VIRA MUNDO
Editorial
O Viramundo está de volta em edição especial,
celebrando o 18 de maio e a Luta Antimanicomial!
Nas páginas que seguem preparamos uma bela
compilação de notícias, artigos e entrevistas sobre a
política de saúde mental brasileira. O Viramundo é um
canal de comunicação da Coordenação Geral de
Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas com usuários/as,
trabalhadores/as e gestores/as da RAPS e com o
público em geral.
O Viramundo está na internet, no endereço
blogviramundo.wordpress.com . Acesse também o
nosso canal no Youtube (http://goo.gl/dx9R8J), onde
você poderá assistir, entre outros vídeos, ao discurso do
Ministro da Saúde Arhur Chioro sobre o 18 de maio, Dia
Nacional da Luta Antimanicomial.
A música da capa é o samba-enredo da Escola de
Samba Liberdade Ainda que Tan Tan, de Belo Horizonte,
para o desfile comemorativo do Dia Nacional da Luta
Antimanicomial, realizado na Praça da Liberdade, com
a realização do Fórum Mineiro de Saúde Mental e da
Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental
de Minas Gerais. O samba é de autoria do Coletivo
Centro de Convivência Venda Nova, e o desfile da
Escola teve como tema “A cidade que queremos: seja
feita a nossa vontade!” (ouça: http://goo.gl/V2UpxP)
REVOLUSSAMBA
Autoria: Coletivo Centro de Convivência
Venda Nova - SUS - BH
Se essa rua fosse minha eu mandava consertar
Consertava essa cidade pro meu mundo caminhar.
A cidade, minha gente, tem muita poluição,
Não precisamos só de carro mas de metrô na estação.
REFRÃO
Oh, Bombrilhão! Oh, Bombrilhão!
Acaba com o preconceito e com a discriminação.
(2 x)
Não ponha corda no meu bloco, copos de leite e de flor.
Na Avenida Afonso Pena, 0 18 já chegou!
Nós vamos manifestar nossa indignação
Na cidade que queremos não cabe corrupção.
REFRÃO
Se violar fosse verbo de violão,
De tão bela essa cidade teria mais criação.
Como não é, o que devemos fazer,
É acreditar no povo que luta para vencer.
REFRÃO
Tempestade, tempestade, eu me encharco em você!
Mas com tanta indiferença, como vou sobreviver?
Sou amigo do Mandela e contra a segregação,
Sou filho da Praça Sete e da Praia da Estação.
REFRÃO
Como em Cuba e na França, eu vou revolucionar!
Vou por meu samba na rua para o povo desfilar
Essa rua, ela é nossa e esse muro, ele é seu.
Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas DAET/SAS/Ministério da Saúde Nº 04 ano 02 Maio/Junho/Julho 2014
Boletim (In)formativo, em formação
e desformatado da RAPS - Rede de
Atenção Psicossocial
Desfile comemorativo do Dia Nacional da Luta Antimanicomial. BH-MG. Foto: Maxwell Vilela
2
Editorial
Editorial
Mais do que um boletim informativo, o Viramundo retorna em novo formato,
com cara de revista, como um instrumento de divulgação e produção
cultural, no âmbito da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras
Drogas, no contexto da reforma psiquiátrica brasileira.
As sessões contemplam os componentes da RAPS e muito mais, buscando
introduzir temas, pensamentos, ideias e a complexidade do campo da
saúde mental. Os textos são produzidos pelos núcleos temáticos da
Coordenação Geral de Saúde Mental e por autores/as convidados/as.
Sugestões, críticas e comentários podem ser enviados para
[email protected]. Além das publicações trimestrais, lançaremos
também edições especiais e temáticas.
Esta edição cumprimenta todos/as os/as usuários/as e familiares neste 18 de
maio, trazendo textos que propõem avançar na luta por liberdade e
autonomia. Abrimos com trechos do discurso de posse do novo Ministro da
Saúde, Arthur Chioro, que iniciou seu trabalho à frente do Ministério com um
belo e contundente discurso, em que destacou a importância da luta
antimanicomial e o compromisso com a defesa radical dos direitos
humanos.
Antonio Lancetti nos brinda com um texto , escrito especialmente para esta
edição do Viramundo, sobre os dias que marcaram a intervenção e o
fechamento da Casa de Saúde Anchieta, em Santos há 25 anos, no que
acabou sendo um dos marcos fundamentais da Reforma Psiquiátrica no
Brasil.
Apresentamos o artigo de Roberto Tykanori, Coordenador Geral de Saúde
Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, sobre as primeiras
impressões e expectativas após a implementação do Programa “De Braços
Abertos”, da Prefeitura de São Paulo, que propõe uma nova relação do
poder público municipal com a população que faz uso de crack no Centro
de São Paulo.
Temos também a participação de Moisés Ferreira, da Associação de
Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira, em um
papo rápido com o Viramundo sobre os direitos dos usuários de serviços de
saúde mental e a importância de união de forças entre os diversos atores
que compõem a RAPS. Esta conversa aconteceu durante a I Reunião
Regional de Usuários de Serviços de Saúde Mental e Familiares, que produziu
o Consenso de Brasília.
Pedro Carneiro, integrante da Coordenação Geral de Saúde Mental,
inaugura a nova sessão Debates Regionais com um olhar sobre a região
norte do país, e as especificidades amazônicas quando pensamos em
políticas públicas nacionais. Pedro MacDowell, também da equipe da
Coordenação de Saúde Mental, escreve sobre a saúde mental em
contexto indígena e as políticas do bem viver.
Esta edição traz ainda artigos sobre os 10 anos do Programa de Volta pra
Casa; sobre a importância de enfrentar o racismo institucional e do cuidado
diante do sofrimento psíquico decorrente do racismo; sobre o Pronacoop
Social e as iniciativas de cooperativismo social no campo da saúde mental;
sobre as Unidades de Acolhimento e o direito à cidade; sobre a Política
Nacional de Saúde Mental Infanto-Juvenil e a implementação de
Programas de Prevenção ao uso prejudicial de álcool e outras drogas, e
sobre o I Encontro Nacional da RAPS, que aconteceu em dezembro, em
Curitiba.
Finalmente, trazemos aqui as primeiras notícias do Projeto de Percursos
Formativos na RAPS, além de notícias sobre os leitos de saúde mental em
hospital geral, sobre as novidades no campo das políticas sobre álcool e
outras drogas, sobre os CAPS e sobre a saúde mental na atenção básica.
Boa leitura!
Sumário
Editorial 2
Mural 3
Discurso de posse do
Ministro Arthur Chioro 4
Opinião 6
Reforma Psiquiátrica e
a Questão das Drogas:
da Coerção à Coesão
8
Protagonismo de
Usuários e Familiares:
Caminhos da
Emancipação
11
Urgência das pessoas,
Crise das instituições
14
Oikos: habitar a construir 15
Desinstitucionalização:
Direito à Cidade e à
Liberdade
16
Rede de Encontros 17
Saúde Mental
Infantojuvenil 18
Debates Regionais 22
Sofrimento e Atenção
Básica: Desafios para a
Transformação dos
Territórios
25
Radicalizar a Formação
na RAPS 26
Coletivizando Direitos 29
Expediente 32
3
Mural
Foto
s: Lucian
o Freire/M
S
4
Editorial
“Sinto-me profundamente honrado com a missão que me foi atribuída pela presidenta
Dilma Rousseff. Na carreira de um médico sanitarista, docente de Saúde Coletiva e gestor
público, não poderia haver convite mais desafiador. Trata-se de um momento ímpar em minha
vida, uma oportunidade de servir ao meu país, ao povo brasileiro, em especial à imensa parcela
da população brasileira que depende do SUS para garantir a proteção, a prevenção, o
tratamento e a reabilitação da sua saúde.
Mas, sinceramente, o que mobiliza os meus mais profundos sentimentos nesse momento
tão especial, o que me agita e instiga, é a oportunidade a mim conferida pela presidenta Dilma
de colocar em prática tudo que aprendi, os sonhos e ideais de toda uma vida. Penso nesse
instante em tudo aquilo que poderei fazer, contando com o apoio de companheiros e
companheiras de jornada em defesa do SUS e em defesa da vida que há mais de três décadas,
desde que entrei na Faculdade de Medicina, em 1981, compartilham comigo esses mesmos
sonhos e ideais.
(...)
Assumo hoje esta missão acalentado pelo sonho de podermos, nestes próximos anos,
acelerar a construção de uma sociedade sem manicômios! Na minha vida pública o que mais
me emociona, o que me fez ter a certeza que vale a pena, é quando posso olhar nos olhos de
pessoas que passaram 20, 25, 30 anos presos num hospício só porque tinham um sofrimento
psíquico e que agora vivem em liberdade. O Brasil tem uma dívida histórica com esses brasileiros
e, tenham certeza, nós vamos ajudar a pagá-la!
E esta mesma clareza e determinação devem orientar nossas ações para as pessoas em
uso abusivo de álcool e outras drogas. Vamos aprofundar e avançar no Programa Crack é
Possível Vencer, construindo todas as alternativas que apontam para um cuidado singular, em
liberdade, que ajude as pessoas a reconstruírem suas vidas e não caindo na armadilha fácil
daquelas que reatualizam o manicômio e tiram das pessoas sua dignidade!
Particularmente nesta agenda queremos explicitar nosso compromisso com a defesa
radical dos direitos humanos! Em 27 anos de profissão e 25 anos como gestor público, nada me
proporcionou mais alegria e sensação de dever cumprido do que encontrar, andando na rua,
sorrindo e felizes, ainda que seus rostos e corpos tenham sido indelevelmente marcados pela
cronicidade e perversidade dos métodos utilizados nos hospícios, os ex-moradores que passam a
viver livres nas Residências Terapêuticas. Viver com saúde e liberdade, ser protagonista de nossas
próprias vidas é um direito de cada um de nós, independente de cor, sexo, orientação sexual,
ser portador de deficiência, de transtorno mental, ou qualquer outra situação. Simplesmente
porque somos seres humanos, somos cidadãos.
Temos uma política nacional de saúde mental e de álcool e drogas muito bem
concebida. Produzimos em São Bernardo do Campo uma experiência profundamente exitosa e
referencial, ao longo de 5 anos. O mérito que tivemos, com total apoio do Prefeito Luiz Marinho
E m seu discurso de posse como o 42º Ministro da Saúde, em 03 de abril de 2014, Arthur
Chioro enalteceu a luta por uma sociedade livre de manicômios. Ao falar da Política Nacional
de Saúde Mental, o Ministro afirmou o compromisso com a defesa radical dos direitos humanos,
destacando os princípios de liberdade, autonomia, protagonismo e dignidade de todas as pes-
soas, e a importância de fortalecer os processos participativos nas políticas públicas. Destaca-
mos alguns trechos de seu discurso, que pode ser lido na íntegra através de nosso canal do
Youtube: http://goo.gl/dx9R8J
Discurso de posse do Ministro da Saúde Arthur Chioro
5
e do governo municipal, já que tem sido uma experiência intersetorial, foi o de implantar, em toda a
radicalidade, a Política Nacional de Saúde Mental e de Álcool e Drogas conduzida pelo Ministério da
Saúde, conduzida pelo Governo da presidenta Dilma.
Não abrirei mão de conduzir e aperfeiçoar essa política como uma das prioridades da minha
gestão. Porque sei que é possível mudar a realidade sem trancafiar e restringir a liberdade!
Os governos têm uma grande responsabilidade na consolidação das políticas públicas. Mas estas
só sairão de fato do papel e responderão aos anseios da população se formos capazes de construir um
processo verdadeiramente participativo. O primeiro compromisso é seguir no fortalecimento do
Conselho Nacional de Saúde e de todos os Conselhos de Saúde do país, para que usuários e
trabalhadores possam participar cada vez mais ativamente da condução do SUS. O segundo é de
realizar, junto com o Conselho Nacional de Saúde, e todas as forças políticas em defesa do SUS em
2015, a maior, mais produtiva, representativa e popular Conferência Nacional de Saúde. O desafio é
consolidar o que está bom e não ter medo de reinventar novos caminhos para garantir esse princípio
fundante do SUS. Reafirmo nosso compromisso de mantermos uma agenda aberta aos movimentos
sociais, garantindo o diálogo na diferença. “
Arthur Chioro é o novo Ministro da Saúde. Fonte: ASCOM/MS
Discurso de posse do Ministro da Saúde Arthur Chioro
6
Opinião
Os dias que comoveram a Psiquiatria Brasileira
À s oito da manhã tocou a campainha de casa. Era o sábado de 29 de abril de 1989 e David
Capistrano já tinha chegado para reunião marcada para nove horas em que iria programar a Intervenção da
Casa de Saúde Anchieta.
Expliquei a David que ainda não tinha acordado direito e que também não tinha comprado o jornal. Ele
me disse para não me preocupar, que já tinha lido os jornais e que iria me esperar na sala bisbilhotando a
biblioteca.
As nove em ponto estávamos todos, Cenise Monte Vicente, Williams Valentini, Tykanori, David e eu
sentados na mesa. David abriu o livro de John Reed “Dez dias que abalaram o mundo”, na página 73. Ali,
Reed citava a afirmativa de Lenin de que era necessário o apoio à insurreição em toda Rússia, para poder
dizer: "Eis o poder em nossas mãos! Que irão vocês fazer com ele?" A
insurreição deveria ser deflagrada no dia 7 de novembro, pois o dia 6
era cedo e o 8 era tarde demais.
David fechou o livro que tinha apanhado da estante e abriu a
reunião perguntando: Quando é nosso 7 de novembro?
O dia escolhido foi o 3 de maio de 1989, quando adentramos na
cidadela da psiquiatria com Telma de Souza, a prefeita de Santos.
O hospital era uma empresa privada e o Professor Sérgio Cérvulo
da Cunha, vice-prefeito, grande jurista e belo socialista, quebrava a
cabeça para fundamentar a ação juridicamente. Só contávamos com
um princípio consagrado na recentemente promulgada Constituição
que afirmava que a saúde é dever de Estado e direito do cidadão.
Se a opinião pública estava sensibilizada pela denúncia de várias
mortes ocorridas naquela época, a nossa entrada, então marcada pela
batalha jurídica que ganhamos, com a abertura das portas daquele
campo de concentração para toda cidade foi o que realmente
comoveu a todos.
Daquela quarta-feira lembro de um funcionário trocando uma lâmpada na porta do hospital, os rostos
absortos de um dos donos da Casa e depois no pátio feminino as mulheres rodeando o grupo de interventores
e exclamando: “Telma você veio nos libertar”!
Na noite do 3 de maio já tinham sido abertas as celas fortes, proibidos os eletrochoques, os castigos e
iniciado um trabalho coletivo que influenciou muitas das experiências de desisntitucionalização e invenção
institucional em várias áreas de saúde , assim como de muitas politicas públicas.
Naquela experiência aprendemos que o processo terapêutico era inerente à desmontagem institucional
e à criação de serviços substitutivos. Era possível uma cidade existir sem manicômios.
Quanto aprendemos! Manuel Raimundo, um homem negro e brilhante, numa daquelas manhãs me
tomou pelo braço e disse:
- Eu reparei que o senhor entende muito de Sigmund Freud, se quiser nos entender estude Raul Seixas.
Num desses dias uma jornalista perguntou ao Tykanori: “o que é saúde mental?” Ele respondeu no calor
daquilo que Guattari chamou de quarta revolução psiquiátrica: “poder, afeto e liberdade”.
Estas ideias, enunciadas há 25 anos, não param de nos alegrar e inspirar a cada passo
que damos na construção da reforma psiquiátrica brasileira.
Antonio Lancetti, psicanalista, analista insti-
tucional e consultor. Foto: intervenção da
Casa de Saúde Anchieta, 1989
Santos, 1989. Entrada na Casa de Saúde Anchieta
7
Opinião
Para assistir o vídeo da intervenção da Casa de Saúde Anchieta em Santos,
acesse o canal de Denis Petuco no Youtube: http://goo.gl/m7NGTF
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eles iriam cumprir os pactos para levar adiante o
projeto e gerou um sentimento de
pertencimento aos indivíduos.
O reconhecimento da extrema
desvantagem – o perfil das pessoas apresentava
uma série de vulnerabilidades crônicas ligadas à
baixa educação e empregabilidade, à
marginalização pela pobreza e preconceitos
vários de classe e raça e à condição de ex-
presidiários. Pessoas de baixíssimo poder
contratual, isto é, pessoas que encontram
barreiras quase instransponíveis para participar
do “contrato social”, perpetuando a situação
de exclusão e marginalidade.
A garantia de um “Pacote de Direitos”–
moradia, trabalho e renda, que viabilizou uma
relação contratual, isto é, uma relação civil,
cidadã, ofertados com um mínimo de
exigências. A moeda de troca básica foi a
palavra e a vontade manifesta. A maioria das
pessoas que aderiram ao projeto sustentaram o
contrato após 4 semanas.
O impacto de alternativas ao “FLUXO”
marginal - O primeiro pagamento injetou na
região por volta de R$ 36 mil reais que
movimentaram o comércio local. Pessoas que
estavam à margem da dinâmica de trocas
sociais passaram a fazer parte das circulaçãos
de mercadorias, mensagens e afetos da
comunidade local.
A combinação de baixíssima exigência e
alta disposição para estabelecer uma relação
O artigo escrito em fevereiro de 2014, no
contexto das primeiras notícias e efeitos do
programa “De Braços Abertos”, em São Paulo:
Estratégias de Produção de Contratualidade
Esta semana completa um mês a ação da
Prefeitura de São Paulo junto à população que
se concentrava na região central da cidade,
conhecida como “cracolândia”. A favelinha da
Rua Helvetia foi desmontada em comum
acordo com os moradores, que se hospedaram
em alguns hotéis da região. Além de moradia
assegurada, também se criou frentes de
trabalho, com pagamento semanal, em troca
de algumas horas de trabalho diário, sem que
fosse exigido o abandono imediato das drogas,
mas garantindo o acesso a tratamento de
saúde integral e para as necessidades
decorrentes do uso de álcool e outras drogas,
quando desejado. Aderiram todos os moradores
dos barracos que foram totalmente
desmontados e a rua pôde novamente receber
a circulação regular de carros e pedestres.
Embora não fosse exigido a abstinência ou o
tratamento obrigatório, muitas daquelas
pessoas relataram que estavam abstinentes há
vários dias, e estima-se uma redução do
consumo diário da ordem de 70%. Após
receberem o primeiro pagamento, depois de
dias de trabalho, não houve uma corrida às
bocas de venda de drogas, mas muito mais aos
mercados, lojas de roupas e outros pequenos
consumos. Shampoos, doces, sabonetes,
chinelas etc.
Que lições podemos tirar desta
surpreendente ação?
A importância da constituição de um
sujeito coletivo – a Prefeitura inicialmente
dialogou com vários indivíduos dali, para traçar
um perfil daquelas pessoas e de suas
necessidades e reivindicações. Passou então a
fazer reuniões com coletivos, tomando como
interlocutor um sujeito coletivo, apostando que
Foto: João Luiz/ SECOM-PMSP, disponibilizada por fotospublicas.com
Reforma Psiquiátrica e a Questão das Drogas: da Coerção à Coesão
Lições da Cracolândia de São Paulo
De Braços Abertos
9
Roberto Tykanori Kinoshita é
o Coordenador Geral de
Saúde Mental, Álcool e Ou-
tras Drogas, do Ministério da
Saúde. Foto: intervenção da
Casa de Saúde Anchieta,
1989.
condições que reduziram ou até interromperam
o consumo de drogas para muitos dos
participantes.
Seguridade Social como base da Política
de Segurança - A continuidade do projeto
depende da preservação destas características
que permitiram a geração de relações
contratuais com pessoas desempoderadas. A
inserção na vida do trabalho precisa apresentar
alternativas à lógica do mercado de mão de
obra que submete os indivíduos à pressões de
exploração. Requer, antes, formas de
organização produtiva pautadas pelos
preceitos da economia solidária e do
cooperativismo social. A moradia precisa
evoluir para programas de aluguel social, que
relacionam o valor do aluguel a uma
porcentagem da renda concreta e não às
pressões do mercado imobiliário, de modo a
gerar estabilidade e segurança aos locadores.
As abordagens de tratamento psicossocial
precisam se ajustar à ideia de baixa exigência
para viabilizar contratualidade e maior
continuidade. Se a exclusão social e a miséria
não são a causa direta dos problemas das
drogas, a ação da Prefeitura de São Paulo
indica que um modelo de superação daquelas,
que opera sob uma equidade radical, cria as
bases concretas para o cidadão poder superar
o seus problemas com drogas.
contratual por parte da Prefeitura me parece ser a
essência do “De Braços Abertos”. Ou seja, uma
efetiva disposição para produzir o lugar de sujeito-
cidadão individual e coletivo para participar da
sociedade.
Os efeitos da contratualidade – A relação
contratual serviu como um dispositivo que
reintroduziu as pessoas na vivência temporal da
duração, tirando-os do eterno presente. A vida em
extrema pobreza impõe a necessidade de
satisfação imediata de suas carências. Como esta
satisfação é muito custosa e fugaz, mantém presos
no presente, sem futuro, sem projetualidade. A
relação contratual introduziu uma temporalidade
cotidiana, tempo de trabalho, tempo de lazer,
tempo de descanso. Produziu uma situação de
expectativas futuras, e permitiu o exercício do
adiamento das satisfações imediatas por
satisfações a médio e longo prazo, mais
estruturantes.
A seguridade com base para relação entre a
capacidade de poupar e a de projetar – A
garantia de moradia (nos hotéis) permitiu que as
pessoas pudessem fazer projeções sobre o uso do
dinheiro obtido pelo trabalho, de modo a induzir
uma série de planos de compras e consumos,
separando e hierarquizando este uso. Eliminando-
se a insegurança imediata das ruas, sem a
ameaça de despejo, cria-se a possibilidade de
poupar, que reforça a ideia de projeção futura e
adiamento das satisfações.
A suspensão do foco sobre a problemática
das drogas, deslocado para a promoção de
sujeitos contratuais, paradoxalmente criou
Foto: Fábio Arantes/ SECOM-PMSP, disponibilizada por fotospublicas.com
Reforma Psiquiátrica e a Questão das Drogas: da Coerção à Coesão
10
C omo os profissionais que atuam na atenção e no cuidado a usuários de crack e outras
drogas podem fazer a detecção de casos e a melhor condução para diagnóstico e tratamento da
tuberculose entre seu público? E para os profissionais que atuam no campo da tuberculose, qual a
melhor forma de se aproximar dos usuários de crack e outras drogas?
Está em construção, sob os cuidados dos pesquisadores Dartiu Xavier da Silveira, Rossana
Coimbra Brito e Thiago Marques Fidalgo, uma publicação sobre as interfaces entre o uso do crack e a
tuberculose. O documento terá o objetivo de ajudar a instrumentalizar profissionais de saúde e
assistência para o acompanhamento e o cuidado da tuberculose para pessoas que fazem uso de
crack.
No último dia 09 de abril, representantes do Ministério da Saúde, da Organização Panamericana
de Saúde (OPAS) e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) estiveram reunidos
com a equipe de pesquisadores para debater o problema e avançar na construção do documento.
A publicação será uma importante ferramenta para profissionais de saúde e assistência social
que trabalham diretamente com a tuberculose e a atenção ao usuário de crack e outras drogas,
buscando a melhor abordagem para as diversas condições associadas aos dois agravos. Esta primeira
aproximação traz um recorte específico, ao focar no uso do crack, mas será um ganho importante no
cuidado às pessoas que fazem uso de drogas.
O intuito é aproximar cada vez mais os diferentes atores, potencializando e ampliando o olhar
sobre o usuário do SUS.
II Reunião Regional da Rede Pan-americana de Álcool e Saúde Pública
O álcool provoca, em média, 80.000 mortes anuais nas Américas, segundo dados da
Organização Pan-americana de Saúde (OPAS). Com 12,2 óbitos para cada 100 mil mortes anuais
entre 2007 e 2009, o Brasil ocupa um desconfortável quinto lugar entre os países americanos com o
maior índice de mortes ligadas ao uso prejudicial de álcool.
Estratégias para reduzir a mortalidade associada ao álcool estiveram em discussão na II Reunião
Regional da Rede Pan-Americana de Álcool e Saúde Pública (PANNAPH), realizada em Cartagena, na
Colômbia, entre os dias 9 e 11 de abril. O encontro, organizado pela OPAS/OMS em colaboração com
o Ministério da Saúde colombiano, foi uma importante oportunidade para a troca de conhecimentos
e boas práticas entre representantes dos países da região.
Entre os objetivos da Reunião estava a apresentação e discussão dos avanços na
implementação de duas importantes estratégias: o Plano de Ação para Reduzir o Consumo Nocivo de
Álcool, da OPAS, e a Estratégia Mundial para Reduzir o Consumo de Álcool, coordenada pela OMS.
O Plano de Ação regional propõe a utilização da Estratégia Mundial da OMS como um marco
para orientar a redução do uso prejudicial do álcool, promovendo uma abordagem centrada na
saúde pública e nos direitos humanos. O objetivo é reduzir os níveis do consumo de álcool per capita
da população, assim como reduzir os danos relacionados ao álcool.
Os países signatários do Plano, dentre eles o Brasil, comprometem-se com uma série de objetivos,
que incluem ampliar a conscientização e o compromisso político, aumentar a cooperação técnica
entre os países e melhorar os sistemas de monitoramento e vigilância e a difusão de informações para
formulação de políticas e avaliação.
Acesse o documento completo do Plano de Ação regional, em espanhol, em
http://goo.gl/PueCL0
Publicação Crack e Tuberculose
Reforma Psiquiátrica e a Questão das Drogas: da Coerção à Coesão
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A I Reunião Regional de Usuários de Serviços de Saúde Mental e Familiares reuniu em Brasília, entre
15 e 17 de outubro de 2013, representantes de 18 países das Américas e de vários estados brasileiros.
Realizada em colaboração entre a Organização Pan-Americana de Saúde e o Ministério da Saúde, este
evento histórico teve a participação maciça de associações de usuários dos serviços de saúde mental e
familiares da região, além de autoridades nacionais e da Organização Mundial da Saúde.
O encontro resultou no Consenso de Brasília, documento importante e atual que reflete as lutas e
desejos dos usuários dos serviços de saúde mental e familiares na garantia e respeito aos direitos humanos,
participação efetiva nos processos de formulação, desenvolvimento e avaliação de políticas públicas de
saúde mental e fortalecimento das organizações de usuários e familiares.
As recomendações contidas no Consenso de Brasília contribuem efetivamente para o
desenvolvimento e fortalecimento de ações governamentais, setoriais e intersetoriais, com a perspectiva de
promover a autonomia, de ampliar o acesso ao cuidado de base comunitária e territorial e de lutar contra o
estigma e o preconceito associado às pessoas com transtorno mental.
O documento completo pode ser acessado em: http://goo.gl/W7MTBe
Consenso de Brasília
Moisés Ferreira para o
“ Eu fui um corpo morto e hoje eu não sou mais; não quero ser louco, louco
nunca mais; saí do hospício pra nunca mais voltar.” (Moisés Ferreira)
Entre uma atividade e outra da I Reunião Regional de Usuários de
Serviços de Saúde Mental e Familiares, o admirável Moisés Ferreira (fotos), da
Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira
(APACOJUM), brindou os leitores e as leitoras do Viramundo com uma
inspiradora entrevista. O corpo expressivo, sempre em movimento, as mãos
entrelaçadas, falam tão bem quanto as palavras sobre sua trajetória de
militância e liberdade, a importância da luta pelos direitos dos usuários e a
necessidade de uma integração cada vez maior entre os serviços, os usuários
e os familiares. Fala, Moisés:
“Tem três eixos que podem colocar em discussão: trabalho, moradia e
liberdade social; cuidador, técnico e morador; e médico, família e paciente.
Acho que é hora de fazer um mutirão que ajuda a participação do paciente,
ele que ensina a pessoa a trabalhar com ele, um trabalho de base, que é
com ele, a família e a equipe, para poder recuperar ele.”
“Tem que fazer associação de moradores da comunidade, como
buscar solução e verba para alugar casa com a cuidadora e o morador
juntos. Na casa eles trabalham, entendeu? A cuidadora ensina a fazer uma
comida, a conhecer um banco, a higiene do corpo, a limpeza da casa, a
cuidadora sai pra passear com ele, pra fazer compras sozinho. Isso aí é o
projeto de vida.”
A sugestão quem faz é Moisés: reunir os moradores da residência
terapêutica, a comunidade, as associações e quem mais quiser para assistir o
depoimento de um usuário que ficou internado por 40 anos e hoje não está
mais. Para assistir o vídeo completo, debater, opinar, participar, acesse:
http://goo.gl/dx9R8J
Fonte: gravação
de Thais Soboslai
Protagonismo de usuários e familiares: caminhos da emancipação “Pelo Direito de Produzir e Viver em Cooperação de Maneira Sustentável”*
*II Conferência Nacional de Economia Solidária . Acesse: http://goo.gl/5vMWbK
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PRONACOOP Social
A garantia do direito ao trabalho das pessoas com sofrimentos decorrentes de transtornos
mentais, inclusive aqueles relacionados ao uso de álcool e drogas, é uma das diretrizes centrais da Política
Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas. O trabalho como direito se alicerça na perspectiva da
inclusão social, da promoção de autonomia, do fortalecimento do poder contratual e do exercício de
direitos de cidadania. É para a efetivação deste direito que, desde 2004, se iniciou a articulação entre o
Ministério da Saúde, através da a Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas e a
Secretaria de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A parceria já rendeu iniciativas importantes, como a realização da Oficina de Experiências de
Trabalho e Renda de Usuários da Saúde Mental, em 2004, da I Conferência Temática de Cooperativismo
Social, em 2010, e da II Oficina de Experiências de Geração de Trabalho e Renda de Usuários da Saúde
Mental, em 2011. Destaca-se, ainda, a participação da Coordenação de Saúde Mental em espaços
importantes como o Comitê Gestor do Programa Nacional de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares - PRONINC, a IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, e outros seminários, eventos
e formações neste campo, de âmbitos nacional, estadual e municipal, além da implantação do Grupo de
Trabalho Interministerial Saúde Mental e Economia Solidária de 2005 a 2007.
Com a publicação da Portaria nº 3.088 do Ministério da Saúde, em dezembro de 2011 (republicada
em maio de 2013), o direito ao trabalho dos usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) passa a
compor o componente de reabilitação psicossocial da Rede. As iniciativas de trabalho e cultura e de
inclusão e protagonismo de usuários e familiares têm sido apoiadas anualmente pelo Ministério da Saúde,
por meio de Chamadas Públicas de Seleção de Projetos. A quarta edição da Chamada de Seleção de
Projetos de Reabilitação: trabalho, cultura e inclusão social na RAPS, e a segunda Chamada de Seleção de
Projetos de Protagonismo de Usuários e Familiares da RAPS, ambas em 2013, ofereceram incentivos nos
valores de R$15.000,00, R$30.000,00 e R$50.000,00 a projetos de diversos municípios brasileiros, num total de
R$ 6.440.000,00.
De acordo com o Cadastro de Iniciativas de Inclusão Social pelo Trabalho (CIST) da Coordenação de
Saúde Mental, estão registradas hoje no Brasil mais de 660 iniciativas de inserção no trabalho. A formação
de cooperativas sociais apresenta-se, neste contexto, como um dos principais desafios para a
consolidação do direito ao trabalho de usuários da RAPS, em conformidade com a Lei nº 9867, de 10 de
novembro de 1999, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais, visando à
integração social dos cidadãos.
Em dezembro de 2013 conseguimos um marco importante para o avanço nas políticas públicas de
saúde mental, economia solidária e cooperativismo social com a assinatura pela Presidenta Dilma Rousseff
do Decreto Presidencial nº 8163, de 20 de dezembro de 2013 que instituiu o Programa Nacional de Apoio
ao Associativismo e Cooperativismo Social, o Pronacoop Social.
São princípios do Pronacoop Social, de acordo
com o artigo 3º do referido decreto:
I - respeito à dignidade e independência da pessoa,
inclusive a autonomia individual e coletiva;
II - não discriminação e promoção de igualdade de
oportunidades;
III - participação e inclusão de pessoas em
desvantagem na sociedade e respeito pela diferença
como parte da diversidade humana;
IV - geração de trabalho e renda a partir da
organização do trabalho com foco na autonomia e
autogestão;
Protagonismo de usuários e familiares: caminhos da emancipação “Pelo Direito de Produzir e Viver em Cooperação de Maneira Sustentável”
13
V - articulação e integração de políticas públicas para a
promoção do desenvolvimento local e regional; e
VI - coordenação de ações dos órgãos que desenvolvem
políticas de geração de trabalho e renda para as pessoas
em desvantagem.
No artigo 4º são apresentados os seguintes objetivos do
Pronacoop Social:
I - incentivar a formalização dos empreendimentos
econômicos solidários sociais em cooperativas sociais;
II - promover o fortalecimento institucional das cooperativas
sociais e dos empreendimentos econômicos solidários
sociais, e a qualificação e formação dos cooperados e
associados;
III - promover o acesso ao crédito;
IV - promover o acesso a mercados e à comercialização da
produção das cooperativas sociais e dos empreendimentos
econômicos solidários sociais;
V - incentivar a formação de redes e cadeias produtivas constituídas por cooperativas sociais e
empreendimentos econômicos solidários sociais; e
VI - monitorar e avaliar os resultados e alcances sociais e econômicos das políticas de apoio ao
cooperativismo e ao associativismo social.
O Pronacoop Social prevê a composição de um Comitê Gestor, com a participação do Ministério da
Saúde, atualmente representado pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do
Departamento de Atenção Especializada e Temática da Secretaria de Atenção a Saúde (CGMAD/DAET/
SAS) como titular, e pelo Departamento de Apoio à Gestão Participativa (DAGEP/SGEP) como suplente. O
Comitê Gestor também contará com seis entidades da sociedade civil, de caráter nacional, que serão
selecionadas por meio de chamamento público através do Edital de Chamada Pública SENAES/MTE nº
001/2014.
Para maisinformações, veja:
BRASIL. Saúde Mental e Economia Solidária: Inclusão Social pelo Trabalho. Brasília: Editora MS, 2005.
Link: http://goo.gl/JCqDde
BRASIL. Relatório Final do Grupo de Trabalho Interministerial Saúde Mental e Economia Solidária, instituído pela
portaria nº 353/2005. Brasília: ATSM, 2006.
Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria Nacional de Economia Solidária. (2010). Conferência Temática
de Cooperativismo Social: caderno temático. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2010.
Link: http://goo.gl/F7XxZb
BRASIL. Decreto nº 7.537, de 17 de novembro de 2010 - Instituição do PRONINC.
BRASIL. IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial: Relatório Final. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
Link: http://goo.gl/f0qkfP
BRASIL. Portaria nº 132, de 26 de janeiro de 2012 - Institui incentivo financeiro de custeio para desenvolvimento do
componente Reabilitação Psicossocial da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS).
PRONACOOP Social
Protagonismo de usuários e familiares: caminhos da emancipação “Pelo Direito de Produzir e Viver em Cooperação de Maneira Sustentável”
Link para acessar o Caderno: http://goo.gl/kVx9um
14
E m janeiro deste ano, a Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas realizou
a videoconferência sobre Leitos de Saúde Mental em Hospital Geral, destinada aos coordenadores de
saúde mental, de hospitais gerais com leitos de saúde mental e demais interessados.
O Componente de Atenção Hospitalar da RAPS tem como principal objetivo oferecer cuidado
hospitalar integral em hospital geral para pessoas com sofrimento mental, inclusive aquelas com
necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
As internações em hospital geral devem ser de curta ou curtíssima permanência, seguir a lógica de
redução de danos e da resolutividade. Sua regulação deve ser feita preferencialmente pelo CAPS de
referência, a partir de critérios clínicos e observando o Projeto Terapêutico Singular de cada usuário. Os
leitos de saúde mental em hospital geral podem estar localizados em enfermarias de clínica médica,
pediatria ou obstetrícia ou configurados em enfermarias de saúde mental. Estas, no entanto, não devem
estar isoladas das outras enfermarias, evitando a segregação e discriminação do usuário.
A implementação de leitos de saúde mental em hospital geral deve se dar articulada aos outros
pontos de atenção da RAPS e visa à garantia de continuidade e integralidade do cuidado, de forma a
superar o estigma e o preconceito e promover o acesso aos demais serviços de saúde.
Assista à videoconferência sobre Leitos de Saúde Mental em Hospital Geral através
do canal da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas no Youtube:
http://goo.gl/dx9R8J
Videoconferência sobre Leitos de Saúde Mental em Hospital Geral
CONSTRUINDO CAPS E UAs
Em 2013 foi lançada uma versão preliminar do Manual de
estrutura física dos Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de
Acolhimento: orientações para elaboração de projetos de construção,
reforma e ampliação de CAPS e de UA como lugares da atenção
psicossocial nos territórios. A publicação é destinada a gestores e
equipes de CAPS e UAs com o objetivo de fornecer subsídios para a
construção, reforma e ampliação destes dispositivos psicossociais,
considerando a Portaria 615 de 15 de abril de 2013. Os projetos
arquitetônicos e de ambiência consideram a qualificação do cuidado
através de espaços acolhedores, que promovam as trocas sociais e a
atenção humanizada, em consonância com as diretrizes da RAPS.
Para maiores informações, acesse:
Manual de estrutura física no link http://goo.gl/KNrrXy
Nota Técnica com esclarecimentos e orientações sobre
Unidades de Acolhimento no link http://goo.gl/Ugqoeu
Urgência das pessoas, Crise das instituições
15
Unidades de Acolhimento
O início da década de 2010 provocou todos/
as os/as trabalhadores/as, usuários/as e familiares a
exigir a qualificação das estratégias de atenção
psicossocial, a começar pela mobilização dos
recursos das redes de atenção à saúde que resultou
não apenas na criação e aprimoramento de serviços
existentes, mas na ampliação e qualidade de
diversos elementos que sustentam um conjunto de
ações e serviços a compor a então recém-nascida
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) - Portaria GM/
MS n. 3.088/2011.
A Unidade de Acolhimento, nas modalidades
adulto (UAA) e infantojuvenil (UAI), está presente no
componente “Atenção Residencial de Caráter
Transitório” da RAPS. Esse dispositivo de cuidado se dá
justamente nas lacunas, nos intervalos e nos
parênteses da vida cotidiana: a vida que pede
proteção, hospitalidade e convivência quando essas
características estão ausentes ou fragilizadas – há
muito ou pouco tempo – em outros ambientes de
natureza residencial; ou, em mais delicada situação,
quando não se está, permanentemente, em
ambiente residencial algum, tal como ocorre com
significativa parcela da população em situação de
rua.
Mas para construir um ambiente acolhedor, com
características de uma casa, que promova a
participação nas trocas sociais e a constituição de
redes ampliadas, existem componentes
fundamentais para a produção de vida e saúde
junto às UAs, como a proximidade de recursos
comunitários essenciais; acessibilidade e mobilidade
perante recursos comunitários preferidos pelo/a
usuário/a; espaços de convívio com outros/as
usuários/as, bem como com visitantes; ambiência
agradável para a passagem e permanência
cotidianas; entrada aberta, acessível e facilitada;
edificação passível de reinvenções arquitetônicas e
decorativas de acordo com o gosto dos/as que nela
residem e trabalham; acomodações adequadas
para refeições e outros afazeres típicos do dia-a-dia
residencial; espaços adaptados para as pessoas com
deficiência e, quando necessário, espaços de brincar
(Manual de Estrutura Física dos CAPS e UAs, 2013).
Oikos*: habitar a construir *Do grego morada, universo habitado
“As nossas casas constituem inegavelmente uma boa oportunidade para exercitar o poder (e o prazer) do habitar, mas não é sempre assim, já que mesmo nas nossas casas podemos experimentar uma perda de poder contratual, material e simbólico, podemos experimentar um aprisionamento no habitar ou mesmo uma expulsão do habitar. O manicômio (como o cárcere) é o lugar por excelência onde é negado o habitar e afirmado o estar.”
“Habitat é o processo de transformação de espaço em lugar, de instituição residencial em habitat o que deve dar sentido à pratica reabilitativa”
Em: Benedetto Saraceno - “Libertando Identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível” - Te Corá Editora/IFB Livros
Ao mesmo tempo é preciso destacar que, se
de um lado a UA não é o locus de cumprimento
das ações terapêuticas – papel institucional dos
CAPS e outros pontos de atenção - de outro
compõe, inevitavelmente, a rede de produção de
cuidados. É primordial considerá-la como um
recurso do Projeto Terapêutico Singular, de acordo
com as necessidades dos usuários em seus
contextos sociorelacionais, em particular, o
“habitar” como um dos eixos centrais nos processos
de reabilitação psicossocial.
Dessa forma, não estão nos preceitos deste
ponto de atenção os espaços para o
desenvolvimento de atividades terapêuticas, sala
de enfermagem e sala de atividades individuais e
de grupo.
Em últimas palavras, é importante destacar
que a promoção do “habitar” compõe não
apenas o direito à saúde, mas o direito à cidade. A
UA é um espaço que contribui para o acesso a
todos os serviços públicos possíveis (mediados pelo
CAPS, principal referência) bem como aos demais
bens sociais. Ela expressa, genuinamente, a
estratégia de garantia do “direito a ter direitos”,
pois realiza mediações entre o sujeito, o espaço e o
tempo na conformação e reinvenção de modos
de produção de afeto, território e história.
Para saber mais sobre as Unidades de
Acolhimento, assista à videoconferência realizada
em 2013 através de nosso canal no Youtube:
http://goo.gl/dx9R8J
16
O processo de desinstitucionalização, como dizia Franco Rotelli, “é um trabalho prático de
transformação que, a começar pelo manicômio, desmonta a solução institucional existente para
desmontar o problema”. Nesta perspectiva, seguimos com firmeza no propósito de ampliação da RAPS
e da construção de ações e programas que contemplem o problema em toda sua complexidade,
visando ao desmonte da lógica manicomial.
A Lei 10.708 de 2003 inaugura o Programa De Volta Para Casa (PVC) que garante o auxílio-
reabilitação psicossocial para a atenção e o acompanhamento de pessoas em sofrimento mental
egressas de internação em hospitais psiquiátricos, inclusive em hospitais de custódia e tratamento
psiquiátrico, cuja duração tenha sido por um período igual ou superior a dois anos.
O PVC visa à restituição do direito de morar e conviver em liberdade nos territórios e também a
promoção de autonomia e protagonismo do/a usuário/a. Dessa forma, assume papel central nos
processos de desinstitucionalização e reabilitação psicossocial das pessoas com história de internação
de longa permanência, conforme indicado pela Lei 10.216 de 2001.
No entanto, cabe destacar que, de acordo com o relatório de 2011 do Departamento Nacional
de Auditoria do SUS (DENASUS), 37,5% das pessoas internadas nos hospitais psiquiátricos apresentavam
internações acima de um ano, o que constitui um desafio da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool
e Outras Drogas para a desinstitucionalização desta população.
O Conselho Nacional de Justiça apresentou em julho de 2013, em Sorocaba, o projeto “Resgate
da Cidadania das pessoas internadas em hospitais psiquiátricos”, que visa garantir o acesso aos
documentos e benefícios sociais e previdenciários, contribuindo para os processos de
desinstitucionalização. Por fim, é importante ressaltar que, em 2013, o Ministério da Saúde reajustou o
valor do benefício do PVC para R$ 412,00, um aumento de quase 30%!
Temos hoje 4.292 pessoas advindas de longas internações em Hospitais Psiquiátricos ou em
Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico recebendo o benefício do PVC, vivendo com seus
familiares ou nos serviços residenciais terapêuticos e acompanhadas pelos CAPS e/ou Unidades Básicas
de Saúde do SUS. Estas pessoas fazem as coisas simples e complexas do dia a dia, realizam desejos,
cuidam de si, fazem compras, passeiam, retomam os estudos, resgatam laços familiares ou encontram
novas amizades, sonham e projetam o futuro, entram e saem de casa com liberdade - plurais e
singulares projetos de vida,
cidadãos presentes nas
cidades e que têm múltiplas
histórias para contar.
10 anos do Programa “De Volta para Casa”:
4292 histórias para contar
Desinstitucionalização: Direito à Cidade e à Liberdade
Acesse o passo a passo para
o cadastramento de
beneficiários do PVC no link:
http://goo.gl/v9Pb0w
Mais informações:
http://pvc.datasus.gov.br/
Pôster Comemorativo dos dez anos do PVC, 2013.
17
E m dezembro do ano passado, aconteceu em Curitiba/PR o I Encontro Nacional das Redes de
Atenção Psicossocial do SUS. Este evento foi realizado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-
Americana de Saúde e teve a colaboração da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba e o apoio da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, da Prefeitura de Curitiba e da Secretaria de
Saúde do Paraná.
A ideia inicial foi justamente essa: um Encontro, vários encontros; criar uma oportunidade para
compartilhar as mais diversas experiências, discutir temas cotidianos e caros a todos/as nós e elaborar
proposições coletivamente... celebrar o cuidado em liberdade! Um espaço que se fazia necessário após
3 anos desde a última grande reunião, na IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial.
Na etapa de organização do Encontro, aproveitamos o formulário de Pré-Inscrições para consultar
quais os temas mais presentes e urgentes no dia a dia da RAPS. As principais indicações foram: os novos
dispositivos de saúde; a ampliação do acesso; a garantia da qualidade do cuidado; a questão do
álcool e das outras drogas; o debate das internações compulsórias; os processos de
desinstitucionalização; a intersetorialidade; a saúde mental na infância e na adolescência; a interface
com a atenção básica; o protagonismo de usuários e familiares e a afirmação e construção de direitos.
O Encontro das Redes foi tecido em Conferências, Mesas-Redondas, Ágoras, Apresentações de
Pôsteres e Rodas de Conversa, Cursos e Programações Culturais (música, escolas de samba, teatro). E se
inicialmente a ideia de Ágora causou estranhamento, cada vez produzia mais sentido: com influência de
experiências do Mental Tchê, as ágoras, na história grega, remontam às praças, espaços de expressão
cultural e discussões políticas, constituintes fundamentais do espaço urbano na pólis e do exercício da
cidadania. Daí nossa inspiração.
Foram três dias de intensos debates, muitos encontros, muitas conversas. O nosso intuito de fato era
de que se criasse um momento entre a rede, para que a rede possa se reconhecer como única, que
possa se fortalecer sabendo que existe por todo o país parceiros que estão no mesmo barco e na
mesma luta...
Participaram deste grande Encontro aproximadamente 3 mil pessoas, vindas do Caburaí ao Chuí,
entre representantes de todos os Estados (!), das três esferas de governo, usuários/as, familiares,
trabalhadores/as, representantes de associações e dos movimentos sociais, pesquisadores, docentes e
estudantes.
Assim, o primeiro Encontro Nacional da RAPS expressou nossa certeza sobre o percurso político da
Reforma Psiquiátrica, bem como o desafio de consolidar práticas emancipatórias a partir da garantia do
direito à saúde mental. Em suma, é a certeza de que o Encontro demarcou não mais um ponto de
chegada, mas um novo ponto de partida, sinalizado pelas tantas trocas resultantes da convivência entre
todos nós ao longo de todos os dias.
Redes de Encontros
Em breve lançaremos uma Edição Especial do Viramundo exclusivamente sobre este encontro histórico!
18
No Brasil, a história do controle do Estado sobre crianças e jovens foi marcada pela construção de
um modelo centrado na institucionalização, que levou à expansão de diversas instituições fechadas de
caráter filantrópico e à privação da liberdade dessa população. Neste campo, temos como marco legal
as seguintes legislações: Código Mello Mattos de 1927 e Código de Menores de 1979. O código Mello
Mattos tinha por finalidade o “saneamento social”, ao “juiz de menores” cabia intervir na vida da
população infantojuvenil. Nesse período (1927-1979) surgiu o termo “menino de rua”, através dos meios de
comunicação de massa, que associavam a infância e a juventude à periculosidade. Em 1979, entrou em
vigor o Código de Menores, que era caracterizado pelo entendimento de que havia situações de risco na
realidade infantojuvenil, e que isso precisava ser controlado com internações em massa.
Na década de 80, a Constituição Federal (1988) marcou uma mudança significativa, consagrando
valores baseados no respeito à dignidade e aos direitos fundamentais da pessoa humana, entendendo
crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. Em seguida, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) de 1990, calcado na doutrina da proteção integral, abandonou a visão dos antigos códigos
fundados no assistencialismo, deslocando as ações para a proteção integral de crianças e adolescentes,
desencadeando no país, em diversas instâncias, debates cada vez mais aprofundados sobre a
necessidade de se criar políticas públicas diferenciadas para crianças e adolescentes. Pautou também a
garantia de “preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas”, além de
“destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à
juventude”.
A nova doutrina da proteção integral vem superar a ideia do assistencialismo do Estado voltado
para o controle e asilamento de crianças e adolescentes e entre outros parâmetros importantes, prevê
que a privação de liberdade seja tomada sob critérios de excepcionalidade, com mínimo período de
duração. Esses princípios fundamentais, no Brasil, estarão presentes na Constituição Federal de 1988 – que
afirma a condição cidadã de crianças e adolescentes, com ampla garantia de direitos; e também na Lei
12.594 de 2012 - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que estabelece parâmetros e
diretrizes para a execução das medidas socioeducativas. O Sinase busca parâmetros mais justos que
evitem ou limitem a discricionariedade e reafirma o caráter pedagógico da medida socioeducativa.
Além disso, ratifica o ECA ao priorizar as medidas em meio aberto (Prestação de Serviço à Comunidade -
PSC e Liberdade Assistida - LA) em detrimento daquelas restritivas de liberdade (Semiliberdade e
Internação), pois considera que estas devem ser aplicadas em caráter de excepcionalidade e
brevidade.
É importante destacar que essas premissas buscam reverter uma tendência crescente de
internação de adolescentes, que tem sido avaliada como tendo uma “eficácia invertida”, pois o maior
rigor das medidas não tem levado à maior inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo.
Em 2005, com a publicação “Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juvenil“ do
Ministério da Saúde, é
apresentado um conjunto de
contribuições de distintas
áreas para uma abordagem
pública deste tema.
Destacamos alguns de seus
princípios e diretrizes a seguir:
Política Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil
Saúde Mental Infantojuvenil
Encontro realizado em maio de 2013: “Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes
no SUS: tecendo redes para garantir direitos”
19
• Criança e adolescente como sujeito de direitos: implica a noção de singularidade, impedindo
que o cuidado se exerça de forma homogênea, massiva e indiferenciada. É incluir, no centro das
discussões e construções de uma política, a criança ou o adolescente como sujeito, com suas
peculiaridades e responsabilidades.
• Acolhimento universal: as portas de todos os serviços públicos de saúde
mental, especialmente serviços voltados para a infância e adolescência, devem
estar abertas a toda e qualquer demanda dirigida ao serviço de saúde do
território.
• Construção permanente da rede: o serviço inclui no corpo de suas
competências o trabalho com os demais equipamentos e dispositivos do território,
permanentemente construindo a rede. Tal concepção de rede articula a ação
do cuidado para fora e para além dos limites da instituição e implica a noção de
território.
• Território: espaço onde acontecem as relações, vivências e circulação do sujeito. É construído
por instâncias pessoais e institucionais, incluindo a casa, a escola, a igreja, o clube, a lanchonete, o
cinema, a praça, a casa dos colegas, a unidade de saúde e todas as outras, incluindo-se centralmente o
próprio sujeito na construção do território. O território é o lugar psicossocial do sujeito.
• Intersetorialidade na ação do cuidado: o conjunto das ações no campo da saúde mental
infantojuvenil deve incluir intervenções junto a todos os equipamentos que de alguma forma estejam
envolvidos na vida das crianças e adolescentes que acompanham.
Além disso, com a constituição do Fórum Nacional sobre Saúde Mental Infantojuvenil, através da
Portaria 1608/2004, estabeleceu-se um espaço intersetorial de caráter representativo e deliberativo que
objetiva o fortalecimento da Política de Saúde Mental Infantojuvenil.
Dentre as realizações que reafirmam e consolidam as diretrizes dessa política, podemos apontar:
- Diminuição do parâmetro populacional do CAPSi através da republicação da Portaria 3.088 de
23 de dezembro de 2011, republicada em 21 de maio de 2013;
- I Congresso Brasileiro de CAPSi - CONCAPSi realizado em abril de 2013 em conjunto pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com apoio do
Ministério da Saúde;
- Fórum Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil, realizado em Brasília em 2012, e Fóruns Regionais
em 2013, que ocorreram nas regiões Sul (Curitiba/PR), Centro-Oeste (Campo Grande/MS) e Norte (Belém/
PA);
- Encontro “Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes no SUS: tecendo redes para garantir
direitos”, realizado pelo Ministério da Saúde e Conselho Nacional do Ministério Público, em maio de 2013.
O documento produzido será lançado ainda neste ano;
- Produção da “Linha de Cuidado para a atenção às pessoas com transtorno do espectro do
autismo e suas famílias na RAPS do SUS”, construído por grupo de trabalho diversificado do Ministério da
Saúde e representantes de Universidades, sociedade civil, gestores e profissionais de RAPS entre outras.
Acesse o documento preliminar em http://goo.gl/Qxdjle
- Comitê Nacional de Assessoramento para Qualificação da Atenção à Saúde das Pessoas com
Transtornos do Espectro do Autismo no âmbito do Ministério da Saúde, instituído em maio de 2013;
- Chamamentos públicos nº12/2012 e nº 04/2014 do Edital Viva Jovem da Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, que têm como estratégias a promoção da saúde e a
redução de danos, construção de espaços de vida, e enfrentamento à violência letal.
Apesar dos avanços, a implementação da Política Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil
apresenta diferentes desafios. A ampliação de espaços de discussão e organização de diferentes setores
da sociedade possibilita a construção de novas formas de cuidar dessa população.
Saúde Mental Infantojuvenil
Acesse: http://goo.gl/fZjaNM
20
Iniciativas de prevenção às drogas entre jovens e famílias:
possíveis inovações
Saúde Mental Infantojuvenil
estão prioritariamente voltadas para crianças
(no caso do Good Behavior Games), para
adolescentes (no caso do Unplugged) e para
adolescentes e seus pais/responsáveis (no caso
do Strengthening Families Program).
No Brasil, as três estratégias de prevenção
citadas vêm passando por um intenso processo
de adaptação cultural de seus formatos,
conteúdos e atividades para que sejam
adequadas aos diferentes contextos que
constituem a realidade do país. Desde 2013, em
parceria com secretarias das áreas da Saúde,
Educação e Assistência Social de municípios e
estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, as
metodologias estão sendo implementadas por
meio de atividades organicamente intersetoriais,
com o objetivo de fortalecer as diferentes redes
de proteção nas quais estão implicados
diretamente os participantes prioritários: os/as
jovens e suas famílias. Além disso, para que se
mantenham os resultados dos programas
preventivos, vêm sendo conduzidos estudos de
monitoramento de processo de implementação
de cada uma das estratégias, bem como se
está promovendo estudo randomizado
controlado das versões brasileiras dos
programas para avaliação de sua efetividade
no Brasil. As cidades que estão participando
atualmente dos programas são Tubarão (SC),
Florianópolis (SC), Curitiba (PR), São Paulo (SP),
São Bernardo do Campo (SP), Brasília (DF), João
Pessoa (PB) e Fortaleza (CE).
O campo da prevenção ao uso e
abuso de álcool e outras drogas vem se
inserindo na discussão sobre as políticas de
saúde mental de modo particular. Há iniciativas
que adotam estratégias preventivas visando
menos à transferência de informações sobre os
danos causados pelas drogas e mais à
promoção de habilidades de vida e
potencialização dos fatores de proteção que
eventualmente levam os sujeitos ao uso, abuso
e dependência de substâncias. Desse modo, a
prevenção ao álcool, tabaco, crack e outras
drogas traduz-se, na prática, em ações que
qualificam os vínculos entre os sujeitos e entre os
sujeitos e as instituições às quais estão
vinculados em um movimento de inclusão social
e de exercício de cidadania. Aposta-se
precisamente na ativação de mecanismos de
inclusão (por exemplo, através do
fortalecimento da rede de proteção) para
evitar uma série de exclusões sociais,
econômicas e culturais que acabam por
conduzir os indivíduos ao uso e abuso de
sustâncias (ver “Perfil dos usuários de crack e/ou
similares no Brasil” – Brasil, 2013).
A Coordenação Geral de Saúde Mental,
Álcool e Outras Drogas, em parceria com o
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (UNODC), vem implementando no Brasil
três estratégias de prevenção no campo do
álcool e outras drogas com resultados exitosos
no que tange à promoção de habilidades de
vida e potencialização de fatores de
prevenção: Good Behavior Game (GBG),
Unplugged e Strengthening Families Program
(SFP). Essas são estratégias que já foram
monitoradas e avaliadas por décadas em
países da Europa e América do Norte, cujos
resultados são aferidos por meio de estudos
sistemáticos de eficácia e efetividade e que
apontam para impactos relevantes para a
redução do consumo de drogas. Tais estratégias
21
Saúde Mental Infantojuvenil
autonomia dos/as educandos/as, sendo esta
pressuposto para a construção de coletivos
democráticos. Trata-se de uma proposta lúdica
realizada concomitantemente a qualquer
atividade escolar que não necessite da
intervenção direta do/a educador/a. Os jogos
são realizados em sala de aula, coordenados
pelos/as professores/as, e duram cerca de 10-30
minutos. Podem ser jogados ao longo de um ano
letivo.
Já o Fortalecendo Famílias, versão brasileiro
do Strengthening Families Program, é uma
estratégia de acompanhamento familiar que
acontece por meio de encontros semanais
dirigidos com duas horas de duração, nos quais
as famílias são convidadas a refletir sobre seus
valores, dinâmicas e metas. Na primeira hora é
formado o grupo de pais/responsáveis e o grupo
de adolescentes separadamente. Na segunda
hora, ambos os grupos se reúnem. Há sessões
gravadas e apresentadas em DVD, com tempo
cronometrado para discussão, que disparam
debates e realização de atividades de ambos os
grupos. As famílias participantes devem ser
representadas por 2 adultos (pais/responsáveis) e
pelo menos uma criança/adolescente entre 10 e
14 anos. Ao todo, o programa prevê um encontro
por semana ao longo de sete semanas – isto é,
são sete encontros de duas horas de duração nos
quais pais/responsáveis e filos/as participam de
atividades, debates, jogos e lanches
comunitários. O oitavo encontro é uma grande
confraternização entre os/as participantes.
O #tamojunto, versão brasileira do
Unplugged, é um programa de prevenção ao uso
de drogas realizado em escolas, voltado para
adolescentes entre 10 e 14 anos de idade. Tem
como objetivo instrumentalizar adolescentes com
habilidades e recursos específicos para que
possam lidar com influências sociais adquirindo
conhecimento sobre drogas e suas consequências
para a saúde. O programa #tamojunto propõe
doze aulas conduzidas por professores que tenham
educandos entre os dez e os quatorze anos, entre
a sexta e a oitava séries do Ensino Fundamental.
Nessas doze aulas, há uma série de jogos,
brincadeiras, debates, questionários e informações
que visam à redução do consumo regular ou
abusivo de álcool e outras drogas, à prevenção
da transição do uso esporádico para o uso
frequente de drogas pelos jovens. Sua linha teórica
baseia-se no modelo de influência social global,
sustentanda pelo tripé: a) promoção de
habilidades de vida, b) informações sobre drogas
e c) pensamento crítico frente às crenças
normativas dos educandos que participam das
aulas.
O Jogo Elos - construindo coletivos, versão
brasileira do Good Behavior Games, é um
programa voltado para crianças entre seis e dez
anos que cursam o 1º, 2º e 3º anos do Ensino
Fundamental. O Elos se traduz em uma estratégia
de mediação das relações sociais em sala de
aula, que contribui para a produção de uma
interação harmônica e cooperativa entre os/as
educandos/as e com o/a educador/a. Esta
mediação está delimitada por alguns elementos
básicos e necessários para o desenvolvimento da
Os Programas
22
D e vez em vez costuma-se diminuir as
distâncias entre o Norte do país e as manchas
cinza do adensamento urbano. Com a presença
da tecnologia em nosso cotidiano não é difícil se
ver as fotos de satélites e notícias pluviométricas
da região amazônica. No entanto, pouco se tem
na boca do povo e em seu imaginário a maneira
como se vive em partes do país que não
compõem os grandes eixos metropolitanos.
Ou seja: suas agruras, suas belezas, seus
conflitos, as soluções possíveis e boa parte das
expressões e interpretações oriundas do contato
com a realidade desse Brasil não trafegam tanto
quanto deveriam e ficam reduzidas a uma
dimensão regional mesmo que tenham tamanho
e densidade de continente.
O reconhecimento da diversidade e da
adversidade abundantes no Brasil profundo foi já
tema de figuras importantes que trouxeram
grandes contribuições para o reconhecimento
do Brasil pelos brasileiros e mesmo sem a
visibilidade necessária ecoam ainda nos nossos
dias.
No primeiro quartel do século XX Mário de
Andrade esteve pelas bandas do Norte e muito
se manifestou acerca do impacto da vida social
em Belém. Caminhou por diversas regiões da
face ocidental e meridional. Dessa viagem
surgiram livros como “Macunaíma” (1928) e “O
turista aprendiz”(1943), além de fotografias,
recolhimento de canções do nosso folclore e do
nosso artesanato. Mário foi decisivo na
integração cultural brasileira.
Da mesma forma que Mário de Andrade nos
trouxe a possibilidade de contato com um
conjunto de elementos fundamentais da “riqueza
humana”, outros tantos assim o fizeram em
diferentes assuntos. Aziz Ab’saber e Paulo
Vanzolini são dois grandes exemplos do contato
orgânico com a realidade do plano amazônico,
sua dinâmica social e seus desafios. Traduziram
em suas interpretações sobre o Brasil elementos
essenciais da vida humana no contexto
amazônico e ultrapassaram seus campos de
estudo (a Geografia e a Zoologia,
respectivamente).
É preciso salientar em nossa conversa sobre
a região amazônica que se trata de uma região
que ficou por anos distante do profundo debate
sobre a política social. Isso por uma razão
aparentemente simples: a Política Social na
perspectiva dos direitos sociais é decorrência da
sedimentação e do tensionamento das lutas dos
trabalhadores e tem sua maior expressão,
especialmente no que se refere a sua gênese, em
grandes centros urbanos com características de
trabalho fabril. Não se trata aqui de minimizar as
conquistas e as lutas do povo do norte. Grandes
expressões da vida política e social se
desenvolveram na região (podemos tomar o
exemplo da Cabanagem, as mobilizações nas
docas e mais recentemente a luta pela terra).
Brincando com Tolstoi podemos dizer que
temos políticas sociais de caráter universal em
implantação e que a política social que conhece
os pormenores de sua aldeia é a que pode
mesmo ser universal.
Política social e política econômica são duas
faces da mesma moeda. Formam uma trama
complexa marcada por um conjunto de
determinações que, atravessadas pela dimensão
cultural, tomam formas variadas de
sedimentação das práticas e inserções do Estado
contemporâneo na vida das pessoas.
Os bons ventos de Marajó
Debates Regionais
Mario de Andrade diante da Samaúma em Porto Velho,
1927. Acervo IEB-USP.
23
Sabemos que a política social como é
entendida hoje tem suas raízes nas lutas
históricas dos trabalhadores nos contextos
específicos da relação capital-trabalho. Não à
toa, são desenvolvidas historicamente com
maior densidade no seio das cidades, local
privilegiado da acumulação capitalista. A
política de saúde mental, como expressão
particular da política social de modo geral,
ligada nas últimas décadas à ampliação dos
direitos de cidadania, reproduz a ação do
Estado em locais de significativa concentração
da presença humana. Para termos uma
imagem, um município da região metropolitana
de São Paulo como Carapicuíba chega a ter
uma densidade demográfica de até 10 mil
habitantes/km², enquanto no Marajó
encontramos densidades que chegam a 0,5
pessoa/km².
Como aprimorar o sentido da política
dialogando com diversidades tão expressivas?
Estamos conversando aqui sobre o
desenvolvimento assimétrico e ao mesmo
tempo articulado de ações
imprescindivelmente marcadas pela noção de
liberdade diante do histórico saber institucional.
O desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica
Brasileira se associa à necessidade de
aprofundar as compreensões regionais,
favorecer a existência de arranjos locais que,
respeitando as particularidades loco-regionais,
diminuam os vazios assistenciais e ofereçam
respostas para os desafios no campo da saúde.
Notadamente, temos o acesso aos serviços
(que materializa de maneira mais imediata o
direito à saúde) como grande desafio. Junto a
isso, temos a imperiosa necessidade de fixação
de profissionais.
A garantia da descentralização da gestão
e do cuidado parece estar associada à
necessidade de qualificação da gestão,
especificamente na possibilidade de
planejamento, elaboração e execução das
políticas.
Hoje temos nas capitais da região norte
concentração significativa de CAPS, sendo que
uma parcela dos serviços no interior ainda é de
gestão estadual. O processo de
descentralização garante que o gestor tenha
maior autonomia sobre suas propostas,
fortalecendo a noção de política municipal.
Para avançarmos nessa conversa precisamos
passar pelos seguintes pontos:
Ampliação, articulação e qualificação da
rede;
Formação de profissionais apropriados do
processo de desenvolvimento do SUS ;
Capacidade de fortalecer estratégias e
oferecer respostas para atenção à crise;
Só avançamos nessa conversa se
soubermos dialogar com as realidades locais.
Registro de catraieiro feito por Mário de Andrade, ao fun-
do, Santarém. Acervo IEB-USP.
Mário de Andrade, 1927. Acervo IEB-USP.
Debates Regionais
24
Temos algumas notícias sobre o diálogo:
conseguimos em 2013 experienciar o Encontro
da RAPS que reuniu cerca de 3 mil pessoas de
todas as regiões do país e abordou diferentes
questões que aparecem na vida social das
cidades de forma distinta.
Ademais, a grande novidade é o contato
com os ventos do Marajó. Em novembro do ano
que passou foi redigida a “Carta do Marajó”*
pelos gestores das cidades do arquipélago, que
apresenta suas questões diante do território e
trazem de forma propositiva suas manifestações
sobre as condições necessárias para ampliação
doa cesso e qualificação da rede de saúde na
região. Tivemos contato com estes gestores em
reunião na II EXPOGEP (Mostra Nacional de
Experiências em Gestão Estratégica e
Participativa no SUS). Entre as questões
apresentadas, uma que nos parece central é a
ideia de um fator de financiamento
diferenciado.
Dialogar com a realidade regional na
perspectiva da integração das políticas e redes é
um grande desafio para campo da articulação
federativa no Brasil. Para além dos ventos do
Marajó, que nos apontam uma série de aspectos
que estão indiscutivelmente relacionados ao
desenvolvimento do SUS, é preciso que
consigamos fazer uma leitura da realidade local
que considere a existência do impacto das
ações ligadas ao desenvolvimento econômico
na vida das pessoas. Há na região amazônica o
enorme impacto social e ambiental de obras de
infraestrutura como as Usinas Hidrlétricas (UHE), os
complexos minero-siderurgicos, a construção de
portos e estradas. Essa situação nos coloca o
desafio de rever o passado da intervenção do
Estado na Região e apontar para o caminho do
diálogo, que só pode existir diante da
consideração e do conhecimento das
realidades locais.
Para isso temos de considerar a existência
de diferentes custos nas regiões do Brasil, assim
como a dívida histórica com as limitações de
acesso e a coexistência entre a grande
diversidade e riqueza cultural, histórica e política,
com indicadores sociais alarmantes.
Dalcídio Jurandir (1909-1979), grande homem
das letras do Pará, infelizmente tem poucas
edições recentes, a maioria esgotadas. Traz em
suas obras as contradições da vida nas ilhas do
Marajó e nos convida à reflexão ao ser uma farta
referência para o debate do regionalismo na
literatura brasileira. Trata-se de uma das riquezas
do Brasil, escondida, distante; ao mesmo tempo
presente e próximo, absolutamente
contemporâneo ao nosso tempo:
“Ia o mundo sempre para trás? Por que não se
reconstruía o que havia desabado? Por que não
mandavam instalar novamente luz elétrica na
vila? Por que seu pai não mais podia ver em
Belém as companhias teatrais? (...) Os velhos se
lastimavam pelo que acabou. Os novos pelo que
não vinha. Repentinamente, se lembrou de uma
observação feita sobre os catálogos do pai. Neles
vira fábricas, nos Estados Unidos, Inglaterra,
França e Alemanha. Que aconteceria lá para
que as fábricas crescessem? Lá pobre, gasto,
difícil, seria só o passado? Como explicar?
(Dalcídio Jurandir, Três casas e um Rio,1958)
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Pedro Henrique Marinho Carneiro, psicólogo,
integrante da Coordenação de Saúde
Mental, toca violão de cabeça pra baixo e
tem grande simpatia pelo time do Remo.
Debates Regionais
25
E m março de 2014 foi lançado, na IV Mostra
Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde
da Família, o “Guia de Saúde Mental – Atendimento e
Intervenção com Usuário de Álcool e outras
Drogas”, de autoria de Antonio Lancetti, Marco Aurélio
S. Jorge, Sergio Alarcon, Marise L. Ramos e Pedro
Papini. Esta publicação, elaborada para o Projeto
Caminhos do Cuidado, procura reunir de modo claro e
simplificado várias orientações sobre intervenções de
âmbito territorial no campo de Álcool e outras Drogas.
Como o tema é complexo e não pode ser dissociado
dos aspectos que compreendem a atenção
psicossocial, o “Guia” aborda o tema Álcool e outras
Drogas de modo amplo, tratando os elementos do
cuidado em saúde mental que não estão circunscritos
a especialistas.
O Projeto Caminhos do Cuidado é uma iniciativa
do Ministério da Saúde que, juntamente com a Fiocruz
(RJ), o Grupo Hospitalar Conceição (RS) e a Rede de
Escolas Técnicas do SUS, oferece capacitações em
todo o Brasil para Agentes Comunitários de Saúde e
Auxiliares e Técnicos de Enfermagem da Atenção
Básica. Essas capacitações estão em andamento e
serão disponibilizadas para 290.760 trabalhadores da
saúde, reforçando a importância da participação dos
profissionais da Atenção Básica no cuidado em saúde
mental.
O Guia de Saúde Mental – Atendimento e Inter-
venção com Usuário de Álcool e outras Drogas
está disponível em: http://goo.gl/iEV6Pv
Para saber mais sobre o projeto Caminhos do
Cuidado, acesse:
http://www.caminhosdocuidado.org/
Guia de Saúde Mental – Atendimento e Intervenção com Usuários de
Álcool e outras Drogas
Alguns trechos do Guia de Saúde Mental:
“As ações da Estratégia da Saúde da Família
(ESF) devem, em conjunto com a Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS), evitar o isolamento
social e apoiar as famílias para que estas
consigam lidar com seus membros mais
problemáticos.”
“Redução de Danos (RD) é uma estratégia para
aumentar a qualidade de vida das pessoas. Essa
estratégia está fortemente alicerçada no
estabelecimento de vínculo de confiança e
empatia entre profissionais da equipe de saúde e
o usuário. Uma pessoa que está em uma relação
dependente de uso de drogas muitas vezes não
quer, não pode, ou não consegue parar de usar
drogas. Mesmo assim, é preciso que estejamos
dispostos a ajudá-la a cuidar de sua saúde, da
melhor maneira possível.”
“Nos territórios violentos reina o silêncio. Como
disse o filósofo francês Gilles Deleuze, a violência
não fala. O contrário da violência é a palavra, a
solidariedade e as relações democráticas.”
“Um dos maiores clínicos da dependência de
drogas, Claude Olievenstein, disse que o
contrário da droga não é a abstinência, mas a
liberdade.”
Sofrimento e Atenção Básica:
Desafios para a Transformação dos Territórios
26
Projeto Percursos Formativos
A s ações de formação e Educação Permanente no âmbito do SUS são fundamentais para o
desenvolvimento de estratégias e práticas consonantes com os desafios cotidianos da atenção em
saúde, que se transformam a partir da reestruturação dos serviços em rede, modificação da cultura e
fortalecimento de propostas de cuidado no território.
Frente aos desafios vivenciados no contexto da RAPS foi lançado em novembro de 2013 o Projeto
Percursos Formativos. A seleção de projetos se deu por meio de chamada pública, contemplando apoio
financeiro para estados e municípios que desenvolvam projetos de educação permanente no âmbito
específico da troca de experiência entre profissionais e supervisão clinico-institucional. Participam dessa
chamada redes de 21 estados das cinco regiões do Brasil.
A portaria de referência para essa chamada é a portaria Nº 1174/GM de 07 de julho de 2005, que
destina incentivo financeiro para o Programa de Qualificação dos Centros de Atenção Psicossocial -
CAPS e dá outras providências. Dentro dessa proposta, o intercâmbio entre experiências é uma iniciativa
inovadora, que se organiza por meio de módulos de formação. Um módulo de formação é constituído de
uma Rede Receptora e cinco Redes Visitantes.
As redes receptoras irão receber dez profissionais por mês (dois de cada uma das redes visitantes
presentes no módulo) durante 10 meses, apresentando propostas e estratégias desenvolvidas por meio
das práticas em seus territórios, favorecendo a reflexão a partir da troca de experiências. Além disso,
também serão responsáveis por desenvolver cinco oficinas de 40 horas no território de cada um dos cinco
municípios visitantes que compõem o módulo.
As redes visitantes são as que indicaram o interesse em aprimorar e aprofundar as experiências e
conhecimentos a partir da troca de experiência, liberando dois profissionais a cada mês para a vivência
da formação na Rede receptora. Tais profissionais permanecerão “in loco”, no município, durante 30 dias
consecutivos, somando 160h de formação.
Ao final dos 10 meses do Processo de Intercâmbio, prevê-se que pelo menos 20 profissionais de
cada Rede Visitante, mais o coletivo de trabalhadores da RAPS nas Redes Receptoras, tenham
vivenciado essa experiência formativa, totalizando mais de 1700 trabalhadores em trânsito por todo o
Brasil!
Nesta ação estarão contempladas discussões sobre as temáticas de Saúde Mental Infantojuvenil,
Saúde Mental na Atenção Básica, demandas associadas ao consumo de álcool e outras drogas,
Encontro de Planejamento em Brasília, dia 16/04/2014,
com participação de 15 Redes Receptoras.
Radicalizar a Formação na RAPS
Durante o Encontro de Redes
Receptoras, Beatriz Barreiros da
Coordenação de Saúde Mental de
Santo André/SP, falou ao
Viramundo sobre este projeto.
Veja o vídeo em nosso canal do
Youtube: http://goo.gl/dx9R8J.
27
Projeto Percursos Formativos
Encontro de planejamento, dia 28/04/2014, com
participação dos munícipios de Uberlândia/MG,
Rio Pomba/MG, Laranjeiras do Sul/PR, Ijuí/RS,
Capivari/SP e Cândido Motta/SP.
Encontro de Planejamento, dia 28/04/2014, com
participação dos munícipios de Embu das Artes/
SP, Juazeiro/BA, Eunápolis/BA, Teresina/PI e
Moju/PA.
Encontro de Planejamento, dia 12/05/2014, com
participação dos munícipios de Ouro Preto/MG,
Barbacena/MG, Coronel Fabriciano/MG, Boa
Vista/RR, Campo Grande/MS e Iguatu/CE.
Encontro de Planejamento, dia 24/04/2014, com
participação dos munícipios de Resende/RJ,
Palmas/TO, Icó/CE, Imperatriz/MA, Jacobina/BA
e Itaúna/MG.
Radicalizar a formação na RAPS
Atenção à Crise e Urgência em Saúde Mental, Desinstitucionalização e Reabilitação Psicossocial.
Nesta perspectiva, entende-se que o Percursos Formativos se constitui enquanto ação para
qualificação da RAPS, fortalecendo práticas do cuidado à medida que introduz no encontro, no ‘fazer
junto’, a possibilidade da transformação e invenção de novas atuações e papéis.
28
Radicalizar a Formação na RAPS
No início de maio iniciaram as primeiras turmas dos cursos a distância realizados em parceria do Ministério
da Saúde por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação (SGTES) e da Coordenação de
Saúde Mental, com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pelo sistema Universidade Aberta do
SUS (UNA/SUS). Os cursos têm a proposta de construir estratégias que viabilizem a qualificação da atenção
prestada através da formação continuada, especialmente nos serviços e dispositivos da RAPS.
Considerando as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil, foram ofertadas 800 vagas
para o “Curso de atualização em Saúde Mental na infância e adolescência no âmbito da Rede de Atenção
Psicossocial” para profissionais com formação universitária que desenvolvam atividades no cuidado em
saúde mental com crianças e adolescentes na RAPS. Com duração de 100 horas, o curso traz uma
atualização no campo ao tratar dos desafios para o atendimento em Redes de Atenção à Saúde dentro da
regulamentação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e a perspectiva do cuidado interdisciplinar, e
intersetorial.
Também foram ofertadas 2.800 vagas para o curso “Álcool e outras drogas: da coerção à coesão”, no
intuito de oferecer subsídios para a atenção às pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e
outras drogas sob a ótica interdisciplinar e intersetorial, com a perspectiva de trabalho em rede e da defesa
dos direitos humanos.
Por fim, o curso “Crise e urgência em saúde mental” ofereceu 800 vagas com a finalidade de abordar as
situações de crises mais prevalentes, urgência em saúde mental e possibilidades de cuidado, bem como os
desafios para o atendimento nas Redes de Atenção em Saúde. Há a previsão de novas vagas para o
próximo semestre.
Também já aconteceram reuniões de planejamento no Município de Embu das Artes/SP, Coronel Fa-
briciano/MG, São Paulo/SP, Recife/PE, São Lourenço/RS. E ainda estão previstos outros oito encontros de
planejamento.
O módulo de formação composto pelos municípios de Resende/ RJ, Palmas/TO, Icó/CE, Imperatriz/
MA, Jacobina/BA e Itaúna/MG iniciou o primeiro mês do intercâmbio dia 05/05/2014. Os demais módulos
começarão as atividades de intercâmbio a partir do dia 21/07/2014.
Para as próximas edições do Viramundo, selecionaremos relatos de experiência do
Percursos Formativos. Envie sua contribuição!
Encontro de Planejamento, dia 12/05/2014, com
participação dos munícipios de Santo André/SP,
São Vicente/SP, Sorocaba/SP, Joinville/SC,
Araranguá/SC, Guaíba/RS, Caruaru/PE, Horizonte/
CE e dos estados do Tocantins e do Acre.
Encontro de Planejamento realizado em 14 de
maio de 2014 em São Paulo com a
participação dos municípios de Contagem/
MG, Vitória da Conquista/BA e Goiânia/GO.
Cursos a Distância
29
Coletivizando Direitos
S ão amplas, complexas e nefastas as consequências do racismo na sociedade brasileira. As mais
visíveis se percebem em qualquer espaço público: seja na gritante e evidente maioria negra nas funções
e nos lugares menos valorizados de nossa estrutura social, seja na igualmente escandalosa exclusão da
negritude dos espaços centrais e oficiais de tomada de decisão. Essa cruel organização de uma
sociedade estratificada racialmente é escancarada dia a dia nas ruas, em imagens e em dados
estatísticos.
Não menos violentas, entretanto, são as consequências psíquicas do racismo para a população
negra do país. O estigma racial marca de forma indelével as subjetividades de quem vive o racismo no
cotidiano. “O mais profundo é a pele”, dizia o poema de Paul Valéry. Profundas são as dores causadas
pelo racismo em uma sociedade que discrimina pela cor da pele, diriam os milhões de negros e negras
do Brasil.
O racismo brasileiro – instituído pelas relações escravistas que estruturaram o país e seu imaginário
desde o início da colonização europeia – é antes de tudo um sistema de discriminação das pessoas
quanto ao seu valor em função da cor de sua pele e de sua origem. A população negra do país, trazida
à força de lugares diversos do continente africano para o trabalho escravo, vem sendo há séculos
tratada como inferior em suas qualidades e potencialidades. Esse cenário produz sofrimentos profundos,
mas também mobilização e afirmação da negritude.
Organizados de diversas formas para enfrentar o
racismo desde a luta contra a escravidão, coletivos e
movimentos negros acumulam importantes conquistas.
Hoje, o próprio Estado reconhece a existência e o peso do
racismo, e busca com a sociedade formas de enfrentá-lo e
de promover a igualdade racial. Exemplos importantes são
as políticas de ação afirmativa e políticas setoriais, como a
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, no
SUS.
A Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, do Ministério da Saúde, vem
buscando somar forças para promover o enfrentamento ao racismo institucional na Rede de Atenção
Psicossocial e para garantir a atenção e o cuidado a quem experimenta sofrimento psíquico decorrente
do racismo. Em parceria com o Departamento de Apoio à Gestão Participativa (DAGEP), do Ministério da
Saúde, foi realizada no I Encontro Nacional da RAPS, em dezembro de 2013, uma Mesa Redonda para
discussão do tema “Racismo, Saúde Mental e Direitos Humanos”, com a participação de gestores/as,
trabalhadores/as e usuários/as da saúde, bem como representantes da sociedade civil e da academia.
A conversa no Encontro da RAPS deu origem ao Grupo de Trabalho sobre Racismo e Saúde Mental,
que realizou sua primeira reunião em Brasília, no último dia 9 de abril. O segundo encontro foi no dia 27 de
maio, e o GT está empenhado na construção de estratégias efetivas para enfrentamento ao racismo
institucional e ao sofrimento psíquico decorrente do racismo. É só com o amplo engajamento de forças
diversas da sociedade brasileira que poderemos superar o racismo e suas trágicas consequências
psíquicas, permitindo que as subjetividades negras se manifestem em toda sua potencialidade.
Como escreveu a grande militante negra e psicanalista Neusa Santos Souza, no já clássico Tornar-se
negro, “ser negro é tomar consciência do processo ideológico que, através de um discurso mítico acerca
de si, engendra uma estrutura de desconhecimento que o aprisiona numa imagem alienada, na qual se
reconhece. Ser negro é tomar posse desta consciência e criar uma nova consciência que reassegure o
respeito às diferenças e que reafirme uma dignidade alheia a qualquer nível de exploração. Assim, ser
negro não é uma condição dada, a priori. É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro.”
Acesse em: http://goo.gl/Qp91sX
O GT de Racismo e Saúde Mental está preparando uma Webconferência para toda a Rede.
Em breve divulgaremos mais informações!
30
Coletivizando Direitos
Q uestões relacionadas à saúde mental em contexto indígena têm sido um grande desafio para a
saúde pública brasileira. Em cenário de grande vulnerabilidade, envolvendo disputas territoriais, ameaças,
situações de miséria e tensões constantes, algumas comunidades encaram problemas como altas taxas
de suicídio, violência e uso prejudicial de álcool e outras drogas. Por trás desse cenário, apesar da
variedade de contextos locais, estão os projetos hegemônicos de desenvolvimento nacional, onde a
imensa diversidade de povos que habitam o país deve ser considerada. O modelo de agronegócio
baseado no latifúndio, na monocultura e na exportação, a estratégia energética dependente de obras
de alto impacto socioambiental, o racismo estrutural e um ideal hegemônico de cultura alicerçado em
referenciais europeus são as principais causas do sofrimento dos povos originários do Brasil.
Tem sido chamado de “novo constitucionalismo latino-americano” o movimento que culmina com a
promulgação das constituições do Equador e da Bolívia, respectivamente em 2008 e 2009. Ambas foram
construídas em um contexto de ampla participação dos movimentos indígenas e de garantia dos direitos
de todos os povos que habitam o território dos países. Dentre os vários pontos que aproximam as duas
cartas magnas, um dos mais destacados é a ideia do “bem viver” como um princípio constitucional e um
ideal a ser atingido por toda a sociedade.
O princípio do bem viver, que nas novas constituições aparece também nos idiomas indígenas
majoritários dos dois países (na Bolívia, suma qamaña, em aymara; no Equador, sumak kawsay, em
quéchua), pode ser definido como “o equilíbrio material e espiritual do indivíduo (saber viver) e a relação
harmoniosa do mesmo com todas as formas de existência (conviver)” (Margot Mariaca*). Trata-se de uma
ideia cara às cosmologias de muitos povos ameríndios, que pela primeira vez atinge o status de princípio
constitucional nos novos Estados Plurinacionais (ou seja, Estados que reconhecem a convivência de
muitas nações, em oposição ao modelo europeu moderno de Estado Nacional).
Após séculos de colonização, racismo, genocídios, expropriação de seus territórios tradicionais e
formas diversas de violência, os povos indígenas da América-Latina e do Brasil travam luta incessante
pelos seus direitos, afirmando seu protagonismo enquanto povos autônomos. Sua luta supera em muito a
busca por direitos individuais, tendo como norte as coletividades e as relações entre as pessoas,
garantindo a multiplicidade de formas de existência e a diversidade de saberes.
Se o paradigma que pressupõe a superioridade do saber e das práticas ocidentais está na raiz do
sofrimento dos povos indígenas no país, não pode haver erro maior que o de tentar curá-lo com o próprio
veneno. Assim, pensar os problemas desses povos com os mesmos conceitos que usamos e tentar aplicar
as mesmas ferramentas para resolvê-los é reproduzir o modelo que lhes retira a autonomia e o
protagonismo e deslegitima seus saberes próprios. A própria noção de saúde mental, portanto, deve ser
posta em questão – afinal, o conceito de “mente” não é invenção de um momento histórico singular,
ocidental, urbano, moderno?
Sabemos que são de grande riqueza, inclusive na capacidade de inovação, os conhecimentos
indígenas sobre as técnicas de cura e cuidado, envolvendo ciências sofisticadas sobre o uso das plantas
de seus territórios e os saberes espirituais. Não rejeitam, no entanto, os saberes e os recursos do ocidente,
sobretudo quando podem ajudar a lidar com problemas causados ou agravados pelo contato com o
homem branco. Sendo assim, qualquer ação de cuidado em saúde relacionada aos povos indígenas
deve necessariamente partir de uma perspectiva intercultural, intersetorial e multidisciplinar. No contexto
O Bem Viver e os Povos Indígenas
31
Coletivizando Direitos
da saúde mental, RAPS, DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) e as próprias comunidades devem
construir juntos suas estratégias de cuidado e promoção da saúde.
Falar em saúde mental, em qualquer contexto, requer uma visão ampliada de saúde e seus
determinantes – as políticas de saúde mental, cada vez mais abrangentes em suas estratégias,
envolvem uma visão complexa e intricada que inclui uma vasta rede de relações, uma ampla reflexão
sobre a cidade, a cultura, os direitos humanos e a vida em comunidade, um entendimento elaborado
sobre o trabalho, a moradia e a autonomia dos sujeitos. Quando se trata do contexto indígena devemos
ir ainda mais longe, pondo em perspectiva nossas crenças mais arraigadas, abrindo-nos a formas muito
diferentes de compreensão do mundo.
O que está em questão é o próprio lugar que a diferença ocupa em nossos projetos de
humanidade e de sociedade. O conceito de “bem viver”, em toda sua amplitude e no respeito que
implica a todas as formas de existência, pode ser um bom horizonte para a efetivação da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde Mental das Populações Indígenas. