UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ANDERSON MARKENWSKI
Trabalho de Iniciação Científica VIABILIDADE DA EXPORTAÇÃO DE
CACHAÇA DE LUIS ALVES PARA ALEMANHA
ITAJAÍ 2014
ANDERSON MARKENWSKI
Trabalho de Iniciação Científica VIABILIDADE DA EXPORTAÇÃO DE
CACHAÇA DE LUIS ALVES PARA ALEMANHA
Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientador: Prof. MSc. Júlio Cesar Schmitt Neto
ITAJAÍ 2014
Agradeço aos meus pais Celso e
Paulina que sempre souberam mostrar a importância do estudo e
seguir em frente na busca do objetivo.
Aos meus Avós Leonardo e Maria
Madalena, Mariano e Maria que foram exemplo de dedicação e amor
à vida.
À Giovana da Costa que sempre esteve ao meu lado nessa
caminhada, me apoiando e incentivando.
Ao Professor e Orientador Júlio
Cesar Schmitt Neto, pela paciência e dedicação em querer ajudar que
cumprisse mais um grande objetivo de minha vida.
“A vida me ensinou a nunca desistir, nem ganhar, nem perder, mas
procurar evoluir“.
(Chorão)
EQUIPE TÉCNICA
a) Nome do estagiário Anderson Markenwski b) Área de estágio Sistemática de Comércio Exterior: Exportação c) Orientador de conteúdo Prof. MSc. Júlio Cesar Schmitt Neto d) Responsável pelo Estágio Profª MSc. Natalí Nascimento
RESUMO
No mercado mundial as negociações entre países vêm crescendo, elevando o comércio internacional. O Brasil se destaca pela diversidade cultural e de seus produtos e dentre eles está a cachaça, conhecida como um produto tipicamente brasileiro. Como objetivo, o presente estudo verificou a viabilidade na exportação da cachaça produzida na cidade de Luís Alves para Alemanha, que atualmente é o principal consumidor da cachaça exportada pelo Brasil, destacando as normas exigidas pelas partes, assim como aspectos comerciais e viabilidade logística. Este estudo teve caráter qualitativo, fundamentado por meios bibliográficos, sendo uma pesquisa descritiva e exploratória. Os resultados apontados são satisfatórios, visto que se pode analisar o mercado alemão com seus costumes e formas de consumir a cachaça, indicando as principais empresas comercializadoras no Brasil e na Alemanha. O mercado da cachaça artesanal e industrial se distingue pela forma de uso. Por isso, a cachaça pode ser comercializada em diferentes países, como a Alemanha, principalmente do tipo industrial. Por isso, a exportação para a Alemanha da cachaça de Luís Alves produzida de forma artesanal não se torna viável. Palavras-chave: Exportação. Cachaça. Luís Alves.
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1 – Principais Países Importadores de Cachaça..................................... 30
Tabela 2 – Exportação de Cachaça por Estado Brasileiro.................................. 31
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 1.1 Objetivo geral ................................................................................................... 9 1.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 9 1.3 Justificativa da realização do estudo ................................................................ 9 1.4 Aspectos metodológicos ................................................................................. 10
1.5 Técnicas de coleta e análise dos dados ......................................................... 11
2 COMÉRCIO INTERNACIONAL ......................................................................... 12
2.1 Exportação ..................................................................................................... 14 2.2 Exportações brasileiras .................................................................................. 15 2.3 Documentos de uma exportação .................................................................... 18 2.3.1 Fatura Proforma ou Pro Forma Invoice ....................................................... 18 2.3.2 Fatura Comercial (Commercial Invoice) ...................................................... 19
2.3.3 Registro de Exportação ............................................................................... 19 2.3.4 Nota Fiscal .................................................................................................. 20 2.3.5 Romaneio de Embarque (Packing List) ....................................................... 20
2.3.6 Conhecimento de Embarque ...................................................................... 21
2.3.7 Contrato de Câmbio .................................................................................... 21 2.3.8 Apólice de Seguro ....................................................................................... 22
2.3.9 Certificado Sanitário/Fitossanitário.............................................................. 22 2.3.10 Certificado de Origem ................................................................................. 23
3 A EXPORTAÇÃO DE CACHAÇA ...................................................................... 24 3.1 As exportações brasileiras de cachaça .......................................................... 29 3.2 Normas e tratamento administrativo para exportação de cachaça ................. 32
3.3 Aspectos comerciais ....................................................................................... 33 3.4 Viabilidade logística para a exportação .......................................................... 35 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS ...................................................................... 44
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1 INTRODUÇÃO
Na busca pela inserção em novos mercados onde produtos podem ser mais
competitivos e lucrativos, a exportação vem se destacando nas últimas décadas, em
virtude das transformações na economia mundial.
O Brasil exporta uma grande gama de produtos, e dentre àqueles
considerados típicos do país, está a cachaça.
A cachaça é uma bebida feita a partir da fermentação e destilação do melaço
proveniente da cana de açúcar. A aguardente de cana é a terceira bebida destilada
mais consumida no mundo e a primeira no Brasil. (AGEITEC, 2013).
A grande concentração na produção de cachaça se encontra na região
sudeste, seguida do nordeste. O estado de Santa Catarina tem pequena
representação no cenário nacional.
Luis Alves, cidade localizada no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, além de
ser a segunda maior produtora de banana do estado, destaque pela qualidade de
suas verduras, do arroz e de outras culturas, é considerada a capital catarinense da
cachaça. (PORTAL DO TURISMO, 2013).
Segundo informações do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a Alemanha
é o maior importador de cachaça brasileira. Em 2011 as exportações cresceram 6%,
representando 3 milhões de litros de aguardente de cana consumidos pela
Alemanha. (REPRESENTAÇÕES.., 2013).
Outros países como Estados Unidos, Portugal, França e Paraguai vem se
destacando como potênciais consumidores da cachaça produzida no Brasil.
