UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DESPERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA EM FACE
DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA
Por: LUIZ OCTÁVIO HERMES DA FONSECA CARDOSO
Orientador
Prof. Dr. William Rocha
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DESPERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA EM FACE
DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Cândido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Direito Ambiental.
Por: LUIZ OCTÁVIO HERMES DA FONSECA
CARDOSO
AGRADECIMENTOS
3
aos amigos, parentes e professores
que tanto nos ajudam na nossa
caminhada.
DEDICATÓRIA
4
Dedico, a presente, a todos que de
alguma forma lutam pela causa ambiental
planetária.
5
RESUMO
O presente trabalho visa debater sobre a despersonalidade da pessoa jurídica
em face da legislação ambiental brasileira. O tema foi escolhido por ser um dos
mais polêmicos no ordenamento jurídico brasileiro e de calorosas discussões.
Abordaremos como a legislação brasileira evoluiu através do tempo tendo suas
raízes em legislações estrangeiras e como a figura da pessoa jurídica passou
de um “ser” intocável para uma situação real de punibilidade. Passaremos
pelas raízes gregas e romanas diferenciando as teorias do coletivismo e do
individualismo e atravessando a idade média até o século XIX. Abordaremos a
figura da responsabilização do agente infrator na revolução francesa e os
primeiros sinais de mudanças concretas na consciência da humanidade.
Passaremos pela Teoria da Ficção de Savigny e a Teoria da Realidade,
sempre abordando de forma objetiva a figura do agente infrator. Com o
transcorrer do trabalho, mostraremos a metamorfose da pessoa jurídica
inserida nas questões ambientais internacionais e posteriormente no
ordenamento jurídico do Brasil. Como é o exemplo da nossa carta magna
(Constituição Federal) que dedica um capítulo ao meio ambiente e de um dos
grandes avanços do ordenamento jurídico pátrio - a Lei de Crimes Ambientais -
que veio como um divisor de águas no ordenamento jurídico ambiental.
Mostraremos como a figura do infrator ambiental foi modificada com a
implantação das referidas leis e suas punibilidades correspondentes ao
analisarmos a Lei de Crimes Ambientais através dos seus mais importantes
artigos.
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METODOLOGIA
Os métodos usados para o presente estudo foram o uso de livros, versados
sobre a matéria ambiental, tanto internacionais quanto nacionais. Outros livros
que foram estudados foram os livros e revistas periódicas, de doutrina, que
versam sobre o Direito Ambiental Brasileiro. Revistas e documentos históricos
também foram consultados como revistas e códigos já ultrapassados mas que
nos ajudam a situar na linha do tempo. Outras fontes consultadas foram os
artigos na Internet que abordam o assunto bem como sites de direito ambiental
que têm um ótimo material de estudo. Outra fonte foram os portais de direito
ambiental brasileiro por sua farta gama de legislação bem como leis
específicas do tema e a Constituição Federal.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Evolução Histórica 09
CAPÍTULO II - Considerações de ordem dogmática e Político- Criminal 15
CAPÍTULO III -Responsabilidade da pessoa jurídica/ 9.605/98 19
CAPÍTULO IV-Da pessoa jurídica e suas penalidades 26
CAPÍTULO V- Responsabilidade dos sócios da pessoa jurídica 33
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 42
8
INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
A Despersonalidade da Pessoa Jurídica, no direito ambiental, é um dos
temas mais discutidos por nossos doutrinadores e legisladores, assim como
por todo o mundo, por se tratar de um dos grandes avanços do nosso
ordenamento jurídico. Sendo de grande importância em uma sociedade que se
diz moderna e que preze por um desenvolvimento econômico sustentável.
Devido às grandes mudanças ocorridas na sociedade moderna, o ser
humano se mostra um ser de caráter predatório pondo em risco a sua própria
espécie bem como todas as outras. Tal fato, de certo, no faz refletir se não
seria o Direito o justo agente ativo a procurar transformar esse triste quadro de
auto- punição e destruição.
Um importante passo foi efetuado, na legislação pátria, quando da
publicação da lei 9.605/98 que trata de crimes contra o meio ambiente e de
infrações administrativas ambientais – que transformou as contravenções
ambientais em crimes, aumentando em muito a responsabilidade do
agente infrator.
Com o surgimento dessa nova lei o intuito foi, num só paradigma, aplicar
normas de direito penal ambiental divulgando-as pela sociedade e agindo em
nome da lei e dos órgãos públicos.
9
A referida lei 9.605/1998, norma legal tão aguardada pela sociedade
brasileira, tem abordado muito dessas discussões da responsabilidade penal,
que dispõem sobre sanções tanto penais como administrativas, devido às
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
Deste modo temos como principal objetivo, no presente trabalho,
exaltarmos a importância da Despersonalidade da Pessoa Jurídica do agente
causador do dano ambiental bem como uma abordagem deste pensamento
através da evolução da humanidade através das suas sociedades.
Ainda como meta, vamos explicar a responsabilidade da Pessoa
Jurídica, na questão ambiental, desde a antiga Grécia até o moderno século
XIX.
Abordaremos, também, códigos e leis, atualizadas ou não, mas que nos
mostram de como a visão de responsabilização da pessoa jurídica foi sendo
modificada com o tempo e com a experiência.
Enfim, estudaremos a figura do agente infrator e as muitas mudanças
que ele sofreu. A pessoa jurídica saiu de um estágio praticamente intocável
para um estado de responsabilidade ambiental e de cunho social.
CAPÍTULO I
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1. GRÉCIA E ROMA
A evolução da história é caracterizada basicamente por duas tendências
relacionadas à responsabilização, acontecidas em épocas diferentes. O
primeiro período corresponde ao período coletivista e o outro seria o individual
ou individualista.
O coletivismo sempre foi, desde a sua fundação, um dos pilares de
sustentação da sociedade grega. Mesmo antes da era cristã o homem grego
sempre teve uma consciência que sua terra pertencia à um grupo de pessoas,
como seus ascendentes e descendentes, e nunca como uma propriedade
individual.
Nos grandes centros urbanos aquele homem que pertencesse a uma
determinada atividade artística, comercial ou mesmo militar era visto como
membro de uma associação constituída por membros unidos pelo esforço
comum e mútuo.
Fomentou-se assim, os elementos necessários para o aparecimento das
primeiras pessoas de direito privados organizadas em uma cidade-estado,
sendo punidas corporativamente por seus delitos.
11
Com o término da prática medieval do escambo, devido a um grande
desenvolvimento econômico e do aparecimento da moeda, negócios de
diversos tipos surgiram enfraquecendo o ideal coletivista grego. A terra antes
dotada de espírito coletivo, passa agora a ser vendida por valor econômico
fazendo com que os camponeses se tornassem individualistas. Assim, surgiu o
declínio econômico da Grécia, legitimando-se o individualismo social.
Já os romanos tinham como organização social o individualismo.
Conforme afirma Luiz Régis Prado:
"Historicamente, o Direito Romano negou a capacidade delitiva das
pessoas jurídicas, porque unicamente um cidadão livre podia ser titular de
direitos e deveres". (PRADO, Luiz Régis. 2004, v.l, p. 278)
Diferentemente da origem grega, a sociedade romana estava
fundamentada na idéia de que o indivíduo poderia ser titular de direitos e
obrigações. Ao contrário, não era esperado do cidadão romano que o mesmo
fosse punido por ter vontade diferente dos seus membros, não respondendo
coletivamente pelos atos dos mesmos. Mesmo assim, as corporações estavam
sujeitas às sanções penais.
A incalculável contribuição do direito romano passa, sem dúvida, pela
adoção do princípio societas delinquere non potest, (a culpabilidade e a
responsabilidade só poderão ser imputados criminalmente às pessoas naturais
na qualidade de autores ou partícipes), de evidente valor político.
Os romanos tinham como princípios em suas sociedades os delitos
cometidos às pessoas coletivas, apesar da legitimação do princípio, haja vista
12
a consideração subjetiva da responsabilidade individual como embasamento
do dolo criminal.
1.1 DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO XIX
Agindo como uma contra partida ao individualismo romano, o direito e a
sociedade medieval adotaram a teoria coletivista, com base nos princípios do
Direito Canônico, excedendo as tendências do Corpus Juris.
Após a queda do Império Romano e com o aparecimento e
desenvolvimento de novas cidades-estados, sob a influência protetora da
Igreja, adotaram-se do Direito Canônico, descartando assim, os postulados
romanos e consequêntemente o Corpus Juris. A influência do Direito Canônico
e a legislação dos povos invasores influenciaram o desenvolvimento de
diversas formas de interações e costumes sociais.
Na organização basicamente agrária, tanto o cervo como o senhor
feudal respondiam em nome do soberano da terra. Sua organização se
baseava na ocupação do solo, gerando assim direitos e deveres recíprocos.
Nos grandes e cada vez mais complexos centros que se formavam os
órgãos públicos, preocupados com o crescimento sem ordem e lei, mostraram-
se cada vez mais preocupados com os direitos alheios, obrigando-os a se
defender por meio de leis penais, destacando-se o ponto da criminalidade da
pessoa jurídica.
13
De tal forma que diversas atividades surgiram e com elas as grandes
corporações que ganhavam vultos gigantescos de modo que a realeza as
ameaçava de dissolução, de extinção. Tudo porque as penas pecuniárias
empregadas não bastavam para reprimir o seu crescimento.
Uma vez retomado o controle estatal, agregou-se mais uma vez a idéia
individualista dos romanos e como consequência o estudo, nas universidades,
do direito romano. Tal época marcou o fim do sistema feudal dando início ao
movimento renascentista.
Sendo assim, o movimento coletivista medieval perdeu força,
reaparecendo o individualismo que adentrou na Renascença e na Idade
Moderna.
Diante da perda dos grilhões da liberdade, a Europa passou a respirar
ares de liberdades individuais tão esperados. Um novo movimento surgiu tendo
como princípios a idéia de responsabilidade voltada para a individualização da
pena no Direito Penal, ao final do século XVIII, segundo o pensamento de
Beccaria, do qual a obra se tornou base da opinião de autores penais da
revolução, e atualmente também.
Após a revolução francesa, o individualismo alcançou o seu ponto mais
alto estando, também, a punição ao corporativismo no seu auge. Tal momento
perdurou até a Assembléia Constituinte Francesa, impondo a legislação penal
e os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão,
adotando-se a pena pessoal, individual.
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No período do individualismo, mesmo a legislação tendo acabado com o
progresso das corporações, estas eram submetidas às sanções penais,
julgadas capazes de delinqüir, evidenciando a existência de oposição entre a
doutrina e a legislação.
1.2 DO SÉCULO XIX
O século XIX foi o momento de desenvolvimento e também do declínio
dos ideais individualistas da Revolução Francesa.
À época não se via com bons olhos, pelos grandes jurístas, a idéia da
responsabilidade penal da pessoa jurídica. Suas principais alegações eram
que a infração criminal só poderia se dar pela vontade livre e consciente,
conforme conceito de responsabilidade deixado pelo Direito Romano cabendo,
apenas ao homem a imputação da infração criminal, visto que só ele seria
capaz de atuar com inteligência e liberdade.
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES DE ORDEM DOGMÁTICA E POLÍTICO-
CRIMINAL
2.1 A TEORIA DA FICÇÃO:
15
A seguir iremos analisar as teorias sobre a responsabilidade penal da
pessoa jurídica. Em questão nos interessa duas teorias: a teoria da ficção e a
teoria da realidade.
De autoria de Savigny, a primeira teoria aborda o princípio de que a
responsabilidade da pessoa jurídica é uma ficção ou que se trata de uma teoria
puramente abstrata. Tal fato decorre da idéia que a vontade soberana não
pode ser responsabilizada por seus atos (carecem de vontade e de ação).
Portanto para a referida teoria, somente o homem natural pode ser
responsabilizado por seus atos, ou seja, sujeito a direitos e deveres uma vez
que o direito penal reconhecia, à época, a pessoa jurídica como um ser
abstrato.
Conforme posição do autor Luiz Régis Prado:
“A realidade de sua existência se funda sobre as decisões de certo
número de representantes que, em virtude de uma ficção, são consideradas
como suas, e uma representação semelhante, que exclui a vontade
propriamente dita, pode ter efeito em matéria civil, mas nunca em relação à
ordem penal. Os delitos que podem ser imputados à pessoa jurídica são
praticados sempre por seus membros ou diretores, isto é, por pessoas
naturais, e pouco importa que o interesse da corporação tenha servido de
motivo ou de fim para o delito”. (PRADO, Luiz Régis, 2004, v. l, p. 280, 1999)
16
Apesar de sua importância, a teoria de Savigny recebeu e vêem
recebendo pesadas críticas uma vez que para muitos estudiosos e juristas a
pessoa jurídica sempre teve e sempre terá real juízo de existência.
Conforme o estudo de ilustres como Washington de Barros Monteiro,
entendendo este, de modo mais direto, e com apoio de Giorgio Del Vecchio,
que a teoria da ficção não pode ser aceita pois, afinal, esta não explica a
existência do Estado como personalidade jurídica que O é.
Se entendermos o estado como uma ficção também deveremos
entender a sua referida teoria como abstrata e fictícia uma vez que, este
mesmo Estado, não se identifica com as pessoas físicas que o completam.
Portanto, a Teoria de Savigny contempla minoria absoluta na doutrina
moderna predominando, por via de conseqüência, o entendimento de que a
natureza jurídica da pessoa jurídica é uma realidade material.
2.2 A TEORIA DA REALIDADE
Baseado em princípios totalmente opostos à teoria da realidade pois
baseia-se nos princípios de que a pessoa moral é um ente real, tendo forma
viva e ativa e que não depende dos indivíduos que a compõem. Portanto o
ente moral não pode ser uma figura abstrata e fictícia criado pelo Estado.
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A pessoa jurídica ou coletiva é capaz de agir e cometer irregularidades,
possuindo, portanto, vontade própria. Uma vez que o ente corporativo existe
este agrega direitos e deveres SENDO CAPAZ DE ASSUMIR DUPLA
RESPONSABILIDADE: Cível e Penal.
Portanto para o entendimento completo dessa teoria, esta sua
responsabilidade é pessoal uma vez que a pessoa moral é de fato completa,
individual e permanente realizando todas as características da personalidade
menos uma: a substancialiedade. Esta dotada de realidade acidental.
Por mais que a presente teoria tenha recebido críticas de alguns
autores, em alguns aspectos, nota-se que a pessoa jurídica não mais passou a
ser vista como um ser abstrato mas com direitos e deveres, que vem da
realidade concreta.
Muitos autores modernos têm aceito essa teoria como FACHIN:
“A pessoa jurídica nada mais é do que um ente inicialmente moldado à
semelhança das pessoas naturais, e que progressivamente foi se apartando da
formulação das pessoas naturais para compor uma realidade técnica, dotada
de certa vida jurídica própria, no intuito de contribuir, do ponto de vista das
relações jurídicas, para o trânsito de bens, coisas e interesses”. (FACHIN, Luis
Édson. 2000. p. 134)
A origem do Direito Penal brasileiro bem como o direito romano-
germânico se baseia no famoso dizer: societas delinquere non potest, -
reconfirmação dos postulados da culpabilidade e da personalidade das penas.
Isso significa dizer que a culpabilidade e a responsabilidade só poderão ser
18
imputados criminalmente às pessoas naturais na qualidade de autores ou
partícipes.
Muito importante diferenciarmos o sujeito da ação e o sujeito da
imputação uma vez que não são iguais no caso da pessoa jurídica
considerando que "só podem atuar através de seus órgãos e representantes,
isto é, de pessoas físicas (sujeito da ação).
Assim não existe na pessoa jurídica o elemento primeiro que é a
capacidade de ação ou omissão. Entendemos ação como vontade de agir livre
de uma atividade manifestada pela vontade para se chegar a um fim
específico. A omissão, por contrário, é a não expressão da vontade livre,
através de uma inação do dever de agir e fiscalizar.
CAPÍTULO III
3.1 DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
CONFORME A LEI 9.605/98
Para muitos estudiosos da doutrina pátria, não existe uma diferença
gritante entre o ilícito penal e o ilícito civil se caracterizando a natureza legal,
como uma sutil diferença de ambos, através do seu nível de responsabilização.
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O pensamento de Nelson Hungria diz que:
[...] “ilícito penal é a violação do ordenamento jurídico, contra a qual,
pela sua intensidade ou gravidade, a única sanção adequada é a pena, e ilícito
civil é a violação de ordem jurídica, para cuja debelação bastam as sanções
atenuadas da indenização, da execução forçada, da restituição, in specie, da
breve prisão coercitiva, da anulação do ato, etc.” (HUNGRIA, Nelson, 1999, p.
161)
Ainda citando o renomado jurista, Hungria nos ensina que a
diferenciação básica na ilicitude está na gravidade do ato praticado pelo
agente, aos valores atribuídos a cada ato de acordo com as características da
época e da gravidade e potencialidade do dano.
Um ato ilícito pode determinar a responsabilização civil ou pode
determinar a responsabilização penal. Contudo, ambas podem ocorrer
simultaneamente. Assim, entendemos que ao diferenciar o ilícito penal do
ilícito civil, importante destacarmos os valores atribuídos a determinadas
condutas nos diferentes níveis de gravidade.
Seguindo esta linha de pensamento Rui Stocco nos diz:
“a ilicitude na responsabilidade penal está em certas ações ou omissões
que são definidas como "crimes" ou "contravenções", sujeitando o causador a
sanções especificamente de caráter pessoal, cerceadoras da sua liberdade,
combinadas ou substituídas, por vezes, por imposições patrimoniais. Já na
20
responsabilidade civil, o agente pode ser obrigado pelo prejudicado a reparar o
dano causado, restabelecendo o equilíbrio que sua ação rompeu.”
“para que haja ilícito, há necessidade da conjugação dos seguintes
fatores: a existência de uma ação; a violação de uma ordem jurídica; a
imputabilidade e a penetração na esfera de outrem”. STOCCO, Rui (1995, p.
49)
Como consequência dessa corrente de pensamentos, entendemos que
no caso da responsabilização penal o direito público é inflingido por agente
próprio se caracterizando como um dano causado à sociedade, tendo seu
direito lesado. Já na responsabilidade civil o direito privado é a vítima do ato
lesivo sendo de direito pleitear ou não a sua reparação.
Entendemos, portanto, que a diferenciação básica se baseia no fato de
que uma se caracteriza por uma contra-resposta imediata através da repressão
e punição, sendo a outra através de indenização para se reaver o patrimônio e
o direito do lesado na esfera material.
3.2 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
Através de um breve histórico, citaremos o Código Penal Brasileiro de
1840 que nos diz em seu artigo 25 que existe a possibilidade de ocorrência de
21
crime (responsabilidade penal) mesmo, este, cometido por pessoas jurídicas,
membros de associações ou sociedades.
Posteriormente, o Código Penal Brasileiro foi editado e somente em
1984 foi reformado. Ocorre que tal mudança não trouxe qualquer alteração em
relação à responsabilização da pessoa jurídica. A tão esperada mudança só
veio a chegar na promulgação da Constituição Federal de 1988 em seu artigo
175 parágrafo 5º relativos contra a ordem econômica e financeira.
Outro artigo que veio a trazer significativas mudanças ao ordenamento
jurídico foi o art. 225 e em especial seu parágrafo terceiro relativos aos crimes
contra o meio ambiente que depois veio a ser regulamentada pela lei 9.605/98
em seu artigo 3º.
Assim, a Constituição Federal passou a ser a primeira a combater os
crimes cometidos contra o meio ambiente aplicando sanções penais e também
administrativas. Outro ponto importante é que verificamos, agora, a existência
de um caráter duplo de punibilidade no âmbito penal: a punibilidade da pessoa
física e também da pessoa jurídica.
Importante transcrevermos o art. 225 da Constituição Federal e seu
parágrafo terceiro:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações:
22
§ 3°. Ás condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”.
Outro artigo que merece nosso destaque é o artigo 173 parágrafo
terceiro:
§5°. “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos
dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta,
sujeitando-a as punições compatíveis com sua natureza, nos atos
praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia
popular.”
De uma forma geral houve um entendimento do novo papel exercido
pela empresa contemporânea que não pode ser tratada de forma igual. Assim,
já não se concebe mais a idéia de se responsabilizar só a pessoa física da
empresa mas também a pessoa jurídica da mesma.
A legislação de crimes ambientais brasileira inova em seu artigo terceiro
pois passa agora a responsabilizar tanto a pessoa física bem como a pessoa
jurídica:
“Art. 3°. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração
23
seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou beneficio da sua entidade”.
“Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.”
Contudo o presente tema ainda gera muita polêmica entre doutrinadores
e legisladores uma vez que uma parte entende que somente as pessoas
naturais são passíveis de punibilidade enquanto que outros entendem que as
pessoas jurídicas também são capazes para sofrerem punição como é o caso
da jurisprudência que se segue:
EMENTA: PREFEITO MUNICIPAL. CRIME ECOLÓGICO. Para o
recebimento da denúncia, basta que se demonstre a materialidade do depósito
da substância tóxica em local inadequado. (PCR n° 694122680, Quarta Crime,
TJRS, Relator: Dês. Vladimir Giacomuzzi, Julgado em: 17/08/1995).
TRIBUNAL: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS. DATA DE JULGAMENTO:
17/08/1995. ÓRGÃO JULGADOR: QUARTA CÂMARA CRIMINAL. COMARCA
DE ORIGEM: DOIS IRMÃOS. RECURSO: PROCESSO CRIME NÚMERO:
694122680. RELATOR: VLADIMIR GIACOMUZZI. FONTE:
JURISPRUDÊNCIA TJRS, C-CRIM, 1995, V-1,T-5,P-145-152.EEE.
APELAÇÃO-CRIME. DENÚNCIA. REJEIÇÃO. CRIME AMBIENTAL.
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. A Constituição Federal
de 1988, em seu art. 225, § 3°, determina expressamente que a pessoa
jurídica está sujeita às sanções penais quando praticar condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente. Da mesma forma, preceitua o art. 3° da Lei n°.
24
9605/98. Assim, não aceitar a responsabilização penal da pessoa jurídica é
negar cumprimento à Carta Magna e à lei. Recurso de apelação julgado
procedente. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS. APELAÇÃO CRIME N.°
70009597717, QUARTA CÂMARA CRIMINAL, RELATOR: JOSÉ EUGÊNIO
TEDESCO, JULGADO EM 14/10/2004).
Assim, também é o caso da aplicabilidade penal contra pessoa física,
estabelecendo, de forma individual ao sujeito infrator, a reparação do dano
causado ao meio ambiente, como se demonstra a seguir:
EMENTA: CRIME AMBIENTAL. PROVA EMPRESTADA.
SUBSTITUIÇÃO DE PENA. A atividade consistente em depositar o lixo
doméstico e industrial da cidade em local inadequado e proibido, segundo
comprovação técnica, caracteriza a prática de crime ambiental. Prova pericial
produzida no Juízo Cível pode ser aproveitada no processo criminal que
discute o mesmo fato, observado o contraditório . Apresentando-se favoráveis
as circunstâncias judiciais e inocorrentes agravantes, a pena privativa de
liberdade inferior a quatro anos decorrente da condenação pela prática de
crime ambiental, pode ser substituída por atribuição de tarefa gratuita junto a
parques e jardins públicos e unidades de conservação, pelo prazo da sanção
substituída. VOTO VENCIDO. (TJRS. PCR n.° 695062950, Quarta Câmara
Criminal, Relator: Dês. VLADIMIR GIACOMUZZI, Julgado em: 30/04/1998).
SECAO:CRIME RECURSO: PROCESSO CRIME NUMERO: 695062950
RELATOR VENCIDO: WALTER JOBIM NETO REDATOR PARA ACÓRDÃO:
VLADIMIR GIACOMUZZI. FONTE: Jurisprudência TJRS, C-CRIM, 1998, V-l, T-
ll, P-46-64)
25
DIREITO PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME AMBIENTAL. CRIME
CONTRA A FLORA. AÇÃO PENAL JULGADA PROCEDENTE. PENA
DETENTIVA APLICADA. "SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE POR PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA" (Processo n.° 001949361, da
4a Câmara Crime, Rei. Dês. Vladimir Giacomuzzi, j. em 13/12/2003).
CAPÍTULO IV
4.1. DA PESSOA JURÍDICA E SUAS PENALIDADES
Segundo o artigo 21 da lei de crimes ambientais brasileira (9.605/98)
três são os tipos de penalidades impostas à pessoa jurídica: a) Pena de multa
b) Restritiva de liberdade c) Prestação de serviços à comunidade.
26
4.2 A PENA DE MULTA
Conforme artigo 18, da lei 9.605/98:
Art 18. “A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se
revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada
até 3 (três) vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida.”
O artigo 49 e parágrafos, do Código Penal, também tratam da pena de
multa, conforme segue:
Art. 49 “A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário
da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa”.
“§ 1°. O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior
a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 5 (cinco) vezes esse salário.”
“§ 2°. O valor da multa será atualizado, quando da execução, pêlos
índices de correção monetária.”
27
Ponto importante que devemos ressaltar é o estudo da situação
econômica do réu quando da aplicação da multa para que não aplique uma
multa a qual não teria capacidade financeira para pagar. Assim esclarece, de
forma prática, o artigo 60, § 1°, do Código Penal:
Art. 60. “Na fixação da pena de multa o juiz deve atender,
principalmente, a situação econômica do réu.”
§ 1°. “A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que,
em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no
máximo.”
4.3 AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
Há previsão de três tipos de penas restritivas de direitos, inseridas no
artigo 22 da lei 9.605/98, que são:
4.4 A SUSPENSÃO PARCIAL OU TOTAL DE ATIVIDADES
Conforme artigo 22, § 1°, da lei trata da suspensão parcial ou total de
atividades:
Art. 22. [...]
28
§1°. “A suspensão de atividades será aplicada quando estas não
estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à
proteção do meio ambiente.”
Importante destacarmos para esta pena pois corre-se o rico aqui do fim
da existência da pessoa jurídica, principalmente de pequeno a médio porte
uma vez que a sua situação econômica não permitiria a aplicação da referida
pena.
Paulo Afonso Leme Machado diz que:
“A suspensão das atividades de uma entidade revela-se necessário
quando a mesma age intensamente contra a saúde humana e contra a
incolumidade da vida vegetal e animal. É pena que tenha inegável reflexo na
vida econômica de uma empresa. Mesmo em época de dificuldades
econômicas, e até de desemprego, não se pode descartar sua aplicação. Caso
contrário seria permitir aos empresários ignorar totalmente o direito de todos a
uma vida sadia e autorizá-lo a poluir sem limites. Conforme a potencialidade do
dano ou sua origem, uma empresa poderá ter suas atividades suspensas
somente num setor, ou seja, de forma parcial. A lei não indica ao juiz o tempo
mínimo ou máximo da pena.”
“O juiz poderá, conforme o caso, fixar em horas, em um dia ou em urna
semana a suspensão das atividades. Com isso, fica claro que ao aplicar a
medida, se analise qual a gravidade do dano, mas também a capacidade
financeira da pessoa jurídica, para que suporte tal penalidade, possibilitando a
sua sobrevivência após reparar o dano que causou.” (MACHADO, Paulo
Afonso Leme p.145, 1992)
29
4.5 A Interdição Temporária de Estabelecimento, Obra ou Atividade
Conforme artigo 22, § 2°, da lei:
Art. 22. [...]
§ 2°. “A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou
atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com
a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.”
Neste caso o objetivo claro da intenção da lei é que se pare, de
imediato, a agressão imposta ao meio ambiente quando este estabelecimento
estiver exercendo uma atividade irregular, vindo a causar dano ambiental.
Neste exemplo, o estabelecimento estará provavelmente funcionando sem
autorização ou em desacordo com a mesma.
De forma diferente da suspensão, que pode não ser temporária, a
interdição tem caráter temporário.
Segundo, Paulo Afonso Leme Machado afirma que "será imposta
visando a levar a entidade a adaptar-se à legislação ambiental, isto é, a
somente começar a obra ou iniciar a atividade com a devida autorização".
MACHADO, Paulo Afonso Leme (2003, p. 670),
Uma vez que determinada atividade, que exerceu algum tipo de
agressão ao meio ambiente, tenha sido interditada, contudo, havendo
continuidade em suas atividades o juiz é o competente para instaurar o
30
inquérito policial para apurar desta grave infração conforme artigo 359, do
Código Penal, para que condene a entidade à pena de multa.
Art. 359. “Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de
que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena-detenção de 03 meses
à 02 anos, ou multa.”
4.6 A Proibição de Contratar com o Poder Público
Conforme o artigo 22, § 3°, da lei:
Art. 22. [...]
§3°. “A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter
subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de 10 (dez)
anos.”
Segundo Paulo Afonso Leme Machado
“o contrato com o Poder Público, com o procedimento licitatório ou sem
este, fica proibido com cominação desta pena. A aplicação desse dispositivo
tem como consequência o impedimento da empresa condenada apresentar-se
às licitações públicas. Mesmo que a licitação seja anterior ao contrato com o
Poder Público, não teria sentido, no prazo da vigência da pena, que uma
empresa postulasse contrato a que não tem direito. O dinheiro público, isto é, o
dinheiro dos contribuintes, só pode ser repassado a quem não age
31
criminosamente, inclusive com relação ao meio ambiente.” (MACHADO, Paulo
Afonso Leme, 2003, p. 672):
Tal pena tem como objetivo desestimular a prática do crime ambiental,
sendo inaceitável por parte do poder público o respaldo às empresas que
cometam ou venham a cometer qualquer ilícito penal ambiental. Cabe ao
poder público dar o exemplo contratando, subsidiando e fazendo doações às
empresas que sirvam de modelo na gestão dos recursos naturais envolvidos
na sua atividade.
4.7 A PENA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE/
PESSOA JURÍDICA
Conforme o artigo 23, da lei 9.605/98, esclarece:
Art. 23. “A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica
consistirá em:
custeio de programas e de projetos ambientais;
execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
manutenção de espaços públicos e
contribuições à entidades ambientais ou culturais públicas.”
32
Percebemos, aqui, que a intenção do legislador foi mais de educar do
que de punir as pessoas jurídicas que venham a degradar o meio ambiente. A
teoria aplicada aqui é de que reparar o dano muita das vezes é muito melhor
do que aplicar uma multa que muita das vezes, principalmente no caso de
grandes empresas, não trazem qualquer tipo de prejuízo tendo em vista o seu
poderio econômico.
Um outro caso possível, seria a liquidação da pessoa jurídica que,
ocorrendo de maneira forçada, seria o mesmo que decretar a sua pena de
morte. Uma vez instaurado o devido processo legal e comprovado a
ilicitude da empresa a pena aplicável será a liquidação da pessoa jurídica,
decretando-se a extinção, conforme dispositivo legal do artigo 24 da lei
9.605/98:
Art. 24. “A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente,
com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta lei
terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado
instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário
Nacional.”
Por fim, estas são as penas aplicadas às pessoas jurídicas que venham
a cometer ilícitos penais. Note que tais penalidades servem como um
ensinamento para a correta conduta ambiental fazendo com que estas
empresas reformulem o seu modo de pensar e agir em relação ao meio
ambiente.
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CAPÍTULO V
DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS E/ OU ADMINISTRADORES DA PESSOA JURÍDICA
O infrator que age contra o meio ambiente ao exercer sua atividade não
age por si só. Age em nome da pessoa jurídica e esta tem que ser penalizada
por seus atos sendo esta sujeita de direitos podendo sim ser sujeito ativo da
infração.
A legislação brasileira conseguiu quebrar a tradição da não punibilidade
da pessoa jurídica o que já era uma forte tradição.
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Seria injusto não responsabilizar as pessoas físicas que representam à
pessoa jurídica. Assim, justo é penalizá-la duplamente, ou seja, na proporção
da sua culpabilidade. Portanto por suas ações ou omissões, pelo fato de que
de alguma maneira poderia ter evitado o dano ambiental bem como por suas
ações diretas e ativas conforme artigo 3°, parágrafo único, da lei 9.605/98:
Art. 3°. “A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”.
A autora Ana Paula Fernandes cita que:
“A maior parte dos doutrinadores que se ocupa do tema entende haver um
concurso necessário entre o representante da empresa e a pessoa jurídica.
Sabemos que as pessoas jurídicas são incapazes, por si mesmas, da atividade
física que realize sua vontade delitiva, dependendo a exteriorização do
desempenho criminoso de que haja um atuar, de uma, ou de mais de uma
pessoa física, as quais, não poderão ser quaisquer pessoas, mas sim aquelas
que possuam um cargo diretivo e que atue em nome da empresa, restando
delimitado o número de pessoas imputáveis.” (FERNANDES, Ana Paula 2004-
35, p. 144)
Podemos assim citar a autoria mediata e imediata, sendo a empresa
como autora mediata e o representante ou administrador como autor imediato
atuando como uma espécie de co-autoria. Ressalte-se que nem sempre o
autor imediato será culpado por todos os atos do autor mediato conforme
artigo 22 do Código Penal:
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Art. 22 – “Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência
a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o
autor da coação ou da ordem.”
Assim será responsabilizado o co-autor (representante) de acordo com a
sua culpabilidade de acordo com os artigos 2º e 3º da lei 9.605/98.
No caso de se verificar que o representante da empresa não detinha de
poder decisório, neste caso a responsabilização cairá exclusivamente sobre a
pessoa jurídica. Outro caso comum é quando a culpabilidade cai
exclusivamente sobre a figura do representante que usa a estrutura
empresarial para a prática do crime ambiental.
Por isso, importante no devido processo legal se verificar com muito
cuidado a capacidade de cada agente e a sua força de influência e decisão
dentro da corporação, aplicando-se à eles a pena na proporção de sua culpa,
conforme artigo 2°, da lei 9.605/98, que diz:
Art. 2°. “Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes
previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e
de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a
sua prática, quando podia agir para evitá-la.”
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Foi a intenção do legislador que o agente pague coisa particular, coisa
pública ou coisa tombada.
Assim, também diz Paulo Afonso Leme Machado:
“O legislador constituinte adotou a responsabilidade penal da pessoa
jurídica, em matéria ambiental e, adverte que o que importa é que a pena que
venha a ser cominada à empresa, seja realmente dissuasiva com relação à
atividade agressora ao meio ambiente e que a pessoa física, cuja
responsabilidade em concurso, não seja isenta da pena adequada, em sua
esfera pessoal.”(MACHADO, Paulo Afonso Leme,1992, p, 405)
. CONCLUSÃO
Diante do exposto nota-se que o tem abordado ainda é complexo e
passivo de muita discussão.
Tal fato ocorre em função dos códigos anteriores não abordarem o
assunto tendo em vista que a visão de culpabilidade da pessoa jurídica não era
entendida tão pouco abordada.
Após um longo tempo de espera dos ambientalistas, somente em 1998
com a publicação da nova Constituição Federal foi introduzida ao direito pátrio
a responsabilidade penal das empresas e sua regulamentação veio com o
advento da lei 9.605/98.
Com a abordagem da responsabilidade penal da pessoa jurídica pela
Constituição Federal, mais precisamente nos artigos 173, § 5° e 225, § 3°,
reconheceu-se o concurso necessário entre o representante e a pessoa
jurídica, tendo em vista que um dos pontos principais para a responsabilização
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penal das empresas é o apoio da corporação para a prática da violação penal,
não sendo possível, contudo, penalizar a pessoa jurídica sem a cumplicidade
com a pessoa física.
A lei dos crimes ambientais é um diploma legal de indiscutível precisão
em face do valor do bem jurídico que protege e que está regulado no direito
brasileiro dando aos brasileiros instrumentos eficazes no combate ao crime
ambiental das pessoas jurídicas e físicas, na proporção de sua culpabilidade.
É preciso que, ao analisar o artigo 2° da lei, se o faça em conjunto com
o artigo 3° pois estando o representante inserido nas hipóteses do dispositivo
mencionado, será co-autor da pessoa jurídica, e responsabilizado na
proporção da sua culpa.
A lei trouxe consigo as penas que podem ser aplicadas às pessoas
jurídicas, conforme disposição dos artigos 21 a 24 da referida lei, que deixa a
possibilidade de dupla imputação, demonstrando que, em casos de
culpabilidade individual, ou em casos de culpabilidade das pessoas coletivas,
as penas a serem aplicadas são de forma autônoma.
Ao dirigente que utilizar a empresa como instrumento para obtenção de
benefício próprio, caberá a responsabilidade exclusiva e de autoria simples.
Quando se tratar de cargo, ainda que de gerência, mas sem o real poder
decisório, o empregado, frente à falta de exigibilidade de outra conduta, não
será responsabilizado penalmente. Importante se faz lembrar que a pessoa
jurídica jamais poderá ser partícipe, podendo somente ser co-autora.
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Enfim, não há dúvidas sobre a lei necessitar de melhor adequação para
sua aplicabilidade, passando a ser mais utilizada por nossos legisladores.
Afinal o interesse a ser protegido é social, necessário a todos os seres vivos.
. BIBLIOGRAFIA
ALVES, Maria Alzira Barbosa. Alternativa à Responsabilização Criminal da
Pessoa Jurídica, 2004, Trabalho de conclusão. Especialização em Direito
Penal e Processo Penal, Faculdade de Direito da Alta Paulista, Tupã.
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São Paulo: Hemus.
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penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, Distrito Federal, 12 de fevereiro de 1998.
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Criminal da Pessoa Jurídica. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, n° 35,
ano 9, p. 123-154, jul.-set. 2004.
39
FACHIN, Luis Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar,
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FIORILLO, Celso Ant. Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed.
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1995. HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro:
Forense, 1977, v. l. JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, parte geral. 23. ed.
São Paulo: Saraiva, 1999, v.l.
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São Paulo:
Malheiros, 1992.. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2001.
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Paulo: Saraiva, 1967.
PRADO, Luiz Régis. Direito Penal Ambiental. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1992.
40
Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004, v. l.
STOCCO, Ruí. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I –Evolução Histórica – Grécia e Roma 09
1.1 – Da Idade Média ao Século XIX 12
1.2 – Do Século XIX 14
CAPÍTULO II –Considerações-Dogmáticas e Político-Criminais 15
2.1 – Teoria da Ficção 15
2.2 – Teoria da Realidade 17
CAPÍTULO III –Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica 19
41
3.1 – Responsabilidade Penal conforma a Lei 6.905/98 19
3.2 – Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica 21
CAPÍTULO IV – Das Pessoas Jurídicas e suas penalidades 26
4.1 - Das Pessoas Jurídicas e suas penalidades 26
4.2 – Da pena de multa 26
4.3 – Penas Restritivas de Direito 28
4.4 – Suspenção Total ou Parcial das Atividades 28
4.5 – Interdição Temporária/Estabelecimento,Obra ou Atividade 29 4.6 – Proibição de Contratar com o Poder Público 31
4.7 – Prestação de Serviço à Comunidade 32
CAPÍTULO V – Responsabilidade dos Sócios/Administradores 33
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
BIBLIOGRAFIA CITADA 39
ÍNDICE 42
42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre
Título da Monografia: DESPERSONALIDADE DA PESSOA
JURÍDICA EM FACE DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA
Autor: LUIZ OCTÁVIO HERMES DA FONSECA CARDOSO
Data da entrega: 10 de agosto de 2009
Avaliado por: Prof.Dr. William Rocha
Conceito: