UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
IBERVANI MARCIA GOMES KOERICH
RESPONSABILIDADE SOCIAL E OS BENEFÍCIOS FISCAIS PAR A
EMPRESAS TRIBUTADAS PELO LUCRO REAL
Biguaçu (SC), 2008.
IBERVANI MARCIA GOMES KOERICH
RESPONSABILIDADE SOCIAL E OS BENEFÍCIOS FISCAIS PAR A
EMPRESAS TRIBUTADAS PELO LUCRO REAL
Monografia apresentada à
Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito parcial a
obtenção do grau em Bacharel em
Direito.
Orientadora: Profª. MSc. Helena Nastassya Paschoal Pitsica
Biguaçu (SC), 2008.
IBERVANI MARCIA GOMES KOERICH
RESPONSABILIDADE SOCIAL E OS BENEFÍCIOS FISCAIS PAR A
EMPRESAS TRIBUTADAS PELO LUCRO REAL
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de Concentração: Direito Civil
Biguaçu, 10 de novembro de 2008.
Profª. MSc. Helena Nastassya Paschoal Pitsica UNIVALI – Campus de Biguaçu
Orientador
Prof. MSc. Maria Helena Machado UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
Prof. Esp. Tânia M. de Souza Trajano UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
Dedico este trabalho em especial ao meu esposo
Silvio e a meus filhos; Gabriela e Rafael.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pelo dom da vida, por me dar força nos momentos de
desanimo e por me manter na fé.
Agradeço a meus pais, Iberto José Gomes (in memorian) e Evani Terezinha de
Oliveira Gomes, que sempre me incentivaram nas coisas que fiz e por me
darem seu exemplo de honestidade e perseverança.
Agradeço ao meu esposo Silvio, e a meus filhos Gabriela e Rafael, pela
paciência e compreensão nas minhas ausências.
Agradeço a meu sogro Osni e minha sogra Bernadete, por estarem sempre
prontos a me ajudar no que preciso.
As minhas irmãs, Simonia e Juliana, e meu irmão José Roberto que fazem
parte da minha história, pelo apoio recebido.
À minha orientadora Profa. MSc Helena Natassya. Paschoal Pitsica., por sua
competência, dedicação e presteza na orientação deste trabalho, muitíssimo
obrigada.
Aos professores José Luiz da Silva e Onei Tadeu Dutra, do curso de Ciências
Contábeis da UNIVALI, pelo apoio no empréstimo de material bibliográfico.
Ao Prof. Lívio Giosa, pelas indicações de bibliografias para realização deste
trabalho.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total
responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,
isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito,
a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade
acerca do mesmo.
Biguaçu, novembro de 2008.
Ibervani Márcia Gomes Koerich.
RESUMO
O presente trabalho objetivou analisar como a Responsabilidade Social juntamente com os Benefícios Fiscais podem colaborar com o Estado na captura de recursos financeiros para contribuir na solução de problemas sociais via projetos sociais para tanto conta com os diversos setores da sociedade, principalmente as ONGs. O trabalho possui três capítulos de fundamentação teórica organizados de forma a possibilitar o entendimento do leitor acerca do tema proposto. As empresas que aplicam a Responsabilidade Social além de estarem preocupadas com o bem estar de seus colaboradores, por meio dos benefícios fiscais contribuem para o desenvolvimento sócio econômico da sociedade no apoio a projetos sociais. Os Incentivos Fiscais são benefícios dados pelo governo às empresas, por contribuírem com atividades de caráter social, voltado para o desenvolvimento social e econômico do País. Os benefícios são concedidos por meio da redução do Imposto de Renda, observando o disposto nas Leis que regulamentam cada incentivo, entre eles cita-se: incentivo ao desporto, incentivo a cultura e o incentivo ao fundo da infância e adolescência - FIA. Apesar de estes incentivos existirem, poucas empresas fazem uso destes benefícios concedido pelo Governo Federal. Existem vários fatores que contribuem para esta situação, entre eles, a própria falta de conhecimento dos contabilistas, dos advogados, dos empregadores e administradores, sobre como e quando usá-los. O trabalho abordou três dos Benefícios Fiscais, os quais destaca-se : A Lei Rouanet , a Lei de incentivo ao esporte e o Fundo da Infância e Adolescência – FIA .
Palavras-chave : Responsabilidade Social; Benefícios Fiscais; Imposto de
renda
RESUMÈ
Le présent travail a comme objectif d’analyser la Responsabilité Sociale conjointement avec les Bénéfices Fiscaux pouvant collaborer avec l'État dans la capture de ressources financières pour contribuer dans la solution de problèmes sociaux via des projets sociaux pour de telle façon compte avec les divers secteurs de la société, principalement l'ONGs. Le travail possède trois chapitres de fondement théorique organisés de manière à rendre possible la compréhension du lecteur concernant le sujet proposé. Les sociétés qui appliquent la Responsabilité Sociale outre d’être inquiétées avec le bien-être de leurs collaborateurs, au moyen des bénéfices fiscaux contribuant au développement socio-économique de la société dans l'aide à des projets sociaux. Les Incitations Fiscales sont des bénéfices donnés par le gouvernement aux entreprises, car elles contribuent avec des activités de caractère social, dirigé vers développement social et économique du Pays. Les bénéfices sont accordés au moyen de la réduction de l'Impôt sur le Revenu, en observant les dispositions dans les Lois qui réglementent chaque incitation, entre elles se cite : incitation au sport, incitation la culture et l'incitation au Fond de l'Enfance et l'Adolescence - FEA. Malgré l’existence de ces incitations, peu de sociétés font utilisation de ces bénéfices accordés par le Gouvernement Fédéral. Il existe divers facteurs qui contribuent à cette situation, entre eux, le manque de connaissance des comptables, des avocats, des employeurs et des administrateurs, sur la façon de comment l’utiliser et de l’appliquer. Le travail a abordé trois des Bénéfices Fiscaux qui se détachent : La Loi Rouanet, la Loi d'incitation au sport et le Fond de l'Enfance et l'Adolescence – FEA
Mots-clés: Responsabilité Sociale; bénéfices fiscaux; l'Impôt sur le Revenu
SUMARIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 11
1. RESPONSABILIDADE SOCIAL............................ ................................... 14
1.1. Origem da Responsabilidade Social ....................................................................... 15
1.2. Conceito da Responsabilidade Social ..................................................................... 18
1.3. Responsabilidade Social X Filantropia .................................................................. 22
1.4. Terceiro Setor........................................................................................................... 24
1.5. Organizações não Governamentais – ONGs ......................................................... 27
1.6. Divulgação das ações sociais ................................................................................... 35
2. OS TRIBUTOS NO BRASIL .............................. ....................................... 37
2.1. Esboço histórico-conceitual..................................................................................... 37
2.2. Tributos do Brasil Colonial (1500-1822)................................................................ 38
2.3. Tributos do Brasil Republicano.............................................................................. 42
2.4. Formas de Tributação ............................................................................................. 43
3. BENEFÍCIOS FISCAIS ................................. ............................................ 50
3.1. Lei Rouanet – Projetos Culturais ........................................................................... 54
3.2. Fundo da Infância e Adolescência – FIA ............................................................... 60
3.3. Captação de Recursos para o FIA.......................................................................... 64
3.4. Incentivo Fiscal ao Desporto................................................................................... 67
CONCLUSÃO .......................................... ........................................................ 69
BIBLIOGRAFIA ....................................... ........................................................ 71
INTRODUÇÃO
A comunidade carece, cada vez mais, de investimentos
na área social. Os recursos constantes dos orçamentos federal, estadual e
municipais são escassos e, nem sempre, canalizados de forma adequada e
transparente. Diante disso a responsabilidade social surge nas organizações
contribuindo para o desenvolvimento sustentável da sociedade.
Impulsionada pela globalização, toma corpo a
necessidade de maior participação dos diversos segmentos da sociedade na
preservação do meio ambiente e na melhoria da qualidade de vida de toda a
população.
É necessário que os gestores das empresas tributadas
pelo lucro real tenham um maior conhecimento dos mecanismos dos benefícios
fiscais a fim de poderem contribuir de forma sistemática no apoio a projetos
sociais voltados a cultura, esporte e principalmente em apoio as crianças e
adolescentes.
Nesse sentido, é urgente que os municípios e as
Organizações não Governamentais obtenham fontes alternativas de custeio
para as atividades ligadas às ações sociais.
A Lei de Incentivo a Cultura, Lei 8.313/91 (Rouanet),
permite que estas empresas possam aplicar os conceitos da Responsabilidade
Social no apoio a projetos culturais.
A lei de incentivo ao Esporte, Lei 11.438/2006, possibilita
as empresas tributadas pelo lucro real a destinar uma parcela do Imposto de
Renda a projetos voltados a atividade desportiva.
A Lei n º 8.069, de 13.07.90, que criou o Estatuto da
Criança e do Adolescente, permitiu, aos contribuintes do Imposto de Renda
deduzir, do imposto devido, as doações efetuadas aos Fundos controlados
pelos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente.
No entanto, tal dispositivo legal é pouco conhecido pela
sociedade e pelas pessoas envolvidas com o processo de elaboração das
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declarações de imposto de renda.
Em vista disso e, também, da inexistência de mecanismos
que facilitem o processo de doação, poucos recursos têm sido conseguidos
pelos citados fundos, a não ser aqueles já constantes dos orçamentos
municipais que, via de regra, são insuficientes para atender as demandas
sociais sempre crescentes.
O presente trabalho buscará, portanto, demonstrar como
as empresas tributadas pelo lucro real podem destinar parcela do imposto de
renda devido a apoio de projetos sociais voltados a cultura, infância e
adolescência e ao desporto. Objetiva ainda caracterizar a importância da
Responsabilidade Social com foco nos benefícios fiscais existentes.
Para tanto, o presente trabalho foi dividido em três
capítulos. No primeiro Capítulo, denominado Responsabilidade Social serão
explanados a origem, conceito e principais formas de responsabilidade social,
sempre partindo do princípio de que trata-se de uma das várias modalidades
colocadas à disposição das empresas que buscam desenvolver atividades com
o intuito de alcançar o bem estar dos colaboradores, da comunidade e do meio
ambiente onde estão inseridas.
O segundo Capítulo, trata dos Tributos no Brasil fazendo
uma menção historico conceitual dos mesmos, passando do Brasil Colonial até
o Brasil Republicano e as Formas de Tributação.
Já o terceiro Capítulo traz a tona os Benefícios Fiscais,
que são benefícios dados pelo governo às empresas, por contribuirem com
atividades de caráter social, os mesmos são concedidos por meio da redução
do Imposto de Renda , observando o disposto nas Leis, sendo assim cita-se:
incentivo ao desporto, a cultura e o incentivo ao fundo da infânciae
adolescência.
Para alcançar o objetivo final do presente trabalho partiu-
se da seguinte hipótese: as pessoas físicas e jurídicas podem destinar recursos
financeiros por meio de incentivos fiscais oferecidos pelo governo em apoio a
projetos sociais; e as empresas podem se utilizar dos benefícios fiscais para
divulgar suas ações sociais.
Quanto à metodologia aplicada, o método foi o dedutivo
13
com a utilização das técnicas da categoria e conceito operacional, pesquisa
bibliográfica e legal, além de esboços exemplificativos para melhor
compreensão da aplicação prática do objeto tema da pesquisa.
1. RESPONSABILIDADE SOCIAL
Responsabilidade Social empresarial é a maneira pela
qual as empresas buscam desenvolver atividades com o intuito de alcançar o
bem estar dos colaboradores, da comunidade e do meio ambiente onde estão
inseridas.
A Responsabilidade Social empresarial é entendida como
o relacionamento ético da empresa com todos os grupos de interesse que
influenciam ou são impactados pela sua atuação, assim como o respeito ao
meio ambiente e investimentos em ações sociais (ORCHIS et al. 2002, p. 56).
O tema Responsabilidade Social tem sido constantemente
debatido e analisado no ambiente empresarial, de forma que a expressão
“compromisso com as causas sociais” vem sendo incorporada ao modelo de
gestão de grandes empresas sintonizadas com a globalização.
O conceito de Responsabilidade Social esta se ampliando
passando da filantropia, que é a relação socialmente compromissada da
empresa com a comunidade, para abranger todas as empresas: com seus
funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, meio ambiente e
organizações públicas e estatais (GRAJEW, 2000 apud MELO NETO, 2002, p.
79).
A cultura de que a responsabilidade das empresas é
apenas dar lucro e a do governo assegurar aos cidadãos os seus direitos
básicos, vem sendo transformada, e hoje muitos empresários estão
preocupados não só com o lucro ou prejuízo que a empresa pode dar, mas
também com o compromisso social e ambiental.
As empresas têm se utilizado da Responsabilidade Social
como instrumento de gestão capaz de possibilitar aos seus colaboradores a
integração com a comunidade externa, conhecendo novas realidades em
ambientes menos formais e onde a liderança é aceita e incentivada.
Os gestores das empresas já reconhecem que quanto
mais motivados estão os empregados, mais produtividade a empresa alcança.
15
Quanto mais credibilidade a empresa transmite à sociedade, mais respeito e
compromisso ela terá da sociedade (DE LUCA 1998, p.56).
A Responsabilidade Social passa a ser uma oportunidade
de mercado para que as empresas possam desenvolver a satisfação pessoal e
profissional de seus colaboradores, assim como o desenvolvimento da
Sociedade, e o cuidado com o meio ambiente.
Este capítulo tem por objetivo apresentar o tema
Responsabilidade Social nas entidades, fazer um breve resgate histórico e
demonstrar sua importância para a Sociedade, bem como conceituar o tema
apresentando diversos entendimentos a fim de contribuir para a diferenciação
da Filantropia.
1.1. Origem da Responsabilidade Social
A Responsabilidade Social das empresas não é uma idéia
nova. ASHLEY (2002, p.18) menciona que, já em 1919 Henry Ford já defendia
a participação das empresas no bem-estar coletivo. Também não se pode dizer
que o termo surgiu como uma idéia que está em moda, mas sim que é uma
cultura que vem crescendo e se desenvolvendo e que tomou uma dimensão
global.
A figura a seguir, demonstra que já no séc. XVIII o tema
despertava ações por parte de algumas entidades. Os marcos da origem da
Responsabilidade Social no que diz respeito a iniciativas tomadas por
empresas e por instituições por vezes vinham intimamente ligadas à religião.
ANO ASPECTOS HISTÓRICOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 1747 Os Quakers , membros de uma comunidade protestante criada por George
Fox na Inglaterra. Além de seu desempenho econômico ficaram conhecidos por terem sido os primeiros a recusar a indústria de guerra e a escravatura. Baseavam os seus valores na integridade do ser humano, respeito dos contratos e dos preços fixados e na atenção especial que davam à higiene e a segurança no trabalho.
1908 - O conselho federal das igrejas lança um documento manifestando-se a favor de direitos iguais e de justiça para todos, sem discriminação, da abolição do trabalho infantil, do fim da exploração dos trabalhadores , de uma diminuição progressiva das horas de trabalho, da proteção dos trabalhadores contra os perigos ligados às máquinas e contra as doenças profissionais.
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ANO ASPECTOS HISTÓRICOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 1899 Carnigie, fundador do Conglomerado U.S.Steel Corporation . Estabelecia
dois princípios às grandes empresas. O primeiro princípio era o da caridade, exigia que os membros mais afortunados da sociedade ajudassem os grupos de excluídos e o segundo era o da custódia, em que as empresas deveriam cuidar e multiplicar a riqueza da sociedade.
1919 Nos Estados Unidos, Henry Ford contraria um grupo de acionistas ao reverter parte dos lucros na capacidade produtiva, aumento de salários e constituição de fundo de reserva. A justiça americana posicionou-se contrária à atitude de Ford, alegando que os lucros deveriam favorecer aos acionistas.
1929 Constituição da República de Weimar , nesse momento passa a ser aceitável que as empresas, como pessoas jurídicas , assumam uma função social basicamente em ações de caráter filantrópico.
Década de 60
A sociedade se manifestou contra a produção e uso de armamentos bélicos , principalmente armas químicas. As organizações não podiam mais vender o que desejassem.
Final dos anos 60
Nesse momento, em plena guerra do Vietnã ,movimentos dos consumidores, organizam boicotes aos serviços ligados à guerra e ações de força contra algumas empresas como por exemplo o ataque à General Motors, impondo a segurança dos seus automóveis, que levou mesmo ao encerramento da fábrica e que esteve na origem da criação de uma série de leis sobre a fabricação de viaturas.
Quadro 1 - Fonte: Adaptado de Karkotli – 2004
Os valores propulsores das ações hoje identificados como
Responsabilidade Social vinham acompanhados de uma visão humanista
comprometida não só com as comunidades e empresas, mas também com a
sociedade em sentido amplo.
Essa raiz também pode ser observada no Brasil, vez que
a “caminhada” da Responsabilidade Social tem pouco menos de 50 anos, com
a chegada em 1961 da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
(ADCE) iniciando assim uma pregação de Responsabilidade Social nos
dirigentes das empresas. Na década de 1970, alguns representantes dessa
entidade começaram a organizar seminários e congressos sobre Balanço
Social a fim de demonstrar a importância desse demonstrativo social, que
possibilita a demonstração das ações sociais da organização. Mas foi na
década de 1990 que o tema ganhou maior impulso no Brasil.
O percurso da Responsabilidade Social no Brasil tem
registros esparsos destacados, mas que marcaram o inicio de uma
conscientização nacional acerca do tema. Se por um lado eram praticadas
ações sem reconhecimento por parte da sociedade e incentivo do Estado, por
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outro lado florescia um ambiente propício a idéias como a do sociólogo
Herbert de Souza (Betinho), foi no ano de 1997 que o tema Responsabilidade
Social e Balanço Social foram amplamente difundidos a partir de suas idéias e
com a divulgação de programas de combate a fome e à pobreza por meio do
IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas estimulou as
empresas suas ações sociais. (KOERICH, 2003)
Diante dos elementos históricos pesquisados poder-se-ia
inferir que a Responsabilidade Social, na verdade,aparece no momento do
surgimento das organizações pois estas, a partir do momento que nascem ,
firmam um contrato tácito com toda a sociedade. É natural que esta espere da
entidade a responsabilidade de levar o progresso e o crescimento social e
econômico dentro de princípios éticos.(KOERICH, 2003)
Com a globalização e a consolidação de ações antes
isoladas, o termo Responsabilidade Social passou a ser mais difundido, pois as
organizações passam a ter uma nova dinâmica. Dinâmica esta que vem
alterando a atuação destas entidades, passando a buscar além da qualidade
de seus produtos, a questão sócio-ambiental estando mais atentas aos
benefícios da Responsabilidade Social. Assim o desenvolvimento de suas
ações, políticas, práticas e atividades, tem um contorno mais ético e
responsável , tanto em relação a sociedade quanto perante seus
colaboradores.
Desta forma passam a ter um maior comprometimento
com o desenvolvimento da sociedade onde estão inseridas e de seus próprios
funcionários e não apenas com suas atividades visando à lucratividade.
De acordo com (KARKOTLI & ARAGÃO, 2004, p.45):
A crescente conscientização da sociedade vem modificando, gradualmente, o modelo tradicional de atuação empresarial, aquela baseada na obtenção de lucratividade sem levar em conta da comunidade no seu entorno. Através de pressões,a sociedade tem se manifestado em duas áreas distintas: uma de natureza ecológica para proteção do meio ambiente natural e outra ligada a direitos e proteção do consumidor. O que antes era puramente econômico, como o nível de vida, está agora fortemente modificado por valores ligados à qualidade de vida para um maior número de indivíduos.
No mundo globalizado as pessoas passaram a cobrar das
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entidades medidas para solucionar problemas sociais que antes cabiam
apenas as entidades públicas e ao Estado. Cobram o comprometimento de
todos na busca do bem-estar coletivo, o que acarreta a necessidade de
prestarem contas não só dos seus resultados financeiros como também de
suas ações para o desenvolvimento social.
1.2. Conceito da Responsabilidade Social
Se, no início as ações de Responsabilidade Social não
eram nominadas como tal, a partir de uma realidade que a globalização
impinge com a exigência de cada ente na colaboração para o bem comum, ao
contrário de antigamente que bastava a uma pessoa física ou jurídica contribuir
para a economia como sua função final, hoje em dia a contribuição se dá em
aspectos outro muito mais dinâmico e essencial. O fato é que, grande ou
pequena, toda empresa pode e deve dar sua colaboração social.
A Responsabilidade Social é um compromisso ético das
organizações com ações que visem o desenvolvimento da Sociedade, dos
seus próprios empregados e suas famílias.
De acordo com (ASHLEY, 2002, p. 6):
Responsabilidade Social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela. Melo apud Nobre (2004) complementa essa conceituação
citando o disposto pela Comissão das Comunidades Européias que diz:
“Responsabilidade Social é um comportamento que as empresas adotam
voluntariamente e vão além dos requisitos legais, porque consideram ser esse
o seu interesse a longo prazo. Implica uma abordagem por parte das empresas
que coloca no cerne das estratégias empresariais as expectativas de todas as
partes envolvidas e o princípio de inovação e aperfeiçoamento contínuos.”
Esse compromisso que tem a organização pode atingir
vários os segmentos da Sociedade, beneficiando-os com as ações
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desenvolvidas por meio da Responsabilidade Social. Esses segmentos
podem ser internos ou externos à organização, com destaque para os
funcionários, clientes, fornecedores e a sociedade em geral, por existirem
esses seguimentos é que se pode classificar a Responsabilidade Social como
interna e externa , de acordo com os indicadores pré-definidos e elencados no
quadro a seguir.
RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA
RESPONSABILIDADE SOCIAL EXTERNA
FOCO
PÚBLICO INTERNO (EMPREGADOS E SEUS DEPENDENTES)
COMUNIDADE
ÁREAS DE ATUAÇÃO
EDUCAÇÃO SALÁRIOS E BENEFÍCIOS ASSISTÊNCIA MÉDICA, SOCIAL E ODONTOLÓGICA
- EDUCAÇÃO - SAÚDE - ASSISTÊNCIA SOCIAL - ECOLOGIA
INSTRUMENTOS
PROGRAMAS DE RH PLANOS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
- DOAÇÕES - PROGRAMAS DE VOLUNTARIADO - PARCERIAS - PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS
TIPO DE RETORNO
RETORNO DE PRODUTIVIDADE RETORNO PARA OS ACIONISTAS
RETORNO SOCIAL PROPRIAMENTE DITO RETORNO DE IMAGEM RETORNO PUBLICITÁRIO RETORNO PARA OS ACIONISTAS
Quadro 2 - Responsabilidade Social Interna e Extern a
Fonte: Melo Neto & Froes (1999, p. 89)
Essa distinção nas ações sociais internas ou externas
pode determinar o plano estratégico das organizações. O fato das entidades
estarem sempre interagindo no ambiente interno ou externo faz com que cada
vez mais elas passem a ser mais exigida pela Sociedade. Com isso a
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Responsabilidade Social pode ser um fator estratégico no sentido de
contribuir para a melhora nos relacionamentos internos e externos à entidade.
As entidades sejam elas jurídicas, físicas, públicas ou privadas que atuam com
Responsabilidade Social podem levar a sociedade para um desenvolvimento
econômico, político e social sustentável.
Para (KARKOTLI & ARAGÃO, 2004, p.46):
Como nos atos humanos, qualquer organização, independentemente de tamanho, setor, atividade ou lugar, tem liberdade para se instalar (viver), se desenvolver e prosperar. Porém, tem em contrapartida a obrigação de atuar como co-responsável pelo desenvolvimento e bem-estar dos agentes do seu entorno.
Conforme citado anteriormente, destaca-se o
compromisso tácito que toda organização assume desde a sua constituição,
pois se torna responsável não só pelo desenvolvimento de suas atividades,
mas com o desenvolvimento e sustentabilidade da Sociedade como um todo.
O termo Responsabilidade Social, mesmo conceituado,
da margem a várias interpretações. Para ASHLEY, 2002, a Responsabilidade
Social pode ser definida como sendo o compromisso que uma organização
deve ter para com a sociedade, isso evidenciado por seus atos e atitudes, a
organização assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em
lei, mesmo que não diretamente vinculadas a suas atividades, mas que
possam contribuir para o desenvolvimento sustentável dos povos. Em uma
visão mais ampla a Responsabilidade Social é toda e qualquer ação que possa
contribuir para a melhoria da qualidade de vida da Sociedade, onde essa passa
a ser mais consciente e conhecedora de seus direitos exigindo cada vez mais
das empresas uma postura ética.
Borger apud Koerich (2003) apresenta uma discussão
sobre a posição de Friedman, um economista crítico ao tema Responsabilidade
Social. Para Friedman, a Responsabilidade Social deve se limitar a elevação
dos lucros das empresas e a obediência as leis. Para ele, as entidades
empresariais já fazem sua parte ao gerar empregos, pagar tributos, pagar
salários justos a seus funcionários e melhorar as condições de trabalho.
A posição de Friedman se apresenta muito radical. É do
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entendimento de muitos segmentos da economia que as entidades devam
contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade. (KOERICH, 2003)
As empresas muitas vezes passam a preencher um vazio
deixado pelo Estado, que sozinho já não consegue resolver todos os
problemas tanto em ordem social quanto ambiental. Com esse entendimento
tanto as empresas como as pessoas físicas passam a refletir sobre o exercício
da cidadania.
Valorizar a co-responsabilidade dos cidadãos não significa eximir o Governo de suas responsabilidades. Significa isto sim, reconhecer que a parceria com a sociedade é que permite ampliar a mobilização de recursos para iniciativas de interesse público. No mundo contemporâneo, a democracia como exercício quotidiano não é mais possível sem a presença e ação fiscalizadora dos cidadãos. O papel de uma sociedade informada e atuante não é o de esperar tudo do Estado. (NOBRE, 2004. P.10) Entretanto, a Sociedade muitas vezes não consegue
distinguir as diferenças que existem entre a Responsabilidade Social e a
Filantropia. Pois, ao se falar em filantropia deve-se deixar bem claro que esta
prega apenas a doação de recursos materiais ou financeiros ao passo que a
Responsabilidade Social envolve um comportamento, um projeto a longo prazo
da empresa com os funcionários, com a comunidade e os demais públicos .
A Responsabilidade Social pode ser apresentada sob
quatro aspectos: econômico, legal, ética e filantrópica. Na primeira, a ênfase é
que as entidades são orientadas para produzir bens e serviços que a
sociedade deseja e para vender a um preço que produza lucro, que, para a
sociedade, represente o verdadeiro valor dos bens e serviços entregues e que
garanta a perpetuação dos negócios e investimentos na entidade. Na segunda,
a compreensão é que o sistema econômico permite que as empresas
assumam seu papel legal dentro da sociedade, e esta, por sua vez, espera que
as leis e o contrato social firmado sejam cumpridos. Na terceira, a
responsabilidade ética abrange todas as atividades que, de certa forma, são
permitidas ou proibidas pela sociedade. A responsabilidade ética na
organização são as normas e expectativas sobre o interesse de consumidores,
empregados, acionistas. Todas as decisões tomadas pela organização devem
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ter o foco voltado para esse público, dentro dos princípios da filosofia moral e
de justiça social. Por último, a entidade pode ser vista dentro do aspecto de
responsabilidade filantrópica, que são as decisões tomadas por parte dos
gestores no sentido de auxiliar no desenvolvimento social, apoiando projetos
comunitários e contribuindo para o andamento desses, o que nem sempre se
restringe a doação de recursos financeiros. E, permitir que seus funcionários
doem uma parte de seu tempo de trabalho a ações comunitárias, entre outros.
A Responsabilidade Social total da companhia é o somatório das quatro
responsabilidades abordadas. (CARROL, apud KOERICH, 2003)
1.3. Responsabilidade Social X Filantropia
Hermeneuticamente e sob a ótica da filosofia o vocábulo
filantropia traz como seu significado primeiro o amor aos semelhantes.
Melo apud Nobre (2004 p.07) além de destacar essa
interpretação filosófica exarada por Silveira Bueno a complementa com sua raiz
religiosa na qual, para o Apóstolo Paulo significava amor de Deus aos homens.
Atualmente a filantropia vem com contornos
contemporâneos, humanitários éticos e sociais.
Atualmente as empresas que desejarem alcançar sucesso
em seus empreendimentos devem ter uma visão não voltada apenas para a
obtenção de lucros, más desenvolvendo ações voltadas para o alcance do bem
estar do coletivo e do desenvolvimento social, tais ações são alcançadas por
meio da filantropia e da Responsabilidade Social.
De acordo (SANTOS, 2004, p.32):
A filantropia foi o passo inicial em direção à Responsabilidade Social, não sendo esta, portanto, sinônimo daquela, mas representando a sua evolução ao longo do tempo. As ações de filantropia, motivadas por razões humanitárias, são isoladas e reativas, enquanto o conceito de Responsabilidade Social possui uma amplitude muito maior.
Para (ASHLEY, 2002, p. 11):
A manifestação da Responsabilidade Social no âmbito da empresa também pode ser entendida como relacionada a um processo de evolução da atuação das empresas.
23
Depois de começarem com a filantropia pura e atribuírem a alguns setores – como o de Recursos Humanos – a responsabilidade pelo comportamento ético e social da companhia e seus funcionários, as empresas, então, passam a repensar sua função e seus procedimentos, implementando mudanças conceituais e agindo de forma socialmente responsável, seja sozinha ou em parceria com ONG´s ou governo.
A filantropia refere-se apenas a relação da organização
com a comunidade enquanto que a Responsabilidade Social tem um sentido
mais amplo, pois faz parte das ações estratégicas das empresas sendo
considerado um instrumento de gestão.
Ainda segundo (SANTOS, 2004, p.33):
As ações esporádicas, doações e outros gestos de caridade não vinculados à estratégia empresarial não podem ser considerados como atuação de Responsabilidade Social da organização. Grande parte das empresas que acredita estar sendo socialmente responsável pratica, na realidade, caridade e paternalismo, sejam por iniciativa de pessoas, de unidades corporativas ou de seus dirigentes.
Assim, a filantropia baseia-se em uma ação social externa
da empresa tendo como beneficiária principal a comunidade e suas diversas
formas (conselhos comunitários, organizações não-governamentais,
associações comunitárias, etc) e organizações. A Responsabilidade Social, por
sua vez, está ligada aos negócios da empresa e engloba preocupações com
um público maior (acionistas, funcionários, fornecedores, etc) Assim, a
Responsabilidade Social trata diretamente dos negócios da empresa e de
como ela os conduz. (Instituto ETHOS, 2008)
Pode-se então dizer que a filantropia está ligada a ações
sociais praticadas de forma isolada e de certa forma que trazem soluções
paliativas, enquanto que a Responsabilidade Social requer um
comprometimento maior das entidades com ações planejadas e que promovam
um desenvolvimento social envolvendo todos os seus colaboradores
Não só as organizações que visam lucro têm
comprometimento social, os demais seguimentos estão fortemente engajados
nessa missão. Nesse sentido, é comum a presença do terceiro setor em ações
sociais já que esse é composto por organizações sem fins lucrativos.
24
1.4. Terceiro Setor
O terceiro setor é composto de organizações sem fins
lucrativos criadas e mantidas pela sua característica na participação voluntária,
num âmbito não governamental.
O terceiro setor é uma expressão utilizada por muitos estudiosos para concentrar num só grupo todas as instituições ou organizações que possuem um conjunto determinado de características que as distingam do primeiro setor (Estado) e do segundo setor (mercado). Não surge para fazer oposição ao Estado ou ao mercado, mas, sim, para suprir a lacuna deixada por eles. Nasce imbuído do desejo de promover o bem estar social, de modo a propiciar o surgimento de uma sociedade justa e fraterna, firmando suas ações em atitudes de solidariedade. (LIMA, p. 119, 2002) Uma das competências do Estado é prover a implantação
de Direitos Sociais, promovendo serviços sociais que visem fornecer a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
que são direitos sociais constitucionais, previstos no artigo 6º da Constituição
Federal de 1988.
O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas
questões sociais. O segundo setor é o privado, responsável pelas questões
individuais. Com a falência do Estado, o setor privado começou a contribuir nas
questões sociais, através de inúmeras instituições que compõem o chamado
terceiro setor.
Diante de tamanha complexidade em implementar tais
políticas sociais, o governo muitas vezes não consegue atender tamanha
demanda da sociedade. Com isso a sociedade civil organizada vem
desenvolvendo várias ações no sentido de suprir tal deficiência.
Já à iniciativa privada cabe o papel de explorar as
atividades econômicas. Mesmo assim, mais da metade das empresas no Brasil
realiza algum trabalho social, em um investimento que chegou a R$ 4,7 bilhões
em 2000. (TACHIZAWA, 2004, p.08).
Neste contexto, as Organizações não Governamentais –
ONGs assumem um importante papel no desenvolvimento de projetos sociais
25
que visam atender, normalmente, a parcela da sociedade que não tem
acesso aos programas sociais desenvolvidos pelo Estado, e/ou pelo segundo
setor, ou o que estes não conseguem atender.
A definição de Terceiro Setor surgiu na primeira metade
do Século XX, nos Estados Unidos, sendo uma mistura dos dois setores
econômicos clássicos da Sociedade , o público e o privado. (MELO NETO &
FROES, 1999, p.5)
Para Passador (2002, p.4): O que diferencia o Terceiro
Setor dos outros é que ao contrário das organizações do setor privado, as do
Terceiro Setor não visam lucros e, diferente do setor público não são sujeitas
ao controle político direto.
São exemplos de organizações do Terceiro Setor: as
organizações voluntárias, sindicatos, igrejas, associações profissionais, ONG’s,
entre outras.
Conforme citado anteriormente, o Terceiro Setor surgiu
como uma resposta à falência do Estado em suprir as necessidades os
serviços sociais básicos, esta falência decorre do crescimento populacional e
das conseqüências do capitalismo que gera grandes problemas como a
desigualdade social, a má distribuição de renda, o desemprego, entre outros.
De acordo com o conceito utilizado pela ONU, Serviços Sociais Básicos são aqueles que englobam com saúde primária (controle de doenças transmissíveis, da AIDS, vigilância sanitária e epidemiológica), educação básica (ensino de 0 a 6 anos), educação fundamental, de jovens e adultos, ensino especial, nutrição, saneamento básico e abastecimento de água, sendo que não estão incluídas nesta listagem as despesas com Previdência Social. (MELO NETO.& FROES, 1999,p. 21)
De acordo com MELO NETO & FROES (p.21, 1999) a
ONU recomenda que cada país destine 20% do total de seus gastos públicos
nos serviços sociais básicos e que os organismos internacionais de fomento
apliquem igual parcela de recursos para apoiar tais atividades.
A sociedade civil vem assumindo uma clara posição ao enfrentar os problemas sociais ao invés de deixá-los para o Estado. Assim, impõe-se às empresas uma mudança no processo de condução desses assuntos, que assumem uma posição mais estratégica na medida em que afetam a imagem
26
corporativa. Vale lembrar que os brasileiros estão cada vez mais predispostos a punirem empresas que não sejam socialmente responsáveis. De acordo com (TREVISAN, 2002): Entretanto, discute-se muito o papel das organizações
como agentes sociais no desenvolvimento da Sociedade. Neste sentido é
necessário que as empresas não tenham um papel somente de produtoras de
bens ou serviços, agindo estritamente no rigor da lei, mas que também tenham
consciência de sua responsabilidade com o bem estar da sociedade em geral.
Atualmente existe uma maior participação das empresas
e entidades não governamentais no desenvolvimento social em decorrência
desta conscientização. Muitas delas já começam a desenvolver ou apoiar
projetos sociais demonstrando sua Responsabilidade Social. Estão investindo
em uma postura verdadeiramente ética e transparente que visa o resgate da
cidadania e o respeito ao meio ambiente do qual depende.
A postura ética devida pelas entidades não é categoria
estanque que passa a ser entendida de uma outra forma uma vez que a ela
estão ligadas todas as áreas de desenvolvimento econômico-social. Qualquer
ambiente que se estude a esse respeito terá como parâmetros e espectro a
ética, conforme esquematiza Koerich(2003,p.41).
27
Meio Ambiente
Direitos Humanos
Desenvolvimento Econômico -
Social
Saúde
Educação Esportes
Lazer
Trabalho
Figura 1 -
Fonte: Koerich, 2003.
A questão ética pode-se dizer, é abstrata, mas a sua
aplicação deve ser realista. Para se buscar o desenvolvimento econômico e
social da entidade, se a ética não se sobrepuser aos interesses individuais,
seja dos gestores, seja dos colaboradores. Toda essa interação deve
acontecer tanto nas empresas, nas entidades públicas, assim como nas
entidades do terceiro setor.
1.5. Organizações não Governamentais – ONGs
As ONGs são entidades de direito civil, sem fins lucrativos
que não possuem qualquer vínculo com o governo, sindicatos ou partidos
políticos. Elas trabalham em vários seguimentos da sociedade, desenvolvendo
atividades sociais , atuam no desenvolvimento de projetos que visam entre
outros objetivos a promoção da cidadania, defendendo o meio ambiente e os
28
direitos das minorias, combatendo a discriminação.
Sobrevivem graças às doações e ao trabalho voluntário
de seus colaboradores.Podem também receber ajuda e recursos de empresas ,
entidades privadas, governos e organismos internacionais.
O Estado começa a reconhecer que as Organizações Não-Governamentais acumularam um capital de recursos, experiências e conhecimentos sobre formas inovadoras de enfrentamento das questões sociais que as qualifica como interlocutoras e parceiras das políticas governamentais. O mercado, antes distante, para não dizer indiferente às questões de interesse público, começa a ser penetrado pela noção de Responsabilidade Social e passa a ver nas organizações sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento de setor privado empresarial nas áreas social, ambiental e cultural. (Nobre, 2004,p. 09)
A título de ilustração, e tendo em vista o objeto da
presente pesquisa, seguem alguns exemplos de Responsabilidade Social em
Entidades Públicas e afins:
a) ANDI- Agência de Notícias dos Direitos da Infância
A ANDI é uma associação civil de direito privado sem fins
lucrativos, cuja missão é contribuir para a construção, nos meios de
comunicação, de uma cultura que priorize a promoção e defesa dos direitos da
criança e do adolescente. A ANDI considera que a democratização do acesso
aos direitos sociais básicos à infância e à adolescência é condição fundamental
para a eqüidade social e para o desenvolvimento humano. Foi criada em 1993
pelos jornalistas Âmbar de Barros e Gilberto Dimenstein.
Três eixos estratégicos – Mobilização, Monitoramento e
Qualificação – orientam as diversas iniciativas desenvolvidas pela ANDI. Em
função disso, as tecnologias de informação vêm sendo adotadas pela
instituição, com vistas à organização da infra-estrutura, à formação de redes e
à gestão da informação em monitoramento e avaliação da mídia.
Como princípios norteadores de suas ações, a ANDI
(2008)
Acredita que a democratização e a qualidade da
informação são elementos essenciais na construção de consciências e de um
estado permanente de mobilização transformadora.
29
Compreende que deve favorecer novas abordagens em
benefício da promoção do desenvolvimento humano e social a partir da
mobilização em torno da defesa dos direitos da criança e do adolescente, com
foco extensivo às questões de gênero e etnia.
Reconhece ser fundamental a criação de uma cultura de
co-responsabilidade pela qualidade da informação pública como condição
estratégica para a inserção da criança e do adolescente como personagens
prioritários na agenda nacional de desenvolvimento humano e social.
Embasa suas posições e práticas na Convenção
Internacional dos Direitos da Infância e no Estatuto da Criança e do
Adolescente. (ANDI,2008)
b) Missão Criança
A Missão Criança é uma Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público (OSCIP), não-governamental e sem fins lucrativos, voltada
ao combate a todas as formas de pobreza e exclusão social, especialmente por
meio de investimentos na área de educação. Lutamos para que meninos e
meninas, hoje fora do sistema de ensino básico possam ter assegurado o
direito de freqüentar e permanecer na escola – e em escola de qualidade. Para
alcançar esse objetivo, utilizamos como instrumento os programas Bolsa-
Escola e Fundo Educação Poupança-Escola e colaboramos tecnicamente com
governos e entidades não-governamentais que queiram implantar projetos
similares de combate à pobreza. (Missão Criança, 2008)
c) ADCE- Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas
Após sua criação em Bruxelas, chegou ao Brasil em 1961,
implantando sua sede em São Paulo. Na sua carta de princípios do Dirigente
Cristão de Empresa, defende que: a empresa, como comunidade de pessoas e
de trabalho, é núcleo indivisível constituído de investidores, dirigentes e
trabalhadores, aos quais indiretamente se ligam os consumidores, e é base
insubstituível da vida socioeconômica de um país; propugna que a política
econômica tenha em conta os interesses de todos os membros da sociedade,
segundo os princípios da solidariedade cristã; promova a revalorização da
formação empresarial e o restabelecimento da imagem positiva do empresário.
A referida entidade contribui para a formação social dos empresários e
30
dirigentes de empresa, a fim de que estejam em posição de resolver, com
pleno sentido de Responsabilidade Social, os problemas inerentes às funções
que exercem; facilita o intercâmbio de experiências sobre realizações na
empresa; e impulsiona e ajuda os homens de empresa a atuarem individual e
coletivamente para que esta se transforme, com o fim de assumir melhor sua
função criativa a serviço do homem, numa sociedade em mudança. (FIDES,
2008)
d) IBASE- Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas
O IBASE tem como missão básica atuar de forma
estratégica para o desenvolvimento de uma sociedade sem exclusão social.
Criado em 1981, pelo sociólogo Herbert de Souza, “o Betinho”, tem como
principal ação a ética nos negócios e Responsabilidade Social, no sentido de
sensibilizar as empresas, governos e sociedade no enfrentamento da pobreza
e das desigualdades, por meio da transparência no orçamento público e no
Balanço Social das empresas. Dessa forma, busca tornar a Responsabilidade
Social um compromisso de toda a sociedade.
e) FIDES- Fundação Instituto de Desenvolvimento
Empresarial
A FIDES é uma entidade privada de caráter educativo e
cultural, sem fins lucrativos, que visa à humanização das empresas e à sua
integração com a sociedade, com base nos princípios éticos envolvidos nas
relações entre a empresa e seus diferentes públicos internos e externos.
Criada em 21 de novembro de 1986, essa fundação vem contribuindo para o
harmonioso desenvolvimento das empresas e da sociedade. São três as
grandes linhas de atuação dessa entidade: promover o diálogo social, formar
líderes empreendedores para o século XXI e promover a ética na atividade
empresarial, com congressos, simpósios e conferências. (FIDES, 2008)
f) ETHOS
O Instituto Ethos de Responsabilidade Social, outra
organização que atua no desenvolvimento da prática de Responsabilidade
Social e da publicação do Balanço Social, tem forte representatividade no meio
empresarial de nosso país.
31
Essas entidades não-governamentais existem para, de
alguma forma, suprir a falta de empenho dos governos, que não conseguem
atender a todo o anseio social, no sentido de desenvolver uma atitude de
Responsabilidade Social. Por outro lado, entende-se que também é papel dos
empresários e dirigentes de entidades públicas e privadas dar essa resposta à
sociedade, com atitudes de Responsabilidade Social, para que se possa ter um
mundo mais justo e humano. (ETHOS, 2008)
g) Fundação Banco do Brasil
No ano de 1995, o Banco do Brasil criou a Fundação
Banco do Brasil, voltada para apoiar projetos para o desenvolvimento social do
país. No ano de 2001, a Fundação passou por uma reformulação estratégica,
proporcionando um aprimoramento de articulação em suas ações sociais. Um
exemplo foi a criação do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologias
Sociais. Foram mobilizadas Organizações não Governamentais (ONGs),
universidades, governos estaduais, prefeituras, fundações e institutos em todo
o país, o que possibilitou criar um cadastro de soluções inovadoras para
problemas sociais em diversas áreas: o Banco de Tecnologias Sociais. Com
esse programa, a Fundação assumiu como diretriz a disseminação de
conhecimentos e experiências geradoras de transformação social positiva. No
campo da assistência social, surgiu uma nova iniciativa: o Programa Justiça
Itinerante, voltado à modernização do Poder Judiciário.
Nos anos seguintes, a Fundação continuou contribuindo
para a construção de uma nova realidade social no País. Foi um período de
rica experiência, em que as práticas desenvolvidas desde o início da sua
atuação puderam ter seus resultados avaliados,conforme demonstrado no
quadro a seguir.
32
Período Descrição das ações
1992-1995 iniciou-se um período de reorganização interna e mudanças no estatuto,
com o objetivo de acompanhar as necessidades da população de forma
mais atuante. Foram introduzidas a apresentação de planos anuais e
plurianuais, que pautam a ação por meio de diretrizes e políticas
previamente definidas para ampliar a função social do instituidor, o
Banco do Brasil.
Por solicitação do Banco, o planejamento da Fundação foi incorporado
ao da administração estratégica do Conglomerado e, em novembro de
1994, entrou em vigor o novo estatuto.
O ano de 1995 foi marcado pela implementação de mecanismos de
planejamento, que previam a aplicação de recursos financeiros em
programas previamente definidos, com acompanhamento e avaliação
dos resultados.
1996-1998 Este ano foi marcado pelo surgimento dos primeiros programas
idealizados e executados pela própria Fundação, dentro da nova
proposta de aplicação dos recursos. Foram instituídos o Programa
Homem do Campo e os chamados Projetos Especiais. A Fundação
Banco do Brasil também se tornou parceira da Federação das AABB
(FENABB) no Programa AABB Comunidade.
Em continuidade aos programas lançados no ano anterior, o Programa
Homem do Campo foi estendido a 60 municípios do Brasil e o AABB
Comunidade chegou a 130 Associações Atléticas Banco do Brasil,
beneficiando cerca de 20 mil crianças e jovens. A Fundação também
desenvolveu novas iniciativas: o Projeto Memória e o Programa Trabalho
e Cidadania. No total, foram apoiados 727 projetos de outras
organizações e investidos R$ 30,7 milhões.
Em 1998, foram investidos R$ 28 milhões em mais de 600 projetos. A
Fundação continuou ampliando sua área de atuação e criou o Projeto
Criança e Vida, para apoiar, promover, financiar e incentivar ações
voltadas ao atendimento a crianças e adolescentes com câncer.
1999 A Fundação Banco do Brasil aprimorou o uso de suas ferramentas de
ação. Foram investidos cerca de R$ 35 milhões, atendendo comunidades
de 266 municípios. Do ponto de vista institucional, a Fundação redefiniu
sua maneira de atuação, formou orientadores e determinou as diretrizes
33
Período Descrição das ações
para os próximos exercícios. O Programa Homem do Campo,
desenvolveu algumas ações dentro do formato em que foi criado, em
1996, mas foi decidido que este programa deveria ser repensado de
modo a promover uma transformação social mais abrangente nas
comunidades onde é aplicado.
2000 Neste ano, a partir de uma ampla discussão proposta na Oficina de
Reavaliação do Plano Estratégico de 2000 surgiram as Recomendações
Estratégicas, que consolidaram o perfil da Fundação como gestora de
programas estruturados. Foram aplicados, ao longo de 2000, R$ 25
milhões nos programas AABB Comunidade, BB Educar, Criança e Vida,
Memória, Trabalho e Cidadania e Escola Campeã.
2001 Marcou uma profunda transformação no posicionamento estratégico da
Fundação. A entidade aprimorou seu potencial de articuladora social,
capaz de aproximar as soluções dos problemas. Através do Prêmio
Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, foram mobilizados
ONG, universidades, governos estaduais, prefeituras, fundações e
institutos de todo o País, o que possibilitou criar um cadastro de soluções
inovadoras para problemas sociais em áreas diversificadas: o Banco de
Tecnologias Sociais. �Com este novo Programa, a Fundação assumiu
como diretriz a disseminação de conhecimento e experiências geradoras
de transformação social positiva. No campo da assistência social, surgiu
uma nova iniciativa: o Programa Justiça Itinerante, voltado à
modernização do poder judiciário.
2003-2006 Neste ano, a Fundação elaborou o seu planejamento estratégico para o
período 2004/2006, que estabeleceu as áreas "Educação e Cultura" e
"Geração de Trabalho e Renda" como prioritárias em sinergia com a
reaplicação de Tecnologias Sociais. Programas atuais foram revistos e
também foi realizado um primeiro levantamento de novos programas,
alcançando investimentos sociais anuais na ordem de mais de R$ 100
milhões.
Fonte: Site Banco do Brasil – 2008.
34
h) Eletrobrás
A Eletrobrás recebeu, em 2002, o Certificado Empresa
Cidadã, concedido pelo Jornal Monitor Mercantil, por apoiar as ações sociais
da empresa, que são desenvolvidas pelo Comitê dos Empregados da
Eletrobrás na Ação da Cidadania (CEEL) que tem por objetivo angariar e
destinar recursos financeiros dos empregados da Eletrobrás para o
desenvolvimento da cidadania e o combate à pobreza. O CEEL surgiu em 1993
e tem alguns projetos já implantados, como o Projeto Alimentação, que visa
distribuir cestas básicas a instituições beneficentes cadastradas. Em 2002,
esse projeto distribuiu 7.540 quilos de alimentos; o Projeto Saúde, que
promove a doação de medicamentos para o Programa de Medicina Integral do
Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, o qual segue o modelo
de medicina familiar; e ainda vários projetos na área de Educação e
Capacitação de menores carentes. (ELETROBRAS, 2008)
Pelo visto nos exemplos ilustrativos retro mencionados,
ao assumir um comportamento ético e socialmente responsável, as empresas,
ONGs ou qualquer organização, adquirem o respeito das pessoas fazendo com
que comunidades sejam contempladas com seus projetos, fazendo um ciclo
onde os consumidores prefiram seus produtos. As empresas estão vivendo
momentos difíceis para aumentar a participação de seus produtos no mercado.
Os clientes estão cada vez mais exigentes e a causa social vem sendo um
diferencial, pois torna real a participação e o sentimento de auto-realização na
compra do produto.(KOERICH, 2003)
O peso das ações realizadas pelas empresas os seus
valores e a sua identidade será de grande influência para a formação de sua
imagem, pois, o público primeiramente investiga uma série de referências para
verificar se uma determinada idéia merece a sua aceitação e seu interesse.
O Marketing Social representa uma oportunidade
importante para as marcas passarem a um patamar superior, é uma forma
efetiva de diferenciar produtos e melhorar a imagem corporativa
(GOLDSCHMIDT, 2008).
Os gestores estão utilizando-se da Responsabilidade
Social como estratégias voltadas para o sucesso, vinculando a imagem da
35
empresa em projetos sociais como ferramenta alternativa a fim de estimular
vendas e valorizar a imagem institucional.
Numa visão global, é desejável que a prática do
socialmente responsável por uma empresa esteja inserida em sua filosofia, nas
suas perspectivas e em seus objetivos empresariais.
Para viabilizar esta estratégia as empresas firmam
acordos com entidades sem fins lucrativos, que executam as ações propostas
e, em seguida convidam os consumidores a colaborarem com a causa e
consumam os produtos daquela marca.
A Responsabilidade Social é um tema transcendental que
une diferentes correntes em torno de uma única questão: a postura empresarial
e as causas sociais.
1.6. Divulgação das ações sociais
No momento em que a sociedade começa a cobrar das
organizações questões sociais como emprego, escolaridade, condições de
segurança no trabalho, formação profissional, entre outros estas se tornaram
alvo de atenções, com isso começou a ser discutida a publicação de uma
demonstração que fornecesse e representasse, de maneira clara e objetiva, as
influências das entidades inerentes a aspectos sociais. E foi, então, diante
dessas necessidades, que surgiu o Balanço Social. Este, deve tornar pública a
Responsabilidade Social da entidade. Deve conter informações que
demonstrem para a sociedade que a organização não se preocupa apenas
com fatos econômicos, mas também com a qualidade de vida da população
que a cerca.
Enquanto as empresas publicam divulgam informações
econômico-financeiras, o Balanço Social divulga as informações que podem
afetar a sociedade e o meio ambiente. O fato de evidenciar informações
qualitativas e quantitativas faz com que venha a completar as demais
informações, que expressam apenas dados quantitativos.
Para De Luca (1998, p. 23), o Balanço Social:
é um instrumento de medida que permite verificar a situação de uma empresa no campo social, registrar as realizações
36
efetuadas neste campo e, principalmente, avaliar as relações ocorridas entre o resultado da empresa e a sociedade.
Segundo Perottoni e Cunha (1997, p. 14), o Balanço Social:
[...] é um conjunto de informações econômicas e sociais, que tem por objetivo a divulgação sobre o desempenho econômico e financeiro das empresas e sua atuação em benefício da sociedade.
Tinoco (1984, p. 33) apresenta uma definição mais ampla:
“O Balanço Social é uma necessidade de gestão e resposta a uma demanda
de informações [...]”, com dois objetivos básicos: num plano geral, fornece um
quadro de indicadores a um grupo social que, após ter sido apenas um simples
fator de produção, encontra-se promovido como parceiro dos dirigentes da
empresa; e, no plano de funcionamento da empresa, serve de instrumento de
pilotagem no mesmo título que os relatórios financeiros. Os trabalhadores
encontram-se assim associados à elaboração e à execução de uma política
que os liga ao principal dirigente.
Diante dos conceitos apresentados, infere-se que o
Balanço Social se apresenta como um importante relatório das ações sociais
de uma organização, seja ela pública ou privada. O apoio a projetos sociais via
incentivos podem ser divulgados para que a sociedade na qual a entidade está
inserida possa conhecer e reconhecer o nível de comprometimento social.
Empresas que assumem uma postura mais voltada para o
social, podem ter nos tributos fonte de renda para apoiar tais projetos. Nesse
sentido os tributos podem passar de “vilões” a aliados na busca de recursos
para financiamento de atividades sociais para a sociedade.
2. OS TRIBUTOS NO BRASIL
2.1. Esboço histórico-conceitual
Pode-se inferir que desde que a Sociedade se constituiu
com o pacto social, de forma organizada por meio dos governos, os tributos
fazem parte do cotidiano da coletividade, uma vez que o Estado necessita de
renda para manter as atividades operacionais e cumprir seu objetivo social.
A palavra tributo tem sua origem no latim, derivando do
verbo tributo, “ere”, que significa “dar, conceder, fazer elogios, presentear”. Na
Roma antiga, o termo referia-se, inicialmente às exigências em bens ou
serviços que os vencedores das batalhas faziam aos vencidos, como uma
espécie de prêmio. (AMED & NEGREIROS, 2000)
Por muito tempo, a arrecadação dos tributos foi justificada
pelo caráter divino do governante ou pela proteção que o soberano dava aos
seus súditos em caso de conflito com os outros povos. Parte das riquezas
produzidas pela população era transferida de forma legitimada para um
soberano ou agente público da época por meio da tributação.
Os tributos eram chamados ora de taxas, ora de
impostos, podiam ser pagos em espécie, por meio de produtos da lavoura,
animais, vinho ou azeite, cobre ou em serviços ou mesmo em moedas. (AMED
& NEGREIROS, 2000)
O fato é que a tributação, em modelos próximos ao que aplicamos hoje, só pode ser compreendida dentro de uma estrutura de poder coercitivo. Assim , quando das comunidades primitivas , ou seja, antes do aparecimento das Cidades–Estados, não havia a necessidade de tributação, pois não havia a concepção de propriedade privada, sendo que os bens eram praticamente coletivos e a riqueza advinda do trabalho, ao utilizar a natureza era dos trabalhadores, sem qualquer forma de expropriação. A possível igualdade de bens entre as pessoas impedia entre outros efeitos que umas mandassem nas outras. Exatamente para se evitar a divisão entre governados e governantes, para que houvesse a criação de
38
uma instituição que separasse os homens, diferenciando-os quanto aos poderes políticos e econômico. Nessa comunidade primitiva não havia espaço para os tributos. (Amed & Negreiros, 2000, pág. 21)
O tributo das Sociedades antigas que mais raízes deixou
foi o dízimo em razão da forte influência religiosa do mundo antigo. Com o
dízimo tratava-se de “ofertar” a décima parte dos bens da terra para o culto da
divindade, esta representada na pessoa do sacerdote ou ao príncipe
dependendo a cultura do povo e da união do Estado com a religião.
O termo é mencionado em várias passagens bíblicas. O
fato é que desde as sociedades antigas até os dias de hoje muitas mudanças
foram observadas em relação à forma de tributação.
Assim o simples fato da existência de uma coletividade
requer o recolhimento de tributos essenciais para manter a organização estatal
e para que o poder público consiga fazer um planejamento de suas atividades,
garantir a vida em comunidade e fazer jus aos seus deveres, conforme a
legislação de cada pais .
2.2. Tributos do Brasil Colonial (1500-1822)
No ordenamento jurídico pátrio a tributação tal qual as
demais normatizações jurídicas tem sua origem no ordenamento lusitano.
À falta de um sistema jurídico positivado e diante da
condição de “Colônia” Portuguesa as determinações vinham diretamente da
Coroa portuguesa.
A tributação no Brasil se deu com a primeira forma de
exploração econômica no país, logo após a chegada dos portugueses a então
Terra de Santa Cruz. Em troca do direito de retirar e comercializar o que tinha
de mais precioso na época, o “pau-brasil”, o interessado nesse produto deveria
pagar a quinta parte do produto da venda da mercadoria, além de erguer as
primeiras fortificações ao longo da costa brasileira e iniciar a colonização. Essa
transação recebeu o nome de quinto. O tributo era pago, na maioria das vezes,
em espécie e devido ao rei de Portugal, que era considerado o proprietário do
39
reino.
Para prosseguir com o processo de colonização, Portugal
recorreu ao sistema de Capitanias hereditárias. Esse sistema já havia sido
empregado com êxito em suas possessões nos Açores, Madeira e Cabo Verde.
Ele se baseava na doação de um extenso lote de terra a uma pessoa ilustre e
influente do reino, geralmente um nobre rico, que passava a ser o donatário e
ficava encarregado de empreender a colonização da terra recebida, investindo
nela seus próprios recursos. (CHRISTOVÃO & WATANABE, 2002)
Os donatários recebiam as terras não como proprietários,
mas como administradores. Ainda assim, possuíam muitos direitos sobre elas,
de modo que tornassem o empreendimento favorável e atrativo aos interesses
dos donatários. Podiam escravizar índios e vendê-los, fundar povoações,
conceder sesmarias, estabelecer e extrair uma parte dos impostos e tributos
sobre produtos e mercadorias produzidos para o consumo interno ou aqueles
destinados à exportação. Tinham também poder para julgar e condenar
escravos e homens livres que estivessem nos limites de sua capitania.
As Capitanias hereditárias foram criadas entre 1534 e 1536, a partir da divisão
do litoral brasileiro em extensas faixas de terra que iam da costa para o Oeste,
até o meridiano traçado por Tordesilhas. Ao todo foram constituídas 14
Capitanias que foram doadas a 12 donatários. (CHRISTOVÃO &
WATANABE,2002)
Ainda no século XVI, a produção do açúcar não refinado
foi à atividade escolhida para dar início à colonização. (AMED & NEGREIROS,
2000)
Por vários motivos, principalmente no que se refere ao temor de perder a posse dos seus domínios na América, a Coroa portuguesa opta por iniciar a colonização do Brasil, processo que supunha o povoamento dessas terras. O governo português tinha clareza de que o Brasil só se tornaria viável com uma atividade econômica que possibilitasse uma renda para os que para cá viessem e para a Coroa. Se na América espanhola essa atividade rendosa foi a mineração, coube aos domínios portugueses no Continente a produção de açúcar não refinado. (AMED & NEGREIROS,2000, p. 25)
A preocupação com a ineficiência na arrecadação foi um
40
motivo marcante na decisão de centralizar a administração na colônia , com
a criação do governo-geral. Funcionários da Coroa portuguesa responsáveis
pela fiscalização passaram a ter poderes quase ilimitados, arrecadando
impostos e julgando discussões tributárias. (AMED & NEGREIROS, 2000)
Entretanto, ao contrário do que ocorreu nos Açores,
Madeira e Cabo Verde, as Capitanias hereditárias no Brasil não alcançaram os
resultados esperados. Foram muitas as razões do fracasso. Entre elas, podem
ser considerados a falta de terras férteis, os conflitos com os povos indígenas,
que ofereceram enorme resistência diante das invasões de suas terras e das
tentativas de escravização, e a má administração. Sem falar no problema da
necessidade de recursos em maior escala, devido à enorme distância que
separava a Metrópole, ou seja, Portugal, das terras brasileiras.
As Capitanias que prosperaram foram justamente aquelas em que os
donatários possuíam grande fortuna ou acesso ao crédito bancário europeu,
como Martim Afonso, com a capitania de São Vicente; e Duarte Coelho, com a
capitania de Pernambuco. (BORDIN, 2002)
Tendo fracassado o sistema de Capitanias, Portugal
recorreu à centralização do poder, estabelecendo na colônia um governo-geral.
O governo-geral, porém, não se destinava a substituir as Capitanias
hereditárias. Seu principal objetivo foi o de estabelecer uma autoridade central
no território colonial, a fim de coordenar a administração das capitanias que
estavam funcionando de forma autônoma, quase sempre contrariando os
interesses da Coroa portuguesa.
Os governos-gerais asseguraram à ocupação e
povoamento das terras brasileiras estimulando a criação das primeiras cidades,
o estabelecimento de instituições religiosas, à criação dos primeiros colégios e
o incremento das atividades econômicas.
O estabelecimento do governo-geral em território
brasileiro permitiu criar as condições mínimas necessárias para levar adiante o
empreendimento colonial que, nos séculos seguintes, iria gerar importantes
transformações políticas, sociais e econômicas na colônia.
Com a obrigação de ocupar o solo, fundar povoados e
com poderes para legislar, executar e julgar, o donatário da capitania era
41
também uma espécie de agente fiscal que deveria dar conta da arrecadação
de tributos ao rei de Portugal. Além da tributação sobre o pau-brasil, surgiram
novas cobranças, como os 10% exigidos, sobre as mercadorias importadas e
exportadas, o quinto dos metais e das pedras preciosas e a décima parte do
produto da pesca e das colheitas, entre outros. (AMED & NEGREIROS, 2000)
Tributos do Brasil Imperial
Em 24 de janeiro de 1808, a família real se instala no
Brasil , no mesmo ano o Príncipe D. João VI promulgou a Carta Régia, que
possibilitava entre outras coisas : a) liberalização do comércio/ exportação no
Brasil e abertura dos portos às “nações amigas”, com a comercialização de
todo tipo de mercadoria estrangeira e a criação do Tesouro Nacional, substituto
das Juntas da Fazenda; b) surgimento da Imprensa Nacional; c) criação do
Banco do Brasil, que passou a emitir moedas em prata e cobre sendo
suspensa a utilização do ouro em pó; d) revogação das leis que proibiam
qualquer atividade industrial no Brasil e isenção tributária para a matéria
importada para a indústria. (NASCIMENTO, 1984).
Os tributos nessa época eram instituídos baseados
apenas nas necessidades de caixa no momento, e além de incomuns, eram
desprovidos de objetividade e racionalidade, tendo em vista que visavam
unicamente o aumento da arrecadação, para que fosse possível o custeio das
despesas reais, não revertendo em qualquer proveito para o povo, desse modo
não havia qualquer preocupação com a justiça fiscal.
Surge a primeira modalidade de imposto predial, cobrada
em 10% sobre o valor locativo dos imóveis. Em 1809 foi criada também a
tributação de 10% das heranças e legados, e transferência de escravos. São
cobrados os primeiros impostos sobre o consumo, os primeiros produtos são o
gado e a aguardente. Os portos brasileiros seguiam a regra de que toda
mercadoria importada estaria sujeita a cobrança de direitos alfandegários de
24%, sem a distinção da origem dos produtos, nacionais ou estrangeiros.
(BALTHAZAR, 2005).
42
2.3. Tributos do Brasil Republicano
Um dos elementos que estiveram presentes na transição
para a República foi à abolição da escravidão que se deu com a edição do
Decreto de 13 de maio de 1888, o qual promoveu a libertação dos escravos,
levando o país ao regime republicano, em 15 de novembro de 1889, tal fato
abalou e muito a monarquia.
Em conseqüência de tal fato, surge à classe média
urbana, a Guerra do Paraguai e a assimilação da filosofia positivista por parte
do exército, foi nesse período em que ocorre o rompimento das relações entre
a Igreja e o Estado.
Com a Constituição de 1891 em seu art. 7 cabia a
competência da União os impostos sobre importação, saída, entrada e estadia
de navios , taxas de selo, correios e telégrafos federais e outros que não
contrariassem a discriminação de rendas privativas. Também fazia parte da
receita tributária federal :
Impostos sobre importação de procedência estrangeira;
Direitos de entrada, saída e estada de navios, sendo livre
o comércio de cabotagem às mercadorias nacionais, bem como as
estrangeiras que já tivessem pagado o imposto de importação;
Taxas de selo, correios e telégrafos federais.
(BALTHAZAR, 2005)
Como já mencionado anteriormente a missão do Estado é
servir a sociedade. É do senso comum que para atingir tal missão é necessário
recursos financeiros, os tributos.
Um dos mais antigos tributos no Brasil é o Imposto sobre
a Renda, foi estabelecido em 1922 e revisto em 1923. (CHRISTOVÃO &
WATANABE, 2002). O governo buscando ter maior eficiência na cobrança de
tributos vem ao longo da história aprimorando as leis que tratam do assunto.
Atualmente as empresas devem estar atentas às diversas formas de tributação,
buscando na gestão tributária a forma mais vantajosa e ainda a que possibilite
a inserção do conceito de Responsabilidade Social por meio dos incentivos
fiscais permitidos pela legislação tributária.
43
2.4. Formas de Tributação
O Código Tributário Nacional (Lei n 5.172, de 25 de
outubro de 1966) em seu art art. 3º define tributo como sendo toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que
não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada.
Os tributos que compõem o sistema tributário são :
Impostos – conforme preceitua o art. 16 do CTN é o
tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de
qualquer atividade.
Taxas – conforme define o art 77 do CTN são tributos cujo
fato gerador é configurado por uma atuação estatal específica, referível ao
contribuinte, para financiar a despesa pública, ou seja, serviços públicos
solicitados pelo cidadão.
Contribuição de melhoria – definido nos arts. 81 e 82 do
CTN, é o tributo que tem como fato gerador a valorização imobiliária vinculada
de obra pública.
No que se refere a competência da União Estados e
Municípios em instituir os tributos prevê a Constituição Federal em seu art 145.
Atualmente no Brasil as modalidades tributárias são:
Lucro Presumido, Lucro Arbitrado, SIMPLES e Lucro Real, sendo este último a
única forma que permite os benefícios fiscais para as empresas, somente
sobre ele irá se fazer os comentários. A modalidade tributária pelo Lucro Real é
aquela onde a empresa sabe realmente o quanto foi obtido de lucro ou prejuízo
durante o período.
O Lucro Real pode ser apurado trimestralmente ou
anualmente, se a empresa optar na apuração trimestral, a apuração será
encerrada em 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro, o
imposto apurado deve ser pago em quota única, até o último dia útil do mês
subseqüente ao do encerramento do trimestre da sua apuração, ou, em até
três quotas iguais, mensais e sucessivas.
44
“Lucro Real é o lucro do período apurado na
escrituração comercial, denominado lucro contábil, ajustado pelas adições,
exclusões e compensações autorizadas pela legislação do Imposto de Renda”
(OLIVEIRA, 2003, p.174).
Serão adicionados ao lucro líquido (RIR/1999, art. 249):
a) Os custos, despesas, encargos, perdas, provisões, participações e quaisquer outros valores deduzidos na apuração do lucro líquido que, de acordo com a legislação tributária, não sejam dedutíveis na determinação do lucro real (exemplo: resultados negativos de equivalência patrimonial, custos e despesas não dedutíveis); b) Os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores não incluídos na apuração do lucro líquido que, de acordo com a legislação tributária, devam ser computados na determinação do lucro real (exemplo: ajustes decorrentes da aplicação dos métodos dos preços de transferência, lucros auferidos por controladas e coligadas domiciliadas no exterior). Poderão ser excluídos do lucro líquido (RIR/1999, art.
250):
a) Os valores cuja dedução seja autorizada pela legislação tributária e que não tenham sido computados na apuração do lucro líquido do período de apuração (exemplo: depreciação acelerada incentivada); b) Os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores incluídos na apuração do lucro líquido que, de acordo com a legislação tributária, não sejam computados no lucro real (exemplo: resultados positivos de equivalência patrimonial, dividendos). Estão obrigadas à apuração do Lucro Real as pessoas
jurídicas (art. 221 e 246 do RIR/1999 e art. 46 da Lei nº. 10.637/2002):
a) Cuja receita total, no ano calendário anterior, seja superior ao limite de R$ 24.000.000,00 (vinte e quatro milhões de reais), ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a doze meses. A partir de 01/01/2003, a pessoa jurídica cuja receita bruta total, no ano-calendário anterior, tenha sido igual ou inferior a R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais) ou a R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) multiplicado pelo número de meses de atividade do ano-calendário anterior, quando inferior a 12(doze) meses, poderá optar pelo regime de tributação com base no lucro presumido.
b) Cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de
45
investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidora de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta,
c) Que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capitais oriundos do exterior,
d) Que autorizadas pela legislação tributária, usufruam benefícios fiscais relativos a isenção ou redução do imposto,
e) Que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring),
f) Que optarem pelo pagamento mensal do imposto por estimativa.
A pessoa jurídica pagará o imposto à alíquota de 15%
(quinze por cento) sobre o lucro real e a parcela que exceder ao valor
resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de
meses do respectivo período de apuração, sujeita-se à incidência de adicional
de imposto à alíquota de 10% (dez por cento) IOB – Boletim 2004.
O Lalur (Livro de Apuração do Lucro Real) é um livro de
escrituração de natureza eminentemente fiscal, criado pelo Decreto-lei nº.
1.598, de 1977, em obediência ao § 2º do art. 177 da Lei nº. 6.404, de 1976, e
destinado à apuração extra contábil do lucro real sujeito à tributação para o
imposto de renda de cada período de apuração, contendo, ainda, elementos
que poderão afetar o resultado de períodos de apuração futuros (RIR/1999, art.
262).
Estão obrigadas à escrituração do Lalur todas as pessoas
jurídicas contribuintes do Imposto de Renda com base no lucro real, inclusive
(IN SRF nº. 28/78):
a) As filiais, as sucursais ou as representações, no País, de pessoas jurídicas domiciliadas no exterior;
b) As firmas individuais;
46
c) As pessoas físicas equiparadas a empresas individuais por promoverem a incorporação de prédios em condomínios ou o loteamento de terrenos;
d) As sociedades cooperativas que praticarem operações cujos resultados fiquem sujeitos ao Imposto de Renda.
No Guia IOB – Boletim 2004: O Lalur é composto por
folhas numeradas tipograficamente, onde constam duas partes, com igual
quantidade de folhas cada uma, reunidas em um só volume encadernado da
seguinte maneira:
a) Parte A: destinada aos lançamentos de ajuste do lucro líquido do período (adições, exclusões e compensações), tendo como fecho a transcrição da demonstração do lucro real
b) Parte B: destinada exclusivamente ao controle dos valores que não constem da escrituração comercial, mas que devam influenciar a determinação do lucro real de períodos futuros.
O Lalur é destinado a registrar valores que, por sua
natureza eminentemente fiscal, não devam constar da escrituração comercial.
Assim, não pode ser utilizado para suprir deficiências da escrituração comercial
(registrar despesas não constantes da escrituração comercial ou
insuficientemente registradas) PN CST nº. 96, de 1978; e PN CST nº. 11, de
1979.
Segundo o guia IOB – Boletim 2004 a escrituração do
Lalur dar-se-à da seguinte maneira:
Na parte A, a escrituração será em ordem cronológica, folha após folha, sem intervalos nem entrelinhas, encerrada período a período, com a transcrição da demonstração do lucro real. A escrituração de cada período se completa com a assinatura do responsável pela pessoa jurídica e de contabilista legalmente habilitado.
Na parte B, utilizando uma folha para cada conta ou fato que requeira controle individualizado.
Completada a utilização das páginas destinadas a uma
das partes do livro, a outra parte será encerada mediante cancelamento das
páginas não utilizadas, prosseguindo a escrituração, integralmente, em livro
subseqüente.
47
Conforme o IN SRF nº. 28, de 1978, deverá constar na
parte A do Lalur:
1. Os lançamentos de ajuste do lucro líquido do período, que serão feitos com individualização e clareza, indicando, quando for o caso, a conta ou subconta em que os valores tenham sido registrados na escrituração comercial (assim como o livro e a data em que foram efetuados os respectivos lançamentos), ou os valores sobre os quais a adição ou a exclusão foi calculada, quando se tratar de ajuste que não tenha registro correspondente na escrituração comercial;
Nota: o lançamento feito indevidamente será estornado
mediante lançamento subtrativo na própria coluna em que foi lançado, com o
valor indicado entre parênteses, de tal forma que a soma das colunas Adições
e Exclusões coincida com o total registrado nos itens de Adições e Exclusões +
Compensações da demonstração do lucro real.
2. Após o último lançamento de ajuste do lucro líquido do período, necessariamente na data de encerramento deste (seja trimestral ou anual), será transcrita a demonstração do lucro real, que deverá conter:
a) O lucro ou prejuízo líquido constante da escrituração comercial, apurado no período de incidência;
b) As adições ao lucro líquido, discriminadas item por item, agrupados os valores de acordo com sua natureza, e a soma das adições;
c) As exclusões do lucro líquido, discriminadas item por item, agrupados os valores de acordo com sua natureza, e a soma das exclusões;
d) Subtotal, obtido pela soma algébrica do lucro ou prejuízo líquido do período com as adições e exclusões;
e) As compensações que estejam sendo efetivadas no período e cuja soma não poderá exceder a 30% (trinta por cento) do valor positivo do item 2.d;
f) O lucro real do período ou o prejuízo do período a compensar em períodos subseqüentes.
Na parte B serão mantidos os registros de controle de
valores que, pela sua característica, integrarão a tributação de períodos
subseqüentes, quer como adição, quer como exclusão ou compensação. Como
exemplos podemos citar:
48
a) Adições: receitas de variações cambiais diferidas até o momento de sua realização, ressaltando-se que as receitas de variações cambiais apropriadas na contabilidade pelo regime de competência são inicialmente excluídas no Lalur e, quando realizadas, são adicionadas; receitas de deságios de investimentos avaliados por equivalência patrimonial diferidos até a realização daqueles investimentos: valores relativos à depreciação acelerada incentivada; lucro inflacionário apurado até 31/12/1995;
b) Exclusões: custos ou despesas não dedutíveis no período de apuração em decorrência de disposições legais ou contratuais; despesas de variações cambiais diferidas até o momento de sua realização; despesas de ágios amortizados de investimentos avaliados por equivalência patrimonial diferidos até a realização daqueles investimentos;
c) Compensações: prejuízo fiscal de períodos de apuração anteriores, sejam operacionais ou não operacionais, de períodos anuais, ou trimestrais segundo o regime de apuração.
Embora não constituam valores a serem excluídos do
lucro líquido, mas dedutíveis do imposto devido, deverão ser mantidos
controles dos valores excedentes, a serem utilizados no cálculo das deduções
nos anos subseqüentes, dos incentivos fiscais com programas de alimentação
do trabalhador (RIR/1999, art. 582; e IN SRF nº. 28, de 1978).
O Lalur deverá ser escriturado nas datas em que a
legislação determina a apuração do lucro real, a saber (arts. 220,221,230 e 235
do RIR/99 e art. 13 da IN SRF nº. 93/97):
1. Nas pessoas jurídicas submetidas à apuração trimestral do lucro real: em 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário;
2. Nas pessoas jurídicas submetidas à apuração anual do lucro real (optantes pelo pagamento mensal do imposto por estimativa):
a) Em 31 de dezembro
b) Por ocasião do levantamento de balanços ou balancetes de suspensão ou redução do pagamento mensal do Imposto de Renda, se a pessoa jurídica se utilizar dessa faculdade.
Qualquer que seja a periodicidade adotada na apuração
do lucro real (trimestral ou anual) haverá a necessidade de escriturar o Lalur na
data em que ocorrer extinção, incorporação, fusão ou cisão da pessoa jurídica.
49
No próximo capítulo serão abordados os benefícios
fiscais previstos na legislação tributária que podem possibilitar uma melhor
distribuição destes recursos a projetos sociais e conseqüentemente a execução
de políticas de Responsabilidade Social por parte das empresas.
3. BENEFÍCIOS FISCAIS
Os Benefícios Fiscais são incentivos dados pelo Governo
às empresas, por contribuírem com atividades de caráter social, voltadas para
o desenvolvimento social e econômico do País.
Estes benefícios são concedidos, dentre outros, por meio
da destinação de parcela do Imposto de Renda, sempre observando o disposto
nas Leis que regulamentam cada incentivo, entre eles cita-se: incentivo ao
desporto, incentivo a cultura e o incentivo ao Fundo da Infância e Adolescência
- FIA.
Apesar de estes benefícios existirem, poucas empresas
fazem uso destes benefícios concedido pelo Governo Federal. Existem vários
fatores que contribuem para esta situação, entre eles, a própria falta de
conhecimento dos contribuintes, contabilistas, dos advogados, dos
empregadores e administradores, sobre como e quando usá-los.
Todas as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro
real podem optar pela aplicação do Imposto de Renda em incentivos fiscais,
exceto aquelas expressamente vedadas pela legislação fiscal.
Conforme o art. 614 do RIR/99 não podem se beneficiar
da dedução dos incentivos:
I- as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro presumido (art. 516) (Lei nº 9.532, de 1997, art. 11);
II- as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro arbitrado (art. 529) (Lei nº 9.532, de 1997, art. 11);
III- as empresas instaladas em Zona de Processamento de Exportação - ZPE (art. 400) (Decreto-Lei nº 2.452, de 1988, art. 18);
IV- as microempresas - ME e empresas de pequeno porte - EPP, optantes pelo SIMPLES (art. 185) (Lei nº 9.317, de 1996, art. 5º, § 5º);
V - as empresas referidas no § 2º do art. 541, relativamente à parcela do lucro inflacionário tributada à alíquota de seis por cento;
VI - as pessoas jurídicas com registro no Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público federal -
51
CADIN (Medida Provisória nº 1.770-46, de 11 de março de 1999, arts. 6º, inciso II, e 7º).
Parágrafo único. A concessão ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, fica condicionada à comprovação pelo contribuinte da quitação de tributos e contribuições federais (Lei nº 9.069, de 1995, art. 60).
A tomada de consciência frente aos desafios na
construção de mecanismos que assegurem a aplicação de recursos em prol da
Sociedade, na forma de apoio a projetos sociais, vem desenvolvendo no
terceiro setor criatividade para buscar os recursos que vem sendo
disponibilizados pelas empresas por meio da destinação dos mesmos, via
incentivos fiscais.
Além das empresas terem a possibilidade de deduzir seus
impostos por meio dos benefícios fiscais fazendo suas doações a projetos
sociais, se estas assim o fizerem por meio de patrocínio, poderão
conseqüentemente estar fazendo seu marketing social, por meio da utilização
da marca da empresa.
O Marketing Social pode ser considerado como uma
estratégia de divulgação utilizada pelas organizações para promoverem de
forma clara e transparente informações de interesse da sociedade que
demonstram o seu nível de comprometimento social, ambiental e cultural.
Um aspecto que deve ser considerado na utilização do
marketing social é o aspecto ético, pois atualmente a sociedade vem exigindo
cada vez mais que as empresas se responsabilizem pelos impactos socio-
ambientais decorrentes de sua atividade econômica, neste sentido o uso da
ética corporativa permeando o marketing social não deve ser ignorado por
parte das organizações.
Segundo Kotler & Roberto (1992), “marketing social é
uma estratégia de mudança do comportamento. Ele combina os melhores
elementos das abordagens tradicionais da mudança social num esquema
integrado de planejamento e ação e aproveita os avanços na tecnologia das
comunicações e na capacidade de marketing”.
52
Segundo Kotler & Roberto apud Corrêa, o termo
“marketing social” passou a significar uma tecnologia de administração da
mudança social, associada ao projeto, à implantação e ao controle de
programas voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma idéia
ou prática social em um ou mais grupos de adotantes escolhidos como alvo.
Segundo Mendonça (2002): no Brasil, porém, o termo
“marketing social” está sendo utilizado, especialmente pela mídia, para
designar a atuação empresarial no campo social com a finalidade de obter
diferenciais competitivos, sem que essas ações tenham o objetivo de
influenciar um comportamento coletivo. Alguns artigos destacam que é
crescente o número de empresas que fazem promoções ou associam sua
imagem a causas sociais como forma de estimular vendas ou agregar valor à
sua imagem institucional. Essa concepção, muitas vezes, refere-se apenas aos
benefícios diretos à empresa, sem relacionar essas ações a mudanças de
comportamento. Com isto surge um novo conceito de marketing, o marketing
institucional.
O marketing institucional tem por finalidade influenciar
atitudes e comportamentos em relação à empresa, objetivando a construção de
uma imagem corporativa consistente (KOTLER apud MENDONÇA 2002).
Marketing social é a divulgação das ações sociais e
campanhas das organizações, sendo que alguns definem que este marketing é
puro oportunismo e outros que se constituem numa forma de estimular a
desenvolverem práticas sociais.
Segundo Mendonça (2002), ambos referem-se à
influência em atitudes e comportamentos. No marketing institucional, o objetivo
é a imagem da empresa e no marketing social as finalidades referem-se a
questões de interesse público, ou de impacto social.
Embora o objetivo último do marketing social seja o de
contribuir para a transformação social, que pode ser por meio de apoio a
projetos culturais, infância e adolescência e esporte, sua aplicação também
promove um impacto na imagem da instituição que o utiliza. Com isso,
impactando a imagem da organização e as atitudes em relação a ela, podem
ser encaradas como marketing institucional.
53
Ainda para Mendonça (2002), ao adotar estratégias de
marketing institucional, em muitos casos a organização influencia
comportamentos com impacto social, podendo gerar transformações. Assim,
relaciona-se com o conceito de marketing social.
O uso do marketing relacionado a causas sociais pode ser
entendido como um processo de formulação e implementação de atividades de
marketing caracterizadas pela oferta que a empresa faz de uma quantidade
específica de recursos a uma determinada causa social cada vez que os
consumidores de seus produtos realizam uma troca econômica com ela,
gerando com isso a satisfação dos objetivos individuais e organizacionais
(VARADORAJAN & MELON apud MENDONÇA, 2002).
Para Varadorajan & Melo apud Mendonça (2002),
marketing relacionado a causas sociais é um programa que procura alcançar
dois objetivos: melhorar a desempenho organizacional e colaborar com causas
sociais.
O quadro a seguir mostra um resumo dos incentivos
abordados no presente estudo, bem como o limite que deve ser observado pela
empresa.
PATROCÍNIO /
DOAÇÃO %
LIMITE
GLOBAL
DEDUÇÃO
IMPOSTO
DEVIDO
DEDUÇÃO
LUCRO
OPERACIONAL
FIA 1% Não Sim Não
Desporto 1% Não Sim Não
Projetos culturais
- Art. 18 100%
- Art. 26 – Doação 40%
- Patrocínio 30%
Audiovisual e
FUNCINE
4%
4%
Sim
(4% junto
com Áudio
Visual e
FUNCINE)
Sim Sim
Fonte: o autor
Neste sentido dentre as inúmeras legislações atinentes ao
tema, a seguir serão dispostas as que mais coadunam com o objeto especifico
da presente pesquisa.
54
3.1. Lei Rouanet – Projetos Culturais
A Carta Magna em seu título VIII (da Ordem Social) no
capítulo III (Da Educação, da Cultura e do Desporto) no art. 215 dispõe que: O
Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e difusão das
manifestações culturais.
A Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet (Lei 8.313/91),
institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC, que tem por
finalidade a captar e canalizar recursos para setores culturais. Seus produtos e
serviços serão para exibição, utilização e circulação públicas, não podendo ser
destinados ou restritos a circulação privada ou a particulares.
Dentre os objetivos deste tipo de incentivo destacam-se:
• Captar e canalizar recursos para o
desenvolvimento de projetos culturais;
• Apoiar a produção cultural;
• Estimular o acesso à cultura;
• Difundir a produção cultural e artística;
• Apoiar os criadores e suas obras;
• Estimular as expressões culturais brasileiras;
• Preservar o patrimônio cultural e histórico
brasileiro;
• Priorizar o produto cultural brasileiro.
Para que as entidades possam se habilitar a receber os
recursos estas devem observar os dispositivos demonstrados no quadro a
seguir.
55
DOCUMENTOS OBRIGATÓRIOS PARA APRESENTAÇÃO DE
PROJETOS
Do Proponente Pessoa Física
- Currículo do proponente, com detalhamento das atividades
culturais realizadas nos últimos dois anos (relatando
datas, local de realização, nome dos participantes,
matérias em jornais, revistas, cartazes, folderes, etc..).
- Cópia autenticada da Carteira de Identidade;
- Cópia autenticada do CPF
Do Proponente Pessoa Jurídica de Direito Público ou Privado com ou sem fins lucrativos
- Relatório de atividades culturais da instituição nos últimos
dois anos (relatando datas, local de realização, nome dos
participantes, matérias em jornais, revistas, cartazes,
folderes, etc..).
- Cópias autenticadas da:
- Carteira de Identidade e do CPF do dirigente da
entidade.
- Estatuto, Regimento ou Contrato Social e posteriores
alterações.
- Termo de posse do dirigente da instituição ou Ata de eleição da Diretoria.
Do Projeto
- Formulário padrão preenchido, incluindo termo de
responsabilidade assinado pelo proponente.
- Orçamento físico financeiro de acordo com modelo
fornecido pelo Ministério da Cultura.
- Plano Básico de Divulgação elaborado de acordo com o
Manual de Identidade Visual do Ministério da Cultura.
- Plano de Distribuição de Produtos Culturais.
- Quando o projeto envolver a realização de cursos de
formação e capacitação de profissionais ou ensino das
artes é necessário, também, encaminhar o projeto
pedagógico, nome e currículo do coordenador pedagógico.
DAS ÁREAS ESPECÍFICAS
Artes Cênicas
- Ficha técnica da montagem do espetáculo
- sinopse
- Em caso de turnê, informar o roteiro, período da temporada,
trechos das passagens, número de participantes (artistas e
técnicos), números de diárias (hospedagem e alimentação)
- Autorização do autor da obra ou da SBAT, se baseada em textos
56
de terceiros
Música
- Ficha Técnica
- Em caso de turnê informar o roteiro, o período da temporada,
trechos das passagens, número de participantes (artistas e
técnicos), números de diárias (hospedagem e alimentação)
Artes Plásticas
- Em caso de itinerância informar o roteiro, o período da
exposição, trechos das passagens, número de participantes
(artistas e técnicos), números de diárias (hospedagem e
alimentação)
Humanidades
- Sinopse da obra (descrever resumidamente, o conteúdo da obra
a ser publicada);
- Carta de anuência dos participantes (ex.: tradutor, revisor,
colaborador, fotógrafo, artista plástico, etc.);
- Autorização do autor da obra, no caso da utilização de texto de
terceiros;
- Especificações técnicas do livro:
- título;
- tamanho (n.º de páginas);
- formato (fechado e aberto);
- Impressão;
- papéis;
- acabamento (tipo de capa, miolo, tipo de laminação, etc.).
- Indicar os beneficiários dos direitos autorais da obra a ser
publicada, com seus respectivos valores;
- Cronograma de execução quando se tratar de evento;
- Valor estimado do livro para venda;
- No caso de edição de obra literária deverá estar previsto no
orçamento físico-financeiro, o custo da distribuição do
percentual gratuito de 10% (contrapartida obrigatória) para
bibliotecas públicas conforme relação do MINC, obedecendo o
Plano de Distribuição (*) para o envio.
Patrimônio Cultural
- Plantas arquitetônicas (jogo completo).
- Autorização do proprietário dos bens (se for o caso) .
- Cópia Autenticada da Escritura do Imóvel, quando o projeto
envolver intervenção em bens imóveis.
- Acordo de Cooperação Técnica entre o proponente e o
proprietário do imóvel tombado, conforme modelo anexo a este
Manual.
- Registro documental, fotográfico ou videográfico relativo aos
bens a receberem a intervenção.
- Autorização para realização da obra pela autoridade competente.
57
- Autorização do órgão responsável pelo tombamento, quando for
o caso.
- Cópia do ato de tombamento.
No caso de doação de acervos (museus e bibliotecas)
- Relação dos bens a serem doados;
- Documento comprobatório de estimativa de avaliação dos bens;
- Carta de aceitação das instituições a serem beneficiadas;
CERTIDÕES A SEREM APRESENTADAS (na fase de aprovação)
Pessoa Jurídica:
- Certidão de Quitação de Tributos Municipais
- Certidão de Quitação de Tributos Estaduais
- Certidão de Quitação de Tributos Federais
- Dívida Ativa da União
- Certidão Negativa de Débitos junto ao INSS
- Certidão Negativa de Débitos junto ao FGTS
Pessoa Física:
- Certidão de Quitação de Tributos Federais
- Dívida Ativa da União
Fonte:www.cultura.gov.br
Com base na documentação descrita no quadro acima a
Lei Rouanet (8.313/91) vem possibilitando tanto pessoas físicas quanto
jurídicas a contribuir com recursos financeiros, via incentivo fiscal, em apoio a
projetos culturais e artísticos. Com isso as empresas tributadas pelo lucro real
podem deduzir do imposto devido às quantias efetivamente pagas e realizadas
no período de apuração a título de doação ou patrocínio para o Fundo Nacional
de Cultura ou em apoio direto a projetos culturais devidamente cumpridos os
requisitos legais. Cabe lembrar que estes valores ficam limitados a 4% do IR
devido pela pessoa jurídica, sendo que estas não poderão deduzir o valor da
doação e/ou do patrocínio como despesa operacional. As doações e os
patrocínios na produção cultural, a que se refere o § 1° do art. 18 da lei
8.313/91, atenderão exclusivamente os seguintes segmentos:
a) artes cênicas; b) livros de valor artístico, literário ou humanístico; c) música erudita ou instrumental; d) exposições de artes visuais; e) doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para a manutenção desses acervos;
58
f) produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual g) preservação do patrimônio cultural material e imaterial h) construção e manutenção de salas de cinema e teatro, que poderão funcionar também como centros culturais comunitários, em Municípios com menos de 100.000 (cem mil) habitantes.
O Art. 26 da Lei Roaunet estabelece que o doador ou
patrocinador poderá deduzir do imposto devido na declaração do Imposto
sobre a Renda os valores efetivamente contribuídos em favor de projetos
culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta Lei, tendo como base
os seguintes percentuais:
I - no caso das pessoas físicas, oitenta por cento das doações e sessenta por cento dos patrocínios; II - no caso das pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, quarenta por cento das doações e trinta por cento dos patrocínios. § 1o A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações e patrocínios como despesa operacional. Conforme dito anteriormente, as empresas tributadas no
IRPJ através do regime de tributação Lucro Real podem deduzir 4% do IRPJ
referentes à alíquota básica de 15%.
No caso da empresa fazer um patrocínio acaba fazendo
também uma divulgação da mesma, apesar da dedução do IRPJ ser menor.
Através da opção pelos incentivos fiscais a empresa
ressalta sua Responsabilidade Social em relação a sua comunidade e ao país
promovendo o desenvolvimento cultural do Brasil. Atualmente discute-se muito
o papel das empresas como agentes sociais no desenvolvimento da Sociedade
como um todo. Neste sentido é necessário que as empresas não tenham um
papel somente de produtoras de bens ou serviços, mas que também tenham
consciência de sua responsabilidade com o bem estar da sociedade em geral.
O quadro a seguir demonstra o cálculo deste incentivo
fiscal como forma exemplificativa de um patrocínio.
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LALUR Sem incentivo cultural
Com incentivo Lei Rouanet "30% de dedução"
1- Lucro antes do incentivo à cultura
20.000.000,00 20.000.000,00
2 - (-) Incentivo à Cultura patrocíno
- 120.000,00 4% do IRPJ
3 =Lucro Antes do IR (1-2) 20.000.000,00 19.880.000,00 (+) Adições - - (-) Exclusões - - 4 - =LUCRO REAL 20.000.000,00 19.880.000,00 5 - IRPJ (15% sobre o Lucro Real)
3.000.000,00 2.982.000,00
6 - (-) dedução do incentivo no IR
- (36.000,00)
7- (-) Adicional do IR (Lucro Real - R$ 240,000 x 10%)
1.976.000,00 1.964.000,00
8 - =LUCRO LÍQUIDO (4-5+6-7)
15.024.000,00 14.970.000,00
SOMA DOS IMPOSTOS (5-6+7)
4.976.000,00 4.910.000,00
Economia nos impostos promovido pelo incentivo à cultura
- 66.000,00
Percentual de dedução do incentivo no IRPJ
55,00%
Fonte: o autor
No quadro acima se verifica que se a empresa tributada
pelo lucro real apresentar um lucro de R$ 20.000.000,00 poderá destinar R$
120.000,00 para incentivo a cultura, que corresponde a 4% do imposto devido
(20.000.000 x 15%= R$ 3.000.000,00), com isso o valor de R$ 120.000,00 foi
reconhecido pela empresa doadora como despesa operacional, reduzindo o
lucro conforme demonstrado acima, passando de R$ 20.000.000,00 para R$
19.980.000,00.
No exemplo em tela, a doação foi de patrocino, portanto a
empresa só pode compensar 30%, conforme estabelece a legislação, do valor
doado como incentivo fiscal, ou seja, R$ 36.000,00 (120.000 x 30%= R$
36.000,00).
60
Pode-se verificar que ao compensar R$ 36.000,00 do
IR devido a empresa teve uma economia tributária na ordem de R$ 66.000,00,
isso significa que representa 55% do valor da doação. (66.000.000 / 120.000 =
0,55 x 100= 55%)
3.2. Fundo da Infância e Adolescência – FIA
A Constituição Federal no capítulo VII (da Família, da
Criança, do Adolescente e do Idoso) no art. 227 preceitua que é dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei
Federal nº 8069/1990, criou os Conselhos de Direitos nos níveis Municipal,
Estadual e Nacional com a finalidade de definir políticas e gerenciar recursos
destinados a desenvolver projetos na área da criança e do adolescente.
O Fundo da Infância e Adolescência (FIA) existe desde
1994. Funciona como suporte ao Estatuto da Criança e do Adolescente e sua
gestão é feita pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente dos
municípios. Ele é instrumento que permite a arrecadação de recursos
destinados a projetos de atendimentos: às crianças e adolescentes
abandonados e desabrigados; as medidas sócio-educativas aplicadas aos
adolescentes autores de ato infracional; as crianças e adolescentes explorados
sexualmente; aos usuários ou dependentes de drogas; as vítimas de maus
tratos; a erradicação do trabalho infantil e proteção do trabalho adolescente; a
profissionalização dos jovens; e a orientação e apoio sócio familiar. Os
recursos que formam o FIA provêm de doações feitas por pessoas físicas e
jurídicas.
De acordo com o Artigo 260 da Lei 8069/90:
Os contribuintes poderão deduzir do imposto devido, na declaração do Imposto sobre a Renda, o total das doações feitas aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente –
61
nacional estaduais ou municipais – devidamente comprovadas, obedecidos os limites estabelecidos em Decreto do Presidente da República. (Redação dada pelo artigo 10 da Lei n. 8.242, de 12.10.1991.
Posteriormente, a Lei n. 8.242/91, em seu art. 10, deu
nova redação ao artigo 260 do ECA, passando a permitir que o total de
doações efetuadas a esses fundos fosse deduzido do Imposto de Renda, nos
limites estabelecidos pelo poder executivo. Estabeleceu-se, então pelo Poder
Executivo, através do Decreto 794/93, que o limite máximo de dedução do
Imposto de Renda devido na apuração mensal, trimestral ou anual das pessoas
jurídicas passaria a ser de 1%, não cumulativo com outras doações ou
incentivos fiscais federais. No que diz respeito às pessoas físicas, a dedução
está limitada a 6% do valor do Imposto de Renda a pagar, conforme preceitua
o art. 22 da lei n. 9.532/97.
No ano de 2002 a Secretaria da Receita Federal edita a
IN 267 estabelecendo as condições para a doação ao FIA e outros incentivos
fiscais para as pessoas jurídicas. A seção II dos Direitos da Criança e do
Adolescente em seu art. 11 e 12 determinam:
Art. 11. A pessoa jurídica poderá deduzir do imposto devido em cada período de apuração o total das doações efetuadas aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente - nacional, estaduais ou municipais - devidamente comprovadas, vedada a dedução como despesa operacional. § 1º A dedução está limitada a um por cento do imposto devido em cada período de apuração. § 2º Para fins de comprovação, a pessoa jurídica deverá registrar em sua escrituração os valores doados, bem assim manter em boa guarda a documentação correspondente. Art. 12. Os Conselhos Municipais, Estaduais ou Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, controladores dos fundos beneficiados pelas doações, deverão emitir comprovante em favor do doador que especifique o nome, o número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) do doador, a data e o valor efetivamente recebido. § 1º O comprovante deverá: I - conter o número de ordem, o nome, o número de inscrição no CNPJ e o endereço do emitente; II - ser firmado por pessoa competente para dar a quitação da operação. § 2º No caso de doação em bens, o comprovante deverá conter a identificação desses bens, mediante sua descrição em campo próprio ou em relação anexa, informando também se houve avaliação e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
62
Físicas (CPF) ou no CNPJ dos responsáveis por essa avaliação. § 3º Na hipótese do § 2º, o doador pessoa jurídica deverá: I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documentação hábil; II - considerar como valor dos bens doados o valor contábil; III - proceder à baixa dos bens doados na escrituração comercial. § 4º Alternativamente ao disposto no inciso II do § 3º, o doador poderá optar pelo valor de mercado dos bens, que será determinado mediante prévia avaliação por meio de laudo idôneo de perito ou empresa especializada de reconhecida capacidade técnica para aferição do seu valor. § 5º A autoridade fiscal poderá requerer nova avaliação dos bens na forma da legislação em vigor. § 6º Quando a doação for efetuada por valor superior ao previsto no inciso II do § 3º, deverá ser apurado ganho de capital com base na legislação vigente. § 7º O preço obtido em leilão não será considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto quando o leilão seja determinado por autoridade judiciária.
Diante do exposto, alguns cuidados devem ser
observados quando da doação ao FIA, entre os quais destaca-se:
a) as doações devem ser feitas por meio de depósito
bancário em conta específica do FIA do respectivo município;
b) Uma cópia autenticada do recibo bancário deve ser
encaminhada ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
do Município para que este providencie o recibo oficial, para que a doação
possa ser dedutível para fins de Imposto de Renda, tanto pessoa física quanto
jurídica;
c) Observados os percentuais do incentivo fiscal e sua
cumulatividade, o valor repassado ao FIA é 100% dedutível do Imposto de
Renda a pagar.
d) Para a pessoa jurídica, o limite para dedutibilidade é de
1%, calculado sobre o IR a pagar sem o adicional, para a pessoa física, o limite
é de 6% do Imposto de Renda a pagar.
e) Todas as empresas podem fazer doações ao FIA, más
só as tributas pelo lucro real que tem tal dedutibilidade;
f) As doações ao FIA não podem ser consideradas
despesas operacionais, mas sim abatidas diretamente do Imposto devido em
63
campo próprio na Declaração de Ajuste.
Acredita-se que a grande fonte de recursos estão na
contribuição das pessoas físicas, um vez que o número de empresas tributadas
pelo lucro real é pequeno se comparado aos contribuintes pessoas físicas que
entregam a declaração no modelo completo, pois somente estes contribuintes
é que podem utilizar do benefício fiscal. Apresenta-se abaixo um quadro
demonstrativo que tem por objetivo ilustrar como estes podem reduzir o
imposto a pagar ou aumentar o imposto a restituir.
Pessoa Física com Imposto de Renda a Pagar – situaç ão 1
Imposto Devido R$ 5.000,00
Imposto retido na fonte R$ 1.000,00
Doação ao FIA R$ 300,00
Saldo a pagar R$ 3.700,00
Pessoa Física com Imposto de Renda a Restituir – si tuação 2
Imposto Devido R$ 5.000,00
Imposto retido na fonte R$ 6.000,00
Doação ao FIA R$ 300,00
Saldo a restituir R$ 1.300,00
Limite 6% de R$ 5.000,00
Fonte: o autor
Pode-se verificar no quadro, situação 1, acima que o
doador pessoa fisica com Imposto devido de R$ 5.000,00 e tendo retido na
fonte R$ 1.000,00, teria um saldo a pagar de R$ 4.000,00, porém com a
doação ao FIA no valor de R$ 300,00, este pagará o valor de R$ 3.700,00 (R$
64
4.000,00 – R$ 300,00).
Na situação 2 no quadro acima, o doador com imposto de
renda devido no valor de R$ 5.000,00 e tendo imposto retido durante o ano no
valor de R$ 6.000,00, siginifica que teria um IR a restituir no valor de R$
1.000,00. Porém ao ter feito uma doação no valor de R$ 300,00, este
aumentará sua restituição para R$ 1.300,00. Infere-se então que a pessoa
física se tiver a situação de IR a pagar, o valor doado diminuirá o valor a ser
pago, por outro lado na situação de restituição o valor doado retorna para o
doador.
Os Conselhos Municipais da Criança e do Adolescente
quando recebem doações tanto de pessoas jurídicas e físicas assumem
algumas obrigações acessórias junto aos doadores, quanto a emitir recibo e
informar anualmente a Receita Federal os dados do doador, para que esta
possa fazer a correta fiscalização tributária. De acordo com a Instrução
Normativa nº 311/03 da Secretaria da Receita Federal do Brasil determina que
os Conselhos de Direitos devem entregar à Secretaria da Receita Federal até o
último dia útil do mês de março, em relação ao ano-base imediatamente
anterior, por intermédio da internet a Declaração de Benefícios Fiscais – DBF,
que contém o controle das doações recebidas, bem como relação com o nome;
CPF ou CNPJ dos doadores, a especificação se em dinheiro ou em bens e os
valores individualizados de todas as doações.
3.3. Captação de Recursos para o FIA
Um grande desafio para as Organizações não
Governamentais é a captação de recursos financeiros para apoio a projetos
sociais por meio de destinação de parte de imposto de renda das pessoas
físicas e jurídicas. Estes recursos são provenientes de doações efetivadas
diretamente à conta de um fundo específico, administrado pelo Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente - CMDCA - de cada
município, com a indicação, por parte do doador, da entidade beneficiada.
Para muitas dessas organizações a fase de elaboração
65
de projetos consistentes é um desafio. Tais projetos fazem com que estas
possam ter acesso aos recursos, facilitando e ampliando o atendimento a um
maior número de menores carentes e com necessidades especiais que não
apenas necessitam de ajuda, mas, principalmente, de uma vida melhor. Neste
sentido apresenta-se um roteiro para que a entidade possa obter os benefícios.
Primeiramente deve-se buscar o cadastro da entidade
social junto ao Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes –
CMDCA. Esta deve apresentar os seguintes documentos:
• Ata de reunião de fundação da entidade;
• Estatuto Social (registrado no cartório Especial de
registro de títulos e documentos);
• Ata de eleição da diretoria;
• Inscrição no cadastro CNPJ na Receita Federal do
Brasil;
• Alvará de Localização Municipal
• Registro no Conselho de Assistência Social do
Município;
• Declaração de utilidade púbica se houver.
• Abertura de conta corrente para receber os
recursos.
A elaboração do projeto social deve atender aos seguintes aspectos:
1 IDENTIFICAÇÃO
A NOME DO PROJETO
Nomear de forma a expressar a característica principal do projeto
B PROPONENTE DO PROJETO (Identificar a entidade proponente e seu representante
legal).
Preencher os campos solicitados no formulário completo, informando os dados da
entidade proponente e de seu representante legal
2 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A APRESENTAÇÃO
Descrever, com clareza e de forma sucinta a proposta social social do projeto,
evidenciando os benefícios sociais a serem alcançados pelas crianças e adolescentes a
serem atendidas, bem como os resultados a serem obtidos com a realização do projeto.
66
B JUSTIFICATIVA
Fundamentar a pertinência e a relevância do projeto social, como resposta objetiva a um
problema ou necessidade identificada. Deve haver ênfase em aspectos qualitativos e
quantitativos evitando-se dissertações genéricas sobre o tema.
C OBJETIVO GERAL
A partir da justificativa apresentada, definir com clareza o que se pretende alcançar com o
projeto.
D OBJETIVOS ESPECIFICOS
Apresentar os objetivos específicos, com base no objetivo geral apresentado.
E PÚBLICO ALVO
Identificar o público a ser atendido pelo projeto.
3 DIVULGAÇÃO DO PROJETO
A PLANO BÁSICO DE DIVULGAÇÃO DO PROJETO (Se for o caso)
Apresentar as estratégias de divulgação do projeto a serem utilizadas.
4 EXECUÇÃO DO PROJETO
Informar a duração, dias / mês/ ano, fixando as datas estimadas para inicio e termino do
projeto.
A CRONOGRAMA DE REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
Preencher a tabela relacionando as atividades propostas com o tempo de execução do
projeto. Caso a realização do projeto ocorra compreendido em mais de um ano, fazer um
cronograma para cada ano.
5 PALNILHA DE DETALHAMENTO DE CUSTOS
Especificar todos os itens necessários à realização do projeto.
6 RESUMO DAS FONTES DE FINANCIAMENTO
Apresentar as fontes de financiamento de projeto, deduzindo do valor das planilhas do
projeto os recursos provenientes do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e
Adolescente CEDCA e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente –
CMDCA, recursos próprios e outras fontes, obtendo assim, o valor total do projeto.
Fonte: Adaptado de www.esporte.gov.br, 2008
O quadro acima demonstra o modelo de elaboração de
projeto social que a entidade deve preencher para a obtenção de recursos
visando a realização de projetos socias ou um programa de atuação social, no
atendimento a crianças e adolescentes.
67
Para que haja continuidade nas contribuições, é muito
importante que o doador, tanto pessoa física como pessoa jurídica, possa
acompanhar a efetiva aplicação dos recursos disponibilizados junto às
entidades beneficiadas.
É importante, portanto, que a entidade beneficiada esteja
aberta para que aconteça esta iteração entre os doadores e ela própria. Para
tanto, a beneficiada enviará à empresa coordenadora da doação uma cópia do
Projeto e do Relatório de Prestação de Contas que tenha sido aprovado pelo
CMDCA.
3.4. Incentivo Fiscal ao Desporto
Nesta modalidade o objetivo é fomentar as atividades de
caráter desportivo, pois a partir do ano calendário de 2007 até o ano calendário
de 2015, inclusive, poderão ser deduzidos do imposto de renda devido,
apurado pela pessoa jurídica na declaração de ajuste em cada período de
apuração os valores despendidos como patrocínio ou doação, no apoio direto a
projetos desportivos e paradesportivos previamente aprovados pelo Ministério
do Esporte. Esta possibilidade está prevista na Lei n.11.438/2006.
Conforme o inciso I do parágrafo 1º do art 1º as deduções
ficam limitadas a 1% do imposto de renda devido, observado o parágrafo 4º do
art. 3º da lei 9.249/95, que diz “§ 4º O valor do adicional será recolhido
integralmente, não sendo permitidas quaisquer deduções.”
O parágrafo 2º do art. 1º determina que as pessoas
jurídicas NÃO possam deduzir o valor doado para fins de determinação do
lucro real, ou seja, deverá contabilizar como despesa e posteriormente
adicionar ao LALUR. Um aspecto importante que se destaca no art 1º “§ 3º da
Lei 11.438/06 estabelece que os benefícios de que trata este artigo não
excluem ou reduzem outros benefícios fiscais e deduções em vigor.
O parágrafo 4º do artigo 1º da mesma lei destaca:
68
Não são dedutíveis os valores destinados a patrocínio ou doação em favor de projetos que beneficiem, direta ou indiretamente, pessoa física ou jurídica vinculada ao doador ou patrocinador. O § 5º do art 1º considera pessoas vinculadas ao
patrocinador ou ao doador:
I - a pessoa jurídica da qual o patrocinador ou o doador seja titular, administrador, gerente, acionista ou sócio, na data da operação ou nos 12 (doze) meses anteriores; II - o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do patrocinador, do doador ou dos titulares, administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vinculada ao patrocinador ou ao doador, nos termos do inciso I deste parágrafo; III - a pessoa jurídica coligada, controladora ou controlada, ou que tenha como titulares administradores acionistas ou sócios alguma das pessoas a que se refere o inciso II deste parágrafo.
Com base nestas disposições, tem-se que todos esses
benefícios devem reverter diretamente à Sociedade de forma desvinculada a
acrescimentos próprios de forma direta ou indireta.
Uma vez que os Benefícios Fiscais partem do Estado,
passam por empresas privadas e revertem em favor da Sociedade, o maior
prejuízo neste sistema é a ignorância. Existem mecanismos, leis, processos e
procedimentos com vistas a minimizar as carências e deficiências de atuação
do Estado em vistas ao Bem Comum, mas somente poucas iniciativas são
verificadas no sentido de implementação real destes benefícios, mormente em
nível municipal.
Municípios carentes e com déficit em programas e ações
assistenciais, muitas das vezes deixam de ter projetos sociais vinculados a
benefícios que são postos à disposição da população.
CONCLUSÃO
O primado da Justiça perpassa o Bem Comum. Este é o
objetivo primordial de todas as ações dos Poderes que compõem o Estado.
Se por um lado o Poder Executivo tem o dever de cumprir
com as metas e políticas públicas estabelecidas, por meio de seus Governos,
por outro lado, tem-se o Poder Legislativo atuando positivamente no sentido de
dar sustentação a ações e encaminhamentos sem os quais seria impossível
buscar, por meio dos mecanismos ortodoxos oficiais, resultados esperados
pela Sociedade.
Dentre estes novos mecanismos há a Responsabilidade
Social e o papel pró-ativo das Organizações não-Governamentais que contam
com um arcabouço de preceitos normativos próprios que, uma vez
corretamente implementados, auxiliam na busca do Bem Comum.
Esse Bem Comum não é etério e tampouco inalcançável,
trata-se de elementos dispostos constitucionalmente que revelam todos os
direitos e garantias fundamentais que os cidadãos brasileiros têm.
A Sociedade busca por um ordenamento jurídico
condizente com suas necessidades básicas que vise por em prática os direitos
e deveres estabelecidos pela Constituição.
A Responsabilidade Social é, talvez, a forma mais
imediata de o setor privado desenvolver atividades que alcancem o bem estar
não só de seus colaboradores, mas da comunidade e do meio ambiente. Esse
imediatismo é muito mais uma postura empresarial cujo núcleo são ações
sociais do que propriamente um repasse das obrigações estatais aos entes
privados.
Todo esse envolvimento do setor privado somente se fez
possível por meio de legislações que vinculassem a tributação a ações,
benefícios e isenções; pois, lembre-se que os tributos têm sua origem já no
pacto social e seu escopo é a necessidade de renda que o Estado tem para
manter suas atividades operacionais e cumprir seu objetivo social.
70
Por isso, quaisquer que sejam as modalidades
tributárias, sua periodicidade, a gênese da contribuição permanece imutável,
qual seja, a Sociedade. Por isso, isenções, benefícios e incentivos que
porventura uma determinada pessoa física ou jurídica faça jus, sempre tem
como principal alavanca, a Sociedade e o benefício direto ou indireto
proporcionado.
Embora muitas entidades estejam engajadas em ações
que objetivem ao bem comum, através de projetos sociais, uma outra parcela
da Sociedade pode desconhecer como fazer para estar comprometida para a
realização de tais ações.
As empresas que tem por um de seus objetivos a
Responsabilidade Social , sem dúvida estão atentas a essas possibilidades e
utilizam dos Benefícios Fiscais para cumprir seu papel social.
Um dos exemplos de ações de responsabilidade social é
o FIA - Fundo da Infância e Adolescência é um suporte dado à execução dos
princípios norteadores do Estatuto da Criança e do Adolescente. No Brasil,
antes de legislações que criminalizem condutas, é necessário
comprometimento de todos no sentido de possibilitar a crianças e jovens
condições mínimas de ensino, de atividades lúdicas, atividades esportivas e
culturais que incutam noções de cidadania e participação na Sociedade.
Por isso dito que a ignorância de tais incentivos sejam,
talvez, a face mais maléfica de inércia para com crianças e adolescentes
abandonados e desabrigados, às medidas socio-educativas aplicadas a
adolescentes autores de ato infracional, às crianças e adolescentes explorados
sexualmente, aos usuários ou dependentes de drogas, às vítimas de maus-
tratos, à erradicação de trabalho infantil, à proteção de trabalho adolescente, à
profissionalização dos jovens e a orientação e apoio sócio-familiar, dentre
outros.
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