UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
ANA MARIA SOEK
ASPECTOS CONTRIBUTIVOS DO MANUAL DO PNLA/2008 NA FORMAO DOALFABETIZADOR DO PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO
CURITIBA2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
ANA MARIA SOEK
ASPECTOS CONTRIBUTIVOS DO MANUAL DO PNLA/2008 NA FORMAO DOALFABETIZADOR DO PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre, pelo Programade Ps-graduao em Educao, na linha dePesquisa em Cognio, Aprendizagem eDesenvolvimento Humano.Orientadora: Prof Dr Snia Maria C.Haracemiv.
CURITIBA2009
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Catalogao na publicaoSirlei do Rocio Gdulla CRB 9/985
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR
Soek, Ana MariaAspectos contributivos do manual do livro didtico do
PNLA/2008 na formao do alfabetizador do programa Brasilalfabetizado / Ana Maria Soek. Curitiba, 2009.
114 f.
Orientadora: Prof. Dr. Snia Maria Chaves HaracemivDissertao (Mestrado em Educao) Setor de Educao,
Universidade Federal do Paran.
1. Alfabetizao de adultos. 2. Alfabetizao livros did-ticos. 3. Alfabetizao formao de professores. 4. Livrosdidticos. 5. Material didtico - alfabetizao. I. Titulo.
CDD 371.32CDU 371.671
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AGRADECIMENTOS
Professora Dr Sonia Maria Chaves Haracemiv
Mestre,
aquele que caminha com o tempo,
propondo paz, fazendo comunho,
despertando sabedoria.
Mestre aquele que estende a mo,
inicia o dilogo e encaminha
para a aventura da vida.
No o que ensina frmulas, regras,
raciocnios, mas o que questiona
e desperta para a realidade.
No aquele que d de seu saber,
mas aquele que faz germinar
o saber do discpulo.
Mestre voc, minha amiga e professora
mais que uma orientadora,
que me comprende, me estimula,
comunica e me enriquece com
sua presena, seu saber e sua ternura.
Eu serei sempre grata a voc
na escola da vida.
Obrigada, professora Sonia,
Por fazerem do aprendizado no um trabalho, mas um contentamento.
Por afastar o medo das coisas que pudssemos no compreender; levando-nos, por fim, a
compreend-las...
Obrigada, por fazer parte dessa trajetria de minha vida...
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AGRADECIMENTOS
Deus, que me deste fora e sabedoria nesse momento to importante da minha vida.
Ao amor de minha vida, Paulo Cesar Morais, por todo o apoio, incentivo e companheirismo.
meus pais, Francisco Soek e Olanda Stival, pelo dom maior da vida.
Aos meus irmos Adriano Soek, Francisca Soek e Arlete Soek, pelo carinho e amizade.
toda minha famlia, pela unio e pelo importante suporte que a famlia ainda representa.
Aos membros da Banca, pelas importantes contribuies e pelo exemplo de esprito
investigativo.
Aos professores do Programa de ps-graduao da Universidade Federal do
Paran, com os quais aprendemos tanto.
Aos colegas da linha de pesquisa Cognio, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
Aos meus colegas de trabalho da FACECLA, da Editora Positivo e da FACINTER que
acompanharam essa trajetria.
Angela Walesco, pelo apoio na traduo.
Claudia Cabral de Oliveira, pelo apoio na reviso.
Silvia Campos por todo apoio e suporte no trabalho.
Denise Amorin, pelo apoio, compreenso, dicas e palavras de conforto.
Ao Francisco Mendes, pelas trocas de ideias.
As minhas queridas alunas da FACECLA, razo maior pela busca do conhecimento.
Maria, pelo carinho, pelas oraes, pelo alimento do corpo e do esprito.
As amigas do curso de Ps Graduao, Dani, Daiane, Aldia e Keli, pelo incentivo primeiro.
todos que acreditaram em mim e a todos que de alguma forma contriburam direta ou
indiretamente na realizao deste trabalho, os meus sinceros agradecimentos!
"Ensinar um exerccio de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naquelescujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra.
O Professor, assim, no morre jamais..."(Rubem Alves).
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RESUMO
Em decorrncia das experincias vividas, das observaes e percepes acerca danecessidade de uma formao de alfabetizadores comprometida com os ideais deuma educao autnoma, libertria e de qualidade e identificando a falta demateriais didticos e para-didticos, que de alguma forma pudessem contribuirsignificativamente para ao e formao docente, buscou-se com essa pesquisaanalisar os mltiplos fatores do processo educativo. Para tanto, optou-se por umametodologia de pesquisa que permitisse identificar, analisar, comparar e avaliar asperspectivas e encaminhamentos do trabalho pedaggico com alfabetizao dejovens e adultos apresentados no manual do alfabetizador do PNLA/2008, visandoidentificar os elementos tericos, didticos e metodolgicos que possam vir acontribui para a formao do alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado. Apreocupao nesse sentido, no foi somente em identificar informaes ouconceitos, mas fundamentalmente a explicitao que a ao alfabetizadora em EJA(Educao de Jovens e Adultos) requer. Ao, neste trabalho, deve ser entendidacomo um aspecto subjetivo e intencional do sujeito e prtica, como ao em umcontexto objetivo, histrico e cultural. A presente pesquisa tem como objeto deestudo o Manual do Alfabetizador e das obras referendadas pelo Programa Nacionaldo Livro Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos PNLA/2008. Algumasquestes nortearam o estudo pautando-se em funo de caracterizar a natureza dotrabalho pedaggico previsto nas orientaes e encaminhamentos de um manualdidtico, analisando a fundamentao terico-metodolgica em que se baseia, bemcomo a estrutura didtica (planejamento, tempo, objetivos, estratgias de ensino erecursos didticos) entre outros subsdios para aperfeioamento do trabalhodocente.
Palavras-chave: Alfabetizao de Jovens e Adultos. Formao inicial e continuadade Alfabetizadores. Material Didtico de EJA.
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ABSTRACT
Due to life experiences, observation and perception of the necessity of formation ofliteracy teachers committed to the ideals of an autonomous, libertarian and qualifiededucation and, identifying the lack of didactic materials that, in some way, couldsignificantly contribute to teachers action and formation, this research aimed atanalyzing the multiple factors of the educational process. For that, the researchmethodology was chosen according to the possibilities of identification, analysis,comparison and evaluation of the perspectives and orientations on the pedagogicalwork for youngsters and adults literacy, presented in the teachers PNLA/2008manual, with the purpose of identifying the theoretical, didactic and methodologicalelements than can contribute to the formation of teachers at the Programa BrasilAlfabetizado. In this sense, the concern was not only the identification of informationor concepts but, fundamentally, the explicitness of the literacy action required by EJA(Educao de Jovens e Adultos). Action, in this work, should be understood assomeones subjective and intentional aspect and practice, as action in a objective,historical and cultural context. The object of study of this research is the Manual doAlfabetizador and the books included in the Programa Nacional do Livro Didticopara a Alfabetizao de Jovens e Adultos PNLA/2008. The study was guided bysome questions, based on the function of characterizing the nature of thepedagogical work presented in the orientations of a didactic manual (planning, time,objectives, teaching strategies and didactic resources) among other subsidies for theimprovement of the teachers work.
Key-words: Youngsters and adults literacy. initial and continued literacy teachersformation. didactic material for EJA.
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LISTA DE QUADROS E TABELA
TABELA I - TENDNCIA DO ANALFABETISMO NO BRASIL ENTRE ASPESSOAS COM 15 ANOS DE IDADE OU MAIS, A PARTIR DE 1920.
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QUADRO I DIFERENAS ENTRE ANLISE DOCUMENTAL X ANLISE DECONTEDO
49
QUADRO II CARACTERIZAO DO MANUAL DO ALFABETIZADOR FRENTEAOS CRITRIOS RECOMENDADO PELO PNLA/2008
54
QUADRO III - CARACTERIZAO DO MANUAL DO ALFABETIZADOR FRENTEAOS CRITRIOS RECOMENDADO PELO PNLA/2008 MANUAL A
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QUADRO IV - CARACTERIZAO DO MANUAL DO ALFABETIZADOR FRENTEAOS CRITRIOS RECOMENDADO PELO PNLA/2008 - MANUAL B
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QUADRO V - CARACTERIZAO DO MANUAL DO ALFABETIZADOR FRENTEAOS CRITRIOS RECOMENDADO PELO PNLA/2008 - MANUAL C
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CEEBJAS - Centros Estaduais de Educao Bsica para Jovens e Adultos
CES - Centros de Estudos Supletivos
DCNS Diretrizes Curriculares Nacionais para Educao de Jovens e Adultos
EJA Educao de Jovens e Adultos
ENEJAS - Encontros Nacionais de Educao de Jovens e Adultos
EPEJAS - Encontros Paranaenses de Eja
FUNDEB - Fundo de Desenvolvimento da Educao Bsica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
LD Livros Didticos
LDB Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MEC - Ministrio da Educao e Cultura
MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetizao
ONGS - Organizaes No Governamentais
PAS - Programa Alfabetizao Solidria
PBA - Programa Brasil Alfabetizado
PNAC - Programa Nacional de Alfabetizao e Cidadania
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PNLA - Programa Nacional do Livro Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos
PNLD Programa Nacional do Livro Didtico
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
SECAD - Secretaria a de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade
UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura
UNICEF Unio das Naes Unidas para a Infncia
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................................. 101.1 JUSTIFICATIVA............................................................................................................. 121.2 ABORDAGEM DO PROBLEMA..................................................................................... 151.3 OBJETIVOS .................................................................................................................. 162 RECURSOS DIDTICOS E OS PROGRAMAS DE ALFABETIZAO DE JOVENS EADULTOS NO BRASIL: ELEMENTOS PARA UMA CONTEXTUALIZAO .................... 182.1 CAMPANHA DE EDUCAO DE ADULTOS E O USO DA CARTILHA NAALFABETIZAO ............................................................................................................... 192.2 MOVIMENTO DE ALFABETIZAO PARA CONSCIENTIZAO: CRTICA AO USO DACARTILHA........................................................................................................................... 222.3 MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAO (MOBRAL) E O CONJUNTODIDTICO BSICO............................................................................................................. 262.4 FUNDAO EDUCAR................................................................................................... 282.5 PROGRAMA ALFABETIZAO SOLIDRIA - PAS...................................................... 302.6 PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO......................................................................... 332.6.1 Perfil dos alfabetizadores do Programa Brasil Alfabetizado ........................................ 372.6.2 Perfil dos alfabetizandos do Programa Brasil Alfabetizado ......................................... 412.6.3 Programa Nacional do Livro Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos ........ 433 TRAJETRIA DE PESQUISA.......................................................................................... 463.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.................................................................................. 463.1.1 Universo, populao e amostragem da pesquisa........................................................ 493.1.2 Encaminhamentos de pesquisa .................................................................................. 503.1.3 Instrumento para Coleta de Dados (ICD) .................................................................... 514 ANALISANDO O MANUAL DO ALFABETIZADOR FRENTE OS CRITRIOSRECOMENDADOS PELO EDITAL DO PNLA/2008 ........................................................... 534.1 ESPECIFICIDADES DO MANUAL DO ALFABETIZADOR ............................................ 54Ainda de acordo com o edital .............................................................................................. 554.2 CONCEPES E PRESSUPOSTOS TERICOS DO PROCESSO DEALFABETIZAO DE JOVENS E ADULTOS ..................................................................... 564.2.1 Alfabetizao .............................................................................................................. 564.2.2 Letramento.................................................................................................................. 614.3 ELEMENTOS DIDTICOS E METODOLGICOS DA AO ALFABETIZADORA ....... 624.4 PERSPECTIVAS DE TRABALHO PEDAGGICO APRESENTADAS NOS MANUAIS DOPNLA/2008 .......................................................................................................................... 645. CONTRIBUTOS DOS MANUAIS NA FORMAO DO ALFABETIZADOR DE JOVENS EADULTOS: CONSIDERAES.......................................................................................... 73REFERNCIAS ................................................................................................................... 77ANEXO 1 EDITAL DO PNLA/2008 ................................................................................. 83ANEXO 2 RESOLUO N 18, DE 24 DE ABRIL DE 2007. ......................................... 105ANEXO 3 - PORTARIA N. 984, DE 18 DE OUTUBRO DE 2007 .................................... 108ANEXO 4 ERRATA........................................................................................................ 110APNDICE 1 POPULAO ALVO DA PESQUISA...................................................... 111
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1 INTRODUO
O saber a gente aprende com os mestres e com os livros.A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes.
(Cora Coralina)
A escola tem sido entendida como principal agncia de instruo formal e
como espao privilegiado para construo e socializao do conhecimento. Estudos
demonstram que a ausncia da educao escolar representa uma lacuna tanto para
o indivduo como para a sociedade. Nesse sentido, a alfabetizao o requisito
mnimo, constituindo-se em uma poderosa ferramenta para a transformao social e
para incluso dos sujeitos na chamada sociedade do conhecimento.
Atualmente, nas sociedades letradas, as informaes so facilmente
difundidas graas as mais variadas tecnologias. Contudo, somente o acesso
informao no garantia de construo do conhecimento. Pode-se ter acesso hoje
a uma infinidade de informaes sobre determinado assunto, porm, para se
apropriar do seu contedo, convertendo-o em conhecimento pessoal, que
intransfervel, ser imprescindvel a reelaborao dessa informao, e isso s se faz
mediante acesso ao conhecimento letrado e funo que esse exerce na
sociedade.
No Brasil, vive-se o desafio de universalizar a Educao Bsica, assegurando
que ela tenha um padro de qualidade que efetivamente permita aos educandos
insero social como cidados do mundo globalizado. Contudo, o direito Educao
Bsica ainda no foi garantido a todos os brasileiros. Dados do IBGE/2000,
referentes escolarizao do povo brasileiro, demonstram que ainda h mais de 15
milhes de analfabetos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD),
realizada em 2007/2008, mostra que no Brasil ainda h cerca de 10% da populao
com mais de 15 anos no alfabetizada.
Esses dados so alarmantes, principalmente quando se pensa a
alfabetizao como um direito e que, portanto, deveria ser garantida a todo cidado.
Na tentativa de reduzir os ndices do analfabetismo, foi criado em 2003, o
Programa Brasil Alfabetizado (PBA) que visa promover a alfabetizao de jovens e
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adultos, em parceria com governos estaduais e municipais, entidades da sociedade
civil organizada e instituies de Ensino Superior.
Em decorrncia de sucessivas avaliaes desse programa, em que foi
apontada escassez de recursos didticos, aliada a pouca formao do
alfabetizador como comprometedores para qualidade no processo de alfabetizao
de jovens e adultos, o Ministrio da Educao e Cultura (MEC) lanou o Programa
Nacional do Livro Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos (PNLA/2008)
realizando pela primeira vez na histria do pas uma avaliao sistemtica de livros
didticos voltados a essa modalidade educativa.
No edital para seleo dos livros didticos do PNLA/2008 (ANEXO 1) so
apresentados critrios referentes ao livro do alfabetizando e ao manual do
alfabetizador na inteno de que esse venha a subsidiar o trabalho pedaggico de
alfabetizao, contribuindo inclusive para a formao continuada do alfabetizador.
De acordo com o edital, indispensvel que as obras didticas, a serem inscritas no
programa apresentem a fundamentao terica e metodolgica em que se baseia,
com clareza nas concepes e coerncia entre a fundamentao terica e
metodolgica explicitada e aquela de fato concretizada pela proposta pedaggica do
material (BRASIL, 2008).
Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho de pesquisa se traduz em
analisar as perspectivas de trabalho pedaggico apresentadas nos manuais do livro
didtico do PNLA/2008 identificando os elementos tericos, didticos e
metodolgicos que podem contribuir na formao inicial e/ou continuada do
alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado.
Para tanto, alm da anlise dos critrios do edital do PNLA/2008 e dos
documentos norteadores do Programa Brasil Alfabetizado foram analisados alguns
manuais dos livros didticos do referido programa. Para tanto, buscou-se as
contribuies dos tericos, como Paulo Freire, no que tange a Alfabetizao de
Jovens e Adultos no Brasil, e nos estudos de Lajolo (1996), Munakata (1999 e
2002), Molina (1987), Freitag, Motta e Costa (1989) entre outras referncias que
discutem a questo dos livros didticos e a formao docente.
Partindo das razes que justificam a elaborao deste trabalho de pesquisa e
com o propsito de aprofundar aspectos histricos, apresentada inicialmente no
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texto de dissertao uma contextualizao sobre o uso dos recursos didticos e
encaminhamentos pedaggicos nos principais programas de alfabetizao de jovens
e adultos ao longo da histria da educao brasileira. Nesse captulo tambm so
descritos as caractersticas do Programa Brasil Alfabetizado, proponente do
PNLA/2008, alvo desta investigao, bem como o perfil dos alfabetizadores e
alfabetizandos beneficirios dos referidos programas.
No terceiro captulo especificada a trajetria de pesquisa, delineando os
passos e metodologia utilizados, bem como a seleo da amostragem de pesquisa.
No quarto captulo so tecidas as anlises sobre as perspectivas de trabalho
pedaggico apresentadas nos manuais do livro didtico do PNLA/2008 e sobre
pontos relevantes relacionados investigao dentre os elementos (terico, didtico
e metodolgico) que possam vir a contribuir na formao inicial e/ou continuada do
alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado.
Por fim, so apresentadas consideraes finais, de forma a sintetizar as
reflexes que elucidam a temtica pesquisada.
1.1 JUSTIFICATIVA
O interesse pela temtica vem de longa data. Decorre das experincias da
pesquisadora que atuou como alfabetizadora de jovens e adultos, como
coordenadora pedaggica junto ao Departamento de Educao de Jovens e Adultos
da Secretaria de Educao do Estado do Paran e como docente nos cursos de
formao de alfabetizadores em EJA, atuando tambm como autora e editora de
materiais didticos voltados para essa modalidade educativa. Essas experincias
aliadas formao continuada possibilitam conhecimento do contexto e uma melhor
viso da temtica em questo, gerando muitos questionamentos, principalmente no
que diz respeito s possibilidades e limites que um manual didtico pode conter
dependendo de suas concepes.
De acordo com a Proposta Curricular do Ministrio da Educao para a
Educao de Jovens e Adultos
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entre os diferentes recursos, o livro didtico um dos materiais que mais forte influencia aprtica de ensino brasileira (...) tal recurso desempenha um papel muito importante noprocesso de ensino e aprendizagem, desde que se tenha clareza das possibilidades e doslimites que ele apresenta e de como pode ser inserido numa proposta global de trabalho(BRASIL, 2002, p. 139 -140).
consenso entre alguns pesquisadores do assunto (FREITAG, 1986;
MOLINA, 1987; LAJOLO, 1996) que os livros didticos podem desempenhar
diferentes papis dependendo do uso que se faa. Pelo vis tradicional, quando
usado de modo ortodoxo, pode servir de freio para mudanas, restringindo-se ao
uso do livro como constituinte de todos os saberes. Se, ao contrrio, oferecer
diversas possibilidades de uso, com orientaes metodolgicas e informaes que
auxiliem o professor na organizao do trabalho pedaggico, ele pode apresentar
importantes aspectos para a inovao pedaggica. At porque, muitas vezes o
nico livro que grande parte dos alfabetizandos tem acesso. J para o alfabetizador,
o livro didtico de alfabetizao pode representar um importante instrumento de
apoio pedaggico, por isso, imprescindvel que o manual do alfabetizador sirva,
ento, de suporte no encaminhamento do trabalho pedaggico em alfabetizao.
As pesquisas sobre livros didticos, no Brasil e no exterior, apresentam uma
evoluo no sentido de compreender este artefato cultural em sua complexidade.
Estudos que privilegiavam a anlise de contedo dos textos em termos dos valores e
ideologias, por eles veiculados, foram sendo complementados por anlises que
relacionam estes aspectos s polticas pblicas e aos aspectos da produo do livro
didtico.
Aps os anos 80 as pesquisas caracterizam-se pela adio de perspectivas histricas econcentram o foco das investigaes em questes relacionadas aos processos de mudana eestabilidade de contedos no livro didtico, bem como a sua prpria permanncia comosuporte preferencial de comunicao dos saberes escolar (BITTENCOURT, 2004, p. 472).
Vrios autores caracterizam o livro didtico como um mal necessrio. Se por
um lado ele carregado de incoerncias, por outro lado no h como negar a sua
importncia na escola brasileira. Essa importncia atestada por fatores como o
debate em torno da funo dos livros didticos na democratizao dos saberes
socialmente produzidos, pela polmica acerca do seu papel como estruturador da
atividade docente por intermdio do currculo, como tambm aos interesses
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econmicos em torno da sua produo e comercializao, e investimentos de
governos na aquisio e distribuio desses materiais (MOLINA, 1987).
Dessa forma, no universo de livros didticos coexistem diversos interesses
polticos e ideolgicos de diversas ordens: social, econmica e cultural. Portanto,
plausvel de diversas inquietaes e problemticas que merecem nossa ateno e
servem de objeto de investigao.
Sobre o livro didtico para Educao de Jovens e Adultos, importante
enfatizar que a necessidade desse tipo de material imperiosa, pois, alm de
atender a grupos de baixo poder aquisitivo, normalmente os professores no tm
nenhuma formao especfica para trabalhar com esse alunado (VVIO, 2001, p.
125). A mesma autora afirma que a maioria dos professores dos programas de
alfabetizao no lidou, em sua formao inicial, com disciplinas voltadas ao
atendimento das especificidades do processo de aprendizagem e de alfabetizao
de jovens e adultos.
Por isso, alm dos subsdios didticos metodolgicos do processo de
alfabetizao importante que o manual do alfabetizador oferea informaes sobre
o universo dos alunos jovens e adultos a serem alfabetizados. Na alfabetizao de
jovens e adultos essas informaes so relevantes, dada a averiguao de que
grande parte dos alfabetizadores possui pouca experincia com esse pblico, e
tambm so considerados na maioria alfabetizadores leigos, ou seja, no possuem
formao docente e dentre os que possuem uma habilitao ou licenciatura no
tiveram formao especfica para essa modalidade educativa.
importante ressaltar, como afirma Haracemiv (2002), que os Programas de
Alfabetizao de Jovens e Adultos no exigem formao pedaggica dos
alfabetizadores para atuao, o necessrio que o alfabetizador seja da
comunidade, assim em muitos casos possvel encontrar pessoas atuando na
alfabetizao de adultos, com apenas o Ensino Fundamental.
Dessa forma, justifica-se a relevncia desta pesquisa, na inteno de que
esse trabalho venha a contribuir para as discusses em torno da alfabetizao de
jovens e adultos, considerando que muitos estudos acerca de materiais didticos
tm se concentrado nas questes ideolgicas e sobre esses efeitos na
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aprendizagem dos alunos, mas poucos estudos tm se debruado sobre a questo
dos manuais para o desempenho profissional do alfabetizador.
1.2 ABORDAGEM DO PROBLEMA
A educao por natureza contraditria, afirma lvaro Vieira Pinto (2005, p.
25) em Sete lies sobre Educao de Jovens e Adultos. Os livros didticos por se
inserirem intrinsecamente com o processo educacional, so igualmente complexos e
contraditrios. Por si s, eles no cumprem o propsito da aprendizagem,
necessariamente, devem estar relacionados a um contexto, a professores e alunos.
Em se tratando de alfabetizao de jovens e adultos, os livros didticos possuem
maior relevncia, j que esses sujeitos so aqueles que ainda no sabem ler, ou
seja, os que buscam nos programas de alfabetizao, no livro didtico e nas
explicaes do alfabetizador, elementos que auxiliem no processo de aprendizagem
da leitura e da escrita.
Alis, muito interessante observar que geralmente o livro didtico usado e
no propriamente lido em situaes de ensino e aprendizagem (LAJOLO, 1996, p.
13). A reside o que de fundamental deve conter um manual do alfabetizador:
subsdios que possam auxiliar no uso sistemtico dos livros didticos no processo de
alfabetizao, com orientaes e encaminhamentos pedaggicos que contribuam
para a promoo da aprendizagem da leitura e da escrita.
O livro didtico instrumento especfico e importantssimo de ensino e de aprendizagemformal. Muito embora no seja o nico material de que professores e alunos vo valer-se noprocesso de ensino e aprendizagem, ele pode ser decisivo para a qualidade do aprendizadoresultante das atividades escolares (LAJOLO, 1996, p. 5).
Essa mesma viso apresentada no edital para seleo dos livros didticos
do PNLA/2008, em que o livro didtico constitui-se em mais um dos materiais de
apoio, assim como outros materiais de leitura: revistas, jornais, bulas de remdio,
recibos, cupons, contas, filmes, stios eletrnicos, msicas, desenhos, ilustraes,
entre outros (BRASIL, 2008). Nesse sentido, o manual do alfabetizador deve
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estimular o alfabetizador para a busca de outras fontes e experincias, bem como
contribuir para encaminhamento de prticas pedaggicas diversificadas.
No referido edital so descritas as orientaes quanto elaborao do
manual do alfabetizador
espera-se que este no seja cpia do livro do alfabetizando, mas explicite concepes epressupostos tericos e metodolgicos do processo de alfabetizao e a organizao do livrodo alfabetizando, inclusive no que diz respeito aos objetivos a serem alcanados nasatividades propostas; fornea subsdios para a avaliao da aprendizagem dos alfabetizandose para a formao do alfabetizador, tais como: sugesto de leituras, de integrao entre asdisciplinas ou de explorao de temas transversais, informaes adicionais e bibliografia(BRASIL, 2008, p. 23).
Dessa forma, a questo que se coloca : Que perspectivas de trabalho
pedaggico apresentam os manuais de livro didtico do Programa Nacional do Livro
Didtico para a Alfabetizao de Jovens e Adultos (PNLA/2008) e que elementos
(terico, didtico e metodolgico) podem vir a contribuir na formao inicial e/ou
continuada do alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado.
A problemtica de pesquisa vislumbra algumas questes norteadoras para o
estudo. Entre os questionamentos alguns descendem quanto funo do manual do
alfabetizador, utilizao dos manuais pelos alfabetizadores, o carter formativo do
manual, os aspectos relacionados a orientaes didtico-metodolgicas e s
concepes presentes no manual. Outras questes ficam por conta de constatar que
tipo de elementos terico, didtico e metodolgico so apresentados no Manual do
Alfabetizador do PNLA/2008? Esses elementos podem vir a contribuir na formao
inicial e/ou continuada do alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado? Que outros
elementos importantes para a prtica docente em alfabetizao so apresentados
nesses manuais? Quais as perspectivas de trabalho pedaggico apresentadas
nesses manuais?
1.3 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar as perspectivas de trabalho
pedaggico apresentadas nos manuais do livro didtico do PNLA/2008 identificando
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os elementos tericos, didticos e metodolgicos que podem contribuir na formao
inicial e/ou continuada do alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado.
Para tanto, foi necessrio contextualizar o uso dos recursos didticos nos
principais Programas de Alfabetizao de Jovens e Adultos no Brasil, caracterizando
o Programa Brasil Alfabetizado, bem como o PNLA/2008.
Tambm foi preciso identificar os critrios recomendados pelo Edital do
PLNA/2008 para elaborao do manual do alfabetizador, para assim, selecionar
dentre os manuais referendados pelo programa a amostragem de pesquisa.
Para verificar as perspectivas de trabalho pedaggico apresentadas nos
manuais, foi realizada uma leitura analtica, identificando os elementos tericos,
didtico e metodolgico analisando como esses podem vir a contribuir na formao
do alfabetizador do Programa Brasil Alfabetizado.
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2 RECURSOS DIDTICOS E OS PROGRAMAS DE ALFABETIZAO DEJOVENS E ADULTOS NO BRASIL: ELEMENTOS PARA UMACONTEXTUALIZAO
O mundo do tamanho do conhecimento que temos dele.(Guimares Rosa)
Analisando os registros histricos percebe-se que foi no perodo colonial que
ocorreram as primeiras iniciativas de Educao de Jovens e Adultos no Brasil, com a
presena dos Jesutas que tinham por misso catequisar os ndios e difundir o
evangelho, com um mtodo de ensino baseado no Ratio Studiorium (conjunto de
regras com preceitos religiosos). Assim, esses primeiros educadores, formados a
partir de princpios religiosos transmitiam normas de comportamento e ensinavam os
ofcios necessrios ao funcionamento da economia colonial, inicialmente aos
indgenas e, posteriormente, aos escravos, em grande parte pela oralidade, dada
escassez de outros recursos didticos na poca.
Mais tarde os Jesutas se encarregaram das escolas de humanidades para os
colonizadores e seus filhos. Assim, o que se observava que, durante quase quatro
sculos, prevaleceu o domnio da cultura branca, crist, masculina e alfabetizada
sobre a cultura dos ndios, negros, mulheres e analfabetos, constata-se o desenrolar
de uma educao seletiva, descriminatria e excludente (PAIVA, 1987, p. 58).
H meno de instruo primria gratuita para todos os cidados na primeira
Constituio Brasileira de 1824, no entanto sabemos que a educao ficou durante
um longo perodo, destinada s elites. Em consequncia disso, pouco a pouco, foi
aumentando o nmero de analfabetos na populao brasileira. Em Beisegel (1974)
encontramos referncia sobre a educao de adultos aps a Repblica, segundo
esse autor, o recenciamento de 1920 apresentava um ndice de 72% da populao,
acima de 5 anos de idade, analfabeta.
Com a Revoluo de 1930, teve incio o processo de reformulao da funo
do setor pblico no Brasil e a sociedade brasileira passou por grandes
transformaes, decorrentes do processo de industrializao. Com a promulgao
da Constituio de 1934 foi previsto o ensino obrigatrio tanto para crianas quanto
para adultos, nessa promulgao tambm mencionado o direito do estudante ao
Livro Didtico e ao Dicionrio da Lngua Portuguesa. Segundo Haddad e Di Pierro
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(2000) (...) na Constituio de 34, pela primeira vez, a educao de jovens e adultos
era reconhecida e recebia um tratamento particular.
Em 1938, o Decreto-Lei N. 1.006/38 de 30/12/1938 cria a Legislao do Livro
Didtico, que estabeleceu condies para produo, importao e utilizao do livro
didtico.
Por meio do recenseamento geral, em 1940, a divulgao de que 55% dos
brasileiros com 18 anos eram analfabetos, despertou o Pas para o combate
nacional ao analfabetismo, fato esse que, ligado s campanhas de alfabetizao
propostas pela UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a
Cincia e a Cultura) em pases com grandes desigualdades sociais, impulsionaram a
projetar a implantao de uma rede de ensino primrio supletivo para adultos
analfabetos no Brasil.
2.1 CAMPANHA DE EDUCAO DE ADULTOS E O USO DA CARTILHA NAALFABETIZAO
Com o fim da Ditadura de Vargas em 1945, o pas vivia a efervescncia
poltica da redemocratizao. Era urgente a necessidade de aumentar as bases
eleitorais para a sustentao do governo central, integrar as massas populacionais
de imigrao recente e tambm incrementar a produo. Para tanto, era necessrio
oferecer instruo mnima populao.
Em 1947, foi lanado um projeto nacional intitulado Campanha de Educao
de Adultos, idealizada por Loureno Filho, inspirada no mtodo de Laubach que se
fundamentava nos estudos de psicologia experimental realizados nos Estados
Unidos nas dcadas de 20 e 30.
Frank Charles Laubach nasceu na cidade de Benton, Pensylvania, Estados
Unidos. Formou-se na Universidade de Princeton. Doutorou-se em Sociologia na
Universidade de Columbia e especializou-se em Letras, Pedagogia e Teologia.
Iniciou um trabalho de assistncia humanitria nas Filipinas em 1915 e, em 1928,
formulou um mtodo baseado no conhecimento prvio dos adultos, alfabetizando
60% do total da populao nativa, sendo que seu mtodo foi adaptado para os 17
dialetos falados nas Filipinas.
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As experincias de Laubach chamaram a ateno de vrios governos no
mundo, e ele chegou a preparar lies e treinar pessoas em mais de cem pases em
trezentas lnguas e dialetos diferentes. Em 1945, a convite de Loureno Filho,
Laubach esteve no Brasil proferindo palestras e cursos baseados em seu mtodo.
De acordo com Vieira (2008), a metodologia de Laubach apresenta os
seguintes princpios:
todos so capazes de aprender, basta-lhes oportunidade e incentivo;
a educao de jovens e adultos construda a partir de conhecimentos j
existentes e cabe ao alfabetizador ajud-los a construir novos conhecimentos a partir
destes;
o aluno se interessa por assuntos que faam parte de seu cotidiano, assim ele
poder estabelecer pontos entre o conhecido e o novo;
o aluno deve ser motivado sempre, mesmo que erre, e as correes devem ser
feitas de forma a motiv-lo a novas tentativas;
elogios, palavras de nimo e conscientizao so pontos relevantes de sua
proposta;
alfabetizador e aluno mantm, antes de tudo, uma relao de amizade, na qual a
confiana e o preparo fazem a grande diferena;
propor um caminho para a escrita e leitura sem grandes dificuldades e
abstraes, fazendo com que o aluno sinta-se capaz, j que conseguir ler palavras
e at um pequeno texto na primeira aula;
materiais de apoio devem ser utilizados, cabe a cada alfabetizador adapt-los
quando necessrio;
processo de construo e compreenso referente linguagem escrita veiculando
significado e representao do objeto, acompanhado pelo domnio dos mecanismos
do ler e escrever, isto , primeiramente o significado para depois mecaniz-los;
condies de reconhecer o caminho mais lgico da leitura, para, a partir deste
estgio, elaborar outros caminhos;
partindo do conhecido para o desconhecido, do geral para o particular;
cada aluno tem direito a ter seu prprio ritmo de aprendizagem;
ter alunos em diferentes estgios um ganho e no um problema;
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cada alfabetizador deve se esforar para oferecer o melhor, porm, no havendo
instalaes disponveis, pode-se alfabetizar em qualquer lugar ou circunstncia;
no importa a idade, todos podem aprender.
Para Laubach o analfabeto no deixa de ser uma pessoa instruda pelo fato
de no saber ler e escrever. Ele s no teve acesso ao conhecimento formal.
Promover a alfabetizao mudar a conscincia desta pessoa, reintegrando-a ao
meio em que vive e colocando-a no mesmo plano de conhecimento de direitos
humanos fundamentais (LAUBABACH apud VIEIRA, 2008, p. 6).
No Brasil, a I Campanha de Educao de Adultos, inspiradas nos princpios
do mtodo Laubach, consistia num processo que contemplava desde a alfabetizao
intensiva, com durao de trs meses, passando pelo ento curso primrio, dividido
em dois perodos de sete meses, culminando na etapa final denominada ao em
profundidade, voltada capacitao profissional e ao desenvolvimento comunitrio
(HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 91).
Em um curto perodo de tempo, foram criadas vrias escolas supletivas,
mobilizando esforos das esferas administrativas, de diversos profissionais e
voluntrios. Foi criado pela primeira vez, um material didtico especfico para o
ensino da leitura e da escrita para os adultos.
O Primeiro guia de leitura, distribudo pelo ministrio em larga escala para as escolassupletivas do pas, orientava o ensino pelo mtodo silbico. Consistia no uso de uma cartilhapadronizada, com lies de nfase na organizao fontica das palavras. As lies partiamde palavras-chave selecionadas e organizadas segundo as caractersticas fonticas. A funodessas palavras era remeter aos padres silbicos, como foco de estudo. As slabasdeveriam ser memorizadas e remontadas para formar outras palavras. As primeiras liestambm continham pequenas frases montadas com as mesmas slabas. Nas lies finais, asfrases compunham pequenos textos contendo orientaes sobre preservao da sade,tcnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo (RIBEIRO, 1997, p. 29).
Assim a educao de adultos desenvolveu-se a partir das atividades de
alfabetizao, que fornecia alm dos cdigos lingusticos valores que permitiam
participao social, pois essa alfabetizao era orientada a integrar os adultos
iletrados, ensinando-lhes fundamentalmente, leitura, escrita e matemtica. O
alfabetizador em grande parte era um alfabetizador leigo que seguia as orientaes
da cartilha.
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A avaliao da Campanha de Educao de Adultos, segundo Rocco (1979),
mostrou-se vitoriosa na sua primeira dcada, pois alm da instalao de vrias
classes, possibilitou a elevao da taxa de alfabetizao. No entanto, a execuo da
campanha foi sendo cada vez mais descentralizada e com a mudana de governo
foram se extinguindo as verbas, ficando as aes da campanha cada vez mais
dependentes de doaes e dos trabalhos de voluntrios da base popular.
De acordo com Haddad e Di PIERRO (2000), outras campanhas foram
organizadas pelo Ministrio da Educao e Cultura: em 1952 a Campanha Nacional
de Educao Rural e em 1958, a Campanha Nacional de Erradicao do
Analfabetismo. Ambas tiveram vida curta e pouco realizaram, pois a preocupao,
mesmo se inserindo dentro da vertente da Educao Popular, era muito mais em
diminuir ndices de analfabetismo, do que a preocupao com a qualidade da
educao e emancipao da populao.
2.2 MOVIMENTO DE ALFABETIZAO PARA CONSCIENTIZAO: CRTICA AOUSO DA CARTILHA
No final da dcada de 50, as crticas Campanha de Educao de Adultos
dirigiam-se tanto s suas deficincias administrativas e financeiras quanto sua
orientao pedaggica. Denunciava-se o carter superficial do aprendizado que se
efetivava no curto perodo da alfabetizao, a inadequao do mtodo para a
populao adulta e mesmo material didtico (cartilha) para as diferentes regies do
pas.
Todas essas crticas convergiram para uma nova viso sobre o problema do
analfabetismo e para a consolidao de um novo paradigma pedaggico para a
educao de adultos, cuja referncia principal foi o educador pernambucano Paulo
Freire. Com a experincia em Angicos (Rio Grande do Norte), Freire alfabetizou 300
trabalhadores, em 45 dias, sem a tradicional cartilha, com uma perpectiva de
educao para libertao dos oprimidos, transcendendo as tcnicas, centrado em
elementos de conscientizao.
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O pensamento pedaggico de Paulo Freire, assim como sua proposta para a alfabetizao deadultos, inspiraram os principais programas de alfabetizao e educao popular que serealizaram no pas no incio dos anos 60, que trabalhavam com uma perpectiva poltico-cultural, envolvendo a igreja, partidos polticos de esquerda, estudantes e outros setores(PAIVA,1987, p. 216).
Esses programas foram empreendidos em grande parte por professores
leigos, estudantes e catlicos engajados numa ao poltica junto aos grupos de
vertentes populares. Esses diversos grupos de educadores articularam-se e
passaram a pressionar o governo federal para que os apoiasse e estabelecesse
uma coordenao nacional das iniciativas.
Em janeiro de 1964, foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetizao, que
previa a disseminao por todo Brasil de programas de alfabetizao, orientados
pela proposta de Paulo Freire, que contava em grande parte com alfabetizadores
populares. A preparao do plano, com forte engajamento de estudantes, sindicatos
e diversos grupos estimulados pela efervescncia poltica da poca, seria
interrompida alguns meses depois pelo Golpe Militar.
O paradigma pedaggico que se construiu nessas prticas baseava-se num
novo entendimento da relao entre a problemtica educacional e a problemtica
social. Antes apontado como causa da pobreza e da marginalizao, o
analfabetismo passou a ser interpretado como efeito da situao de pobreza gerada
por uma estrutura social no igualitria (PAIVA, 1987, p. 216).
Paulo Freire (1996, p. 48) criticou a chamada educao bancria que
considerava o analfabeto como algum que no possui cultura ou conhecimento,
uma espcie de banco onde o educador deveria depositar conhecimento. Tomando
o educando como sujeito de sua aprendizagem, ele propunha uma ao educativa
que no negasse sua cultura, mas que a fosse transformando atravs do dilogo.
Com uma proposta de alfabetizao de adultos conscientizadora, valorizando
os saberes dos educandos, prescindindo da utilizao de cartilhas, considerando
que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, Freire desenvolveu um
conjunto de aes pedaggicas, amplamente divulgadas e conhecidas.
Na proposta de Freire, no processo anterior ao incio da alfabetizao de
jovens e adultos o alfabetizador deveria fazer uma pesquisa sobre a realidade
existencial do grupo junto ao qual iria atuar. Concomitantemente, faria um
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levantamento do universo vocabular, ou seja, das palavras utilizadas pelo grupo
para expressar essa realidade, com objetivo de levar o educando a assumir-se como
sujeito de sua aprendizagem, valorizando a cultura local. Desse universo, o
alfabetizador deveria selecionar as palavras com maior sentido, que expressassem
as situaes existenciais mais importantes. Depois, era necessrio selecionar um
conjunto que contivesse os diversos padres silbicos da lngua e organiz-lo
segundo o grau de complexidade desses padres. Essas seriam as palavras
geradoras, a partir das quais se realizaria tanto o estudo da realidade como da
leitura e da escrita, ou seja, a leitura de mundo e a leitura da palavra. Tratava-se
tambm de ultrapassar a viso ingnua da realidade e desmistificar a cultura letrada,
na qual o educando estaria se iniciando, passando a uma viso crtica de mundo.
Utilizando a exposio escrita aliada a uma ilustrao, o educador deveria
dirigir a discusso na qual fosse sendo evidenciado o papel ativo dos homens como
produtores de diferentes formas de cultura. A partir da situao-problema ou a da
palavra geradora, desencadeava-se um debate oral e em seguida a palavra escrita
era analisada em suas partes componentes: as slabas. Enfim, era apresentado um
quadro com as famlias silbicas com as quais os alfabetizandos deveriam montar
novas palavras.
Com um elenco de dez a vinte palavras geradoras, acreditava-se conseguir
alfabetizar um educando, ainda que num nvel rudimentar. Numa etapa posterior, as
palavras geradoras seriam substitudas por temas geradores, a partir dos quais os
alfabetizandos aprofundariam as anlises dos problemas comunitrios ou sociais,
sempre numa viso crtica.
Nesse perodo, foram produzidos diversos materiais de alfabetizao
orientados por esses princpios. Materiais estes, normalmente elaborados regional
ou localmente, procurando expressar o universo vivencial dos alfabetizandos. Esses
materiais continham palavras geradoras acompanhadas de imagens relacionadas a
temas para debate e os quadros de descoberta com as slabas derivadas das
palavras, acrescidas de pequenas frases para leitura. O que caracterizava esses
materiais no era apenas a referncia realidade imediata dos adultos, mas,
principalmente, a inteno de problematizar essa realidade.
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Com o reordenamento poltico para proporcionar condies para o
desenvolvimento do modelo capitalista, a educao bsica para adolescentes e
adultos ficou nas mos dos governos autoritrios, a partir de 1964, com represso
direta aos trabalhos envolvidos na educao popular.
Nesse momento, houveram vrias mudanas no campo das polticas sociais,
em especial na educao de adultos. Pessoas e grupos que estavam at ento
voltados para os trabalhos de educao popular foram reprimidos e os responsveis
expulsos do pas entre eles Paulo Freire.
A multiplicao dos programas de alfabetizao de adultos, secundada pela organizaopoltica das massas, aparecia como algo especialmente ameaador aos grupos direitistas; jno parecia haver mais esperana de conquistar o novo eleitorado (...) a alfabetizao eeducao das massas adultas pelos programas promovidos a partir dos anos 60 apareciacomo um perigo para a estabilidade do regime, para a preservao da ordem capitalista.Difundido novas ideias sociais, tais programas poderiam tornar o processo polticoincontrolvel por parte dos tradicionais detentores do poder e a ampliao dos mesmospoderia at provocar uma reao popular importante a qualquer tentativa mais tardia de golpedas foras conservadoras (PAIVA,1987, p. 259).
Com o Golpe Militar de 1964, os movimentos de alfabetizao foram proibidos
e alguns de seus livros foram confiscados por serem classificados de teor comunista.
Os militares por considerarem o programa uma ameaa aos seus objetivos
acabaram com o movimento, prendendo e exilando alguns de seus integrantes
(HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 53).
Em 1966, o programa encerrou-se em alguns estados devido presso feita
pelo governo militar. O governo s permitiu a realizao de programas de
alfabetizao de adultos de carter assistencialista e conservadores, at que, em
1967, o prprio governo militar assumiu o controle dessa atividade lanando o
Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL).
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2.3 MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAO (MOBRAL) E O CONJUNTODIDTICO BSICO
O Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL) foi a resposta do regime
militar a ainda grave situao do analfabetismo no pas. Criado em dezembro de
1967, por meio da lei n 5.379, com objetivo geral de erradicar o analfabetismo e
possibilitar educao continuada este programa atingiu nos quatro primeiros meses
uma mdia de 500.000 alunos e mostrou, ao mesmo tempo, a necessidade de dar
continuidade aos cursos e de estabelecer, posteriormente, o ensino supletivo, criado
em 1971, por meio da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n 5.692 (PAIVA, 1987, p.
197).
Ainda de acordo com a autora (op. cit), nesse contexto, passou-se a entender
a poltica educacional de adultos como incorporao das prticas de temas ligados
ao desenvolvimento, como: educao e investimento, teleducao e a tecnologia
educacional, ou seja, a educao era alinhada ao modelo global, buscando
racionalizar os recursos, estabelecendo metas.
As tcnicas utilizadas no processo de alfabetizao consistiam em
codificaes de palavras preestabelecidas, escritas em cartazes com as famlias
fonticas, quadros ou fichas de descoberta, muito prximas das metodologias
anteriormente utilizadas no modelo de Paulo Freire, mas com a diferena
fundamental: as palavras geradoras tanto quanto as fichas de codificaes eram
elaboradas da mesma forma para todo o Brasil e no temas geradores a partir de
problemticas sociais particulares do povo. Tratava-se fundamentalmente de ensinar
a ler, a escrever e a contar e no a busca da autonomia e formao do povo.
As orientaes metodolgicas e os materiais didticos do Mobral reproduziram muitosprocedimentos consagrados nas experincias de incios dos anos 60, mas esvaziando-os detodo sentido crtico e problematizador. Propunha-se a alfabetizao a partir de palavras-chave, retiradas da vida simples do povo, mas as mensagens a elas associadas apelavamsempre ao esforo individual dos adultos analfabetos para sua integrao nos benefcios deuma sociedade moderna, pintada sempre de cor-de-rosa (RIBEIRO, 1997, p. 32).
Para se atingir os objetivos do programa foram criados materiais didticos
constitudo de: livro texto, livro glossrio, livro de exerccio de matemtica, livro do
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professor e um conjunto de cartazes. Esse material foi modificado em 1977 e passou
a ser chamado de Conjunto Didtico Bsico.
A capacitao dos alfabetizadores (tambm chamados de monitores ou
professores no profissionais) pautava-se na ideia de que
(...) o recurso da utilizao de pessoas da comunidade em geral para ensinar aos que sabemmenos vlido, legtimo, natural e a grande opo para pases ou regies com escassez derecursos humanos qualificados. (...) E o que se faz, ento para eliminar os problemasdecorrentes dessa deciso? Treinamento repetido, na metodologia de alfabetizao, a todosos monitores; fornecimento de um bom material didtico ao aluno e de um excelente manualao professor, capaz de servir-lhe de apoio em todas as dificuldades; estabelecimento de umsistema de superviso, com pessoas de timo nvel educacional, bem treinadas eselecionadas. E, por muito tempo, os alunos receberam um jornal informativo; alm disso, asclasses dispem de um jornal mural, cujo modo de utilizao explicado ao alfabetizador,atravs de um boletim especial. Depois, foram criados programas de que o prprio professorpudesse beneficiar-se, melhorando seu contedo cultural (CORRA, 1979, p.38).
O entendimento era de que um bom material didtico como um guia ao
professor que tivesse um treinamento e seguisse as recomendaes didticas
bastavam para qualidade no trabalho pedaggico com alfabetizao.
Essa concepo deriva do modelo tecnicista influncia recebida dos Estados
Unidos da Amrica e das pesquisas behavioristas baseadas em mecanismos de
estmulo-resposta proposta por Skinner.
Nesse modelo o ensino representado por padres de comportamento, que
podem ser mudadas atravs de treinamento. A aprendizagem consiste num arranjo
e planejamento de continncias de reforos (elogios, graus, notas, prmios,
reconhecimento do mestre e dos colegas, prestgios). O professor assegura a
aquisio de padres, devendo prever o repertrio final desejado, ele quem dever
dirigir o ensino de modo a atingir os objetivos (MIZUKAMI, 1986).
Assim o mtodo do MOBRAL no partia do dilogo, da realidade existencial,
mas de lies preestabelecidas.
Considerando as similaridades das propostas podemos afirmar que o mtodo
de Paulo Freire foi refuncionalizado como prtica, no de liberdade, mas de
integrao ao 'Modelo Brasileiro' ao nvel das trs instncias: infra-estrutura,
sociedade poltica e sociedade civil (FREITAG, 1986, p. 93).
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Com a emergncia dos movimentos sociais e o incio da abertura poltica na
dcada de 80, essas pequenas experincias foram se ampliando, construindo canais
de trocas de experincia, reflexo e articulao. Projetos de alfabetizao se
desdobraram em turmas de ps-alfabetizao, em que se avanava no trabalho com
a lngua escrita, alm das operaes matemticas bsicas.
Tambm as administraes de alguns estados e municpios maiores
ganhavam autonomia com relao ao Mobral, acolhendo educadores que se
esforaram por reorientar seus programas de educao bsica de adultos.
Desacreditado nos meios polticos e educacionais, o Mobral foi extinto em 1985. Seu
lugar foi ocupado pela Fundao Educar, que abriu mo de executar diretamente os
programas, passando a apoiar financeira e tecnicamente as iniciativas de governos,
entidades civis e empresas conveniadas.
2.4 FUNDAO EDUCAR
A Fundao EDUCAR surgiu em 1985, substituindo do MOBRAL. Porm a
transferncia de bens e recursos s foi efetivada pelo Decreto N 92.374, de 6 de
fevereiro de 1986. Substancialmente, a Fundao EDUCAR promovia a execuo
dos programas de alfabetizao por meio do apoio financeiro e tcnico s aes de
outros nveis de governo, de organizaes no-governamentais e de empresas
(Parecer CNE/CEB N. 11/2000), no havendo uma unidade de esforos para a
alfabetizao de jovens e adultos. Havendo, portanto, uma retirada das aes do
estado em relao EJA.
Nesse perodo, foram criados no Paran os CES (Centros de Estudos
Supletivos) que atualmente so denominados de CEEBJAS (Centros Estaduais de
Educao Bsica para Jovens e adultos).
De 1981 a 1989 apesar das quedas observadas, ao final desse perodo a taxa
de analfabetismo da populao rural situava-se num patamar bastante alto
(HADDAD, 2000, p. 38). Com a constituio promulgada em 1988, o dever do
Estado com a educao de jovens e adultos ampliado ao se determinar a garantia
de ensino fundamental obrigatrio e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta para
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todos os que a ele no tiveram acesso na idade prpria (CONSTITUIO
FEDERAL, 1988).
Contudo, nesse perodo, instituiu-se a poltica de descentralizao de poder e
descentralizao administrativa o que viabilizou parcerias entre organizaes da
sociedade civil e o Estado nos mais diversos nveis, estabelecendo parcerias na
definio e execuo das polticas sociais, municipalizando as aes do Estado em
reas diversas, como sade, educao e assistncia social. No caso das
campanhas de alfabetizao de jovens e adultos, essas medidas refletiram nas
iniciativas privadas e no-governamentais que, durante a dcada de 1990, foram s
maiores responsveis pela atuao nesse setor.
Com a extino da Fundao EDUCAR no ano de 1990, ano em que a
UNESCO institui como o Ano Internacional da Alfabetizao, o governo federal
omite-se tambm do cenrio de financiamento para a EJA, ocorrendo a cessao
dos programas de alfabetizao at ento existentes.
Nesse mesmo ano, realiza-se em Jomtiem, Tailndia, a Conferncia Mundial
de Educao para todos, financiada pela Organizao das Naes Unidas para a
Educao e Cultura (UNESCO), pelo Fundo das Naes Unidas para a Infncia
(UNICEF), pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e
pelo Banco Mundial, explicitando a dramtica realidade mundial de analfabetismo de
pessoas jovens e adultas.
Desde ento, se tem intensificado as discusses em torno da alfabetizao,
assim como uma srie de aes tem chamado a ateno do mundo sobre problemas
internacionais cruciais.
Aps a Conferncia Mundial sobre a Educao para Todos responder s necessidadeseducativas fundamentais (Jomtien, Tailndia, 1990) ocorreram a Conferncia das NaesUnidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992), a ConfernciaMundial sobre os Direitos do Homem (Viena, 1993), a Conferncia Internacional sobre aPopulao e o Desenvolvimento (Cairo, 1994), a Cpula Mundial para o DesenvolvimentoSocial (Copenhague, 1995), a IV Conferncia Mundial sobre as Mulheres (Beijing, 1995), aConferncia das Naes Unidas sobre a Habitao Humana (Habitat II, Istambul, 1996), e,para terminar, a Cpula Mundial da Alimentao (Roma, 1996). Em todas aquelas ocasies,os dirigentes mundiais manifestaram a expectativa de que a educao oferea scompetncias e criatividade dos cidados o meio de exprimir-se. A educao tem sidoconsiderada como um elemento indispensvel de uma estratgia para apoiar os mecanismosdo desenvolvimento sustentvel (BRASIL ALFABETIZADO, 2006, p. 46).
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Adentrando a dcada de 90, no limiar do sculo XXI, o Brasil apresentava um
quadro com 20% da populao total com 15 anos ou mais em estado de
analfabetismo. Esse quadro revela-se ainda mais severo, considerando o
contingente de analfabetos funcionais, ou seja, aqueles com escolaridade mdia
dessa faixa etria inferior a quatro anos de estudos, ou que no conseguem ler e
escrever um bilhete simples, conforme definio do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatstica (IBGE).
Ainda na dcada de 90, promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases da
educao nacional, Lei n 9394/96, na qual a EJA passa a ser considerada uma
modalidade da Educao Bsica nas etapas do Ensino Fundamental e Mdio,
usufruindo de uma especificidade prpria.
Na segunda metade da dcada de 90 evidenciou-se tambm um processo de
articulao de outros segmentos sociais como Organizaes no Governamentais
(ONGs), Movimentos Sociais, Organizaes Empresariais, Sistema S,
Alfabetizao Solidria, Universidades entre outros, buscando debater e propor
polticas pblicas para EJA. Nesse perodo, passam a articular-se movimentos que
do origem aos Fruns de EJA, ENEJAS (Encontros Nacionais de Educao de
Jovens e Adultos) e no Paran, os EPEJAS (Encontros Paranaenses de EJA), assim
como outros estados passam a articular seus prprios fruns.
No final de 1990, foi implantado o Programa Nacional de Alfabetizao e
Cidadania (PNAC) do governo de Fernando Collor de Melo, com o objetivo de
reduzir o ndice de analfabetismo em 70% num perodo de cinco anos, mas o
programa no durou nem um ano. Nesse perodo, a atuao mais marcante ficou
por conta do Programa Alfabetizao Solidria (PAS) e que conta com parcerias
firmadas entre o governo e instituies pblicas e privadas.
2.5 PROGRAMA ALFABETIZAO SOLIDRIA - PAS
O Programa Alfabetizao Solidria (PAS) foi implantado em janeiro de 1997
como uma meta governamental do presidente Fernando Henrique Cardoso. O
programa tinha como proposta inicial atuar na alfabetizao de jovens e adultos nas
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regies Norte e Nordeste do pas, porm conseguiram abranger as regies Centro-
Oeste e Sudeste, inclusive alguns pases da frica.
O PAS foi concebido em parceria entre o Conselho da Comunidade Solidria
e o Ministrio da Educao, e executado a partir de parceria com instituies de
ensino superior e empresas privadas. Quando de sua criao, o PAS tinha como
objetivo
(...) desencadear um movimento nacional no combate ao analfabetismo no Brasil.Diferentemente de outros programas j desenvolvidos, o Programa Alfabetizao Solidriatem, desde o seu nascedouro, a clareza de que no pode resolver os problemas sozinho.Nesse sentido, incentiva a parceria entre governo, a iniciativa privada, as universidadespblicas e privadas e as prefeituras para, no conjunto, somar esforos com vistas reduodos ndices de desigualdades e de condies subumanas, especialmente, nas regies epopulaes mais necessitadas. (PAS, 1997, p. 11).
O formato de parcerias proposto pelo programa baseado num modelo
solidrio de que o empenho da sociedade como um todo fundamental, quando se
enfrenta um problema social to grave quanto o analfabetismo (PAS, 1997, p.11). A
efetivao do programa ocorre na realizao das atividades alfabetizadoras nos
municpios parceiros, sendo as atividades organizadas em mdulos, com durao de
seis meses. O primeiro ms destinado ao curso de capacitao dos
alfabetizadores, e os outros cinco meses so destinados ao processo de
alfabetizao em sala de aula.
Na concepo do PAS, para iniciar o processo de alfabetizao necessrio
capacitar o alfabetizador com cursos preparatrios no incio do processo. Cabe
ressaltar que no PAS no h unicidade na recomendao nem quanto capacitao
do alfabetizador, nem quanto metodologia e recursos didticos a serem utilizados.
Dessa forma, o modelo de alfabetizao e de capacitao ficava a cargo da
instituio responsvel por esse processo, no caso, as universidades, as quais cabia
o papel de selecionar e capacitar os alfabetizadores e de realizar visitas mensais s
turmas em andamento, para acompanhamento e orientao do trabalho.
Sobre o curso de capacitao de alfabetizadores, o documento do PAS
destaca
A fase de capacitao dos alfabetizadores , sem dvida, uma etapa muito importante doPrograma; pode-se mesmo afirmar que nesse momento que o sucesso ou fracasso daalfabetizao se inicia, pois muitas vezes, mesmo tendo concludo o curso de magistrio, os
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professores dos municpios apresentam carncias de contedo bem relevantes. (PAS, 1997,p.13).
Cabe ressaltar que para uma atuao eficaz na alfabetizao de jovens e
adultos, necessrio bem mais que cursos de capacitao, so necessrios
projetos de formao inicial e tambm continuada.
Ainda no modelo de gesto do PAS, havia um coordenador municipal,
normalmente indicado pelo prefeito, o qual deveria acompanhar todo o processo, e
um assessor pedaggico, funo criada em 1999 com o intuito de auxiliar o
coordenador municipal, que alm do acompanhamento s turmas, gerenciamento de
distribuio de merenda, responsvel por todos os aspectos infraestruturais para
execuo do PAS no municpio.
empresa parceira, cabia a adoo de um ou mais municpios e, ao faz-lo,
responsabilizava-se por despesas como alimentao, transporte, hospedagem,
merenda dos alunos, bolsas dos alfabetizadores, durante o mdulo, no municpio.
Cada alfabetizador ficava encarregado por uma turma, com um mnimo de 12
a 15 alunos e no mximo 25.
O Conselho da Comunidade Solidria, atravs da coordenao executiva do
PAS, definia os municpios, articulando as entidades envolvidas e mobilizando novos
parceiros. A ela cabia o gerenciamento de todo o processo e encaminhamentos para
o repasse dos recursos obtidos junto s empresas parceiras.
Uma das publicaes oficiais sintetiza o modelo de parceria adotado pelo
PAS
Um modelo simples de atuao, desenvolvido a partir do Conselho da Comunidade Solidria,permite que o custo mensal para a manuteno de um aluno do Programa AlfabetizaoSolidria seja de somente R$ 34,00, ao longo de um semestre. Esse valor dividido entre osparceiros, empresas ou pessoas fsicas, e o MEC. Cada parte contribui com apenas R$ 17,00por ms, o equivalente a cerca de dois ingressos em cinemas das grandes capitais brasileiras(PAS, 2000, p. 4).
O PAS previa a realizao peridica de avaliaes das atividades
desenvolvidas nos municpios a partir da mediao das instituies de ensino
superior envolvidas no processo.
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As informaes obtidas eram, posteriormente, tabuladas pela coordenao
executiva do programa, responsvel tambm pela divulgao. As avaliaes
apresentam dados sobre o aluno do programa, tais como gnero, faixa etria,
aprendizagem dos alunos, nmero de alunos atendidos, entre outros.
At o ano de 2002 o Programa Alfabetizao Solidria desenvolveu, entre outros, osseguintes projetos: Projeto Ver (1999) visava reduzir uma das principais razes da evasodos alunos: os problemas de viso dos quais se queixam mais de 18% dos alunos queabandonam a sala de aula; Projeto Grandes Centros Urbanos (1999) para atender jovens eadultos nas regies metropolitanas, onde o ndice percentual de analfabetismo no toelevado, mas a concentrao de pessoas no alfabetizadas grande; Projeto Rdio Escola:melhorando o trabalho em sala de aula, criado em 2001 a partir de parceria com a Secretariade Educao Distncia do Ministrio da Educao, baseava-se na utilizao, tanto nacapacitao dos alfabetizadores quanto nas salas de aulas, de programas radiofnicos quevisavam enriquecer as aulas de alfabetizao e estimular o interesse da participao dealunos e alfabetizadores; Projeto Alfabetizao Digital ( 2001), atendeu a 20 municpios emprojeto-piloto com a finalidade de propiciar, aos municpios, computadores para que osalfabetizadores tivessem contato com a tecnologia e estreitassem contatos com asinstituies de ensino superior; Projeto Promoo da Sade (2001) desenvolvido em parceriacom o Ministrio da Sade, consistia na distribuio de cartilhas com a qual O Programa nosomente melhora a qualidade de vida de seus alunos e alfabetizadores, mas tambm agregavalor aprendizagem da leitura e da escrita, inserindo-a em um processo maior de introduosocial e exerccio pleno da cidadania. (PAS, 2003, p.6).
Com a mudana de governo, o PAS passou a se chamar Alfabetizao
Solidria (ALFASOL), uma Organizao No-Governamental (ONG), que continua a
atender milhes de alfabetizandos recebendo recursos tambm do Programa Brasil
Alfabetizado.
2.6 PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO
De acordo com o Censo IBGE/2000 havia no Brasil, 16.294.889 pessoas com
mais de 15 anos que no sabiam ler nem escrever. Esse nmero correspondia, na
poca, 13,6% da nossa populao. Alm disso, o mesmo censo demonstrava que
33 milhes de brasileiros eram analfabetos funcionais, conceito definido pelo IBGE
para as pessoas com menos de quatro anos de estudo, ou que no conseguem ler
e escrever um bilhete simples.
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Na Tabela abaixo se observa a evoluo histrica dos ndices de
analfabetismo de jovens e adultos no Brasil no ltimo sculo e entre os ltimos anos
da dcada de 1990, em que denotada uma relativa estagnao nas taxas do
analfabestimo nos ltimos cinco anos.
TABELA I - TENDNCIA DO ANALFABETISMO NO BRASIL ENTRE AS PESSOAS COM 15ANOS DE IDADE OU MAIS, A PARTIR DE 1920.
ANO (FONTE) TOTAL ANALFABETA ANALFABETA%1920 (censo) 17.557.282 11.401.715 64.91930 (censo) 20.699.500 12.067.808 58,31940 (censo) 23.709.769 13.269.381 56.01950 (censo) 30.249.423 15.272.632 50.51960 (censo) 40.278.602 15.964.852 39.61970 (censo) 54.008.604 18.146.977 33.61980 (censo) 73.541.943 18.716.847 25.51990 (censo) 96.646.265 17.731.958 18.31991 (PNAD) 95.810.615 18.587.446 19.41992 (PNAD) 96.625.133 16.604.738 17.21993 (PNAD) 98.517.026 16.191.648 16.41995 (PNAD) 103.326.410 16.087.456 15.61996 (PNAD) 106.169.456 15.560.260 14.71997 (PNAD) 108.025.650 15.883.372 14.71998 (PNAD) 110.722.726 15.260.549 13.81999 (PNAD) 113.081.110 15.073.055 13.32000 (Censo) 119.533.04 16.294.889 13.6FONTE: IBGE/2000
Na tentativa de reduzir as taxas de analfabetismo o MEC lanou em 2001 o
Programa Brasil Alfabetizado.
O programa organizado em edies anuais, sendo uma a cada ano, com
durao em torno de 7 meses. Os alfabetizadores so contratados em sistema de
Bolsas sem vnculos empregatcios e em grande parte so alfabetizadores populares
e no professores, pois no exigido uma formao especfica para atuar no
programa.
A gesto descentralizada, cada instituio parceira responsavl pela
gesto de recursos, bem como pela seleo e acompanhamento dos
alfabetizadores, que por sua vez so responsaveis pela composio das turmas.
Contudo, h necessidade de prestao de contas e os dados do programa so
acompanhados pelo MEC atravs de um mapa do analfabetismo em que os dados
cadastrais de alfabetizandos, alfabetizadores e os locais de alabetizao so
compilados num sistema eletronico aberto a consulta dos parceiros e da
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comunidade. No mapa do analfabetismo disponvel em
http://www.mec.gov.br/Secad/sba/inicio.asp possvel visualizar as metas do
programa, bem como as aes regionais acompanhando o nmero de
alfabetizandos, alfabetizadores e de turmas em cada edio do programa em cada
regio do pas.
De acordo com o relatrio do Programa Brasil Alfabetizado de 2006, para os
anos 2001 e 2002 houve cerca de 530 mil matrculas anuais nos cursos de
alfabetizao para jovens e adultos. No perodo seguinte, entre 2003 a 2005, houve
um salto para 790 mil matrculas.
Durante a edio do programa no ano de 2006 o maior ndice de atendimento
se deu em reas urbanas (57%), ao contrrio disso, para os anos seguintes previa-
se uma nfase maior da campanha nas reas rurais e no atendimento s
diversidades.
Durante o ano de 2007 a bolsa paga aos alfabetizadores era de R$ 120,00
por ms, mais R$ 7,00 por ms por alfabetizando em sala, com um limite de 25
alunos por professor. Isso perfaz um valor de no mximo R$ 260,00 por ms. No
caso de turmas com alunos portadores de necessidades especiais ou jovens em
conflito com a lei, o valor pago ao alfabetizador de R$ 150,00 por ms mais R$
7,00 por aluno. No caso de ser necessrio um tradutor em Libras (Linguagem
Brasileira de Sinais), ele tambm receber uma bolsa mensal no valor de R$ 150,00.
Ainda de acordo com o mesmo relatrio, no ano de 2003, participaram,
recebendo recursos diretos do programa, 188 entidades, nmero que quase triplicou
no ano seguinte, alcanando 382 entidades, em 2005 este nmero passou para 642.
Trata-se, portanto, de um Programa de grande porte, tanto em termos do nmero
de alunos atendidos, quanto de entidades recebendo recursos diretos (BRASIL,
2006, p. 61).
Em 2004, o Ministrio da Educao passa por uma reestruturao institucional
e administrativa, com impactos significativos sobre o desenho do Programa Brasil
Alfabetizado. A responsabilidade pela alfabetizao de jovens e adultos, que at
ento, estava a cargo da Secretaria Extraordinria de Erradicao do Analfabetismo,
portanto, dissociada da responsabilidade pela Educao Continuada de Jovens e
Adultos (EJA) que estava a cargo Secretaria de Educao Bsica, ambas passam a
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http://www.mec.gov.br/Secad/sba/inicio.asphttp://www.pdfpdf.com/0.htm
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partir desse momento a integrar uma nica secretaria a de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade (SECAD).
A SECAD passa a ser responsvel tanto pelas agendas de alfabetizao e
como pela educao de jovens e adultos (EJA) incorporando avanos no que diz
respeito s polticas de educao continuada e na promoo da incluso
educacional de segmentos da populao excludos dos sistemas de ensino em
decorrncia das diferentes formas de discriminao e preconceito presentes na
sociedade brasileira.
Alm do redesenho do prprio Programa Brasil Alfabetizado, um importante
avano diz respeito incorporao da EJA no Fundo de Desenvolvimento da
Educao Bsica (FUNDEB). Com isso h um estmulo expanso da oferta e de
matrculas de EJA. A inteno era criar condies efetivas, do ponto de vista da
assistncia tcnica e financeira, para que os egressos do Programa Brasil
Alfabetizado pudessem encontrar nas redes de ensino condies de continuar seus
estudos (BRASIL ALFABETIZADO, 2006, p. 65).
A partir da avaliao do Programa Brasil Alfabetizado em 2006, so
incorporadas novas variveis relacionadas metodologia de alfabetizao e aos
recursos didticos pedaggicos necessrios ao processo de alfabetizao. De
acordo com o que fora diagnosticado nos anos anteriores, uma das principais
dificuldades relacionadas alfabetizao diz respeito falta de materiais didticos
disponveis, aliada pouca experincia e formao pedaggica especfica para lidar
com esse pblico.
De acordo com o relatrio do programa (2006) as metodologias e os materiais
didticos utilizados so os mais diversos possveis, dada grande variedade de
instituies envolvidas no processo.
At o ano de 2006 o Programa Brasil Alfabetizado no recomendava aos seus
parceiros nenhum tipo de material didtico, no entanto, sabe-se que as cartilhas e
livros didticos do ensino regular so bastante comuns em cursos de Alfabetizao
de Jovens e Adultos, como tambm bastante comum ainda a produo prpria, ou
seja, de autoria de cada instituio os materiais didticos a serem utilizados nas
aulas.
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Na tentativa da amenizar a carncia de materiais didticos, no incio de 2006,
o MEC realizou o Concurso Literatura para Todos, com a finalidade de incentivar a
produo de obras inditas, escritas especialmente para os jovens e adultos recm
alfabetizados. Em 2007 lanado o Programa Nacional do Livro Didtico para a
Alfabetizao de Jovens e Adultos/PNLA/2008, sendo a primeira vez na Histria do
pas que se realiza uma avaliao sistemtica de obras didticas voltadas para essa
modalidade educativa. No edital do PNLA/2008, explcita a tentativa de se resolver
os problemas apontados na avaliao, quando prev que os recursos didticos
devem dar suporte ao alfabetizador na atuao cotidiana, bem como fornecer
subsdios para formao, seja com um aporte terico, seja indicando sugestes de
aperfeioamento.
Cabe ressaltar que somente um material didtico no dar conta da
complexidade do processo de alfabetizao, muito menos da prepao e formao
do alfabetizador, como comunente se diz, o livro didatico mais um recurso didtico.
Outra questo diz respeito a prpria conjuntura do programa de alfabetizao como
o prprio nome diz um programa e no uma poltica ampla de educao de
pessoas adultas. Sabemos que a ao alfabetizadora de uma nao envolve muitos
outros meandros sociopolticos e pedaggicos.
2.6.1 Perfil dos alfabetizadores do Programa Brasil Alfabetizado
O Programa Brasil Alfabetizado contou com uma mdia de 85 mil
alfabetizadores em cada fase do programa. O relatrio de avaliao do programa
(BRASIL, 2006) demonstra que em sua maioria, as alfabetizadoras so mulheres
(85%) e se intitulavam como educadoras populares, no-brancas, com idade entre
21 e 30 anos e que tem ensino bsico completo. Nessa avaliao ficou evidente
tambm a pouca experincia didtica, ainda que a alfabetizao de jovens e adultos
fosse a principal ocupao dessas alfabetizadoras.
O programa prev capacitao inicial e continuada para esse alfabetizador,
sendo ofertada em forma de um curso de capacitao inicial e um acompanhamento
ao longo do perodo de alfabetizao. Cada instituio parceira recebe do
MEC/Secad R$ 40,00 destinada a capacitao do alfabetizador, e mais o valor de
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R$ 10,00 por ms por alfabetizador para custeio da formao continuada. A
capacitao inicial dos alfabetizadores de, no mnimo, 30 horas e a continuada
deve ser presencial e coletiva, de, no mnimo, 2 horas/aula semanais. Contudo,
sabe-se que na prtica isso ocorre das mais variadas formas possveis. Experincias
vivenciadas pela autora frente a cursos de capacitao de alfabetizadores do
programa demonstram que de fato s 30 horas previstas de capacitao ocorrem
num nico encontro, no inicio da edio do programa o que acaba sendo insuficiente
para preparar alfabetizadores para as funes que a atividade requer. Temos
observado tambm que nem sempre h o devido acompanhamento semanal ou
reunio de estudos e planejamento como o programa prev, mesmo tendo a figura
de um coordenador, nem sempre h condies adequadas para que a capacitao
continuada se desenvolva. Com certeza isso tudo prejudica e diminui a qualidade do
trabalho com alfabetizao de jovens e adultos.
importante observar que o programa prev capacitao, que em geral
realizada num curso rpido. Cabe ressaltar que capacitar e formar possuem sentidos
diferentes. Segundo o dicionrio Aurlio, capacitar tornar capaz, habilitar; formar
significa dar forma a algo, instruir, educar, aperfeioar, destinar a estudos em
instituio de ensino superior.
Para Garcia, (1999, p. 19) o conceito formao geralmente associado a
alguma atividade, sempre que se trata de formao para algo. Assim, a formao
pode ser entendida com uma funo social de transmisso de saberes, de saber-
fazer ou do saber-ser que se exerce em benefcio do sistema econmico, ou da
cultura dominante. E completa explicando que a formao tambm pode ser
entendida como um processo de desenvolvimento e de estruturao da pessoa que
se realiza com o duplo efeito de uma maturao interna de possibilidades de
aprendizagem, de experincias dos sujeitos. Freire (1996, p. 14) reitera que formar
muito mais que puramente treinar.
Se considerar a complexidade do processo de alfabetizao e todos os
meandros de ensino e aprendizagem que ele envolve, cabe perguntar se somente
uma capacitao dar conta, ou que tipo de alfabetizador ser necessrio de fato
formar para exercer essa funo?
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Cabe ressaltar que de acordo com prprios estudos do MEC, no Mapa do
Analfabetismo, os relatores sugerem que para um programa de alfabetizao que
trabalhasse com um ciclo semestral e que tivesse por meta erradicar o
analfabetismo em quatro anos exigiria cerca de 200 mil alfabetizadores. Ao
considerar a erradicao do analfabetismo como meta factvel, os relatores reiteram
a necessidade de um grande esforo nacional para a formao do alfabetizador. O
que faltou muitas vezes foram programas de qualidade, claramente delineados para
seus diferentes perfis, e com o nvel de profissionalizao do alfabetizador que se
espera de qualquer atividade. Nesta rea, improvisao geralmente redunda em
fracasso.
Para Vasconcelos (2003) o alfabetizador deve ter uma viso ampla das vrias
concepes de alfabetizao e da diversidade metodolgica que se utiliza na
aprendizagem da leitura e da escrita, para sentir-se seguro e optar pelo mtodo mais
adequado s necessidades de aprendizagem do alfabetizando e sua realidade
concreta. O alfabetizador deve acompanhar discusses tericas, observando seus
princpios e utilizando-os para reformular sua prtica pedaggica.
Ainda de acordo com Vasconcelos, para uma boa formao de um
alfabetizador de jovens e adultos seria necessrio envolver conhecimentos nas
reas de andragogia, lingstica, didtica, psicologia do adulto e noes de
sociologia e antropologia. Isso requer uma preparao mais consistente no s em
relao s questes metodolgicas e didticas, mas tambm, em relao ao
conhecimento da realidade social dos educandos e dos diversos meios de orient-
los para a sua insero social no mundo letrado. Tambm em relao s diversas
maneiras de como construir conhecimentos, de como organizar e sistematizar seus
saberes adquiridos informalmente no convvio social com a famlia e com a
comunidade, de maneira que tais saberes sirvam de ponte para a estruturao dos
conhecimentos formais que vo sendo construdos na sala de aula, desenvolvendo,
segundo Freire, a leitura do mundo e a leitura da palavra.
Paulo Freire, nome central ao falarmos de educadores de jovens e adultos no
Brasil, deixa bem claro no livro Pedagogia da autonomia: saberes necessrios
pratica educativa, sua preocupao e requisitos para uma boa formao do
educador.
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40
A formao dos professores e das professoras devia insistir na construo deste sabernecessrio e que me faz certo desta coisa bvia, que a importncia inegvel que tem sobrens o contorno ecolgico, social e econmico em que vivemos. E ao saber terico destainfluncia teramos que juntar o saber terico-prtico da realidade concreta em que osprofessores trabalham (FREIRE, 1996, p. 155).
Para ele, a formao docente tem que promover a passagem da conscincia
ingnua conscincia crtica, ou seja, o caminho da curiosidade epistemolgica
(estudo crtico dos princpios, das hipteses e dos resultados). " pensando
criticamente a prtica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a prxima prtica".
Seu pensamento se abre numa nova dimenso na prtica educativa. Como afirma:
Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminao,
contra a dominao econmica dos indivduos ou das classes sociais. Sou professor
contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberrao: a misria na fartura
(FREIRE, 1996, p.115).
No Brasil, diante do nmero de pessoas que ainda no so alfabetizadas faz
se necessrio formar alfabetizadores nessa rea, proporcionando-lhes cursos de
formao com durao e contedos que lhes possibilitem uma compreenso mais
ampla das competncias que um alfabetizador de jovens e adultos deve possuir.
Para que os alfabetizandos tambm possam ser sujeitos do processo de construo
do conhecimento, fazendo o uso social da leitura e da escrita, exercitando sua
cidadania e consolidando seus conhecimentos por meio de sua incluso no mundo
letrado como sujeitos ativos.
Diante de tal urgncia, expomos a necessidade em formar alfabetizadores de
fato e no apenas capacit-los, oferecendo melhores condies do trabalho e
materiais didticos adequados prtica docente. Pois, a escola tem um papel
estratgico, pois pode ser o lugar onde "as foras emergentes da nova sociedade,