foi adoptado na Europa pelo movimento
trabalhista Britânico e pelos partidos sociais democratas, este ponto de vista adaptou-‐se
às mudanças sociais ocorridas durante século XX.
A decomposição do regime Soviético e a desintegração do seu bloco de influência foi
iniciado em 1989 com a queda do Muro de Berlim, o que levou à independência dos
estados pertencentes à URSS, à autonomização dos países das sua esfera da influência
(Checoslováquia, Polónia, etc) e à reunificação da Alemanha.
Daqui em diante, estes países aproximaram-‐se do modelo ocidental democrático e
capitalista, afastando-‐se assim do socialismo.
5. Mudança social – marcos históricos significativos
Hoje em dia é possível olhar para o passado e questionar as razões que terão
levado às constantes mudanças que aconteceram e que continuam a alterar a sociedade. A
resposta a esta questão reside no processo de industrialização. É possível notar a grande
diferença entre as sociedades industrializadas e as sociedades anteriores, visto que, as
primeiras concentram a maior parte da população nas cidades trabalhando em fábricas,
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bancos, escritórios, etc, e que a evolução dos transportes aproximou as populações e
integrou os espaços.
Outro aspecto onde existiram grandes alterações foi no sistema político, visto que,
se passou de uma monarquia absoluta para um estado democrático.
O acontecimento mais marcante para a evolução da sociedade moderna foi a
Revolução Industrial, à qual estão associados outros acontecimentos como:
ü A construção dos nacionalismos;
ü As colonizações e a construção dos impérios coloniais;
ü O desenvolvimento científico e tecnológico dos séculos XIX e XX;
ü As duas grandes guerras mundiais do séculos XX;
ü A construção da democracia;
ü As descolonizações.
5.1. A construção dos nacional ismos
O nacionalismo, teoria política que surge no século XIX, defende que cada nação
deve dispor do seu próprio Estado, quer isto dizer que os indivíduos que integrem a
mesma cultura, e que reconheçam, deverão integrar o mesmo Estado, pois a sua tradição
cultural é tão valiosa que é necessário defende-‐la através da criação e ampliação do
próprio Estado.
A definição das fronteiras permitiu que o Estado passasse a deter um poder e
soberania exclusivos sobre determinado territórios determinada população, ou seja, que
passasse e constituir um Estado-‐Nação.
Os estados-‐Nação surgem com as sociedades industriais, pois só nelas é possível
constituir comunidades nacionais mais próximas.
5.2. As colonizações e a construção dos impérios coloniais
A partir do século XVII, os países europeus começaram a estabelecer colónias em áreas de todo o mundo, algumas delas até aí ocupadas por sociedades tradicionais.
A colonização foi fundamental para o desenvolvimento das potências europeias, em especial a Inglaterra, pois permitiu-‐lhe a acumulação da capital necessária para a continuação
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do seu desenvolvimento industrial. Isto porque as colónias têm uma dupla função: fornecerem matérias primas para a industria e funcionavam como mercado para os produtos industriais.
A colonização contribuiu também para a divulgação dos modos de vida ocidentais
a todo o mundo.
Na definição do mapa social do globo, o colonialismo foi fundamental para dividir as
várias regiões:
• Zonas industrializadas – regiões habitadas por pequenas comunidades (Estados
Unidos, Nova Zelândia e Austrália), onde a população europeia constituía a maior
parte da população e depois foi alcançada a independência.
• Países em desenvolvimento – regiões nas quais a população europeia era uma
minoria e onde o desenvolvimento industrial foi reduzido.
5.3. O desenvolvimento c ientíf ico e tecnológico dos séc . XIX e XX
O crescente desenvolvimento da ciência promove a constante inovação dos meios
tecnológicos de produção, característicos da industria moderna.
Nos séculos XIX e XX o desenvolvimento científico e desenvolvimento tecnológico
atingiram níveis sem precedentes tendo desta forma um grande impacto na economia, na
política e na cultura, visto que, o desenvolvimento científico e tecnológico deu origem a
novas formas de comunicação, como por exemplo a rádio, a televisão, internet e os
telemóveis, que vieram alterar a esfera cultural.
5.4. As duas guerras mundiais do século XX
Além da sua utilização no processo de expansão, o poder militar dos países
ocidentais foram também aplicados nas duas grandes guerras mundiais do século XX.
Estes funestos acontecimentos tiveram consequências devastadoras, visto que, por
exemplo na 2º Guerra Mundial foram mortos pelo regime nazi de Hitler. Além disso, a 2º
Guerra Mundial deu origem a alterações a nível nacional e internacional:
⇒ A nível nacional – reconstrução económica e política dos países derrotados
(Alemanha e Japão), nos quis são implementados regimes democráticos;
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⇒ A nível internacional – criação da ONU, cujo o objectivo é manter a paz em todo o
mundo e assegurar o equilíbrio entre os povos tentando por fim a hegemonia
mundial da Europa.
5.5. A construção da democracia A democracia surgiu ligada à Revolução Francesa e ao progresso do capitalismo.
Na democracia, o povo é quem governa, quer diretamente – democracia direta –
quer transversalmente à eleição de representantes, aos quais é incumbido o poder e
autoridade – democracia representativa.
Atualmente, quase todos os países são democracias liberais. A sua expansão deve-‐
se ao facto dos outros regimes políticos terem falhado, sendo, até ao momento, a melhor
forma de organização política. Por outro lado, o progresso dos meios de comunicação
social, especialmente a televisão e a internet, permite que maior parte da população tenha
rápido acesso à informação, o que dificulta o controlo por parte do Estado,
impossibilitando-‐lhe o recurso a formas de poder mais autoritário.
Não obstante, apesar da expansão dos regimes democráticos é cada vez mais
comum as pessoas demonstrarem-‐se desiludidas com as instituições democráticas,
expressando essa desilusão através da abstenção aos atos eleitorais.
5.6. As descolonizações Os países europeus colonizaram diversas partes do mundo. Algumas colónias
tornaram-‐se independentes durante o século XIX.
Contudo, apenas posteriormente à 2ª Guerra Mundial maior parte dessas colónias se
tronou independente, nomeadamente na Ásia e em África, maioritariamente, na sequência de
luas anticolonialistas sangrentas.
Grande parte desses países, especialmente os africanos, compõem atualmente as
sociedades em desenvolvimento e englobam os países mais pobres do mundo. As condições
de vida das suas populações têm-‐se corrompido, o que faz com que um grande número de
pessoas vivam em situação de extrema pobreza. A agricultura continua a principal atividade
económica, todavia, as cidades desenvolveram-‐se rápida e desordenadamente.
A situação destes países não pode ser explicada afirmando apenas que eles se
deixaram atrasar em relação às regiões mais desenvolvidas e industrializadas. Com efeito, uma
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possível causa deste atraso será o facto de a colonização europeia ter minado os sistemas
económicos tradicionais sem ter implementado um modelo económico alternativo.
6. A relatividade dos valores – tolerância e intolerância
Do latim, tolerância significa «ato de tolerar, ou seja de suportar». Esta palavra
possui diversos significados, nomeadamente quando aplicável pela medicina, tem como
significado a capacidade de o organismo resistir a determinados medicamentos. Noutra
perspetiva, neste caso, social e humana, esta palavra significa a tendência para permitir
formas de pensar, sentir e de agir diferentes das nossas, o que significa que uma atitude
tolerante será aquela que declara que todos têm direito a ter e de manifestar as suas
opiniões, mesmo quando estas são divergentes às nossas.
Evidentemente, existem limites à tolerância, quando esta, por exemplo não se
aplica ao conhecimento científico, pois não se pode ser tolerante com erros científicos,
uma vez que a ciência só progride corrigindo os seus erros; por outro lado, não se pode
assumir um caráter universal e absoluto como por exemplo em relação ao regime de Hitler
na Alemanha nazi, não faria sentido ser-‐se tolerante.
Por outro lado, a intolerância corresponde a atitudes que não respeitam as
diferenças dos outros, ou seja, as suas perspetivas e opiniões, as suas caraterísticas físicas
e/ou culturais, etc. Por vezes, a intolerância é baseada em preconceitos que se fazem
notar, regra geral, sob forma de discriminação.
A intolerância religiosa resulta da não aceitação de crenças e de práticas religiosas
dos outros.
Na Antiguidade, os primeiros cristãos foram perseguidos por judeus e pagãos. Na
Idade Média foram os judeus e todos aqueles que praticavam outras religiões e até mesmo
mulheres consideradas feiticeiras foram alvo de perseguições levadas a cabo pelo tribunal
da Inquisição
No século XVI, a separação da igreja católica conduziu ao aparecimento das igrejas
protestantes (luteranos, anglicanos, calvinistas, etc.) – Reforma. Posteriormente, a igreja
católica reagiu à separação, reorganizou-‐se e reafirmou as suas diferenças relativamente
aos protestantes – Contra-‐Reforma.
As preocupações com a tolerância religiosa foram expressas por pensadores e
filósofos que insistiram para que católicos e protestantes começassem a praticar a
tolerância, em vez de se envolverem em conflitos contra quem consideravam cismáticos
ou hereges.
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A divulgação dessas doutrinas iniciou o caminho para que no século seguinte a
implantação do Estado secular ganhasse força.
Desta forma, a Revolução Francesa (1789), sagrou a separação do Estado da Igreja,
ou seja, proclamou o Estado secular, o que consentiria a existência e convivência,
subordinada ao mesmo governo.
Porém, as perseguições religiosas não cessaram, tendo atingido níveis nunca antes
vistos na História, durante o século XX, quando os nazis desenvolveram sistemas
industriais de extermínio em massa, expelindo milhões de judeus e outras etnias
indesejadas pelo regime do Holocausto nazi.
Nos dias de hoje, os tumultos religiosos perduram, tendo a Organização das Nações
Unidas (ONU) validado, a 25 de Novembro de 1981, a Declaração sobre a eliminação de
todas as formas de intolerância e discriminação fundadas na religião ou nas convicções.
Esta declaração fundamenta-‐se pelo facto do desprezo e da violação dos direitos e
das liberdades fundamentais, particularmente, o direito a liberdade de pensamento, de
consciência, de religião ou de qualquer convicção, terem causado guerras e grandes
sofrimentos à Humanidade, principalmente nos casos em que sirvam de meio de
intromissão estrangeira nos assuntos internos de outros Estados e serem o mesmo que
aliciar o ódio entre os povos e as nações. Neste sentido, são, uma vez mais, reiterados os
princípios de não discriminação e de igualdade perante a lei e o direito à liberdade de
pensamento, de consciência, de religião ou de convicção.
Atualmente, para além dos desacatos religiosos, têm eclodido outros focos de
intolerância:
• O colonialismo, e mais recentemente, as migrações internacionais tem
conduzido a situações de intolerância como a xenofobia e o racismo;
• Conflitos político-‐religiosos conduzidos ao limite, como é exemplo o do
terrorismo.
A legislação dos Estados nacionais culmina a aplicação de leis contra quem pratica
atos violentos de intolerância. Porém, coloca-‐se a questão de saber qual o grau de
intolerância que um governo deve aceitar uma manifestação de intolerância.
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7. Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos
De entre as organizações internacionais que fomentam a defesa dos direitos
humanos evidencio as seguintes:
• Organização da Nações Unidas;
• Amnistia Internacional;
• Médicos sem fronteiras;
• AMI (Assistência Médica Internacional);
• Oikos.
7.1. Organização das Nações Unidas É uma instituição internacional, fundada após a 2ªGuerra Mundial, com o intuito de
manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, suscitar
o avanço social, melhorar os padrões de vida e defender os direitos humanos.
7.2. Amnist ia Internacional Nasceu em Maio de 1961, defende uma visão de mundo em que cada indivíduo
disfruta de todos os Direitos Humanos consagrados na Declaração Universal do Direitos
Humanos e noutros padrões internacionais de Direitos Humanos.
7.3. Médicos sem fronteiras Organização internacional não governamental, sem fins lucrativos, que tem como
finalidade proporcionar assistência médica de urgência em ocasiões como conflitos
armados, catástrofes naturais, epidemias e fome.
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7 .4 . AMI Foi criada com os mesmos objetivos que os Médicos sem fronteiras. É uma
organização não governamental portuguesa que aglomera médicos, profissionais de saúde
e outros voluntários que aceitem o princípio de socorrer todas as vítimas de catástrofes
naturais, acidentes coletivos e situações de guerra, sem discriminação de raça, política,
religião, filosofia ou posição social.
7.5. Oikos – Cooperção e Desenvolvimento ONG portuguesa fundada a 23 de fevereiro de 1988, sendo reconhecida
internacionalmente como uma organização não governamental para o desenvolvimento.
A sua missão baseia-‐se em motivar a cooperação e solidariedade para o desenvolvimento
humano e sustentável das regiões e países mais desfavor