Com uma produção crescente, a cachaça tem despertado o interesse de
alguns produtores para o seu comércio no mercado mundial. Porém, é necessário
saber se este produto possui viabilidade de exportação.
Com intuito de abrir novos mercados onde o produto possa ter maior valor
agregado e visibilidade, este trabalho visa verificar a viabilidade da exportação da
cachaça produzida em Luis Alves para a Alemanha.
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1.1 Objetivo geral
Verificar a viabilidade da exportação de cachaça produzida em Luis Alves/SC
para Alemanha.
1.2 Objetivos específicos
Apresentar as normas e tratamento administrativo para a exportação da
cachaça.
Verificar os aspectos comerciais relacionados à exportação de cachaça
para a Alemanha.
Apresentar a viabilidade logística da exportação da cachaça.
1.3 Justificativa da realização do estudo
Este estudo de viabilidade da exportação de cachaça produzida em Luis
Alves tem o intuito de mostrar os principais elementos que participam do processo
de comercialização de um produto no mercado internacional, levando em
consideração mercado consumidor, preços e exigências.
A partir deste estudo, empresas do ramo da região poderão se beneficiar com
as informações levantadas neste para a tomada de decisão de uma possível
exportação de seus produtos.
Para a Universidade este trabalho poderá servir como fonte de pesquisa para
outros acadêmicos.
Como acadêmico, este trabalho foi de grande importância, pois como
luisalvense será possivel mostrar a possibilidade de elevar os produtos produzidos
pela região ao nível internacional.
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Empresas em interesse em exportar seus produtos, com esse estudo,
poderão analisar a viabilidade. E a viabilidade de elaboração deste estudo poderá
influenciar no mercado produtor, gerando maior confiabilidade.
1.4 Aspectos metodológicos
Neste item apresenta-se a metodologia para o desenvolvimento desta
pesquisa, descrevendo a caracterização do estudo, procedimento para a coleta e
análise dos dados.
A abordagem deste estudo teve caráter qualitativo, pois, segundo Silva e
Menezes (2000, p. 20)
[...] a pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito não pode ser traduzida em números. A interpretação dos fenômenos e atribuição de significados são básicos no processo qualitativo. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. O processo e o seu significado são os focos principais de abordagem [...].
A pesquisa se fundamentou por meios bibliográficos, neste tipo de pesquisa
“[...] o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as
teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a
compreender ou explicar o problema objetivo da investigação.”. (KOCHE, 2003, p.
122).
O objetivo da pesquisa é descritivo e exploratório. O estudo descritivo é
aquele que habitualmente realizam os pesquisadores sociais visando a atuação
prática. (GIL, 1995).
“A pesquisa exploratória é dada à descoberta de práticas ou diretrizes que
precisam modificar-se e na elaboração de alternativas que possam ser substituídas.”
(OLIVEIRA, 1997, p.134).
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1.5 Técnicas de coleta e análise dos dados
A pesquisa foi efetuada através de estudos e coleta de dados por meios
bibliográficos em livros, sites, além de um levantamento de informações mediante
entrevista em março de 2014 com o proprietário da cachaçaria Wruck de Luis Alves
referente ao tema em questão.
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2 COMÉRCIO INTERNACIONAL
Servindo como base para uma melhor compreensão sobre o tema, neste
capítulo serão abordados informações históricas, teóricas e técnicas relacionadas ao
comércio internacional.
Conforme Labatut (1920, p. 93) “O comércio internacional objetiva o bem-
estar dos povos através do aumento de sua renda real propiciada pelo comércio”.
O comércio internarcional teve início com a civilização dos fenícios, a mais de
2000 anos antes de Cristo e tem sua história diretamente “[...] ligada aos momentos
importantes da humanidade, os quais registram profundas transformações nas
sociedades, culminando com o que hoje se chama globalização”, conforme Santana
e Almeida (2007, p. 6).
Para Labatut (1920, p.93)
Sob a motivação do interesse das trocas, surgiria o aumento da produção de bens em cada país, do qual gozasse de vantagem competitiva, e diminuiria a produção dos bens que possuíssem desvantagem comparativa. Esse fenômeno é chamado no comércio internacional “efeito-produção”.
Inicialmente as comercializações já eram ligadas ao mar, desenvolvendo
como principal transporte o marítimo. Para firmar acordos de circulação os fenícios,
árabes, egípcios, romanos e gregos se reuniam em feiras, caravanas e mercados,
evoluindo assim o direito dos mercadores no período medieval. (SANTANA E
ALMEIDA, 2007).
Sua gradual modernização ganhou forma a partir da Revolução Industrial,
quando as economias nacionais deram abertura às transações comerciais
internacionais, incentivando a entrada de capital externo direcionado, em especial
para setores protegidos das importações através da elevação de tarifas, estimulando
as exportações. (REGO, 1979).
Outro grande marco na história da humanidade foi a Segunda Guerra
Mundial, tornando-se o grande propulsor do desenvolvimento econômico mundial,
através da redução das barreiras tarifárias patrocinadas pelo Acordo Geral Sobre
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Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade-GATT) (SANTANA E
ALMEIDA, 2007).
Nos séculos XV e XVI as práticas mercantilistas assumiram duas formas
principais: o monopolismo de exportação, em que os estados impuseram práticas de
política-econamica comuns de forma protecionista.
Conforme Falcon (1981, p. 83) “[...] tal prática atendia aos interesses
fiscalistas do estado, mas correspondia também, ao menos nessa época, às
perspectivas dos grandes comerciantes, que assim podiam defender os seus lucros
de monopólio e organizar melhor os transportes [...]”.
Já o monetarismo está ligado a descoberta do Mundo Novo com o fluxo de
metais preciosos e o início da exportação colonial.
A década de 1970 marcou uma nova fase da economia mundial, com o
aparecimento das Restrições Não Tarifarias – RNT, criadas pelos países
desenvolvidos com objetivo de proteger a concorrência externa gerada pelos países
emergentes. Estes impulsionados pelo choque do petróleo, oscilações das taxas de
juros, rompimento do sistema de taxas de câmbio fixo e o aumento da mobilidade de
capital. (SANTANA E ALMEIDA, 2007).
A crise da dívida externa deu início aos anos de 1980 comprometendo as
transações internacionais, voltando a crescer a partir de meados da década e
mantém o crescimento até os dias atuais.
São mais de dois séculos de crescimento do comércio internacional e, neste
inicio do século XXI, os países estão muito mais integrados em termos do comércio
de bens e serviços, fluxos financeiros e de investimentos direto. Esse é o fenômeno
denominado “globalização dos mercados” (R7, 2013).
Um dos últimos acontecimentos que influenciaram todo a economia mundial,
foi a crise de 2008, tendo início pelo setor imobiliário nos EUA, onde bancos
ofereciam financiamentos de alto risco em excesso e baixas taxas de juros,
estimulando as compras. Em 2005 a taxa de juros aumentou no intuito de reduzir a
inflação, os preços dos imoveis cairam, impedindo o refinaciamento para clientes de
alto risco, que acabaram se tornando inadimplentes em grande número. Renegociar
se tornou impossível, causando um efeito dominó em todo o sistema financeiro
internacional, aumentando o problema que em 2008 teve seu ápice, causando
prejuízos de milhões de dólares e a falência de muitas instituições bancárias.
(RESUMO, 2008).
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Nesse momento os governos começaram a injetar dinheiro em algumas
intituições e outros bancos em melhores condições compraram intituições que
estavam quebradas. Após esse período os bancos começaram a cobrar taxas de
juros mais altas evitando novos calotes, mas impedindo a expansão de economias,
empresas deixam de investir diminuindo o número de empregos afetando todo o
mercado internacional. (RESUMO, 2008).
Além da história do comércio internacional, deve-se destacar sua importância
para um mercado altamente globalizado e cheio das diferenças, sejam culturais,
políticas, religiosas, entre outras.
O comércio internacional se faz necessário quando há “[...] impossibilidade de
uma região ou país produzir vantajosamente todos os bens e serviços de que os
seus habitantes tenham necessidade”, devido a aspectos como clima, geografia,
recursos naturais e técnicas de produção. (RATTI, 2006).
O evolução no comércio internacional do Brasil se comprova através da
melhoria em muitos aspectos da sua política de comércio exterior, como a
participação e inserção no bloco das quatro maiores economias emergentes do
planeta, o BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no G20 e em sua
solidificação como um dos maiores exportadores mundiais de commodities.
(VAZQUEZ, 2009).
2.1 Exportação
A exportação pode ser definida como a saída de bens e serviços do território
aduaneiro. (BRASIL, 2013a).
A exportação proporciona oportunidade de novos negócios e auxilia a
evolução do comércio em muitos aspectos, seja na melhora da qualidade do produto
para atender as exigências internacionias, quanto na padronização de alguns
processos. Cabe a cada empresa se adequar para poder atender o mercado
internacional. Segundo Labatut (1920, p. 65):
O Brasil está amadurecendo em seu relacionamento comercial na esfera internacional e, por esta razão, chegou o momento de praticarmos a comercialização internacional como um País que realmente necessita dessa
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atividade, e que carece do constante aperfeiçoamento que a livre-comercialização provoca: a evolução tecnológica.
Conforme Stelzer, Nascimento e Morella (2010), as empresas e as indústrias
que querem ter excelência em seus produtos ou serviços e que pretendem se
manter competitivas precisam estar atentas às tendências do mercado, buscando
sempre um nova alternativa, mais eficiente e de menor custo de produção,
fornecimento e logística.
Os custos e barreiras comerciais podem ser os grandes vilões das
exportações, uma vez que um produto pode acabar estando dentro de algum pacote
de proteção, e que venha a sofrer alguma alteração de taxas e impostos, onde o
exportador acabe perdendo seu lucro e inviabilizando a transação.
A exportação propicia a um país um vasto conhecimento e aprimoramento de
técnicas que não teria acesso no mercado interno, além da abertura comercial,
apresentado seus produtos em diferentes partes do mundo. (VAZQUEZ, 2012).
A expansão do mercado mundial faz com que compradores e vendedores se
aproximem de tal forma que facilite o contato e a compreensão para uma melhor
agilidade e melhoria dos produtos ou processos.
Uma empresa que exporta necessita se projetar e se preparar para o
mercado internacional de tal forma que atenda todas as espectativas do consumidor,
para isso é necessário pesquisar aspectos culturais, regionais, religiosos, entre
outros.
2.2 Exportações brasileiras
As exportações são de extrema importância para um país, pois auxiliam no
desenvolvimento econômico e social. Além disso, as empresas focam em um maior
controle de qualidade de seus produtos e de seus meios produtivos que são exigidos
pelo mercado internacional.
Conforme Keedi (2011, p. 21), “A exportação pode ser de bens e serviços,
entendendo-se a de bens como a transferência de mercadorias entre países, e os
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serviços como a venda de assessoria, consultoria, conhecimentos, transportes,
turismo, assitência técnica”.
Em 2013, o comércio exterior brasileiro registrou corrente de comércio de
US$ 481,8 bilhões, com crescimento de 3,4% sobre 2012, quando atingiu US$ 465,7
bilhões. As exportações encerraram o ano com valor de US$ 242,1 bilhões com
queda de 0,2% em comparação a 2012, conforme Figura 1.
Figura 1 – Balança Comercial Brasileira
Fonte: Brasil. (2014b).
A queda nas receitas de exportações se deve a baixa no índice de preços em
4,9%, motivados pelo recuo das cotações de commodities, em especial ao minério
de ferro. Em volume, as exportações brasileiras tiveram redução de apenas 0,3%.
(BRASIL, 2013a).
Em relação a 2012, as exportações de produtos básicos retraíram em 0,4%,
semimanufaturados 7,6% e as de manufaturados cresceram 2,6%. Produtos
industrializados representaram 51% do total exportado pelo Brasil em 2013,
conforme Figura 2.
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Figura 2 – Desempenho das Exportações
Fonte: Brasil, 2014b
Analisando os mercados de destino, a China continua como a principal
parceira do Brasil registrando crescimento de 11,6% em comparação a 2012. No
período analisado houve retração nas vendas para os EUA em 7,4%, conforme
Figura 3.
Figura 3 – Principais Países Compradores
Fonte: Brasil, 2014b
Segundo o diretor do Banco Central Carlos Hamilton Araújo “As exportações
brasileiras são mais sensíveis à demanda global do que à taxa de câmbio”. (BRASIL,
2013b).
Neste mercado onde as taxas de câmbio mudam constantemente, as
importações e exportações são influenciadas diretamente, mas nas exportações
quem está regulando já é a demanda. Isso devido o maior peso que os commodities
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tem sobre o total exportado. Produtos manufaturados tem maior sensibilidade ao
câmbio.
2.3 Documentos de uma exportação
No mercado exterior a entrada e saída de mercadoria é controlada pela
Receita Federal do Brasil - RFB, este controle é realizado através de um sistema
chamado Sistema Integrado de Comércio Exterior - Siscomex.
O Siscomex é disponibilizado pela RFB aos usuários, onde a empresa
credencia seus representantes para operá-lo através de uma senha pra uso
exclusivo. Podendo ser disponibilizado para exportadores, importadores,
despachantes, bancos autorizados a operar em câmbio, corretores de câmbio,
prestadores de serviços, etc. (KEEDI, 2011).
Conforme Assumpção (2008, p. 116), “Para a realização de uma exportação,
são exigidos diversos documentos, sendo alguns obtidos diretamente no
SISCOMEX, outros providenciados pela empresa exportadora (documentos
comerciais e financeiros), outros em orgãos anuentes”.
2.3.1 Fatura Proforma ou Pro Forma Invoice
A Proforma é o primeiro documento oficial de uma exportação, este deve
conter todos os elementos indispensáveis, destacam Dias e Rodrigues (2004): a)
caracterização adequada do comprador ou destinatário; b) descrição do produto; c)
modalidade de venda (Incoterms); d) condições de pagamento; e) quantidade do
produto; f) preço do produto; g) embalagem de apresentação e transporte; h)
volumes, caixas; i) transporte internacional; j) seguro internacional; k) prazo de
entrega; l) prazo de validade da cotação.
Conforme Assumpção (2008, p. 121):
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A fatura proforma assemelha-se uma cotação, em caráter preliminar, geralmente em inglês, com todas as informações da negociação, como: dados do exportador e do importador, descrição da mercadoria, preço, condição de venda, forma de pagamento, data provável do embarque etc. Sua finalidade é firmar compromisso de compra e venda entre as partes, não implicando pagamento por parte do importador. Atualmente, na maioria das negociações, a fatura proforma é eviada por e-mail.
Este documento é enviado ao importador quando houver uma manifestação
de interesse ao produto, o importador deve dar o aceite e retornar para o exportador.
(DIAS E RODRIGUES, 2004).
2.3.2 Fatura Comercial (Commercial Invoice)
A Fatura Comercial é um dos documentos mais importantes no comércio
internacional, devendo mencionar as principais características da venda e
acompanhar ao seu destino. Deve ser emitida pelo exportador em formulário próprio,
de preferência em inglês, além disso, é necessária para o importador no
desembaraço da mercadoria (ASSUMPÇÃO, 2008, p.122).
Segundo Dias e Rodrigues (2004), o documento deve conter os seguintes
itens: a) modalidade de pagamento; b) modalidade de transporte; c) local de
embarque e desembarque; d) número e data do conhecimento de embarque; e)
nome da empresa de transporte; f) descrição de mercadoria; g) peso bruto e líquido;
h) tipo de embalagem, número e marca de volumes; i) preço unitário e total; j) valor
total da mercadoria.
Este documento tem por finalidade formalizar a transferência da mercadoria.
2.3.3 Registro de Exportação
O Registro de Exportação RE é um documento eletrônico emitido no
SISCOMEX, preenchido pelo exportador ou pelo seu representante legal, e tem por
finalidade o registro da operação para controles governamentais. (BRASIL, 2013c).
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Deve ser emitido antes do embarque da mercadoria para o exterior e
representa um conjunto de informações de natureza, comercial, cambial, financeira e
fiscal da operação de exportação. (CASTRO, 1999).
2.3.4 Nota Fiscal
Uma Nota Fiscal somente deve emitida após a liberação do RE. (BRASIL,
2013c).
“É o documento que habilita a circulação interna e acompanha a mercadoria
do estabelecimento do exportador até o embarque para o exterior. Deve ser emitido
em português e em moeda nacional, com base na conversão do preço FOB em
Reais”. (ASSUMPÇÃO, 2008, p.121).
Nenhuma mercadoria poderá circular sem estar acompanhada da Nota Fiscal.
2.3.5 Romaneio de Embarque (Packing List)
O packing list ou romaneio utilizado para o desembaraço aduaneiro tanto na
origem quanto no destino final, pois serve para o fiscal de alfândega, o importador,
ou para qualquer fase do processo, no caso de conferência física da mercadoria. O
romaneio deve conter os seguintes itens segundo Dias e Rodrigues, (2004): a)
número do documento; b) nome e endereço do exportador e do importador; c) data
de emissão; d) descrição da mercadoria, quantidade, unidade, peso bruto e líquido;
e) local de embarque e desembarque; f) nome da transportadora e data de
embarque; g) número de volumes, identificação dos volumes por ordem numérica,
tipo de embalagem, peso bruto e líquido por volume, e dimensões em metros e
cúbicos.
Conforme Brasil (2013c):
As cargas que não são compostas por vários volumes – por exemplo, granéis-e aquelas que elas próprias se identificam – por exemplo,
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automóveis, pelo numero do chassi – não se aplica o uso do packing-list. A não apresentação do romaneio de carga (packing-list) na instrução do despacho aduaneiro enseja a aplicação da multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) prevista na alínea “e”, inciso VIII do art. 728 do Regulamento Aduaneiro.
O packing list ou romaneio de embarque é um documento informal usado
para uma verificação da mercadoria que está se comercializando.
2.3.6 Conhecimento de Embarque
O conhecimento de embarque é um documento emitido pela empresa de
transporte da mercadoria que atesta o recebimento da carga, obrigações quanto a
entrega, destinatário legal e porto de destino.
Para Dias e Rodrigues (2004):
O conhecimento de embarque é emitido geralmente em três vias originais, com um número variado de cópias, conforme a necessidade do importador. O documento corresponde ao título de propriedade da mercadoria e pode ser consignado ao importador, sendo, neste, inegociável. Pode também ser consignado ao portador, sendo, neste caso, negociável.
O conhecimento de embarque é um documento emitido com data e assinado
pelo responsável do transporte internacional da mercadoria ou seu representante
legal, onde afirma o recebimento da carga, as condições de transportes e a
obrigação de entrega ao destinatário legal, no porto de destino estabelecido
(CORTIÑAS, 2010).
2.3.7 Contrato de Câmbio
O Contrato de Câmbio é um documento que se faz necessário para a troca da
moeda do importador com o exportador e vice-versa, visto que a legislação brasileira
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exige que a única moeda em livre circulação no país é o Real, e seus contratos
devem ser celebrados com instituições autorizadas pelo Banco Central. (CONTIÑAS,
2010).
Quando a empresa exportadora assina o contrato de câmbio, ela assume o
compromisso com a entrega das divisas, sendo seu contravalor creditado em moeda
nacional na conta do exportador. (VAZQUEZ, 2012).
2.3.8 Apólice de Seguro
Apólice de Seguro é um documento que assegura o exportador, deve ser
contratado junto a um orgão habilitado antes do embarque da mercadoria (BRASIL
2013c).
Este documento pode ser emitido pelo exportador ou importador, dependendo
da condição de venda definida entre as partes. (MALUF, 2000).
Em casos de perdas ou avarias é este documento que garante seu
ressarcimento, evitando um elevado prejuízo para ambas as partes.
2.3.9 Certificado Sanitário/Fitossanitário
Certificado Sanitário é um documento emitido pelo Ministério da Agricultura
Pecúaria e Abastecimento MAPA antes do embarque da mercadoria, usado para
exportação de alimentos in natura, visando comprovar a salubridade e qualidade de
produtos de origem animal ou vegetal. (CONTIÑAS, 2010).
“É documento emitido por entidade especializada, governamental ou não,
para certos produtos que, para serem exportados, necessitam atestado de
salubridade, ou seja, ausência de moléstias, pragas.” (VAZQUEZ, 2012. p. 163).
Documento de grande importância, sendo fundamental para produtos
alimentícios e bebidas. Servido para atestar a qualidade dos mesmos.
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2.3.10 Certificado de Origem
Certificado de Origem é um documento que comprova a natureza,
quantidade, valor e outros dados da mercadoria, objeto da exportação, incluindo
uma declaração formal da origem do país da mercadoria. (MALUF, 2000).
Além, de atender a exigências de acordos comerciais firmados entre país
importador e exportador para a dispensa ou redução de tributos. (VAZQUEZ, 2012).
Este é um documento fundamental para que se possa saber de onde o
produto se originou e obter mais informações de diferentes características e
necessidades.
Todos os documentos são fundamentais para que o processo de exportação
seja executado de forma corrreta, conforme exigências impostas pelos países. Em
seguida será explanado sobre a exportação de cachaça, fatos históricos, processos
produtivos, dados estatísticos, normas e tratamentos administrativos, aspectos
comerciais e a viabilidade logística.
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3 A EXPORTAÇÃO DE CACHAÇA
A partir do descobrimento do Brasil, Portugal traz a cana-de-açúcar com o
objetivo de intensificar a exploração dos recursos disponíveis na colônia e incentivar
a fixação dos imigrantes no país. A monocultura da cana gerou grande riqueza para
a metrópole e a colônia e tornou a cachaça como moeda no comércio de escravos.
Por outro lado, a versão mais aceita é a de que os portugueses apenas teriam
aproveitado a experiência prévia com a bagaceira (aguardente vínica) para produzir
um destilado à base da fermentação e destilação do melaço de cana-de-açúcar.
Assim, o termo “cachaça” seria derivado do espanhol cachaza, que significava algo
como uma “bagaceira inferior” (SEBRAE, 2014).
No século XVI a cachaça passa a ser considerada uma bebida de baixo
status, consumida somente por pobres e escravos. Os mais ricos consumiam vinhos
e bagaceira, que eram trazidos de países europeus, principalmente Portugal. Porém,
mesmo nestas condições, os alambiques foram crescendo e se espalhando até se
tornar a bebida alcoólica mais consumida no Brasil Colônia (EMBRAPA, 2013).
Foi neste período que a Corte Portuguesa, diante da perda do mercado na
venda da bebida bagaceira, trazida de Portugal, para o seu principal consumidor, a
Classe Média, proibiu a produção, comercialização e consumo da cachaça, sem
muito sucesso, justificando que o consumo da bebida pelos escravos poderia
ameaçar a segurança. No século XVII a Corte decidiu cobrar impostos sobre sua
comercialização, com o alto índice de sonegação a cachaça tornou-se símbolo de
resistência contra a dominação portuguesa, tornando-se o ato de beber aguardente
sinônima de ato patriótico na luta pela independência (SEBRAE, 2014; EMBRAPA,
2013).
Nos séculos XIX e início do XX a cachaça começou a ganhar força entre
todas as classes, gerando a união de alguns setores da elite contra a bebida e
buscando uma identidade européia para a mesma. Mas somente em 1922, quando
um evento realizado em São Paulo, a Semana da Arte Moderna buscava as raízes
do Brasil, que a cachaça foi reconhecida e considerada um símbolo da cultura
brasileira, forma esta que é chamada até hoje pelo mundo inteiro. (EMBRAPA,
2013).
25
A cachaça pode ser produzida através de dois processos, o artesanal e o
industrial. Ambos têm a cana de açúcar como ingrediente base mas, no primeiro
processo, a cachaça de alambique, como é popularmente conhecida, possui
graduação de 38% a 54% v/v, à temperatura de 20ºC obtida pela destilação do
mosto fermentado de cana-de-açúcar, em alambique de cobre, sem adição de
açúcar, corante ou outro ingrediente qualquer. A destilação é dividida em três
frações, denominadas cabeça, coração e cauda. A cabeça e cauda geralmente são
descartadas por conter impurezas, além de afetar negativamente o sabor da
cachaça, o líquido gerado nestas frações do processo é conhecido como “água
fraca”. Já o coração, que vem a ser a parte destilada de mais ou menos 80% do
volume total, corresponde a cachaça boa. Com a mesma graduação que o anterior,
o processo industrial é obtido do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar,
podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro e caramelo para
correção de cor (CACHAÇATUR, 2013).
O processo artesanal, é responsável pela produção de diferenciadas
qualidades dependendo desde a escolha do tipo de cana, o tempo de moagem, os
ingredientes e o tempo de fermentação, a forma de destilação, os tonéis para o
envelhecimento, até o engarrafamento, tudo pré determinado pelo produtor
(CACHAÇATUR, 2013).
A moagem acontece após a colheita da cana, o tempo ideal é 12 horas,
sendo que nunca deve levar mais de 48 horas. O caldo é separado do bagaço que,
posteriormente é decantado e filtrado para, em seguida, ser preparado com a adição
de nutrientes e levado às dornas de fermentação, já o bagaço é utilizado para
aquecer as fornalhas (SEBRAE, 2014).
A Figura 4, mostra como é feita a moagem da cana-de-açucar e extraído o
caldo.
26
Figura 4 – Equipamento para moagem da cana-de-açúcar
Fonte: Elaborada pelo acadêmico (2014)
Como cada tipo de cana apresenta um teor de açúcar variado, é preciso
padronizar o caldo para depois adicionar substâncias nutritivas que mantenham a
vida do fermento. Para a produção da cachaça artesanal são utilizados os seguintes
ingredientes: água potável, o fubá de milho e o farelo de arroz se associam ao caldo
de cana para transformá-lo em vinho com graduação alcoólica, através da ação de
leveduras (agentes fermentadores naturais que estão no ar). A sala de fermentação
precisa ser arejada e com a temperatura ambiente em 25°. As dornas onde a
mistura fica por cerca de 24 horas, podem ser de madeira, aço inox, plástico ou
cimento (CACHAÇA EXPRESS, 2014).
Na destilação o vinho de cana é fervido em um alambique de cobre
produzindo vapores que são condensados por resfriamento e apresentam grande
quantidade de álcool etílico, conforme graduação fixada por lei, de 38 a 54 GL.
(CACHAÇATUR, 2013).
Na Figura 5, apresenta-se os tanques especiais para destilação.
27
Figura 5 – Tanques para destilação
Fonte: Elaborada pelo acadêmico (2014)
O último e não menos importante processo é o envelhecimento, realizado
para aprimorar a qualidade da bebida. A estocagem é feita, preferencialmente, em
barris de madeira, onde ainda acontecem reações químicas, e dependendo do tipo
da madeira podem mudar o tom e aroma e até deixar a cachaça mais ou menos
suave de acordo com o tempo de estocagem. Entre elas estão o jequitibá,
amendoim, carvalho, umburana e cedro. (CACHAÇA EXPRESS, 2014).
Conforme Figura 6, a cachaça é armazenada em barril onde recebe o aroma
e onde é evelhecida.
28
Figura 6 – Barril para envelhecimento
Fonte: Elaborada pelo acadêmico (2014)
O processo industrial automatizado tem como principais características a
destilação continua da cana-de-açúcar fermentada, geralmente recebe adição de até
6 gramas de açúcar por litro e caramelo para correção de cor, podendo utilizar
produtos químicos no processo de fermentação (BUTIQUE DA CACHAÇA, 2013).
Na Figura 7, é possível visualizar os processos descritos referente a produção
de cachaça.
29
Figura 7 – Fluxograma Fabricação de Cachaça
Fonte: Embrapa (2013)
Como pode ser visto na figura 7, o processo é bastante simples, podendo ser
utilizado para a produção artesanal ou industrial. As sobras do processo são
reutilizadas, tornando-se produtos de grande consumo, como o açúcar mascavo e
rapadura originadas da diluição do caldo da cana.
3.1 As exportações brasileiras de cachaça
A cachaça é reconhecida mundialmente como produto brasileiro e vem se
destacando anualmente com os aumento das exportações.
30
O volume das exportações atingiu em 2013 o montante de US$ 16,5 milhões,
e em volume 8,9 milhões de litros. Tendo como principal destino a Alemanha, que
importou US$ 2,3 milhões, seguido pelos Estados Unidos com US$ 1,8 milhões
(ALICE WEB, 2014).
Na Tabela 1 é possível visualizar os principais países importadores de
cachaça em todo o mundo.
Tabela 1 – Principais Países Importadores de Cachaça (2013)
Fonte: Alice Web, 2014
Entre eles se destaca Alemanha e Estados Unidos, com quase 30% do
volume de compra das exportações de cachaça. Entre os 10 países de destaque, 5
são europeus, onde o consumo da cachaça vem crescendo. Além de ser o país que
mais compra, a Alemanha esta entre os mercados com menor preço médio.
De acordo com informações do Instituto Brasileiro da Cachaça IBRAC (2013)
– a capacidade instalada de produção brasileira atualmente é de 1,2 bilhões de
litros/ano, com estimativa de 40.000 produtores, sendo que foram apontados pelo
Censo de 2006 um total de 11.124 produtores, dentre eles apenas 1.554 estão
registrados no Ministério da Agricultura. São mais de 4.000 marcas de cachaça que
geram mais de 600.000 empregos diretos e indiretos.
As principais regiões produtoras são: Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais,
Ceará e Paraíba (IBRAC, 2013). A seguir números da exportação brasileira por
Estado, conforme Tabela 2.
31
Tabela 2 – Exportação de Cachaça por Estado Brasileiro (2013)
Fonte: Alice Web, 2014
Conforme Tabela 2, o estado que mais se destacou na exportação de
cachaça foi São Paulo, com 45,32% do total exportado pelo Brasil em 2013, seguido
por Pernambuco com 13,40%, Rio de Janeiro com 12,32%, Ceará com 9,67%,
Minas Gerais com 9,49% e outros estados com menor representatividade. A região
sudeste se destaca com mais de 65% devido seu grande potencial agroindustrial,
com muitos canaviais e usinas de benificiamento, que ao mesmo tempo são
impulsionadas pela produção do etanol.
Santa Catarina tem pouca representação no cenário nacional, apenas 0,32%
do total exportado pelo Brasil em 2013 foi produzido pelo estado. Luis Alves não
possui registros de nenhuma exportação feita diretamente, apenas comercializado
para empresas no mercado nacional. Sua produção é feita de forma artesanal,
deixando de ser competitivo quanto aos preços praticados por grandes empresas
que exportam e possuem produção em grande escala.
32
3.2 Normas e tratamento administrativo para exportação de cachaça
O Sistema Harmonizado de Codificação de Mercadorias, ou simplesmente
Sistema Harmonizado (SH) foi criado com objetivo de promover o desenvolvimento,
facilitando na coleta de dados, negociações, elaboração de tarifas, etc. O sistema é
dividido em Nomenclatura, Regras Gerais para Interpretação do SH e as Notas
Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH). Todo produto comercializado no
Mercosul deve possuir uma Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), com 8
dígitos, conforme estrutura mostrada na Figura 8. (BRASIL, 2013d) .
Figura 8 – Classificação de Mercadoria NCM
Fonte: Brasil, 2013d.
O NCM da cachaça é 2208.40.00, dividido da seguinte forma:
- 22. – (bebidas, líquidos alcóolicos e vinagres);
- 2208. – (álcool etílico não desnaturado, com um teor alcoólico, em volume,
inferior a 80% VOL; aguardentes, licores e outras bebidas espirituosas);
- 2208.40.00 – (rum e outras aguardentes provenientes da destilação, após
fermentação, de produtos da cana-de-açúcar);
33
Conforme seu tratamento administrativo, é livre a exportação de cachaça,
sendo admissível a exportação em consignação, com possibilidade de financiamento
pelo PROEX em 4 ou 6 meses. Seu Imposto de Exportação (IE) é 0%.
Quanto aos documentos necessários à exportação, os principais são a fatura
comercial, certificados de origem, sanitários, licenças e permissões dos países
envolvidos, ou seja, destino e origem, conhecimento de embarque, seguros, dentre
outros. Para maior segurança o exportador deve entrar em contato com o importador
na Alemanha e solicitar uma relação de documentos necessários.
3.3 Aspectos comerciais
A cachaça na Alemanha é consumida quase exclusivamente como
ingrediente da famosa caipirinha, um drinque da moda. O uso da mesma em outros
drinques como batidas vem crescendo, mas geralmente o consumidor alemão
desconhece o seu uso em batidas. No uso da caipirinha a cachaça mais utilizada é a
clara, podendo ser observado como um grande crescimento na demanda. A cachaça
clara representa 90% enquanto às escuras apenas 10% do consumo alemão.
(BRASIL, 2014a).
Um dos grandes concorrentes da caipirinha é um drinque preparado com
Rum (mojito) e consumido em discotecas. A redução do teor alcoólico que diminuiu
de 51 graus para algo em torno de 40 graus é uma das razões para que os
consumidores alemães apreciem a cachaça. (BRASIL, 2014a).
Por ser um produto de consumo das classes médias e alta na Alemanha, seu
custo em bares e discotecas varia entre US$ 5 e US$ 15 para doses de caipirinha, já
o litro no varejo custa entre US$ 10 e US$ 50. Sendo seu preço influenciado por três
fatores externos: elevada tributação, normas rígidas de trânsito e política de preços
nos bares. (BRASIL, 2014a).
O grande consumidor de cachaça no Brasil está nas classes menos
favorecidas, geralmente adquiri o produto de forma direta em alambiques e
supermercados. Conforme dados da Federação Nacional da Cachaça (Fenaca) de
34
2004, os consumidores das classes A e B veem descobrindo neste mercado como
um produto de qualidade. (SEBRAE, 2014).
As principais marcas de cachaça brasileira na Alemanha são: Berro, Berro
d’Agua, Birds, Cachambo, Caiçara, Canario, Conceição, Delicana, Janeiro, Ypióca,
dentre outras. (BRASIL, 2014a).
A distribuição na Alemanha é feita através de importadoras que revendem a
cachaça à atacadistas que repassam ao varejo, lojas, bares, restaurantes e cerca de
65% à 90% são vendidos diretamente à atacadistas. A cachaça não é muito vendida
em supermecados ou lojas pelo fato do consumidor alemão não ter o costume de
consumi-lá pura e não saber preparar a caipirinha ou batida. (BRASIL, 2014a).
Feiras são um grande passo para tornar a cachaça conhecida, neste setor a
ProWein – Feira de vinhos e destilados, que contou com a presença de dois
expositores brasileiros na edição de 2014, Cachaça Magnifica e Mangaroca
International AS. (BRASIL, 2014a).
As principais distribuidoras de destilados na Alemanha são: Drinks & Food
Vertriebs GmbH; Friedrich Specht Sohne GmbH + Co; A. Segnitz & Co. GmbH –
Bremer Weinkolleg Lowenhof, entre outras (BRASIL, 2014a).
O mercado alemão diferencia-se do mercado brasileiro, pelos diferentes
hábitos e costumes. São públicos sem muito conhecimento do produto, mas que
priorizam a famosa cachaça brasileira.
Luís Alves é destaque catarinense na produção de cachaça artesanal, entre
os produtores são poucos os que cultivam sua própria materia prima, a cana-de-
açúcar. Os alambiques são, em sua maioria, familiares e passam o conhecimento
como herança de geração em geração. Todo o produto é comercializado no
mercado brasileiro. Há registros de que, no ano de 2004, uma das empresas
realizou uma exportação para o Chile através de uma distribuidora de bebidas.
35
3.4 Viabilidade logística para a exportação
De acordo com Pierre (2010), “Logística internacional é o processo de
planejar, implementar e controlar o fluxo e armazenagem de mercadorias, serviços e
informações a elas relacionadas, do ponto de consumo, localizado em outro país.”
Na logística internacional deve-se observar alguns aspectos importantes para
a exportação de uma mercadoria, entre elas a qualidade da embalagem utilizada e
sua apresentação para o consumidor, além das normas e exigências do mercado
internacional.
A cachaça é transportada para a Alemanha principalmente pelo modal
marítimo, em tanques ou contêineres com garrafas de 0,7 litro e 1 litro. As mesmas
devem estar rotuladas e empacotadas em caixas de papelão de 6 ou 12 garrafas
cada. Alguns importadores que compram cachaça de média e baixa qualidade
preferem o transporte a granel, devido ao baixo custo. As garrafas devem ter seu
pescoço longo, facilitando o manuseio dos “barman”. (BRASIL, 2014a).
A conteinerização consiste em colocar a carga dentro de um recipiente
construído de material resistente o suficiente para suportar o uso contínuo,
transportando mercadorias com segurança, inviolabilidade, rapidez, de facil
carregamento e descarregamento, conforme Figura 9. (BRASIL, 2014d).
36
Figura 9 – Contêiner.
Fonte: Brasil 1, 2014.
Os contêineres mais comuns são os de 20 ou 40 pés, que acomodam,
respectivamente, 30 metros cubicos ou 20 toneladas e 60 metros cubicos ou 25
toneladas, aproximadamente. Na carga granel líquida o transporte é feito em
container tanque.
O rótulo é fundamental na apresentação do produto, pois é ele que transmite
a imagem do produto e empresa para o consumidor. Para a embalagem de
exportação, algumas marcações e simbologias devem ser obedecidas quanto ao
transporte de determinados produtos. A cachaça é considerada um produto
inflamável, conforme Figura 10. (ROCHA, 2012).
Figura 10 – Simbologia de Cargas.
Fonte: Rocha, 2012.
37
Este procedimento auxilia nas informações importantes referente aos
cuidados necessários para o transporte e condicionamento da carga.
No que se refere à rotulagem, o importador auxilia o exportador quanto às
normas exigidas pela Alemanha (BRASIL, 2014a).
38
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No mercado mundial as negociações entre países vem crescendo ano após
ano, tanto na importação quanto na exportação. O Brasil se destaca pela sua
diversidade de produtos, alguns consumidos internacionalmente, entre eles a
cachaça, reconhecida como produto tipicamente brasileiro devido à sua importância
para a história da colonização do país.
Este trabalho teve como objetivo, verificar a viabilidade na exportação da
cachaça produzida na cidade de Luís Alves para a Alemanha, seguindo as normas
exigidas pelas partes envolvidas, levando em consideração os aspectos comerciais
e viabilidade logística para executar o processo.
O resultado da pesquisa foi satisfatório, por ter levantado os principais
mercados consumidores no exterior, tendo como destaque a Alemanha, por ser a
principal parceira comercial no seguimento de exportação de cachaça, além de ter
identificado os principais pólos produtores no Brasil.
A forma como a cachaça é consumida na Alemanha se destaca por ser
considerada um produto de classe média alta, diferente do Brasil onde o público
consumidor pertence, em sua maioria à classe baixa. Considera-se também os
aspectos logísticos, onde a cachaça é armazenada em containeres tanques e
transportada de forma granel, diminuindo assim o custo com o transporte
internacional. Já a cachaça produzida artesanalmente é transportada em garrafas
dentro de caixas, através de conteiners de 20 ou 40 pés.
Alguns aspectos fiscais e tributários auxiliam na exportação da cachaça
produzida no Brasil, como a admissão da exportação em consignação e seu imposto
de exportação em 0%.
Como acadêmico, no presente estudo pude identificar que a cachaça tem
conquistado cada vez mais consumidores por todo o mundo, se destacando e
levando o nome do Brasil ao mercado internacional. Na Alemanha, o maior índice de
consumo da cachaça brasileira está no preparo de drinks, onde é utilizada como
principal ingrediente a cachaça clara, fabricada em escala por grandes empresas. Já
a cachaça artesanal que se difere pelo sabor e qualidade, demanda de cuidados de
manuseio durante o processo de produção e evelhecimento, é pouco conhecida e
comercializada, pois os alemães não possuem o costume de apreciá-la pura.
39
A viabilidade da exportação da cachaça produzida em Luís Alves para a
Alemanha deve ser observada quanto ao seu público consumidor, sendo que seu
custo é mais elevado pelo fato de ser artesanal e de difícil inserção neste mercado,
devido à forma como é consumida.
Sugere-se que os órgãos apoiadores das exportações brasileiras invistam
num trabalho de imagem da cachaça artesanal no exterior, para que possibilite
ampliação das exportações da bebida com maior valor agregado.
Para futuros estudos, sugere-se uma análise mais aprofundada quanto a
inserção da cachaça artesanal como um produto diferenciado, podendo agregar
maior valor e inserí-la no mercado internacional de forma inovadora.
40
REFERÊNCIAS
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Nome do estagiário Anderson Markenwski
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