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FACULDADE ALFREDO NASSER

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE MATEMÁTICA

UM ESTUDO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

Lucas Nogueira de Carvalho

APARECIDA DE GOIÂNIA

2010

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LUCAS NOGUEIRA DE CARVALHO

UM ESTUDO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação do Prof. Me. Ronan Santana dos Santos, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Matemática.

APARECIDA DE GOIÂNIA

2010

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FOLHA DE APROVAÇÃO

LUCAS NOGUEIRA DE CARVALHO

UM ESTUDO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA Aprovado em: Banca Examinadora Orientador: Prof. Me. Ronan Santana dos Santos - Nota:____ / 70 Instituição: ________________________________ Assinatura: ________________ Prof. ______________________________________________________- Nota:____ / 70 Instituição: ________________________________ Assinatura: ________________ Prof. ______________________________________________________ - Nota:____ / 70 Instituição: ________________________________ Assinatura: ________________ ___________________________________________________________________ Média parcial - Avaliação da produção do Trabalho: ___ / 70

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À minha família: Benedita, minha mãe minha vida, Leonito, meu pai minha fortaleza, seus atos demonstram que meu sucesso também são de vocês que acreditaram e contribuíram para que eu realizasse este sonho. As palavras “muito obrigado” não são suficientes para expressar o sentimento de gratidão por ter vocês como meu sustentáculo. Sempre presentes nas horas difíceis de minha vida, sempre apoiando e dando forças para que tudo de certo; Emerson e Aline, irmãos queridos os quais cresci em companhia.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por permitir a vida e todas as

oportunidades surgidas ao longo dela ensinando-me a confiar cada vez mais NELE.

Agradeço ao meu pai Leonito e minha mãe Benedita pela paciência e

compreensão durante os períodos em que estive ausente e por terem respeitado e

acreditado neste sonho. Meu alicerce!

À minha namorada Tarianne, pela compreensão, dedicação, pelo amor e pelo

incentivo em todos os momentos. Amo você!

Aos meus irmãos Emerson e Aline, meus amigos e camaradas de faculdade

pelo carinho e afeto.

Às famílias Nogueira e Carvalho – tias e tios, primas e primos e minha avó

Hozana Teles (In memoriam)... Obrigado pela torcida!

Ao meu orientador, Professor Mestre Ronan Santana dos Santos pela

dedicação e confiança depositada em mim, sempre colaborando para que tudo fosse

realizado da melhor maneira possível.

Ao Professor Dr. Dario Fiorentini, que pela força do destino e vontade própria

quis me ajudar fornecendo uma das referências essenciais de pesquisa.

Ao Ministério da Educação pela oportunidade de cursar o ensino superior por

intermédio do Programa Universidade para Todos (ProUni).

A todas as pessoas que me deram força e torceram pela conclusão deste

trabalho.

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Você não consegue mudar o que não consegue encarar.

James Baldwin

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................8

CAPÍTULO 1 – A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A ALFABETIZAÇ ÃO

MATEMÁTICA ..........................................................................................................12

1.1 Interesse Pessoal................................................................................12

1.2 Interesse Educacional ............................................... .........................12

CAPÍTULO 2 – DISCUTINDO A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA .....................14

2.1 Alfabetização Infantil...........................................................................19

2.2 Alfabetização na Adolescência ..........................................................23

2.3 Alfabetização de Jovens e Adultos.....................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................26

REFERÊNCIAS........................................................................................................30

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INTRODUÇÃO

Uma das questões centrais do ensino-aprendizagem de Matemática é a

maneira como cada pessoa apropria-se de seus conceitos e ideias elementares, ou

seja, a maneira que cada individuo é alfabetizado e como aprende esta ciência

cognitivamente. Quem não consegue apropriar de maneira significativa ou mesmo

não tem essa oportunidade de alfabetizar, se torna um “ignorante e passivo” na sua

formação escolar e social. Sendo assim, quem não é alfabetizado tem uma grande

possibilidade de se tornar um sujeito facilmente manipulado e alienado no mundo

que o rodeia. Por outro lado, quem se apropria de uma alfabetização sólida se torna

o sujeito de sua própria história, a alfabetização dá igualdade de condições a todos

que a possuem.

Alfabetizar-se, na escola e fora dela, é conhecer e compreender as

linguagens que o mundo apresenta, para que haja uma comunicação e interação do

sujeito com a realidade em que vive. Contudo, nem sempre essa alfabetização

ocorre de forma clara ao individuo escolarizado, carregando no seu histórico uma

culpa ou falta quanto à matemática.

Este trabalho busca refletir e analisar sobre a Alfabetização Matemática. Para

tanto, realizamos considerações sobre sua apropriação e os modos como cada

pessoa assimila essa alfabetização em suas respectivas épocas. Exemplificar como

ocorre essa alfabetização no nosso sistema de ensino, discutir suas falhas e

propostas de solução.

Nota-se que os alunos possuem certa ligação com conteúdos matemáticos

antes da escolarização ou até mesmo quando não adquiriram essa escolarização,

eles ditam sequências, relacionam, organizam, comparam objetos entre outros

fazeres que envolvam matemática. Porém, grande parte dos estudantes ao ser

escolarizados vão perdendo essa ligação, a matemática que antes fazia parte de um

mundo descobridor de perfeições torna-se um “bicho-papão” na continuidade de

suas vidas escolares. Enquanto a língua materna desenvolve nos alunos a

comunicação antes da escolarização, a matemática organiza e relaciona suas

ideias, no entanto quando se inicia a alfabetização escolar as crianças começam a

se desligar desses conteúdos matemáticos.

Assim não podemos pensar na alfabetização somente como alfabetização da

língua materna, é preciso alfabetizar numericamente as pessoas, até mesmo porque

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a matemática esta presente em tudo que vivenciamos. Freire (1996) afirma que

todo ser humano está em permanente relação matemática com o mundo.

…quando a gente desperta, já caminhando para o banheiro, a gente já começa a fazer cálculos matemáticos. Quando a gente olha o relógio, por exemplo, a gente já estabelece a quantidade de minutos que a gente tem para, se acordou mais cedo, se acordou mais tarde, para saber exatamente a hora em que vai chegar à cozinha, que vai tomar o café da manhã, a hora que vai chegar o carro que vai nos levar ao seminário, para chegar às oito. Quer dizer, ao despertar os primeiros movimentos, lá dentro do quarto, são movimentos matematizados1.

Não é possível afirmar que um grande número de educadores matemáticos

reconheça o papel e o valor dos processos mencionados. Todavia podemos

certificar que grande parte concebe, pelo menos intuitivamente, que o

desenvolvimento do pensamento/comunicação matemático dos alunos resulta não

apenas de um trabalho escolar sistemático, mas da formulação de questões e suas

soluções que permitam exprimir suas necessidades e interesses.

Na realidade, todos reconhecem que as experiências dos alunos, no dia-a-

dia, estão permeadas de relações aritméticas, algébricas e geométricas e, por isso

são profundos os conflitos acerca do que e como devemos ensinar na escola. Na

verdade, muitos já entendem que não se trata apenas de uma questão de

aprendizagem e ensino pela escola, mas de uma questão intrinsecamente ideológica

e política.

O “bem-estar” ou “saber” matemático não está associado apenas às funções

da escola ou do interno de cada individuo em ser bom ou mau na matemática, mas

também uma questão política, pois se refere aos programas (ou sua ausência) de

apoio e incentivo à educação. Mas também a alfabetização matemática e as

questões culturais, visto que em muitas famílias os pais isentam seus filhos da falta

de matemática ou analfabetismo matemático porque eles quando estudantes

também carregavam as mesmas dificuldades na disciplina.

A alfabetização matemática leva os alunos a uma habilidade, que de acordo

com Fonseca (2004), é considerada como:

1 D`Ambrosio entrevista Paulo Freire . Disponível em: <http://vello.sites.uol.com.br/entrevista.htm>. Acesso em: 09 nov. 2010.

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[...] a capacidade de mobilização de conhecimentos associados à quantificação, à ordenação, à orientação e a suas relações, operações e representações, na realização de tarefas ou na resolução de situações-problema, tendo sempre como referência tarefas e situações com as quais a maior parte da população brasileira se depara cotidianamente (FONSECA, 2004, p.13 apud BUENO, 2009, p. 12).

Observa-se que a matemática conduz as pessoas a analisar, organizar e

resolver problemas do dia-a-dia, então para que façamos isso de maneira singular e

com eficácia é necessário termos uma Alfabetização Matemática proveitosa.

Contudo a tarefa de alfabetizar não é simples e vem modificando ao longo dos

últimos anos. A ideia de escrever o nome em um papel já não faz parte da

consideração que devemos ter de pessoa alfabetizada. Alfabetizar é uma tarefa

desafiadora e complexa, especialmente quando se trata de alfabetizar

matematicamente as pessoas, sendo uma modalidade que pode ocorrer em todos

os estágios de vida das pessoas, sendo que cada época deve acontecer de uma

maneira diferente. Acontecendo essa alfabetização de forma significativa as pessoas

estarão preparadas para atuar ativamente na sociedade.

Assim, este trabalho pretende discutir o conceito de Alfabetização Matemática

em um contexto geral, isto é, tanto na infância, quanto na adolescência e na fase

adulta. Como esta alfabetização vem ocorrendo no nosso sistema de ensino e

consequentemente analisar e investigar alguns métodos específicos para cada

alfabetização faz-se necessário para o processo de construção de conhecimento

referentes à Alfabetização Matemática.

Dessa forma, para cumprir com os objetivos descritos, utilizaremos a

pesquisa bibliográfica como caminho metodológico para sua realização. As ideias

abordadas pelos autores vão se entrelaçando e chegando bem próximas uma das

outras, o que não diminui a importância de cada autor para com a Alfabetização

Matemática. A ideia do presente trabalho teve suas origens nas indagações quanto

aos problemas posteriores à Alfabetização Matemática. Ao realizar o trabalho,

percebemos que o recurso à alfabetização pode ter um papel decisivo na

organização do conteúdo matemático que se quer ensinar. Organizando-o com base

no modo de raciocínio próprio de um conhecimento que se quer construir, ou seja,

alfabetizar matematicamente as pessoas é uma tarefa importante tanto para a

história escolar quanto social das pessoas, visto que os conhecimentos matemáticos

estão presentes em todos os momentos de nossas vidas.

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Se considerarmos a matemática como uma ciência de investigação

percebemos que ela está sendo ensinada de uma maneira equivocada, pois, está

sendo tratada como se fosse uma ciência pronta e acabada, pois “há práticas que

levam a pensar que o que existe para se conhecer já foi estabelecido, como um

conjunto de coisas fechado, sagrado, imutável e não modificável” (FERREIRO, 1985,

p.31).

Pelo fato de nenhuma ciência ou conhecimento ser acabado, por causa das

incessantes modificações do homem e do mundo, e pelo motivo do homem consistir

um ser que se relaciona com as coisas do mundo e com as pessoas, sabe-se que

em todos os momentos, os conhecimentos podem ser construídos ou atualizados.

Assim também acontece com a matemática, contudo deve ser posta aos alunos de

uma forma mais prática para que todos realmente sejam alfabetizados.

As maneiras como ocorrem a Alfabetização Matemática foram analisadas nas

circunstâncias que acontecem atualmente no Brasil, não com objetivo de criar ou se

imaginar um modelo único para tal alfabetização, mas sim para estender mais as

discussões em relação ao tema. Foram discutidas as principais causas da má

alfabetização assim como algumas propostas de soluções para moderar essa

questão que merece tanta atenção de todos envolvidos na educação.

Por fim o trabalho está disposto além da introdução que aborda a delimitação

do tema, a problematização, os objetivos gerais e a metodologia utilizada, em dois

capítulos assim distribuídos: o primeiro capítulo traz a relevância da Alfabetização

Matemática para nossa sociedade e no segundo capítulo está todo o

desenvolvimento com as pesquisas bibliográficas, análises e investigações acerca

do tema.

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CAPÍTULO 1 – A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A ALFABETIZAÇ ÃO MATEMÁTICA

A alfabetização trata de aspectos fundamentais que, facilitam a compreensão

e tornam-se alicerces para uma participação ativa na sociedade e na historia

escolar.

1.1 Interesse Pessoal

Comecei a lecionar no inicio do ano de 2008 quando ainda cursava o segundo

ano da graduação, nas turmas do ensino fundamental final tive a oportunidade de

perceber a dificuldade em compreender e o desgosto dos alunos pela matemática,

ação contrária vista nas crianças antes da escolarização, pois, estas apresentavam

um enorme interesse para mostrar que já sabem contar, separar, agrupar e ordenar

os números ou ideias matemáticas. Fato este que me despertou uma enorme

curiosidade, e que me motivou a desenvolver o presente trabalho.

A preocupação com esse descontentamento e dificuldade fez-me buscar

referenciais teóricos que ampliassem minha prática docente e analisar estudos que

pudessem colaborar para melhoria da compreensão dos estudantes na disciplina de

Matemática. Desta forma: “A Matemática deverá ser vista pelo aluno como um

conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua

capacidade expressiva, de sua sensibilidade estética e de sua imaginação” (PCN,

BRASIL, 1997, p.31).

Não é bem este o quadro da educação atualmente, contudo, umas das

principais se não a principal causa do atual panorama da educação no Brasil, em

particular a educação matemática é o fato das crianças, jovens e adultos não

estarem sendo alfabetizados matematicamente de forma clara, ou quando ocorre

esta alfabetização é de forma vaga e obscura. Acontecimento este que faz com que

eles busquem afastar cada vez mais da matemática.

1.2 Interesse Educacional

O problema das deficiências no ensino da Matemática merecem ser

estudados no sentido de buscarem suas raízes, isto é, procurar o problema no seu

princípio, na sua origem, para que seja sanado o mais rápido possível, favorecendo

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o desenvolvimento dos alunos. O trabalho de pesquisa se justifica pelo fato que as

questões mencionadas têm influenciado, de algum modo, os processos

educacionais escolares, gerando situações de confronto em relação aos papeis da

escola, dos governos e das famílias na educação matemática das crianças, jovens e

adultos, nos quais discutiremos possíveis soluções para evitar esse analfabetismo

matemático; quando que necessariamente seria o melhor momento de começar a

tratar o problema, ou evitá-lo; as causas que possivelmente levam à existência

desse problema. Contribuir tanto para que os alunos possam compreender melhor

essa ciência, quanto para os professores no auxílio de como abordar uma situação

de analfabetismo matemático.

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CAPÍTULO 2 – DISCUTINDO A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

A Matemática é considerada por muitos uma ciência para “poucos” ou uma

ciência para “gênios”. Muitos afirmam que a matemática está fora do cotidiano

escolar. Eles não percebem a matemática por isso não gostam, ou melhor, eles não

foram alfabetizados matematicamente. Quando se diz alfabetização matemática faz-

se necessário buscar primeiro seu significado, consultado o dicionário verifica-se

que alfabetização é “a ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura”.

Procurando no mesmo dicionário o que é alfabetizar encontra-se o seguinte:

“ensinar a ler, é dar instrução primária”. Assim uma pessoa que sabe ler é

alfabetizada. E o que é ler? Ler é “percorrer com a vista aquilo que está escrito;

interpretar o sentido de, reconhecer, perceber, decifrar, explicar, ver as letras do

alfabeto e juntá-las em palavras”.

Segundo DANYLUK (1991): “À escola compete desenvolver o uso oral já

adquirido, promovendo amadurecimento linguístico, e garantir a aprendizagem de ler

e escrever é o que constitui a alfabetização” (BECHARA, 1980 apud DANYLUK,

1991, p. 43).

Na linguagem matemática, o alfabeto são os símbolos dispostos

convencionalmente com ideias que possuam significados. Considerando esses

símbolos como o alfabeto matemático, é possível afirmar que a leitura e escrita dos

mesmos fazem parte do contexto geral de alfabetização. Pouquíssimos textos tratam

ou definem a Alfabetização Matemática.

Desta forma Danyluk (1997, p.12) define alfabetização matemática como:

...um fenômeno que trata da compreensão, da interpretação e da comunicação dos conteúdos matemáticos ensinados na escola, tidos como iniciais para a construção do conhecimento matemático. Ser alfabetizado em Matemática, então, é compreender o que se lê e escrever o que se compreende a respeito das primeiras noções de lógica, de aritmética e geometria. Assim, a escrita e a leitura das primeiras ideias matemáticas podem fazer parte do contexto de Alfabetização.

Ser alfabetizado em Matemática, então, é ler e compreender os números,

relacionar as unidades de medida, comunicar-se usando os conceitos aprendidos,

compreender as operações fundamentais. Considerando a matemática como uma

ciência de investigação, estar alfabetizado matematicamente refere-se ao domínio

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de conceitos elementares da matemática, ou seja, dominar os conteúdos mais

simples dessa ciência.

SILVA (2008) define a Alfabetização Matemática como um corpo conceitual

que se expressa numa linguagem que se manifesta em um sistema de

representações, com seus signos. A forma com que estes se articulam na fala, na

escrita, nos gráficos, desenhos, em diferentes formatos, buscam comunicar o

movimento e as transformações das quantidades e qualidades, das formas e suas

relações e aplicações na solução de problemas práticos ou teóricos no

desenvolvimento da humanidade. Assim quando trazemos a matemática para dentro

da escola, compreendemos como um sistema de representações e a partir desta

compreensão organizamos o seu ensino, podemos considerar os processos iniciais

da apropriação do que chamamos de matemática, tal como entendemos ser a língua

materna. À semelhança desta, trata-se de uma Alfabetização Matemática (MOURA,

1996 apud SILVA, 2008, p.79).

Nota-se então que, essa alfabetização pode ser entendida como a

organização das representações em um sistema, que também pode ser concebida

como a língua materna, estabelecendo o seu ensino, caracterizando uma

alfabetização em matemática.

Esta alfabetização, entretanto, vem se mostrando bastante complexa. Os

resultados apresentados, no sistema educacional, são poucos satisfatórios para

alunos, professores e, consequentemente, para a sociedade. As hipóteses para este

resultado insatisfatório são muitas. No ilusório social existe a ideia de que a

matemática é uma ciência para gênios e, por isso, poucos podem ter acesso a ela.

Outra ideia falsa refere-se à rigidez dos processos de ensino da matemática.

Silva (2008) escreve o seguinte sobre este tema:

Em primeiro lugar, há cristalizada nos currículos tradicionais, uma visão do que é que se deve ensinar na escola. Professores são submetidos a uma enorme pressão desta tradição, tanto sob a forma de currículos e livros texto quanto à forma de uma pressão social persistente, mas ao mesmo tempo eles próprios foram educados desde o ponto de vista daquela tradição: a escola de 1º e 2º graus que frequentaram, e a formação universitária que possivelmente tiveram, toda ela foi muito provavelmente baseada naquela tradição (LINS E GIMENES 1997, p.21 apud SILVA, 2008, p. 80).

A consequência visível destes fatos são os resultados apresentados pelos

alunos no ensino/aprendizagem da matemática. Ensino este que tem cometido

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equívocos tanto em relação à forma quanto ao conteúdo. No processo de organizar

o ensino de matemática na sala de aula, usando atividades repetitivas e mecânicas

pouco favorece o desenvolvimento cognitivo dos alunos, pois essas atividades

funcionam para que eles armazenem temporariamente o(s) conteúdo(s). Com o

decorrer do tempo professor e aluno percebem que na realidade não houve

aprendizagem, consequentemente esse processo resulta nos baixos índices de

aprendizagens das crianças. Até mesmo porque essa metodologia de memorização

e repetição se torna medíocre diante da ação dos computadores e tecnologias em

geral inseridos na vida das pessoas, isto é, a sociedade não precisa de indivíduos

capazes de memorizar, pois ela tem a seu dispor infinitos recursos para fazê-la, a

sociedade necessita de pessoas capazes de analisar, discutir e criticar. O que “não

ocorre” nessa metodologia.

Outra contribuição para o analfabetismo matemático é o fato dos professores

também assumirem que não gostam de matemática ou admitirem não saber ensinar

essa ciência.

Segundo Bueno (2009):

...a matemática é percebida, por muitos indivíduos, como sendo uma disciplina abstrata e totalmente separada das situações cotidianas, pois, muitos pensam que a matemática é uma ciência abstrata, muito difícil de aprender e desligada do cotidiano do homem. Há professores que afirmam abertamente nas suas aulas que a matemática é difícil e pensam que é acessível a uma minoria (PIROLA; BRITO, 2005, p.85 apud BUENO, 2009, p.16).

Como se observa, ao longo da educação brasileira criou-se o paradigma de

que a matemática é acessível a poucas pessoas, inclusive os próprios professores

pensam dessa forma, por isso a uma dificuldade de se provar o contrário.

Do mesmo modo Corrêa (2005, p.93 apud BUENO, 2009, p.16) comenta que

apesar das aplicações matemáticas estarem presentes nas ciências e na vida social,

através dos meios de comunicação, "a Matemática é tida socialmente como uma

ciência fria, difícil, abstrata e inumana".

Novamente a matemática é estabelecida como uma ciência extraescolar,

conveniente somente enquanto se está em ambiente escolar. Uma ciência morta e

inútil no cotidiano das pessoas.

Outro aspecto que tem grande influência na não alfabetização matemática é a

maneira como os professores alfabetizadores veem e ensinam a matemática, como

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caracterizou Danyluk (1991), ao pesquisar a relação de futuros professores dos

primeiros anos do ensino fundamental (estudantes do curso de Magistério) com a

Matemática, observou que:

A maioria desses futuros professores confessava não saber ensinar Matemática e não gostar dessa ciência. Afirmavam que haviam escolhido o curso de Magistério por acharem que, em tal curso, "não teriam muito de Matemática". Eles mostravam não gostar de Matemática e achavam-se incapazes de entendê-la. Esses futuros professores consideravam que quem "sabia" Matemática era um gênio (DANYLUK, 1991, p.18).

Se os próprios professores internalizam a matemática como uma ciência difícil

e complicada e desgostando do seu ensino, como os alunos vão gostar desta

mesma matemática que o professor lhes ensina? Eles não entenderão nem

compreenderão a disciplina, consequentemente não perceberão a importância em

estudá-la.

Outro fator influente na não alfabetização matemática é o de que os alunos ao

adentrarem na escola se deparam com uma linguagem matemática totalmente

diferente da linguagem extraescolar. A linguagem e os símbolos matemáticos

afastam os alunos de interpretar e relacionar a matemática fora da escola, e

defrontam-se com uma linguagem exata e repleta de símbolos que possuem

significados. São símbolos, números, regras e abstrações que confrontam suas

realidades mundanas. É uma linguagem extremamente complicada, nova e também

desempenha a função de comunicação. Cabe aos professores ensinarem essa

linguagem de modo significativo, fazer com que os alunos percebam estes símbolos

ou reconheçam as expressões, entretanto, tal objetivo não é tão simples assim, os

alunos criam conflitos com as duas linguagens existentes, como argumenta Santos

(2005, p.123 apud BUENO, 2009, p. 18):

Tal conflito (entre as linguagens) é instaurado em decorrência das características das duas linguagens. Enquanto a linguagem natural apresenta ambiguidades e tem como função principal a comunicação, a linguagem matemática apresenta outras características, que não servem somente à comunicação, como: é precisa e não redundante, rigorosa, formal, teórica, impessoal e atemporal, não se identificando referências a contextos particulares.

Os alunos acostumados com a linguagem materna, que possui como objetivo

principal estabelecer comunicação com outras pessoas, se deparam com uma

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linguagem formal, clara, precisa, genuína e que se atém a fórmulas estabelecidas

não tolerando outras formas de manifestar, fazendo com que caiam em desalento

em relação a sua aprendizagem. Quando empregam meios para obter um possível

caminho se defrontam com sua formalização contradizendo a conjectura da

linguagem materna ou natural de que pode assumir passos, ideias e palavras

diferentes que estará comunicando da mesma maneira.

Sabendo o professor que essas linguagens criam tais conflitos, ele deve

trabalhar no sentido de ampliar o vocabulário dos alunos na linguagem matemática

facilitando sua interpretação, utilização e comunicação.

Outro importante causador do analfabetismo matemático ou apenas motivador de

uma aversão por essa ciência é o fator família. A convivência familiar vai criando nas

crianças, normas, crenças, culturas e costumes próprios, baseados na tradição,

trazidos pelos antecedentes, pelas instituições ou pela mídia, ou seja, os valores.

Isso vai conduzindo-as nas escolhas e decisões quanto ao que fazer na vida

familiar, nas expectativas em relação aos outros, na imagem de si mesmas como

pessoas, famílias nas relações educacionais etc., Considerando essas relações

educacionais voltemos ao paradigma: “matemática é para poucos”, as famílias

influenciam as crianças na educação, afirmam que seus filhos são como eles,

quando estudavam, ou seja, os pais não “sabiam” matemática, por isso os filhos

também não “sabem”. Dessa forma, as crianças tendem a desenvolver opiniões

sobre suas próprias capacidades vinculadas às opiniões dos adultos e tornarem-se

cada vez mais dependentes dos adultos e das opiniões formadas pelos outros sobre

si próprios.

Sendo a família a base para a educação, criação de valores e sua

personalidade acredita-se que a criança deva receber da família o apoio necessário

para que isso aconteça claramente.

Conforme Bonetti (2004):

É na família que se oferece cuidado e proteção para as crianças, assegurando sua sobrevivência e condições dignas de vida. Também ela contribui para a socialização dos filhos em relação aos valores socialmente aceitos... É verdade que cada vez existem mais agentes socializadores: a escola, os amigos, as instituições formais e informais, os meios de comunicação. Mesmo assim a família constitui o agente socializador direto por excelência e funciona como filtro consciente ou inconscientemente de todos os agentes socializadores (TORNARIA, 2001, apud BONETTI, 2004).

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Assim, entende-se que a função de educar deve ser desenvolvida

essencialmente pela família, posteriormente a escola assume essa função,

entretanto, a família deve atentar-se para não educar ou influenciar negativamente

as crianças nessa alfabetização.

Aparentemente simples, a alfabetização tanto da língua materna quanto

matemática constitui um dos problemas educacionais da atualidade que merecem

atenção, pois, com uma alfabetização precária, o individuo terá bastante dificuldades

em sua vida escolar e até mesmo social.

O processo de alfabetização matemática pode ocorrer em todos os níveis

escolares e todos os níveis de idades, ou seja, o individuo pode ser alfabetizado

matematicamente tanto nos cursos fundamentais, médios e superiores, na infância,

adolescência ou na fase adulta respectivamente. Cada nível de alfabetização deve

ter uma proposta satisfatória para contemplar todos os casos, como alguns

discutidos a seguir.

2.1 Alfabetização Infantil

Antes mesmo das crianças adentrarem na escola, elas convivem e vivem a

matemática, descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, classificam e criam

conjuntos, estabelecem relações, observam os tamanhos das coisas, brincam com

as formas, ocupam um espaço e assim, vivem e descobrem a matemática. Quando

entram na escola, possuem até mesmo uma bagagem ampla de números, porém,

muitas dessas vezes elas não os compreende. Sabem ou ditam sequências sem

associar os números a símbolos, pela falta de habilidade com os números, ou até

mesmo pelo falta de alfabetização com os números. Desde cedo elas já recitam

números, porém sem saber o real significado do que estão dizendo. A construção da

ideia de número abordada por Kamii (1995, p. 13) mostra que “o número é

construído por cada criança a partir de todos os tipos de relações que ela cria entre

os objetos”. Neste sentido, a ideia de número é uma construção interna da pessoa.

Tem-se a escola o dever de trabalhar de várias maneiras de modo que a criança crie

essas relações entre os números e objetos. Quanto mais experiências ela tiver com

as coisas que a leva a associar aos números, maior a possibilidade dessa

associação de ideia. Portanto, como cada associação de ideia é pessoal, podemos

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dizer que a construção da ideia de número é mental, interna de cada sujeito diante

de uma realidade apresentada. Podemos dizer a mesma coisa utilizando símbolos e

ideias matemáticas diferentes, cabe à criança associar essa ideia a um objeto.

Todas as ações praticadas pelas crianças ocorrem fundamentalmente no

convívio social e no contato das crianças com histórias, contos, músicas, jogos,

brincadeiras etc.

Segundo os Referenciais Nacionais para Educação Infantil (RCNEI’s,1998,

p.201):

À medida que crescem, as crianças conquistam maior autonomia e conseguem levar adiante, por um tempo maior, ações que tenham uma finalidade, entre elas atividades e jogos. As crianças conseguem formular questões mais elaboradas, aprendem a trabalhar diante de um problema, desenvolvem estratégias, criam ou mudam regra de jogos, revisam o que fizeram e discutem entre pares as diferentes propostas.

Sendo assim, a abordagem da Matemática na educação infantil tem como

finalidade oferecer oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade

de estabelecer aproximações a algumas noções matemáticas presentes no seu

cotidiano, como contar, comparar, relacionar e etc.

É importante o professor perceber que pode trabalhar a matemática na

Educação Infantil sem se preocupar tanto com a representação dos números ou com

o registro no papel, pode colocar em contato com a matemática crianças de todas as

idades, desde bebês. Podemos pensar a matemática a partir de uma proposta de

não escolarizar as crianças, que permita à criança criar, explorar e inventar seu

próprio modo de expressão e de semelhança com o mundo. Tudo o que temos que

fazer é criar condições para que a matemática seja descoberta, oferecer estímulo e

estar atentos às descobertas das crianças.

Sabemos do alto índice de reprovação nas séries iniciais, à alfabetização é a

maior causa de tal acontecimento, porém, a alfabetização matemática também tem

sua parte de culpa. Entretanto para alfabetização da língua materna existem vários

programas para combater esse acontecimento enquanto para a alfabetização

matemática existem poucas propostas. O que se observa na prática é o predomínio

da metodologia da memorização de exercícios, de livros didáticos de qualidade

questionável, professores sem formação específica na disciplina e a formação

recebida, em geral, não possibilita uma abordagem segura dos conteúdos de modo

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que se perdem em modelos tradicionais que não dão conta de instigar nos alunos a

vontade de aprender. Além disso, os programas de ensino das séries iniciais

contemplam apenas o sistema de numeração de base 10, com isso as crianças nem

imaginam que existem/existiram várias maneiras de se contar.

Considerando que as crianças desde muito cedo têm contato com números,

mas que este contato não garante a aprendizagem significativa desta ideia BRITTO

(2004) cita alguns itens importantes para a alfabetização matemática na infância:

• Conhecimento prévio: Toda criança adentra na escola com certo conhecimento de números e sequências, compete à escola, em especial ao professor procurar saber o conhecimento que essa traz, por meio de brincadeiras, jogos, desafios entre outros e desenvolver as habilidades na qual a criança apresenta dificuldades.

• Fala numérica: A recitação de números não implica que a criança já saiba todos eles, e as ideias associadas a esses números, porém, a recitação de uma sequência já é um progresso na alfabetização dessa criança, uma vez que ela sendo estimulada sempre haverá persistência em tentar seguir uma sequência maior. • Contagem: É a transformação de uma quantidade não perceptiva, em grupos perceptivos, no intuito de quantificar. A contagem mais simples é a de 1 em 1. Saber pronunciar a ordem numérica é essencial para a contagem. Segundo Vergnaud, em palestra publicada na Revista do GEEMPA (1996, p. 11-12), a contagem exige do sujeito uma sincronia entre o olhar, o dedo, a mão e a voz. A atividade de contar envolve duas ideias da Matemática. A primeira é a relação biunívoca estabelecida entre os objetos contados, a mão, o dedo que aponta, o olhar e a voz. Sem esta sincronia, a contagem não fica garantida. A criança pode repetir um número, ou falar um número tendo apontado dois objetos, etc. A outra ideia matemática refere-se à repetição do último número da contagem. Vergnaud diz que, ao falar pela primeira vez o último número da sequência, a criança está designando o último elemento da contagem; já na segunda vez, ela está se referindo a todo o conjunto, ao cardinal. Ao quantificar, ainda é importante que a criança tenha consciência dos objetos já contados, para não incluí-los novamente no processo de contagem. • O conhecimento e a grafia dos símbolos numéricos: A compreensão dos números de 0 a 9 precede a aprendizagem da escrita, ou seja, assim como no alfabeto letrado as crianças aprendem primeiro os símbolos e depois as palavras e suas posições corretas, com os números acontecem à mesma coisa, isto é, elas aprendem os algarismos separadamente, posteriormente a essa aprendizagem ela começa a agrupa-los, formando ai os primeiros numerais, utilizando-os em suas posições corretas. • Intervenção pedagógica: O professor é um intermediador do aluno em sala de aula, ele não deve escolher o que e como ensinar, deve observar situações que surgem em sala de aula para classificar e enumerar situações de aprendizagem. As situações não podem relacionar apenas números pequenos, pois números maiores despertam a atenção das crianças2.

2.2 Alfabetização na Adolescência 2 BRITTO, Sueli. Alfabetizando com os números ou numerizando, Boletim; Brasília, 2004. Disponível em: < http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/191745Conhmatematico.pdf> Acesso em: 14 set. 2010.

22

Quando os alunos chegam á fase final do ensino fundamental, eles já

passaram por um longo processo de aprendizagem, em especial, aprendizagem

matemática, contudo, muito desses alunos ainda possuem grandes dificuldades com

a matemática. Grande parte desses alunos chegam despreparados

matematicamente, pois nessa fase são outros métodos de ensino, muitos

professores e de diferentes áreas dos conhecimentos. Os professores pressupõe

que os alunos já saibam todas as competências propostas na diretriz curricular

referente ao ano cursado anteriormente, continuando a partir daí com as

competências pertinentes ao ensino fundamental final, sem se darem conta que

seus novos alunos não são ou não estão maduros suficientemente para essa nova

fase escolar.

A maior parte dos alunos chegam com algum problema de aprendizagem nas

quatro operações fundamentais: adição, subtração, multiplicação e divisão, tanto na

compreensão, quanto em relação ao algoritmo, ou seja, chegam com problemas

básicos da matemática. Como é possível que uma criança chegue ao ensino

fundamental da segunda fase sem compreender operações básicas como a adição e

a subtração? Certamente os aspectos para responder esta questão vão além da

sala de aula, mais se destaca aqui as operações fundamentais, pois elas são

‘importantíssimas’ para a maioria das situações-problema que são lançadas para

eles, tanto nas séries iniciais, quanto nas series finais do ensino fundamental, e,

portanto, sem elas fica embaraçosa a aprendizagem dos demais conteúdos.

Tais problemas com as operações fundamentais não são percebidos apenas

durante uma avaliação formal, mas sim durante todo o período de aula, através da

oralidade e da escrita e até mesmo pela atenção voltada à aula, pois, como um

aluno vai conseguir ficar em silêncio atencioso a um conteúdo que ele não sabe ou

não entendeu? Então, pode-se dizer que esse aluno também possui problemas

quanto à Alfabetização Matemática.

Alfabetização esta que culpa os professores das series iniciais, pois seriam

apenas deles as obrigações de alfabetizarem na língua materna e matematicamente

de forma competente todas as crianças; aos programas de apoio a alfabetização,

nesse caso aos governos pela falta de incentivo a esses programas; ao currículo,

uma vez que este da maior atenção à alfabetização da língua materna; aos

professores das series finais, estes alegam não serem capacitados para enfrentar

23

esta situação, e nem mesmo os pais que, por muitas vezes, se omitem diante do

problema e ainda acreditam que a Educação é uma questão apenas escolar, isto é,

uma preocupação apenas da escola.

É preciso ter uma atenção maior quanto a este grupo de “analfabetos

matemáticos”, pois, nessa fase já deveriam estar com todas as competências

referentes à matemática primária, entretanto, o que acontece com esses alunos é

que todos se esquecem deles, isto é, quem deveria assumir os papeis de

educadores se omitem e se culpam, com isso esses alunos tornam-se um fracasso

escolar, uma vez que ninguém mais se responsabilizará por eles. Os professores

específicos de matemática alegam não serem capacitados para alfabetizar esse

grupo de alunos; e a família acreditando que a responsabilidade escolar é somente

da escola, é omissa na tentativa de melhorar ou qualificar sua aprendizagem.

É inadmissível um professor consciente de seu papel na formação de alunos

que é fazer com que explore, organize e relacione seus pensamentos, aceite

pacificamente a carência dessa matemática dos alunos. Alunos que passaram um

bom tempo nas escolas primárias e não conseguiram assimilar os conceitos básicos

da matemática e que agora chegam à fase final do fundamental sem conhecer o

essencial.

Faz-se necessário, tanto os professores primários quanto os professores de

áreas específicas serem mais comprometidos com a educação de seus alunos,

tomarem conhecimento e agirem ativamente para melhorar a qualidade do ensino

em nosso país. Além disso, o governo precisa abrir os olhos e enxergar a realidade

da atual situação educacional brasileira, que é precária e desenvolver programas e

incentivos para que a alfabetização ocorra de forma mais significativa nas escolas. E

por fim as famílias que também carregam sua parcela de culpa, pois assim como

afirma os PCNs (1997), família é base de tudo, então a educação começa pela

família.

2.3 Alfabetização de Jovens e Adultos

Muitos jovens e adultos não aproveitaram ou até mesmo não tiveram a

oportunidade de serem alfabetizados e por outros motivos diversos não foram

escolarizados. Com a matemática isto não é diferente, entretanto, muitos desses

24

jovens e adultos mesmo não sendo escolarizados sabem utilizar e aplicar em seu

cotidiano a matemática, porém quando se trata da matemática mais científica ou a

“matemática no papel” não sabem fazê-la. Esses jovens e adultos mesmo não sendo

analfabetos também não foram alfabetizados matematicamente. DANYLUK (2000, p.

15) afirma como acontece essa alfabetização de jovens e adultos atualmente: “O

ensino de adultos possui uma série de metodologias criadas para a educação infantil

as quais tornam precárias quando se trata da educação de jovens e adultos”.

Todos sabem dos diversos programas de auxilio para alfabetização da língua

materna, porém quando se trata da alfabetização matemática quase não existe, ou

sendo mais considerável, podemos dizer que não existe nenhum programa para

esse analfabetismo. Se tratando de alfabetização de jovens e adultos a situação

piora ainda mais, se tampouco para a alfabetização da língua materna existe apoio,

principalmente apoio governamental, quanto mais para a alfabetização matemática.

Se tratando dessa alfabetização existe uma barreira muito grande entre o

individuo analfabeto e a alfabetização, DANYLUK (2000, p. 16) afirma que “os

adultos carregam consigo vivências, culturas e conhecimento predicativos”. Eles

pensam que por estarem em uma idade “avançada” não há necessidade em

aprender a ler e escrever, melhor dizendo, eles não veem na educação uma ação

modificadora de suas vidas.

Contudo esse pensamento muda quando se inicia essa alfabetização, quando

vão conhecendo o novo, e formas diferentes de ver o mundo e no nosso caso, novo

modo de entender a matemática, DANILUK (2000, p.37) diz que: “a aquisição da

escrita torna-se, então para o analfabeto, um símbolo de superioridade e capacidade

de poucos”.

Analisando, entendemos que a partir do momento no qual o analfabeto

adquire alguma habilidade com a leitura e escrita ele se sente uma pessoa mais

importante e segura dentro da sociedade e percebe que após essa aquisição ele

pode participar ativamente da sociedade.

Mesmo os jovens e adultos não escolarizados possuem algum conhecimento

informal em Matemática provido de suas experiências de vidas, ainda que esses

conhecimentos não sejam suficientes para que compreendam o nosso sistema de

numeração. A alfabetização Matemática aproxima esse conhecimento pessoal de

cada um ao conhecimento científico e/ou escolar. Quando inicia a alfabetização eles

podem escrever números da mesma forma que os pronunciam, acontecimentos

25

paralelos com a educação infantil, porém, isso não significa que para a alfabetização

de jovens e adultos é necessário utilizar os mesmos programas de alfabetização,

pelo contrário, isto é inclusive um dos fatores agravantes na alfabetização desses

jovens e adultos que é a utilização dos mesmos programas de alfabetização, pois

em cada faixa etária existem habilidades e competências referentes à sua

contemplação, os adultos já possuem um conhecimento mais aguçado que as

crianças, entretanto, as ideias de abstração são novas da mesma forma.

26

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que o processo de Alfabetização em Matemática é ou deveria

ser tarefa prioritária das series iniciais, quando o aluno tem seus primeiros contatos

com a Matemática escolarizada e deve ser um processo interno à alfabetização na

língua materna. Afinal de contas, tanto uma quanto a outra são ferramentas

essenciais para a compreensão da realidade, além de ser o principal motivo da

repulsa pela matemática, uma vez que é nas séries iniciais que os alunos têm os

primeiros contatos com essa ciência, vista como um conhecimento apresentado em

linguagem formal. Porém, quando esta alfabetização não ocorre na infância, deve

ser pensada para que ocorra o mais rápido possível, uma vez que irá desmistificar a

matemática como sendo o “bicho papão” das salas de aula. Mostrar acima de tudo

que a Matemática tem uma função relevante no desenvolvimento do aluno como um

ser social. Como nos mostra os PCN’s (1998):

(...) a matemática pode dar sua contribuição à formação do cidadão ao desenvolver metodologias que enfatizem a construção de estratégias, a comprovação e justificativa de resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o trabalho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade para enfrentar desafios (PCN, 1998, pag.27).

Percebemos a importância e a contribuição da matemática ao analisar os

PCN’s (1998). Aos professores, é fundamental que haja uma reflexão crítica sobre

suas práticas. Este é um dos saberes necessários para o bom andamento de seu

trabalho educativo. É essencial também, que o professor saiba que “ensinar não é

transferir conhecimentos”, ou seja, o aluno não é um depositário de informações,

que deverão ser memorizadas e repassadas tal como aprendeu. Ensinar é sim

proporcionar condições para a construção dos conhecimentos pelos alunos, de

forma crítica, consciente, estimulando a autonomia, reflexão, discussão e o

raciocínio.

As crianças precisam de uma ênfase especial, pois é nessa fase que ocorre

as primeiras instruções formais da língua materna, paralelamente deveria ocorrer de

forma significativa a Alfabetização Matemática. Não havendo essa alfabetização,

cabe aos professores serem ativos em suas funções e alfabetizarem esses alunos

na adolescência. Persistindo ou iniciando a escolarização na fase adulta os

professores devem ser críticos quanto à sua tarefa e promover o ensino de forma

27

expressiva, pois, percebemos que os Jovens e Adultos ao serem alfabetizados

procuram, ao seu modo, solucionarem situações-problemas enfrentadas em seu

cotidiano, embora muitos deles acabem por aceitar a condição de viverem fora do

âmbito da sociedade letrada.

Segundo Danyluk (2000): “O analfabeto, no papel social que lhe cabe, apático

e calado, começa por intermédio da literatura, a despertar para a cidadania, tendo

algo a dizer, ou sentindo-se autorizado a dizer” (SILVA, 2000, p.160 apud

DANYLUK, 2000). A ideia é que os jovens e adultos não escolarizados devem ser

incentivados a perder seus medos em relação ao mundo escolarizado, pois, assim,

poderão abrir para a necessidade social de ler e escrever, podendo também se

libertar para que possam sentir satisfação e vontade de realizar tais atos, que os

tornam mais autônomos e cheios de amor próprio.

Os adultos não escolarizados nos mostram que muito aprendem através da

comunicação oral; em muitas situações, podem resolver cálculos mentais sem a

menor dificuldade. As noções matemáticas, especialmente as operações aritméticas

elementares, foram aprendidas de modo informal no decorrer de suas experiências

de vidas.

Com base em SOUZA (2010) podemos “defender um processo de

alfabetização em Matemática relacionado na contextualização, historicização e

enredamento”, isto é, dar o máximo de sentido à aprendizagem estabelecendo o

conhecimento matemático adquirido à composição de sua aplicação, utilizando a

história da matemática no seu ensino e conexões com suas ideias, cada qual em

suas épocas (na infância, adolescência ou na fase adulta).

As séries iniciais se dedicam quase que integralmente ao aprendizado da

leitura e escrita na Língua Materna. Além de deixar a Matemática em segundo plano,

e ignorar suas relações com a Língua Materna, a escola tem distanciado cada

vez mais o conhecimento matemático dos alunos. Ao adotar uma concepção

desacertada de Matemática, vem perpetuando ideias, fruto do senso comum, de que

a Matemática é feita por gênios e para gênios e que a capacidade para compreendê-

la é congênita. Do mesmo modo, propõe um ensino, na maioria das vezes,

autoritário, que limita a participação do aluno na (re) construção do conhecimento.

A perpetuação ou superação das ideias equivocadas quanto à Matemática, o

sucesso ou fracasso dos alunos na disciplina estão ligados às ideias assumidas pelo

professor, ou seja, o professor quem define quem é bom ou quem é ruim na

28

matemática, infelizmente essa definição é baseada frequentemente pelas notas dos

alunos. Diante disso, acreditamos ser extremamente importante em tornar a pensar

no modo como se apresenta e se avalia em Matemática.

Os professores com uma matemática excessivamente abstrata, formal,

mecanizada, expositiva e descontextualizada afastam os alunos desta ciência ao

seguirem os livros, programas e ações em sala de aula que dominam em grande

parte. Apresentam argumentos que caracterizam a Matemática como ciência que

trata de verdades infalíveis e imutáveis, com isso, mantém uma prática voltada

somente à transmissão de conhecimentos, que pouco significado tem para os

alunos. Eles podem mostrar uma matemática como uma ciência dinâmica para

compreensão de novos conhecimentos, flexível entre os seus vários conceitos e

modos de representação.

Acima de tudo o professor é o primeiro e o principal agente da educação, ele

deve antes de tudo gostar de matemática para depois ensinar de forma clara aos

alunos.

Dessa forma:

O professor não é apenas um comunicador, mas também um modelo. Alguém que não veja nada de belo ou eficaz na Matemática não será capaz de despertar nos outros o sentimento de entusiasmo inerente ao assunto (BRUNER,1972, p. 85 apud MIGUEL, 2006, p. 428).

Analisando, é indiscutível que o professor é um modelo para seus alunos,

visto que os estes os veem como pessoas que possuem conhecimentos, daí

passam a tê-los como exemplos a seguir, assim, se o professor não dialoga uma

matemática bela e presente no cotidiano provavelmente seus alunos também não

perceberão esta matemática vista e estudada desta forma.

Aos governos, investir com mais qualidade e intensidade em programas

específicos para alfabetização matemática, principalmente aqueles que são

correspondentes às idades dos alunos, isto é, desenvolver programas para a

infância, adolescência e para fase adulta; adequações dos currículos, uma vez que

os professores sentindo obrigados a cumprirem o currículo proposto abreviam os

conteúdos, tornado a aprendizagem difícil e obsoleta por parte dos alunos;

proporcionar aperfeiçoamento e atualizações para professores. Contudo, esse

aperfeiçoamento ou “treinamento” deve ser pensado e executado em um espaço de

29

tempo em que os professores possam compreender e interpretar as competências

objetivadas para que possam posteriormente executar em suas classes.

As famílias que tem uma importância imensurável na educação das crianças

acreditam que o estudo é uma forma de adquirir sucesso profissional, os pais

consideram as crianças inteligentes, porém quando percebem pelas notas de seus

filhos que eles estão com dificuldades de aprendizagem matemática não sabem

como resolver ou amenizar a situação. Recorrem ao paradigma de que o

conhecimento matemático é genético, uma vez que eles não eram bons em

matemática, consequentemente seus filhos também não serão. Equívoco este, que

deve ser tratado de forma que a família ajude os filhos a superar os obstáculos

dessa falta de alfabetização matemática, participando continuamente da vida escolar

de seus filhos, de modo que estejam sempre atualizadas aos acontecimentos

escolares.

Desta forma, verifica-se que alfabetizar matematicamente as pessoas não é

uma tarefa fácil, e ninguém conseguirá resolver o problema isoladamente. É preciso

trabalhar amparado por uma sociedade, um governo e o mais importante, um grupo

de profissionais (professores), dispostos ao menos amenizar essa situação que

tanto merece nossa atenção.

Quando iniciamos o trabalho tínhamos como objetivo verificar as causas do

descontentamento com a matemática indagando a situação das pessoas

vivenciarem e apreciarem a matemática antes da escolarização e quando iniciam

essa escolarização começam a sentir uma aversão pela ciência. Ao seu final

adquirimos uma experiência em relação ao tema proposto, visto que a Alfabetização

Matemática é uma área nova em pesquisas, contudo tivemos a oportunidade de

analisar e constatar alguns dos principais motivos do analfabetismo matemático.

30

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