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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

SENTIDOS DE CORPO PARA MAIORES DE 60 ANOS:

Um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física

Júlio Afonso Jacques Gambôa

Rio de Janeiro 2014

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SENTIDOS DE CORPO PARA MAIORES DE 60 ANOS:

Um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física

Júlio Afonso Jacques Gambôa

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requesito para a obtenção do Título de Doutor em Saúde Coletiva Orientadores: Professor Doutor Luiz Fernando Rangel Tura e Professora Doutora Ivani Bursztyn

Rio de Janeiro Abril de 2014

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G192 Gambôa, Júlio Afonso Jacques.

Sentidos de corpo para maiores de 60 anos: um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física / Júlio Afonso Jacques Gambôa. – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2014.

153 f.: il.; 30 cm. Orientador: Luiz Fernando Rangel Tura. Co-orientador: Ivani Bursztyn.

Tese (Doutorado) - UFRJ / Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2014.

Referências: f. 138-146.

1. Saúde do idoso. 2. Representações sociais. 3. Atividade motora. 4. Corpo humano. 5. Qualidade de vida. I.Tura, Luiz Fernando Rangel. II. Bursztyn, Ivani. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. IV. Título.

CDD 613.0438

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Sentidos de corpo para maiores de 60 anos: um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física

Júlio Afonso Jacques Gambôa

Orientadores: Professor Doutor Luiz Fernando Rangel Tura e

Professora Doutora Ivani Burszty Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva. Examinada por: ________________________________________________________________ Professor Doutor Luiz Fernando Rangel Tura – (UFRJ/PPGSC) ________________________________________________________________ Professora Doutora Célia Pereira Caldas – (UERJ/PPGC; PPGENF) ________________________________________________________________ Professor Doutor Ricardo Vieiralves de Castro – (UERJ/PPGPSI) ________________________________________________________________ Professora Doutora Márcia de Assunção Ferreira – (UFRJ/PPGENF) ________________________________________________________________ Professora Doutora Diana Maul de Carvalho – (ENSP; UFRJ /PPGSC) ________________________________________________________________ Professora Doutora Ivani Bursztyn – (UFRJ/PPGSC) ________________________________________________________________ Professora Doutora Angela Maria Silva Arruda – (USP; UFRJ/PPGPSI), suplente ________________________________________________________________ Professora Doutora Aura Helena Ramos – (UERJ/PPGEDU), suplente

Rio de Janeiro Abril de 2014

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AGRADECIMENTOS

Aos Professores Doutores Luiz Fernando Rangel Tura e Ivani Bursztyn,

meus orientadores, pela gentileza, competência, respeito e dedicação com que

conduziram a realização desta tese. Em especial, um agradecimento ao Professor

Tura pelos constantes diálogos e profícuas reflexões que marcaram a etapa final

da análise das entrevistas, redação e organização do texto.

Aos Professores Doutores, integrantes da banca examinadora, por terem

gentilmente aceitado o convite para discutirem este trabalho. De modo particular,

às Professoras Célia Pereira Caldas, Diana Maul de Carvalho e Márcia de

Assunção Ferreira, que, tendo participado da qualificação, muito contribuíram

para a construção desta investigação.

À Professora Doutora Mirian Goldenberg, pela atenção e carinho, e por

suas observações sobre a busca de novas ideias a partir do material produzido

pelos sujeitos da pesquisa, sempre a provocar o aprofundamento das discussões.

Ao Professor Doutor Pierre Ratinaud, membro do Laboratório de Estudos e

Pesquisas Aplicadas em Ciências Sociais (LERASS) da Universidade de

Toulouse II, França, que prontamente respondeu a todos os meus e-mails a

respeito de dúvidas sobre o funcionamento do programa IRaMuTeQ.

Aos proprietários das academias Via Salus, Gávea Gym e Euclides Reis,

assim como aos seus profissionais, que gentilmente facilitaram a abordagem aos

frequentadores para que eu pudesse entrevistá-los. Aos Professores

responsáveis pelos projetos de ginástica em praça pública, Rafael e Marisa, que,

da mesma forma, motivaram seus alunos a participar desta investigação

científica.

À Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), instituição onde me

graduei, por ter consentido que pesquisasse os alunos do projeto Idosos em

Movimento: Mantendo a Autonomia (IMMA), sob a coordenação da Professora

Doutora Nádia Souza Lima da Silva, e da Universidade Aberta da Terceira Idade

(UnATI), sob a direção do Professor Doutor Renato Peixoto Veras.

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Agradeço, ainda, aos participantes da pesquisa, que voluntariamente se

dispuseram a responder as questões propostas nos instrumentos de coleta de

dados e sem os quais este estudo seria inviável.

À Iná Meireles, Cláudia Ragon e Helber Medeiros, amigos do doutorado,

pelo convívio fraterno e alegre ao longo desse período de férteis questionamentos

e aprendizados.

À Maria Spanó, amiga querida, por seu exemplo, palavras de incentivo e

disponibilidade afável, e que contribuiu decisivamente para a formatação desta

tese.

Ao amigo de sempre, Marcelo Rychter, por sua permanente boa vontade

em compartilhar seus conhecimentos em informática e pelas orientações de como

organizar o banco de dados da pesquisa, facilitando sobremaneira o acesso

recorrente a ele.

À Claudia, mulher e amiga, à Lígia, principal incentivadora da minha

caminhada acadêmica, ao Mário, amigo presente e fundamental para a superação

dos momentos difíceis de doença, durante esse percurso, e aos amigos do

Colégio Militar, que comigo colaboraram e me incentivaram a percorrer todo o

processo que agora se conclui com a defesa desta tese: Jorge, Rogério, Paulo

Henrique, Marilza, Liliana e Franklin.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização

deste trabalho, estendo o meu reconhecimento e a minha admiração.

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RESUMO

GAMBÔA, Júlio Afonso Jacques. Sentidos de corpo para maiores de 60 anos: um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física. 2014. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) -- Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

Esta pesquisa teve por objetivo apreender as representações sociais de

corpo construídas por praticantes de atividade física com 60 anos ou mais, de acordo com a teoria proposta por Moscovici (2012). Inicialmente, aplicou-se um questionário semiestruturado em 152 sujeitos, contendo dois testes de evocação livre de palavras, cujos termos indutores foram corpo e atividade física. Contou-se com o auxílio do programa EVOC® 2000 para proceder-se à análise prototípica desses resultados. O elemento saúde foi o único a confirmar centralidade em todas as estruturas analisadas, mas outras cognições importantes apareceram nas evocações, associadas às capacidades cognitivas, funcionais, à aparência física e à sociabilidade. Posteriormente, foram realizadas 27 entrevistas, em que se procurou aprofundar a temática do corpo. O programa IRaMuTeQ® processou o corpus, gerando seis classes lexicais, que foram agrupadas em três eixos de sentido: o das atividades físicas, o da beleza corporal e o dos cuidados de saúde. Para que se chegasse a esses resultados, foi necessário um processo de interpretação triangulado, dando sequência à triangulação metodológica iniciada na produção dos dados, ao coletar informações através da observação, dos questionários e das entrevistas. Encontrou-se que esses eixos se interpenetram para impulsionar o corpo a uma vida longa, com qualidade, e que a atividade física funciona como um dispositivo que pode ser acionado para viabilizar a saúde, a sociabilidade e a beleza corporal, surpreendendo o interesse do grupo masculino pela beleza física. Conclui-se que os sujeitos da pesquisa também nutrem expectativas em relação às funções simbólicas do corpo, até mesmo com fins de sedução, e que esta perspectiva está relacionada ao tempo de vida ativa que ainda têm pela frente. Palavras–chave: representações sociais, corpo, atividade física, beleza, terceira idade.

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ABSTRACT

GAMBÔA, Júlio Afonso Jacques. Sentidos de corpo para maiores de 60 anos: um estudo de representações sociais com praticantes de atividade física. 2014. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) -- Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

This research aimed to comprehend the social representations of the body

built by physical activity practitioners older than 60 years old, based on the theory proposed by Moscovici (2012). A questionnaire semi-structured in 152 subjects was applied, containing two tests of free word association, in which the term inducers were body and physical activity. The software EVOC® 2000 processed the prototypical analysis of these results. The element health was the only one to confirm centrality in all structures analyzed. Important cognitions appeared in evocations, associated with cognitive and functional skills, physical appearance and sociability. Twenty seven interviews were conducted, in which was sought to deepen the theme of the body. The IRaMuTeQ program processed the corpus, generating six lexical classes, which were grouped into three areas of meaning: the first one was the axis of physical activities, followed by the body beauty axis and the health care axis. In order to achieve these results, it was necessary to proceed a triangulated interpretation, followed by the methodological triangulation which started with data production once collecting information through observation, questionnaires and interviews. It was found that these axes intertwine themselves, in order to drive the body to a long life, with quality, making the physical activity to work as a device that can be activated to enable health, sociability and the beauty of the body. It was surprising the interest of the male group for physical beauty. The conclusion is that a significant part of the individuals also nourish expectations about body symbolic functions, even for purposes of seduction, and that is related to the active lifetime that remains for them. Keywords: social representations, body, physical activity, beauty, third age.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS _____________________________________________ i ÍNDICE DE QUADROS ____________________________________________ ii ÍNDICE DE FIGURAS _____________________________________________ iii INTRODUÇÃO __________________________________________________ 14 Capítulo 1: REFERENCIAL TEMÁTICO _____________________________ 17 Capítulo 2: PROCEDIMENTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS __________ 39

2.1 Referencial teórico _________________________________________ 39

2.2 Questões de pesquisa ______________________________________ 50

2.3 Objetivo geral _____________________________________________ 51

2.4 Objetivos específicos _______________________________________ 51

2.5 Levantamento de campo ____________________________________ 51

2.6 Recrutamento dos sujeitos ___________________________________ 52

2.7 Instrumentos______________________________________________ 53

2.8 Análise dos dados_________________________________________ 54

2.9 Critérios de inclusão _______________________________________ 55

2.10 Considerações éticas ____________________________________ 56

Capítulo 3: RESULTADOS E DISCUSSÃO ____________________________57

3.1 Abordagem estrutural _______________________________________ 57

3.1.1 Descrição dos sujeitos__________________________________ 57

3.1.2 A estrutura e organização das representações sociais de corpo__58

3.1.3 A estrutura e organização das representações sociais de atividade

física ___________________________________________ 82

3.2 Abordagem processual: representações sociais de corpo __________ 101

3.2.1 Descrição dos sujeitos _________________________________ 101

3.2.2 Resultados e análise da classificação hierárquica descendente_ 102

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CONCLUSÃO _________________________________________________ 133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________ 138 APÊNDICE I __________________________________________________ 147 APÊNDICE II __________________________________________________ 150 APÊNDICE III _________________________________________________ 151 APÊNDICE IV _________________________________________________ 152 APÊNDICE V __________________________________________________ 153 APÊNDICE VI _________________________________________________ 154

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Sujeitos segundo faixa etária e sexo ______________________ 58

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ÍNDICE QUADROS

Quadro 1: Resultados do teste de evocação com o termo corpo _________58

Quadro 2: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média de evocação com o termo corpo - Amostra total _____________59

Quadro 3: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média de evocação com o termo corpo - Grupo feminino ____________69

Quadro 4: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média de evocação com o termo corpo - Grupo masculino _________ 75

Quadro 5: Resumo da busca por indícios de centralidade de corpo ______81

Quadro 6: Resultados do teste de evocação com o termo atividade física_82

Quadro 7: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média de evocação com o termo atividade física - Amostra total _____83

Quadro 8: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo atividade física - Grupo feminino ___90

Quadro 9: Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo atividade física - Grupo masculino ___________94

Quadro 10: Resumo da busca por mais indícios de centralidade de atividade

física _______________________________________________100

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Análise de similitude das evocações de corpo - Amostra total ____ 63

Figura 2: Análise de similitude das evocações de corpo: Grupo feminino ___ 70

Figura 3: Análise de similitude das evocações de corpo - Grupo masculino _ 78

Figura 4: Análise de similitude das evocações de atividade física __________ 84

Figura 5: Análise de similitude das evocações de atividade física - Grupo

feminino _________________________________________________ 92

Figura 6: Análise de similitude das evocações de atividade física - Grupo

masculino _____________________________________________ 97

Figura 7: Esquema das interpenetrações dos três eixos das RS de corpo __ 130

Figura 8: Dendrograma indicativo das classes das RS de corpo e seus eixos _________________________________________________________________ 131

Figura 9: Dendrograma indicativo das classes das RS de corpo e suas palavras

características ____________________________________________________ 132

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INTRODUÇÃO

O crescente envelhecimento da população tem sido objeto de atenção e de

debates em diversos campos da sociedade, muito em razão dos novos hábitos de

comportamento e das representações sociais (RS) mais recentes sobre essa fase

da vida, ligadas à atividade, aprendizagem, satisfação pessoal, além da

constituição de novos relacionamentos sociais e afetivos (BARROS e CASTRO,

2002; BLESSMANN, 2004; MAGNABOSCO-MARTINS, CAMARGO e BIASUS,

2009; RAMOS, 2009; SILVA, 2008; VELOZ, NASCIMENTO-SCHULZE e

CAMARGO, 1999).

A população brasileira, nos últimos anos, conquistou um significativo avanço

na sua expectativa de vida, já tendo ultrapassado os 70 anos, e com um visível

crescimento do número de pessoas com 60 anos ou mais, estimando-se que

atinja cerca de 65 milhões de idosos em 2050. Em virtude desse envelhecimento,

tem havido a necessidade de se aumentar os esforços para adiar o início de

doenças crônicas e de se promover a saúde desses indivíduos. Nesse sentido, as

principais iniciativas têm sido aquelas que visam favorecer a manutenção e a

ampliação, pelo maior tempo possível, das capacidades funcionais dos idosos,

objetivando proporcionar mais autonomia e independência para o seu

engajamento social e para a realização das suas atividades diárias (CALDAS e

VERAS, 2012).

Tem-se observado, da mesma forma, um permanente estímulo aos mais

velhos para que adotem um estilo de vida ativo, porém, referenciado nos mais

jovens. Os valores da juventude encontram-se difundidos transversalmente na

cultura contemporânea, integrando o imaginário social e, portanto, alcançando a

todos (ARRUDA, 2012). Desse modo, compreende-se que os idosos assimilem

essa influência, que poderá ser refletida não só no consumo de bens e serviços,

mas também no consumo simbólico, ao assumirem valores já não mais exclusivos

de uma determinada faixa etária. O principal incentivo subliminar a esse tipo de

consumo é mantido com a ilusória esperança de se prolongar a juventude

eternamente (DEBERT, 2010).

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Como consequência dessa nova postura perante a vida, percebe-se a

adoção de novos comportamentos e de novas sensibilidades, agora presente

nessa parcela da população, sendo visíveis há mais tempo nas classes médias

urbanas, que dispõem de mais recursos e estão culturalmente mais habituadas a

investir no combate aos sinais aparentes do envelhecimento.

Nesse contexto, verificam-se diversos dispositivos, amplamente difundidos

pela mídia, e capazes de agir sobre a plasticidade do corpo, disfarçando a

aparência envelhecida. Além da disponibilidade das dietas, das cirurgias e do uso

de cosméticos, encontra-se a oferta de várias possibilidades de programas de

atividade física (AF), bastante procurados pelos idosos e que também facilitam o

exercício da sociabilidade entre eles.

Na sociedade brasileira, pessoas mais velhas vivenciando essas

experiências revestem-se de um caráter de novidade, que tem merecido atenção

não apenas da mídia, como das pessoas em geral, ajudando a criar novas

representações sociais a respeito da velhice, dentre elas sobre o corpo que

envelhece.

Dessa forma, utilizando-se a teoria das representações sociais (TRS), como

proposta por Moscovici (2012), uma teoria interessada no conhecimento comum

produzido através das interações cotidianas, esta pesquisa analítica, de caráter

exploratório, objetivou apreender os sentidos de corpo construídos por homens e

mulheres que já atingiram a terceira idade, ou seja, pessoas maiores de 60 anos.

Conforme será abordado no Referencial Teórico, cabe salientar a estreita relação

entre o processo de atribuição de sentidos e a geração de RS, isto é, quando um

grupo social constrói sentidos sobre um objeto, está produzindo RS sobre ele.

Como os sujeitos da pesquisa são aparentemente saudáveis e praticam

exercícios regularmente, dentro do perfil dessa nova categoria de idosos, também

se procurou conhecer o seu pensamento social sobre o dispositivo da AF. Vale

assinalar que dispositivo, neste texto, está sendo empregado como um conjunto

de técnicas corporais sistematizadas, que podem ser planejadas como estratégias

com objetivos voltados para a saúde ou para a formatação dos corpos dos

sujeitos em estudo.

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Talvez seja relevante acrescentar, baseando-se em Cascais (2013), que o

termo dispositivo é um importante conceito instrumental desenvolvido por Michel

Foucault para pensar a técnica. Pode-se dizer que suas características principais

seriam a capacidade de ocupar espaço social (espacialidade), de estabelecer

uma rede social de atuação e articulação (reticularidade) e o seu potencial de

utilização segundo objetivos definidos (caráter estratégico). Dessa forma,

acredita-se que a AF possa enquadrar-se nesse conceito, tendo em vista ser um

corpo de conhecimento técnico e pedagógico, ocupar amplos espaços na

sociedade e articular-se em redes informais e institucionais, tanto públicas quanto

privadas.

O interesse para esta investigação, além do conhecimento produzido, é de

que os resultados encontrados possam contribuir no entendimento das

motivações subjetivas que levam esses indivíduos às práticas e aos cuidados

corporais a que se dedicam.

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Capítulo 1

REFERENCIAL TEMÁTICO

Na academia, atualmente, percebe-se o esforço de diferentes áreas do

conhecimento na tentativa de melhor compreender o desenvolvimento do

processo de envelhecimento; seja através da medicina, da psicologia, da

sociologia, da antropologia, da geriatria ou da gerontologia, disciplina cuja

intenção é promover a integração das diversas abordagens sobre a velhice

(BARROS e CASTRO, 2002; COMERLATO, GUIMARÃES e ALVES, 2007;

SILVA, 2008).

Houve até mesmo a necessidade de criação de novos termos para

suavizar a descrição do envelhecimento na contemporaneidade, de forma a aliviar

a carga semântica da palavra velho, que praticamente deixou de ser usada como

substantivo. Note-se a expressão terceira idade, à qual estão associadas

características até então inéditas, se comparadas às antigas imagens usadas

para representar a velhice como uma época de inatividade, descanso e

degeneração física (BLESSMANN, 2004; DEBERT, 1999; GOLDFARB, 1998;

SILVA, 2008).

Surgiram, assim, novas formas de se dirigir à velhice, utilizando um

linguajar desvinculado das mazelas do envelhecimento. Dessa forma, autores

como Barros e Castro (2002) e Silva (2008) acreditam que o conceito de terceira

idade seja fruto da aproximação entre discursos midiáticos, políticos e de

especialistas, práticas sociais e interesses econômicos.

Sobre as condições que favoreceram o aparecimento do discurso e do

imaginário sobre a velhice, somente no século XIX iniciou-se gradualmente a

fragmentação do curso da vida em etapas definidas e formais, com a distinção de

funções, costumes e espaços determinados a cada categoria etária. O século XX

presenciou a consolidação dessas categorias e a consequente institucionalização

de marcadores sociais das fases da vida, como a entrada na escola, no mundo do

trabalho, a aposentadoria, o que propiciou a formação de identidades etárias

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caracterizadas por comportamentos, hábitos, ou mesmo expectativas para cada

uma dessas fases (DEBERT, 1999; SILVA, 2008).

Atualmente, entretanto, observa-se um movimento que aponta para a

diluição dos limites internos do curso da vida, a favor de um estilo único adequado

às idades, apesar de esse conceito ainda ser indispensável para a classificação

das pessoas na estrutura social. Para prosseguir nesse sentido, de acordo com

Debert (1999), seria preciso o estabelecimento de novas periodizações das

idades, antes da sua consolidação em um estilo unificante, para o qual

convergissem todas as demais.

Outros autores também observam essa tendência a uma redefinição das

fases da vida em direção a uma unificação das idades. A própria Debert (1999)

menciona o processo atual nas sociedades desenvolvidas do ocidente de

desconstrução da sequência cronológica da vida; Alves (2011) teoriza a respeito

do aparecimento de uma interpretação mais flexível do curso da vida e da forma

como os indivíduos têm manejado as fases e os papéis etários, menos

comprometidos com padrões universalmente estabelecidos; Motta (2013) discorre

sobre a “juvenilização” das idades, querendo salientar o fato de que as crianças

estão se tornando jovens mais cedo, mas na verdade por ficarem mais velhas

precocemente. Por outro lado, os adultos maduros e os idosos da terceira idade

se esforçam para permanecer pelo tempo que for possível com hábitos

associados à juventude, cujos valores servem de modelo à sociedade para serem

consumidos tanto pelos mais novos quanto pelos mais velhos, dando lugar a um

caminho que liga uma juventude precoce a uma juventude tardia, daí seguindo

diretamente para a senectude e deixando vago o espaço simbólico da fase adulta.

Barros (2011) chama a atenção para a maleabilidade com que as faixas

etárias têm sido classificadas, assim como para o progressivo enfraquecimento

das linhas que separam as idades ─ fenômeno pertinente às sociedades

complexas ─, assinalando que, como consequência desse processo, os

estereótipos negativos vinculados ao velho foram transferidos para uma etapa

posterior da vida, permitindo a inferência de que o estilo terceira idade de ser e

viver a velhice, hoje, é a própria representação da juventude no último período da

existência.

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Nesse ponto, talvez caiba perguntar qual a razão da excessiva valorização

do que é jovem na sociedade atual. De acordo com o pensamento de Sibilia

(2011), o motivo estaria relacionado ao antigo desejo humano de alcançar a

juventude eterna, revigorado pela atmosfera atual de permanente conquista de

poder e riqueza. O seu raciocínio indica que a juventude, hoje, seria muito

valorizada como uma fonte de poder e prestígio social. Por isso, o interesse

renovado na sua aquisição, num período cultural de grande incentivo ao acúmulo

individual de riquezas materiais e simbólicas, reacendendo, desse modo, o mito

da eterna juventude.

Sobre esse aspecto, vale a pena acrescentar que nem sempre foi assim.

Até o século XIX, início do século XX, os velhos eram valorizados e imitados em

sua aparência física pelos mais jovens, em busca de um ar imponente que lhes

desse mais respeitabilidade (COSTA, 2004a). Somente após a Segunda Guerra, a

juventude transformou-se em um valor, centralizando o espírito rebelde e

liderando as revoltas contra a hipocrisia dos padrões vigentes. Como um valor

social, une-se a determinadas formas de consumo e estilos de vida dinâmicos e

criativos e, justamente por seu caráter intangível, já desvinculado de uma faixa

etária específica, despertou o interesse de outras gerações em querer também

ostentar no próprio corpo o estilo jovem de se viver (DEBERT, 2010).

Atualmente, verifica-se a tendência ao equilíbrio, uma vez que essas

modificações comportamentais têm aberto aos idosos a possibilidade de novos

encontros e experiências significantes, com maior igualdade nas relações sociais.

Apesar disso, persiste a discriminação àqueles que estão fora do mercado

consumidor do rejuvenescimento (DEBERT, 2010).

Vendo pelo lado do mercado de consumo, ao se exaltar o que é jovem ele

acaba operando como um reflexo e também como um reforço da juventude como

valor, o que não deixa de ser comercialmente proveitoso, pois ajuda a alargar

essa fase tanto na direção das crianças quanto dos mais velhos (CASOTTI e

CAMPOS, 2011), aumentando o número de consumidores em potencial para um

mesmo tipo de produto. Essa observação pode ser constatada em Goldenberg

(2008), quando revela os resultados de pesquisa que realizou com famílias da

classe média, em que, frequentemente, as três gerações de mulheres da casa

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usavam praticamente o mesmo tipo de roupa, chegando a ter o hábito de

revezarem algumas peças do vestuário.

Dessa forma, parece ficar claro, conforme análise de Le Breton (2008), que

é financeiramente mais vantajoso para o mercado de consumo manter um padrão

a ser alcançado por todos, do que o esforço das instituições sociais para mudar

as mentalidades, a fim de prepará-las a lidar mais fraternalmente e solidariamente

com as diferenças entre as pessoas. Na verdade, é mais prático e lucrativo agir

dessa forma, mas não contribui para diminuir o estigma da velhice e pode vir a

favorecer o surgimento de mais um tipo de estigma, ao não considerar outras

possibilidades de envelhecimento fora dos padrões jovens hegemônicos.

Sobre a dificuldade, no mundo real, de como lidar com as diferenças, a

indústria da beleza revela sua intolerância, ao veicular uma noção radical de

normalidade, mas que na verdade procura fazer desaparecê-las em prol de um

padrão universal. Assim, ao contrário do que anuncia, ela não amplia a

capacidade de modelar o corpo, tema central nas discussões sobre essa

indústria. De fato, ao ensejar esperanças de embelezamento indefinidamente, ela

estimula uma busca incessante por uma beleza permanentemente jovem, apesar

da inexorabilidade da ação do tempo sobre o corpo (DEBERT, 2011). A autora

defende, ainda, uma estética própria da velhice, coerente com a normalidade do

avanço da idade e do passar do tempo, sem que, obrigatoriamente, os velhos

tenham projetado em si o corpo jovem construído pela atuação da indústria da

beleza.

Retornando à divisão das idades, diversos autores citam a obra de Ariès

sobre a emergência da categoria infância, associada à da família moderna, tida

como o marco inspirador de posteriores estudos sobre a construção social das

demais categorias etárias, como a velhice (BARROS e CASTRO, 2002;

BLESSMANN, 2004; DEBERT, 1999; SILVA, 2008).

Portanto, a velhice teve origem na sequência do desenvolvimento das

modernas sociedades ocidentais e a noção de curso da vida se transformou em

uma instituição social importante, ajudando a consolidar a transição de uma

sociedade que não valorizava a cronologia do tempo, para outra que se

organizava utilizando a sua periodização e a separação entre as suas etapas. Tal

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fato conferiu um papel proeminente à idade, a qual acabou se transformando em

parâmetro essencial para a distinção social, assim como passou a ser vista como

modelo de identidade para os indivíduos (DEBERT, 1999; SILVA, 2008).

Na passagem do século XIX para o século XX, período do surgimento do

conceito de velhice, dois fatores se destacam como cruciais para essa ocorrência:

os novos conhecimentos médicos sobre o envelhecimento e a institucionalização

das aposentadorias. Surgem a geriatria e a gerontologia, novas especialidades

que começavam a se dedicar ao corpo velho, assim como aos aspectos sociais

da velhice. A existência de um saber pré-geriátrico sobre o processo de se tornar

senil, já seria o resultado do olhar médico sobre o corpo, olhar capaz de

determinar quando um corpo está envelhecido (BARROS e CASTRO, 2002;

COMERLATO, GUIMARÃES e ALVES, 2007; SILVA, 2008).

A medicina moderna, progressivamente, passa a compreender a velhice

como um estado fisiológico específico, no qual o corpo se degenera, assumindo

inteira responsabilidade pelo diagnóstico para reconhecê-lo e identificá-lo como

um corpo em decomposição (BARROS e CASTRO, 2002; SILVA, 2008).

O médico e fisiologista americano Ignatz Nascher é bastante lembrado por

seu trabalho no início da década de 1910. Ele foi considerado o primeiro cientista

a organizar clinicamente os alicerces para a caracterização biológica da velhice e

a utilizar o termo geriatria como conceito que delimitasse o campo de estudo

particular sobre o corpo velho (BARROS e CASTRO, 2002; COMERLATO,

GUIMARÃES e ALVES, 2007; SILVA, 2008).

A geriatria veio a distinguir a velhice de outras fases da vida, porém a

identificando com a decadência física e, por conseguinte, com a doença. Essa

comparação médica influenciou a formação de outros significados no ambiente

social, expandiu-se por diferentes áreas do conhecimento e acabou por se refletir

na elaboração de políticas públicas e na criação de novas disciplinas como a

gerontologia. As ciências sociais, notadamente a sociologia, a antropologia e a

psicologia, contribuíram para constituí-la, durante o século XX, um campo de

saber onde os aspectos psicossociais da velhice passaram a ser considerados

seus objetos de estudo, sob uma perspectiva transdisciplinar que propiciasse

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abarcar a complexidade dos fenômenos psicossociológicos (ARCURI, 2005;

COMERLATO, GUIMARÃES e ALVES, 2007; SILVA, 2008).

A institucionalização das aposentadorias, por sua vez, decorreu do

acelerado processo de industrialização e do envelhecimento da força de trabalho

associado à ideia de incapacidade produtiva e invalidez, o que veio a favorecer a

criação dos sistemas de pensão e de aposentadoria. Essa institucionalização teve

como uma de suas consequências o aparecimento dos especialistas na gestão do

envelhecimento, que ajudaram a consolidá-la como categoria etária e, tempos

depois, a definir o conceito de terceira idade (BARROS e CASTRO, 2002;

DEBERT, 1999; SILVA, 2008).

Apesar de a aposentadoria ter reforçado a relação entre velhice e

incapacidade, também contribuiu para dar a ela um caráter político, devido às

reivindicações e ao reconhecimento social de direitos legítimos. A partir da

segunda metade do século XX, com o aumento demográfico e da expectativa de

vida dos cidadãos, a universalização dos sistemas de aposentadoria e os efeitos

econômicos dela decorrentes transformaram essa categoria etária em uma

questão social visível, pondo em risco a continuidade da vida social, no que se

refere aos compromissos de solidariedade intergeracionais. Gradativamente, a

correspondência entre velhice e invalidez, vista como indigência, começa a se

desfazer, muito em função da convergência entre os discursos especializados,

que se unificam na concepção de terceira idade, indicando atividade e

participação, por volta da passagem da década de 1960 para a de 1970

(BARROS e CASTRO, 2002; BLESSMANN, 2004; DEBERT, 1996; SILVA, 2008).

Segundo Laslett (1991), a expressão terceira idade apareceu

primeiramente na França, na década de 1970, com a criação das Universidades

da Terceira Idade. Posteriormente, a partir de 1981, elas também foram

implantadas na Inglaterra, não podendo ser creditado, o seu surgimento, apenas

ao aumento da longevidade nesses países. Afirma, ainda, que as condições para

a criação dessa categoria são a existência de uma quantidade considerável de

aposentados saudáveis, que chegue a se constituir um segmento social

espalhado por todo o país, e com disponibilidade de tempo e de recursos

financeiros para adotar o estilo de vida que lhe é apropriado.

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Assim, a terceira idade constituiu-se em um acontecimento pessoal

condicionado por circunstâncias coletivas, só podendo ser vivenciado na

companhia de outras pessoas que estejam desfrutando de situação semelhante e

que tenham aspirações, expectativas e projetos em relação ao tempo de vida que

terão pela frente, para poder usufruir dessa nova fase. No Brasil, esta é uma

possibilidade recente e, por isso, o envelhecimento representa uma novidade.

Como o presente trabalho se enquadra na perspectiva da teoria das

representações sociais, a ser examinada mais à frente, por ora vale destacar que

essa última afirmativa guarda relação com o conceito de representações sociais,

pois estabelece uma correspondência, desde a origem, entre um evento individual

e uma situação coletiva.

Em relação à velhice, essa categoria é considerada a expressão de uma

das mudanças mais importantes que ocorreram ao longo da história, modificando

a sua imagem anterior, ligada à decadência física, incapacidade, solidão, para o

desenvolvimento de novos hábitos, habilidades e sentimentos até então

esquecidos. O progresso científico, com o consequente aumento da longevidade

e da qualidade de vida, junto com a implantação dos sistemas de aposentadoria,

proporcionaram o acesso das pessoas a essa nova classe (SILVA, 2008).

Essa mudança provocou nos idosos novos comportamentos adaptativos,

atitudes compensatórias que estão de acordo com o modelo de envelhecimento

bem-sucedido, que procura minimizar as perdas da velhice e maximizar seus

ganhos, e é baseado na capacidade de seleção de objetivos alcançáveis, na

otimização de recursos disponíveis e na utilização de modos compensatórios para

alcançar tais objetivos. Estes mecanismos de seleção, otimização e compensação

(SOC) agem de forma integrada e apoiam-se no paradigma de desenvolvimento

ao longo de toda a vida, life-span, que considera o envelhecimento um processo

heterogêneo e multidimensional, orquestrado por influências genético-biológicas e

socioculturais (BALTES e SMITH, 1999).

Além das condições mencionadas para o aparecimento da terceira idade,

também podem ser acrescentados os interesses de mercado voltados para o

consumo dos aposentados, assim como a substituição do linguajar dispensado à

velhice. Na opinião de Lenoir (1979), a terceira idade já se transformou em uma

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categoria autônoma que, ao invés de substituir ou se contrapor à velhice, localiza-

se antes desta e logo após a maturidade.

O fato é que o advento dessa identidade etária provocou demandas por

serviços especializados, cujos profissionais ajudaram a consolidar um estilo de

vida próprio, que valoriza as atividades sociais, físicas e culturais, o que acabou

incentivando a criação dos espaços de convivência para o lazer e a educação,

como as universidades da terceira idade (BARROS e CASTRO, 2002; SILVA,

2008).

