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Versão Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RSRua dos Andradas, 1270/133 - CEP 90.020-008Ano 24 - Nº 151 - Março de 2016 - Porto Alegre

dos Jornalistaswww.jornalistas-rs.org.br

Jornalistas poderão estudar em Cuba através de parceria

SINDICATO

Páginas 6 e 7 Página 8

PERFIL

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Do jornal lido no chão à chefia de reportagem, a trajetória de Jurema Josefa Atos em Porto Alegre

marcam o mês de março

Página 3

Intolerância e desrespeito à democracia

Páginas 2, 4 e 5

Porto Alegre registra pelo menos quatro casos de agressão física e verbal a jornalistas durante a passagem do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) pelo Estado. Situação compromete a função do Jornalismo de informar a sociedade

Lauro aLves/agência rBs

roBinson estrásuLas

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Março de 20162

Versão dos Jornalistas é uma publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS). Rua dos Andradas, 1270/133 – Centro Histórico – Porto Alegre, RS – CEP 90020-008Fones: (51) 3226-0664 - www.jornalistas-rs.org - [email protected]

Edição: Jorge CorreaEdição executiva e reportagem: Bruna Fernanda SuptitzEdição de Fotografia: Elson Sempé PedrosoDiagramação: Luís Gustavo Schuwartsman Van OndheusdenImpressão: Gráfica PioneiroTiragem: 3 mil exemplares

Diretoria ExecutivaPresidente - Milton Simas1º Vice Presidente - Luiz Armando Vaz2ª Vice Presidenta - Vera Daisy Barcellos1º Secretário – Ludwig Larré2ª Secretária – Márcia de Lima Carvalho1º Tesoureiro – Robinson Luiz Estrásulas2º Tesoureiro - Renato BohuschSuplentes - José Maria Rodrigues Nunes e Luiz Salvador Machado Tadeo

Diretoria GeralCelso Antonio Sgorla, Fernando Marinho Tolio, Carlos Alberto Machado Goulart, Cláudio Fachel Dias, Elson Sempé Pedroso, Mauro Roberto Lopes Saraiva Junior, Léo Flores Vieira Nuñez, Alan da Silva Bastos, Jeanice Dias Ramos, Jorge Luiz Correa da Silva, Márcia Fernanda Peçanha Martins, Ana Rita Marini, Clarissa Leite Colares, Neusa Nunes, Pedro Luiz da Silveira Osório

Conselho FiscalCelso Augusto Schröder, José Carlos de Oliveira Torves, Antonio Eurico Ziglioli Barcellos, Adroaldo Bauer Spindola Correa, Cláudio Garcia Machado

Comissão de ÉticaAntônio Silveira Goulart, Antônio Carlos Hohlfeldt, Carlos Henrique Esquivei Bastos, Cristiane Finger Costa, Flávio Antônio Camargo Porcello, José Antônio Dios Vieira da Cunha, Celestino Meneghini, Edelberto Behs, Sandra de Fátima Batista de Deus, Marcos Emilio Santuário, Moisés dos Santos Mendes

Versãodos Jornalistas

Filiado:

EDITORIAL

Este ano começou com um episódio lamentável à categoria dos jornalistas. Agentes da democracia, profissionais de imprensa tiveram o direito de exer-cer o seu trabalho impedido pela intolerância de pessoas que querem fazer prevalecer seu ponto de vista, em detrimento da informação.

A passagem do deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) pelo Rio Grande do Sul representa um ca-pítulo triste da nossa memória. No dia 26 de janei-ro de 2016, jornalistas foram agredidos, ameaça-dos e intimidados a não cumprir a premissa básica da comunicação: dar voz a todos os envolvidos em um acontecimento.

A falta de compreensão, por parte de algumas pessoas, de que o acesso à informação é um direi-to, leva a situações que preocupam a nossa entidade de classe, a categoria e a sociedade. Tentar fazer do jornalista um servil é característica dos regimes de exceção, avessos à democracia, à multiplicidade e à pluralidade.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS), mantendo o seu com-promisso de agir pelos interesses da categoria, busca através de diferentes iniciativas atenuar as consequ-ências de atos como o relatado nas páginas centrais desta publicação.

Uma dessas ações busca incluir na pauta de rei-vindicações dos jornalistas gaúchos uma cláusula que pede comprometimento das empresas para que forneçam equipamentos de segurança e proteção para trabalhos externos.

A negociação deste item não tem avançado devi-do às negativas por parte da patronal. Mesmo assim, o tema segue sendo reivindicado pelo Sindicato dos Jornalistas, que entende necessária esta garantia no acordo da categoria.

Outra medida será a realização de um novo trei-namento para profissionais da imprensa que atuam em situações de conflito. O treinamento, que aten-derá os mesmos moldes do praticada em 2014, atra-vés de parceria com o Batalhão de Operações Espe-ciais da Brigada Militar, será estendido ao interior do Estado. O objetivo desta iniciativa é capacitar jornalistas para que saibam como agir com seguran-ça em eventos de risco.

Para episódios como o registrado na Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul, a melhor preven-ção é conscientizar a população de que o jornalista é agente do interesse público na busca por atender com fidedignidade a informação dos fatos.

O SINDJORS reitera a manifestação prestada em nota, divulgada na sequência do episódio de agres-são sofrido pelos colegas no mês de janeiro: não admite que os profissionais que atuam para melhor esclarecer a população se tornem alvo de qualquer

grau de violência ou do cerceamento ao seu trabalhoA liberdade de imprensa e a liberdade de expres-

são são pilares da democracia e o papel dos jornalis-tas é fundamental para a garantia do Estado Demo-crático de Direito.

Milton SimasPresidente do SINDJORS

Repúdio à violência e luta por segurança da categoria

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SINDICATO

Cartilha traz dados sobre acordo coletivo

O Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Rio Grande do Sul produziu uma cartilha com o Acordo Coletivo de Trabalho 2015-2016 da categoria. A publicação traz ainda informações sobre convênios com estabelecimentos comerciais e prestadores de serviço, que concedem desconto a jornalistas sindicalizados, e código de ética da

categoria. O material está sendo dis-tribuído nas redações, assessorias de imprensa, órgãos públicos e delegacias regionais. Com isso, a entidade quer que os profissionais possam se apro-priar do conteúdo, a partir de infor-mações pertinentes sobre seus direitos trabalhistas. Quem desejar pode bus-car seu exemplar na sede do Sindicato.

Parceria de qualificação com Cuba

Faculdades iniciam o ano com nova grade curricular

Fenaj completa 70 anos em 2016

O Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Rio Grande do Sul (SIND-JORS) e o Instituto Internacional de Periodismo José Marti, da Unión de Pe-riodistas e Escritores de Cuba (Upec), planejam parceria que beneficiará jor-nalistas gaúchos sindicalizados.

Com o acordo, os profissionais do nosso Estado poderão participar dos cursos ministrados pelo Instituto com condições especiais. A parceria tam-bém prevê a vinda de cubanos para o

Rio Grande do Sul, onde ministrarão cursos e palestras.

“Estamos buscando essa parceria desde 2010, quando o SINDJORS par-ticipou de um colóquio de comunicação na ilha promovido pela Fundação. Além da qualificação dos jornalistas, o convê-nio vai promover um ‘intercâmbio de conhecimento e de culturas’ entre gaú-chos e cubanos“, explica o presidente do SINDJORS, Milton Simas. A confirma-ção deve ocorrer nos próximos dias.

Vania Barbosa com a primeira vice-presidenta da Upec, Aixa Hevia

Passa a vigorar neste ano a obriga-toriedade das novas Diretrizes Curri-culares do Jornalismo. O documento foi elaborado por uma comissão no-meada em 2009 que debateu o pro-jeto durante quase cinco anos até sua homologação, em setembro de 2013. O Conselho Nacional de Educação (CNE) concedeu prazo de dois anos para adequação, que terminou em 1º de outubro de 2015.

A mudança conta com orientação para o equilíbrio entre disciplinas te-óricas e práticas, a saída do jornalis-

mo do campo da comunicação social, tornando-o autônomo, o aumento da carga horária para o mínimo de 3.200 horas, sendo 200 para o está-gio obrigatório e supervisionado, e a regulamentação do Trabalho de Con-clusão de Curso (TCC) individual.

Também passa a ser obrigatório in-cluir na formação rotinas de trabalho do jornalista em assessoria de impren-sa e estímulo ao empreendedorismo, a partir da observação de necessidade de preparar profissionais para exercer a atividade como autônomos.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) lançou, em janeiro, um novo selo de identificação para marcar o início das comemorações dos 70 anos da en-tidade. Fundada em 20 de setembro de 1946, a Federação realizará, ao longo de 2016, uma série de atividades comemo-rativas às sete décadas de lutas em defesa do Jornalismo e seus profissionais.

Hoje, a entidade conta com 27 sindi-catos de jornalistas de abrangência esta-dual e 4 com abrangência municipal ou regional. A iniciativa resultou, também, na qualificação da formação profissional, com a criação dos cursos de Jornalismo no país, no aperfeiçoamento da regula-mentação da profissão e no fim da dita-dura civil-militar. Também atua na am-pliação das liberdades democráticas e na inserção de dispositivos na Constituição do país que favorecem a democratização da comunicação.

A essas pautas somam-se demandas atuais como a luta pela aprovação da PEC do Diploma, o combate à violên-

O episódio envolvendo uma aborda-gem policial não justificada do pales-trante Paulo Sérgio Medeiros Barbosa no Fórum Social Mundial Temático em Porto Alegre, no dia 21 de janeiro, mobi-lizou organizações para a realização de um ato que alerte para o tratamento das autoridades de segurança pública com a população negra. A atividade será reali-zada em 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial.

Entenda o casoSob a alegação de que o professor

pernambucano apresentava “atitude suspeita”, a Brigada Militar o abordou no Parque da Redenção, impedindo sua passagem em direção ao Auditório Araújo Viana, onde ministraria pales-tra. Um grupo de ativistas pediu a li-

beração de Barbosa, o que gerou con-fusão. Uma equipe de reportagem da TVE gravou imagens e sonoras com os envolvidos, tanto ativistas quanto po-liciais. Contudo, a matéria gerada não foi ao ar.

Diante de tal situação, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e outras entidades apre-sentaram moção de repúdio ao episó-dio. Também foi protocolado, no dia 29 de janeiro, um pedido de audiência pública com o governador do Estado e com os titulares das secretarias de Co-municação, Direitos Humanos e Justi-ça e Segurança Pública, para tratar do procedimento adotado pela Brigada Militar e sobre a censura pela não vei-culação do conteúdo produzido. A enti-dade ainda não teve retorno.

Entidades se unem contra desrespeito ao povo negro

cia contra jornalistas e à precarização das relações de trabalho, e a luta per-manente pela valorização da profissão, entre outras. Durante o ano de 2016 es-sas lutas serão destacadas em eventos, debates e mobilizações que terão o selo dos 70 anos da FENAJ como elemento visual unificador dessa trajetória que marca a entidade e dignifica o exercício da profissão de jornalista.

Foto: YoandrY aviLa guerra

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VIOLÊNCIA

Jornalismo comprometido pela

No dia 21 de janeiro deste ano, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) lançou o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil - 2015, que registrou 137 ocorrências, oito a mais que no ano anterior. Menos de uma semana depois da divulgação dos dados, no dia 26, Porto Alegre presenciou ataques a profissionais da imprensa que realizavam a cobertura da passagem do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) pelo Estado. Jornalistas de diferentes veículos foram agredidos verbal e fisicamente, ameaçados, coagidos e caluniados durante o exercício do seu trabalho. Manifestando contrariedade aos episódios de violência física e a qualquer discurso de ódio, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS) presta solidariedade aos colegas.

O primeiro episódio foi registrado no início da tarde do dia 26. Enquan-to Bolsonaro concedia entrevista ao programa Esfera Pública, no estúdio cristal da Rádio Guaíba, apoiadores do parlamentar e grupos contrários se posicionaram na esquina das ruas Andradas e Caldas Júnior. O repórter EDUARDO PAGANELLA foi desig-nado para acompanhar a movimen-tação e fazer entradas ao vivo.

"Fiquei de frente para o Estúdio e percebi que à minha esquerda esta-vam os manifestantes contrários ao deputado e à direita os favoráveis. Quando fiz a entrada ao vivo comecei a falar citando o grupo da esquerda e, quando ia falar da direita, fui xinga-do por pelo menos três pessoas. Uma delas me empurrou e outra agrediu o braço que estava com o microfone. Consegui desligar o microfone e ou-

tras pessoas vieram acudir. Cerca de dois minutos depois voltei ao ar."

Para Paganella, o intuito da sua participação era relatar o que estava acontecendo, e as reações do grupo tinham relação com isso. Ele conta que já havia vivenciado uma situação de conflito antes, mas este é o primei-ro episódio em que se sente vítima, por ter sido desrespeitado no princí-pio básico do jornalista de reportar.

"Sabia que o clima estava muito tenso, as pessoas a todo momento discutiam sobre política. Mas não imaginava que chegaria a tal ponto de não poder terminar uma frase. Não me deixaram cumprir o ciclo de-mocrático da palavra. Confesso que não se consegue manter o mesmo nível e a mesma tranquilidade, se co-meça a medir um pouco mais o que vai falar naquele momento."

"Não me deixaram cumprir o ciclo democrático da palavra"

A situação de conflito que presen-ciou na Assembleia Legislativa não foi a primeira experiência de agressão vivida por LUCIANE KOHLMANN. Hoje repórter e apresentadora do SBT, ela trabalhava na RBS em 2013, época em que eclodiram os protestos contra o aumento da passagem de ônibus em Porto Alegre. Durante a cobertura de uma passeata, o cinegrafista que a acompanhava foi atingido pelas cos-tas, e Luciane foi cercada e coagida por um grupo de manifestantes.

"O mais absurdo é que, naquela época, fui agredida por movimentos de esquerda por supostamente represen-tar o outro lado. No evento do Bolso-naro foi o contrário, a extrema direita me acusou de estar cobrindo o lado dos manifestantes. Quando cheguei o pes-soal do movimento estava na frente, fiz algumas sonoras, entrei no auditó-rio e entrevistei quem estava lá para a palestra. Quando o Bolsonaro chegou peguei uma fala dele. Como eu sabia que ia ter o beijaço, fiquei no palco

um tempo e subi para ver o momento que o pessoal do movimento ia entrar, pois como jornalista preciso de todas as imagens. Quando os manifestantes encerraram o ato e começaram a sair, chamei uma ativista para entrevistar, então um homem colocou o dedo na minha cara, falando mal da imprensa e de mim. Nesse momento todos os fotógrafos e cinegrafistas se posicio-naram na minha direção. Fiquei mais tranquila, imaginei que ele não come-teria agressão em frente às câmeras. O cinegrafista (Ernesto Eilert) colocou a câmera em mim e disse que ficaria me cuidando, que essa seria a defesa do que fiz. Tudo que falei estava registra-do, fiquei repetindo incessantemente 'Só estou trabalhando, tenho que mos-trar os dois lados', mas não adiantava."

A jornalista conta ter comentado com os colegas sobre a dificuldade do trabalho e a tensão vivida. "Somos odiados principalmente pelos extre-mistas. Os radicais perdem um pouco a noção do que é certo e errado."

“Mais que a questão física, as agressões verbais foram fortes”

“Tive que interromper meu trabalho”

"Os radicais perdem um pouco a noção do que é certo e errado"

O repórter MARCUS PENA, da Record, conta que antes mesmo dos manifestantes contrários ao deputa-do Bolsonaro chegarem, o público já estava atacando verbalmente a pre-sença da imprensa.

“Diziam que estávamos ali para passar uma imagem ruim dele, que não sabiam como estudamos tan-to tempo para fazer aquilo e que não teríamos moral para falar mal

do deputado, diziam que a gente não fala a verdade. Quando vi que a repórter do SBT estava sozinha e sendo cercada, fomos ao encontro dela. Eles estavam muito exaltados. Teve o episódio em que um homem apoiador do Bolsonaro ia atingir um manifestante, ele deu uma voa-dora que me pegou de raspão. Mas, mais que a questão física, as agres-sões verbais foram fortes.”

Realizando a cobertura do even-to pelo jornal Zero Hora, o repórter e colunista PAULO GERMANO não testemunhou a agressão aos colegas. Embora tenha percebido o clima de tensão entre os militantes dos dois lados, não estava próximo ao lugar. Ainda assim, não escapou de ser alvo de violência verbal, praticada pelo próprio deputado Jair Bolsonaro.

“Depois que terminou o even-to, subi ao palco e algumas pessoas também subiram para tirar fotos e cumprimentar o Bolsonaro. Enquan-to isso acontecia, eu era o único re-pórter lá, acompanhado do fotógra-fo (Lauro Alves), fazendo perguntas

sobre temas polêmicos, contestando as respostas dele, tudo com respeito, dentro da democracia. Em um certo momento o deputado perguntou se eu era da Zero Hora e começou a in-suflar aquela pequena massa dizendo ‘ele é do jornal em que escreveram sobre mim...’ Logo entendi que esta-va fazendo referência a uma reporta-gem polêmica que ele concedeu a um colega. Nisso algumas pessoas come-çaram a gritar, fazer acusações, me diziam para sair dali. Fui me sentin-do intimidado e, como não sou bobo, saí fora, vi que aquele ambiente não estava propício ao meu trabalho. Tive que interromper meu trabalho.”

INTOLERÂNCIABruna Fernanda Suptitz

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"A política serve para evitar o conflito físico. Quando se resolve na porrada é o fim da política"

Estudante agredido sente segurança com a presença de jornalistas

Tiago Rodrigues é mestrando em Fi-losofia na PUCRS e aparece na imagem caído no chão do Teatro Dante Barone, sendo chutado por outro homem. A agressão é interrompida quando o jor-nalista Marcus Meneghetti intervém, sendo agredido na sequência.

O estudante diz que costuma parti-cipar dos movimentos de luta e consi-dera a presença da imprensa como um apoio. "A gente se sente mais seguro, porque sabe que a polícia, por exem-plo, não faz certas coisas na frente da imprensa", comenta.

MARCUS MENEGHETTI realizava a cobertura do evento com Jair Bol-sonaro no auditório do Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do Estado, para o Jornal do Comércio. Identificado com crachá de imprensa e bloco de anotações em mãos, não ima-ginou que seria alvo de agressão quan-do uma briga iniciou na sua frente.

"O auditório estava praticamente lotado com apoiadores do Bolsonaro quando chegou o pessoal do movi-mento contrário. Eles planejavam fa-zer um beijaço e se colocaram no es-paço vazio, que estava sendo ocupado pelos jornalistas. Lá pelas tantas uma parte considerável da plateia começou a hostilizar o pessoal do movimento, inclusive a imprensa. Eles cobraram a imprensa que focasse no evento e não no beijaço. Diziam ‘mídia vendi-da’ mas sem especificar para quem di-rigiam o xingamento. Só pararam de pressionar os jornalistas quando a re-pórter do SBT abriu o microfone. Pa-ralelamente a isso iniciou uma briga. Um militante foi derrubado na minha

frente e um senhor começou a chutar. Pedi para parar e ele se afastou, mas concentrou as forças em mim. Eu es-tava com o bloco de anotações na mão, fiquei parado porque não achei que ele iria fazer alguma coisa. Foi quando ele me deu um soco no rosto."

Marcus destaca que não foi um con-flito generalizado, pois a maior parte das pessoas na plateia não se envol-veu na briga. Passado esse momento, os manifestantes deixaram o teatro e o agressor voltou para a plateia. Cha-mou sua atenção que os apoiadores do deputado já vinham hostilizando a im-prensa quando o movimento entrou, o que não permite dizer que teriam confundido os jornalistas com mani-festantes.

"Acredito que agi certo separando a briga. Não me lembro quando foi a úl-tima campanha que usou agressão fí-sica na rua. A política serve para evitar o conflito físico, resolver a partir da democracia. O termo parlamento vem disso. Quando se resolve na porrada é o fim da política."

“O principal mecanismo de proteção que a gente tem é o olhar do colega”

O repórter de política do jornal Correio do Povo LUIZ SÉRGIO DIBE foi um dos jornalistas alvo de agres-são. Ele observa com preocupação que o ataque à imprensa possa ter sido intencional. Ele avalia que a vio-lência, quando praticada por razão profissional, se torna mais grave, pois atinge não só uma pessoa, mas toda a categoria e o trabalho que ela repre-senta para a sociedade.

“No momento da confusão os jor-nalistas estavam no meio e alguns acabaram sendo alvo de agressão também. Inicialmente pensei que pudesse ter sido casual, por es-tar próximo e ser confundido com o agente político do outro campo. Mas depois passei a ficar um pouco mais preocupado de que, no meio da confusão, alguém se sentisse um pouco mais aviltado pela postura de jornalistas ou de veículos, e que os

profissionais pudessem ter sido alvo da agressão por má intenção. Isso é uma coisa que a gente precisa co-meçar a dar atenção, informar, dizer que não concorda. A sociedade pre-cisa responder também se ela quer que os jornalistas tenham liberdade, independência, respeito, autonomia, segurança ao trabalhar.”

E conclui com um desabafo: “Atu-almente, o principal mecanismo de proteção que a gente tem é o olhar do colega que está do lado, é a câmera do fotógrafo, do cinegrafista, que vai filmar aquilo que está acontecendo e funcionar como um meio de prote-ção do que realmente aconteceu. Na ausência de mecanismos mais sofis-ticados, o que temos a nosso favor é o próprio jornalismo. Acabamos nos identificando porque estamos na mesma situação, isso supera a com-petitividade natural do trabalho”.

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Abaixo, sequência de imagens mostra agressão ao jornalista Marcus Meneghetti

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PERFIL

A jovem que contrariou o pai para se tornar jornalista

Quando pequena, com sete anos, a garotinha Jurema Josefa da Silva se atirava ao chão e percorria as páginas da Folha da Tarde (jornal da Companhia Jornalística Caldas Junior), comprada pelos irmãos mais velhos. Quando podia, ouvia com atenção os noticiosos numa “caixinha de abelha”, nome que dá ao rádio que sintonizava a Guaíba, a Farroupilha e a Tupi. Isso no sítio da família no interior de Lajes (SC), onde nasceu em 21 de maio de 1948. Não é, portanto, surpresa que a jovem chegada em Porto Alegre com apenas 19 anos, em janeiro de 1968, para trabalhar como empregada doméstica tenha enveredado para o Jornalismo.

Não foi fácil trilhar o cami-nho até a faculdade. De família humilde e mais nova de oito irmãos, é a

única que tem curso superior. Che-gou em Porto Alegre com a família Costa (Maria Lúcia Costa, o marido Paulo Duarte, três irmãos dela e um bebê do casal), também de Lages, que decidiu fixar residência na capi-

tal gaúcha. Foi empregada domésti-ca da família, que a incentivou a fa-zer Jornalismo. Era o ano em que a efervescência política atingiu o seu ápice. ”Os conflitos entre policiais e estudantes eram constantes. Aquilo me revoltava. Aos poucos, percebi que queria mesmo era ser jornalista”, conta, com entusiasmo.

No entanto, ela enfrentou uma bar-

reira: o pai Valdomiro Timóteo da Sil-va entendia que o Jornalismo “não era coisa de mulher decente, era uma ativi-dade de prostitutas”. Ela bateu pé, saiu de casa e fez vestibular na Famecos/PUCRS, onde ingressou em 1972, arru-mou um trabalho como vendedora de livros na Editora Globo e foi morar com a amiga Maria Inês Bittencourt, que lhe acolheu em um momento difícil.

Jurema conta que tinha pouco di-nheiro para se alimentar e optou por comer um cachorro-quente por dia. Na verdade, bem tarde. “Não pode-mos dormir com fome. Por isso, eu deixava para comer sempre à noite”, aconselha. Mas também se emociona quando lembra que, no primeiro ano, viveu de negociação de prazos para pa-gamentos das mensalidades na PUC.

Em novembro de 1972, começou a tão sonhada car-reira no extinto Diário de Notícias, ao lado de um time de respeito na linha de frente: Celito De Grandi era dire-tor de redação, Luiz Pilla Vares editor-chefe e Luiz Car-los Vaz secretário. Como cobria os acontecimentos da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, conseguiu uma bolsa de estudos de um político.

Em 1974, foi convida-da para trabalhar na Folha da Tarde, a mesma que lia quando garota em Lajes. Na redação da Folha, passou por diversas editorias e confessa que ali aprendeu a escrever. “Nem datilografar eu sabia direito”, admite, creditando à Helena Renaux, editora as-sistente, a tarefa de ensiná--la a redigir. “Ela lia os meus textos e pedia para eu rees-crever, me dava dicas, apren-di mesmo a fazer reporta-gem com ela”, reconhece. A grande oportunidade surgiu quando trabalhou na editoria de transportes, setor muito valorizado pelo governo mili-

tar. Foi um período em que Mário Andreazza, ministro nos governos Costa a Silva e Médici, percorria o Estado inaugurando estradas. “Cobri o anúncio da duplicação da BR-116 até Novo Hamburgo, a abertura da BR-290 e a inauguração da freeway em 1973 pelo Diário de Notícias”, recorda Jurema.

Sua passagem pela política também lhe traz boas re-

cordações. Recorda das famosas entrevistas individuais que o prefeito Telmo Thompson Flores concedia entre 17 horas e 19 horas em alguns dias da semana (cada repórter tinha dez minutos com o prefeito). “Ele tinha uma turma muito ligada, como o Roberto Brenol de An-drade, o Pedro Chaves, o Carlos Pires de Miranda e o Melchiades Stricher”, lembra.

Na Folha da Tarde, Jurema sempre teve o apoio de seu primeiro chefe de reportagem, Teixeira Junior, já falecido. Mais adiante, igual função foi desempenhada por Benito Giusti, para quem a jornalista só tem elogios. “Ele foi magnífico, foi grande mesmo. Sempre deu liber-dade para a gente trabalhar, fazer matérias que a gente sugeria”, revela. Antes de sair do grupo, passou pela Fo-lha da Manhã e pelo Correio do Povo.

Em 1984, participou da fundação da Rádio Pampa, fez assessoria de imprensa para o Sindicato de Turismo de Porto Alegre e foi trabalhar na Zero Hora em 1986. Além de atuar ao lado da competente editora Eunice Jaques, a jornalista recorda que o período foi um dos melhores de sua carreira. “Fazia o mercado financei-ro, participei de cursos na Bovespa e na BMF, além ter participado da cobertura de planos econômicos, como o Cruzado, o Bresser, o Verão e o Collor. A Eunice en-tendeu o apelo da sociedade nestes momentos. O jornal publicava cadernos diários de economia”, conta.

Ela ficou em ZH até 1994, mas antes passou por um constrangimento que não esquece. Como integrante da Comissão Interna de Prevenção aos Acidentes de Traba-lho (CIPA), não podia ser demitida, como aconteceu com muitos colegas no período. “Como castigo, fui transferi-da para o arquivo”, conta. A ação na Justiça demorou 10 anos para ser concluída, com vitória da profissional.

O começo no extinto Diário de Notícias

Jorge Correa

reProdução

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De seu tempo como repórter, guarda momentos ines-quecíveis como a cobertura das greves dos bancários, dos professores e da construção civil. Segundo Jurema, foi a primeira greve deste setor após a redemocra-tização. “Contra os cas-setetes, usaram barra de ferro”, informa.

O incêndio das Lo-jas Renner em 1976 foi um capítulo à parte. Ela e a colega Ema Belmon-te, que ainda está no CP, fizeram cobertura da tra-gédia durante cinco dias. Acompanhou momentos terríveis de pessoas mer-gulhando para a morte, se emocionou, mas man-teve o profissionalismo. “Foi pesado, mas valorizamos o Jornalismo com um belo trabalho de equipe. Fizemos edição extra às 19 horas”, relembra.

O que agrada Jurema é o furo que a Folha deu ao anunciar, em 1975, que o Rio Grande do Sul tinha ven-cido a concorrência e poderia iniciar as obras do Pólo

Petroquímico de Triun-fo. “Soubemos na volta do governador Euclides Triches de Brasília. No-ticiamos a novidade e ainda entrevistamos os produtores rurais que seriam afetados com as obras. Zero Hora só in-formou depois”, destaca a jornalista.

De suas recordações, não esquece da paixão pelo ex-governador Le-onel Brizola. Mas res-salta: “Embora eu dei-

xasse claro que apoiava ele, minhas matérias sempre foram neutras. Nunca reclamaram de alguma parcia-lidade”, afirma.

Jurema trabalhou na assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Fazenda, mas logo voltou para o Correio do Povo em 1994. Deixou a redação do diário em 1996 para tra-balhar na campanha de Yeda Cru-sius (PSDB) à prefeitura de Porto Alegre. No ano seguinte, voltou para o jornal, onde exerceu a chefia de re-portagem até novembro de 2013.

Aposentou-se nesse cargo e foi assessorar o hoje deputado esta-dual Pedro Ruas (PSOL), na época vereador em Porto Alegre. No dia 30 de setembro de 2015, deixou o trabalho com o parlamentar. “O Pe-dro é extremamente ético e correto, tem uma visão diferente da políti-ca e está voltado para a área social. Mas eu precisava voltar para casa”. No entanto, não ficará muito tempo nesta situação. A inquieta Jurema Josefa não revela, mas já tem enga-tilhado alguns projetos.

Foi o que aconteceu quando a con-

vidaram para assumir a chefia de re-portagem do Correio. Jurema nunca se imaginou longe da rua. Mas o novo cargo a estimulava porque passou a articular e instruir colegas. As reuni-ões eram diárias, com constantes di-cas. “Costumo ensinar para os mais novos que fonte é fabricada diaria-mente na base do olho no olho”, frisa.

A jornalista nunca se incomodou com os comentários em torno do du-plo emprego. Quando era repórter, sempre fez assessoria. Ajudou a fun-dar e assessorou o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. Também liga-da ao jornalismo turístico, ajudou a fundar e presidiu a Associação Bra-sileira de Jornalistas de Turismo RS (Abrajet-RS) em dezembro de 2013. “Sempre tive consciência de que po-deria atuar em qualquer assessoria desde que não fosse do mesmo setor que fazia no jornal”, diz. Só deixou de ter dois empregos, quando assu-miu a chefia de reportagem.

Jurema foi reconhecida com di-versas premiações. Destaca o Prêmio Carmen Silva, pelo Dia Internacional da Mulher, proposto pelo vereador Raul Carrion (PCdoB) na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Ela cobria o Judiciário e fez várias maté-rias questionando a decisão de uma câmara do Tribunal de Justiça dizen-do que o estupro seria crime comum e não hediondo. “A desembargadora Maria Berenice se manifestou contra, e eu fiz textos com posições do mo-vimento de mulheres. A ação acabou no STF, que classificou o crime como hediondo”, lembra.

Outro prêmio foi uma distinção ambiental da Brigada Militar. “Como repórter, acompanhei a causa do meio ambiente. Vi nascer a Agapan [Asso-ciação Gaúcha de Proteção do Am-biente], a SMAM [Secretaria Munici-pal do Meio Ambiente], acompanhei o José Lutzenberger. Sempre dei apoio às apreensões da BM”, justifica.

Ela entrou comigo na Folha da Tarde. Era uma grande repórter de frente, de questionar sempre. Era uma época que não tinha telefone celular, internet. Tinha que buscar o olho no olho e a Jurema aproveitou muito isso pelo seu jeito despojado. Nunca ficava satisfeita com uma resposta, não deixava para depois. Nós aprendemos muito juntas pela forma como a empresa agia. Cada repórter ficava uns três meses num setor e depois passava para outro. Tanto ela como eu conhecemos todas as áreas. Esta bagagem grande foi trazida na última passagem dela pelo Correio do Povo, como chefe de reportagem. Memória é tudo no jornalismo. Então, a Jurema ajudou muitos repórteres que estavam iniciando. Orientou, conversou, cobrou, foi um sucesso também como chefe, embora preferisse estar na rua

Ema Belmonte,hoje no Correio do Povo,

trabalhou com Jurema na Folha da Trade

Ela era uma das setoristas que cobriam o Executivo Municipal. Então, em todos os finais de tarde, estava no gabinete do prefeito Telmo Thompson Flores, que fazia das entrevistas um ritual. Era muito prestativa, competente e sempre preocupada com os colegas. Ela ajudou muita gente dentro do jornalismo, sem preocupação qualquer com o individualismo. Além disso, era muito sistemática. Pegava um assunto e não largava enquanto não conseguia seu intento. Mas com muita paciência e sensibilidade da mulher. Disso tudo, saíam matérias precisas e autênticas.

Roberto Brenolde Andrade,

hoje no Jornal do Comércio, assessor de Imprensa na Prefeitura

quando Jurema começou

A Jurema tinha o jornalismo no sangue, era competente, esperta, voluntariosa e interessada. Quando uma pauta falhava, ela descobria outra ainda mais importante. Era vocação. Como chefe de reportagem dela, nunca tive qualquer reclamação. A Jurema me surpreendia. Este acompanhamento direto com o Mário Andreazza foi um exemplo. Ele era um homem que servia a ditadura militar, mas era fora de série e acessível no atendimento aos repórteres. A Jurema soube entender isso como poucos. A informação estava nas suas veias.

Benito Giusti, aposentado, foi seu segundo chefede reportagem na Folha da Tarde

Tristes e memoráveis episódios na lida de rua

A chefe de reportagem que dialoga com os novos

Jurema Josefa sempre atuou em assessoria de imprensa que não fosse a mesma do setor do jornal em que estava

roBinson estrásuLas

reProdução

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Versão dos Jornalistas - Rio Grande do Sul - Março de 20168

CONVÊNIOS

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Clinica Odontológica

Fabiane Stedile da Rosa e Aline Iensen

Rua Alfredo Chaves, 1274, sala 501Bairro Exportação - Caxias do Sul(54) 3221.7300 | (54) 9141.5380

Comemorado há mais de cem anos em todo o mundo, o Dia Internacio-nal da Mulher se consolidou no fim dos anos 1960 com base em um mito. A história conhecida e amplamente disseminada conta sobre um episódio em que 129 tecelãs foram queimadas vivas durante um incêndio criminoso a uma fábrica de Nova Iorque, no sé-culo XIX.

O motivo do crime seria represália a uma greve em reivindicação por me-lhores condições de trabalho. O pro-prietário desta fábrica teria mandado incendiar o lugar com as funcionárias dentro, para servir de exemplo aos de-

mais trabalhadores grevistas.Essa é na verdade uma história

criada a partir da união de dados re-ais de outros acontecimentos. Sem registros sobre o fato, como notícias da época, informações sobre a fábrica ou identidade dos proprietários e das funcionárias, pesquisas comprovam que o mito surgiu a partir da necessi-dade, no contexto pós II Guerra Mun-dial, de afirmar o ressurgimento do movimento feminista.

Assim, formou-se uma confusão entre pelo menos três fatos ocorridos no início do século XX. No dia 22 de novembro de 1909 teve início, em

Nova Iorque, uma greve de costurei-ras, que durou quase três meses. Na mesma cidade, no dia 25 de março de 1911, um incêndio provocado por problemas nas instalações elétricas de uma fábrica têxtil causou a morte de 146 pessoas, a maioria mulheres.

A união destes dois fatos forma a história que se conhece sobre o Dia Internacional da Mulher. A data de 8 de março, contudo, é associada a um episódio ocorrido na Rússia. Em 1917, no dia 23 de fevereiro pelo calendário russo, o que corresponde a 8 de março no calendário ocidental, uma greve de tecelãs levou mulheres às ruas de Pe-

trogrado (hoje São Petersburgo), em uma manifestação que é considerada o início da primeira fase da Revolução Russa.

Eventos que marcavam grandes discussões sobre a participação da mulher na política e na sociedade ocorrem pelo menos desde 1908, or-ganizados inicialmente pelas mulhe-res socialistas. No Brasil, a primeira comemoração do dia da mulher ocor-reu em 1947, organizado pelo Partido Comunista Brasileiro.

A origem do dia de luta feminista

Atividades conjuntas, alusivas ao Dia Internacional da Mulher e que chamem atenção da sociedade para a perda de direitos democraticamen-te conquistados, estão sendo plane-jadas para o mês de março em Porto Alegre. A proposta surgiu a partir da articulação dos conselhos Estadual e Municipal dos Direitos das Mulheres com diferentes coletivos. As ativida-des seguirão um calendário principal e comum a todas, mantendo a progra-mação paralela de cada grupo.

Na agenda estão os atos do dia 6 de março, domingo, no Parque da Re-denção, e a grande marcha do dia 8, no centro de Porto Alegre. Uma audi-ência pública sobre violência contra a mulher será realizada no dia 11, com a participação confirmada de Maria da Penha. A atividade ocorre a partir das 14h no auditório do Fórum Central (R. Márcio L. Veras Vidor, nº 10).

Presidenta do Conselho Estadu-al dos Direitos da Mulher, Fabiane Dutra enxerga o atual momento, de ameaça à democracia, como um ris-co ainda maior para os direitos. Ela representa a União Brasileira de Mu-lheres no conselho e destaca um dos principais anseios da construção: "Temos como objetivo conquistar

mais espaço para a mulher, ocupan-do as legislaturas e secretarias. Que-remos participar da política".

Nesse sentido, uma iniciativa do Coletivo Feminino Plural, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres e o Núcleo Inter-disciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da UFRGS, irá promover o projeto "Mulheres, cidadãs que po-dem", com foco no empoderamento político. O lançamento está previsto para 31 de março e espera+ envolver cerca de 300 mulheres.

A jornalista Télia Negrão, coorde-nadora do Coletivo, explica que o pro-pósito é desmistificar a ideia que a so-ciedade tem do trabalho da mulher no poder. "Queremos encorajá-las, dan-do condições para que elas possam ter bons programas políticos, teses, dis-curso fundamentado e compreensível pelas outras mulheres e pela popula-ção em geral", destaca.

Completando 20 anos de trabalho em 2016, o Coletivo Feminino Plural também vai participar das ações unifi-cadas e, no dia 7 de março, ocupará o espaço da Tribuna Popular na Câmara de Vereadores de Porto Alegre para fa-lar de sua trajetória e apresentar pro-postas para o município.

Mobilização alerta para perda de direitos

A história da farmacêutica-bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes deu nome para a Lei nº 11.340/2006 por ter sido vítima de violência

doméstica durante 23 anos. Em 1983, o marido tentou assassiná-la por duas vezes. Denunciado, foi punido somente após 19 anos.

Fonte: A Origem Socialista do Dia da Mulher - Núcleo Piratininga de Comunicação

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