UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ALFAIATARIA ARTESANAL E SUA DECADÊNCIA
Por: Pablo Silva Machado Bispo dos Santos
Orientador
Prof. Pablo Silva Machado Bispo dos Santos
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ALFAIATARIA ARTESANAL E SUA DECADÊNCIA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Docência do Ensino
Superior.
Por: Luiz Claudio da Silva
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AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a vocês, professores, e ao orientados Pablo Silva Machado dos Santos que em tudo contribuiu para o sucesso deste trabalho.
Aos meus companheiros e companheiras do curso de Pós Graduação de Docência do Ensino Superior na faculdade AVM, que depositaram em mim a confiança de respeitá-los.
Meus agradecimentos a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desta monografia.
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DEDICATÓRIA
Este trabalho é especialmente dedicado a
Jesus Cristo, a Ele seja dada toda Honra e
toda Glória, obrigado por Sua presença em
nossas vidas! Lutadora Ana Lucia San’tana da
Silva, minha mãe, e ao Guerreiro Marcos
Roberto da Silva, meu pai, Alfaiate e professor
da vida, que tanto me apoiaram nos momentos
de adversidades de minha vida; a minha fiel e
amada esposa Gerucia Viana da Silva, meus
filhos amados Ana Luiza, Maria Clara e Luiz
Felipe, que souberam compreender meus
momentos de ausências no cumprimento dos
estudos da Pós Graduação. Aos meus amados
irmãos em especial ao meu Irmão Guto que
mesmo com a morte de seu amado pai, esteve
sempre presente. Gratidões eternas! Luiz
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RESUMO
O presente trabalho procurou suscitar, ainda que de forma
sintética, mas dentro de uma abordagem concisa e objetiva, questões
relevantes envolvendo a desvalorização do alfaiate. Uma rápida abordagem
sobre o histórico da alfaiataria, as deferências plausíveis da profissão alfaiate
e, também, uma explanação generalizada sobre a trajetória do alfaiate como
profissão seguindo de forma analítica ao se verificar a supressão pelo
interesse de tornar-se alfaiate. Cada capítulo enfrentado foi cuidadosamente
tratado à luz de escritos em livros, revista e outras informações que norteia o
tema, possibilitando assim um rápido e proveitoso conhecimento a respeito das
variações ondulares que envolvem a matéria. Assim, esta monografia examina,
sem nenhuma pretensão ousada de esgotar o tema, com bastante modesta e
técnica a respeito do tema.
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METODOLOGIA
Em primeiro lugar sou alfaiate e durante muitos anos tenho ouvido
historia de como foram as alfaiatarias no passado, de um Rio de Janeiro
repletos de alfaiates onde meu pai Marcos Roberto conta que os homens ao
passar pela Rua Marechal Floriano eram abordados por alfaiates na calçada
para fazer um terno, de tantas alfaiatarias que existiam lá. Fatos que muitos
não viram.
Busquei registrar através de livros, trazer um pouco o que era essa
profissão no passado, em revistas antigas do sindicato dos alfaiates e fiz uma
visita ao Sindicato dos alfaiates do Rio de Janeiro para melhor
aprofundamento, mas o sindicato não tinha nenhum arquivo de seu passado.
Fiz varias visitas agendadas ao Museu do Telefone, onde consegui
levantar os dados das alfaiatarias e dos alfaiates que estavam registrados ali,
também aqueles com anúncios nas listas telefônicas, sei que os números
desse universo poderia ser maiores. O museu do telefone que fica no bairro do
flamengo na Rua Dois de Dezembro, onde tive acesso às listas telefônicas do
Rio de Janeiro, local que fui muito bem recebido.
Foi muito válido e o precioso tempo passado na biblioteca do SENAI-
CETIQT onde fiz muitas consultar de livros da historia da educação no Brasil,
como também os livros de alfaiataria.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Breve história da indústria da moda 9
CAPÍTULO II - Alfaiates e alfaiatarias 14
CAPÍTULO III – Da máquina de costura ao prêt-à-porter 20
CAPÍTULO IV – Regulamentação da profissional 25 CAPÍTULO V- Formação profissional do alfaiate 30 CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
BIBLIOGRAFIA CITADA 38
ÍNDICE 39
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INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, a ciência e a tecnologia tem se
desenvolvido a passos largos. Muitas profissões tem alcançado espaço tanto
na mídia como em grandes universidades como corpo docente, por outro lado
podemos perceber a decadência de certas profissões que deixaram de ser
consideradas relevantes, assim como o alfaiate. Segundo Santos (2009) que
conseguiu registrar com maestria o relato de um alfaiate que dizia. “A
alfaiataria ficou com uma clientela elitizada de ternos de tecidos importados.
Ternos que não têm prontos. Hoje a alfaiataria é uma coisa gostosa, melhor do
que antes. Antes tinha muitos alfaiates.” (P.76). Será que essa ultima frase
expressa bem um dos motivos para um eventual declínio dessa profissão?
Podemos destacar um grande número de fatores que está cominando
com esse declínio, onde podemos observar que no Rio de Janeiro o próprio
sindicato dos alfaiates não possui nenhum curso voltado para formação de
profissionais alfaiates, não se vê também num âmbito politico nenhum esforço
para renovar ou mudar algo em favor desses profissionais.
O que pode ser feito para frear o avanço deste declínio, observando
que este ofício, continua muito valorizado no mercado da moda.
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CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRIA DA INDÚSTRIA DA MODA
São Sebastiao do Rio de Janeiro, assim os portugueses batizam a
cidade em 1502. Em 1565, foi fundada uma pequena aldeia próxima ao morro
Cara de Cão, posteriormente essa aldeia foi transferida para o monte Castelo,
local que apresentava melhores condições de defesa contra invasores.
No século XVII, os habitantes da Cidade do Rio de Janeiro já
chegavam a 3.850: deste total 3.000 índios, 750 portugueses e 100 negros.
Portugal decepcionado por não encontrar nas terras brasileiras, na fase inicial
do descobrimento, certa quantidade de metais preciosos para ostentar seus
gastos excessivos, inclusive com suas vestimentas, procurou desenvolver uma
relação comercial com o Brasil nominado de pacto colonial. Um dos produtos
altamente relevante na comercialização era o pau-brasil, também conhecido
como pau-de-tinta. Produto esse muito cobiçado pelas grandes nações da
época como a França, Holanda e, principalmente, a Inglaterra. Em virtude da
grande quantidade dessa matéria-prima no território brasileiro, ainda indefinido,
deu origem ao nome do nosso país. Como está relacionada com a moda,
desta madeira era extraído um pigmento vermelho para tingimento de tecido.
A busca dos países europeus pelo referido produto fomentou uma
acirrada rivalidade entre eles, pois suas classes abastadas precisavam fazer
uso das mais sofisticadas formas de se vestir. Homens e mulheres de boa
condição financeira e considerável se destacavam a ponto de serem
reconhecidos no mundo sociável em que viviam por usarem trajes alinhados,
vincados e, principalmente, feitos sob medida.
Com a possibilidade de outras formas de enriquecimento no Brasil,
aplicadas por Portugal, assim como o cultivo da cana de açúcar a cidade
começa a perceber um crescimento econômico, mas, com a descoberta do
ouro em Minas Gerais que trouxe um real crescimento à economia local, com o
ouro passando pelo porto do Rio a cidade acaba se transformando num
importante centro comercial.
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A celeridade nas mudanças de costumes fez se notar com o advento
da primeira revolução industrial originada na Inglaterra. A moda outrora ganhou
novas roupagens, mais leves e com a maior facilidade de utilização pelas
pessoas que vivenciaram aquela época. Tornou-se notável a valorização do
alfaiate, pois o terno já era uma vestimenta de longas datas, mas a
diferenciação nos tecidos, como em cores quanto em sua rapidez na
fabricação, fruto da revolução, permitiu ocorrer um aumento na demanda por
causa da facilitação do corte sob medida no tecido fabricado.
Com o crescimento da cidade, em 1763 o Rio de Janeiro conquistou o
status de capital da colônia portuguesa, o ouro cobria o interior das igrejas e a
decoração barroca mudava a monotonia das estreitas vielas construídas pelos
portugueses.
Em 1798 aconteceu em movimento político e social, a inconfidência
baiana ou Revolução dos Alfaiates, representou a primeira rebelião popular
brasileira. Movimento realizado entre artífices e negros, o movimento contou,
ainda com a participação de soldados, escravos e escravos, que lutaram por
igualdade de raças e direitos. A revolução era contra exploração dos
portugueses. O evento estava programado para o dia 12 de agosto de 1798,
na Bahia, mas foi denunciado às autoridades portuguesas que acabou não
correndo, dentre os torturados e mortos temos os alfaiates João de Deus
Nascimento e Manoel Faustino dos Santos.
A corte portuguesa que chegou em 28 de janeiro de 1808, com 60
navios e aproximadamente 20 mil pessoas que fugiam de iminente ataque
napoleônico. Logo com isso, a antiga aldeia colonial passa a ser a capital do
reino unido de Portugal, nesse momento o Rio se transforma na mais
importante cidade do império português. Nessa época as roupas eram
envergadas por mestres alfaiates onde a maioria de seus ajudantes eram
escravos negros, como podemos ver num anúncio do Diário de Pernambuco
de 5 janeiro de 1843 “O vigário de Boa-Vista vende um escravo cabra, oficial
de alfaiate, e ótimo para pagem, de idade 21 anos, por assim ser preciso, e
não por vício ou moléstia”.
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Com um rápido aumento na sua população, onde o Rio de Janeiro,
não estava preparado para receber de uma só vez tanta gente e de uma
classe social mais alta. Com modestas acomodações, com ruas más calçadas
e também com precário estado de higiene da cidade que ainda não estava à
altura da corte portuguesa.
Com a vinda da corte portuguesa os portos foram abertos ao comércio
com as nações amigas. Criou-se a imprensa real e promoveu-se o ensino das
belas artes e da ciência. Segundo Pinheiro “Com inauguração de teatros e o
real jardim botânico, foram restauradas as casas, construíram novos prédios,
adotaram sistema de controle edil e de planejamento da viabilidade”. (p.32)
Somente com a independência conseguida em 1822 e também com o
cultivo e exportação do café, foi que o Rio de Janeiro veria as mudanças em
suas ruas. A cidade cresce, na década de 1830, os habitantes beiram os
30.000. As residências dos grandes latifundiários antes voltados para o campo
acabam indo para o centro urbano.
Em 1834 na Bahia começa a funcionar as primeiras fabricas têxteis do
país, mas nessa época a dependência de tecnológica era total tanto que as
maiorias dos primeiros funcionários vieram dos Estados Unidos. “A indústria
nacional só começou a tomar folego no segundo Reinado (1840) quando uma
lei de 12 de agosto de 1844, conhecida como tarifa Alves Branco, devido ao
seu autor ministro da fazenda Manoel Alves Branco estabeleceu que cerca de
três mil artigos importados pagasse taxas entre 20% e 60% e com isso
estimulou a instalação de fábricas no território nacional.”
Vale registrar que na década de 1860 a Inglaterra contava com um
parque industrial superando mais de três mil fábricas e no Brasil na mesma
época apenas nove fabricas de tecidos.
Com a vinda de uma missão francesa, o estilo neoclássico começa a
se espalhar pelo Rio de Janeiro, construções modernas e edifícios comerciais
começam a fazer parte dessa nova cidade.
“A burguesia local foi admitida à corte e adquiriu hábitos europeus no
comportar-se e no vestir-se, graças também às mercadorias sofisticadas
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importadas pelos comerciantes ingleses e franceses que monopolizavam o
mercado.”
A transformação da cidade ficou visível com a importação de vidros
ingleses, nesse momento as novas construções puderam ampliar as janelas
dando maior glamour às construções, parques foram reformados e construíram
novos parques onde também se difundiam o habito inglês do “passeio”.
A cidade intensifica sua urbanização, a imigração é incentivada, em
1888 é decretada a liberação dos escravos.
A população tem um aumento muito grande, esse crescimento não é
acompanhado de infraestrutura e habitação, doença como varíola e febre
amarela tem seu número em franco crescimento nas áreas mais urbanas e
com isso a própria população procura áreas mais afastadas do grande centro.
Com esse movimento da população cidade começa a crescer em varias
regiões em seu entorno, nas áreas centrais ficam as populações menos
abastada da cidade.
Quanto à revolução urbana do rio de janeiro, pode-se dizer que ela
vem acompanhada da proclamação da república em 1889, onde o Rio de
Janeiro como capital federal realiza a renovação urbana e já com uma
população de aproximadamente um milhão de habitantes onde a inspiração
europeia e cosmopolita começa a se propagar.
A cidade começa a receber grandes construções embelezadas com
frisos e falsas colunas, os granitos começaram a fazer parte das obras onde
imprimia muita beleza e pompa, armazéns eram erguidos em ferro e o vidro no
teto que melhorava a iluminação, tudo muito novo e impactante.
O Rio de Janeiro se colocava na condição de uma cidade progressista
e modernista e sem duvida esse foi o caminho para sua modernização.
Em 1901, trabalhadores do Rio de Janeiro do ramo da confecção
percebem a necessidade de se organizar para obter fortalecimento e avanços
trabalhistas, fundaram a Associação dos Artistas Alfaiates. Um ano depois a
entidade deu lugar à Associação dos Mestres e Contramestres, onde os
alfaiates tiveram as primeiras aulas de corte e costura.
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Em 1909, na época com denominação de União dos Alfaiates do Rio
de Janeiro, reconhecida como entidade sindical representantes dos
empregados em alfaiatarias, fábricas e oficinas de confecção de roupas,
ateliês de moda e de bordados, oficinas de confecção de chapéus de
senhoras, oficinas de cerzidos de adornos destinados ao vestuário.
O morro do castelo é demolido na década de trinta de 1900 onde se
constrói as grandes sedes ministeriais, muitas casas foram demolidas para dar
lugar à Avenida Central, também se via construções com mais de dez andares.
No meados dos anos 50 a indústria automobilística se instala no país,
com isso, a cidade começa uma nova faze de crescimento, vias expressas,
viadutos, aterros e avenidas para comportar tal crescimento.
Na década de 60 a capital do país é transferida para Brasília e com
isso a cidade do Rio de Janeiro perde todo seu potencial politico. E muito do
charme que toda classe política envergava naquela época.
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CAPÍTULO II
ALFAIATES E ALFAIATARIAS
O oficio do alfaiate é muito antigo e sua origem, vem do termo árabe
al-khaiiãT, aquele que une, que fia os tecidos. Pensar nos alfaiates antigos é
refletir sobre o mesmo profissional em tempos contemporâneos, é perceber
que poucas mudanças se deram ao longo de muitos anos.
Segundo o dicionário de moda, que traz a seguinte definição para
alfaiate, conforme Sabino, diz que:
“Profissional especializado na confecção de calças,
coletes, paletós e ternos masculinos sob medida. O
alfaiate pode trabalhar exclusivamente em seu ateliê,
contando com um clientela selecionada, ou pode ser
empregado na indústria e confecções que produzam
roupas masculinas sob medida. A alfaiataria tradicional é
uma das atividades mais respeitadas no universo da
moda, sendo os ingleses e italianos os mais renomados
profissionais, por sua técnica e apuramento. No Brasil,
desempenharam um importante papel desde o século XIX
e, antes de surgir o prêt-à-porter e o comercio de
butiques, era comum jovens brasileiros, nos anos 60,
buscarem os alfaiates para confecções de suas calças.”
(SABINO, 2007, p.34)
Percebe-se que no mundo da moda a alfaiataria tradicional é aquela
onde os métodos de construção são artesanais. Fica também evidenciada que
é um oficio muito valorizado no meio da moda. Podemos entender o sistema
de aprendizado de uma alfaiataria, conforme Braga & Prado, diz que a Europa,
no inicio do século XX ditava qual estilo de se vestir, onde a influência francesa
dominava a moda feminina enquanto os ingleses ditavam a moda nas
alfaiatarias, tanto com os tecidos vindos da Inglaterra como no estilo.
Conforme, Braga & Prado, diz que:
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“Os brasileiros ainda degolavam em assimilar os estilos
de vestir da florescente sociedade industrial europeia.
Nosso passado colonial resultara na formação de uma
aristocracia rural que ambicionava se vestir à imagem e
semelhança das elites europeias” (BRAGA & PRADO,
2011, p.27).
No Rio de Janeiro Sabino registra o momento de grandes alfaiates da
cidade onde muitos dos que foram citados já morreram como o Sr.Paiva, Sr.
Schettini e Sr. Francesco. Conforme Sabino, diz que:
"No Rio de Janeiro, o alfaiate Gomes, instalado na Rua
Barata Ribeiro, em Copacabana, foi o responsável pela
confecção de centenas de calças Saint-Tropez com boca-
de-sino, bolsos-envelope e pestanas duplas nas faces
externas das pernas, um modelo de calça muito em moda
na década de 1960. O alfaiate Juarez com ateliê na Rua
Visconde de Pirajá, era disputado para a confecção de
calças de veludo cotelê e em gabardine. Outros alfaiates
como Paiva, Francesco, Schettini e Pergentino Nesse
também marcaram seus nomes na alfaiataria carioca”.
(SABINO, 2007, p.34)
Na Europa os mestres alfaiates tinham o direito legal de confeccionar
roupas para os homens e mulheres. Mas no Brasil, era o Rio de Janeiro que
atraia todos os olhares da nação, ditando assim a moda para todo país,
conforme Braga e Prado, diz que:
“Se Paris ditava moda para o mundo, no Brasil, a capital
federal, então sediada no Rio de Janeiro, irradiava
valores para o resto da nação ditando novas modas e
comportamentos e se tornando, de acordo com Gilberto
Freire; uma cidade Pan-brasileira.” (BRAGA & PRADO,
2011, p.28)
Dada à função do alfaiate, de ser também um grande observador não
somente das modelagens que ele produz, mas da observação do corpo
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humano, quanto as suas curvas, diferenças de braços e ombros para encontrar
o melhor caimento da roupa no corpo do cliente. Fato que aproxima o alfaiate
da ergonomia e da antropometria, segundo Cristiane de Souza (2009) diz que
o processo de desenvolvimento de uma peça do vestuário se inicia a partir da
observação do corpo, do seu mapeamento e termina com aprovação do
próprio corpo, palavras que espelham muito bem o profissional alfaiate, um
observador do corpo. Conforme Sabrá, diz que:
“Mas foi no inicio do século XIX e inicio do século XX que
ouve um desenvolvimento da ciência antropométrica. A
necessidade de conhecer e classificar a raça humana de
acordo com a estrutura física do corpo incentivou nomes
como H. Gogliemo Compainhg, alfaiate francês e um dos
pioneiros da antropometria moderna, a desenvolver um
quadro comparativo das idades e do crescimento, onde
foram demonstradas as transformações graduais do
corpo humano, desde o nascimento até a velhice e como
as partes do corpo crescem proporcionalmente entre si.”
(SABRÁ, 2009, p.46)
Podemos perceber o quanto o alfaiate está ligado com a antropometria
e também para ser um bom alfaiate, um das qualidades que tem que ter, é ser
um bom observador do corpo humano, conforme, Santos, diz que:
“O mestre alfaiate continua a desenvolver a sua
habilidade no exercício cotidiano de levar as formas do
corpo aos horizontes de tecidos, entretelas e forros que
guardam o intento dos volumes. O olhar, o corte e o
acabamento do mestre alfaiate- e, por sua vez, também o
tralho dos oficiais – interagem com a volição dos clientes
e com os materiais e objetos da alfaiataria sempre em
uma conjuntura particular. Nesse sentido, apesar do
alfaiate fazer uso do terno com vistas a padronizar e
harmonizar os corpos dos clientes, um resultado nunca é
idêntico a outro, pois os desafios postos em cada
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circunstância nunca se reproduzem absolutamente.”
(SANTOS, 2009, p.43)
No Rio de janeiro, a maioria das alfaiatarias era de imigrantes
franceses, italianos e portugueses que nas primeiras quatro décadas do século
XX eram responsáveis por toda demanda existente na cidade. Qual quer
acontecimento era motivo para procurar um alfaiate, onde até o final do século
XIX faziam atendimentos para o público feminino, segundo Braga e Prado, diz
que:
“Modistas e alfaiates mais renomados eram
acionados em ocasiões sócias importantes como
festas e celebrações ou recepções. Até o final do
século XIX, muitos alfaiates ainda costuravam para
mulheres, seguindo a tradição mais antiga, como
comprova a nota fiscal de 21 de abril de 1877,
emitida pela casa Aguiar, Ferreira e bravo - grande
sortimento de fazendas e armarinho situada na rua
da quitanda número 62 Rio de Janeiro - que
discrimina a compra de 4 franjas com vidrilho e 350
metros de renda imitando APLLIE. adquiridas pelo
alfaiate Bernardes. Aparentemente de origem
francesa. Já no século XX os alfaiates se voltaram
mais exclusivamente às roupas masculinas”.
(BRAGA E PRADO, 2011, p.32)
Com esse relato fica evidente que os alfaiates do século XX ainda
confeccionavam as roupas femininas, algo que até a década de 1960, eram
encontradas alfaiatarias que atendiam exclusivamente a senhoras conforme se
podia encontrar no anuncio da lista telefônica do Rio de Janeiro do mesmo
ano, onde sete anúncios de alfaiates para senhoras faziam parte dos
anunciantes da lista, já em 1970 não foram encontrados nenhum anúncio de
alfaiate para senhoras. Mas atualmente os mestres alfaiates de uma forma
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geral têm sido valorizados, na moda feminina, onde muitas confecções de
grande porte e nomes de visibilidade no mercado da moda tem trazido o termo
alfaiataria em suas coleções.
No livro a Historia da Moda do Brasil Braga & Prado relatam fatos
vividos por Ernesto Senna onde o mesmo registra o antigo comercio do Rio de
Janeiro, e nos da um verdadeiro poder da alfaiataria no inicio do século XIX
conforme, Braga & Prado, diz que:
“Ernesto Senna- jornalista e historiador nascido em 1858
fez um relato sobre o comercio no Rio de Janeiro no
período, no qual descreveu os ‘caixeiros’ (atendentes de
loja). Entre as lojas existentes no Rio de Janeiro,
destacadas por Senna, algumas se relacionam com a
produção de roupas como Ao bastidor de bordar, fundada
em 1844, fundada pelo Suíço Jaques Henri, instalada na
Rua do Ouvidor.” (Braga & Prado, 2011. P.46)
Outro estabelecimento que mereceu destaque, também, muito bem
relatada por Senna foi a Casa Raunier, conforme, Braga & Prado, diz que:
“A Casa Raunier: surgiu como uma modesta alfaiataria
criada pelo francês Edouard Jean Raunier em 1855,
prosperou em muito pela parceria que estabeleceu com o
sócio português, João Cabral, homem ‘operoso’ que com
sua hábil tesoura de alfaiate fazia prodígios de perfeição
cuidadoso ao manufaturar uma casaca, uma sobre
casaca, um par de calças, angariando numerosa
freguesia da gente abastada e dos leões da moda.”
(Braga & Prado, 2011. P.51)
A Raunier permaneceu em sua sede própria no Rio de Janeiro
até 1950, quando cedeu lugar a casa Sloper e atualmente funciona no
local uma loja da ’Líder Magazine’ que fica na Rua Uruguaiana esquina
com a Rua do Ouvidor.
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Quanto à formação dos alfaiates e seu aprendizado podemos entender
um pouco de sua complexidade e de seu longo tempo de formação conforme,
Braga & Prado, diz que:
“A formação dos alfaiates dava-se nas próprias oficinas
de alfaiataria, seguindo um modelo derivado das antigas
guildas. Muitas vezes o treinamento iniciava-se na
adolescência, quando o adolescente era admitido nas
oficinas de alfaiataria ou passava a frequentar escolas
técnicas profissionais. As normas eram rígidas, os
segredos da profissão, guardados a sete chaves e a
aprendizagem seguia uma hierarquia de funções
abrangendo cortadores, oficiais e aprendizes.”
(BRAGA & PRADO, 2011, p.78)
Segundo Santos que também se aprofundou no conhecimento do
oficio da alfaiataria, pode registrar muitos momentos desse aprendizado na sua
essência, conforme, Santos, diz que:
“No sob medida, acontece sempre, em circunstâncias
únicas, o encontro dos ternos com a silhueta de quem os
vestirá. Ao invés de uma reprodução mecânica de
procedimentos ditos originais, a pratica se constitui do
uso que se dá a um repertório de soluções sobre
questões relativas à produção de calças, paletós, coletes,
sobretudos e demais produtos, por excelência, da
alfaiataria.” (SANTOS, 2009, p.43)
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CAPÍTULO III
DA MÁQUINA DE COSTURA AO PRÊT-À-PORTER
Por volta do ano de 1760 vários inventores apresentaram projetos de
máquinas de costura, mas foi em 1830 que um alfaiate francês Barthélemy
Thimonnier pôs a venda uma maquina de costura, fato este que desagradou
amigos do mesmo oficio, que por vez acabaram perseguindo-o, com isso
Barthélemy acabou indo para Inglaterra e retornando para França pobre,
alguns anos depois foi patenteado a maquina de costura que mais agradou ao
publico na época, conforme, Braga & Prado, diz que:
“Na mesma época em 1834 o americano Walter Hunt
patenteou uma maquina costura, mas foi o seu
compatriota Issac Merrit Singer, mecânico, ator e inventor,
patenteou um modelo que agradou muito aos
profissionais da moda de sua época.” (BRAGA & PRADO,
2011, p.47)
No Brasil as maquinas as maquinas demoraram a se popularizar, a
Singer se instalou no Brasil em 1858, na Rua do Ouvidor 117 no Rio de
Janeiro.
No período de três décadas as vendas eram muito espaçadas e
somente com autorização da Princesa Isabel concedendo autorização de
funcionamento, onde a Singer, pôde efetivamente abrir suas portas. Em 1905 a
Singer teve o registro definitivo para operar no Brasil e a partir dai sua
popularização se torna solida e se espalha para outros Estados. Seu destaque
dá pelo pioneirismo de lançar um sistema de vendas a prestações também que
deu maior visibilidade mundial à marca.
Com essa rápida popularização das máquinas de costura no século XX
e também com as necessidades de se produzir mais e com baixo custo
necessidade esta que fez os Estados Unidos a buscarem esse
aperfeiçoamento, quando na segunda guerra mundial a necessidade por
roupas e uniformes para seus soldados fez com que os americanos
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adquirissem esse conhecimento, que na verdade eles se especializaram em
produzir em série.
Começava então no pós-guerra um grande desenvolvimento da
produção em serie das roupas, antes feitas sob medida, agora com a produção
em serie os preços ficam mais acessíveis. Com a produção em série o Brasil
também começou a perceber e se ajustar as mudanças do mercado. Conforme
Braga e Prado, diz que:
“começávamos a desvendar as técnicas para a produção
em série: O que marcou fundamentalmente a década de
1950 foi o que podemos chamar de consciência da moda”
(BRAGA & PRADO, 2011, p.192)
Com isso percebemos que a década de 50 foi muito importante para a
produção em serie algo que marca também o inicio do declínio da alfaiataria no
Rio de Janeiro, Santos mostra com clareza toda insatisfação dos
acontecimentos, logo depois da produção em serie em todo pais, Conforme
Santos, diz que:
”Para os alfaiates ainda em atividade, em sua maioria
com mais de sessenta anos, dois momentos marcaram a
redução da clientela das alfaiatarias: o crescimento da
indústria da confecção e, com ela, o sucesso retumbante
da calça jens, nas décadas de 60 e 70, e abertura do
mercado têxtil brasileiro para intensa importação de
vestimentas e tecidos chineses, ocorrido mais
recentemente, na década de 90. Esses momentos
contrastam, nas memorias dos alfaiates, com o período
no qual eram aprendizes, trabalharam como oficiais e
abriram seus estabelecimentos.” SANTOS, 2009, P.82)
Também podemos citar o alfaiate anistiado Adalto Rodrigues de 74
anos que foi líder sindical no período de 1957 a 1964 e que teve seus direitos
políticos cassados pelo regime militar destaco trechos de sua entrevista dada
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para a revista SOAC (sindicato dos oficiais alfaiates, costureiras e
trabalhadores nas indústrias de confecções do Rio de Janeiro, Duque de
Caxias e nova Iguaçu.) onde responde a seguinte pergunta: como era o
trabalho dos alfaiates antes da Revolução industrial, ele diz;
“A técnica de fazer roupas sob medida foi trazida para o
Brasil por operários portugueses e italianos. Aprendemos
o ofício com eles e nos tornamos alfaiates artesãos, isto
é, recebíamos as peças do freguês, tirávamos as
medidas, fazíamos as provas e, em até uma semana,
entregávamos as roupas. Antes da industrialização, os
imigrantes eram os profissionais mestres e contramestres,
os donos das oficinas. A profissão de alfaiate ganhou
subdivisões como buteiros, responsáveis por pregar as
mangas; calceiros, fazedores de calças; oficiais,
confeccionadores de paletós; e assim por diante. Estas
categorias permaneceram por um bom tempo nas
alfaiatarias que, na década de 20, começaram a surgir na
Cidade do Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Hoje,
algumas fábricas ainda utilizam essas subdivisões; no
entanto, não encontramos mais os profissionais de
confecção, porque os artesãos também foram trabalhar
nas fabricas, nas linhas de produção.” FELIX, Luiza. Os
alfaiates artesões foram parar na linha de produção
SOAC Historiografia. Rio de Janeiro: 2002: p.12, 2002
Com essa entrevista podemos traças algumas particularidades desta
profissão quanto às subdivisões da alfaiataria que determinava, por força da
necessidade do contra mestre alfaiate, fazendo somente uma das partes da
roupa na alfaiataria, como por exemplo, o calceiro, mesmo sendo considerado
um alfaiate, que devido à necessidade da alfaiataria parava o seu aprendizado
somente nas calças, não fazendo outras peças da alfaiataria, um fato que na
maioria das alfaiatarias determinava o seu fechamento, seria a morte de seu
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contra mestre que na maioria das alfaiatarias, são os próprios donos dos
estabelecimentos, fato também que os contra mestres não preparava e
capacitava nenhum profissional a altura para substitui-lo.
Quanto à decadência da alfaiataria todos concordam que a alfaiataria
esta passando por um momento de negro, mas que ela venha a findar e algo
muito improvável, sempre terá alguém que queira algo a mais tanto em
caimento da roupa quanto aos tecidos de boa qualidade, Santos revela isso
muito bem, conforme diz:
“A exiguidade de profissionais acaba por valorizar o
trabalho refinado e de alta qualidade do verdadeiro terno
artesanal. Desse modo, a morte anunciada da alfaiataria
não deixa de alimentar a sua permanência, e a nostalgia
que compõe o cenário do seu fim, por ironia, contribui, em
alguma medida, para sua continuidade. Os alfaiates
profissionais mesmo estão em extinção. Vista por este
viés, as profecias de fim do oficio seria fruto não da falta
de demanda – já que sempre haverá quem prefira o terno
sob medida ou mesmo quem não encontre, entre os de
confecções, algum que lhe sirva – mas sim efeito da falta
de novos profissionais que se dediquem ao penoso
aprendizado das técnicas. A constatação que esse
conhecimento está encerrado em alfaiates de já
avançada idade também é ponto controverso. Mesmo
reconhecendo a atual quase inviabilidade do antigo
sistema de aprendizagem, fruto de um mundo cada vez
mais rápido, esses profissionais entendem que o ensino
lento e rigoroso da profissão no ambiente das alfaiatarias
é como uma espécie de propriedade do seu oficio, o que
constitui uma postura corporativa de defesa da qualidade
da profissão.” (SANTOS, 2009, p.76).
24
Nesse momento fico com essa esperança, de que sempre haverá um
tempo de renovação, portanto, nunca a profissão do alfaiate se findará mesmo
com a tecnologia e a produção em série a necessidade por algo exclusivo e
sob medida sempre alimentará um novo recomeço para essa milenar profissão
e também contar com profissionais como Marcos Roberto que numa entrevista
dada a Revista Moda Rio do Sindicato Sindroupas para o repórter André
Regly, mostra o exemplo a ser dado para toda classe de alfaiates, conforme,
diz que:
“O alfaiate Marcos Roberto planta dia-a-dia uma semente
e enxerga o futuro com otimismo e esperança. Pai de oito
filhos sente orgulho em dizer que todos passaram pela
alfaiataria, meio aos estudos e a escolha do caminho a
seguir. Hoje junto a dois deles, Marcos administra uma
alfaiataria com sete empregados no Centro do Rio de
Janeiro e confecciona cerca de trinta ternos por mês.
Uma das coisas que pai e filhos não abrem mão é formar
profissionais para o mercado, como se fossem ativistas
de uma causa social. Aqui damos oportunidades e
procuramos ensinar aos jovens a profissão. De acordo
com Marcos, ele fazia parte de um grupo de
aproximadamente 50 profissionais que se reuniam todo
dia seis de Setembro, dia do alfaiate. Ainda hoje,
encontram-se na mesma data. No ano passado o festejo
foi numa churrascaria na Tijuca, Zona Norte. Mas
ultimamente cerca de 10 pessoas tem marcado
presença.” REGLY, André, O Rio antigo que não volta
mais e os artesões da moda que restaram. Moda Rio, Rio
de Janeiro: 2008: p.10, 01/06/2008
25
CAPÍTULO IV
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO
A profissão de alfaiate está para ser regulamentada pelo projeto de Lei
número 3.655, de 2004, tendo o autor o deputado federal Arnaldo Faria de Sá,
fato de suma importância para referida classe, mesmo sendo uma classe
profissional muito forte no inicio do século XX, no entanto, só se deu inicio de
sua regulamentação depois de estar em franca decadência. Mas podemos
observar o quanto essa profissão foi subdividida, não por este projeto de lei, as
pela necessidade do mercado de trabalho, portanto o referido projeto
acompanhou tais mudanças. Onde conseguiu enumerar todas as subdivisões
do alfaiate, vejamos:
1- Alfaiate – normalmente domina toda técnica de montagem e corte.
2- Mestre-alfaiate – mesmas atribuições de alfaiate, podendo ser o
dono da alfaiataria.
3- Contra-Mestre – auxiliar do Contra-Mestre.
4- Ajudante de Contra-Mestre – corta os tecidos como calças e
paletós.
5- Oficial de paletó – confecciona o paletó.
6- Meio-Oficial – é o aprendiz de oficial e normalmente já tem boa
experiência profissional.
7- Ajudante - faz todos os acabamentos feitos a mão.
8- Coleteiro – confecciona os coletes.
9- Calceiro – confecciona as calças.
10- Acabador – prepara ombros, gola e prega mangas.
11- Buteiro – faz todos os tipos de consertos.
12- Aprendiz de alfaiate – iniciante da profissão.
Mesmo com tantas subdivisões no total de onze dentro da alfaiataria fica
evidenciado o quanto é difícil o aprendizado e também demorado, para ser
26
concluído na sua totalidade, sendo assim, um alfaiate completo na sua
formação, investe muitos anos.
Nos dias atuais é raro que se encontre uma alfaiataria que tenha um
número de profissionais que consiga preencher todas estas subdivisões,
mensuro uma alfaiataria com aproximadamente uns quinze profissionais algo
raro para as alfaiatarias do Rio de Janeiro.
Mas podemos destacar as justificativas para referido projeto de lei que
mostrando toda fragilidade e cuidado que se tem que ter com esse oficio, para
que não se perca e realmente não se transforme em uma profissão em
extinção, de acordo com as justificativas da regulamentação, conforme, diz
que:
“A despeito da massificação existente em nossos dias,
principalmente levando-se em conta a fabricação em
série de roupas, continua essa operosa classe a exercitar
preponderante papel na sociedade.
Entretanto, tais profissionais, apesar de dedicarem uma
vida inteira em favor da comodidade e do conforto de
todas as classes sociais, não tiveram ainda a profissão
regulada de molde a conferir-lhes direitos, a exemplo do
que ocorre com outras profissões. O próprio artesanato
está desaparecendo, para dar lugar à "máquina" e aos
que, nesse mesmo sentido, exploram o profissional
habilitado.
O próprio aprendizado vem tendo prejuízo pela
inexistência do estabelecimento ou oficinas em condições
de ministrar ensino profissionalizante.
Na dinâmica industrial do vestuário não há lugar para a
formação profissional, pois, cada pessoa sabe fazer
apenas parte de peças que integram a vestimenta, sem,
entretanto, ter condições técnicas de executá-la
integralmente.
27
O recolhimento e disciplinação do exercício da profissão
virá beneficiar a coletividade, e em especial o próprio
aprendizado, capaz este de contribuir até para a
minimização do problema do menor.
Não bastassem essas considerações, é importante
ressaltar que a invasão de etiquetas estrangeiras, há
prejudicado o próprio desenvolvimento da economia
nacional. Milhares de dólares, em divisas, poderão ser
economizados.
Além desses fatos, não é justo que ao invés de se
estimular a própria capacidade criadora, da classe que se
especializa no mister de conferir à moda brasileira um alto
padrão de realização, se ofereça ao público confecções
rotuladas como de procedência estrangeira, quando, na
verdade, são produzidas em nossos próprios
estabelecimentos industriais.
A pujança, a capacidade, o alto padrão de
desenvolvimento tecnológico alcançado pelo profissional
brasileiro, justificam o presente projeto, que dispõe sobre
o exercício da profissão de alfaiate, protegendo-o e
amparando-o como ele de há tanto tempo faz jus.” (PL
LEI N°3.655, DE 2004)
Mesmo com parca bibliografia sobre o assunto, onde as informações
de quantos estabelecimentos de alfaiataria existiam no Rio de Janeiro no
século XIX, de cursos para alfaiates e também o número de profissionais em
franca atividade de 1924 até 1988, onde registrado esses acontecimentos.
Informações essas que foram encontradas com base nas listas
telefônicas do Rio de Janeiro que são de posse do museu do telefone do Rio
de Janeiro, onde lá, pude fazer o levantamento das alfaiatarias e alfaiates que
se encontravam nas listas, informações que puderam ajudar e a entender os
28
períodos de pico e também de decadência das alfaiatarias do Rio de Janeiro
como podemos ver no gráfico:
Certo de que esses números já nos dão uma visão bem definida para
podermos entender bem o que aconteceu com essa profissão, podemos
perceber a atuação do alfaiate dentro das tinturarias e também sua atuação na
moda feminina onde se encontra anúncios exclusivos de alfaiatarias para
senhoras, podemos assim entender a diversidade da atuação desse oficio ao
longo de um breve momento de tempo, também procurei desmembrar os
anúncios referentes a alfaiates que também traziam entre seus anunciantes
além de alfaiates e alfaiatarias, alfaiatarias para senhoras, tinturarias,
camisaria e chapelaria, como podemos ver adiante.
Em 1924 somente quatro citações sobre alfaiate e alfaiataria sendo
que nessa época o serviço de telefonia estava se iniciando, demostra com isso
as poucas citações.
Em 1929 o número de alfaiates com anúncios eram 128 e de
alfaiatarias foram de 339 e também foram encontrados 2 anúncios de tinturaria
e alfaiataria o total de anúncios para esse seguimento foi um total de 469.
Em 1942 os anúncios de alfaiates e alfaiatarias somaram 775 e
permanecia com dois anúncios de tinturaria e alfaiataria.
29
Em 1950 os anúncios de alfaiates foram de 1173 e de alfaiatarias
foram 210, alfaiatarias para senhoras foram 3 anúncios, camisaria com
alfaiataria foram 4 anúncios, roupas para homens foram 3 anúncios, alfaiataria
e tinturaria foram 10 anúncios e artigos de chapéus para homens foram 2
anúncios no total de 1406 anúncios referente à categoria de alfaiate.
Em 1960 os anúncios de alfaiates foram 1074, de alfaiatarias foram
287, alfaiataria e tinturaria foram 10 anúncios e alfaiatarias para senhoras
foram 7, o total de 1378 anúncios referente a alfaiate.
Em 1970 os números de alfaiatarias e alfaiates na lista começam a
declinar, onde o número de alfaiates foram 430, os anúncios de alfaiatarias
foram de 103 e tinturaria e alfaiataria foram 6. Os anúncios de alfaiatarias para
senhoras não faziam mais parte das listas.
Em 1981 os anúncios que se referia a alfaiate não fazia mais parte da
lista somente os anúncios para alfaiataria, que foram 49 para alfaiatarias e
apenas 1 para tinturaria e alfaiataria tendo um total de 50 anúncios referente
ao gênero alfaiate.
Em 1988 mostra toda a decadência da profissão até os dias de hoje,
mostrando números pífios como vemos, os anúncios se resumiram apenas em
22 para alfaiataria, não figurando mais nenhuma tinturaria com os serviços de
alfaiataria.
30
CAPÍTULO IV
FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ALFAIATE
Caminhar ou trilhar pelos caminhos da educação é perceber que nesta
caminhada, existiam muitos atalhos e alguns dos quais a educação se
enveredou por ele, em alguns momentos era pessoal, outras politicas e por ai
vai, com isso podemos perceber como é complexo os caminhos da educação
no Brasil.
Assim como na moda, até mesmo na educação, a Europa influenciou
o Brasil, onde novamente a França se destaca nesse senário, segundo
Arnaldo Niskier, conforme, diz que:
“Com o termino da Primeira Guerra Mundial, as
influencias estrangeiras sobre o Brasil sofreram profundas
alterações. Durante o império e nas primeiras décadas do
regime republicano a França exercera um papel
preponderante em quase todas as áreas culturais do país.
O francesismo, de que se queixara Eça de Queirós com
relação a Portugal, também se manifestava todo
poderoso entre nós. Ate mesmo a arquitetura – haja vista
os prédios da avenida central construídos no começo do
século. Buscava sua fonte de inspiração nos modelos
parisienses. Na educação, serviam de guia, ao lado dos
franceses, os suíços e os alemães. As reformas do
ensino, decretada até então deixavam transparecer, em
seus dispositivos, a familiaridade dos seus autores com o
sistema europeus, nem sempre atualizados ou
adequados à realidade brasileira” (NISKIER, Arnaldo,
2011, p.254)
31
Não tem como negar que o nosso país ainda é muito novo, onde
recordar o início da profissionalização do oficio dos alfaiates é recordar dos
tempos de D. João VI, onde Arnaldo Niskier nos aponta o caminho que a
educação tomou nessa época e do Liceu de Artes e Ofícios como o fenômeno
da mistura das ocupações, conforme, diz que:
“Os europeus logo se acostumaram com o sistema
brasileiro e, dotados de ambição, não se preocupam
muito com a desigualdade de condição social. São eles
que vão ensinando aos jovens negros os ofícios em que
são experimentados, e, dessa forma foram surgindo não
só agricultores habilitados, como, também, ferreiros,
mecânicos, pedreiros, carpinteiro, marceneiros, alfaiates,
pintores de parede, funileiro etc. A sociedade auxiliadora
da indústria Nacional, nos estatutos de 1848,
expressamente declara como uma de suas finalidades
básicas a de promover por todos os meios ao seu alcance
o aperfeiçoamento da agricultura, das artes, dos ofícios
do comercio e da navegação do Brasil. Mais tarde, seriam
instalados por ela escolas de prática de agricultura e,
mesmo, de alguns ofícios mecânicos. Ainda, estava um
pouco distante a criação, em 23 de novembro de 1856,
do liceu de Artes e ofícios, na cidade do Rio de Janeiro,
cujo a inauguração data do ano de 1858, iniciativa da
Sociedade Propagadora das Belas-Artes, fundada em
1851, e que até hoje presta relevantes serviços à
educação brasileira, inclusive no ensino superior”.
(NISKIER, Arnaldo, 2011, p.167)
O aprendizado de qualquer ofício que requeria o esforço braçal não era
bem visto pela sociedade brasileira da época onde podemos ver o quanto os
ofícios eram desvalorizados pelos filhos desta terra, o trabalho mais pesado
ainda era associado à escravidão e também era atribuída as pessoas mais
32
humildes, creio que este pensamento assombra a sociedade até os dias de
hoje, pensamento este que não acontecia na Europa continente que tanto nos
influenciou, conforme, Niskier, diz que:
“Todas as tarefas que requeriam emprego de força
muscular eram executadas, em geral pelos escravos,
ocupados nos serviços mais penosos e insalubres só no
interior como nas cidades. Nas oficinas, onde os mestres
de ofício eram em geram europeus, os aprendizes e os
serventes trabalhavam duramente para os senhores, sob
a ameaça de castigos corporais quando cometessem
alguma falha. Dentro desse quadro, é fácil de calcular a
reduzida atratividade que as oficinas ofereciam aos
rapazes brancos, ainda que filhos de brasileiros e não de
portugueses. Os estabelecimentos de ensino profissional
que fossem criados só poderiam ser frequentados pelos
meninos oriundos das mais humildes camadas da
população, grande parte dos quais mestiços”. (NISKIER,
Arnaldo, 2011, p.167)
Fatos que dão grande embasamento para um grande desestímulo e
desinteresse de consolidação destas profissões dentro de uma sociedade, até
mesmo pelo Estado, segundo Machado, diz que:
“O uso do trabalho como uma forma de
disciplina ou para ensinar um ofício se dava
sob a concepção de educação assistencialista.
Se hoje, tal concepção, pelo menos no nível
governamental, é escamoteada por um
discurso que se supõe democrático, naquele
contexto histórico, o próprio Estado assumia
aquele ensino como predestinado para as
camadas mais desfavorecidas”. (MACHADO,
1989, p.30).
33
Vale lembrar, que no ano de 1772 e o final do mesmo século apena a
universidade de Coimbra havia recebido 510 rapazes brasileiros SOUZA, 1988,
P.24. Diante disso, o príncipe regente D. João teve que criar na nova sede do
Império Português, as instituições necessária a formação do quadro
administrativo e politico que desse sustentação a esta condição, conforme,
PRADO JÚNIOR, 1999, p. 45) com isto Portugal priorizou os cursos superiores
no Brasil.
Quanto ao ensino profissionalizante, o Liceu de Artes e Ofício que foi
de suma importância, fundado em 1856 e sua inauguração se deu em 1958
onde era mantida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, oferecia o
ensino profissional de alfaiataria e de outros ofícios. Quanto às escolas de
aprendizes e artífices podemos ver o pequeno número de formandos ao longo
de 33 anos de existência, mas com o seu fim, vemos uma apunhalada, e a
agonia de uma lenta decadência que décadas depois percebesse o
esvaziamento desses profissionais por toda Cidade, conforme, Cunha, diz que:
“No primeiro ano de funcionamento (1910) as escolas de
aprendizes artífices receberam cerca de 2 mil alunos. Nos
33 anos de sua existência, passaram por elas 141 mil
alunos, uma média de cerca de 4.300 por ano. No último
ano de funcionamento dessas escolas (1942), havia
estabelecimentos com um número diminuto de alunos.
Apenas duas delas tinham um corpo discente da ordem
de quatro centenas de alunos. Sete escolas tinham
menos de 200 alunos, duas com menos de 100. Elas
atingiram, o volume máximo de alunos na década de
1920, após o que entraram em decadência. Os ofícios
que eram ensinados em todas elas eram os de
marcenaria, alfaiataria e sapataria, mais artesanais do
que propriamente manufatureiros, o que mostra a
distância entre os propósitos industrialistas de seus
criadores e a realidade diversa de sua vinculação com o
trabalho fabril”. CUNHA, LUIZ ANTÔNIO, O ensino
34
industrial-manufatureiro no Brasil. Revista Brasileira de
Educação, 2000: p.95, Mai/Jun/Jul/Ago 2000
O SENAI, criado pelo decreto-lei n° 4.048, de 22 de janeiro de 1942,
onde a responsabilidade ficava a cargo da confederação Nacional da Indústria
tendo como prioridade a organização e administração, em todo país de escolas
de aprendizagem aos industriários. Fato que o SENAI conseguiu fazer muito
bem conforme Cunha, diz que:
“A rede SENAI cresceu a um ritmo espetacular,
modificando-se em função das ondas de mudanças do
setor produtivo. Nos anos 40, iniciou suas atividades
priorizando a aprendizagem industrial, para qualificar o
operariado para a indústria nascente; nos anos 50, foi vez
da modalidade treinamento, correlativa à industrialização
segundo os moldes da grande indústria; nos anos 90, a
ênfase recaiu na polivalência. Nos anos 70, a ênfase na
habilitação de técnicos de nível médio resultou mais da
política educacional de profissionalização universal e
compulsória no ensino de 2o. grau do que de mudanças
efetivas do setor produtivo”. CUNHA, LUIZ ANTÔNIO, O
ensino industrial-manufatureiro no Brasil. Revista
Brasileira de Educação, 2000: p.102, Mai/Jun/Jul/Ago
2000
No Rio de janeiro o SENAI-CETIQT tem sido a única instituição que
tem nos seus quadros de curso a alfaiataria como matéria, isto tem se
realizado no seu curso Superior de Tecnologia em Produção do Vestuário, a
matéria de alfaiataria I e alfaiataria II, na sua grade curricular, onde os alunos
aprendem a modelar e montar roupas conforme os profissionais alfaiates mais
antigos.
Com isso a instituição tem feito um trabalho de formação a nível
superior, formando não somente alfaiates, mas, também de alunos de todo
35
Brasil em profissionais capacitados na arte de modelar qualquer roupa do
vestuário.
Quanto ao sindicato da própria classe dos alfaiates que é representado
pelo Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e trabalhadores nas indústrias
de confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras dos Municípios do Rio de
Janeiro, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, o nome é lindo e nos remete a
tempos antigos, mas na atualmente tem refletido o atual momento dos
profissionais alfaiates, com isso não quero tirar o valor deste sindicato, pois
representa na sua maioria uma profissão de muito valor, que são as
costureiras destes Municípios, mas, um sindicato que sempre ministrou cursos
para capacitação e formação de novos alfaiates, hoje tem perdido a
oportunidade de resgatar sua identidade, quando atualmente não possui
nenhum curso para formar alfaiates.
Ficando com a responsabilidade de formar novos alfaiates as poucas
alfaiatarias existentes no Rio de Janeiro.
36
CONCLUSÃO
Este trabalho não tem a pretensão de apontar culpados por tal
decadência, mas, sim mostrar que ainda existem caminhos para um grande
crescimento desta profissão, alcançando as camadas mais altas da nossa
sociedade e porque não até as mais baixas.
Basta começar a ensinar, não com o pensamento de outrora, mas sim
com o pensamento de que essa profissão pode ajudar cidadão, uma família,
pode mover um bairro, uma Cidade e até mesmo ajudar um país como o Brasil
que pensa em ser um dia um país desenvolvido. Não podemos desperdiçar
uma mão-de-obra tão nobre, que pode ajudar este país a alcançar patamares
maiores. Assim como acontece com a Inglaterra que tem uma rua somente de
alfaiatarias, conhecida e valorizada em todo o mundo.
A alfaiataria vem percorrendo vários caminhos ao longo de sua
existência, desde tempos mais longínquos onde passou por muitas nações e
povos, onde na contemporaneidade alcançou todos os continentes desta terra,
sabendo que em cada lugar é uma historia diferente.
Pensar em decadência da alfaiataria no Rio de Janeiro e também no
Brasil é algo que entristece, mas, é de alegria, as noticias sobre alfaiataria de
lugares distantes com Índia e China onde os turistas são abordados por
alfaiates em pontos turísticos para fazer um terno em poucos dias, pois a mão
de obra é tanta que a roupa sai da alfaiataria antes do retorno do turista ao seu
país de origem. Creio que se voltarmos aos patamares do auge da alfaiataria
no Rio de Janeiro, recebendo os turistas assim também, abordando o turista
não somente com uma canga de baixo valor agregado, mais um terno de
grande valor, atender a toda sociedade carioca e brasileira com uma boa roupa
sob medida de qualidade, como muito de nossos avos um dia puderam vestir.
37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Sabino, Marco. Dicionário da moda/ Marco Sabino- Rio de Janeiro: Elsevir,
2007.
Santos, Valéria Oliveira. Alfaiatarias em Curitiba./ Valéria Oliveira Santos,
coord. E textos; Dayana Zdebsky de Cordova, textos; João Castelo Branco
Machado, textos e fotos._ Curitiba: Edição dos Autores, 2009.
Rosa, Stefania. Alfaiataria: modelagem plana masculina / Stefania Rosa.
Brasilia: SENAC-DF, 2008.
Modelagem / org. Flávio Sabrá. – 1.ed. – São Paulo: Estação das Letras e
cores, 2009.
Braga, João. Prado, Luís André do. História da moda no Brasil: das influencias às autorreferências/ João Braga e Luís André do Prad.- São Paulo: Pyxis Editorial, 2011.
Niskier, Arnaldo. História da educação brasileira: de José de Anchieta aos dias
de hoje,1500-2010 / Arnaldo Niskier.- 3°ed.- São Paulo: Editora Europa,2011
38
BIBLIOGRAFIA CITADA
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução política do Brasil: colônia e império. São Paulo: Brasiliense, 1999.
SOUSA, Octávio Tarquínio. Bernardo Pereira de Vasconcelos. Belo Horizonte: Itatiaia ; São Paulo: Edusp, 1988.
MACHADO, L. R. S. de. Politécnica, escola unitária e trabalho. São Paulo: Cortez; Autores associados, 1989. CUNHA, LUIZ ANTÔNIO, O ensino industrial-manufatureiro no Brasil. Revista Brasileira de Educação, 2000: Mai/Jun/Jul/Ago 2000
39
ÍNDICE
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I – Breve historia da indústria da moda 9
CAPÍTULO II – Alfaiates e alfaiatarias 14
CAPÍTULO III – Da máquina de costura ao prêt-à-porter 20
CAPÍTULO IV – Regulamentação da alfaiataria 25
CAPÍTULO V – Formação do alfaiate 30
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
BIBLIOGRAFIA CITADA 38
ÍNDICE 39