Sobre os programas desenvolvidos nesses locais, Debert (1996) chama a

atenção para o sucesso alcançado, surpreendente até para os seus idealizadores,

mesmo sabendo que os frequentadores são, em média, relativamente jovens. O

resultado positivo fez com que os participantes desses programas deixassem de

encarar a velhice como um processo incessante de perdas e começassem a vê-la

como uma oportunidade para novos aprendizados e para a realização pessoal.

Segundo a autora, isso provocou uma mudança no discurso da gerontologia, que

passou a se dedicar prioritariamente à luta contra o envelhecimento, num

movimento de responsabilização individual por esse processo, chamado por ela

de “reprivatização da velhice”. Este fato fez com que essa área de estudo se

afastasse do seu objeto, em virtude de as pessoas mais velhas, que mais

necessitam de apoio por já apresentarem perdas de controle físico e psíquico,

dificilmente participarem desse tipo de programas.

Lenoir (1979) também assinala a convergência entre a identidade da

terceira idade e as características das classes médias, grupo capaz de investir,

desde cedo, no retardamento da velhice, através dos vários recursos oferecidos

pela biotecnologia do rejuvenescimento, de que tratam, por exemplo, autores

como Caradec (2011), Debert (2011) ou Sibilia (2011). Concomitantemente ao

surgimento dessa expressão, a palavra velho, termo depreciativo impregnado

pela imagem de decadência corporal e improdutividade, normalmente usada para

indicar os velhos pobres, começa a ser substituída por idoso, palavra sem

conotação pejorativa, mais respeitosa e adequada às camadas médias, cuja

tendência tem sido a de ingressar na aposentadoria mais cedo e já estando

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habituadas a níveis de consumo bem mais elevados do que as gerações

anteriores (DEBERT, 1999; GOLDFARB, 1998; SILVA, 2008).

De acordo com Laslett (1991), a expressão terceira idade representa a

verdadeira novidade e implica um arranjo das fases da vida diferente de qualquer

outro que tenha sido anteriormente proposto, ficando como a época de

realizações e de satisfação pessoal e deixando a quarta idade como o último

período, o da perda de autonomia e da senilidade.

A esse respeito, Baltes e Smith (1999) enfatizam as diferenças entre a

terceira e a quarta idade, não sendo a última uma continuidade da primeira.

Enquanto as pessoas da terceira idade, em torno de 60 – 80 anos, ainda

apresentam plasticidade, capacidade adaptativa e de compensação de perdas, as

da quarta idade, a partir de 85 anos, aproximadamente, apresentam um risco

muito maior de manifestar disfunções, incapacidades e, por conseguinte,

diminuição da qualidade de vida.

A difusão da ideia de terceira idade atrelada ao envelhecimento ativo, bem

sucedido e com qualidade de vida ganhou força nos meios de comunicação.

Começou-se a falar na indústria do envelhecimento, nas estratégias de marketing

para aqueles que se aposentavam, na adoção de um estilo de vida consumista

para os novos velhos, próprio dos mais jovens, que, de certa maneira, ajudou a

construir um cenário favorável à expectativa do processo de envelhecimento

(BARROS e CASTRO, 2002; SILVA, 2008).

Interessante assinalar que em estudo que procura compreender o

comportamento das pessoas mais velhas como consumidoras de beleza, com o

objetivo de vislumbrar estratégias de marketing que aumentem a oferta de

produtos e serviços e o consumo dessa parcela da população, constatou-se que,

para esse mercado, mais importante do que identificar marcadores do ingresso na

velhice, como a aposentadoria, por exemplo, é conhecer o estilo de vida e o

comportamento de consumo dos idosos (CASOTTI e CAMPOS, 2011).

Simultaneamente ao aparecimento dessa recente categoria etária, também

surgiu ao seu redor todo um aparato de profissionais, práticas e discursos

especializados, a fim de sustentar as necessidades criadas pelo mercado para os

integrantes dessa nova categoria (BARROS e CASTRO, 2002; SILVA, 2008).

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De fato, há uma convergência de interesses entre os integrantes da

terceira idade e a gama de novos conhecimentos veiculados como capazes de

mantê-los por mais tempo afastados da velhice. Desse modo, rompe-se com os

estigmas negativos associados à improdutividade, incapacidade, doença, solidão,

ao se assegurar que o indivíduo que desfrute de qualidade de vida, encontre-se

em um processo de envelhecimento bem sucedido (BARROS e CASTRO, 2002).

Por um lado, os velhos se sentem melhor, mais valorizados e participantes

do grupo social ao serem incluídos nessa categoria. Por outro, o mercado aprova

esse ingresso oferecendo mercadorias e serviços especializados, com o propósito

de atender às novas demandas criadas, referentes a um novo estilo de vida e de

consumo e à nova sensibilidade diante do envelhecimento. Articuladamente, os

meios de comunicação indicam aos consumidores as suas deficiências em termos

de saúde e beleza, a fim de sugerir os produtos apropriados a cada necessidade

(BLESSMANN, 2004).

A quase obrigatoriedade em seguir os modelos padrões parece mais uma

estratégia globalizante para a circulação dos produtos identificados com o

comportamento e a maneira com que as pessoas da terceira idade atuam no

mundo. Como essa visão hegemônica também é reforçada pelos discursos dos

profissionais de saúde, cuja opinião ainda é muito respeitada na sociedade, o

ciclo se fecha. Portanto, a cada dia o mercado é instado a lançar novos produtos

e soluções condizentes com as novas descobertas científicas, os novos

resultados de estudos que modificam, por exemplo, as taxas sanguíneas ideais,

os percentuais convenientes de gordura corporal, os meios para alcançar tais

objetivos e as modas adequadas para acompanhar essa evolução corporal em

direção à saúde perfeita.

Para Sudo e Luz (2007), de um modo geral, as necessidades de saúde dos

indivíduos têm sido definidas mais por padrões estéticos do que pelo

conhecimento médico-científico; desde os cuidados nutricionais até as cirurgias

plásticas, passando pelos medicamentos e pelas atividades físicas. Os meios de

comunicação, a partir de uma presumível imparcialidade do discurso científico,

encobrem as relações entre a moda, a indústria cultural, o mercado e o padrão de

beleza que incitam a ter, através dos permanentes apelos à aquisição da forma

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física que, supostamente, levará ao corpo ideal. Desse modo, acabam

condenando as pessoas a apresentar um corpo bonito e saudável à sociedade.

Assim, evidencia-se que os gastos e sacrifícios exigidos em direção ao mito da

juventude eterna, de modo algum são naturais, conforme os argumentos

sustentados pelos veículos de comunicação. Acena-se, na verdade, com a

recompensa de um corpo que, antes de ser saudável, estará de acordo com os

rígidos padrões de beleza estabelecidos.

Não se pode deixar de observar que o sistema capitalista lucra com a

produção simbólica dos modos de existir dessa nova classe etária. A ação das

práticas e os discursos especializados sobre a população da terceira idade

reforçam a necessidade do consumo para a aquisição da saúde, beleza, bem-

estar, apresentando-se favoravelmente ao maior prolongamento possível da

juventude (BARROS e CASTRO, 2002).

Mais uma vez, nota-se a valorização social do padrão jovem e a tácita

desvalorização da última fase da vida. Por detrás dessas evidências, vê-se a

criação massiva de bens e serviços capazes de produzir em série um número

cada vez maior, não só de produtos, mas de consumidores ávidos por adquiri-los.

Ao mesmo tempo, como assinala Debert (1999, 2011), observa-se um

contrassenso: se por um lado se constata o aumento significativo de idosos e da

expectativa de vida da população, por outro aumenta a rejeição à estética do

corpo envelhecido.

Sibilia (2011) argumenta que a geração que está no comando das

instituições atualmente é a geração do pós-guerra (os baby boomers), a mesma

que liderou a revolução dos costumes nos anos 1960 e 1970, lutou por liberdade,

direitos, igualdade entre os sexos, justiça social. Hoje, como consequência

desses movimentos, pode-se ver a expansão da diversidade de experiências

individuais e coletivas, ou a crescente participação das mulheres nas instâncias

de poder. Entretanto, ao contrário do que se poderia esperar, esses avanços

democráticos não impediram o aparecimento da presente imposição de uma

determinada estética da aparência e da boa forma, nem tampouco da intolerância

aos sinais corporais que acompanham a passagem dos anos e que são

frequentemente interpretados como símbolo de fraqueza moral. Apesar de

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compreender que os corpos e as subjetividades são conformados pelo contexto

de uma época, quem mais sofre o preconceito contra o corpo velho são as

mulheres e, paradoxalmente, muitas delas participantes ativas naquelas

manifestações vanguardistas. O final dos anos 1960 e início dos 1970 marcou a

fixação da juventude como um valor simbólico, indo além do seu papel de

categoria etária.

No entanto, cumpre perguntar se a importância alcançada pela juventude

como um valor, em grande parte uma contribuição dos movimentos estudantis

desse período, não estaria, contraditoriamente, ajudando a reforçar a

padronização estética e comportamental jovem ou, de outro modo, será que a

moral vigente, refletida na profunda atração exercida pelos modelos corporais

exemplares, não é uma consequência imprevista e adversa das lutas e bandeiras

libertárias de jovens contestadores, àquele tempo, mas hoje sexagenários em

postos de decisão?

Também é possível conjecturar que o discurso que fundamenta o estilo de

vida associado à terceira idade poderia ser um preparativo para a manutenção

dessas pessoas nos processos produtivos. Isso diminuiria as chances de futuros

problemas previdenciários em função do maior tempo que permaneceriam no

mercado de trabalho, contribuindo também por mais tempo para a aposentadoria

das gerações que a precedem. Além do que, pelo maior número de trabalhadores

disponíveis no mercado, a tendência é diminuir ou estabilizar os níveis salariais

pagos pelos empregadores.

Na verdade, os velhos são as principais vítimas da exclusão e segregação

provocadas pelo padrão estético jovem, hegemônico a todas as idades, o que

pode provocar estigmas comparáveis aos que eram gerados em relação aos

velhos anteriores a essa categorização, identificados com a pobreza e o

abandono (BARROS e CASTRO, 2002).

Hoje também se reconhecem imagens de incentivo ao consumo dos

padrões estéticos da juventude, nas mensagens midiáticas dirigidas aos idosos,

inclusive através da internet. Dentre os vários temas veiculados, encontra-se o da

beleza física, sinalizando com a possibilidade de adiar a chegada do

envelhecimento, ao mesmo tempo em que se busca modelar o corpo através de

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dispositivos como as ginásticas ou de outros procedimentos especializados

(ARRUDA, 2012).

É provável que esse tipo de apelo venha surtindo efeito nos idosos, ao

menos nos mais novos, senão a publicidade não continuaria propagandeando

seus produtos e serviços. Mas, pergunta-se: que tipo de subjetividade poderia ser

despertado nessas pessoas?

Em pesquisa no campo da TRS com jovens (18 a 25 anos) e adultos (40 a

60 anos), encontraram-se aspectos contranormativos nas funções sociais ligadas

às RS do corpo. Isto significa que foram identificadas opiniões conscientemente

admitidas que, embora compartilhadas tacitamente, não foram manifestadas por

não terem aprovação social, como seria o caso de se admitir publicamente que o

investimento na construção corporal teria como um dos seus objetivos principais a

obtenção de poder de influência sobre o outro (CAMARGO, JUSTO e ALVES,

2011).

Pode-se até supor que a felicidade pretendida ao alcançar o corpo tido

como ideal passe antes pelo desejo da conquista de poder, significando

ascendência sobre o outro e capacidade de sedução, além do reconhecimento da

sociedade (GAMBÔA, 2009).

Sobre a relação entre estética e saúde nas representações sociais do

corpo, Camargo et al. (2011) ressaltam com inquietação que, apesar da pouca

idade dos sujeitos que pesquisaram (média de 23 anos), houve um número

representativo de jovens sem qualquer preocupação com a possibilidade da

existência de riscos à saúde ─ relativos às cirurgias estéticas ─ quando o tema foi

a busca pelo corpo considerado perfeito, objetivo compartilhado por todos.

Quando do primeiro contato com outras pessoas, a aparência também foi

considerada mais importante do que a saúde, assim como as características

subjetivas do outro. Interessante notar esses resultados, uma vez que,

paradoxalmente, a saúde foi a palavra de maior frequência e a mais prontamente

lembrada pelos participantes, o que não os impediu de valorizar a beleza em

detrimento da saúde, fato que evidencia o culto excessivo a um padrão corporal

normatizado socialmente.

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Resultados semelhantes também foram encontrados por Gambôa (2009),

em pesquisa com adolescentes (média de 17,5 anos) sobre as representações

sociais de corpo, em que o ter saúde foi considerado essencial para a aquisição

de outros atributos muito valorizados como a beleza corporal a ser admirada ou

exposta à admiração, qualidade assinalada como facilitadora à sociabilidade e

aos encontros sensuais.

Goldenberg e Ramos (2007) afirmam que, pela intensa exposição e

veiculação de imagens de corpos seminus, pode-se acreditar que, por esse

motivo, as pessoas estejam se sentindo mais à vontade, com mais liberdade em

relação ao próprio corpo. Entretanto, ao contrário do que parece, esses corpos

têm sido, cada vez mais, conformados e submetidos ao processo de

internalização de normas sociais de sustentação do padrão de beleza

contemporâneo. Os esforços empreendidos para construir esse corpo seriam,

com base na figura que utilizam, um ritual disciplinado para vestir com músculos e

pouca gordura aparente, um corpo que, mesmo despido, já não está mais nu.

Em estudo comparativo intergeracional sobre as funções sociais das

representações do corpo, já mencionado, constatou-se que os jovens são mais

atentos aos padrões corporais e, por isso, mais submetidos a eles, valorizando a

sua importância na interação social, muito mais do que os adultos. No entanto,

essa diferença de postura não se expressa na atenção dada ao corpo pelos dois

grupos, uma vez que ambos se dedicam da mesma forma aos cuidados e práticas

corporais (CAMARGO, JUSTO e ALVES, 2011).

Neste sentido, vale refletir sobre o uso que é feito pela indústria da beleza

─ ocupada em retardar o aparecimento dos efeitos corporais da velhice ─ dos

significados da frustração por não se conseguir evitar as consequências deletérias

do envelhecimento, ajudando a manter acesa a esperança por um novo produto

ou tratamento rejuvenescedor (SIBILIA, 2011). Esse seria um exemplo do que

Caradec (2011) considera como a dimensão prática das estratégias

empreendidas pelas pessoas, com o intuito de agir sobre o corpo que envelhece.

Essa dimensão faz referência aos inúmeros dispositivos disponíveis, utilizados

com o objetivo de postergar ou evitar os efeitos do envelhecimento, numa

sociedade que valoriza excessivamente os padrões da juventude. Dentre eles, as

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práticas físico-esportivas são as estratégias mais empregadas, como as cirurgias,

os tratamentos cosméticos, nutricionais, hormonais, entre outros.

Esse intento pode ser temporariamente conquistado, mas as pessoas

inexoravelmente envelhecem, os seus corpos inevitavelmente vão se modificar

em direção ao declínio físico, além de a moda variar constantemente. A todo o

momento surgem novidades ou retornos que procuram ressignificar os modos de

se vestir ou de se comportar. No caso da atual moda corporal, largamente

difundida pelos meios de comunicação, existe todo um aparato técnico, médico,

científico, constituindo-se no que poderia ser denominado de um complexo

médico-industrial da beleza. Este complexo dá sustentação à moda corporal e

ainda oferece as mais diversas opções para que todos possam ter acesso a ela,

de acordo com os recursos de que disponham. Desde as orientações midiáticas,

de alcance praticamente global, às cirurgias e ao consumo de fármacos,

passando pela dieta alimentar e pelos exercícios de modelagem física.

Não se pretende negar os benefícios à saúde trazidos pela ciência ou o

direito à modificação do corpo em direção à moda corporal almejada. Entretanto,

seria ético impor tacitamente modelos estéticos corporais? E qual seria o princípio

desse fundamentalismo estético? Essa imposição tem como um dos seus

objetivos aumentar o número de consumidores e como uma de suas

consequências a segregação das pessoas mais velhas, principalmente porque

não podem mais atingir essa meta, devido a já não estarem mais jovens, espírito

esse associado à postura social e às atitudes concernentes ao padrão ideal do

ser corporal jovem, asséptico, ascético e belo. Porém, ao se renderem aos apelos

sociais dirigidos à aquisição dos atributos da juventude, caem em um novo

estigma, por não procurarem, na idade em que estão, as suas próprias condições

de desenvolvimento e de identidade, preferindo as referências da juventude.

Inspirando-se em Le Breton (2008) e Palmeira (2005), outros problemas

poderiam ser considerados como, por exemplo, a questão ética de não se aceitar

o corpo que se tem e partir em busca da sua transformação, ou a delimitação das

fronteiras entre as intervenções com finalidades estéticas ou terapêuticas. Além

disso, a excessiva preocupação com a estética pessoal poderia exacerbar o

individualismo, colocando em risco a solidariedade intergeracional, isto é, o

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comprometimento das gerações mais novas com as mais velhas, conforme os

sujeitos desta pesquisa. Daí decorrerem questões sobre o limite entre saúde e

beleza. Por fim, pode-se pensar na perspectiva de se conciliar os avanços

científicos, para melhorar a qualidade de vida dos idosos, e a moral da

corporeidade, não signatária de um texto corporal distante do eu, mas a favor da

integralidade do ser.

Sobre essa temática, a pesquisa de Camargo, Justo e Alves (2011) revela

que um número considerável de jovens já se submeteu ou está disposto a se

submeter a cirurgias plásticas, no intuito de alcançar a todo custo o modelo

almejado de beleza.

Da mesma forma, tem sido relatado que por motivos de elevação da

autoestima ou por uma exigência social e profissional para manter uma aparência

jovem e dinâmica, as mulheres que passaram por cirurgia estética o fizeram com

a determinação de modificar o corpo em prol da conquista de um padrão de

beleza, capaz de lhes proporcionar felicidade, deixando em segundo plano o

sofrimento da dor física para atingir esse objetivo (CASOTTI e CAMPOS, 2011;

DEBERT, 2011). Inclusive, na opinião de Debert (2011), essas mulheres acabam

tomando essa atitude por causa do medo que sentem de envelhecer e não pela

esperança de permanecer jovens, ambição sabidamente inatingível.

Retornando ao aparecimento da categoria terceira idade, tanto a

universalização das aposentadorias e o respectivo aparecimento de uma

quantidade expressiva de aposentados de classe média, quanto o discurso

engajado da gerontologia social, assim como os interesses da cultura do

consumo, aparentam ter participado da construção desse conceito (BARROS e

CASTRO, 2002; SILVA, 2008).

Portanto, as origens do aparecimento das concepções de velhice e de

terceira idade levam a algumas questões a respeito dos vínculos entre a

significação dessas duas identidades etárias. Sendo assim, Silva (2008) indaga

se a terceira idade não seria a substituta contemporânea da velhice ou se ambas

continuariam a existir no pensamento social; se a terceira idade é, de fato, uma

nova categoria ou apenas uma atualização do antigo conceito de velhice ou,

ainda, se são dois caminhos para o envelhecimento, independentes e

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coexistentes, como duas identidades relativas a etapas distintas da vida, uma

associada à atividade e a outra à decadência corporal. Não há dúvida quanto às

diferenças do percurso histórico e às especificidades de cada uma dessas

noções, construídas em diferentes épocas, submetidas a interesses e influências

políticas do momento. No entanto, também ainda não é possível responder a

esses questionamentos, inclusive se as duas categorias, no dia-a-dia, são

empregadas pelos indivíduos para exprimir diferentes modos de vida, ou se se

confundem e se mesclam indistintamente (SILVA, 2008).

É importante destacar que se os atributos da terceira idade, associados à

juventude e excessivamente valorizados, tiverem como efeito afastar as pessoas

da opção de envelhecerem quietas, inativas, reclusas, elas estarão sendo

privadas de usufruir da diversidade das práticas de vida e das possibilidades de

obter satisfação pessoal com a escolha que quiserem fazer. Assim, é provável a

permanência simultânea dessas duas identidades etárias no imaginário social, o

que poderá aumentar as opções de formas de existência adequadas e

convenientes aos sujeitos, como também contribuir para novas experiências de

vida relativas às sensibilidades contemporâneas dos mais velhos (SILVA, 2008) e

à sua capacidade de desenvolvimento e crescimento dentro das limitações

biológicas de cada ser humano (ARCURI, 2005).

Almeida e Cunha (2003) assinalam que o idoso continua a ser

representado socialmente como uma figura improdutiva, fatigada, enferma,

persistindo a tendência a desvalorizá-lo em relação à idade adulta. No estudo que

fizeram, afirmam que mesmo no grupo formado pelos sujeitos mais velhos, a

representação sobre os idosos tende a excluir a noção de desenvolvimento

durante a velhice, aproximando-se das teorias que por muito tempo só admitiram

a existência dessa ideia na infância e na adolescência, desconsiderando as

habilidades próprias de cada fase da vida e tomando como referência aqueles

comportamentos associados às competências do adulto. Esse grupo, por ser

formado por pessoas mais velhas, ainda em atividade, possivelmente, por esse

motivo, tenha evitado assumir a identidade culturalmente construída do velho

dependente e decadente. Tanto é que apesar das referências ao abandono do

idoso em prol do atendimento às necessidades das crianças da família, a

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representação da velhice foi associada às responsabilidades do trabalho e à vida

adulta.

Resultado parecido encontraram Santos, Tura e Arruda (2013) ao

pesquisarem as representações sociais de “pessoa velha” construídas por idosos,

os quais não se identificaram com essa expressão, associada a características

negativas como “rabugice” ou “solidão”. Pelo contrário, valorizam as atividades

que exercem, profissionalmente ou não, e manifestam a alegria que ainda sentem

de viver.

Isso confirma o que dizem outros autores sobre as inúmeras possibilidades

de construção da identidade individual do idoso, que foge dos estigmas da idade

nomeando o outro como velho e não ele próprio (GOLDFARB, 1998;

MERCADANTE, 2005), refletindo a existência de uma identidade hegemônica,

aparentemente natural (RAMOS, 2009), da qual ele tenta escapar.

Outros estudos (BARROS, 2011; CARADEC, 2011) também citam

estratégias baseadas em discursos compensatórios, em que o indivíduo se

compara a alguém em situação pior que a dele, normalmente os do seu círculo

mais próximo, com a intenção de não se deixar confundir com aqueles que julga

realmente idosos. Barros (2011) aborda alguns comentários com conotação

sexual, que poderiam parecer agressivos, mas que são admitidos como

brincadeira pelo grupo de velhos pesquisados por ela, homens e mulheres, que

se utilizam desse recurso para depreciar o outro, talvez como uma forma de

aliviar os sentimentos negativos associados à velhice. Caradec (2011) conclui que

os discursos sobre o próprio envelhecimento são muito mais positivos do que se

imagina, se comparados aos estigmas sociais vigentes e à excessiva valorização

do ser jovem.

Desse modo, seria o caso de se acatar a proposição de Mercadante (2005)

para a constituição de uma identidade que não mais esteja em contraste com a do

jovem, mas elaborada a partir de uma subjetividade que rejeite o estigma social

da velhice.

Neste ponto, cabe uma reflexão: ser um velho jovem é uma forma de tentar

escapar dos antigos estigmas da velhice, mas hoje, também pode ser visto como

um caminho socialmente determinado. As opções que se apresentam parecem

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estar resumidas em, ou se assumir a velhice estigmatizada do passado, ou o

estilo de vida da juventude na terceira idade. Mercadante (2005) propõe a

construção de uma identidade da velhice não contrastiva à do jovem e em

nenhum momento insinua que isto signifique assumir, em substituição, a

identidade dele. Entretanto, essa proposta poderia ser mal interpretada, como um

incentivo velado à homogeneização dos corpos na direção do padrão jovem de

beleza. Debert (2011), conforme já aludido, ajuda a explicitar essa questão

quando propõe a criação de uma estética própria da velhice, que define como não

sendo a estética carregada dos estigmas de decadência física e incapacidade,

nem tampouco a estética jovem incentivada pela indústria da beleza e da boa

forma, que pode acabar gerando estereótipos negativos, porque mesmo que se

esforcem bastante, os velhos jamais recuperarão os anos passados.

Por essa razão, a necessidade de se oferecer um significado de vida a eles

para se posicionarem no mundo (BLESSMANN, 2004; MEDEIROS, 2005), sem

ter de recorrer a atividades sem sentido, como um disfarce por sua inutilidade

(GOLDFARB, 1998). Isso é decorrente de uma abordagem reducionista que os vê

como um problema social passível de soluções pontuais, mas que não abrangem

todos os efeitos incidentes sobre as esferas psicológicas, da saúde, políticas,

sociais e econômicas do indivíduo velho (CÔRTE, 2005; MERCADANTE, 2005).

Atualmente, já existe um processo de modificações de atitudes e práticas

na perspectiva de um envelhecimento saudável dirigido para a autonomia e

independência, mas isso ainda não é suficiente para que esse assunto tenha

deixado de suscitar preconceitos (VELOZ, NASCIMENTO-SCHULZE e

CAMARGO, 1999).

A valorização excessiva do desempenho físico e mental acaba por reforçar

crenças referentes às mudanças e perdas associadas à velhice ─ relativas aos

vínculos com a família, com o trabalho etc. ─, transmitidas como representações

nas conversas cotidianas entre os indivíduos e veiculadas entre os grupos. As

concepções mais próximas da vida anterior aos 60 anos terminam sendo

incorporadas e também contribuem para a construção das representações que os

idosos têm sobre si mesmos e sobre a velhice, porém, evidenciando a

complexidade de entendimentos que os próprios idosos têm sobre o assunto

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(SANTOS, TURA e ARRUDA, 2013; VELOZ, NASCIMENTO-SCHULZE e

CAMARGO, 1999).

Em outras palavras, a referida valorização pode acentuar a sensação de

perdas nesse processo. Para não sentirem essas perdas, os idosos se apegam

às representações anteriores aos 60 anos para continuarem a viver. Por outro

lado, eles possuem uma representação da velhice que não querem assumir, mas

que talvez esteja chegando a hora de fazê-lo. A complexidade pode se dar no

sentimento contraditório de serem avisados pelo espelho ou por outro de que o

tempo já chegou, mesmo que não seja percebido internamente, ou que se

neguem a oportunidade de percebê-lo (BEAUVOIR, 1990).

A velhice como um fenômeno complexo também é ressaltada por

Mercadante (2005), ao salientar a interdependência dos aspectos biológicos,

psicológicos, socioculturais e históricos desse fenômeno heterogêneo, que

comporta inúmeras outras formas de viver além daquelas caracterizadas pelos

estigmas ideológicos produzidos pela sociedade.

Esses estigmas podem ser os relacionados tanto ao declínio físico da

velhice, quanto àqueles vinculados aos modos de se permanecer jovem pelo

tempo que for possível, correndo-se o risco, nesse caso, de a pessoa velha ser

considerada uma caricatura fora de contexto, tanto pelos pares quanto pelos

jovens, sofrendo, dessa forma, um duplo estigma.

Além das preocupações com a saúde, autonomia, inserção social da

população idosa e uma valorização enfática das características jovens da

categoria terceira idade, também se evidencia a importância generalizada da

temática do corpo. Esse assunto está cada vez mais presente nos veículos de

informação, nas conversas cotidianas e é refletido pela multiplicação de

profissionais dedicados aos cuidados corporais e de ambientes próprios para

essas práticas como as academias, clínicas estéticas ou terapêuticas (GAMBÔA,

2009).

A frequência com que matérias relacionadas à saúde, mais precisamente ao

corpo, às dietas, à forma física, são veiculadas na mídia, pode denotar tanto o

interesse de grande parte da população em usufruir desse tipo de informação,

quanto os interesses econômicos do complexo médico-industrial-financeiro. Um

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conhecimento especializado que vem a incentivar o consumo para a saúde e a

boa forma, ao mesmo tempo em que responsabiliza incisivamente o sujeito por

seu desempenho corporal, não importando em que época da vida esteja

(ARRUDA, 2012; SUDO e LUZ, 2007).

A excessiva responsabilização individualizada parece ser um reflexo da atual

fixação na imagem do corpo esbelto, propagado pelo mercado da beleza, o qual

se utiliza do discurso científico da saúde para tornar obrigatório um determinado

padrão estético. Em pleno século XXI, a saúde virou a meta a ser conquistada,

um estilo de vida a ser alcançado, em que o ter saúde esteja projetado no corpo.

Essa procura incessante por um corpo ao mesmo tempo magro e forte,

apresentado como perfeito e saudável, transformou-se em uma exigência social a

ser cumprida por todos, independentemente de classe social, idade, sexo etc.

(SUDO e LUZ, 2007).

Os novos significados da saúde levantados por Arruda (2002) poderiam ser

estendidos em relação ao corpo, tendo em vista, hoje em dia, ser um assunto

constante nos meios de comunicação e representar um atrativo para o consumo,

o que mostra o seu forte enraizamento no modo de vida urbano contemporâneo

como um objeto de interesse social. Transformado em uma categoria abrangente,

o corpo ideal invade debates em diversos âmbitos sociais, não restritos aos meios

especializados, proporcionando a elaboração de um novo saber coletivo a seu

respeito.

A preocupação com a forma física e a saúde, traduzida pela expressão

‘cultura do corpo’, designa a importância assumida pelo corpo na moderna

construção das identidades, tornando as características físicas individuais

determinantes para a referida construção. Essa aplicação da valorização corporal

é percebida, hoje em dia, pela frequência com que índices biomédicos, dietas

direcionadas e exercícios físicos específicos são mencionados usualmente,

deixando transparecer os ideais corporais e de saúde a serem conquistados

(COSTA, 2004b).

O bem-estar físico passou a ser visto como um objetivo autônomo e o corpo

ideal, amplamente veiculado na mídia, tem exercido um enorme fascínio sobre as

pessoas, inclusive sobre aquelas com 60 anos ou mais. Com base na elaboração

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original de Moscovici (2012), esse fascínio por um objeto enraizado socialmente,

parte da realidade social, é fruto da sua permanente difusão pelos meios de

comunicação, juntamente à noção coletiva de pertencer ao mesmo universo que

ele.

As novidades corporais são ditadas pela moda como mais um objeto de

consumo, aturdindo a todos nos diversos lugares destinados à aquisição da

saúde perfeita e da estética corporal idealizada, o que acaba produzindo reflexos

nas diferentes faixas etárias da população (COSTA, 2004b).

No entanto, a vinda do corpo físico para o primeiro plano da cena pública

desvendou outras possibilidades de realização pessoal, não exclusivas do ideário

da juventude imposto pelos patrocinadores dos meios de comunicação de massa,

que incentivam a contínua transformação física para que o indivíduo permaneça

moralmente e psicologicamente jovem (COSTA, 2004b).

Dessa forma, a cultura somática se encontra inevitavelmente presente no

mundo contemporâneo e faz parte da permanente construção das identidades

dos indivíduos, inclusive dos mais velhos. Cabe a cada um utilizar as novas

experiências corporais para a sua própria autonomia, ou para aprofundar a

angústia provocada pela frustração de não ser possível obter a perfeição física

desejada (COSTA, 2004b).

Como já foi aludido, esse padrão atual de comportamento corporal,

largamente difundido na mídia, tende a atribuir unicamente ao indivíduo o mérito

pela conquista do modelo de corpo ideal, adequado a um determinado estilo de

vida, ou a responsabilidade pelo fracasso de não o ter alcançado, não lhe sendo

oferecidas outras opções estéticas ou comportamentais a atingir.

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Capítulo 2

PROCEDIMENTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS

2.1 Referencial Teórico

A pesquisa teve como fundamento a teoria das representações sociais, de

acordo com o proposto por Moscovici (2012), Jodelet (1989) e seus seguidores.

Essa teoria foi desenvolvida por Moscovici na década de 1960, numa

atualização do conceito de representações coletivas, elaborado por Durkheim

ainda no século XIX. Desde o princípio da sua elaboração, Moscovici teve o

cuidado de salientar a velocidade, a diversidade e a força dos fenômenos das

sociedades contemporâneas (MOSCOVICI, 2001), decidindo substituir a

expressão representações coletivas por representações sociais, para não

localizar a sua teoria somente no campo da sociologia e porque a nova noção

teria como explicar tanto as uniformidades quanto as diferenças e a criatividade

coletiva (CASTRO, 2002). Além disso, também por considerá-la mais apropriada

às sociedades modernas, bem mais complexas do que as que foram examinadas

por Durkheim (FARR, 2002). Essa mudança de nomenclatura está relacionada à

necessidade de acompanhar a evolução das sociedades atuais,

permanentemente sujeitas aos processos de interação comunicacional, tornando

possível o movimento simultâneo entre o individual e o social na formação das

representações (MOSCOVICI, 2001).

Sendo a construção coletiva de um saber, as representações têm a função

de criar convenções sobre os objetos, para que sejam compartilhados pela

comunidade. Funcionam como uma tradução da realidade, uma ferramenta para

acomodar a novidade no universo preexistente (ARRUDA, 2002; JODELET, 2001;

MOSCOVICI, 2003), num processo de transformação do não familiar em direção

ao familiar, através do trabalho das representações sociais, que cumprem assim a

sua principal função (FARR, 2002).

