UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
Levantamento, avaliação e discussão dos casos de recall de
medicamentos para uso humano acontecidos no Brasil, nos anos de
2014 e 2015
Lenira Ayumi Ameku
Trabalho de Conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo.
Orientador:
Prof. Dr. Felipe Rebello Lourenço
São Paulo
2017
SUMÁRIO
Pág.
Índice de Figuras ...............................................................................
1
Índice de Tabelas ..............................................................................
1
RESUMO ..........................................................................................
2
1. INTRODUÇÃO ................................................................................
3
2. OBJETIVO ....................................................................................
6
3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................... 7
3.1. ESTRATÉGIA DE PESQUISA ........................................................... 7
3.2. CRITÉRIO DE INCLUSÃO .............................................................. 8
3.3. CRITERIO DE EXCLUSÃO ............................................................. 8
3.4. COLETA E ANALISE DE DADOS ...................................................... 9
3.4. ANALISE ESTATISTICA ................................................................
14
4. RESULTADO E DISCUSSÃO ................................................................. 14
4.1. QUANTIDADE DE RECALL POR PRODUTO/APRESENTAÇÃO...................... 15
4.2. RECALL POR CLASSIFICAÇÃO TERAPÊUTICA ...................................... 16
4.3. RECALL POR FORMA FARMACÊUTICA............................................... 19
4.4. RECALL POR VIA DE ADMINISTRAÇÃO............................................... 20
4.5. RECALL POR TIPO DE MEDICAMENTO (REFERÊNCIA, GENÉRICO, SIMILAR).... 21
4.6. RECALL POR LABORATÓRIO (POR PRODUTO/APRESENTAÇÃO)................. 21
4.7. RECALL POR TIPO DE RECOLHIMENTO (VOLUNTÁRIO OU NÃO VOLUNTÁRIO) 23
4.8. MOTIVO DE RECALL................................................................... 24
4.8.1. MOTIVO DE RECALL POR CLASSE ............................................. 24
4.8.1. MOTIVO DE RECALL POR SUB-CLASSE .......................................
26
5. CONCLUSÃO ..................................................................................
33
6. BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 34
1
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo de Resolução publicada no DOU ..................................... 13
Figura 2 - Exemplo de inclusão de dado na base de dados .............................. 14
Figura 3 – Base de dados Geral .............................................................. 15
Figura 4 – Quantidade de Recall por produto / apresentação por mês ................ 15
Figura 5 – Quantidade de Recall por produto / apresentação geral ................... 16
Figura 6 – Recall por Classificação Terapêutica ........................................... 17
Figura 7 – Recall por Forma Farmacêutica ................................................. 19
Figura 8 – Recall por Via de Administração ................................................ 20
Figura 9 – Recall por Tipo de Medicamento ................................................ 21
Figura 10 – Recall por Laboratório (por produto/apresentação) ....................... 22
Figura 11 – Recall por Tipo de Recolhimento .............................................. 23
Figura 12 – Motivo de Recall (por Classe) .................................................. 25
Figura 13 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Aparência do Produto ................. 26
Figura 14 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Questão Regulatória ................... 28
Figura 15 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Análise Laboratorial ................... 29
Figura 16 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Mistura de Produtos ................... 30
Figura 17 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Rotulagem / Bula ...................... 32
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Classificação do Motivo de Recall por CLASSE E SUB-CLASSE .............. 11
Tabela 2 – Motivos de Recall - por Classe .................................................. 25
2
RESUMO AMEKU, L.A. Levantamento, avaliação e discussão dos casos de recall de medicamentos para uso humano acontecidos no Brasil, nos anos de 2014 e 2015. 2017. no. 504-16 Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Palavras-chave: recall; recolhimento de medicamento; motivos de recall INTRODUÇÃO: O recolhimento de medicamentos do mercado é muitas vezes uma prática necessária, tendo em vista que os desvios de qualidade comprometem não só a efetividade dos produtos, como também podem comprometer a saúde e a vida dos consumidores. O acesso às informações sobre o recall e sobre os seus fabricantes são públicas, porém os dados não são compilados e mostrados de forma de fácil compreensão e o histórico do produto e/ou do fabricante não é mostrado de forma visual. OBJETIVO: Este trabalho tem por objetivo fazer o levantamento dos casos de recall de medicamentos para uso humano, acontecidos no Brasil, nos anos de 2014 e 2015, para a obtenção de uma visão/panorama geral de recolhimento. Os dados levantados e sua análise servirão de base para responder algumas questões sobre o recall. MATERIAIS E MÉTODOS: Para a elaboração da base de dados foram realizadas buscas principalmente através da consulta no Diário Oficial da União. A base de dados foi elaborada em forma de planilha e esta foi alimentada com informações contidas nas publicações do Diário Oficial da União. As publicações de recall não relacionadas a medicamentos não foram considerados neste estudo. Outro critério de exclusão é a não inclusão de medicamentos fitoterápicos e publicações em que não citam medicamentos específicos. Através dos dados totais foram analisados e plotados gráficos para facilitar a compreensão dos dados. RESULTADOS: A quantidade total de recall de produtos/apresentações somando os dois anos foi de 160 casos. A classificação terapêutica que mais sofreu recall foi o de Antibiótico (15%). A forma farmacêutica predominante é a forma em Comprimido (39%). A via de administração que predomina é a Via Oral (63,8%). Tipo de Medicamento que predomina é o Genérico (43%), seguido pelo Similar (36%). Verificamos que em 58,8% dos casos de recall total aconteceu de forma voluntária pelos fabricantes dos medicamentos. Para os motivos de recall, os motivos que mais predominaram estavam relacionados a Aparência do Produto (27,6%), seguida por Questão Regulatória (25,9%). CONCLUSÃO: Através do estudo e das análises de todos os casos de recall de medicamentos ocorrido em 2014 e 2015, foi possível uma obtenção da visão/panorama geral de recall que aconteceram neste período.
3
1. INTRODUÇÃO
Com o intuito de proteger a saúde e a segurança do consumidor, o Código
de Defesa do Consumidor determina que o fornecedor não pode colocar no
mercado de consumo um produto que pode apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde e segurança do consumidor. O fornecedor ao perceber
que colocou no mercado de consumo produtos com estas características (alto
grau de nocividade ou periculosidade à saúde e segurança do consumidor),cabe
ao fornecedor informar ao público consumidor sobre os defeitos detectados nos
produtos e reparar os possíveis danos.
Desta forma, o Recall, ou chamamento, é o procedimento pelo qual o
fornecedor informa o público e/ou eventualmente o convoca para sanar os defeitos
encontrados em produtos vendidos ou serviços prestados. O objetivo essencial do
Recall é proteger e preservar a vida, a saúde, a integridade e a segurança do
consumidor, além de evitar e minimizar prejuízos físicos ou morais.
O recall tem seus procedimentos básicos definidos em portaria do
Ministério da Justiça, Portaria nº 789 de 24 de agosto de 2001, que regula a
comunicação dos problemas relativos a produtos e serviços perigosos que já
estão no mercado de consumo. Qualquer prejuízo físico ou moral em virtude do
defeito apresentado no produto/serviço é de inteira responsabilidade do
fornecedor. Assim, a prevenção e a reparação dos danos estão intimamente
ligadas, na medida em que o Recall deve sanar qualquer defeito que coloque em
risco a saúde e a segurança do consumidor. O recall visa ainda a retirada do
mercado, reparação do defeito ou a recompra de produtos ou serviços defeituosos
pelo fornecedor (PROCON – Pará).
No Brasil, o instituto do recall está previsto no Código de Defesa do
Consumidor, Lei 8078/90, que define em seu artigo 10, § 1º:
Artigo 10 – O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo
produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade
ou periculosidade à saúde ou segurança.
4
§ 1º - O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que
apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes
e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2º - Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão
veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto
ou serviço.
§ 3º - Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos
ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os estados, o
Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
A parcela do poder de polícia do Estado destinada à proteção e promoção
da saúde é a Vigilância Sanitária (VISA), o qual tem como principal finalidade
impedir que a saúde humana seja exposta a riscos ou, em última instância,
combater as causas dos efeitos nocivos que lhe forem gerados, em razão de
alguma distorção sanitária, na produção e na circulação de bens, ou na prestação
de serviços de interesse à saúde. No Brasil, no nível federal, estão a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Controle de
Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz).
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é uma agência
reguladora vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil e tem como missão a de
"Promover e proteger a saúde da população e intervir nos riscos decorrentes da
produção e do uso de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária, em ação
coordenada com os estados, os municípios e o Distrito Federal, de acordo com os
princípios do Sistema Único de Saúde, para a melhoria da qualidade de vida da
população brasileira.”
Nesse contexto, no ano de 2005, a Anvisa editou a Resolução de Diretoria
Colegiada (RDC) 55/05, estabelecendo os requisitos mínimos relativos à
obrigatoriedade, por parte das empresas detentoras de registros (fabricantes ou
importadores), de comunicação às autoridades sanitárias competentes e aos
consumidores.
5
O parágrafo único do artigo 1º da RDC 55/05 esclarece a responsabilidade
do titular do registro e dos demais agentes (inclusive distribuidoras e farmácias),
desde a produção até o consumo, que são solidariamente responsáveis pela
manutenção da qualidade, segurança e eficácia dos produtos até o consumidor
final, a fim de evitar riscos e efeitos adversos à saúde.
Tão logo o detentor do registro dê ciência aos distribuidores acerca dos
indícios de desvio de qualidade ou cancelamento do registro por força de
percalços quanto à segurança e à eficácia, tais distribuidores deverão encaminhar
ao detentor do registro o mapa de distribuição do medicamento a ser recolhido e
demais informações, bem como informar a seus receptores (farmácias e
drogarias) sobre o recolhimento, solicitando dos mesmos o quantitativo em
estoque, para subsidiar as informações a ser repassadas ao detentor do registro.
No Art.5º é informado que, o detentor do registro do medicamento fica
obrigado a comunicar à ANVISA, bem como ao órgão estadual ou municipal de
Vigilância Sanitária competente, sobre indícios suficientes ou comprovação de
desvio de qualidade, nas situações enquadradas nas classes I e II da classificação
de risco à saúde previstas no inciso IV do art. 2º:
Classe I: situação na qual existe alta probabilidade de que o uso ou
exposição a um medicamento possa causar risco à saúde acarretando morte,
ameaça à vida ou danos permanentes.
Classe II: situação na qual existe alta probabilidade de que o uso ou
exposição a um medicamento possa causar agravo temporário à saúde ou
reversível por tratamento medicamentoso.
Classe III: situação na qual existe baixa probabilidade de que o uso ou
exposição a um medicamento possa causar conseqüências adversas à saúde.
De acordo com o Art.6º O detentor do registro, deverá veicular mensagem
de alerta aos consumidores, informando sobre a periculosidade ou nocividade
do(s) lote(s) do medicamento por ele colocado no mercado, nos casos definidos
nas classes I e II da classificação de risco à saúde.
A mensagem de alerta deverá ser expressa de maneira compreensível aos
consumidores, descrevendo o tipo de desvio e os riscos a eles inerentes, bem
6
como estabelecendo os meios de comunicação a serem utilizados e submetida à
Anuência Prévia da ANVISA.
Em muitos casos de recolhimento de medicamento ou até mesmo em
pequenos desvios de qualidade, a população torna-se vulnerável na medida em
que, visualmente, muitos desvios são indetectáveis. Problemas relacionados, por
exemplo, ao teor do princípio ativo, teor de impurezas, de dissolução são
identificados por meio de métodos laboratoriais e com relação ao desvio de
qualidade de medicamentos, pode abranger amplos grupos populacionais,
independente de classe social, poder aquisitivo ou conhecimento intelectual.
Neste sentido, os fabricantes e as agências reguladores, que detêm a
capacidade técnica e operacional para controlar a qualidade de seus produtos,
devem agir de forma responsável em benefício da população.
A população que consome o produto existente no mercado, em teoria, tem
acesso às informações sobre o recall e os seus fabricantes, pois as informações
são públicas disponíveis nos sites de órgãos reguladores como ANVISA,
publicações no Diário Oficial da União, entre outros. Porém os dados não são
compilados e mostrados de forma de fácil compreensão e o histórico do produto
e/ou do fabricante não é mostrado de forma visual para os consumidores.
2. OBJETIVO
Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo fazer o levantamento
dos casos de recall de medicamentos para uso humano, acontecidos no Brasil,
nos anos de 2014 e 2015, para a obtenção de uma visão/panorama geral de
recolhimento que aconteceram neste período. Assim como analisar e comparar os
dados levantados e compilados em uma base de dados.
Os dados levantados e sua análise servirão de base para responder
algumas questões sobre o recall, como por exemplo: Quais os principais motivos
de recolhimento dos medicamentos no Brasil? Há tendência de uma forma
7
farmacêutica ter mais casos de recall? Em quantos casos (%) o Estado teve que
intervir (recall não voluntário)? Entre outras questões.
3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Estratégias de pesquisa Para a elaboração da base de dados com os casos de recall acontecidos
para medicamentos no Brasil, foi realizada a busca principalmente através da
consulta no Diário Oficial da União (DOU), eletronicamente, através do site do
Jusbrasil (JUSBRASIL).
Nesta página eletrônica do Jusbrasil é possível visualizar o DOU completo
da data desejada. Portanto, para a construção da base de dados de casos de
recall de medicamentos, o método utilizado foi:
Acessar o site do Jusbrasil, acessar a aba do Diário Oficial da União, selecionar o
ano de busca, selecionar o mês de busca, e então foi realizada uma busca por
palavras chaves nos DOUs publicados desde o primeiro dia de Janeiro de 2014
até o último dia de Dezembro de 2015. Foram utilizadas as palavras chaves de
busca: recolhimento, lote, medicamento e desvio de qualidade.
Ao localizar uma Resolução publicada pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária sobre a determinação de recolhimento de um medicamento, o caso foi
incluído na planilha para a confecção da base de dados.
A base de dados foi elaborada em forma de planilha utilizando a ferramenta
Microsoft Excel. Nesta planilha foram registradas informações das Resoluções
dividias em Nome Comercial do medicamento; Princípio Ativo; Classificação
Terapêutica; Forma Farmacêutica; Via de administração; Tipo de medicamento;
Nome do laboratório; Data da publicação da Resolução no DOU; Tipo de
recolhimento (voluntário ou não voluntário) e; Motivo de recolhimento de cada
caso.
Estes dados foram compilados na planilha para posteriormente
possibilitarem a comparação e avaliação dos dados.
8
Além da consulta do DOU, também foram consultados casos de recall na
página oficial da ANVISA e foram feitas buscas na internet, em sites de buscas,
através das palavras chaves citadas acima.
3.2. Critérios de inclusão A busca foi realizada principalmente nos DOUs através da página eletrônica
do Jusbrasil. Nesta página eletrônica é possível filtrar os DOUs por ano e por mês.
Portanto o primeiro critério para a busca foi a seleção dos anos de 2014 e 2015.
Ao utilizar as palavras chaves para a busca dos casos de recall, o segundo
critério de inclusão foi verificar se o caso de recolhimento está relacionado a um
medicamento, pois a ANVISA não só regulamenta medicamentos, como também
alimentos, cosméticos, saneantes, derivados do tabaco, produtos médicos,
sangue, hemoderivados e serviços de saúde, e o presente estudo foi focado em
recall de medicamentos para uso humano, somente.
Ao localizar um caso de recall, sobre medicamento de uso humano, o caso
foi adicionado na base de dados.
3.3. Critérios de exclusão Um dos critérios de exclusão durante a busca de casos de recall foi a
exclusão de publicações de recall não relacionados a medicamentos, ou seja,
caso seja publicado recolhimento de cosmético, por exemplo, este não foi incluído
na base de dados.
Outro critério de exclusão é a exclusão de publicações de recolhimento de
medicamentos fitoterápicos. Resoluções relacionadas a medicamentos
fitoterápicos não foram incluídos neste estudo.
É importante destacar que o foco principal deste estudo é uma análise de
recall por produto/apresentação, portanto, as publicações em que não foram
especificados os produtos para o recolhimento não foram consideradas neste
estudo.
9
Por exemplo, como publicado na RESOLUÇÃO-RE N 1.151, DE 15 DE
ABRIL DE 2015, não há a informação do produto/medicamento específico a ser
recolhido do mercado, portanto, publicações como estas não foram consideradas
no estudo.
RESOLUÇÃO-RE N 1.151, DE 15 DE ABRIL DE 2015: “Art. 1º Determinar,
como medida de interesse sanitário, em todo o território nacional, a suspensão da
distribuição, comercialização e uso de todos os lotes de todos os produtos
fabricados...”.
3.4. Coleta e análise dos dados A base de dados consiste na forma de planilha, preenchida manualmente
com informações obtidas através da Resolução publicada no DOU. A seguir estão
descritas a forma de inclusão dos dados na base de dados, divididas em
categorias de informação:
a) Nome Comercial do medicamento: A informação é publicada na Resolução
no DOU, especificando o medicamento a ser recolhido do mercado.
b) Princípio Ativo: A informação é publicada na Resolução no DOU,
especificando o princípio ativo do medicamento a ser recolhido do mercado.
c) Classificação Terapêutica: A classificação terapêutica do medicamento foi
consultada em Guias Farmacoterapêuticos através do princípio ativo do
medicamento.
d) Forma Farmacêutica: Informação extraída através da publicação no DOU.
Na Resolução publicada é especificada a apresentação do medicamento e
sua forma farmacêutica, quando aplicável.
e) Via de Administração: Informação extraída através da publicação no DOU,
quando especificado, ou consultado em bula do medicamento quando a
apresentação é especificada.
10
f) Tipo de medicamento (Referência, Genérico, Similar): Informação
consultada nas listas disponibilizadas pela ANVISA: Lista de medicamentos
de referência; Lista de medicamentos genéricos e Lista de medicamentos
similares, consultados a partir do princípio ativo e nome do laboratório.
g) Laboratório: A informação é publicada na Resolução no DOU, especificando
a empresa detentora do registro do medicamento a ser recolhido do
mercado.
h) Data: Informação registrada em forma de mês/ano. A cada caso de
recolhimento publicado no DOU, foi adicionado este dado em formato
mês/ano na base de dados.
i) Tipo de recolhimento (voluntário / não voluntário): Esta informação foi
extraída a partir Resolução publicada no DOU.
j) Motivo de Recall: A informação é publicada na Resolução no DOU,
especificando o motivo pelo qual houve o chamado para recolhimento do
medicamento/recall.
Os dados recolhidos para a categoria Motivo de Recolhimento foram
analisados e classificados em Classe e Sub-Classe, como mostrado na
Tabela 1 a seguir.
11
Tabela 1 – Classificação do Motivo de Recall por CLASSE E SUB-CLASSE
Classe SubClasseAnálise de teor de impureza / resíduoAnálise de teor de princípio ativoContagem de microorganismos
Ensaio de dissoluçãoOutrosInjetável Corpo estranho em ampolaNão especificadoSólido Oral Alteração de corSólido Oral com corpo estranho junto ao comprimido blistadoSólido Oral com pontos/manchas escurasSuspensão Oral com parafusoSuspensão Oral corpo estranho em frascoLíquido Oral não homogênea / presença de grumos/cristalizaçãoOutrosDificuldade de ressuspensãoDificuldade de solubilizaçãoSuspeita de cristalização do produtoAlteração de cor da solução após reconstituiçãoInjetável Fechamento inadequado de embalagem primáriaInjetável Fechamento inadequado de embalagem primáriaInjetável Presença de fragmento de vidro na embalagem primáriaRachaduras em frasco Sólido Oral Fechamento inadequado de embalagem primáriaSólido Oral Incorreção no corte do blíster
Mistura de embalagem primária e secundária de produtos diferentes
Mistura de embalagem primária e secundária de apresentações diferentesCancelamento de registroAlteração da fórmula / Alteração do fabricante dos fármacos dos medicamentos sem anuência da ANVISAComercialização de medicamento com registro canceladoNão possuírem bioequivalência com o medicamento de referência comprovadaNão-conformidades de requerimentos de BPFProdução de medicamentos em desacordo com o registrado na ANVISA / Sem anuência da ANVISASuspensão temporária da fabricaçãoBulas com informações contraditórias quanto à posologiaData de fabricação / validade incorretaDescrição de Via de administração incorretaInformações equivocadas na face lateral do cartuchoMistura de bulas de produtos diferentesMistura de rótulos entre duas apresentaçõesDefeito de PreenchimentoDispositivo do medicamentoEvento AdversoOdor / Sabor
Não especificado Não especificado
Questão Regulatória
Rotulagem / Bula
Outros
CLASSIFICAÇÃO DO MOTIVO DE RECALL
Análise laboratorial
Aparência do produto
Atributos de Uso
Embalagem primária
Mistura de produtos
12
Após a conclusão do preenchimento da base de dados, os dados foram
analisados por categorias individualmente (forma farmacêutica, Via de
administração, etc).
Os dados de cada categoria foram contabilizados e analisados
individualmente e esses dados foram plotados em gráficos para melhor
visualização dos resultados. Os resultados finais e os gráficos servirão de base
para responder as questões do objetivo deste estudo: Quais os principais motivos
de recolhimento dos medicamentos no Brasil? Há tendência de algumas formas
farmacêuticas terem mais casos de recall? Em quantos casos (%) o Estado teve
que intervir (recall não voluntário)? Entre outros.
É importante destacar que o estudo se concentrou em análise dos dados
por produtos e apresentações que sofreram o recall, portanto, se em uma única
Resolução publicada no DOU é citado o recall de dois produtos ou duas
apresentações, foram incluídos os dados dos dois produtos/duas apresentações
na base de dados, assim como para as outras categorias foram citadas e
contabilizadas duas vezes, uma vez para cada produto a ser recolhido.
Para este critério, temos como exemplo a RESOLUÇÃO-RE Nº 4.424, DE
13 DE NOVEMBRO DE 2014, em que determina o recolhimento de dois produtos:
Bialudex pomada oftálmica bisnaga 3,5g (cloridrato de ciprofloxacino +
dexametasona) e Gentagran pomada oftálmica bisnaga 3 g (sulfato de
gentamicina), como mostra na publicação abaixo, retirada do DOU de 14 de
Novembro de 2014.
13
Figura 1 – Exemplo de Resolução publicada no DOU
14
Por conta da publicação de recolhimento de dois produtos distintos, foram
inseridas duas linhas na planilha de dados, e as outras categorias foram
preenchidas de acordo com o produto e a Resolução, sendo que o laboratório foi
contabilizado duas vezes (uma para cada produto/apresentação).
Figura 2 - Exemplo de inclusão de dado na base de dados
3.5. Análise estatística
Os dados da base de dados foram compilados na planilha para
posteriormente possibilitarem a comparação e avaliação dos dados, através dos
dados totais e por gráficos que permitem uma melhor avaliação visual.
Foram plotados gráficos para facilitar a compreensão de dados totais. Os
gráficos foram utilizados para apresentar os dados de uma maneira mais
significativa, favorecendo a interpretação do panorama geral.
Foram plotados gráficos em forma de pizza, forma de barra e em forma de
coluna.
4. RESULTADO E DISCUSSÃO A busca de casos de recall dos anos de 2014 e 2015 foi realizada e os
dados coletados foram incluídos na base de dados, seguindo os critérios de
inclusão e exclusão, com as principais informações divididas em categorias.
15
Figura 3 – Base de dados Geral
4.1. Quantidade de Recall por produto / apresentação
Os dados recolhidos para a categoria Data foram contabilizados e
analisados e o gráfico em barra foi plotado para melhor visualização do resultado.
A quantidade de Recall por produto/apresentação foi dividida em mês e ano
de 2014 e 2015.
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total 20145 2 1 1 15 3 3 11 10 8 9 13 81
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total 20159 9 7 5 8 7 5 3 6 3 13 4 79
160
2014
2015
Total 2014 e 2015 Figura 4 – Quantidade de Recall por produto / apresentação por mês
A quantidade de recall por produto/apresentação no ano de 2014 foi de 81 e
no ano de 2015 foi de 79, ou seja, a quantidade total de recall em ambos os anos
é bastante semelhante.
E a quantidade total de recall de produtos/apresentações somando os dois
anos foi de 160 casos.
16
Figura 5 – Quantidade de recall por produto / apresentação geral
A partir dos resultados e pelo gráfico é possível verificar que não há uma
tendência ou uniformidade entre os meses/anos para a quantidade de recall
acontecidos.
4.2. Recall por Classificação Terapêutica Os dados de recall para a categoria Classificação Terapêutica foram
contabilizados e analisados e o gráfico em barra foi plotado para melhor
visualização do resultado.
17
Figura 6 – Recall por Classificação Terapêutica
A partir dos resultados e pelo gráfico verificamos que a classificação
terapêutica de Antibiótico (15%) predomina sendo a classificação com maior tipo
de classificação terapêutica de recall acontecido, com mais que o dobro das
segundas classificações, sendo eles Antiparasitário (7%) e Antidepressivo (7%).
Em quarta e quinta classificações estão as classificações terapêuticas de
Hormônio (6%) e Analgésico (6%).
A classificação “Outros” não foi levada em consideração apesar de somar
18% do total de recall para a categoria de Classificação Terapêutica pois em
“Outros” estão agrupadas todas as classificações com menos de 2 ocorrências,
tais como: Anestésico, Anticoagulante, Imunossupressor, Vacina, entre outros.
18
O uso do medicamento antibiótico é feita de forma controlada. A dose,
freqüência de uso, duração do tratamento, tipo de medicamento, etc, são todos
determinados pelo médico antes do uso do medicamento.
Quando acionado o recall do medicamento é porque o medicamento não
está seguindo os padrões pré-determinados e aprovados que deveria seguir para
exercer a função dele sem colocar em risco o consumidor.
A seguir estão os principais motivos de recall para a classe específica de
antibiótico:
- Sólido Oral com corpo estranho junto ao comprimido blistado
- Mistura de embalagem primária e secundária de produtos diferentes
- Mistura de rótulos entre duas apresentações
- Produção de medicamentos em desacordo com o registrado na ANVISA /
Sem anuência da ANVISA
- Não-conformidades de requerimentos de Boas Práticas de Fabricação
O fato de ocorrer o recall do medicamento antibiótico, pode levar a não
efetividade do tratamento, levando a possível resistência microbiana. O
consumidor pode ou não detectar o desvio de qualidade ou ter ciência do recall,
prosseguindo com o tratamento com tais medicamentos.
Ou mesmo quando o consumidor detecta o recall e entra no processo de
troca e/ou ressarcimento, há um tempo de pausa do tratamento que também
ocasiona o rompimento do tratamento adequado.
Múltiplos fatores levam a possível resistência microbiana, sendo
necessários outros tratamentos posteriores e possível agravo e incomodo ao
consumidor e a saúde pública.
19
4.3. Recall por Forma Farmacêutica
Os dados de recall para a categoria Forma Farmacêutica foram
contabilizados e analisados e o gráfico em pizza foi plotado para melhor
visualização do resultado.
Figura 7 – Recall por Forma Farmacêutica
A partir dos resultados compilados e pelo demonstrado no gráfico em pizza,
podemos responder a uma das perguntas do objetivo deste estudo: Há tendência
de uma forma farmacêutica ter mais casos de recall?
A forma farmacêutica predominante é a forma em Comprimido (39%),
seguida por Solução Injetável (27%), em que juntos já somam 66% do total de
todas as formas farmacêuticas. Seguidas pelas formas farmacêuticas Suspensão
Oral (9%) e Solução Oral (5%).
20
4.4. Recall por Via de Administração
Os dados de recall para a categoria Via de Administração foram
contabilizados e analisados e o gráfico em pizza foi plotado para melhor
visualização do resultado.
Figura 8 – Recall por Via de Administração
A partir dos resultados e pelo gráfico verificamos que o recall por Via de
Administração que predomina é a Via Oral (63,8%) seguido por Via Injetável
(30,2%), em que a soma das duas vias já é igual a 94% do total de todas as Vias
de Administração que sofreram recall.
Esta tendência pode ser verificada seguindo os parâmetros da categoria de
Forma Farmacêutica, em que as formas farmacêuticas por via oral estão entre as
primeiras listadas: comprimido, suspensão oral e solução oral.
21
4.5. Recall por Tipo de Medicamento (referência, genérico, similar)
Os dados de recall para a categoria Tipo de Medicamento foram
contabilizados e analisados e o gráfico em pizza foi plotado para melhor
visualização do resultado.
Figura 9 – Recall por Tipo de Medicamento
A partir dos resultados e pelo gráfico verificamos que o Tipo de
Medicamento que predomina é o Genérico (43%), seguido pelo Similar (36%),
Referência (20%) e por uma parcela mínima de Biológico (1%). Não há uma
grande discrepância entre os tipos de medicamentos.
4.6. Recall por Laboratório (por produto/apresentação)
Os dados de recall para a categoria Recall por Laboratório foram
contabilizados e analisados e o gráfico em barra foi plotado para melhor
visualização do resultado.
Por envolver diversos laboratórios durante os anos de 2014 e 2015 para o
processo de recall, para a elaboração do gráfico foram considerados somente os
22
laboratórios que estiveram envolvidos em recall por mais de 3 vezes (pelo menos
3 produtos ou apresentações sendo recolhidos do mercado durante os anos de
2014 e 2015), o que somam juntos 66,9% do total de todos os laboratórios.
Figura 10 – Recall por Laboratório (por produto/apresentação)
23
A partir dos resultados e pelo gráfico verificamos que o Laboratório que teve
maior envolvimento em recall por produto e/ou apresentação foi o Laboratório
Teuto (Laboratório Teuto Brasileiro S.A.) com 10,6% do total. Seguido pelo
laboratório EMS S.A. com 5,6% e por mais quatro laboratórios com 4,4% cada.
4.7. Recall por Tipo de Recolhimento (voluntário ou não voluntário)
Os dados recolhidos para a categoria Recall por Tipo de Recolhimento
foram contabilizados e analisados e o gráfico em pizza foi plotado para melhor
visualização do resultado.
Figura 11 – Recall por Tipo de Recolhimento
A partir dos resultados e pelo gráfico verificamos 58,8% dos casos de recall
aconteceu de forma voluntária pelos fabricantes dos medicamentos, 40,6% de
forma não voluntária, através da intervenção do Estado e 0,6% por cancelamento
de registro.
Neste cenário, então, é possível responder a uma das questões do objetivo
deste estudo: Em quantos casos (%) o Estado teve que intervir (recall não
voluntário)?
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Considerando os casos que o Estado teve que intervir como sendo o
recolhimento não voluntário + os casos de cancelamento de registro, somam o
total de 41,2% de todos os recalls acontecidos nos anos de 2014 e 2015.
Em mais da metade dos casos de recall acontecidos no período estudado
foram de iniciativas dos fabricantes dos medicamentos, porém em diversos casos
foi necessária a intervenção formal do Estado por meio da determinação de
processos de recall. Neste sentido é possível verificar a importância dos órgãos
que monitoram os fabricantes dos medicamentos, agindo de forma a proteger os
consumidores que representam o lado “vulnerável” dos eventos de desvio de
qualidade.
4.8. Motivo de Recall
O Motivo de recall de cada caso foi extraído da própria publicação da
Resolução no DOU. Para cada Motivo de recall foi inicialmente classificado em
Classe, e posteriormente em Sub-Classe para melhor análise dos dados. A Tabela
utilizada para a classificação com Classes e Sub-Classes se encontra em Métodos
deste estudo.
4.8.1. Motivos de Recall POR CLASSE Após avaliação e classificação de cada Motivo de Recall, foi possível obter
o seguinte resultado (por Classe), demonstrado na Tabela 2 e plotado em gráfico
de pizza, Figura 12:
25
Tabela 2 – Motivos de Recall - por Classe
Motivos de Recall - por Classe
Aparência do produto 27,6% Questão Regulatória 25,9% Análise laboratorial 17,1% Mistura de produtos 8,8%
Rotulagem / Bula 8,8% Outros 4,1%
Embalagem primária 3,5% Atributos de Uso 2,4% Não especificado 1,8%
Figura 12 – Motivo de Recall (por Classe)
A partir das Classes definidas para os motivos de recall, é possível verificar
que as Classes dos desvios de qualidade com maior número de recall foram:
Aparência do Produto (27,6%), seguida pela Classe Questão Regulatória (25,9%),
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Classe Análise laboratorial (17,1%), Mistura de produtos (8,8%) e Rotulagem /
Bula (8,8%).
4.8.2. Motivo de Recall POR SUB-CLASSE
Cada Motivo de Recall foi classificado em Classe, como mostrado acima, e
posteriormente em Sub-Classe. As Sub-Classes das 5 principais Classes que
obtiveram maior número de incidência foram analisadas e plotadas em gráfico de
barra para melhor visualização dos resultados:
a) CLASSE Aparência do Produto e suas SUB-CLASSES
Figura 13 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Aparência do Produto
As principais Sub-Classes encontradas foram:
CLASSE Aparência do Produto
SUBCLASSE: Injetável com corpo estranho em ampola - 29,8%
SUBCLASSE: Não especificado - 21,3%
SUBCLASSE: Sólido Oral com pontos/manchas escuras – 14,9%
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A subclasse “Não especificado” foi atraibuída para os casos em que o
motivo informado em sua publicação informa que houve resultados insatisfatórios
em ensaios de aspecto, porém não informa detalhes sobre o desvio de qualidade.
E através dos resultados é possível verificar que a SubClasse Injetável com
Corpo Estranho em Ampola foi a causa de recall mais frequente dentro da Classe
Aparência do Produto. Esta classificação foi atribuída para os casos em que é
visível um corpo estranho dentro da ampola. O desvio de qualidade com a
presença de corpo indeterminado dentro da ampola é um desvio de qualidade com
risco bastante alto para o tratamento e vida do paciente por ser um produto
esterilizado e injetável. Apesar do corpo estranho ser visível e por consequência
ser descartado antes da utilização, este desvio de qualidade oculta outros
possíveis problemas graves. Caso esta contaminação tenha acontecido durante a
produção do medicamento deste lote por exemplo, este pode ter causado uma
contaminação em todas as unidades deste lote, porém o corpo estranho
possivelmente seria visível somente naquela determinada unidade. Ou seja,
outras unidades deste lote podem estar contaminadas, porém o desvio de
qualidade não seria detectado antes do uso pois o mesmo não seria visível,
tornanod o paciente exposto a riscos.
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b) CLASSE Questão Regulatória e suas SUB-CLASSES
Figura 14 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Questão Regulatória
As principais Sub-Classes encontradas foram:
CLASSE Questão Regulatória
SUBCLASSE: Produção de medicamentos em desacordo com o registrado na
ANVISA – 40,9%
SUBCLASSE: Não-conformidades de requerimentos de BPF – 15,9%
SUBCLASSE: Alteração da fórmula/fabricante sem anuência da ANVISA – 15,9%
A subclasse “Alteração da fórmula/fabricante sem anuência da ANVISA” foi
utilizada para os casos em que na Resolução publicada no Diário Oficial da União
a causa do recall havia sido identificado como que houve alteração de
fórmula/fabricante mas este não foi notificado à ANVISA ou a produção foi
continuada mesmo sem a espera da aprovação da mesma.
A SUB-CLASSE mais frequente dentro da Classe de Questão Regulatória é
a “Produção de medicamentos em desacordo com o registrado na ANVISA”.
29
Não é possível saber se a fabricação do medicamento foi feito de forma
proposital pelo fabricante ao não seguir o procedimento registrado na ANVISA ou
a fabricação do medicamento com a alteração da formulação/fabricante sem
anuência da ANVISA. Porém estar com a documentação em ordem e com a
aprovação da ANVISA é de responsabilidade do detentor do registro do
medicamento antes da liberação do produto ao mercado. Neste caso o fabricante
do medicamento não estaria seguindo as regulamentações definidas pelo Estado
e Agências Reguladoras, expondo a população em riscos graves.
c) CLASSE Análise Laboratorial e suas SUB-CLASSES
Figura 15 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Análise Laboratorial
As principais Sub-Classes encontradas foram:
CLASSE Análise Laboratorial
SUBCLASSE: Resultados insatisfatórios para Análise de teor e princípio ativo –
31,0%
SUBCLASSE: Resultados insatisfatórios para Análise de teor de impureza /
resíduo – 27,6%
SUBCLASSE: Resultados insatisfatórios para Ensaio de dissolução – 20,7%
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A partir dos resultados é possível verificar que muitos produtos não
passaram nos testes de análise laboratorial, tendo seus resultados insatisfatórios.
Os medicamentos passam por controles de qualidade interna rigorosa entes
de ser liberada ao mercado. Porém é possível verificar que alguns lotes de
medicamentos disponíveis no mercado dão resultados insatisfatórios em análises
laboratoriais. Neste ponto o laboratório fabricante ou detentor do registro precisa
estar atento ao produto, pois caso não seja problema de controle de qualidade,
pode estar relacionado a diversas outras questões como a estabilidade do
medicamento/princípio ativo; embalagem não adequada para transporte ou
armazenamento que afeta a estabilidade do produto e em consequência alteram
as propriedades dos medicamentos, entre outras possíveis causas.
Estes motivos de recall da classe Análise Laboratorial também geram um
grande risco para o paciente pois é um desvio de qualidade não identificável pelo
paciente/consumidor.
d) CLASSE Mistura de Produtos e suas SUB-CLASSES
Figura 16 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Mistura de Produtos
As Sub-Classes encontradas foram:
CLASSE Mistura de Produtos
SUBCLASSE: Mistura de embalagem primária e secundária de produtos
diferentes – 80,0%
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SUBCLASSE: Mistura de embalagem primária e secundária de produtos iguais e
apresentações diferentes – 20,0%
A partir dos resultados é possível verificar que muitos dos produtos que
tiveram recall anunciados tiveram suas embalagens trocadas com outros produtos
ou com outras apresentações.
No caso da Sub-Classe “Mistura de embalagem primária e secundária de
produtos diferentes” foi possível verificar que a embalagem primária estava dentro
de uma embalagem secundária de outros produto, muitas vezers com outra
indicação terapêutica, o que traz riscos aos pacientes que muitas vezes não se
atentam ao que está descrito no blister (embalagem primária) e pode fazer uso de
produtos com outra indicação. Neste caso, prejudica o tratamento que deveria ser
feito com o medicamento correto e teria a utilização de medicamento que não
seria necessário.
No caso da Sub-Classe “Mistura de embalagem primária e secundária de
produtos iguais e apresentações diferentes” foi possível verificar que a emabalgem
primária e secundária do produto se referiam ao mesmo produto, ou seja, com a
mesma indicação, porém em apresentações diferentes. Por exemplo, um
medicamento com a embalagem primária de 10mg embalada na embalgem
secundária de 20mg. Ou seja, traz riscos aos consumidores dos medicamentos
pois, neste caso o consumidor pode não se atentar à diferença da apresentação e
administrar medicamento com dose a menos ou a mais, dependedo do desvio de
qualidade, o que traz riscos aos consumidores por conta do fabricante do
medicamento.
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e) CLASSE Rotulagem / Bula e suas SUB-CLASSES
Figura 17 – Gráfico em barra – Sub-Classes de Rotulagem / Bula
As principais Sub-Classes encontradas foram:
CLASSE Rotulagem / Bula
SUBCLASSE: Mistura de bulas de produtos diferentes – 33,3%
SUBCLASSE: Mistura de rótulos entre duas apresentações – 20,0%
SUBCLASSE: Data de fabricação / validade incorreta – 20,0%
A partir dos resultados é possível verificar que a SubClasse com maior
frequência dentro desta classe foi a de “Mistura de bulas de produtos diferentes”,
ou seja, dentro de um produto X, havia a bula de um produto Y. O consumidor ao
consultar a bula do produto pode não se atentar na diferença da bula e resultar em
erro de medicação, utilização de dose inadequada, não adesão do paciente ao
tratamento ela confusão dos produtos, entre outros, o que pode prejudicar o
tratamento do paciente.
Assim como para a Sub-Classe de Mistura de rótulos entre duas
apresentações. Este caso difere da mistura de produtos de embalagem primária e
secundária pois para este caso há um possível desvio de qualidade durante a
elaboração da arte das embalagens primárias e/ou secundárias. Por exemplo,
33
todas as informações da embalagem secundária se referem ao produto de 5mg,
porém na lateral da mesma embalagem secundária, está escrito como sendo um
medicamento de 10mg, o que pode gerar confusão ao paciente e ao tratamento.
E o terceiro motivo mais frequente para esta classe é de “Data de
fabricação / validade incorreta”. Para estes dados o laboratório fabricante somente
conseguiria confirmar a data de fabricação e/ou validade através do rastreamento
do número de lote. E por não ser um desvio de qualidade visível ao paciente,
expõe os mesmos a utilização de possível medicamento fora do prazo de
validade.
Para todos os motivos de recall há um grande impacto no tratamento do
paciente. Podem gerar eventos adversos/efeitos colaterais aos pacientes, riscos à
vida do paciente, leva a erros de medicação, confusão do tratamento, não adesão
do tratamento pelo paciente, atraso no início do tratamento, interrupção do
tratamento, entre outros fatores que são eventos prejudiciais ao paciente.
Contudo é importante enfatizar que, apesar de não ser esperado que haja
medicamentos liberados para o mercado com desvios de qualidade com potencial
de causar danos sérios aos pacientes, estes desvios de qualidade estão sendo
detectados e o procedimento de recall está sendo acionado, seja de forma
voluntária pelo laboratório ou de forma interventida dos órgaos reguladores, a
favor de manter a saúde dos consumidores.
6. CONCLUSÃO
Através do estudo e das análises de todos os casos de recall de
medicamentos ocorrido em 2014 e 2015, foi possível uma obtenção da
visão/panorama geral de recall que aconteceram neste período. A quantidade de
recall acontecido em ambos os anos, por produto e apresentação, foi em
quantidade semelhante.
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A classificação terapêutica com maior número de recall é o de antibiótico. A
forma farmacêutica predominantemente em comprimido. A via de administração
mais predominante é a via oral; o tipo de recolhimento com maior número foi de
medicamentos genéricos; e mais da metade dos casos de recall aconteceu de
forma voluntária dos laboratórios.
Os principais motivos de recall foram Aparência de produto – Corpo
estranho em ampola; Questão Regulatória - Produção de medicamentos em
desacordo com o registrado na ANVISA; Análise Laboratorial – Resultados
insatisfatórios em análise de teor de princípio ativo; Mistura de produtos - Mistura
de embalagem primária e secundária de produtos diferentes e; Rotulagem / Bula -
Mistura de bulas de produtos diferentes.
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