Para Jodelet (2001), os indivíduos geram as representações sociais como

forma de se adequar ao mundo em que vivem. Também chamadas de saber de

senso comum, são diferentes do saber científico, mas igualmente importantes de

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serem estudadas, em razão do papel que exercem nas atividades rotineiras dos

indivíduos, como, por exemplo, quando produzem um conhecimento vulgar pela

incorporação da ciência, que poderá vir a orientar com eficácia as práticas sociais.

Vala (1993) utiliza a metáfora da orquestra de jazz para fazer analogia com a

teoria das representações sociais. Essa metáfora utiliza a imagem do improviso

musical jazzístico, protagonizado por um dos músicos, que ao mesmo tempo em

que exprime a sua criativa individualidade musical, não deixa de estar em

harmonia com os demais integrantes da orquestra e nem com o tema principal, a

que todos retornam antes de cada novo solo improvisado.

Na verdade, essa metáfora representa a atuação de um sujeito

independente, senhor da sua própria atividade cognitiva e necessariamente ligado

aos vínculos sociais que ajuda a criar, através das interações que estabelece.

Nesse sentido, Castro (2002) assinala que as representações sociais, de

fato, tanto podem estar na mente quanto nas relações dos indivíduos com o

mundo e, tendo dois sentidos, podem ser analisadas de forma independente, uma

vez que são pensamento individual e prática social ao mesmo tempo.

De acordo com Vala (1993), o conceito de representações sociais salienta a

importância da atividade cognitiva para a execução da ação, da mesma forma que

a relaciona à construção de sentido e do mundo real. Acrescenta que essa teoria

organiza crenças, atitudes, explicações e ações e que, no âmbito das

comunicações cotidianas, gera novas representações sociais a partir das

interações nos grupos e entre os vários grupos.

Para esse autor, o grupo social deve ser considerado o sujeito das

representações sociais e, desse modo, ficará mais claro o entendimento sobre

esse conceito vinculado à produção de sentidos e significados referentes às

relações grupais. Em outras palavras, torna-se mais fácil entender os sentidos e

significados gerados nas interações (intra)intergrupais, quando se considera que,

nessa produção, o sujeito é social e não um sujeito individual. Assim, Vala (1993)

estimula que se imagine uma orquestra de jazz executando uma música em

compasso ternário, porque, dessa forma, estará incluído na relação entre o sujeito

(individual ou coletivo) e o objeto, um outro (indivíduo ou grupo), em constante

intermediação triangular.

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Indo na mesma direção, Jovchelovitch (2008) define a representação como

uma “forma triangular” constituída pela “arquitetura básica” das “inter-relações

sujeito-outro-objeto” (p. 41) e assegura que a representação pode ser vista como

uma ação comunicativa que faz a ligação entre essas três instâncias ─

sublinhando a importância do “entre” ─, construindo símbolos capazes de dar

sentido e significado a objetos e pessoas. No caso da presente pesquisa, intenta-

se investigar as maneiras como o corpo dos maiores de 60 anos ─ entendido

como um objeto de interesse social ─ é representado e revestido de símbolos nas

interações dessas pessoas, praticantes regulares de atividade física.

Moscovici (2003) propôs, num passo à frente a Durkheim, que a psicologia

social visse a concepção de representação social como um fenômeno, não mais

apenas como um recurso de análise. Jovchelovitch (2008) ajuda a esclarecer

essa proposição, quando afirma que as representações sociais são tanto uma

teoria quanto um fenômeno. Por um lado, são uma teoria que procura estudar a

formação e a transformação dos saberes sociais, a partir dos processos de

comunicação e interação. Por outro, são um fenômeno composto de

regularidades empíricas que envolvem valores e práticas humanas relativas a

objetos específicos, referentes a processos sociais comunicativos e expressivos.

Contudo, o interesse principal dessa teoria é a investigação do fenômeno

das representações sociais, no qual são encontrados os saberes cotidianos

produzidos na vida comum e que não são considerados distorções ou erros pela

teoria. Essa característica, inclusive, é destacada por Castro (2002) como uma

das precisões a clarificar o conceito de representações sociais e que enfatizaria a

irredutibilidade dessa concepção a qualquer outro tipo de conhecimento, assunto

a ser retomado mais adiante. Resumidamente, a título de informação, outra

precisão assinalada por essa autora seria que as representações são forjadas

coletivamente, expressadas por grupos, servindo para produzir comportamentos e

guiar a comunicação; por último, a precisão básica e indispensável, relativa à sua

função de transformar o estranho em familiar, através da apropriação social da

novidade.

Com respeito à criação de novas representações, Harré (2001) chama

atenção para o fato de que elas também surgem e se apresentam na fala, cujo

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vocabulário desempenha o papel de suporte e as palavras o de vetores a

transmitir os valores, crenças e conhecimentos de senso comum de uma cultura.

Moscovici e Vignaux (2005) sugerem que a teoria das representações

sociais seja entendida não como uma nova ciência, mas como um novo

paradigma para a abordagem de fenômenos sociais construídos e veiculados

principalmente através do discurso. Assim, consideram que as representações

sirvam à elaboração de sistemas explicativos e do consenso para a ação

socialmente vinculada, permanentemente reconstruindo visões de mundo e

mentalidades que orientam comportamentos, a partir das interações individuais.

Além dessas interações, não se pode esquecer o papel da mídia na

divulgação de imagens criadoras de representações da nova velhice e do

envelhecimento, não só no que se referem aos modos atualizados de se

comportar, mas aos cuidados dedicados à boa forma e à aparência corporal a

partir da terceira idade.

O trabalho seminal de Moscovici foi fundamental para a compreensão do

importante papel da comunicação na construção e na transformação das

representações sociais, pois inaugurou a tradição teórica de incluir a realidade

social como constitutiva dos fenômenos psicológicos, sem desconsiderar os

processos mentais nela envolvidos (JOVCHELOVITCH, 2008), nem o caráter

simbólico existente nas relações sociais (MOSCOVICI, 2001).

Sendo todo conhecimento simultaneamente simbólico e social, as

representações expressam os consensos do senso comum, atuantes na produção

de saberes, que se mostra incapaz de impedir as complexas interferências da

vida social nesse processo (JOVCHELOVITCH, 2008). Esse fato guarda relação

com o papel do conceito de themata na criação dos saberes científicos, pois

mesmo a ciência é produzida com base em representações-fonte de longa

duração, que continuamente atravessam a história e prescindem de

comprovação. Esse conceito se refere às premissas inquestionáveis de uma

sociedade, de uma cultura, de uma época, de que partem os cientistas em suas

elaborações teóricas (MOSCOVICI e VIGNAUX, 2005).

Ao propor que a concepção de representações dê sentido teórico à conduta

dos seres humanos, numa perspectiva do grupo, e também seja uma teoria que

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busque compreender a construção do conhecimento de senso comum, restituindo

a sua importância, Moscovici leva em consideração o individual e o coletivo

simultaneamente, sem se despreocupar com o contexto histórico e cultural

(HARRÉ, 2001; ARRUDA, 2002 e JOVCHELOVITCH, 2008). De tal modo que

chega a compará-la a uma “Antropologia da cultura moderna” (MOSCOVICI,

2001, p. 63), no sentido da investigação do que há de social no pensamento das

pessoas.

No esforço para restabelecer o prestígio da sabedoria do senso comum,

normalmente vinculada ao erro e à ignorância, a teoria das representações

sociais a apresentou como um tipo de conhecimento irredutível a qualquer outro

sistema de saber. Esse conhecimento, produzido no cotidiano pelas apropriações

e transformações operadas por sujeitos e coletividades, deve ser avaliado,

principalmente, pelo que de importante significa para aqueles que o produzem.

Portanto, nessa tentativa de recuperação de reconhecimento, a teoria das

representações sociais defende a sabedoria relativa de todos os sistemas de

conhecimento e a superação da rigidez dos limites entre o conhecimento racional

e o fundamentado na experiência dos sentidos (JOVCHELOVITCH, 2008).

Como teoria, ela investiga e tenta explicar a reciprocidade das relações entre

indivíduo e sociedade e como fenômeno são ressignificações dos saberes

compartilhados pelo grupo (COMERLATO, GUIMARÃES e ALVES, 2007).

Tomando-se como exemplo esta pesquisa, procurou-se o embasamento

teórico das representações sociais para investigar e tentar interpretar como os

indivíduos maiores de 60 anos, na qualidade de um grupo etário numeroso e

importante, representam o corpo socialmente.

Moscovici deu origem a essa abordagem, ao ter a sua atenção despertada

para a capacidade de os meios de comunicação divulgarem amplamente os

novos conhecimentos científicos, ao mesmo tempo em que os digerem,

transformando-os, alterando, assim, as maneiras coletivas de pensar. Esses

saberes adquiridos por todos visam a conformar o mundo real e modelam as

atitudes dos indivíduos. As informações quando apreendidas sofrem modificações

nas interações e, assim, representações são criadas para a comunicação e a

ação das pessoas (MOSCOVICI, 2001).

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Em relação ao papel da função simbólica das representações, elas

constroem o mundo através dos símbolos, indo além da realidade empírica. De

fato, por meio desse processo as representações criam mundos simbólicos, antes

ausentes do mundo objetivo (JOVCHELOVITCH, 2008).

Conforme Abric (2001), a representação organiza opiniões, atitudes, crenças

e informações a respeito de uma situação, levando-se em conta a história do

sujeito, sua inserção na sociedade e suas relações mais amplas com o contexto

social. Nesse mesmo sentido, Jovchelovitch (2008) afirma que todo

conhecimento, mesmo se admitindo que tenha sido produzido por uma única

pessoa, trás em si o contexto social, cultural, histórico e psicológico formador

desse mesmo indivíduo.

A partir dessa constatação ficaria mais fácil compreender, em sentido inverso

e por extensão, como o desejo de uma categoria etária por assumir os valores e

buscar identificação na juventude, pode não ser espontâneo, sendo conformado

pelo próprio contexto sócio-histórico e cultural que, simultaneamente e

paradoxalmente, subsidia o indivíduo em seu impulso criador. Essa dinâmica é

paradoxal porque, ao mesmo tempo em que o contexto impulsiona o sujeito

(individual ou coletivo) a criar e a desejar, também conforma o seu desejo e o seu

ímpeto criativo. Seja a criação de uma pessoa ou de um grupo de idosos, seja a

produção de conhecimento científico ou o desenvolvimento de saberes práticos

capazes de proporcionar a adequação dos mais velhos aos valores dos mais

jovens.

Moscovici (2003) assegura que a finalidade das representações é

transformar o não familiar em familiar, localizando-o em um universo consensual

do pensamento coletivo, tributário da memória, da tradição e das convenções. Ele

define dois mecanismos que procedem a essa transformação em direção ao

familiar: a ancoragem, que classifica e nomeia o novo, traduzindo-o em termos de

um universo já conhecido; e a objetivação, que tende a concretizar as abstrações

que se apresentam, dirigindo-as para o mundo físico, a fim de poder controlá-las.

Ambos os mecanismos dizem respeito à memória coletiva, tanto no que se refere

à classificação e nomeação de um objeto, quanto à sua reprodução no mundo

externo.

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Arruda (2002) contribui para a compreensão desses mecanismos, ao

explicar a ancoragem como a metáfora do movimento de jogar âncora nos

conhecimentos existentes, para apreender a novidade. Descreve o processo de

objetivação da representação como o que se consegue captar de mais evidente

do objeto e frisa que a objetivação não é o enraizamento da novidade, mas a

forma como ela se reorganiza. Esses dois processos constituem o cerne da

representação, a imagem sintética e organizada dos seus elementos.

Independentemente da mudança de nomenclatura, Moscovici (2001) confere

a Durkheim a autoria desse conceito, cuja utilização torna possível a elucidação

de inúmeros fatos sociais. Aquele autor assinala que, ao distinguir as

representações coletivas das representações individuais, Durkheim defende a

ideia de uma “inteligência única” da sociedade, em posição superior às

“inteligências particulares” que compõem o grupo (MOSCOVICI, 2001, p. 48).

Sustenta até mesmo que as representações coletivas são partilhadas por todos

os integrantes de uma comunidade, cujo papel é uniformizar o pensamento e a

ação, atravessando o tempo ao coagir incessantemente os membros da

sociedade.

Moscovici (2001) ressalta que a maioria das observações de Durkheim diz

respeito a sociedades mais simples, sem o grau de complexidade das sociedades

contemporâneas. No entanto, para o primeiro estudioso, as ideias de Piaget e

Freud esclarecem pontos obscuros sobre o pensamento de Durkheim, ao

diminuírem a importância do papel constantemente coercitivo das sociedades

sobre os indivíduos, preconizado por ele.

Ao identificar as fontes intelectuais da psicologia social das representações,

Jovchelovitch (2008) relaciona as obras de Durkheim, Lévy-Bruhl, Piaget,

Vygotsky e Freud.

Em Durkheim, Moscovici buscou desenvolver e aprofundar o seu conceito de

representações coletivas, referente à noção de uma consciência coletiva da

sociedade, a qual vincula o social à maneira individual de pensar e agir.

Entretanto, na tentativa de superar esse conceito, Moscovici recusou a ideia da

evolução linear do pensamento comum para formas superiores, conforme

acreditava Durkheim, causada pelo progressivo abandono dos vínculos afetivos e

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sociais dos sistemas de classificação do pensamento primitivo

(JOVCHELOVITCH, 2008). Isso significa que quanto mais evoluídas fossem as

formas de pensar, menor seria a interferência dos laços socioafetivos nos

processos mentais classificatórios, pressupondo a existência de uma neutralidade

objetiva a ser alcançada.

Segundo Jovchelovitch (2008), a obra de Lévy-Bruhl inspirou Moscovici

justamente na compreensão da irredutibilidade das representações sociais a

outras formas de pensamento e o ajudou a entender o processo de como o

conhecimento científico é ressignificado pelas pessoas comuns, desde o

momento em que começa a circular pelos espaços sociais. Essa ressignificação

não representa, portanto, uma distorção. São representações sociais com

racionalidades, lógicas e funções próprias e específicas, não obedientes a um

modelo pré-estabelecido.

Moscovici (2001) informa não ser possível conceber a explicação de fatos

sociais a partir da individualidade da mente e que cada grupo possui a sua

mentalidade peculiar. Recupera as dimensões afetiva e cognitiva na elaboração

das representações e identifica a lógica da atividade mental em grupo.

Tal lógica, mesmo sem ser pronunciada, pode levar a comportamentos e

práticas coletivas com vistas a um objetivo aparentemente apenas pessoal, porém

almejado inconscientemente ou tacitamente pela maioria do grupo. Esse

pensamento se refere ao desejo íntimo de se construir um corpo ideal, digno de

distinção e reconhecimento, mas que na verdade se trata de uma aspiração

coletiva por um modelo hegemônico. Cabe salientar que, embora seja

amplamente visível o esforço e a dificuldade para essa conquista individualmente

coletiva, o corpo ideal está presente simbolicamente e de forma constante na

sociedade, seja através da mídia, seja através das interações pessoais.

Foi através de Piaget que Moscovici teve acesso à obra de Durkheim e Lévy-

Bruhl. Conheceu a sua conceituação de representação, os seus estudos sobre as

concepções de mundo das crianças, que enfatizam a sua capacidade cooperativa

ao invés dos aspectos coercitivos, ao contrário de Durkheim (JOVCHELOVITCH,

2008).

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Na verdade, a teoria das representações sociais se propõe a investigar todas

as representações, independentemente das suas características, desde que

sejam geradas durante os processos comunicativos e interativos, o que as tornam

sociais, e resultantes da ideação coletiva a partir de novos conhecimentos

produzidos e transmitidos através da sociedade (MOSCOVICI, 2001). Moscovici

também encontrou semelhança nos processos de assimilação e acomodação,

definidos por Piaget, e mais tarde traduzidos por ele como os processos de

ancoragem e objetivação (JOVCHELOVITCH, 2008).

Apesar de a obra de Vygotsky não ter participado da elaboração inicial da

teoria, o seu pensamento tem sido bastante influente e se aproxima ao de Lévy-

Bruhl no que diz respeito à coexistência de diferentes racionalidades na

sociedade, princípio fundamental na elaboração do conceito de polifasia cognitiva,

desenvolvido posteriormente por Moscovici (JOVCHELOVITCH, 2008).

Farr (2002) comenta que Freud, ao desenvolver a psicanálise, acabou

elaborando uma teoria social da mente humana, cuja difusão, na França, inspirou

Moscovici a escrever a sua obra fundadora (La psychanalyse: son image et son

public, 1961), somente em 2012 traduzida para o português.

Para Jovchelovitch (2008), a importância do médico austríaco se deu pela

compreensão dos processos inconscientes na constituição dos saberes sociais.

Em complementação a essa ideia, Moscovici (2003) argumenta que, para a

psicologia social que propõe, as representações são processos sociais

lentamente internalizados, até assumirem a forma de processos psíquicos.

Como se vê, o movimento circular ─ do individual para o social e deste para

o indivíduo ─ encontra-se presente na mente humana e na vida social.

A influência desses pensadores ajuda a explicar a ligação entre a teoria das

representações sociais e as ciências humanas (JOVCHELOVITCH, 2008), e a

obra inaugural de Moscovici procura entender o processo que leva de um lado ao

outro o conhecimento científico e o saber de senso comum (JODELET, 2001), ao

mesmo tempo buscando sintetizar as relações entre os indivíduos e a sociedade

(JOVCHELOVITCH, 2008).

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As representações sociais ocupam, assim, o lugar das representações

coletivas, de traços mais fixos, voltadas às sociedades menos complexas.

Moscovici (2001) destaca o papel assumido pela comunicação, que centraliza os

sentimentos individuais e coletivos, fazendo com que seja possível o movimento

simultâneo entre o individual e o social na formação das representações, que

tendem a ultrapassar o universo das tradições em direção ao das inovações.

Essa ideia é complementada por Jodelet (2001), para quem a abrangência

das representações é atribuída à partilha social, que não se restringe aos limites

de um grupo, embora sirva à afirmação de uma unidade de pertencimento. Vale

acrescentar que, justamente por ultrapassarem os limites do grupo, as

representações terminam facilitando as inovações, em detrimento da preservação

das tradições.

Sá (1998) considera conveniente esclarecer que o termo ‘representação

social’ não se limita aos estudos da escola moscoviciana, sendo utilizado

livremente por autores de outras áreas de conhecimento.

Na mesma linha, Flament (2001) diz que tanto a palavra representação,

quanto a expressão representação social têm sido usadas de forma bastante

imprecisa pelas ciências humanas, principalmente quanto ao descuido em

especificar esse último conceito como compartilhado pelos componentes de um

mesmo grupo.

Sá (1998) recomenda a escolha de um referencial teórico já constituído

para balizar a construção de um objeto de pesquisa, como a TRS de Moscovici,

observando a existência de outros teóricos importantes nesse campo de

pesquisa. Aqui ele menciona as três primeiras abordagens dessa teoria: Jodelet

(1989), Doise (1985) e Abric (1994). Entretanto, deve-se ressaltar que atualmente

existem outras expressões acadêmicas que também têm aprofundado ou

desenvolvido novas reflexões teóricas.

Segundo assinala Sá (1998), Jodelet tem tornado a teoria mais objetiva, ao

mesmo tempo em que mantém a preocupação original com uma descrição

abrangente das representações sociais, tarefa considerada primordial por

Moscovici (2003) para tentar compreendê-las em toda a sua complexidade, uma

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vez que, por exemplo, quanto menor a consciência que se tem delas, maior é o

seu poder.

Doise articula a teoria a uma abordagem sociológica (SÁ, 1998) e acredita

que a definição de representações vá além de um consenso de opiniões, sendo

uma tomada de posição a partir de diferentes perspectivas (DOISE, CLEMENCE

e LORENZI-CIOLDI, 1992; DOISE, 2001).

Abric é o responsável pela elaboração inicial da abordagem estrutural,

interessada na estrutura cognitiva e nas conexões entre representações sociais e

comportamento (SÁ, 1998).

Wagner e Hayes (2011) ressaltam a estabilidade dos esquemas prototípicos

mentais, organizados pelo acúmulo de experiências vividas e que constituem o

acervo para o enfrentamento de situações diárias semelhantes às já conhecidas.

Marková (2003; 2006) tem apontado para a importância dos conceitos de

thema (singular) e de themata (plural) na teoria das representações sociais.

Entretanto, não há consenso quanto à capacidade metodológica atualmente

disponível para investigá-los, em que pese serem reconhecidos como constructos

ideológicos a que estão subordinadas as representações, concebidas em uma

estrutura hierárquica das formações simbólicas do pensamento social

(CAMARGO e WACHELKE, 2010).

Moscovici e Vignaux (2005) definem themata como as ideias axiomáticas de

uma época, muitas vezes expressando ideias opostas como bom/mau,

saúde/doença, vida/morte (MARKOVA, 2003, 2006). Seriam as ideias primárias

de longa duração, onde estariam as origens dos temas aceitos por todos sem a

necessidade de comprovação e em torno das quais seriam organizadas as

representações sociais.

No entanto, mesmo não havendo consenso metodológico, Marková (2003)

afirma que a análise dos themata é especialmente adequada à técnica dos grupos

focais, método de pesquisa baseado na comunicação em grupo e que não visa

reduzir a complexidade da linguagem.

Por outro lado, de acordo com Camargo e Wachelke (2010), embora haja

evidências e o entendimento de que as representações sociais estejam

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relacionadas a outras formas de pensamento, há espaço na teoria para se lidar

com a gênese das representações, através do mecanismo de ancoragem. Esse

processo possibilitaria apontar a existência de representações que parecem

influenciar a origem e a dinâmica de representações subordinadas, sem que se

faça referência aos themata, cuja explicação iria até às esferas sociológicas e

antropológicas. Sem dúvida, essa é uma discussão que permanece em aberto.

Em vista das diferentes perspectivas, Sá (1998) reconhece o campo das

representações ainda bastante dependente da criatividade do pesquisador para

desenvolver métodos próprios.

No mesmo sentido, Marková (2003) diz que a análise dos dados produzidos

pelos grupos focais ainda não foi suficientemente elaborada, o que abre caminho

à capacidade de inovação dos estudiosos. Ao prosseguir em seu raciocínio, ela

enfatiza que a imaginação do pesquisador é fundamental para conciliar outros

métodos com essa técnica, assim como os resultados também podem ser

submetidos a diversos procedimentos de análise, com a intenção de abranger

toda a complexidade da comunicação no processo interpretativo e avaliativo.

Por fim, Camargo, Justo e Alves (2011) assinalam a dificuldade para se

coletar os dados empíricos numa pesquisa de representações sociais, evitando-

se distorções que comprometam seus resultados. Assim, sugerem a utilização

múltipla de técnicas, tanto qualitativas quanto quantitativas, a fim de melhor se

aproximar dos conteúdos psicossociais das crenças, opiniões, práticas e dos

sentidos compartilhados sobre um determinado objeto de interesse social, tal

como o corpo físico tem sido visto, experimentado, desejado e submetido aos

processos de manutenção e formatação de uma aparência desejada, mesmo

depois dos 60 anos.

2.2 Questões de pesquisa

Diante das reflexões possibilitadas pelos autores referidos, foram

elaboradas as seguintes questões:

1) Que relações há entre as representações sociais do corpo encontradas

e as práticas de atividade física observadas durante o trabalho de campo?

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2) Quais as expectativas dos sujeitos em relação às funções simbólicas do

corpo?

2.3 Objetivo geral

Apreender as representações sociais de corpo construídas por homens e

mulheres maiores de 60 anos de idade, praticantes regulares de atividade física.

2.4 Objetivos específicos

1) Descrever o perfil sociofamiliar dos sujeitos da pesquisa.

2) Caracterizar as representações sociais do dispositivo utilizado pelos

participantes do estudo: a atividade física.

3) Identificar, no grupo investigado, crenças, normas, valores, atitudes e

práticas relativas ao corpo.

2.5 Levantamento de campo

Na primeira etapa da pesquisa foi organizado um processo de observação

da realidade sociocultural dos espaços territoriais identificados. Essa opção

metodológica fundamentou-se na necessidade de se aproximar dos loci de

investigação, uma vez que nem todos eram conhecidos pelo pesquisador.

Procurou-se observar o comportamento habitual dos investigados nos locais

destinados às atividades físicas, objetivando revelar redes de significados,

práticas, códigos estabelecidos, em um processo de coleta de dados que se

concretiza com uma menor rigidez de protocolos, como assinalado por Adler e

Adler (1998). Essa metodologia exigiu a presença frequente no campo de

pesquisa e um esforço de se apreender os modos de agir e as formas de

comunicação entre os indivíduos (EISENHART e HOWE, 1992).

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Estar junto com esses grupos possibilitou o aprendizado acerca de suas

normas, crenças, atitudes e práticas em relação ao corpo, através dos exercícios

que desenvolviam, além do processo de sociabilidade existente entre eles.

Isso foi possibilitado pela convivência com o cotidiano de um espaço cultural

e está incluído naquilo que se tem nomeado ─ pensando em procedimento de

investigação ─ como a observação sistemática, ou seja, um procedimento de

investigação que demanda o dispêndio de um tempo grande dedicado ao olhar,

ao diálogo com os sujeitos da pesquisa e, nesse contexto, não se pode

estabelecer roteiros muito fixos, tempos muito precisos.

Buscou-se estar atento aos acontecimentos e situações que envolvem a

rotina das atividades físicas desses grupos e que se constituem em hábitos,

costumes, práticas culturais.

Diante do acúmulo de dados a respeito dessa população e de suas formas

de convivência, foi possível ─ numa segunda etapa da investigação ─ a

construção de instrumentos de coleta de dados adequados ao ambiente

sociocultural e à linguagem desses grupos sociais.

A fim de se procurar proporcionar validade ao estudo, de acordo com Madiot

e Dargentas (2010), adotou-se a estratégia da triangulação metodológica. Além

da observação sistemática, foram utilizados, como instrumentos para a produção

de dados, o questionário semiestruturado e a entrevista em profundidade. Durante

o processo de análise, buscou-se a conexão permanente entre os resultados

obtidos e as hipóteses interpretativas, levando-se em consideração a lógica

natural do pensamento coletivo dos indivíduos, em articulação com os princípios

da TRS (ARRUDA, 2005).

2.6 Recrutamento de sujeitos

Para a aplicação do questionário, foram incluídos na amostra intencional 152

homens e mulheres com 60 anos ou mais, praticantes regulares de atividade

física em academias, grupos de ginástica ao ar livre, no projeto “Idosos em

Movimento: Mantendo a Autonomia (IMMA)” e da Universidade Aberta da Terceira

Idade (UnATI), ambos da UERJ. Todos aceitaram o convite para participar da

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pesquisa, concordando em assinar um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido ─ TCLE (Apêndice II).

Esta etapa foi facilitada pela cooperação da coordenação do projeto IMMA e

da direção da UnATI que autorizaram a realização do trabalho de campo e

fizeram a apresentação do pesquisador aos alunos e responsáveis pelas

atividades desenvolvidas. Contatos preliminares, igualmente favoráveis, também

foram feitos com os proprietários de três academias e com os professores de um

grupo de ginástica na praça.

Vale acrescentar que o trabalho de campo foi realizado de maio de 2012 a

outubro de 2013, desde as primeiras observações e aplicações do questionário

piloto até a última entrevista em profundidade realizada. Todo material foi

transcrito e digitalizado pelo pesquisador, sendo que os dados do questionário

foram tabulados com a ajuda do programa Excel® 2007.

2.7 Instrumentos

A abordagem estrutural da TRS, como assinala Abric (2003), preconiza que

toda RS está organizada hierarquicamente a partir de um sistema central (SC).

Seus elementos refletem a memória coletiva, o consenso do grupo, dão sentido e

organizam a estrutura da RS, caracterizando-se por atuar na sua estabilidade e

unificação.

O sistema periférico (SP), por sua vez, tem características de instabilidade e

flexibilidade, faz a intermediação entre o SC e a realidade, adaptando-o a novas

situações concretas, visando proteger a sua estabilidade. Por esse contato mais

próximo com o cotidiano, é por seu intermédio que se inicia a ancoragem de

novos elementos, possibilitando a dinâmica do processo de mudança nas RS.

Essa elaboração contribui para a compreensão das contradições internas das RS,

ao atribuir características e funções bem distintas aos elementos dos respectivos

sistemas (ABRIC, 2003).

Para identificar os conteúdos e a organização da representação, aplicou-se

um questionário com perguntas abertas e fechadas sobre a condição sociofamiliar

dos participantes, com dois testes de associação livre de palavras, uma série de

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perguntas abertas e fechadas objetivando identificar normas, crenças, valores,

atitudes e práticas relacionadas ao corpo e à AF (Apêndice I). Foram utilizados os

termos indutores corpo e atividade física, respectivamente. Com o intuito de que

as respostas ao Teste de Evocação de Palavras (TEP) fossem dadas o mais

prontamente possível, a fim de melhor capturar o pensamento imediato,

espontâneo, dos participantes, os termos indutores não se encontravam escritos

no questionário. Eles foram preenchidos somente após a explicação e o pleno

entendimento da dinâmica de como se realiza esse teste (TURA, 1998).

Após ouvirem o termo indutor, os sujeitos informaram as quatro primeiras

palavras que lhes vieram à cabeça. Em seguida, solicitou-se que selecionassem

as duas mais importantes, desempenhando assim um trabalho cognitivo de

hierarquização das evocações realizadas, pedindo-se, ainda, que justificassem as

escolhas.

2.8 Análise dos dados

Com o auxílio do programa EVOC® 2000 (VERGÈS, SCANO e JUNIQUE,

2000), procedeu-se à análise prototípica dos resultados do TEP, analisando-se

em simultâneo as dimensões coletiva e individual envolvidas no processo de

evocação, através da análise das frequências e das ordens médias de evocação,

respectivamente. O corpus foi organizado unificando-se gênero, número e

sinônimos das evocações. Realizado esse procedimento, as evocações já

categorizadas foram distribuídas em gráfico de dispersão, onde a interseção das

linhas das médias de frequência e de ordem média de evocação o divide em

quadrantes ou em casas, como assinala Abric (2003).

No quadrante superior esquerdo situam-se as palavras com as frequências

mais elevadas e com as menores ordens médias de evocação, isto é, estão acima

da média das frequências encontradas (Fm) e abaixo da média das ordens

médias de todas as evocações (OME). Por essas características considera-se

que, provavelmente, esses elementos componham o SC, por terem sido

evocados prontamente por um número maior de sujeitos.

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No quadrante inferior direito acham-se as categorias com as frequências

mais baixas e as maiores ordens médias de evocação, quer dizer, estão abaixo

da Fm e acima da OME, compondo o SP. São palavras lembradas tardiamente

por um número menor de participantes.

Nas duas outras casas encontram-se elementos da periferia próxima ou

sistema intermediário (SI), próximos do SC e que guardam características de

instabilidade da RS (FLAMENT, 1994; 2001), justamente por essa proximidade.

Dando sequência, a próxima etapa consistiu em verificar a organização dos

elementos constituintes da estrutura identificada, tarefa que foi cumprida com a

utilização da análise de similitude, técnica que permite estimar o valor simbólico

através do estudo das coocorrências existentes entre esses elementos, revelando

as relações significativas entre os conjuntos formados por eles (BOURRICHE,

2003; PEREIRA, 2005). A execução dessa técnica foi facilitada pelo emprego do

programa informático Dressing® (VERGÈS e JUNIQUE, 1999).

As respostas às perguntas fechadas foram analisadas segundo a sua

frequência e proporção. A análise do material das perguntas abertas o foi com

base na categorização do seu conteúdo (BARDIN, 2003; SALDAÑA, 2009).

Posteriormente, a partir da análise dos questionários respondidos, foi

elaborado um roteiro para entrevista em profundidade (Apêndice III). Dos 27

indivíduos entrevistados, nove já haviam respondido ao questionário. Foram

pessoas que se predispuseram a colaborar com a pesquisa, em função do

interesse demonstrado em continuar expressando suas opiniões a respeito dos

temas suscitados pelas questões inicialmente propostas.

2.9 Critérios de inclusão

Foram incluídos na amostra considerada, todos os indivíduos de ambos os

sexos com 60 anos ou mais, praticantes regulares de atividade física, e que

aceitaram o convite para participar como sujeitos da pesquisa, além de

concordarem em assinar o TCLE.

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2.10 Considerações éticas

O projeto foi encaminhado para a análise do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da UFRJ e atendeu a

todas as exigências de acordo com a legislação vigente, tendo sido aprovado e

recebido o parecer número 179.998. Antes da aplicação dos instrumentos, todos

os participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo e orientados a

respeito de como proceder durante a sua realização. Também foi ressaltada a

importância das informações prestadas por cada um deles para a consecução

desses objetivos, assim como foi assegurada a todos a liberdade de interromper a

sua participação em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo ao

pesquisado. Aqueles que se colocaram à disposição para responder ao

questionário assinaram o TCLE. Todas as precauções foram tomadas para

garantir o anonimato dos sujeitos e o sigilo das informações, cuja utilização tem

unicamente finalidade científica.

O material reunido ─ questionários preenchidos, o áudio das entrevistas e

suas respectivas transcrições ─ está arquivado sob a responsabilidade do

pesquisador. A confidencialidade dos dados foi preservada e a beneficência dos

resultados avaliada visando a sua possível aplicação nos grupos de indivíduos

maiores de 60 anos.

De acordo com os princípios éticos, os pesquisadores deverão divulgar

amplamente os achados e as conclusões dessa investigação através de

seminários e congressos, tendo como perspectiva a publicação de dois artigos em

revistas científicas indexadas.

Os resultados encontrados serão devolvidos aos sujeitos da pesquisa a partir

do entendimento com as instituições envolvidas e de acordo com a

disponibilidade de horário e o interesse manifestado pelos participantes. Os

pesquisadores também se colocarão à disposição para esclarecimentos ou outras

atividades de cunho educativo que possam contribuir para a promoção da saúde

e das práticas corporais dos idosos.

Pretende-se que os conhecimentos produzidos sejam difundidos e que

tenham utilidade no aprimoramento das orientações relativas ao corpo e dirigidas

a essa faixa etária.

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Capítulo 3

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os achados serão comentados, inicialmente, a partir da abordagem

estrutural de corpo e depois de atividade física, analisando-se tanto os resultados

da amostra total, quanto, separadamente, os resultados do grupo feminino e do

masculino.

Posteriormente, apresentar-se-á a análise do corpus das entrevistas,

segundo a abordagem processual, com base na classificação hierárquica

descendente (CHD) realizada pelo programa IRAMUTEQ®, momento em que os

seus resultados serão articulados com os obtidos através da observação

sistemática e do questionário.

3.1 Abordagem estrutural

3.1.1 Descrição dos sujeitos

Na amostra investigada, a amplitude da idade correspondeu ao intervalo de

60 a 93 anos, sendo encontrada a média de 73,6 anos, a mediana de 72,5 anos e

a distribuição de idades se mostrou bimodal, apresentando maior concentração

nas idades 67 e 84 anos, que ocorreram nove vezes cada uma (Tabela 1).

No conjunto havia 80 mulheres (52,6%) que se distribuíram de forma

equânime pelas décadas de 60, 70 e 80 anos. Quanto aos homens, houve um

nítido decréscimo conforme a idade aumentava e apenas quatro mulheres e um

homem informaram ter 90 anos ou mais. A média feminina foi de 75,1 anos e a

masculina de 72,1. Os homens apresentaram nível de escolaridade mais elevado,

sendo apurado que 27,6% concluíram o ensino superior, contra 17,1% das

mulheres. Estão aposentados 88,2% dos sujeitos, embora 18,4% ainda

mantenham alguma atividade profissional (11,8% homens).

A situação conjugal dos respondentes foi distribuída da seguinte forma:

42,1% casados, 30,9% viúvos (21,7% mulheres), 12,5% solteiros (9,9% mulheres)

e 11,8% divorciados ou separados.

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Estes dados estão de acordo com os achados por estudos que analisaram o

perfil sociodemográfico de idosos brasileiros (CRUZ e FERREIRA, 2011; MARIN

et al., 2010; PEREIRA e OKUMA, 2009).

Tabela 1 - Sujeitos segundo faixa etária e sexo

Faixa

Etária

Feminino Masculino Total

f % f % f %

60 a 69 25 16,4 30 19,7 55 36,2

70 a 79 23 15,1 24 15,8 47 30,9

80 a 89 24 15,8 12 7,9 36 23,7

90 a 93 4 2,6 1 0,7 5 3,3

Ñ informa 4 2,6 5 3,3 9 5,9

Total 80 52,6 72 47,4 152 100,0

3.1.2 A estrutura e organização das representações sociais de corpo

No tratamento do corpus produzido pelo TEP analisou-se 75% do total do

material evocado, considerando-se palavras com frequência mínima igual ou

acima de 5. Verificaram-se 414 evocações com 31 palavras diferentes e média de

2,7 evocações por sujeito. A média das ordens médias das evocações (OME) foi

2,5 e a frequência média (Fm) igual a 13 (Quadro 1).

Quadro 1 - Resultados do teste de evocação com o termo corpo

Variáveis f Sujeitos 152 Palavras diferentes evocadas 31 Total de evocações 414 Média de evocações por sujeito 2,7 Média das ordens médias de evocações (OME) 2,5 Média das evocações (FM) 13

As dez maiores frequências corresponderam a 61,6% do corpus e referem-

se às seguintes evocações: saúde (66), beleza (39), aparência (24), cabeça (22),

pernas (19), bem-estar (18), atividade física (16), movimento (14), agilidade (13),

peso (12) e braços (12).

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Os elementos que reuniram as condições iniciais para comporem o SC foram

saúde, beleza, aparência e cabeça, justamente as quatro maiores frequências

encontradas (Quadro 2).

Quadro 2 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo corpo - Amostra total

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5

Elementos f ome Elementos f ome

≥ 13

Saúde 66 1,985 Pernas 19 2,632

Beleza 39 2,179 Bem-estar 18 2,500

Aparência 24 2,250 Atividade física 16 2,688

Cabeça 22 1,818 Movimento 14 2,643

Agilidade 13 3,077

< 13

Braços 12 2,333 Forma física 11 2,545 Peso 12 2,417 Força 10 2,900 Mente 11 2,273 Higiene 8 2,625 Equilíbrio 11 2,455 Alegria 8 3,000 Mãos 9 2,333 Tronco 8 3,000 Olhos 9 2,444 Cuidado 7 2,571 Postura 8 2,250 Determinação 7 3,429 Coração 8 2,375 Caminhar 6 3,167 Disposição 8 2,375 Elegância 7 2,286 Vida 7 2,429 Alimentação 6 2,333 Magreza 5 2,400 Musculação 5 2,400

Na procura por mais indícios de centralidade, averiguou-se a

proporcionalidade destas evocações relativamente às vezes em que foram

indicadas como as mais importantes, verificando-se que somente saúde e cabeça

superaram 50% de indicações (68,2%), um atributo a favor da confirmação

desses componentes como centrais (CAMPOS, 2003).

Conforme aludido anteriormente, o SC espelha os consensos e a memória

do grupo, tende a manter a coerência interna dos seus componentes, gerando os

significados da RS (ABRIC, 2003). Dessa forma, percebe-se a indissociabilidade,

para os sujeitos, do objeto de RS com a manutenção da saúde física e mental,

sendo eles pessoas ativas que ainda pensam no futuro, como essa participante

de 84 anos que aos 69 começou a fazer ginástica e musculação, dizendo que

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tomou essa iniciativa “por mim mesmo, pelo corpo, até comecei a viver mais,

fiquei mais desinibida”. Outro exemplo é um homem de 71 anos cuja principal

motivação para continuar se exercitando é “a vontade de viver mais”.

Mesmo não tendo sido confirmadas na indicação como as palavras mais

importantes, beleza e aparência compuseram o quadrante superior esquerdo com

a segunda e terceira maiores frequências, podendo ser um indicador da

relevância dos sentidos partilhados e atribuídos a essas cognições. Isso,

provavelmente, é reflexo da superexposição midiática de corpos perfeitos e de

receitas de beleza e saúde, o que é coerente com a reflexão de Moscovici (2012)

sobre o fascínio exercido por objetos sociais intensamente difundidos pelos meios

de comunicação.

O ideal de aparência e a imagem do corpo em forma estão presentes

simbolicamente e de forma constante na sociedade, seja na mídia, seja nas

interações pessoais. No Brasil, amenizar os efeitos do envelhecimento é um dos

principais motivos para investir no corpo, em função de se buscar a beleza no

prolongamento da juventude (GOLDENBERG, 2011).

Nesta pesquisa, o elemento aparência também surge em alusão à busca da

jovialidade, como uma participante de 70 anos ao dizer que hoje sobressai “a

preocupação de não envelhecer com a aparência que os anos têm”, ou o

comentário de um homem de 76 anos sobre quem ainda encontra-se em forma

mesmo depois dos 60 anos: “que tem aparência de menor idade”.

O SP agrupou cuidado, higiene, determinação, caminhar, forma física,

tronco, força e alegria. Esses elementos refletem a atenção conferida ao

autocuidado, incluindo a força de vontade necessária para se exercitarem e

melhorarem sua condição física geral, além da satisfação demonstrada com o

universo relacionado às atividades que praticam. Como o SP é o lugar de

ancoragem de novos sentidos, é possível que alegria esteja ancorando sentidos

associados ao convívio social proporcionado pelas práticas em grupo, assim

como à melhora percebida da própria saúde física e mental, conquistada com

determinação, dedicando-se com afinco às práticas desenvolvidas.

Em diversas oportunidades os sujeitos referem-se à alegria; como, por

exemplo, quando afirmam que envelhecer bem é “ter saúde, alegria e viver bem

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com as pessoas” (mulher, 67), ou quando dizem que é “ter um corpo saudável,

trabalhar, ter alegria de viver” (mulher, 82).

Aqui vale ressaltar que para alguns participantes, a questão de envelhecer

bem nem sempre é abordada com uma definição pessoal desse processo. Este é

tomado como um conceito já conhecido, implicitamente entendido por todos como

envelhecer ativamente, prescindindo, portanto, de explicação. Dessa forma, é

visto como um objetivo a ser alcançado, subentendendo-se que, para esses

sujeitos, a postura do envelhecimento ativo (CALDAS e VERAS, 2012) já foi

adotada perante a vida. Portanto, envelhecer bem pode ser visto como:

“um objetivo a ser buscado” (mulher, 64).

“tudo isso que a gente tá fazendo agora” (mulher, 83).

“ser como eu estou. Eu tenho 73 anos e sou da melhor qualidade” (homem, 73).

Pressupõe-se, então, que esta atitude, compreendida como um modo de

representar a velhice, também seja compartilhada pelo grupo sociocultural de

quem respondeu dessa maneira. Essa interpretação também se presta à

suposição de que dentre o volume de informações veiculadas na sociedade, o

conceito de envelhecimento bem sucedido (GONÇALVES et al., 2006) já está

incorporado por uma parcela significativa da população.

Ao mesmo tempo, os outros conteúdos podem significar sentidos

partilhados no cotidiano visando cuidar da saúde, da aparência corporal e do bom

funcionamento da mente, da vida psíquica, expressado no conteúdo cabeça,

fundamental pelo papel desempenhado na autonomia (HERNANDEZ et al., 2010)

desses idosos. É o que se pode observar pela justificativa para a escolha de

cabeça e físico entre as quatro evocações realizadas: “se a cabeça não regular o

corpo, o físico paga!” (mulher, 70); ou pelas declarações sobre um

envelhecimento positivo, ou por sublinhar a importância do bom estado de saúde

e da memória para preservar a autonomia:

“Você ter saúde, boa cabeça, boa memória, alegria” (mulher, 63).

“A pessoa ter boa memória, poder fazer as coisas, não depender dos outros” (mulher, 93).

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O SI constituiu-se de 19 elementos que poderiam ser agrupados por

afinidade temática, conforme a seguir: alimentação, peso, magreza, postura,

elegância (indicando preocupação com a aparência corporal); disposição, bem-

estar, mente e vida (referência aos benefícios alcançados); movimento, atividade

física, musculação, agilidade, equilíbrio (referência às capacidades funcionais e à

autonomia) e, por último, pernas, braços, mãos, olhos, coração (referência às

partes do corpo, à anatomia humana). Sendo a periferia próxima uma zona de

instabilidade da RS, esses conteúdos tanto guardam uma relação de proximidade

de sentido com o SC (grupos aparência e benefícios), quanto com o SP (grupos

autonomia e anatomia).

Prosseguindo a exploração do material com a finalidade de verificar o valor

simbólico expressado pelo poder de organização interna dos diversos elementos

constituintes desta representação, usou-se o recurso da análise de similitude, que

permite avaliar as coocorrências existentes no corpus em estudo (PEREIRA,

2005). (Figura 1).

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Figura 1 - Análise de similitude das evocações de corpo - Amostra total

Inicialmente, observa-se a formação de seis estrelas, quando um elemento

está ligado diretamente a, pelo menos, outros cinco. Os seis organizadores

dessas estrelas são: saúde (16 conexões), cabeça, peso, alimentação, atividade

física (cinco conexões cada) e musculação (seis conexões). Assim, saúde e

cabeça confirmam o valor simbólico de cognições centrais, através do poder de

conexidade apresentado.

Pelos extratos abaixo, pode-se perceber que os vínculos aparentes com

saúde têm como finalidade o prolongamento da vida com qualidade:

“sempre saúde e vigor porque engloba tudo. Com saúde e vigor físico concretiza a longevidade” (homem, 85).

“um indivíduo com saúde, a tendência é ter uma vida prolongada” (homem, 74).

“vida porque através de exercícios você proporciona uma longevidade saudável, com qualidade” (mulher, 71).

Saúde associa-se com alegria, vida, bem-estar (denotando o prazer de

viver) ─ higiene, cuidado, peso, alimentação, aparência, beleza (indicando os

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cuidados com a saúde e com a apresentação pessoal) ─ determinação,

disposição (alusão à força de vontade necessária à manutenção dos cuidados) ─

caminhar, movimento, forma física, agilidade e equilíbrio (referência à

independência e à autonomia) e estabelecendo sua ligação mais densa com bem-

estar, uma vez que o índice de similitude exprime as coocorrências, ou seja, o

número de sujeitos que lidam da mesma forma com as duas categorias de uma

aresta (PEREIRA, 2005). Cabeça, por sua vez, une-se a mãos, pernas, tronco,

coração e musculação, mantendo com os elementos anatômicos uma ligação

mais intensa.

Sobre o vínculo entre as categorias cabeça e pernas, é interessante notar

que o foco de atenção dessa ligação é a preocupação dos indivíduos com a

capacidade de locomoção:

“perna para poder se locomover e a cabeça é que faz você andar” (homem, 84).

“a cabeça para pensar e as pernas para poder andar” (mulher, 79).

“a cabeça é mais importante porque tando com a cabeça boa eu posso andar sem me perder. As pernas porque guentam o corpo em cima” (homem, 78).

Despertou atenção a existência de mais quatro estrelas, todas

centralizadas por componentes do SI. Musculação organiza mente, cabeça, peso,

alimentação, forma física e atividade física, exibindo seu valor simbólico. De fato,

ela foi a modalidade indicada como a mais praticada (52%). Atividade física, além

de musculação, tem conexidade com determinação, higiene, cuidado e

alimentação que, por sua vez, além de atividade física e musculação, também

está conectada a saúde, a higiene e a peso que, afora musculação e alimentação,

também se conecta a magreza, cuidado e saúde, com a qual estabelece uma

intensa ligação em termos de coocorrências.

Os elementos musculação e atividade física podem estar favorecendo a

ancoragem de novos sentidos relacionados às práticas físicas. Da mesma

maneira, a preocupação com uma alimentação saudável e com o controle do

peso corporal parece ter a dupla função de ancorar sentidos de cuidados com a

saúde, assim como com a aparência física também.

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Comparada às estrelas centralizadas por elementos do SI, a organizada

por cabeça distingue-se por ter quatro ligações densas (um subconjunto de

elementos com conteúdos anatômicos), ao passo que as outras têm no máximo

duas. Liga-se a olhos indiretamente, forma um círculo com mãos, pernas, braços

e tronco, outro com tronco, mente, musculação e dois triângulos: com pernas e

mãos e pernas e tronco. Os triângulos são esquemas que podem ser observados

no mapa de similitude e que ajudam a detalhar com maior precisão a relação

entre os elementos da RS (SANTOS, TURA e ARRUDA, 2011), que neste caso

são eminentemente anatômicos, apesar da polissemia apresentada pela cognição

cabeça:

“A cabeça dirige o corpo e os olhos apresentam as maravilhas da vida” (homem, 70).

De certa forma, estranha-se a tendência de cabeça a unir-se com

elementos de dimensão anatômica, visto que nos discursos dos sujeitos, cabeça

aparece com conotações de mente ou mesmo de memória, conforme

anteriormente aludido. Contudo, ressalte-se que são elementos da periferia

próxima ou do SP, local permitido para as contradições e para as trocas do

cotidiano.

Retornando à cognição saúde, o maior número de elementos que organiza

indica que seja o polo de significação da RS de corpo, dando sentido aos seus

elementos internos. Desse modo, articulando os conteúdos diretamente ligados a

ela, os sujeitos buscam viver com alegria e bem-estar, preocupam-se com a

higiene pessoal dentre os cuidados de saúde, que engloba o controle do peso

corporal e, portanto, da alimentação, também visando atingir uma aparência

saudável, ao mesmo tempo expressiva da beleza que ainda preservam. Para

isso, é preciso ter determinação e disposição para caminhar, a fim de alcançar a

forma física e desenvolver a agilidade e o equilíbrio através do movimento.

Foram verificadas dez formações triangulares e saúde é uma das duas

cognições que mais contribuem para a constituição dessas formações. Forma um

triângulo com vida e cuidado, outro com peso e cuidado e mais dois com

alimentação, acrescentando-se peso ao primeiro e higiene ao segundo.

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Alimentação participa da formação de cinco triângulos. Os dois já citados

com saúde, dois com musculação (um com peso e outro com atividade física), e o

último com atividade física e higiene.

Estas formações triangulares podem estar explicitando a importância dos

sentidos atribuídos pelos sujeitos à alimentação para a saúde do corpo. Ela está

relacionada aos cuidados com higiene, ao controle do peso e à atividade física,

como se observa na justificativa de um sujeito para a escolha das evocações

saúde e aparência como as palavras mais importantes:

“Sujeito que faz ginástica tem aparência saudável. Atividade física e alimentação propicia a eliminação de determinadas doenças que se tem por ser sedentário” (homem, 68).

Apesar de não terem confirmado sua centralidade, beleza e aparência

formam uma ligação linear com elegância, postura e saúde, que pode ser uma

indicação de como os sujeitos constroem e partilham os sentidos desses

conteúdos estéticos mediados por saúde.

Vale assinalar que nos conteúdos sobre o significado de estar em forma,

quatro categorias sobressaíram. A principal delas referia-se a ter saúde (física e

mental), seguida pela preservação da autonomia, pela manutenção de um corpo

equilibrado, com as medidas proporcionais, e pela sensação de bem-estar.

Apenas 15,1% disseram não se considerar em forma, ao passo que 71,1%

foram taxativos ao dizer que sim. Nas explicações, o ponto mais importante das

considerações foi a comparação favorável com pessoas da mesma idade,

assunto comentado na literatura (BARROS, 2011; CARADEC, 2011; NERI, 2006).

Logo após, vieram a manutenção da autonomia, o fato de ainda praticarem

AF (80,9% praticam ao menos duas modalidades por semana), assim como de

participarem de diversas atividades sociais, intelectuais, mantendo um

envolvimento ativo com a vida (CALDAS e VERAS, 2012).

A próxima categoria encontrada nas explicações do porquê se consideram

em forma diz respeito ao controle do peso.

No campo do discurso técnico da educação física, o significado de estar

fisicamente em forma normalmente está relacionado com estar bem preparado

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fisicamente, em boas condições físicas. Entretanto, coerente com os

pressupostos da TRS, os sujeitos ressignificaram este sentido pertencente ao

universo reificado, dando preferência à noção consensual de estar em forma

como sendo a apresentação de uma aparência física que os deixe satisfeitos.

Contraditoriamente ao que se poderia esperar das explicações, se levadas

em consideração as respostas sobre o significado de estar em forma, nestas

justificativas saúde apareceu somente como a quinta categoria mais saliente.

Ora, não seria de se esperar que, sendo saúde a principal resposta para o

que significa estar em forma e, além disso, com mais de 70% dos participantes

considerando-se em forma, que o ter saúde também não tivesse sobressaído nas

respostas do por que acreditam que estão em forma? Qual a razão para que

utilizassem, antes de saúde, outras categorias para justificarem a sua condição de

estar em forma? Por que justamente nas explicações inverteu-se a hierarquia da

lógica informal até então seguida? Essas dúvidas fazem pensar que a definição

subjetiva do que seja ter um corpo em forma vá, de fato, além da declaração de

se gozar de um bom estado de saúde.

Bem, levando-se em conta que a amostra é composta por pessoas

aparentemente saudáveis, fisicamente ativas, mas cuja média de idade é um

pouco superior a 70 anos, é natural ─ e isso é dito por eles ─ que se preocupem

com as doenças. Ainda mais com a atual responsabilização individualizada pelos

cuidados de saúde (DEBERT, 1999), que tende a culpar quem adoece. Desse

modo, pergunta-se, pensar em saúde não levaria a pensar na sua antinomia, a

doença, resgatando um tema de oposições de longa duração, no qual os

indivíduos também ancoram suas incertezas em relação ao tempo de vida que

terão pela frente e, com isso, preferem a satisfação íntima de pensar nos que

estão em situação pior que a deles, do que na própria saúde?

Ou, quem sabe, em se estando bem de saúde, tem-se a liberdade e a

possibilidade de pensar em outros valores na sua frente, como a

indissociavelmente humana preocupação com a própria aparência física.

“No fundo, você dizer assim: eu não ligo prá isso, não ligo mesmo, passou o tempo... Mentira! Mentira! Quando alguém fala prá você: cê tá bem cara, tá muito bem, cê fica todo orgulhoso..., (...) não fala nada, mais fica todo

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prosa. No débito e crédito é um grande crédito que você ganha” (homem, 72).

Sobre as variadas opiniões colhidas a respeito de idosos fisicamente

ativos, encontrou-se que 80% ou mais acreditam que eles sejam independentes,

produtivos, saudáveis, bem-humorados, competentes, atuantes, desinibidos e que

ainda sejam vigorosos. Um conjunto de 71,1% acham os idosos valorizados

socialmente, 65,8% os consideram fisicamente atraentes, 57,9% não julgam os

mais velhos conservadores e 57,2% são de opinião que as pessoas maiores de

60 anos permanecem ativas sexualmente.

Sobre essa última questão, vale a pena reproduzir alguns comentários

acrescentados no fim do questionário, ou em conversa com o pesquisador. Esses

comentários foram, principalmente, os referidos à atração física e à atividade

sexual:

"As pessoas me acham atraente pelo que eu faço de acordo com a idade que tenho" (mulher, 92).

Sobre o item 'sexualmente ativas', disse o respondente: "Aí tem um monte de mentira! Quando perguntei se podia tomar um azulzinho o Dr. falou: tá maluco!!!" (homem, 77).

Sobre o mesmo item anterior: “Acho que falam muita mentira! dizem que fazem não sei quantas vezes, mas não fazem nada!" (mulher, 79).

Sobre o mesmo item exclamou: "60 anos é nova!" (mulher, 66).

"Digo por mim, porque se não fosse viúva, continuaria a ser" (mulher, 84).

"Comparo o sexo ao carro: dirigir quando é novo, depois não quer mais" (homem, 84).

[Respondente viúva e estrangeira] “Me sinto muito sozinha. Tenho só uma filha que mora fora do país e não tenho neto. Casei, me separei, casei de novo e os dois já morreram. Depois não quis mais, eu estava acabando com os homens [risos]. Até há pouco tempo eu arranjava uns homens. Lá no meu país eu poderia pagar por uns homens bonitos, não tem importância, mas aqui...” (mulher, 88).

Em se tratando de investigar os sentidos de corpo, torna-se relevante

explorar como eles são construídos entre homens e mulheres deste estudo.

Primeiramente, serão apresentados os resultados da análise prototípica

referentes ao corpus oriundo das evocações femininas.

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As 80 mulheres produziram um corpus com 271 evocações. Desse total,

foram analisadas 203 palavras (75% do corpus), com frequência mínima igual a 4

e média de 3,4 evocações por participante (Quadro 3).

Quadro 3 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo corpo - Grupo feminino

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5

Elementos f ome Elementos f ome

≥ 8

Saúde Beleza Aparência Cabeça Forma física

31 16 10 10 8

1,806 2,375 2,200 1,800 2,250

Bem-estar Pernas Atividade física Agilidade

14 11 10 8

2,643 2,727 3,000 3,750

< 8

Elegância Peso Magreza Movimento Cuidado Disposição Olhos Postura Vaidade

7 7 5 5 4 4 4 4 4

2,286 2,000 2,400 2,400 2,000 2,250 2,000 2,2501,250

Higiene Alegria Braços Equilíbrio Alimentação Estética Musculação Tronco

7 6 6 6 4 4 4 4

2,857 3,167 2,667 2,500 3,000 2,5002,500 3,000

Com a finalidade de buscar outros indícios de centralidade dos elementos

situados no quadrante superior esquerdo, espaço onde se espera que se

localizem os componentes do núcleo central da RS, verificou-se,

proporcionalmente, o quanto cada uma dessas categorias foi considerada pelos

sujeitos uma das palavras mais importantes. Nesta etapa, constatou-se que

cabeça (70%), saúde (61,3%) e aparência (60%) foram as cognições que

ultrapassaram 50% de indicações.

Procedeu-se, posteriormente, ao teste de dupla negação (TDN), onde os

sujeitos foram perguntados se era possível pensar em corpo, sem pensar em

cada uma das categorias inicialmente classificadas como pertencentes ao SC.

Neste caso, espera-se uma proporção mínima de 75%, num intervalo de

confiança de 95%, de respostas negativas categóricas que refutem o

questionamento, para que seja considerado mais um indício de essencialidade

desses elementos.

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Somente saúde (92,1%) e cabeça (76,3%) suplantaram a proporção

mínima estabelecida, sendo mais uma indicação a favor da centralidade desses

elementos.

Dando sequência à investigação e para se averiguar o valor simbólico, ou

seja, o poder de organização dos elementos desta RS, submeteu-se o corpus

encontrado à análise de similitude, procedimento que, através de cálculos

estatísticos, permite reproduzir a observação das ligações e a densidade das

coocorrências presentes no material de estudo, como pode ser visto na figura 2.

Figura 2 - Análise de similitude das evocações de corpo - Grupo feminino

Iniciando-se a interpretação do mapa de similitude, nota-se a existência de

cinco estrelas, formação em que uma das categorias une-se diretamente a pelo

menos outras cinco, através das conexões que faz com cada uma delas,

representadas pelas linhas do grafo.

A mais significativa das estrelas, por seu valor simbólico explicitado pelo

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seu poder organizador, o que lhe confere proeminência na geração dos sentidos

partilhados no grupo sobre o objeto corpo, foi saúde, que organiza outras 12

cognições.

Quatro delas dizem respeito aos aspectos objetivos da saúde: alimentação,

cuidado, peso e higiene; três fazem referência a aspectos da ampliação da

capacidade de autonomia e do desempenho físico: forma física, disposição e

agilidade; três compõem o subconjunto relacionado a aspectos da beleza e da

satisfação com a imagem do corpo: beleza, estética e vaidade; por fim, aspectos

subjetivos da saúde como bem-estar e alegria, que atravessam e ultrapassam os

demais, evidenciando a multiplicidade de fatores determinantes da saúde.

Retomando a análise, as outras estrelas foram organizadas por pernas,

musculação, beleza e cabeça, as duas últimas confirmando, assim, o seu caráter

de componente central da representação em estudo, por terem demonstrado

saliência na análise prototípica e poder de organização na análise de similitude.

Cabeça está ligada a tronco, braços, pernas, atividade física e postura. É

curioso observar que cabeça, apesar de aparecer nos discursos no sentido de

boa capacidade de raciocínio, boa memória, lucidez e até de alegria, qualidades

abstratas, apresenta-se mediando as relações com a anatomia corporal,

construção detalhada pela presença de três triângulos com elementos de

conteúdos anatômicos, que remetem à dimensão biológica do ser humano.

Provavelmente, porque esteja ancorada na memória dos ensinamentos escolares

do passado, época da aprendizagem do reconhecimento das partes do corpo na

infância, repetida e memorizada como se segue: cabeça, tronco e membros. Ou,

explicitando a influência dos meios de comunicação e de estratégias de marketing

em que se procura dar destaque a estes componentes anatômicos.

As suas associações com os elementos atividade física e postura

possivelmente estão relacionadas ao papel atribuído à cabeça de comando das

ações do corpo, capaz de conduzi-lo em direção à prática de AF, visando a uma

boa postura, qualidade física bastante valorizada.

Pernas, depois de saúde, forma a estrela mais numerosa. Estabelece

conexões com sete outras cognições: braços, tronco, olhos, cabeça, higiene,

forma física e musculação. São sentidos principalmente ancorados à preocupação

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em preservar a autonomia através da manutenção da capacidade de locomover-

se com as próprias pernas. Referências a exercícios para o seu fortalecimento

também são feitas, visando a melhorar o equilíbrio (“firmeza nas pernas”) e aliviar

as dores que dizem sentir.

Musculação, alimentação, peso, atividade física, pernas e vaidade,

provavelmente, estão explicitando significados ancorados na prevenção da

osteoporose e na manutenção da independência através da melhora no

desempenho das atividades cotidianas dentro e fora de casa. Em menor escala,

fala-se da capacidade de se modificar ou manter o corpo através dessa atividade,

fato merecedor de comentários:

“porque quando a gente vê o resultado, dá vontade de fazer mais. Não é por vaidade, mas por necessidade” (mulher, 79).

“porque ainda tenho (...) um manequim apreciável! Minha vaidade!” (mulher, 60).

Peso traz o sentido principal da manutenção do peso corporal, de não se

deixar engordar, de ter o peso proporcional à altura, por questões tanto objetivas

quanto subjetivas de saúde. O círculo: peso ─ cuidado ─ atividade física ─

postura ─ beleza ─ magreza parece expressar de forma sintética as

preocupações e os sentidos atribuídos pelos idosos ao peso do corpo.

“Atualmente se preocupam com o peso, colesterol etc.” (mulher, 66).

“Musculação? Eu vi o resultado em duas semanas! Fui fazer compras e achei as sacolas leves. O peso é uma atividade que dá muito mais força, resistência” (mulher, 85).

“um corpo sem muito peso, elegante” (mulher, 86);

“peso bom, os músculos não flácidos, um corpo que permita ficar bem com a sua cabeça” (mulher, 68).

Beleza, também centro de estrela, conecta-se a: postura, elegância,

magreza, forma física e saúde. O elemento beleza conota principalmente a beleza

física, mas, algumas participantes expandiram o seu conceito para beleza

espiritual, de sentimentos, de caráter, num aparente processo de compensação

de perdas como assinalado por Neri (2006), substituindo a concretude do corpo

pela imaterialidade da alma.

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Houve crítica ao atual momento que se está vivendo de excessiva

valorização da beleza, chegando-se a afirmar que esse era um atributo reservado

aos jovens e que aos velhos competia a sabedoria. Inversamente, também se

declarou que as pessoas não falam de beleza por vergonha, ou que já está

havendo mudança de percepção em relação a esse assunto, haja vista o

incentivo aos concursos de beleza da pessoa idosa. Valorizam a elegância do

corpo magro, a postura ereta, pois, do contrário, fica-se com a aparência de

doente, além de ser prejudicial à coluna.

A associação de beleza com forma física pode ser entendida por esta

compartilhar poucos sentidos relativos a aspectos físico-orgânicos como

resistência ou capacidade de se desempenhar bem fisicamente. Prioritariamente,

as pesquisadas referem-se à forma como o contorno corporal, a silhueta de quem

chega até a despertar inveja.

“A academia está repleta de amigas (...) em forma e muitas causam até inveja, com o ‘corpinho’ que possuem” (mulher, 68).

“Em geral os meus amigos estão gordos. Embora vivam fazendo regime, comem excessivamente e têm inveja de quem está em forma” (mulher, 64).

Outro sentido relacionou forma física a conteúdos afetivos como ter alegria,

felicidade e amizades, denotando o estado de satisfação com o próprio corpo e o

prazer proporcionado pelo convívio social.

Por fim, o elemento saúde é construído no contexto da sua relação com

beleza, tanto por afinidade quanto por oposição. Observa-se a oposição de

sentidos quando fazem comparações entre o que era valorizado no passado e o

que é valorizado atualmente em termos de saúde e de beleza. Observação

semelhante também é feita quando surgem hierarquizações contrapondo uma

categoria à outra, ocasião em que, como seria de se esperar, saúde fica à frente

da estética.

Outras participantes, no entanto, parecem compreender saúde e beleza de

maneira mais integrada, assumindo a importância de ambas e sopesando o

momento em que podem valorizar a beleza, sem que seja em detrimento da

saúde. A propósito, criticam os corpos estereotipados de hoje, falsamente

construídos, e relembram, com aprovação, dos corpos naturais das estrelas de

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cinema de meados do século XX.

É interessante ressaltar o triângulo formado por saúde, alimentação e

higiene. Como se viu, esses esquemas mentais ajudam a detalhar com mais

clareza a relação existente entre os conteúdos de uma RS. Este triângulo é

representativo por expressar preocupações mais objetivas com a saúde, tal como

alimentação e higiene, requisitos necessários para se alcançar a saúde.

O círculo a ser destacado agrupa nove cognições: cabeça, atividade física,

agilidade e equilíbrio, que reúnem conteúdos das dimensões autonomia e

afetividade, importantes no processo de envelhecimento. Tais sentidos de corpo

podem estar ancorando-se no dispositivo AF, em que estão presentes o caráter

socializante e agregador dessas atividades. Além desses, encontram-se os

componentes postura, beleza, saúde, alimentação e elegância, exibindo sentidos

ancorados na dimensão da estética corporal.

O subgrupo masculino foi composto por 72 sujeitos com idades que

variaram de 60 a 91 anos. A média de idade dos participantes foi de 72,1 anos, a

mediana 70,5 anos e a moda 67 anos, com uma frequência de 7 ocorrências.

O corpus produzido pelo TEP foi analisado com auxílio do EVOC® e os

resultados da análise prototípica podem ser observados no quadro 4.

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Quadro 4 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo corpo - Grupo masculino

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5

Elementos f ome Elementos f Ome

≥ 7

Saúde Beleza Aparência Cabeça Mente

35 19 14 12 10

2,143 1,947 2,286 1,833 2,100

Movimento Pernas

9 8

2,778 2,500

< 7

Braços Atividade física Coração Agilidade Equilíbrio Bem-estar Intestino Postura

6 6 6 5

5

4

4

4

2,000 2,167 2,333 2,000 2,400

2,000

2,250

2,250

Força Forma física Mãos Determinação Olhos Peso Vida Tronco Vigor Amizade Caminhar Longevidade

7 7 6 6 5 5 4 4 4 4 4 4

2,857 3,286 2,667 3,333 2,800 3,000 2,750 3,000 3,000 3,500 3,500 3,500

O quadrante superior esquerdo é o local onde provavelmente se encontram

os elementos pertencentes ao SC, por terem sido lembrados mais rapidamente

(ome < 2,5) e por um número maior de sujeitos (frequência ≥ 7).

O SC exprime a essência da RS e, por isso, normalmente é constituído por

um número reduzido de componentes que refletem a sua faceta mais conhecida,

consensual e mais enraizada no pensamento social (SÁ, 2002). No interior deste

quadrante constata-se um par de palavras relativo às preocupações mentais ─

cabeça e mente ─, um segundo par relacionado à beleza corporal ─ beleza e

aparência ─ e a palavra saúde, categoria abrangente que transcende os seus

significados mais restritos e consegue estender-se às outras nos sentidos

partilhados pelos pesquisados.

O SP opõe-se ao SC na estrutura, localizando-se no quadrante inferior

direito e possui características antagônicas às suas. Reúne os elementos

lembrados mais tardiamente (ome ≥ 2,5) e por um número menor de pessoas

(frequência < 7). Atua como protetor da estabilidade do SC e é o local onde se

iniciam as possíveis mudanças representacionais, através da ancoragem de

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novos conteúdos que são classificados e rotulados pelo grupo, de acordo com a

memória coletiva e o conhecimento prévio existente.

A periferia próxima ou sistema intermediário (SI) é o local de instabilidade

da RS e ocupa os dois quadrantes restantes com palavras que foram lembradas

rapidamente, porém, não por um número significativo de respondentes ─

quadrante inferior esquerdo ─ e com palavras que alternam essas propriedades,

evocadas por um número significativo de pessoas que, entretanto, delas custaram

a se lembrar ─ quadrante superior direito (PEREIRA, 2005).

Foram produzidas 275 evocações e posteriormente analisadas 207 delas, o

que corresponde a 75% do corpus. A frequência mínima por palavra foi igual a 4 e

obteve-se a média de 3,8 evocações por sujeito.

Na busca por mais indícios de centralidade, conferiu-se a proporção de

indicação de palavra mais importante das que estão no quadrante superior

esquerdo, aquele que agrupa as categorias de maior frequência e menor ordem

média de evocação. Verificou-se que, das cinco existentes, apenas saúde

(74,3%), cabeça (66,7%) e mente (100%) superaram a proporção mínima exigida

de 50% (CAMPOS, 2003).

Verificando-se os resultados do TDN, essas três cognições novamente

apresentaram indícios de centralidade, com proporção mínima superior a 75%

(p<0,05): saúde com 88,2%, cabeça com 77,4% e mente com 76,5%.

Na formação do SP distinguem-se três conjuntos de palavras:

determinação, caminhar, peso, forma física, força e vigor ─ mãos, olhos e tronco

─ vida, longevidade e amizade. O primeiro deles ancora sentidos no dispositivo

AF, relacionados à prática de exercícios físicos e aos seus efeitos sobre o

organismo. Determinação e caminhar referem-se à disciplina necessária para o

cumprimento regular dessa atividade, uma das mais praticadas pelos indivíduos.

O controle do peso corporal é uma preocupação mais estética do que de saúde,

em busca da forma física, que tanto significa ter um corpo delineado quanto

disposição para enfrentar as atividades com força e vigor, características físicas

tradicionalmente masculinas, em oposição às imagens femininas de fraqueza e de

graça (BOLTANSKI, 2004). As cognições mãos, olhos e tronco formam o grupo

composto por elementos anatômicos, que faz referência às mãos como

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instrumentos, aos olhos como visão e ao tronco como caixa torácica. Vida,

amizade e longevidade ancoram sentidos no curso da vida, mediando aspirações

subjetivas de alcançar uma vida longa cercada de amigos.

No SI, as cognições encontradas também podem ser agrupadas segundo

os sentidos compartilhados: movimento, agilidade, atividade física, braços e

pernas ─ intestino e coração ─ bem-estar, equilíbrio e postura. O primeiro

subgrupo contém elementos relacionados ao movimento corporal, à capacidade

de locomoção e de ampliação da autonomia. O segundo, juntamente a pernas,

forma o subgrupo referente às partes do corpo. Deve-se ressaltar a curiosidade

de que apenas as mulheres atribuíram sentidos de subjetividade ao coração,

também visto como órgão do sentimento. O terceiro subgrupo agrega a sensação

de bem-estar físico e psicológico simultaneamente ao equilíbrio, que guarda

sentidos de preocupação com o equilíbrio emocional, equilíbrio entre as medidas

de peso e altura e o principal deles, o equilíbrio físico, relacionado à atenção dada

à prevenção de quedas (PINHO et al., 2012). Seguido ao equilíbrio está o cuidado

com uma postura ereta, dita correta e saudável, que pode estabelecer um vínculo

com o movimento corporal, retornando-se, assim, ao primeiro subgrupo.

Dando continuidade ao processo de investigação, buscou-se explorar a

organização interna dos conteúdos representacionais através da valorização do

seu poder simbólico, realizando-se a análise de similitude. O gráfico obtido pode

ser considerado como um mapa semântico produzido por essa técnica, que

permite observar o grau de conexidade existente entre os diversos elementos. O

poder de organização, caso haja, provém dos sentidos gerados pelas cognições

centrais, aquelas que preservam a identidade em essência das RS. (Figura 3).

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Figura 3 - Análise de similitude das evocações de corpo - Grupo masculino

Observando-se a figura 3, percebe-se a formação de três estrelas

organizadas por saúde, beleza e mente, que, dessa forma, confirmaram suas

características de centralidade. Cabeça e aparência, localizadas no quadrante

superior esquerdo, segundo a análise prototípica, não ratificaram seus atributos

de cognição central, não chegando a organizar nenhuma formação estelar ao seu

redor.

Vale frisar que é considerada uma estrela quando uma cognição une-se

simultaneamente e de forma direta a um mínimo de cinco outras (PEREIRA,

2005).

A estrela centralizada por saúde estabelece união com 15 palavras, que

podem ser arranjadas em subgrupos, a fim de facilitar a compreensão da lógica

natural do pensamento desse grupo social: mente, bem-estar, longevidade, vida e

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amizade ─ determinação, caminhar, equilíbrio, agilidade, força e vigor ─ forma

física, peso, aparência e beleza.

À exceção de beleza e de mente, as demais cognições pertencem ao SP ─

longevidade, vida, amizade, determinação, caminhar, força, vigor, forma física e

peso ─, ou à periferia próxima ─ bem-estar, equilíbrio e agilidade. A este grupo,

pode-se adicionar o elemento aparência, que, como foi dito, não teve o seu valor

simbólico confirmado, mas agrega sentidos relativos ao corpo em forma,

adequado aos padrões aceitos atualmente, ao corpo com aparência saudável,

causando a impressão de ter menos idade do que de fato tem.

O poder de conexidade de saúde com as cognições periféricas exibe a sua

função organizadora dos conteúdos internos da RS de corpo, decorrente dos

sentidos que é capaz de gerar.

O elemento saúde ancora sentidos da saúde do corpo e da mente, sendo

algumas vezes repetida de forma adaptada a máxima latina mens sana in corpore

sano, querendo ressaltar a importância de se levar uma vida saudável e

emocionalmente equilibrada. Sobre a abrangência do conteúdo saúde, muitos

afirmam que “saúde é tudo”, englobando vários aspectos da vida, desde a

ausência de doenças, ao ânimo para a vida, à possibilidade de prolongá-la com

qualidade, vivê-la desfrutando da sensação de bem-estar físico e subjetivo.

Beleza centralizou uma estrela composta de sete cognições: saúde e vida

─ peso, forma física, agilidade, força e vigor. As duas primeiras cognições

aproximam-se de um conceito de beleza mais amplo, integrador, e pode ser

ilustrado pela seguinte fala: “não há diferença de beleza e saúde” (homem, 70).

As demais cognições abrangem categorias cujos sentidos, mais restritivos, estão

objetivamente ligados à beleza corporal.

O conceito de beleza é referido na comparação dos padrões de hoje e do

passado, havendo divisão das opiniões. Para 15,2% dos sujeitos não há

diferenças ou não quiseram responder; 22,2% disseram preferir o padrão de

beleza de 50 anos atrás, dito por sujeitos cuja idade média era de 70,3 anos, ao

passo que 62,5% (média de 72,8 anos) disseram preferir os padrões atuais,

considerados mais modernos, saudáveis, com mais recursos tecnológicos

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disponíveis para a manutenção da beleza, associada com a forma física e a

estética corporal.

Não se pode deixar de relatar que o grupo masculino, quando se refere a

comparações entre os padrões de beleza corporal de ontem e de hoje, quase que

invariavelmente, de maneira espontânea, inconsciente, tece considerações sobre

as formas femininas.

Os pesquisados que afirmam preferir os modelos da segunda metade do

século XX acreditam que a beleza dos corpos era mais natural, valorizava-se a

beleza do rosto, a formalidade das vestes e o modo de vida mais simples, que se

refletia na beleza da época.

Há referência à eternidade do padrão de beleza, que desde os gregos

valoriza as proporções do corpo humano. Também há menção à vigente ditadura

da beleza e opiniões que compreendem esse fenômeno como o fato de tanto a

beleza quanto a saúde andarem juntas, serem dois objetivos integrados,

interdependentes, possíveis de serem alcançados simultaneamente.

“O [corpo] de hoje é muito melhor. O homem, além da saúde, procura a estética. O exercício traz beleza. (...) tá despertando o lado feminino dele, quer ser bonito e ter saúde (...). É a busca do novo homem” (homem, 71).

Mente organiza uma estrela com cinco elementos: braços e tronco ─

caminhar e equilíbrio ─ saúde, confundindo-se com cabeça, em seu sentido

anatômico, na relação com os dois primeiros elementos. Como sede do controle

sobre o corpo, mente o impulsiona disciplinadamente a caminhar com equilíbrio,

equilíbrio também necessário à saúde mental. Além disso, mente contém

significados do controle das emoções para o bom convívio social e da

preocupação com a manutenção da lucidez.

Os dados da pesquisa mostram que 81,9% dos participantes já estavam

aposentados e haviam interrompido suas atividades profissionais, enquanto

11,1%, também aposentados, ainda continuavam no mercado de trabalho. Pelo

que se pôde observar durante o trabalho de campo, ser aposentado não foi

determinante para que esses sujeitos se recolhessem às suas casas. Pelo

contrário, demonstraram ter uma agenda repleta de atividades.

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Para se ter uma ideia, 72,2% dos investigados declararam fazer mais de

uma modalidade de AF semanal, sem que se leve em consideração outras

atividades praticadas por eles. Dessa forma, pela adoção de um estilo de vida

ativo, desfrutam de uma visibilidade social que torna compreensível que procurem

cuidar mais e melhor da própria aparência, até mesmo com finalidades de

sedução (COSTALAT-FOUNEAU et al., 2002), como se pode constatar pela fala a

seguir:

“a aparência do corpo torna o mesmo interessante aos olhos dos outros” (homem, 70).

Como se pode observar no Quadro 5, saúde configurou-se no principal

polo gerador e organizador de sentido da RS de corpo, sendo o único elemento a

confirmar centralidade tanto na amostra total quanto nos subgrupos feminino e

masculino.

Quadro 5 - Resumo da busca por indícios de centralidade de corpo

Relação de importância ≥ 50% TDN ≥ 75% Análise Similitude Confir. SC

SC tot ? fem ? mas ? fem ? mas ? tot fem mas tot fem mas

Saúde 68% S 61% S 74% S 92% S 88% S S S S S S S

Beleza 33% 38% 37% 32% 44% S S S S

Aparência 46% 60% S 36% 56% 50%

Cabeça 68% S 70% S 67% S 76% S 77% S S S S S

Mente 100% S 76% S S S

Form. Física 25% 53%

Na leitura de todo material coletado, constata-se o olhar favorável que os

sujeitos concedem ao processo de envelhecimento por que estão passando. Isso

pode ser observado pelas conotações positivas de palavras como amizade,

alegria, vida, bem-estar, disposição, movimento. Outro sinal da postura ativa que

mantêm é a referência à prática de atividades físicas e sociais e aos benefícios

biopsicossociais alcançados através delas, coerente com os resultados de

Santos, Tura e Arruda (2013). Vale acrescentar que não houve evocações de

corpo que remetessem aos aspectos negativos da velhice, embora haja algumas

poucas respostas registrando dificuldades de aceitar o envelhecimento.

Portanto, prevalecendo o otimismo e a elevada autoestima dos sujeitos ao

envelhecer, alegria (cumprindo a função de elemento periférico) parece sintetizar

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e mediar os sentidos atribuídos ao corpo com os sentimentos de afeto

compartilhados entre os pares, nas práticas corporais vivenciadas no cotidiano.

Visando o aprofundamento da compreensão sobre o pensamento social do

grupo, realizou-se a análise prototípica relativa ao dispositivo AF, em virtude de

ser uma atividade praticada por todos.

3.1.3 A estrutura e organização das representações sociais de atividade

física.

O conjunto de evocações dos 152 participantes compôs um corpus de 555

palavras, com média de 3,65 evocações por sujeito. Para o cálculo da frequência

média por palavra e das ordens médias de evocação foram consideradas

somente as palavras cuja frequência mínima foi igual a 7, correspondendo a 75%

do total. A frequência média (Fm) foi igual a 19 e a média das ordens médias das

evocações (OME) correspondeu a 2,5 (Quadro 6).

Quadro 6 - Resultados do teste de evocação com o termo atividade física

Variáveis Idosos

Número de sujeitos 152

Número de palavras diferentes evocadas 22

Número total de evocações 555

Média de evocações por sujeito 3,65

Média das ordens médias de evocações (OME) 2,5

Média das evocações (FM) 19

Na análise inicial, pôde-se constatar que os dez elementos mais evocados ─

saúde (76), bem-estar (37), ginástica (29), disposição (28), caminhada (28),

amizade (21), corpo (21), alegria (19), determinação (16) e exercício (15) ─

corresponderam a 69,4% de todo material.

A análise com base na frequência e ordem média de evocação permitiu

evidenciar um SC composto por bem-estar, caminhada, corpo, ginástica, e saúde

e um SP composto por agilidade, alongamento, corrida, equilíbrio, força, mente,

natação e prazer.

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Em relação à composição do SC, deve-se assinalar que somente saúde e

caminhada obtiveram escores acima de 50% quando escolhidas como palavras

mais importantes (CAMPOS, 2003), indicação de mais um indício de centralidade

destes elementos.

A composição do SP, onde predominam cognições associadas com as

práticas dos sujeitos ou com as qualidades físicas desenvolvidas por elas, revela

o processo de ancoragem dos sentidos partilhados de AF. Das oito categorias

que o compõem, sete referem-se a algum tipo de AF ou de aspectos relacionados

com as atividades corporais: alongamento, corrida, natação ─, agilidade,

equilíbrio, força, mente. Estas, qualidades físicas e mentais almejadas pelos

idosos e trabalhadas regularmente com o intuito de aprimorá-las. Além delas,

distingui-se o prazer, referido não só pela satisfação proporcionada pela prática,

como pelo convívio social com os pares (MEURER, MAZO e BENEDETTI, 2012).

Possivelmente, prazer simbolize uma síntese das ancoragens dos sentidos de AF,

diante das práticas e objetivos pretendidos pelos idosos (Quadro 7).

Quadro 7 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo atividade física - Amostra total

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5 Elementos f ome Elementos f ome

≥ 19

Saúde Bem-estar Ginástica Caminhada Corpo

76 37 29 28 21

1,605 2,405 1,759 2,429 2,333

Disposição Amizade Alegria

28 21 19

3,000 3,048 2,895

< 19

Determinação 16 2,250 Mente 12 2,583 Exercício 15 2,267 Alongamento 11 2,545 Musculação 15 2,267 Corrida 10 2,700 Forma física 13 2,462 Força 10 2,700 Dança 12 2,250 Natação 10 3,200 Movimento 11 2,364 Equilíbrio 9 3,111 Prazer 8 3,250 Agilidade 7 2,714

Na periferia próxima, encontram-se alegria, amizade e disposição no

quadrante superior direito e dança, determinação, exercício, forma física,

movimento e musculação no quadrante inferior esquerdo.

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Observando-se o SI, pode-se dividi-lo em dois subconjuntos, cada um deles

correspondendo a uma dimensão distinta. Dança, exercício e musculação

correspondem a tipos específicos de AF que requerem o movimento

sistematizado para alcançar a forma física. Alegria, amizade, disposição e

determinação, com traços mais abstratos, apresentam equivalência às categorias

mais abrangentes, como bem-estar, saúde (SC), mente e prazer (SP), cujas

definições podem se tangenciar, ao remeterem a um estado subjetivo de

harmonia dinâmica entre o corpo, a mente e o ambiente social em que vivem os

sujeitos. Note-se que dança, apesar de ser uma prática física, por ter um forte

componente afetivo observado durante o trabalho de campo, também poderia

integrar o subconjunto formado por dimensões mais subjetivas.

A fim de explorar a organização interna dos elementos representacionais e

ratificar o valor simbólico dos conteúdos centrais, foi realizada a análise de

similitude para verificar o grau de conexidade entre os componentes centrais e

periféricos (AÏSSANI, 2009). Esta técnica possibilita a confirmação das funções

geradoras de sentido e, por isso, organizadoras, propriedades dos elementos

centrais (Figura 4).

Figura 4 - Análise de similitude das evocações de atividade física – Amostra

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total

Observa-se que saúde tem conexidade com um grande número de

componentes da RS, sendo o centro da única estrela da matriz, o que corrobora o

seu valor simbólico e consequente poder organizador, característico de uma

cognição central.

As três cognições que sobressaem por estabelecerem conexões mais

densas com saúde são alegria, forma física e disposição. A partir destes

elementos, também se poderia pensar num subconjunto relacionado aos ganhos

psicológicos do investimento em saúde através da rotina da prática física,

formado tanto pelo prazer intrínseco da atividade, quanto pela alegria de se estar

em plena forma física, com disposição para a vida e o convívio com antigas e

novas amizades, muitas delas construídas recentemente, nos espaços

frequentados para esse fim (MEURER, MAZO e BENEDETTI, 2012).

Além disso, deve-se ressaltar a capacidade que sentem os sujeitos,

motivados pelos exercícios regulares, de manter e até melhorar o seu equilíbrio

mental e físico. Sobre o elemento equilíbrio, vale salientar a polissemia que

apresenta, englobando as dimensões física e mental e muito valorizado pelos

sujeitos, haja vista a preocupação demonstrada por eles em evitar quedas e

conservar os seus níveis atuais de lucidez e consciência. Afora isso, remete à

sensação de harmonia que os exercícios provocam, em busca de um incremento

na sua qualidade de vida (LOJUDICE et al., 2010, PINHO et al., 2012, SANTANA,

2010).

Foi encontrado um único triângulo, constituído por bem-estar, saúde e

determinação. Essa configuração é uma das formas de esquemas que aparecem

no mapa cognitivo, detalhando determinadas relações, sendo eles o fundamento

dos processos mentais das informações recebidas e parte integrante das

representações elaboradas socialmente (PEREIRA, 2005). Nesse caso, pode

significar a sensação de bem-estar alcançada, como um benefício pelo esforço

empreendido e a determinação necessária para interagir com o objeto de

representação, somente possível quando se está com saúde.

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Ao justificarem a escolha das palavras mais importantes, consideraram

fundamental ter disciplina, entendida como determinação, para atingir um estado

de bem-estar, nele incluídas suas preocupações relativas à qualidade de vida:

“Sem determinação não se faz nada” (homem, 66).

“Bem-estar é a satisfação de fazer a ginástica, é o resultado” (homem, 81).

“(...) atividade física proporciona o melhor condicionamento físico para ter qualidade de vida” (mulher, 71).

Afirmaram também ser preciso empenhar-se nesse tipo de comportamento,

para criar o hábito de exercícios físicos regulares, costume que 30,9% disseram

cultivar desde quando estavam na escola. Vale ressaltar que 33,6% responderam

que iniciaram após os 60 anos.

“Se tiver disciplina para fazer ginástica e ter uma vida regrada, vai ter saúde” (homem, 78, praticante desde a infância).

“Porque faço tudo por isso, para melhorar a saúde e porque acho que a pessoa tem que ter força de vontade para vir todo dia” (mulher, 68, iniciou na terceira idade).

Aqui, deve-se lembrar a relevância da AF na busca da autonomia para os

afazeres da vida diária, que engloba equilíbrio, agilidade e flexibilidade, ampliando

os movimentos. Essa busca também produz satisfação e a sensação de bem-

estar proveniente dos exercícios e do condicionamento físico progressivamente

adquirido.

O subconjunto formado por agilidade, exercício, corpo, movimento, força e

saúde, conteúdos relacionados aos resultados alcançados com as AF, configurou-

se imprescindível para a manutenção das atividades diárias que necessitam do

movimento corporal suficientemente preservado (CARADEC, 2011; FERREIRA et

al., 2010).

“Porque isso me faz abaixar a pressão e me dá força corporal” (mulher, 79).

“Quando uma pessoa pratica exercício ela tem mais agilidade e, com agilidade, mais segurança para andar, para subir no ônibus, se desviar das mochilas etc.” (mulher, 85).

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Uma observação interessante proporcionada pela análise de similitude é o

fato de os diversos tipos de AF ─ alongamento, dança, corrida, musculação,

ginástica e natação ─, direta ou indiretamente, estarem organizados em torno de

caminhada ─ elemento com alguns atributos de centralidade ─ num conjunto sem

conexão com a estrela em torno de saúde, sugerindo a existência de um processo

de mudança na representação estudada.

A prática de AF é valorizada pelos idosos, por todos os benefícios que traz,

associando-se à saúde, não só do corpo, mas também como um dispositivo a

acionar para manter a mente saudável, preservar a memória e estimular a

inteligência, além de ajudar a afastar a depressão e a tristeza, por serem

atividades divertidas e prazerosas, feitas em grupo. O convívio social é

considerado importante porque lhes dá suporte emocional para querer viver mais

e com qualidade os anos de velhice que ainda têm pela frente.

Essa interpretação corrobora estudo de Hernandez et al. (2010) a respeito

dos benefícios da AF sobre as funções cognitivas dos idosos, ao identificarem

associação com agilidade e equilíbrio, atributos avaliados em um programa

sistemático de seis meses de duração. Em levantamento na literatura realizado

por Guerra e Caldas (2010), encontrou-se que a participação social, decorrente

de um estilo de vida ativo, é capaz de reduzir o declínio cognitivo na velhice, o

que é corroborado por Ferreira et al. (2010) ao relatarem os sentidos que unem os

idosos ativos a atividades físicas e lazer, cujos discursos fazem referência às

formas positivas de se envelhecer, sobressaindo palavras como bom, felicidade,

alegria, diversão, saúde. Além disso, essas atividades podem remeter à ocupação

do tempo livre visando gozar a vida, assim como escapar da solidão.

Neste estudo, 92,8% dos sujeitos apresentaram uma visão favorável da

velhice, explicitando a relação entre envelhecimento ativo com a independência

funcional, como ilustra o comentário sobre o envelhecimento bem-sucedido:

“Ter saúde. Ser independente e viver bem tendo sempre o exercício físico e boa alimentação” (mulher, 60).

Apesar da idade e embora não seja o principal interesse expressado, sobre

os motivos que os levaram a fazer AF, não deixaram de mencionar os cuidados

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com a silhueta corporal, através do controle do peso, do alcance e da

manutenção da forma física:

“Foi a preocupação que sempre tive de manter o peso. Comecei depois que tive filho, há uns 35 anos atrás” (mulher, 65).

“A necessidade de ficar mais em forma, de ficar mais bem com a vida” (homem, 72).

Da mesma maneira, a preocupação com a estética é observada ao

elencarem as razões para as escolhas das modalidades que praticam ou o que

mais os motiva a continuar praticando:

“A vontade de melhorar a estética” (homem, 84).

“A saúde, o desenvolvimento sexual e a beleza estética também” (homem, 60).

Ao caracterizarem alguém maior de 60 anos e ainda com o corpo em forma,

mantiveram a associação entre forma física e estética corporal, sem esquecer a

importância da saúde:

“Ah! Esse cara tá em forma, tá preocupado com a saúde” (homem, 65).

“Você tá inteiro, tá conseguindo manter sua forma, sem barriga” (homem, 69).

Assinalam que ficam orgulhosos pelos elogios recebidos diante da forma

física que apresentam:

“A opinião de meus amigos é que eu mantenho sempre uma alegria infinita e ‘continua elegante’. Este elogio massageia meu ego” (mulher, 60).

“Todos admiram (...). É bom as pessoas dizerem: pô, você tá bem cara! É a recompensa pelas atividades, pelo sacrifício” (homem, 77).

Tais afirmações expressam a atenção que conferem à valorização da

aparência e à satisfação com a própria imagem, sentidos que também relacionam

com a saúde.

Tem sido relatada a construção de RS da velhice em oposição à juventude,

contendo os estereótipos característicos associados às respectivas imagens.

Enquanto ao velho são agregados aspectos negativos como doença, fraqueza,

feiura, ao jovem são atribuídas qualidades como saudável, forte e belo (CRUZ e

FERREIRA, 2011; FERREIRA et al., 2010). São sentidos mais amplos,

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duradouros e podem acabar apreendidos pelos idosos, num processo de

internalização de preconceitos existentes contra eles.

Como as RS são forjadas e compartilhadas nas relações sociais e na

comunicação, desde as mais abrangentes às circunscritas aos grupos e em

consonância com as histórias individuais, estes sujeitos, por serem idosos ativos,

independentes e praticantes regulares de AF, parecem ter ancorado às suas RS

preocupações estéticas não encontradas em outros grupos pesquisados. Isso

pode ser visto, não só pelas falas anteriormente descritas, em que os sujeitos

externam o valor que dão à aparência física, como pela presença dos elementos

periféricos forma física e corpo, podendo ser compreendidos como determinantes

no processo de ancoragem daquelas preocupações, através das experiências

pessoais dedicadas aos esforços para a construção e manutenção de um corpo

em forma, ainda capaz de exercer a sedução:

“(...) a gente tem que melhorar o corpo físico, tem que ficar gostosa! Sem barriga, sem estômago, saradinha, bem torneadinha. Porque uma mulher de 60, 65 anos hoje, é jovem” (mulher, 62).

Essa atitude afirmativa soa como uma tomada de posição diante da imagem

estigmatizada da velhice que, para a grande maioria dos participantes da

pesquisa, parece servir como um fator de motivação para que eles atestem a sua

vitalidade, assim como suas potencialidades, provavelmente porque não se

percebam velhos e sim adultos que já ultrapassaram os 60 anos, negando a

velhice estereotipada e os preconceitos sociais a ela imputados (GUERRA e

CALDAS, 2010; SANTOS, TURA e ARRUDA, 2013).

É de se ressaltar a ausência de categorias com sentidos negativos nas RS

construídas. Os sujeitos, apesar da idade, são todos funcionalmente

independentes e, em sua maioria, fazem dos locais das práticas um ponto de

encontro onde exercem a sociabilidade e o sentimento de pertença ao grupo. O

aparecimento de palavras como velhice, doença e quedas está mais associado a

um sentido preventivo, para o qual a prática de AF é tida como relevante e, por

isso, servem de guia para o desenvolvimento de atitudes e práticas a fim de

retardar os efeitos deletérios do envelhecimento e de procurar conservar a

juventude que ainda nutrem dentro de si.

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Na análise global do corpus investigado, sobressaiu o interesse

demonstrado pela estética corporal de forma mais acentuada do que era

esperado, sem, contudo, suplantar as preocupações com saúde, autonomia e

independência. Talvez essa preocupação seja coerente com a postura dos

integrantes da categoria terceira idade, que buscam, além de novas

oportunidades de lazer, convívio, aprendizagem, práticas e cuidados, novas

experiências, novos relacionamentos afetivos, quem sabe indicando um

movimento de mudança nas representações estereotipadas da velhice.

Quadro 8 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo atividade física - Grupo feminino

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5 Elementos f ome Elementos f ome

≥ 9

Saúde Ginástica Musculação Exercício Corpo

34 20 11 9 9

1,353 1,500 2,2732,1112,222

Bem-estar Caminhada Disposição Amizade Alegria

17 14 11 11 9

2,706 2,643 2,909 3,091 3,111

< 9

Determinação Memória

8 4

2,000 2,250

Corrida Alongamento Agilidade Força Forma física Natação Do-lar Respiração Mente Prazer Lazer Movimento

7 6 6 6 5 5 4 4 4 4 4 4

3,000 2,500 2,667 2,667 2,600 3,000 2,500 2,750 3,000 3,250 3,500 3,500

O TEP feminino com o termo indutor atividade física gerou 274 evocações,

com a média de 3,43 evocações por participante (N = 80). Foram consideradas

palavras com frequência mínima igual a quatro, correspondendo a 24 palavras

diferentes, que produziram 216 evocações, representando 78,8% do corpus

feminino.

A frequência média (Fm) das categorias foi igual a 9 e a média das ordens

médias de evocação (OME) igual a 2,5. Em sequência, essas categorias foram

distribuídas no gráfico de dispersão (Quadro 8), conforme esses critérios.

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A hipótese inicial que fundamenta essa distribuição é a de que as

cognições localizadas no quadrante superior esquerdo componham o SC da RS,

por terem sido evocadas mais rápido do que as outras (abaixo da média), além

terem obtido uma frequência importante, igual ou superior à média. Em outras

palavras, mostraram-se salientes tanto na dimensão individual (ome - ordem

média de evocação), quanto na coletiva (frequência).

Dois procedimentos foram adotados posteriormente, com a finalidade de

prosseguir investigando indícios de centralidade das cognições, nesse primeiro

momento consideradas pertencentes ao SC.

Inicialmente, verificou-se a importância relativa de cada uma dessas

palavras para os sujeitos, comparando proporcionalmente a sua frequência com o

número de vezes em que foram indicadas como as mais importantes. Considera-

se como um indício de centralidade quando essa relação for maior ou igual a

50%, isto é, quando em mais da metade das vezes em que foi evocada, foi

indicada como uma das mais importantes. De acordo com esse critério, somente

musculação (36%) não atingiu a proporção mínima considerada, o que não

ocorreu com as demais palavras: corpo (56%), ginástica (55%), exercício (56%) e

saúde (97%).

Corpo, como objeto técnico necessário para a prática física (MAUSS,

2003), parece mediar a preocupação das participantes com a saúde, localizando

essa preocupação no físico, instrumento a ser utilizado nos exercícios.

Posteriormente, realizou-se o TDN, ocasião em que se espera alcançar

uma proporção mínima de 75%, num intervalo de confiança de 95%, de refutação

ao questionamento da essencialidade das cognições supostamente centrais (SÁ,

2002).

Os resultados desse teste produziram indícios de centralidade às

cognições corpo (82%), exercício (87%) e saúde (97%).

O próximo passo foi a confirmação através da análise de similitude, em que

é possível se ter uma imagem gráfica da localização e das associações feitas

pelas cognições, em termos de coocorrências. Mais importante é a observação da

capacidade dessas cognições de organizarem as demais, seu grau de

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conexidade com os elementos periféricos, tudo isso decorrente da relevância

simbólica conferida a essas categorias, pelas participantes da pesquisa.

Figura 5 - Análise de similitude das evocações de atividade física - Grupo

feminino

A figura 5 mostra o mapa de similitude das RS femininas de AF, com as

diferentes cognições que a constituem. Duas únicas estrelas sobressaem: as

organizadas por saúde e por ginástica, exibindo o poder simbólico desses

elementos. Saúde organiza a estrela, estabelecendo conexões com: bem-estar,

disposição, mente, determinação, corpo, movimento, forma física, força, agilidade,

lazer, prazer, alegria e amizade. O pensamento natural envolvido nessas

associações poderia ser a consciência das respondentes de que o desejo de

alcançar o bem-estar e de ter disposição dependeria de uma atitude mental

determinada para colocar o corpo em movimento, em busca da forma física e de

capacidades que ampliem a autonomia, como força e agilidade. Essas atividades

dão prazer, alegria, são momentos de lazer em que novas amizades são

cultivadas. Deve-se assinalar que, para essas idosas, a expressão forma física

está mais fortemente associada à forma do corpo, do que com a ideia de um

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corpo bem condicionado fisicamente.

Ginástica, sem conexão direta com saúde, é o centro da outra estrela

formada com as cognições: corrida, natação, caminhada, musculação, do-lar

(contém as referências aos serviços domésticos) e memória. Memória foi

lembrada como um benefício atribuído à prática de exercícios, como explicita o

triângulo ginástica – memória – do-lar. Segundo informações colhidas depois,

ginástica (67,5%), musculação (61,2%) e caminhada (33,7%) são as modalidades

mais praticadas, de acordo com o que declararam as pesquisadas. Curioso foi o

aparecimento do elemento do-lar, lembrado não só como uma atividade que

requer esforço físico, mas pelos benefícios que a ginástica traz para o bom

desempenho dos afazeres domésticos.

Essas duas estrelas estão ligadas por agilidade, no alto, e respiração, em

baixo, evidenciando o papel dinâmico e contínuo dos esquemas periféricos como

interface entre o SC, saúde e ginástica, e as trocas sociais diárias, vivenciadas na

periferia da RS (TURA, CARVALHO e GAZE, 2012).

As associações de maior densidade de saúde são com mente, alegria,

lazer, forma física e disposição, as duas últimas cognições podendo ser

interpretadas como complementares, sendo que disposição assume a conotação

do estado de se sentir bem condicionado, fisicamente em forma.

Três triângulos adjacentes, com um vértice em comum, saúde, são

completados por corpo e mente, mente e movimento e por movimento e bem-

estar. Esses três triângulos unidos podem ser integrados em um círculo

constituído pelos cinco elementos, aproximando os sentidos atribuídos à AF, ao

bem-estar físico e mental provocado pela prática do movimento corporal regular e

sistematizado.

O subconjunto organizado por ginástica agrupa categorias diretamente

relacionadas à AF ou aos efeitos favoráveis que provoca na vida dessas idosas.

Outra cognição que aparentemente está deslocada é memória,

componente mencionado somente pelas participantes, mas justificado em razão

da melhora que sentem quando praticam regularmente suas atividades de

escolha. Esse achado da pesquisa está de acordo com estudos sobre a influência

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positiva da prática de AF sobre as funções cognitivas do idoso (HERNANDEZ et

al., 2010).

Sobre os significados de ginástica e exercício, a matriz de similitude deixa

visível o sentido mais amplo de ginástica do que de exercício, constituindo-se em

uma categoria abrangente. Convém assinalar que, dos elementos a que está

vinculada diretamente, sobressaem duas ligações mais densas, com natação e

corrida, corroborando a interpretação polissêmica de que, para as idosas, essas

seriam duas maneiras importantes de se fazer ginástica.

No processo de observação, foi constatado que é muito mais frequente a

presença de mulheres do que de homens nos ambientes destinados às aulas de

ginástica. Dessa forma, devido ao contato frequente com essa atividade, torna-se

compreensível o uso dessa cognição como uma categoria abrangente.

Provavelmente por terem um histórico de proximidade com esse tipo de

aula, as participantes reduziram os sentidos mais amplos de AF na figura da

ginástica, ou seja, objetivaram, conforme Moscovici (2012), as diversas formas de

AF na ginástica.

Quadro 9 - Distribuição dos elementos segundo frequência e ordem média

de evocação com o termo atividade física - Grupo masculino

Fm OME < 2,5 OME ≥ 2,5 Elementos f ome Elementos f ome

≥ 11

Saúde Bem-estar Caminhada Corpo

42 20 14 12

1,810 2,150 2,214 2,417

Disposição

17 3,059

< 11

Dança Forma física Ginástica Mente Movimento

9 9 9 8 7

1,889 2,444 2,333 2,375 1,714

Alegria Amizade Determinação Equilíbrio Exercício Manutenção Alongamento Futebol Natação

10 10 8 6 6 6 5 5 5

2,700 3,000 2,500 2,833 2,500 2,667 2,600 3,400 3,400

O quadro 9 expõe os resultados da análise prototípica, feita a partir das

evocações dos participantes do estudo, desencadeadas pelo termo indutor

atividade física.

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Das 281 palavras evocadas pelos 72 respondentes, foram analisadas 208,

com frequência mínima igual a 5, o que correspondeu a 75% do corpus produzido

a partir do TEP. Os sujeitos evocaram em média 3,9 palavras e todos

mencionaram, ao menos uma vez, uma das 19 palavras diferentes distribuídas no

Quadro 9, segundo sua frequência e ordem média de evocação.

As dez categorias com as maiores frequências ─ saúde, bem-estar,

disposição, caminhada, corpo, amizade, alegria, ginástica, forma física e dança ─

perfizeram 73% das 208 selecionadas para a análise.

As cognições localizadas no quadrante superior esquerdo ─ saúde, bem-

estar, caminhada e corpo ─, provavelmente componentes do SC por terem sido

evocadas mais prontamente e com uma frequência acima da média, podem ser

articuladas como significando o objetivo de se alcançar a saúde e o bem-estar

através de atividades corporais como a caminhada, atividade que 45,8% disseram

praticar.

O SC guarda o núcleo de sentidos da RS e está ligado às tradições e ao

consenso coletivo. Dando sequência à investigação com o intuito de perscrutar se

essas cognições supostamente centrais guardam relação com a história social do

grupo, primeiramente verificou-se o grau de importância dessas palavras para os

sujeitos, comparando a frequência de cada uma ao número de vezes que foram

escolhidas como as mais importantes. Para essa relação ser favorável, espera-se

uma proporção de 50% ou mais. No caso em análise, apenas caminhada (71%) e

saúde (83%) atingiram esse objetivo.

A seguir, procedeu-se à realização do TDN, em que se considera a

existência de um indício de centralidade, quando houver ao menos 75% (p<0,05)

de respostas de dupla negação ao questionamento de cada categoria inicialmente

identificada como central. O resultado do TDN apontou que saúde (94%), bem-

estar (88%) e corpo (79%) ultrapassaram a proporção esperada (Quadro 10).

Mais adiante, poder-se-á confrontar esses resultados com o mapa cognitivo

produzido pela análise de similitude, onde é possível visualizar a organização

interna dos conteúdos da RS, hierarquizada a partir dos seus elementos centrais.

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O SP possui características opostas ao SC por reunir elementos com

frequências abaixo da média, lembrados posteriormente às primeiras evocações.

É através deste sistema que acontecem as interações comunicativas cotidianas,

capazes de gerar novos sentidos a serem incorporados às RS, alterando seus

conteúdos e, consequentemente, sua estrutura organizacional.

Este sistema pode ser compreendido como o que congrega elementos

atuantes no processo de novas ancoragens. Neste caso, alegria e amizade

podem exercer a função de contribuir para a ancoragem de conteúdos

socioafetivos. Determinação refere-se à disciplina, à força de vontade necessária

para dar continuidade às práticas físicas, a fim de manter a saúde e o físico em

bom estado, evitando o sedentarismo. Equilíbrio, exercício, alongamento, futebol

e natação reúnem exemplos concretos de exercícios físicos, praticados no

passado ou no presente, além de uma qualidade física que recebe bastante

atenção dos idosos, o equilíbrio. Vale acrescentar que equilíbrio, além de

transportar o sentido de equilíbrio físico, considerado o mais importante, também

significa equilíbrio emocional e corporal.

“Equilíbrio em função das calçadas, o velho levar tombo é um problema sério” (homem, 77).

“Porque a pessoa estando bem, ela se projeta de uma maneira mais eficaz para conseguir a felicidade e o equilíbrio faz parte desse processo” (homem, 69).

Nos quadrantes superior direito e inferior esquerdo encontra-se a periferia

próxima ou SI. Palavras lembradas rapidamente por um número não significativo

de pessoas e, inversamente, lembradas por muitos, porém, tardiamente. Reflete a

possível instabilidade da RS pela proximidade ao SC, podendo, eventualmente,

de acordo com a dinâmica representacional, assumir algumas características de

centralidade.

Seus conteúdos: dança, ginástica, movimento e forma física estão

diretamente associados ao objeto deste recorte do estudo, o dispositivo AF.

Disposição, categoria com elevada frequência, refere-se a uma atitude mental

positiva, mas, notadamente, à vitalidade e energia desenvolvidas através dos

exercícios físicos.

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Dando sequência à investigação dos conteúdos centrais, procedeu-se à

análise de similitude, conforme a Figura 6.

Figura 6 - Análise de similitude das evocações de atividade física - Grupo

masculino

Esse grafo é composto por elementos constituintes das RS de AF da

amostra masculina. De imediato, percebe-se um esquema triangular, formado por

saúde, bem-estar e alongamento, identificando-se quatro estrelas centralizadas

por saúde, exercício, caminhada e bem-estar. Dessa forma, saúde, pelas

conexões que faz e pelo poder de organizar a estrutura, provenientes do seu valor

simbólico para os sujeitos, confirma-se como o principal elemento componente do

SC das RS de atividade física, juntamente a caminhada e bem-estar. Com isso,

essas cognições demonstram estar presentes no pensamento social dos

indivíduos, mostrando-se simbolicamente consensuais.

Os participantes referem-se à saúde como consequência natural da prática

de AF ─ alongamento, exercício, movimento, forma física ─, buscam a AF como

uma forma de cuidado com a saúde ─ manutenção, corpo, mente ─, pensam em

longevidade, qualidade de vida ─ bem-estar ─, fazem associações com alegria,

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felicidade, autonomia, com a convivência entre amigos ─ alegria, disposição,

amizade ─ o que justifica a sua intensa ligação com amizade na matriz de

similitude.

Ao se dividir a árvore produzida pela análise de similitude, prolongando-se

a linha que une saúde a exercício, verificam-se dois subconjuntos com

características distintas.

No subconjunto inferior encontra-se a estrela organizada por caminhada,

que, além de exercício, reúne as modalidades de AF citadas pelos idosos ─

ginástica, futebol, natação e alongamento ─ com exceção de dança, à qual está

ligada indiretamente. À direita dessa estrela encontram-se categorias mais

amplas, mas ainda referenciadas às características psicomotoras e ao

condicionamento físico (movimento, disposição, forma física). Com um caráter

psicossocial mais enfático, têm-se alegria e amizade, provavelmente fazendo

referência à alegria do convívio e às amizades construídas nos espaços

destinados a essas atividades em grupo.

Na parte superior encontra-se a estrela organizada por bem-estar,

cognição diretamente associada a saúde, equilíbrio, exercício, determinação e

alongamento, numa alusão mais direta ao bem-estar físico proporcionado pelas

atividades praticadas. Neste subconjunto estão presentes conteúdos que podem

remeter aos benefícios da AF, como a manutenção da saúde do corpo e da

mente, a obtenção do equilíbrio em seu sentido polissêmico, assim como a

conquista da sensação de bem-estar. Mas, para que isso aconteça, é preciso ter

determinação, entendida como disciplina, para o pleno exercício da prática física

regular.

Assim, caminhada organiza as modalidades de AF e bem-estar faz a

mediação entre as práticas físicas e os seus benefícios.

A estrela centralizada por exercício (SP) sobressai pelo número de

conexões que estabelece e por reunir em torno de si cognições ligadas ao objeto

de RS, ao qual se assemelha pelos sentidos partilhados: corpo, movimento, forma

física, dança, ginástica, caminhada e alongamento ─ determinação, disposição,

manutenção, bem-estar, alegria e saúde.

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Um aspecto teoricamente interessante a ser considerado com relação a

esta categoria periférica, é o fato de desempenhar um importante papel na

organização da RS, corroborando o conceito da interdependência entre SP e SC

na complementaridade estrutural das RS (PEREIRA, 2005; SANTOS, TURA e

ARRUDA, 2011).

Segundo Pereira (2005), as formações triangulares representam esquemas

mentais organizados no nível da consciência, diferentemente dos círculos (a partir

de quatro elementos), cuja associação é estabelecida inconscientemente. Os

esquemas ajudam a detalhar nuances das RS, sendo a base das ações mentais

para o processamento dos novos conteúdos apreendidos, também fazendo parte

da própria RS.

Ao pensar em AF, os sujeitos especificaram várias relações a partir de

esquemas mentais já existentes, como, por exemplo, a conexão triangular entre

saúde, corpo e mente, ou seja, ao ouvirem o termo indutor AF, logo o associaram

à saúde física e mental. Outro exemplo seria: para alcançar o bem-estar, é

necessário ter determinação para praticar exercícios.

Esse processo individual esquemático pode ser observado no mapa de

similitude, já como uma produção coletiva. Se a princípio os indivíduos pensam

por esquemas, assim como os indivíduos, os esquemas também fazem parte de

um conjunto maior, que vem a ser o pensamento social. E o pensamento

socialmente elaborado sobre um objeto, constitui-se na RS desse objeto.

Ao todo, o mapa cognitivo apresenta 23 triângulos, todos eles contendo

saúde, ou exercício, ou as duas categorias ao mesmo tempo. Dos 42 círculos

encontrados, 41 deles são compostos por ao menos uma dessas cognições.

Pelo que se pôde depreender, existe uma grande afinidade, no interior da

RS, entre saúde, caminhada, bem-estar e o dispositivo AF, expressada pelos

sentidos partilhados por exercício. Desse modo, revela-se a simbiose existente,

produto da difusão midiática, entre o objeto de RS e a própria RS, observando-se,

ainda, que a categoria exercício demonstrou-se abrangente para o grupo

masculino, da mesma forma que ginástica o foi para o grupo feminino.

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Quadro 10 - Resumo da busca por mais indícios de centralidade de atividade

física

Relação de importância ≥ 50% TDN ≥ 75% Análise Similitude Confir. SC

SC tot ? fem ? mas ? fem ? mas ? tot fem mas tot fem mas

Saúde 89% S 97% S 83% S 97% S 94% S S S S S S S

Bem-estar 30% 35% 88% S S S

Caminhada 64% S 71% S 56% S S

Corpo 38% 56% S 25% 82% S 79% S

Ginástica 45% 55% S 50% S S

Exercício 56% S 87% S

Musculação 36% 32%

Com base no exposto e considerando-se todas as possibilidades realizadas

de verificação de centralidade das cognições inicialmente consideradas centrais,

tanto das evocações de corpo quanto das de AF, assim como na amostra total e

nos subgrupos feminino e masculino, constatou-se que o elemento saúde foi o

único a ratificar a sua essencialidade em todas as oportunidades examinadas

(Quadros 5 e 10).

Desse modo, inspirando-se na afirmação feita por Moscovici na sua obra

fundadora, de que o “complexo é o símbolo da psicanálise” (MOSCOVICI, 2012,

p. 221), pode-se dizer, que a saúde é o símbolo tanto do corpo quanto do

dispositivo utilizado por todos os sujeitos da pesquisa, a atividade física.

Segundo a teorização desse autor, o símbolo faz o elo entre o discurso

difundido da ciência e a linguagem comum, fundamentada nos themata

circulantes, os quais contribuem para os processos de nomeação e classificação

das novas experiências, isto é, para os processos de ancoragem. Por outro lado,

o símbolo sintetiza essa ligação em imagem, objetivando o que se quer

apreender.

Em suma, de acordo com o detalhamento dos resultados encontrados a

partir da abordagem estrutural, pode-se dizer que saúde seja a própria

objetivação de corpo e de atividade física para os sujeitos da pesquisa, a imagem

com que eles os representam socialmente, ancorando-os a saberes reificados

disponíveis e já transformados pelas interações, como se pôde notar nas falas

produzidas. Foram relatos, entre outros, a respeito dos cuidados dispensados ao

corpo, em que se evidenciou o valor da AF como dispositivo utilizado

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estrategicamente, principalmente em três vertentes de viabilização: a da saúde, a

da estética corporal e a da sociabilidade. Além disso, pela dinâmica da vida, cada

uma delas pode assumir uma importância relativa, em função das especificidades

do momento, analogamente ao recurso de se lançar mão de diferentes

racionalidades coexistentes na sociedade.

Admite-se que os participantes submetam seus corpos a essas atividades

com objetivos variados, cuja importância de cada um deles também é variável,

conforme foi possível perceber, até aqui, no curso da investigação, o que remete

à heterogeneidade do processo de envelhecimento (NERI, 2006).

Certo é que, independentemente do valor conferido à beleza do corpo, ao

uso social da aparência, ao exercício da sociabilidade, ao prazer de viver, o

sentido de corpo e de atividade física que foi mais amplamente compartilhado

pelos sujeitos foi saúde, aí incluídas as preocupações com as capacidades

funcionais e com a saúde mental.

A seguir, examinar-se-ão as entrevistas em profundidade, oportunidade em

que seus achados serão triangulados com a observação realizada e os resultados

produzidos pelo questionário.

3.2 Abordagem processual: representações sociais de corpo

Análise das entrevistas com base nos resultados obtidos através do

processamento do corpus pelo programa IRaMuTeQ - Interface de R pour les

Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (CAMARGO e

JUSTO, 2013; RATINAUD e LOUBÈRE, 2014).

3.2.1 Descrição dos sujeitos

Foram entrevistados 27 praticantes regulares de algum tipo de atividade

física (AF), sendo 14 mulheres (52%). A idade variou entre 60 e 89 anos, a média

encontrada foi de 69,1 anos, a mediana, 69 anos, e a moda, 60 anos. Nesse

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conjunto, 24 sujeitos já estavam aposentados e, destes, seis continuavam a

trabalhar, mesmo que não em tempo integral. Apenas quatro participantes

(somente um homem) disseram ser viúvos e a maioria (12) declarou-se casada. O

nível de escolaridade predominante foi o superior (48%), seguido pelo ensino

médio (33%).

Os locais de moradia com as maiores frequências foram as zonas norte

(52%) e sul (33%) da cidade. Esta descrição está de acordo com a amostra da

abordagem estrutural.

3.2.2 Resultados e análise da classificação hierárquica descendente -

CHD

Durante o processamento do corpus, o IRAMUTEQ identificou as 27

entrevistas como sendo os textos ─ as unidades de contexto inicial ─ a serem

analisados e os dividiu em 710 segmentos de texto (ST) ─ as unidades de

contexto elementar ─ compostos por 3134 formas (palavras) distintas. Em

seguida, essas formas foram lematizadas automaticamente, gerando 2129

lexemas (unidades léxicas).

O processo de lematização consiste em colocar os verbos no infinitivo e as

palavras no masculino singular (CHARTIER e MEUNIER, 2011). Do total de 710

ST, o programa classificou 612 segmentos (86,20%), que foram separados em

seis diferentes classes, de acordo com a classificação hierárquica descendente

(CHD) realizada. Nesta classificação, o corpus sofre sucessivas partições

segundo as semelhanças e diferenças de vocabulário entre os ST existentes. A

CHD visa agrupar em classes os ST cujo vocabulário é parecido entre si, mas

diferente do vocabulário dos ST das outras classes a serem constituídas, sendo o

objetivo a formação de classes lexicais que expressem modos diferentes de

atribuição de sentido a um determinado objeto de estudo (CAMARGO, 2005;

KRONBERGER e WAGNER, 2010).

Em outras palavras, o uso de um vocabulário peculiar fornece informações

específicas não só sobre a origem sociocultural de quem fala, como a respeito

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dos diferentes modos de apreensão de um determinado objeto (PALMEIRA,

QUEIROZ e FERREIRA, 2013).

O grau de ligação de uma palavra com a classe à qual pertence é expresso

através do qui-quadrado (X²) relativo à palavra e utilizado como critério de

valoração da associação existente. Por essa técnica, quanto maior o X², mais

significativa a relação entre a palavra e a classe, quer dizer, é mais comum

encontrá-la na classe considerada e mais improvável a sua presença nas outras

classes da partição.

Após esse procedimento, o próximo passo é a categorização/nomeação

das classes encontradas. Para isso, buscam-se identificar as formas com os

traços mais característicos, mais salientes em relação às outras, e que melhor

representem em seu conjunto a ideia exprimida através de cada uma das classes.

As formas foram selecionadas de acordo com o seu valor simbólico para o

contexto semântico da respectiva classe e por sua força de associação com a

classe, representada pelo valor do X² que lhe foi atribuído. Os valores

considerados foram superiores a duas vezes o mínimo estabelecido ─ 3,84 ─,

para que se diminuísse a chance de erro nessa associação (CAMARGO, 2005;

GOETZ et al., 2008).

Essas são indicações utilizadas na tentativa de se reconhecer o valor

simbólico de cada forma, levando-se em consideração tanto seus atributos

quantitativos, quanto a importância do seu significado na relação do sujeito com o

objeto de representação, e revelado no interior dos contextos discursivos

(CHARTIER e MEUNIER, 2011; LAHLOU, 2012).

Auxilia nesse processo de nomeação ter em mente princípios da Teoria

das Representações Sociais (TRS), como o de que toda a RS é a representação

de alguém sobre algum objeto e de que as RS são elaboradas diante de normas,

valores, afetos, crenças, atitudes, práticas partilhadas por indivíduos e grupos,

construídas e difundidas através da comunicação (ARRUDA, 2005; CRUZ e

FERREIRA, 2011; JODELET, 2001; MOSCOVICI, 2012).

Portanto, podem estar presentes no material discursivo em análise, ao lado

de teorias elaboradas pelos participantes a respeito da imagem de um corpo ideal

ou do próprio corpo em processo de envelhecimento. De como se utilizam do

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dispositivo AF na construção corporal, se é que utilizam, dando indícios das

relações que estabeleceram entre esses objetos, a partir da sua experiência de

vida e sob inúmeras e ininterruptas mensagens midiáticas e sociais sobre esse

tema e suas implicações.

Uma vez que os dados foram produzidos através da triangulação

metodológica e devido ao volume de material obtido tanto a partir da observação,

quanto dos questionários e das entrevistas, optou-se por não se restringir a

análise aos ST classificados pelo IRAMUTEQ. Esses ST (RATINAUD e

LOUBÈRE, 2014) foram utilizados como um guia inicial para se fazer o caminho

do mundo semântico representado pelo corpus processado, ao discurso mais

abrangente construído pelos indivíduos, procedendo-se a uma triangulação

também na análise dos dados, a fim de se tentar alcançar a complexidade do

pensamento social, sem se reduzir a complexidade da linguagem (MARKOVÁ,

2003). Além disso, acreditou-se que o estudo ficaria mais consistente se

procurasse articular todo o material reunido ─ a partir das observações de campo

e dos instrumentos para a produção de dados textuais ─ durante as necessárias

idas e vindas entre as hipóteses interpretativas e os resultados obtidos através

dos programas e da categorização temática (MADIOT e DARGENTAS, 2010).

De início, na primeira partição do corpus, o subconjunto que deu origem às

classes 1 e 2 foi destacado do restante. Essas duas classes formam o eixo cujo

polo de atração é o dispositivo AF. O valor do X² correspondente a cada forma

encontra-se entre parênteses, logo após a respectiva palavra.

A classe 1, ATIVIDADE FÍSICA e SOCIABILIDADE, foi composta por 81

ST (13,24%), sendo destacadas as seguintes formas para caracterizá-la: jogar

(163.76), tênis (106.27), esporte (92.73), futebol (66.64), vôlei (39.72), praticar

(34.06), hidroginástica (33.14), turma (32.39), gosto (29.98), natação (25.93),

amigo (24.01), musculação (18.45), dança de salão (17.13), conviver (15.06).

Para a construção desta classe contribuíram, principalmente, indivíduos do

sexo masculino, moradores da zona sul da cidade, com nível médio de

escolaridade e divididos entre a faixa etária mais nova (60 a 69 anos) e a mais

velha (80 a 89). Congrega os discursos dos sujeitos que dizem praticar algum tipo

de atividade há muitos anos.

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Dentre elas, destacou-se o esporte tênis. Vale ressaltar que essa

modalidade desportiva também é utilizada, conforme o avanço da idade, como

uma prática compensatória, não somente em função do menor esforço físico

empregado em relação a outras modalidades, mas visando a aquisição de novos

comportamentos, considerados mais adequados para o convívio em sociedade.

“já quase coroa, lá pros meus 50 anos, (...) fui jogar tênis (...). Eu até cheguei a jogar futebol, fui criado no meio do esporte, mas o futebol, você sabe que é muito diferente do tênis. O tênis me ajudou muito, inclusive as pessoas com quem eu passei a conviver e você acaba aprendendo, (...) tem uma (...) elegância do esporte, (...) muitas vezes me vi em situações de terminar e me criticar por coisas que tenha feito durante uma partida” (homem, 60).

“você vai substituindo (...) você não jogava futebol? Aí você vai jogar peteca, (...) você nadava no mar, (...) vai nadar na piscina, o mar fica só prá você se bronzear (...). Não deixa de nadar, mas foi prá piscininha, porque não corre risco, não é?” (homem, 71).

Esses são exemplos de atitudes compensatórias, segundo a perspectiva

do desenvolvimento ao longo de toda a vida, já referida.

A sociabilidade é considerada um fator muito importante e os espaços

destinados às práticas, assim como as práticas propriamente ditas, são espaços

também de convivência social.

“É (...) uma atividade social boa, porque (...) o esporte é uma coisa aglutinadora, é difícil fazer uma atividade física sozinho, você sempre interage com alguém” (homem, 61).

“Olha, isso é muito bom pro corpo e prá alma da gente, (...) porque a gente tem que tá sempre alegre, sempre convivendo no meio de pessoas, eu convivo demais, é na hidro[ginástica], (...) que eu adoro, é aqui também, que eu adoro essa turma” (mulher, 74).

No entendimento dos pesquisados, além dos benefícios físicos, a

convivência proporcionada pela prática regular de AF é uma oportunidade para

construir novas amizades, vínculo afetivo bastante valorizado por eles.

“eu (...) pratico (...) essas atividades, já tem uns 15 anos. (...) ajuda o corpo, ajuda o relacionamento, a gente encontra novas amizades, só tem fatores positivos nesse tipo de vida que eu levo” (mulher, 62).

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Esse aspecto da importância dada ao convívio social também foi ressaltado

durante a aplicação do questionário. Neste caso, a fala a seguir pertence a um

sujeito que participou dos dois instrumentos de coleta da pesquisa:

“é o bem-estar que a gente sente e também a convivência com outras pessoas, fazendo novas amizades. O ser humano é um ser de relações” (homem, 69, qes1).

Esses extratos estão de acordo com os resultados encontrados por Goetz

et al., 2008, em que distinguem duas temáticas referentes às RS do corpo na

mídia impressa, uma essencialmente física e a outra constituindo-se em uma

unidade físico-psíquica, em que são realçadas questões subjetivas como o bem-

estar e a interação social.

Uma das formas (palavras) significativas desta classe é uma atividade

física que, quando abordada por seus praticantes, revela todo o seu potencial

para abranger ambas as temáticas em seus aspectos objetivos e subjetivos.

Antes de se proceder à análise a respeito dessa prática, seguem alguns trechos

dos seus entusiastas:

“(...) a dança de salão (...) tem marcado a minha vida bastante (...). Porque eu acho que a dança trabalha o corpo e o espírito junto e aí traz a vida mais leve, mais alegre, você faz novas amizades e todo mundo só pensa em dançar, em alegria, (...) deixa os problemas fora da academia” (mulher, 60).

“a gente nunca associa a dança com ginástica, (...) quando a gente fala atividade física, a gente já pensa numa natação, numa caminhada” (homem, 64).

“a dança é uma terapia que é uma beleza! (...) eu já faço (...) há muito tempo, (...) ela me ajuda muito, porque ajuda (...) a esquecer que está envelhecendo, (...) se a gente está dançando (...) não pensa em nada” (mulher, 82).

Os dois excertos seguintes foram colhidos por ocasião do questionário. O

primeiro sujeito também respondeu aos dois instrumentos:

“a dança é muito amorosa, te leva à trigamia. Eu tenho três mulheres atualmente. Sou casado há 40 anos e tenho duas na rua e cumpro o meu dever” (homem, 71, qes).

1 A abreviatura ‘qes’, dentro dos parênteses, aparecerá para indicar quando as falas forem

retiradas do questionário.

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“a dança... ela é tudo. Mexe com a cabeça, mexe com o corpo, você se exibe. Ontem eu cheguei em casa e parecia uma menina” (mulher, 80, qes).

Não se pode deixar de observar a importância da dança para os sujeitos da

pesquisa, particularmente para as mulheres, seu público mais presente. Um dado

curioso, observado no trabalho de campo realizado na UnATI, refere-se ao

processo de inscrição para o sorteio das vagas disponíveis na oficina dança de

salão. Os alunos normalmente recebem senhas individuais para as atividades que

realizar, entretanto, para a dança de salão, as senhas são distribuídas para

casais, não necessariamente espelhando uma relação conjugal. Existe uma

grande procura por esse curso e é comum ouvir comentários a respeito de

senhoras em busca de cavalheiros para formarem seus pares e procederem à

inscrição.

Recorde-se que na abordagem estrutural dança também apareceu. Ela é

um dos componentes da estrutura das RS de AF, localizada no sistema

intermediário e fazendo parte do conjunto de modalidades reunidas em torno de

caminhada, na análise de similitude.

Portanto, a dança de salão aparece como um traço lexical saliente, uma

das modalidades de prática física com força de associação com esta classe.

Contudo, não é apenas esta expressão que faz alusão à dança no discurso dos

sujeitos. Ao se percorrer o corpus por inteiro, observa-se que o verbo dançar e o

substantivo dança também foram classificados em outra classe, embora não

tenham sido considerados formas significativas para a sua caracterização.

O que vale destacar é que, analisando-se o contexto semântico onde se

insere, verifica-se que a dança ocupa um espaço socioafetivo importante nas

relações dos seus adeptos, que vai muito além de uma AF. Ela é tida como

terapia, auxilia a não se pensar em demasia no processo de envelhecimento, é

entendida como linguagem, forma de expressão e comunicação entre os

dançarinos, trabalha o corpo e a emoção simultaneamente, além do aspecto

festivo das apresentações e dos bailes que frequentam. Estas observações são

coerentes com os resultados de pesquisas que relacionam a dança ao sentimento

de satisfação pessoal e ao bem-estar físico, social e psicológico; ao fato de os

dançarinos tenderem a encará-la mais como uma atividade social do que como

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uma AF, além de ter evidenciado eficácia na melhora da qualidade de vida dos

idosos (LEAL e HAAS, 2006; OLIVEIRA, PIVOTO e VIANNA, 2009; SOARES et

al., 2011).

“eu gosto de dançar, de vez em quando tem uns bailinhos bom, adoro dançar. (...) não tem coisa melhor prá melhorar o astral do que a dança de salão!” (mulher, 74).

A classe 2, ATIVIDADE FÍSICA e ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL,

agrupa 84 ST (13,73%), e ressalta a dimensão biológica do envelhecimento,

sendo distinguida pelas seguintes formas selecionadas: alimentação (44.80), sol

(38.09), remédio (31.69), correr (31.65), falta (27.19), preciso (24.79), UERJ

(24.79), caminhada (23.56), semana (22.81), comer (21.62), caminhar (20.37),

atividade física (15.20).

Foi constituída, na maior parte, por sujeitos entre 70 e 79 anos, de nível

médio de ensino. Como o IRAMUTEQ não indicou nenhuma variável

correspondente ao sexo, subentende-se que houve equilíbrio entre eles na

produção dos ST.

Esta classe complementa a classe anterior no que diz respeito aos

exercícios, como correr e caminhar, ao local de prática com a maior concentração

de participantes, à frequência semanal com que praticam AF e à necessidade que

têm dessa prática. Sobressai o interesse pela alimentação como componente

essencial à manutenção da saúde e a sua articulação com a AF e a estética

corporal, além do prazer de comer.

“devido a essa vida saudável que eu levo, eu aprendi, até modifiquei minha alimentação. Eu comecei a me alimentar de forma mais saudável (...) a partir da atividade física” (mulher, 62).

“o meu sonho é a barriga, (...) você vai no médico, (...) procura alimentação adequada, e todo mundo diz o seguinte: na sua idade é difícil (...) e eu tô comendo muito pão, aí passa sem comer pão uma semana, tomar café sem pão é horrível (...)” (homem, 72).

Em artigo sobre as RS do corpo e da alimentação elaboradas por mulheres

com mais de 75 anos, Costalat-Founeau et al. (2002) consideraram interessante

assinalar que a categoria “corpo sedução”, entendida como a conservação de

uma aparência agradável, com maior visibilidade social, está ligada às categorias

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referidas às restrições alimentares, como “alimentação sobrevivência” e

“alimentação saúde”. Para os autores, esta ligação revela as tendências atuais de

se cuidar do corpo nas suas dimensões nutricionais e estéticas, a fim de se

conservar a juventude e a beleza.

Em outro sentido, em pesquisa sobre o significado de alimentação

saudável para pessoas idosas, Menezes et al. (2010) concluíram que os seus

resultados estão proximamente ligados à preocupação dos sujeitos com a saúde,

com a prevenção e o tratamento de doenças crônico-degenerativas e afastados

da esfera subjetiva.

Como se vê, dois olhares distintos sobre um mesmo objeto.

Sobre a maior visibilidade social apontada anteriormente, ressalte-se a fala

do informante a seguir, aposentado que continua trabalhando normalmente.

“eu vejo que as pessoas cada vez tão estendendo mais o tempo de trabalho e, ao estender o tempo de trabalho, você fica (...) aos olhos dos outros, você também não quer se mostrar (...) um bagaço (...), então, isso (...) reverte prá que você faça exercício, (...) prá que você trate da sua aparência, que é fundamental” (homem, 60).

No caso desta investigação, a alimentação também retrata a preocupação

em ingerir alimentos saudáveis, menos calóricos e em quantidade moderada,

muitas vezes sendo esse um objetivo a ser alcançado e não uma realidade

estabelecida, como afirma um participante que reconhece que está bem acima do

peso aceitável, ao contrário de outro que vem conseguindo manter os hábitos da

sua reeducação alimentar.

“se eu comer um pouquinho menos, eu acho que as coisas melhoram pro meu lado” (homem, 60).

“essas atividades de hoje, elas me ensinaram a me alimentar, (...) eu não sabia me alimentar, hoje (...) não faço uso de alguns alimentos, (...) ovo, carne vermelha, (...) o pão, com muita parcimônia e aprendi realmente a me alimentar, isso prá mim foi fundamental” (homem, 69).

O prazer de comer sem a preocupação do passado de não engordar,

assim como a substituição de valores em relação ao corpo são lembrados:

“Tinha uma época que eu dizia: vou começar o regime na 2ª feira (...). Se eu emagreço 2 quilos, eu me sinto melhor, mas eu não tenho essa capacidade mais. (...) eu adoro comer (...) e acho que tô numa idade que

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tenho que fazer as coisas que eu gosto, (...) eu já tive um corpo muito bonito, eu sei que eu tive (...), mas hoje em dia tem outras coisas tão, tão na frente do meu corpo muito bonito...” (mulher, 73).

Da mesma forma, são criticados aqueles que exageram nos regimes

alimentares, numa atitude comparável à autopunição.

Elas [suas amigas] acham que eu sou uma louca! Porque eu tô gorda, porque eu bebo, porque eu como. (...) Elas não fazem nada! Tem uma que não ri prá não fazer ruga (...). Se ela (...) vai numa festa, passa cinco dias sem comer nada, (...) tudo com regime” (mulher, 73).

Retomando a ideia de dimensão biológica do envelhecimento e analisando

as atitudes tomadas pelos idosos para um envelhecimento saudável, constata-se

que a maioria dos conteúdos significativos denota essa preocupação. Observe-se

que a própria caminhada pode ser prescrita e encarada como parte de um

tratamento de saúde.

“eu sou cardíaco, eu tenho três stents no peito e uma das condições do tratamento é você caminhar, e eu caminho diariamente seis mil metros” (homem, 78).

Este mesmo sujeito, um pouco depois, refere-se a outro tipo de benefício

proporcionado pela caminhada, dessa vez relatando a sua capacidade de

modificar para melhor o ânimo e a sensação de bem-estar subjetivo.

“Você às vezes tá.... a..., um..., a..., vou dar uma caminhada. Aí (...) começa a ver outras pessoas, (...) aí você começa a ver ..., acho que é endorfina que chama e aí começa te dar um... melhor! Aí você, pô! Não é bem isso, eu tava parado por que? Por que que eu tava parado lá?!” (homem, 78).

Do mesmo modo, fazem alusão à realidade dos medicamentos com que

são obrigados a conviver, o que faz parte da sua rotina, ao mesmo tempo em que

sobrecarrega o orçamento doméstico.

“depois dos 60, que a gente está aposentada, que tem um tempinho, (...) pode gastar um dinheiro extra, a gente não tinha que tá gastando com remédio, (...) vai o dinheiro no remédio, tem que tá economizando prá pagar remédio, prá pagar médico (...) lá vai...” (mulher, 82).

Após a primeira partição, procedeu-se a mais uma divisão do corpus,

gerando dois subgrupos. Cada um deles deu origem a um eixo de sentido

formado por duas classes lexicais cada um.

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A classe 3 (106 ST – 17,32%) e a classe 4 (114 ST – 18,63%) representam

o eixo centralizado pela beleza do corpo.

A classe 3, CORPO, ESTÉTICA e MÍDIA agrupou 106 ST,

correspondendo a uma proporção de 17,32% dos 612 ST classificados. As

palavras importantes que conformam o sentido atribuído à classe são: gordo

(58.95), padrão (56.72), mídia (56.45), magro (43.80), bumbum (38.69), seio

(33.80), cirurgia (32.67), sociedade (32.67), ideal (30.35), bonito (29.79), botar

(27.89), lindo (22.07), beleza (20.25), botox (19.22), belo (19.22), Brasil (18.44).

Contribuíram para a organização desta classe lexical, sobretudo mulheres

entre 70 e 79 anos, moradoras da zona norte e da zona oeste do município do Rio

de Janeiro.

Foram destacadas palavras que, majoritariamente, refletem a crítica ao

corpo gordo, o preconceito contra a pessoa gorda e a preocupação com o

aumento da obesidade no Brasil.

“na verdade, todo gordo é complexado. Se alguém olha prum sujeito muito mais gordo, olha primeiro prá barriga. Se você tem oportunidade de ser promovido, se não foi, é porque você é barrigudo, o corpo não pega bem (...) o gordo é deselegante, o gordo não é bonito (...) ninguém gosta de gordo” (homem, 72).

“hoje a gente vive uma ditadura do corpo, (...) a nossa sociedade (...) valoriza essa estética de magreza, (...) as pessoas até se sentem mal quando não tão dentro do padrão, (...) brincadeiras jocosas, ô gordo! (...) e nunca a população do Brasil teve tão gorda (...), aquela população (...) que não tinha acesso (...) à alimentação (...) tá se alimentando mal (...)” (homem, 60).

Curioso como outro pesquisado, ao relacionar o corpo à sedução, reproduz

os estereótipos do gordo e do magro, presentes no imaginário social:

“tem (...) cara que (...) é gordo, mas é engraçado, mulher gosta de homem que faz ela rir, (...) meu corpo sempre foi legal (...) sempre pratiquei esporte, mas conheço alguns amigos muito inteligentes, gordo ou magro demais, (...) o que é magro demais (...) caminha pelo lado intelectual, eu acho que tem prá tudo que é gosto” (homem, 60).

O padrão de beleza corporal veiculado na mídia (GOETZ et al., 2008;

LEAL, et al., 2010; SUDO e LUZ, 2007), tendendo à magreza, recebeu críticas e

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houve a manifestação nostálgica em relação às formas mais arredondadas de

meados do séc. XX.

“Prá mim, o padrão de beleza é o que era em mil novecentos e..., aquelas divas que tinha na década de 50, de 60, Ava Gardner, aquelas mulheres bonitas, cheinhas, (...) acho que o corpo (...), umas pernas bonitas tem que ter. Agora cê vê uma esquelética andando no meio da rua, curva, ah não, sai fora!” (homem, 78).

A mídia é vista como tendenciosa e responsável pela rigidez do padrão de

beleza imposto no Brasil, principalmente à mulher (DEBERT, 2011; SIBILIA,

2011). Afirmou-se que a imposição desse valor pode gerar angústia nas mulheres

da terceira idade, causando uma diminuição, talvez evitável, da autoestima

dessas mulheres, embora uma respondente de 82 anos tenha se lastimado com a

perda da beleza ocasionada pela velhice (GOLDENBERG, 2008.).

“O Brasil, eu acho que é muito (...) cruel. A sociedade é muito cruel com a mulher, principalmente essa questão (...) da cobrança do belo (...) o padrão de beleza que é imposto” (mulher, 60)

“a velhice é muito chata, (...) nós vamos perdendo o que tinha de bonito e mexe muito com a cabeça da gente, principalmente com a minha...” (mulher, 82).

Parece que dando razão ao que disseram essas participantes, note-se o

depoimento feito no questionário, de outro indivíduo que também respondeu aos

dois instrumentos:

“Para a mulher, o corpo, a aparência é muito mais importante (...). A mulher é que sofre com isso (...) a ditadura da beleza (...), o mercado da beleza. O homem não. Tem mulher que gosta de homem careca, barrigudo, baixinho. Para o homem (...) é o que ele vê, para a mulher são outros olhares (...)” (homem, 63 qes).

De acordo com os sujeitos e com autores que pesquisam esse assunto

(GOETZ et al., 2008; LEAL, et al., 2010; SUDO e LUZ, 2007), os meios de

comunicação tendem a impor um determinado tipo de corpo magro como sendo o

bonito, com a intenção de incentivar o consumo de produtos para um corpo

adequado ao lançamento das modas que divulgam, sendo a moda

essencialmente dirigida à juventude, o que também é objeto de queixa (SIBILIA,

2011; DEBERT, 2011).

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Na verdade, os sujeitos objetivam nas exigências mercadológicas e nos

interesses econômicos da indústria da beleza, a imagem que fazem da mídia.

“a mídia é venda. Ela vende o corpo perfeito. (...) e eles (...) vão lançar o corpo perfeito (...) porque eles lançam modas. É em cima desse corpo perfeito que eles estão lançando moda. (...) A aparência jovem é a mídia que está ali em cima de você o dia todo (...)” (homem, 69).

E o mesmo sujeito, respondendo ao questionário, acrescenta:

“O corpo ideal é imposto pela mídia” (homem, 69, qes).

Prosseguindo com os protestos dirigidos especialmente à mídia e à falta de

roupas intermediárias entre a juventude e a velhice:

“Ah, a cobrança (...) é enorme! (...) é o jovem (...) que vale (...) mas é uma dificuldade que eu tenho. Ou é aquela roupa bem senhorinha, ou então muito jovenzinha” (mulher, 61).

“A mídia é um caso muito sério, (..) faz a pessoa (...) favorecer a mídia e não a si. A televisão mostra uma pessoa magra, que é muito boa, e eu não acho assim, eu acho um gordo lindo! Uma gorda feliz é muito bonito!” (mulher, 75).

“é só a Rede Globo botar (...) novela de gordinha, (...) aí todo mundo vai querer engordar. Então, a mídia faz isso, o povo (...) faz o que (...) a mídia quer que o povo faça” (homem, 64).

Os participantes acreditam que a mídia valorize demasiadamente a beleza

corporal, enaltecendo somente os belos, o novo e, com isso, ajuda a discriminar o

velho.

“A mídia (...) não favorece os fracos, não favorece os feios, a mídia sempre enaltece os belos” (homem, 72).

“A mídia enaltece por demais o belo, o novo, (...) consequentemente, (...) o velho não está sendo enaltecido” (homem, 75).

“A mídia, de um modo geral, contra o velho... existe (...) preconceito. Pode ter programa, mas no dia a dia você percebe que existe, (...) a imagem é uma coisa tão forte, tão dominante, que as pessoas (...) hostilizam até inconscientemente um velho, porque não tem aquela aparência padrão” (homem, 60).

“eu acho que a mídia valoriza muito essa parte de ser magro (...) muita gente (...) até discrimina, já tem esse preconceito, aí fala assim: ah! Tá velha!” (mulher, 74).

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Em contrapartida, também é lembrado que desde sempre o Homem

persegue a beleza física, a perfeição, a proporcionalidade das formas, havendo o

reconhecimento de que a pessoa é mais bem vista na sociedade, se estiver de

acordo com os padrões culturalmente reconhecidos, uma vez estarem projetados

no próprio corpo e visíveis aos olhos dos outros. A primeira fala, retirada do

questionário, é um bom exemplo sobre a perenidade do conceito de beleza no

mundo ocidental.

“O conceito de beleza é eterno e foi estabelecido pelos gregos, que valorizam as proporções do corpo humano e que permanecem até hoje” (homem, 84, qes).

“Eu acho que não só a mídia não, (...) desde que o mundo é mundo (...) todo ser humano (...) busca e prefere a perfeição” (homem, 61).

“Que que você acha mais bonito? Olhar um corpo bonito de uma pessoa jovem ou um corpo de uma senhora mais velha? (...) Você pode até dizer: essa senhora tem um corpo muito bom prá idade dela, mas que é muito bonito olhar coisa bonita, eu acho” (mulher, 73).

“A questão da aparência corporal (...) é (...) muito influente nessa área, a pessoa se apresenta (...) prá pretender alguma coisa descuidado com seu próprio corpo, (...) barrigudo, obeso, (...) já não tem a mesma receptividade, não tem a mesma aceitação” (homem, 89).

Sobre a mesma temática e referindo-se ao corpo do idoso, um respondente

do questionário também deixa transparecer suas representações sobre as

funções sociais do corpo, assunto já pesquisado por Jodelet (2009), assim como

por Camargo, Justo e Alves (2011):

“Hoje, é ter uma postura correta, apresentar músculos. (...) tem que mostrar que tem físico, que tem músculo. O homem, uma postura saudável, uma expressão de saúde, aí a pessoa tem uma acolhida diferente” (homem, 68 qes).

A pressão midiática a favor do consumo para a aparência jovem e bela tem

levado à procura cada vez maior pelas cirurgias estéticas, procedimento

condenado com veemência, em especial pelas participantes do estudo, porém de

forma ambígua (CAMARGO, JUSTO e ALVES, 2011; CASOTTI e CAMPOS,

2011; DEBERT, 2011). A construção artificial dos corpos é tratada como

impostura (EDMONDS, 2007) e um assunto que desperta reações indignadas,

comparáveis às reações diante de trapaças ardilosas.

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“a mídia (...) tá extrapolando, porque essas mulheres (...), não sei se elas botam botox lá no (...) bumbum, deve fazer... e eu acho isso um absurdo! Eu não vou falar nas coisas artificiais (...) porque, com sinceridade, pegar lá uma coisa e botar no seio, esses botox ou esses silicone eu acho isso agressão ao corpo” (mulher, 73).

“veja essas maluquices dessas mulheres (...) que ficam se preenchendo, (...) com a boca assim... (...), parece que têm todas 20 anos com 70 e tal. Eu acho isso horrível! (...) eu acho super válido você se cuidar e fazer uma plástica, fazer um preenchimento. Agora, você ficar a vida inteira querendo ficar jovem... fica ridículo, (...) fica um filme de terror (...) essas mulheres todas iguais, com a cara toda esticada, sem uma ruga. Acho que a gente tem que ter as nossas expressões” (mulher, 73).

Contudo, em suas falas também se consegue captar sentimentos, atitudes,

emoções, desejos, contraditórios ao próprio discurso, o qual desvaloriza o

caminho “fácil” dos procedimentos e com viés moralista valoriza o empenho, o

esforço, a dedicação aos exercícios, na direção da beleza física. Curioso que

essa valorização moral do esforço físico também tenha sido encontrada por

Sabino (2007) em pesquisa com jovens fisiculturistas usuários de anabolizantes,

revelando a existência de uma representação comum aos dois grupos.

“Ela tem é que fazer ginástica prá ela chegar ao corpo ideal que ela quer, (...) que ela pode ter (...), porque nem todo corpo vai se adaptar a um corpo bonito. Agora, eu não sou a favor da plástica (...), não, no rosto, se a pessoa quiser fazer, se não mudar [muito], eu não faço, não sou a favor de nada. Agora, lipoaspiração aceito, (...) faria, (...) se tivesse dinheiro, a minha barriga (...)” (mulher, 73).

E logo após dizer que se dispusesse de recursos financeiros se submeteria

a uma cirurgia estética, a mesma respondente retoma as críticas ao artificialismo

e à falta de esforço físico para proceder às transformações corporais, moralmente

admitidas por ela:

“Mas eu acho as mulheres enormes aí, se apresentando, (...) é uma coisa artificial ela ficar bonita (...). Elas querem ir no médico fazer o atletismo delas, o botox no rosto, fazer sem fazer força, suspender o seio (...) botando silicone (...). E eu vejo aquelas perna que eu não acredito que elas..., (...) eu não sei (...) se (...) mesmo botando os botox delas, os silicone, elas têm que fazer ginástica” (mulher, 73).

Igualmente, a participante anterior a essa, após criticar o exagero das

modelagens cirúrgicas feitas por suas amigas, além de revelar seu orgulho pela

plástica que fez, remete à indagação já mencionada no texto, de que se haveria

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limite ético para as modificações corporais direcionadas ao rejuvenescimento, ou

qual seria o limite para esse empreendimento.

“Eu já fiz uma plástica (...) há quase 20 anos atrás, muito pequena, tanto é que eu não tenho nem uma cicatriz. É uma plástica até modelo, que eles sempre me chamam prá mostrar” (mulher, 73).

A prática excessiva da musculação também integra o rol de dispositivos

disponíveis para a criticada construção artificial do corpo.

“hoje em dia, essas pessoas que fazem musculação, elas fabricam um corpo muito bonito que elas não tinham... Eu não gosto, eu acho muito feio essas mulheres tipo mármore, (...) aquela pessoa que é toda dura. (...) tudo quanto for fabricado eu detesto” (mulher, 73).

“o corpo bonito prá mim (...) tem que ser mais natural. O que você vê de muita formação de massa muscular, excesso de massa muscular, eu acho feio, principalmente na mulher, (...) eu não gostaria, mesmo eu fazendo a musculação, se começar a ficar muito exagerado, eu vou (...) pedir ao professor prá reduzir os exercícios” (mulher, 65).

Os pesquisados fazem alusão à beleza do corpo da mulher que, para ser

considerado bonito, é preciso não ter barriga, mas ter o “bumbum” grande. Além

disso, esse corpo seria capaz de compensar a falta de beleza do rosto.

“corpo bonito é esse que esteticamente se apresenta aí. (...) muitas curvas, (...) o da mulher, (...) o do homem... discorrer sobre o homem..., mas muitas curvas, bunda grande... proporções e altura também (...). Não sei se já é produto da lavagem cerebral ou não, mas é prá mim também (...). Não sei nem se é uma atitude inconsciente. Se eu gosto porque isso me foi imposto ou se é realmente isso o que eu gosto” (homem, 60).

“uma mulher com um corpo..., às vezes ela nem tem um rosto bonito, mas ela com um corpo lindo... olha, é fundamental prá mim se não tiver barriga. Se eu não tivesse... (...) mas essa não tem jeito... (...). Eu acho que a mulher sequinha é... eu acho isso lindo (...). Quando eu estou mais magra, que a minha barriga sai um pouquinho, eu fico radiante! ” (mulher, 73).

Mais adiante, na próxima classe, aprofundar-se-á a discussão sobre a

beleza da mulher e sobre as contradições aparentes no interior do material

discursivo, no que concerne à hierarquia ou congruências no esforço para a

obtenção, manutenção ou compensação de elementos no plano da saúde e da

beleza física.

Por ora, vale registrar que o último respondente a ser citado (homem, 60)

evitou discorrer sobre a beleza masculina, concentrando-se nos atributos da

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beleza corporal feminina, comportamento reproduzido pela imensa maioria dos

homens, possivelmente até inconscientemente. Por outro lado, a pesquisada

expôs o seu pensamento absolutamente fundamentado na beleza feminina, como

também o fizeram a quase totalidade das mulheres, aproveitando a oportunidade

para falarem do próprio corpo, da forma em que está, ou de como gostariam que

estivesse. Os dois fragmentos anteriores permitem perceber valores e crenças

que ancoram antigas RS do homem e da mulher e inferir atitudes reveladoras do

nível de enraizamento psicológico desses traços culturais, que atravessam essas

RS (PEREIRA, 2005).

Além disso, é de se notar a relevância da preocupação dessa participante

com o abdômen. Assim como ela, vários pesquisados de ambos os sexos, em

todo o material coletado, também se referem à barriga como um símbolo da

elegância corporal a ser conquistado, comparável a um objeto sonho de consumo.

Ressalte-se que em todas as oportunidades em que a barriga foi

mencionada, o foi por questões de estética corporal e não por questões de saúde,

mesmo sendo difundida nos meios de comunicação a informação científica da

associação da circunferência abdominal com fatores de risco cardiovascular

(REZENDE et al., 2006; CABRERA et al., 2005).

Sabe-se que a mídia é uma poderosa veiculadora de RS, mas, ao que tudo

indica, a difusão desse conhecimento acadêmico não tem sido suficiente para a

conscientização das pessoas em relação à preservação de medidas abdominais

adequadas. O que os sujeitos parecem expressar é a aspiração à conquista de

um status corporal distintivo na sociedade brasileira, em especial na sociedade

carioca (GOLDENBERG e RAMOS, 2007), mesmo já estando classificados como

integrantes da categoria terceira idade.

Desse modo, admitindo-se que a construção corporal é determinante para

a construção da identidade (COSTA, 2004b), e que a construção social da

identidade está relacionada à ideia de ascensão social e de prestígio (VELHO,

2008), presume-se que as intenções e ações de mudanças operadas

deliberadamente no corpo busquem, de fato, poder simbolizar ao outro, a

pretensa, ou mesmo reconhecida, elevação de prestigio social conquistado

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através das modificações biopsicossociais trabalhadas e externadas através do

corpo.

Não significa dizer que os pesquisados não tenham o direito de tentar se

aproximar de uma silhueta comum nos jovens. No entanto, a permanente

circulação de imagens corporais apolíneas parece também influenciar a

elaboração das RS de corpo dos idosos, reforçando a ideia da impossibilidade de

se permanecer totalmente imune ao processo de difusão midiática, fazendo com

que, inicialmente nesta questão abdominal específica, emerja uma aparente

incoerência entre as preocupações manifestadas com respeito aos cuidados com

a saúde e à atenção despendida com a beleza. Como declara uma respondente

sobre o valor socialmente conferido à imagem do corpo,

“Hoje em dia, mais do que antigamente, (...) a imagem do corpo é muito importante. É muito mais importante do que o que a pessoa realmente é, do que o ser, é a aparência, é o visual” (mulher, 61).

Essa é uma das contradições apreendidas nos dados encontrados.

Posteriormente, como já dito, haverá continuidade do desenvolvimento dessas e

de outras questões afins.

Antes disso, é interessante relatar que os sujeitos se referem à existência

de mais de um tipo ideal de corpo, veiculado pela mídia, no que se assemelha ao

conceito de polifasia cognitiva desenvolvido por Moscovici (2012). São diferentes

representações do que venha a ser um corpo ideal, elaboradas socialmente e

compartilhadas pelos componentes da amostra, podendo ser requisitadas

segundo as circunstâncias e conveniências das interações comunicativas dos

sujeitos.

Identificaram-se quatro RS de corpo ideal, sendo as três primeiras as mais

difundidas pela mídia, conforme a análise do corpus:

1ª) o corpo magro das modelos das passarelas, condenado pelos sujeitos

até por estimular a anorexia nas adolescentes;

2ª) o corpo sarado, malhado, atlético, musculoso e sem gordura, mais

comum nos homens, mas cada vez mais frequente nas mulheres, e normalmente

construído à base de muito treino e de suplementação alimentar e hormonal;

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3ª) o corpo volumoso, visto como o corpo da “gostosona” ─

representação similar também encontrada por Sabino (2007) ─, cujas formas são

exageradamente acentuadas, principalmente os seios, as coxas e as nádegas,

geralmente submetidos à aplicação de botox e a cirurgias para o implante de

próteses de silicone, além de muito exercício e alimentação controlada. Note-se

que os três tipos possuem a idealizada “barriga de tanquinho”, em que a

musculatura abdominal fica aparente;

4ª) o corpo normal, o corpo almejado explicitamente pelos idosos, sem

excessos e funcional.

De fato, afirmam que o tipo de corpo ideal para a terceira idade não deve

ser gordo nem muito magro, mas, sobretudo funcional, com autonomia e

independência. Deve ser adequado ao tipo físico de cada um e que a pessoa se

sinta bem com ele, visando à saúde e não a beleza estética.

“eu acho que seria cada um de acordo com o seu tipo físico, (...) se ele tiver com uma boa mobilidade, acho que isso aí já é um corpo perfeito. (...) Se eu fosse mais nova, talvez eu pensasse mais nisso, hoje, eu não penso na estética corporal não, eu tou pensando mesmo no meu bem-estar” (mulher, 65).

“eu não viso muito a estética, viso o bem-estar, (...) me sentir com disposição, não ligo prá estética não, sinceramente, você se sentir bem, de acordo com o seu corpo, você gostar de você mesmo. Nunca me preocupei com isso não” (mulher, 69).

“eu não quero ter (...) um corpo ideal, um corpo bonito, (...) quero pelo menos ficar normal” (homem, 60).

“eu tenho 72 anos, no fundo (...) todo mundo (...) procura uma estética, ser normal, (...) você não procura ser melhor, você tenta ser a média (...), você não quer ser barrigudo, você não quer ser seco demais, (...) eu quero ser normal” (homem, 72).

A classe 4, CORPO e FASES DA VIDA, reuniu 114 ST, perfazendo

18,63% do total de ST classificados. Como palavras características desta classe,

destacaram-se: mulher (33.57), homem (32.61), cabelo (23.41), idade (22.42),

tendência (21.63), feio (18.64), hoje em dia (18.05), existir (17.63), normal (17.36),

excesso (16.74), aparência (14.96), jovem (14.73).

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Esta classe foi elaborada por sujeitos da região metropolitana deste

município, com nível superior de escolaridade e situados na faixa etária

intermediária, entre 70 e 79 anos. Houve equilíbrio entre homens e mulheres.

Chamando a atenção para o comentário feito anteriormente sobre homens

e mulheres, quando o tema abordado referia-se à beleza corporal, os sujeitos,

sem diferenciação de sexo, predominantemente, falam da beleza do corpo

feminino. Possivelmente não é um comportamento incomum, guardando relação,

por exemplo, com os resultados do estudo de Gonzalez e Seidl (2011) sobre o

envelhecimento na perspectiva de homens idosos e ancora-se em valores

culturais relativos ao universo feminino, mais afeito aos ideais de beleza.

Na perspectiva dos sujeitos, a palavra mulher também apresenta

conteúdos tais como a ideia da aproximação da mulher ao homem em função da

rápida "evolução" que ela teve a partir da segunda metade do século XX, quando

se desenvolveu em todos os aspectos e, com isso, assemelhou-se ao homem.

Passou a usar roupas parecidas com as do homem, a fazer, como ele, os

mesmos exercícios físicos.

“com a evolução, a mulher (...) cresceu bastante, (...) ela aproximou o homem da mulher (...). Não há mais aquela distinção da mulher que ficava em casa, (...) a tendência é se assemelhar cada vez mais com o homem” (homem, 72).

Sobre esse aspecto, critica-se o aumento da massa muscular da mulher, a

construção artificial do seu corpo, seja pelas cirurgias, seja pela musculação

excessiva, seja pela magreza anoréxica, conforme já abordado. Curioso que essa

crítica não é dirigida ao corpo masculino construído artificialmente, dando-se a

impressão de existir um consentimento silencioso, inconsciente ou não, mas

baseado em valores culturais que se manifestam através de RS compartilhadas

por todos. Esses relatos, normalmente, têm um tom de censura, porque as

próprias participantes do estudo também estão submetidas aos mesmos valores

geradores das RS que orientam as suas opiniões e atitudes nas interações

comunicativas.

“do jeito que essa mulherada anda nas academias, deve ser tudo igual do homem, com músculos, querer fazer os exercícios que o homem faz, as atividades que o homem tá fazendo, na profissão, vai ser tudo igual...” (mulher, 69).

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“eu sou a favor da cirurgia plástica prá quem tem defeito e corrigir, (...) prá questão de estética sou totalmente contrário. (...) a maioria vaidade” (homem, 78).

Como estão cientes das fases da vida, observe-se o comentário a seguir

sobre a proliferação de implantes de silicone entre as mulheres:

“um dia (...) a pele (...) vai ser flácida, não existe o milagre prá quando for a idade. (...) aqueles peso todo que ela tem, ela vai ter [que] tirar, porque senão vai pro joelho, pras coxa, e o seio vai prá barriga. (...) tem que pensar no tempo da idade” (mulher, 73).

Em relação à consciência que têm do passar dos anos, sabem que existe

um desgaste natural do organismo, mas, mesmo assim, os conceitos que emitem

sobre si mesmos é frequentemente favorável. Proferem palavras de incentivo à

prática de AF, como de outras atividades também. Dizem não pensar na idade

que têm, mas nas coisas que ainda são capazes de fazer, buscando

naturalmente, com alegria e entusiasmo, adaptações compensatórias às

atividades que fazem, sem deixar de aproveitar o tempo e projetar para o futuro,

tanto a continuidade das práticas atuais, quanto o início de outras.

“Os meus filhos me admiram muito (...) pela capacidade que eu tenho de fazer as coisas que eu faço hoje na minha idade. Eu nunca pensei em idade, eu penso naquilo que eu posso fazer, dentro dos meus limites, então, é muito prazeroso prá mim, meus filhos, pô, pai! 100 anos prá você! (...) Cê tá muito bem!!” (homem, 78).

“eu faço tudo que eu gosto, (...) e futuramente, o ano que vem devo fazer mais coisas ainda, (...) eu pretendo entrar em algum curso aqui, (...), ou espanhol (...), que eu gosto, ou o italiano, ou outros... o que pintar” (mulher, 74).

Quanto à tendência futura de aumentarem as semelhanças entre os sexos,

acreditam que não será apenas na esfera comportamental, mas também na

conformação dos corpos, como foi observado nas conversas e condutas entre os

que frequentam as academias.

“dos corpos, (...) das ações, (...) das roupas, (...) tudo ficou um pouco parecido, em função da (...) mudança, do (...) crescimento” (homem, 72).

“Eu fico imaginando que talvez não haja assim muita diferença entre o corpo feminino e o masculino. Vai ficar uma coisa mais uniforme” (mulher, 65).

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Interessante o aparecimento da ideia de que se vive um processo de

aproximação entre o corpo da mulher e do homem, cujo ápice seria quase que a

unificação dos corpos, remetendo à discussão desenvolvida por Laqueur (1994) a

respeito do modelo da anatomia humana anteriormente ao século XVIII,

fundamentado na crença de que tanto os homens quanto as mulheres

representavam duas formas diferentes do mesmo sexo.

Apesar da idade, há o reconhecimento de que a mulher continua vaidosa,

presunção espontaneamente admitida por poucos homens e entremeada no

discurso, quando talvez já estivessem mais à vontade para falar e mais

suscetíveis às contradições. Aqui, lembre-se que, na abordagem estrutural, a

cognição beleza apareceu como um conteúdo importante na estrutura das RS de

corpo, porém, como elemento do SP, justamente o local onde há espaço para as

contradições individuais.

“Não quero beleza, nada, mas um corpo saudável, assim, um corpo que (...) o seu manequim não ultrapasse os 44” (homem, 78).

Em outro momento, o mesmo sujeito faz a seguinte afirmação:

“Todo homem tem que ser vaidoso. Passa na praça, tem um monte de homem jogando carta, bebendo cerveja, barriga enorme... Não quero isso prá mim não!” (homem, 78).

Nesse ponto, vale abrir parênteses para mostrar o desenvolvimento do

raciocínio de uma informante, observado após a realização do TDN2.

“O idoso tem que pensar em saúde, já o jovem, pensa na vaidade, ficar bonito, ficar gostoso, para a mulher ficar toda certinha, poder botar o biquine. Eu sou vaidosa!”

Também há referências à autoexigência da mulher em função, não só de

ser mais notada que o homem, como também de querer ser mais notada do que

ele, de estar mais bonita, de se cuidar mais do que ele, ainda mais que aumenta,

com a atual multiplicação dos bailes da terceira idade, a possibilidade dos

encontros amorosos. Enfim, parece haver um consenso de que a mulher é

submetida ao próprio olhar e ao da sociedade de forma mais impiedosa, conforme

já referido.

2 Na realização do teste de dupla negação (TDN), não há necessidade de se solicitar aos sujeitos

que informem a idade, desde que estejam dentro dos critérios de inclusão do estudo.

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A observação a ser destacada na comparação entre os discursos de

homens e mulheres, quando o tema é a beleza corporal, é a de que ambos falam

da beleza feminina. Provavelmente porque, na cultura brasileira, conforme

salientado por Edmonds (2007), a beleza feminina é um mito sustentado tanto por

homens quanto por mulheres.

Forma-se a ideia, portanto, de que a mulher objetiva as RS de corpo pela

aceitação e reconhecimento consensual do modelo de beleza que representa

para os sujeitos da amostra. Nesse caso, parece que a imagem da mulher foi

construída de modo independente, ao passo que a do homem foi construída em

oposição à dela, invertendo o mito da criação da mulher. Se conjectura-se que os

homens não discorram sobre o corpo masculino por íntimas e poderosas

convicções axiológicas e psicossociais, pode-se suspeitar que as mulheres talvez

evitem falar sobre eles por estarem submetidas à sua dominação simbólica, cuja

presença pode ser percebida pela fala a seguir:

“sou um cara vaidoso, não vou negar, (...) [mas] jamais faria uma cirurgia plástica, gosto muito de mim, gosto da cara de cachorro velho, não tem problema. Homem muito bonito é veado, fica dividindo espelho com mulher. Eu quero ser bonito, mas quero ser macho, (...) e tratar a mulher como ela tem que ser tratada, como mulher. Porque o homem que trata a mulherzinha demais, de repente ele fica no lugar dela” (homem, 60).

Sobre as aparentes contradições presentes nos discursos, sobressaem

aquelas já referidas à hierarquia da importância dada a questões de saúde e de

beleza, tais como a que segue:

“o que não me satisfazia era não ter um cuidado maior pela saúde. Mas, pela estética, eu não teria tomado nenhuma atitude (...) e pelo pouco tempo que eu já estou na musculação, (...) já noto uma diferença prá melhor. (...) já melhorou alguma coisinha esteticamente, mas, prá mim, a satisfação é de eu estar bem, de eu me sentir bem” (mulher, 65).

Cabe assinalar que, no Brasil, o uso da palavra vaidade tem uma

conotação positiva, em especial entre as mulheres (EDMONDS, 2007), o que

pode ajudar a explicar o embaraço observado nos homens idosos em lidar com

assuntos dessa natureza, haja vista a acepção dessa palavra estar associada à

futilidade, presunção.

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Outras pessoas, absolutamente desviantes do padrão de beleza

estabelecido, mesmo para os mais velhos, num discurso defensivo e protetor da

própria autoestima, menosprezaram esta pesquisa e, com evasivas, rispidez ou

respostas monossilábicas, distanciaram-se de questões, para eles,

aparentemente incômodas. Distanciar-se significa não ter que pensar sobre um

tema que lhes seja desagradável e, sobretudo, não ter que falar sobre ele, o que

lhes poderia causar desconforto.

Como essas questões mais delicadas giram em torno da beleza corporal,

não só do próprio sujeito sobre si, mas de como ele vê o olhar do outro sobre um

terceiro, ou de como concebe a imagem de um corpo perfeito, as falas dos

indivíduos tendem a ser, dizerem que não ligam para a estética corporal, que o

tempo da beleza já passou.

Não significa afirmar que aqueles que responderam dessa forma tenham

dificuldades de aceitar o próprio corpo. O que se pretende expor é que na

hierarquia do que seja mais importante para a vida do corpo, a saúde está na

frente, mas, em se estando com saúde, em alguns momentos pode-se priorizar o

investimento na beleza corporal, através do dispositivo AF, assumindo, assim,

naquele período, a primazia em relação a outros conteúdos das RS de corpo.

Na dinâmica das RS, esses conteúdos podem se alternar, mudar de

posição internamente, as RS estudadas podem incorporar novos elementos,

outros podem abandonar a sua estrutura.

Como todos os sujeitos pesquisados são aparentemente saudáveis, ativos

e relativamente jovens (76% do total abaixo de 80 anos), sentem-se, portanto,

jovens com energia suficiente para dar atenção ao aspecto físico, que nem todos

puderam dar ao longo da vida, e no qual ainda veem utilidade ─ dimensão

funcional das RS ─ para facilitar novos relacionamentos e proporcionar-lhes, com

os efeitos dos exercícios e do convívio com os pares, satisfação pessoal,

felicidade (DEBERT, 2011) e consequente elevação da autoestima e da sensação

de bem-estar subjetivo ─ dimensão afetiva das RS (SANTOS, TURA e ARRUDA,

2013).

Desse modo, a aparente incoerência apresentada, nos fragmentos dos

discursos, entre os elementos de interesse pela saúde e pela beleza, começa a

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se dissipar. Assim como, no dizer de um sujeito que participou do TDN, “corpo é

mente”, um respondente do questionário afirmou que:

“Não há diferença de beleza e saúde. Acho que há mais recursos para manter a forma física e a estética” (homem, 70, qes).

Desse modo, parece haver um pensamento social apontando para a

interpenetração dessas dimensões que, simultaneamente, influenciam-se

reciprocamente.

A classe 5, SAÚDE, CUIDADO e BEM-ESTAR (144 ST - 23,53%) e a

classe 6, VIVER BEM (83 ST - 13,56%) constituem o eixo mais expressivo

estatisticamente, por congregar o maior número de ST classificados,

apresentando um eixo com o contexto semântico vinculado às preocupações com

a saúde, bem-estar e qualidade de vida.

A classe 5 é a maior dentre elas, sendo que as formas salientes

selecionadas foram: saúde (63.77), preocupação (36.63), mente (30.33), satisfeito

(27.55), atividade (25.88), ativo (24.81), importante (24.16), bem-estar (23.01),

cuidado (21.04), estética (20.09), bom (19.07), corporal (18.02), preocupar

(15.18), atenção (14.94), ego (13.09), autoestima (13.09).

Identificaram-se como as principais contribuições à construção desta

classe, mulheres mais velhas, situadas entre 80 e 89 anos, e com o nível mais

baixo de escolaridade, o ensino fundamental.

A preocupação principal é concedida aos cuidados com a saúde (física e

mental), ao envelhecimento ativo e saudável, à prevenção de doenças.

“agora, depois da idade, tem que cuidar, né? (...) hoje (...) a gente vive mais, (...) as pessoas se sentem mais comprometida (...), ligam mais prá própria saúde, antigamente a gente não ligava (...) quando eu comecei a ir a médico (...) foi na época que eu tava prá ter meus filhos, já tinha 30 e poucos anos” (mulher, 82).

“a grande preocupação do idoso é a doença, (...) então ele procura essas atividades prá fugir das enfermidades” (homem, 71).

A estética corporal é levada em consideração pelos sujeitos como uma

consequência natural da vida esportiva que levam, estando associada com a

busca pelo bem-estar. Demonstram preocupação com os jovens, mais voltados à

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construção rápida de um corpo exemplar, nos moldes da “fôrma” estética

circulante, ressaltando ser essa uma construção que deva ser pensada a longo

prazo, e que tal comportamento apressado poderá trazer consequências adversas

à saúde deles, quando estiverem mais velhos, tiverem atingido a idade em que se

encontram os pesquisados.

Admitem alguns que começaram a dar mais atenção à prática de AF

visando à saúde depois de alcançar a maturidade, tendo sido essa inversão de

prioridades uma das conquistas do processo de envelhecimento bem-sucedido

por que passam.

Reproduzem a visão da primazia da mente sobre o corpo, mas

reconhecendo a influência recíproca existente. Demonstram satisfação com o

estado corporal em que se encontram, principalmente quando se comparam

favoravelmente com outras pessoas da mesma idade, remetendo à noção de

contraste descente desenvolvida por Caradec (2011), em que o importante é que

a comparação com o outro seja sempre favorável a quem a faça.

“Minha autoestima está sempre elevada, principalmente quando eu me olho no espelho, principalmente quando eu vejo pessoas da minha idade que estão mais caidinhas. Isso eu fico muito (...) lisonjeada” (mulher, 67).

Procuram as AF e outras atividades mais voltadas à sociabilidade e ao

estímulo das capacidades mentais visando à manutenção da lucidez, da

independência e da autonomia pelo tempo máximo que for possível, pois lhes

incomoda profundamente a ideia de dar trabalho e despesa aos filhos no futuro.

“eu acho que a gente tem (...), até a hora do fim, (...) que procurar prolongar esse fim o mais longe possível e da melhor maneira possível. Então, o corpo é importante, porque o corpo bem, a mente vai atrás” (homem, 65).

Além disso, para eles é uma felicidade e uma satisfação pessoal muito

grande continuar a fazer suas atividades. Esforçam-se para não se deixarem

vencer pela idade, uma vez que acreditam ainda manter um “corpo bom”, sendo

capazes de experimentar uma roupa nova e se sentirem bem, o que lhes eleva a

autoestima, confiança possível de ainda ser cultivada na idade em que estão.

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Por último, é interessante observar que, ao externarem a sua visão sobre a

figura do idoso fisicamente ativo, notou-se a presença de três vieses na base das

definições descritivas e conceituais que fizeram sobre ele.

Há os sujeitos que fundamentam as características do idoso fisicamente

ativo, ancorando suas narrativas em suas memórias desportivas e nas

capacidades psicomotoras de ainda permanecerem praticando esportes por muito

tempo, no sentido abrangente das práticas físicas.

“Então, isso (...) é uma glória, (...) chegar nessa idade e poder participar num jogo de vôlei com a (...) garotada de 35, 40 anos, (...) isso (...) é uma vitória de vida, é um prêmio que eu tô recebendo” (homem, 89).

Outros centram suas explanações apoiados nas capacidades psicossociais

do idoso ativo, necessárias para o convívio social em ambientes, até há pouco

tempo, não frequentados por eles. Seja porque ainda não estivessem

aposentados, seja por razões de ordem familiar, e que são desenvolvidas nos

diversos espaços onde haja o estímulo ao exercício da sociabilidade. Essa

imagem parece ancorar-se na necessidade humana atávica de pertencimento

grupal.

“comecei há 13 anos, estava muito sozinha, eu era vendedora, mas fechou. Os meus amigos foram feitos agora, nesse período. Sou uma pessoa rica” (mulher, 75).

A terceira vertente fundamenta sua conceituação na preservação das

capacidades funcionais do idoso fisicamente ativo. A imagem que lhes sobressai

é a do medo de perderem a autonomia e a independência, de darem trabalho aos

outros, de perderem os movimentos, ficarem acamados, presos a uma cadeira de

rodas. Ao que parece, a ideia de proximidade da morte é a responsável pela

ancoragem dessa imagem prototípica do idoso fisicamente ativo.

“Hoje (...) já vê gente com 90 e poucos anos (...) tendo a memória boa, eu acho que (...) vai até os 150, (...) se a pessoa (...) andar. (...) eu moro num prédio que (...) era todo mundo da mesma idade (...), já morreu alguns e os que estão vivo tão em cadeira de roda, tão muito mal, (...) e quando eu vejo, eu procuro nem olhar, porque aquilo me faz um mal horrível, (...) eu penso (...) o seguinte: eu ficar entrevada numa cadeira de roda, eu vou acabar morrendo, porque (...) eu não me sinto assim, (...) eu gosto de

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andar, de fazer as coisas, eu tenho muita energia e eu tenho que ter energia e alegria prá poder viver com saúde” (mulher, 82).

A classe 6, VIVER BEM (83 ST - 13,56%), apresentou as seguintes

palavras relevantes: exercício (42.57), dor (37.80), vida (31.59), melhor (27.81),

olhar (26.08), amizade (25.66), mudar (13.86), sentir (13.56), academia (12.77),

cabeça (12.75), exercício físico (9.72).

Agrupou ST elaborados, em sua maioria, por indivíduos mais novos (entre

60 e 69 anos), moradores nos bairros da zona norte e com nível universitário. Não

houve prevalência entre os sexos dos sujeitos.

Esta classe tem o seu contexto semântico, e de construção de sentidos,

associado com a qualidade da vida que levam e de como aproveitam a vida após

a aposentadoria ou a independência dos filhos.

Salientam mudanças de hábitos, principalmente os alimentares e os

comportamentais relacionados à prática dos exercícios físicos. Comentam

positivamente sobre as mudanças corporais sofridas, decorrentes da regularidade

com que praticam AF, sendo esse dispositivo considerado uma das obrigações

mais prazerosas da sua rotina, com o qual se sentem comprometidos, muito em

função das amizades construídas nos locais onde se exercitam.

Para alguns, devido ao tipo de vida que levavam anteriormente, esses

ambientes proporcionaram a oportunidade para que fizessem grandes amizades,

mesmo após os 60 anos. Ter amigos é enfaticamente valorizado e aqueles que

dizem ter amigos mais jovens, em função da prática esportiva, jactam-se dessa

situação com indisfarçável satisfação, como observado no processo de

investigação.

Procuram levar uma vida saudável, da qual se orgulham, e consideram os

exercícios, devido aos seus benefícios biopsicossociais, uma das coisas mais

importantes das suas vidas.

“Eu busco (...) a satisfação, busco a saúde, busco (...) o comprometimento, (...) essa coisa passa a ser a mais importante da minha vida. Eu deixo de fazer outras coisas em função do exercício, em função da atividade física” (homem, 72).

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Acreditam que estejam fazendo o melhor que possam para evitar a

decadência física, esforçam-se para não se deixarem relaxar, cujo adjetivo

correspondente, “relaxado”, é compreendido como uma acusação de lassidão

moral. Com forte conotação pejorativa, ninguém gostaria de ser classificado

nessa categoria, mas ela é utilizada e construída em oposição à imagem que

fazem de si, merecedora dos próprios elogios. Como mencionado, o autoconceito

apresentado por idosos em diversas pesquisas é muito mais favorável do que

inicialmente se poderia supor (CARADEC, 2011), conforme pode ser verificado a

seguir, em comentário sobre o corpo ideal na terceira idade:

“posso dar como exemplo o meu corpo? O ideal seria (...) um homem na faixa de 70 quilos, (...) se puder manter a musculatura, porque a idade torna a musculatura decadente, os músculos vão sumindo. Numa atividade física, ele vai mantendo (...), porque a velhice leva o cara à decadência, ele começa a relaxar, o cara tem que ter perseverança, força de vontade, é manter o melhor possível” (homem, 71).

Quando estão praticando continuamente suas AF, sentem-se gratificados

com o próprio corpo, bem consigo mesmos e perante os outros, têm a

necessidade da prática e afirmam que os exercícios aliviam as dores do corpo,

características da idade.

Referem-se à conexão existente entre o corpo e a mente, normalmente

substituída por “cabeça”, como visto na abordagem estrutural das RS, conferindo

importância a seu papel de impulsionar o corpo em direção à AF, muito mais do

que a capacidade dos exercícios de modificarem positivamente um estado

psicológico de desânimo e prostração.

Entretanto, alguns sujeitos demonstraram dominar um conhecimento

oriundo da ciência, num exemplo de apropriação leiga de um saber reificado

(MOSCOVICI, 2012), ao prontamente estabelecerem relação entre a prática de

AF, a produção de endorfina (ou endomorfina) e a consequente melhora do

humor a partir dos exercícios físicos. Por isso, ao exemplificar as formas de

reação das pessoas quando estão prostradas psicologicamente, um participante

desportista de 60 anos tenha se utilizado como exemplo para exclamar:

“Endorfina, sem dúvida! Se o cara tiver mal, [a AF] é uma válvula de escape sim

senhor!”

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Na Figura 7 pode-se observar um esquema onde se procurou reproduzir a

interpenetração dos três eixos identificados na CHD ─ o eixo das AF, o eixo da

beleza, e o eixo da saúde e da qualidade de vida ─, assim como a sua

subordinação ao objeto de pesquisa, o corpo, este inserido no campo mais amplo

da vida, que simboliza a vontade manifestada pelos sujeitos de continuar a

(con)viver com qualidade.

Figura 7 - Esquema das interpenetrações dos três eixos das RS de corpo

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Figura 8 - Dendrograma indicativo das classes das RS de corpo e seus eixos

correspondentes

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Figura 9 - As classes das RS de corpo e suas palavras características

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CONCLUSÃO

O corpo é um objeto de interesse social, conformado pela natureza e pela

cultura, com uma relevante dimensão psicossocial na sua construção; e este

trabalho, fundamentado na teoria das representações sociais, objetivou captar e

compreender como os componentes de uma determinada estrutura cognitiva

interagem com a vida social através das relações do cotidiano. Em sentido

inverso, como os sujeitos se utilizam desses componentes nas suas relações com

os outros, ou ainda, como eles surgem a partir dessas relações. Esse processo

simultaneamente individual e coletivo é produzido e (re)produz pensamentos

sociais, incorpora novos conhecimentos que as pessoas ressignificam e utilizam

para agir individualmente ou em grupo.

Nesta pesquisa, tratam-se dos sentidos atribuídos ao corpo e socialmente

compartilhados por uma amostra de idosos ativos, das camadas médias da

população e praticantes regulares de AF. Prática, essa, que se mostrou atuante

na produção dos sentidos de corpo expressados pelos sujeitos, que procuraram

esse dispositivo a fim de dar vazão aos apelos sociais por saúde e por uma

estética corporal que anuncie, sem precisar de palavras, o gozo da saúde

estampado no corpo.

Na presente investigação sobre as RS de corpo, este objeto inseriu-se no

campo mais amplo dos projetos individuais e coletivos do prolongamento da vida,

a longevidade com qualidade.

Por sua vez, o dispositivo AF surgiu como merecedor do investimento dos

sujeitos para viabilizar tanto a saúde do corpo quanto a beleza física, adequada

às idades. Além disso, demonstrou potencial para proporcionar momentos

prazerosos de sociabilidade, o que tende a aprofundar o seu envolvimento ativo

com a vida e de forma saudável.

As RS de corpo encontradas, além da prioritária preocupação com a

saúde, incluídas as relativas à manutenção das capacidades mentais e

funcionais, também apresentaram indicações da relevância conferida pelos

idosos, inclusive pelos homens, aos aspectos da aparência física, da beleza

corporal.

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Tal achado surpreendeu o pesquisador, mostrando-se diferente do

esperado, levando-se em consideração a cultura masculina brasileira, em que os

atributos de beleza são pensados como pertencentes ao universo feminino. Em

acréscimo, não se pode esquecer que a média de idade dos homens pesquisados

foi de aproximadamente 72 anos, ou seja, em média, a maioria nasceu no início

da década de 1940, na primeira metade do século XX, época em que os valores

da juventude ainda não estavam consagrados.

Em compensação, viveram desde o princípio toda a revolução de costumes

do pós-guerra, o avanço das tecnologias, a consolidação do pensamento

psicanalítico, a conquista de liberdades individuais. Essas transformações podem

ter contribuído para que grande parte não se recusasse a abordar o tema ainda

tabu da beleza corporal, embora nem sempre ficassem à vontade. De todo modo,

os resultados parecem indicar uma tendência no pensamento social do homem

idoso em incluir a temática da aparência física nas suas preocupações com o

corpo, sem que isso se confunda com fatuidade.

Atualmente, os idosos, homens e mulheres, vivem mais, chegam à última

etapa da existência com as suas capacidades cognitivas e funcionais

preservadas, em condições de desenvolver potencialidades inexploradas, com

tempo livre, alguma renda e a esperança de viver com saúde por muitos anos

ainda. Portanto, podem alimentar planos para o futuro, podem aspirar ao início de

uma nova fase da vida.

Em relação aos participantes desta pesquisa, encontrou-se que o corpo

estaria sendo preparado para desempenhar-se não apenas funcionalmente, mas

com expectativas simbólicas em relação ao seu uso social. Em outras palavras,

pela triangulação metodológica adotada, observou-se que os sujeitos dão

importância às dimensões funcionais e também afetivas das RS de corpo que

constroem, cujos diversos relatos a respeito foram citados ao longo do trabalho.

Note-se que essa revelação nem sempre foi obtida de forma direta,

estando nas entrelinhas das falas, nas ambiguidades dos discursos, nas

expressões faciais e corporais, dando a entender que, nessas situações, tratava-

se de manifestações espontâneas, inconscientes.

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Assim, pode-se dizer que os sujeitos nutrem expectativas em relação às

funções simbólicas do corpo, ao seu uso social até mesmo com fins de sedução e

que esta perspectiva está diretamente relacionada ao tempo de vida ativa que

ainda têm pela frente.

Durante a observação, viu-se que os idosos praticam, em sua grande

maioria, atividades físicas moderadas, inclusive os adeptos da musculação. A

intensidade do treinamento a que se submetem não permite supor que almejem

construir um corpo exemplar, nos moldes das imagens difundidas na mídia.

Entretanto, as práticas observadas estão de acordo com as RS

encontradas. Primeiramente, são exercícios de baixa intensidade, mas que visam

ao condicionamento cardiorrespiratório, ao desenvolvimento da força, do

equilíbrio, do ritmo, da coordenação motora, da flexibilidade, isto é, estão

diretamente relacionados à aquisição ou manutenção da saúde e da autonomia,

dois conteúdos fundamentais nessas RS.

Além disso, são proporcionais e adequadas à RS de corpo ideal para o

idoso, almejada pelos pesquisados, a qual nomearam de “corpo normal”, a RS

considerada a mais apropriada a essa faixa etária.

As práticas observadas, principalmente a dança, foram eloquentes em

conteúdos afetivos, demonstrados pelo carinho aos professores, assim como pela

criação de grandes amizades.

Curioso observar que, na abordagem estrutural das RS de corpo, a

cognição amizade só tenha aparecido no SP do subgrupo masculino. Talvez

fosse de se esperar, uma vez que na análise prototípica do dispositivo AF, essa

palavra tenha se constituído num conteúdo presente em toda a amostra.

Por outro lado, o valor da amizade foi enfaticamente ressaltado pelos

sujeitos nas entrevistas realizadas, cujo corpus foi processado pelo IRAMUTEQ.

Os resultados obtidos através da abordagem estrutural revelaram o

elemento saúde como o único a confirmar seus atributos de cognição central das

RS de corpo e do dispositivo AF. Considerou-se, nesses achados, a totalidade

das possibilidades examinadas nos subgrupos feminino e masculino, assim como

na amostra total. No interior das RS de corpo, além dos conteúdos mais

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diretamente associados com os cuidados de saúde ─ cuidado, bem-estar,

alimentação ─, apareceram cognições importantes relacionadas à preservação

das capacidades mentais ─ cabeça, mente ─, das capacidades funcionais ─

pernas, equilíbrio, agilidade ─, dos atributos físicos ─ aparência, beleza, forma

física ─, e, com menos força, da convivência social ─ amizade, alegria.

Esses resultados estão coerentes com os encontrados pela CHD, que, ao

dividir o corpus em seis classes lexicais, possibilitou a que se chegasse, após um

longo e trabalhoso processo de interpretação triangulado, a três eixos de sentidos

de corpo partilhados pelo grupo: o eixo do dispositivo AF, que agrupa as

modalidades referidas pelos sujeitos, assim como as formas a elas associadas; o

eixo dos discursos sobre a beleza e a estética corporal; e o eixo mais significativo

estatisticamente, o dos cuidados com a saúde e qualidade de vida. Esses eixos

se interpenetram para impulsionar o corpo a uma vida longa e com qualidade.

É importante chamar a atenção para o aspecto estatístico porque, sem

querer questionar o seu papel, nem sempre a classe com a maior proporção de

ST será a de maior participação na construção de sentidos do objeto em análise.

Este trabalho se propôs a fazer a triangulação metodológica na produção

dos dados, ao coletar informações através da utilização da observação, de

questionários e de entrevistas. Assim sendo, procurou constantemente analisar os

resultados encontrados em sua totalidade, a partir das classes definidas pelo

IRAMUTEQ, através de incontáveis idas e vindas a todo o material reunido, em

busca da confirmação dos significados interpretados desde as formas inicialmente

classificadas pelo programa. Em seguida, passou-se ao exame contextualizado

das formas, até a seleção das que melhor articulassem o sentido de cada classe,

além de procurar lhes dar um nome que conseguisse abranger a sua

complexidade, tarefa sempre incompleta.

Em resumo, o pesquisador procurou ser o mais fiel possível aos sentidos

das classes, respeitando os seus conteúdos em contexto que, afinal, são os que

lhe dão sentido.

Como no restante do material encontram-se outros conteúdos correlatos e

pertinentes aos classificados pelo IRAMUTEQ, não se poderia deixar de utilizá-

los, sob pena de empobrecimento da triangulação feita durante a análise dos

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dados. Por outro lado, isso ajuda a corroborar a eficácia do programa na

classificação lexicográfica, ao mesmo tempo em que evidencia a similaridade das

RS de corpo expressadas nas diversas oportunidades, o que ratifica o acerto da

decisão de adotar a triangulação metodológica na coleta e na análise dos dados.

Por fim, o interesse maior deste estudo não está voltado para a mera

apuração de uma grande quantidade de dados coletados, mas intenta a detida

observação dos discursos produzidos pelos sujeitos, de forma a poder apontar

uma tendência, um caminho original, para que, aí sim, não se fique preso ao

conhecimento do senso comum, mas à produção do conhecimento científico.

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APÊNDICE I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Instituto de Estudos em Saúde Coletiva CORPO E ATIVIDADE FÍSICA PARA MAIORES DE 60 ANOS: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. 1. Quais são as 4 primeiras palavras que vêm à sua cabeça quando se fala em ________? ____________________________ _____________________________ ____________________________ _____________________________ 2. Destas, quais são as 2 mais importantes para você? _________________________ e _________________________ 3. Por favor, justifique porque você escolheu essas duas palavras. ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 4. Quais são as 4 primeiras palavras que vêm à sua cabeça quando se fala em ________? ____________________________ _____________________________ ____________________________ _____________________________ 5. Destas, quais são as 2 mais importantes para você? _________________________ e _________________________ 6. Por favor, justifique porque você escolheu essas duas palavras. ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 7. Envelhecer bem é _______________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 8. Em sua opinião, o que significa estar em forma? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 9. Você se considera em forma? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 10. De um modo geral, qual a opinião dos seus amigos e amigas sobre alguém com mais de 60 anos que tenha um corpo em forma? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 11. Marque sua resposta com um X no quadro a seguir.

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Pensando nas pessoas praticantes de atividade física com 60 anos ou mais, você acredita que elas sejam:

Nenhum pouco Pouco Bastante Totalmente

Dependentes

Produtivas

Saudáveis

Mal-humoradas

Competentes

Sexualmente ativas

Conservadoras

Atuantes

Discriminadas socialmente

Tímidas

Valorizadas

Frágeis

Fisicamente atraentes

12. Para você, como seria um corpo ideal? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 13. Que pessoa pública com mais de 60 anos tem um corpo que lhe pareça o mais próximo do ideal? Mulher:__________________________________________________________ Homem:_________________________________________________________ Porque você pensa assim? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 14. Você se sente influenciado(a) pelas imagens dos corpos de pessoas famosas? ( ) Sim ( ) Não Por que? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 15. De um modo geral, que diferenças você destacaria entre o corpo ideal de hoje em dia e o de 40, 50 anos atrás? Qual deles você prefere? Por que? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________

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16. Que elementos de beleza e de saúde você destacaria nos corpos de hoje em dia e nos de antigamente (40, 50 anos atrás)? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 17. O que levou você a fazer atividade física e quando começou? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 18. Com que frequência e quais as atividades físicas que pratica regularmente? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 19. O que mais o(a) motiva a continuar praticando essas atividades? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 20. Das atividades físicas que você pratica ou já praticou, qual delas lhe trouxe os melhores resultados? Por que? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 21. Qual ou quais dos motivos abaixo foram mais importantes para a escolha da(s) atividade(s) física(s) que você pratica? (mais de uma opção pode ser marcada). ( ) Notícias de jornais e revistas ( ) Ver o resultado alcançado por outras

pessoas ( ) A orientação de um profissional de

educação física ou fisioterapeuta ( ) A minha própria experiência

( ) Matérias ou programas de rádio ou televisão

( ) A opinião de amigos e familiares

( ) O aconselhamento médico ( ) Leituras técnicas sobre o tema Se quiser, pode acrescentar outros motivos: _____________________________________ ________________________________________________________________________ Sobre você: Idade: ____ Sexo: ____ Estado civil: _________________________________________ Profissão? _______________________________________ Ocupação atual? __________________________________ Aposentado? ( ) Sim ( ) Não Escolaridade: _________________________________________________________________ Eu me considero de cor: ____________________________ Bairro de moradia? __________ Se você quiser fazer mais algum comentário, por favor, use o verso desta página.

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APÊNDICE II CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Doutorado em Saúde Coletiva - 2012

Temos a satisfação de convidá-lo(a) a participar da pesquisa que estamos fazendo. Trata-se de um estudo que visa contribuir para a melhor compreensão do pensamento dos maiores de 60 anos sobre atividade física, saúde, cuidados com o corpo. Para isso, estamos aplicando um questionário e entrevistando pessoas que já atingiram essa faixa etária e que sejam praticantes regulares de atividade física. Você não é obrigado(a) a responder, se não quiser, mas para nós seria muito importante contar com a sua opinião a respeito desses temas. Os resultados encontrados e as conclusões do estudo poderão ser publicados ou divulgados em eventos científicos. Nós lhe asseguramos que tudo o que for dito será utilizado somente como material de pesquisa e a sua identidade será mantida em sigilo. Por último, esclarecemos que a decisão de participar, ou não, caberá somente a você, que terá total liberdade para deixar de participar a qualquer momento. Em caso de dúvidas, entre em contato conosco através do e-mail, dos telefones ou do endereço abaixo.

Muito obrigado por sua colaboração,

Pesquisador: Doutorando Júlio Afonso Jacques Gambôa. Orientadores: Prof. Dr. Luiz Fernando Rangel Tura e Profª. Dra. Ivani Bursztyn. E-mail: [email protected] Tel: 21 25989282. UFRJ - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. Tele/fax: 21 22700097 e 21 25989274. Av. Brigadeiro Trompowski s/nº, Praça da Prefeitura – Ilha do Fundão, RJ. Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável, comunique o fato à Comissão de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva pelo telefone 21 2598 92 93 ou pelo e-mail [email protected]

Estou de acordo com os termos apresentados no CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.

Rio de Janeiro, ______ de __________ de 201__.

NOME:____________________________________________________________

ASSINATURA:_______________________________________________________

ASSINATURA DO PESQUISADOR:_______________________________________

Data de elaboração do TCLE: 27 de julho de 2012. Revisado no dia 11 de outubro de 2012.

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APÊNDICE III

ROTEIRO PARA ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

Identificação (condições de produção das RS: quem fala, de onde fala).

Data: local: nome/sexo: idade: escolaridade: bairro de moradia: raça/cor: situação

conjugal: aposentado(a)?: profissão: continua trabalhando?: na mesma profissão?:

1 - Fale sobre as AF que você faz, os cuidados que mantém com o corpo e a importância

desse comportamento.

2 - Hoje, esses cuidados têm um papel mais importante do que tinham antes?

3 - O que você acha que as pessoas associam com a imagem do corpo?

4 - Você considera importante a estética corporal?

5 - Para você, como é um corpo bonito?

6 - Gostaria de modificar alguma parte do seu corpo (acrescentar, diminuir)?

7 - O que você faz, toma alguma iniciativa, se você se olha no espelho e não fica satisfeito

com o seu corpo?

8 - Você deixaria de ir a algum lugar, a alguma atividade social, dependendo de como

estivesse o seu corpo?

9 - Na sua opinião, como a mídia retrata o corpo perfeito?

10 - Você acredita que a mídia reforce algum tipo de preconceito contra o corpo

envelhecido?

11 - Como você imagina o padrão de beleza corporal no futuro?

12 - Para você, como é ser (ou como você descreveria) uma pessoa ativa fisicamente na

terceira idade?

13 - Para você, existe um tipo de corpo ideal para a 3ª idade?

14 - Na sua opinião, existe algum tipo de cobrança para que você mantenha uma

aparência jovem?

15 - Você acha que o seu corpo interfere na sua maneira de pensar e agir? (ou como a sua

cabeça interfere no seu corpo e vice-versa?)

16 - Houve algum tema que não tenha sido abordado e que você gostaria de falar?

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APÊNDICE IV

CURRÍCULO LATTES (formato resumido)

Luiz Fernando Rangel Tura (orientador) <http://lattes.cnpq.br/9928401128863971>

Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina (1968), mestrado em Educação pela

Fundação Getúlio Vargas (1980) e doutorado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro (1997). Atualmente é pesquisador associado da Universidade de Évora e professor

associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Saúde Coletiva,

com ênfase em Saúde Pública, atuando principalmente nos seguintes temas: prevenção,

representações sociais, aids, representações sociais, envelhecimento e práticas em saúde.

Ivani Bursztyn (orientadora) <http://lattes.cnpq.br/1943907256479341>

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978), mestrado em

Msc Gestão Em Saúde pela Universidade de Heidelberg (1991), doutorado em Medicina pela

Universidade de Heidelberg (1997) e doutorado em Saúde Coletiva pela Fundação Oswaldo Cruz

(2004). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e preside a

Rede de Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde no Cone Sul e pesquisa da Organização

Panamericana de Saúde. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde

Pública, atuando principalmente nos seguintes temas: investigação em Sistemas e Serviços de

Saúde, humanização do cuidado, saúde do adolescente, representações sociais.

Júlio Afonso Jacques Gambôa (doutorando) <http://lattes.cnpq.br/0994138437179669>

Possui graduação em Educação Física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-1979)

e mestrado em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ-2009).

Atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do mesmo instituto.

É professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro e atua principalmente nos seguintes temas:

corpo, estudantes, educação física, envelhecimento e representações sociais.

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APÊNDICE V

DECLARAÇÕES

Os pesquisadores declaram para os devidos fins que os resultados da pesquisa serão

tornados públicos, sejam eles favoráveis ou não.

Os pesquisadores asseguram que os dados da investigação serão usados exclusivamente

para fins da pesquisa e que todo o material reunido ─ incluindo os questionários

preenchidos ou outras formas de coleta como as gravações de áudio, vídeo e suas

respectivas transcrições ─ ficará guardado sob a sua inteira responsabilidade.

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APÊNDICE VI

TERMO DE COMPROMISSO

O pesquisador responsável, Prof. Dr. Luiz Fernando Rangel Tura, assume o compromisso

de cumprir os termos da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, assim como

todo o teor do protocolo de pesquisa.


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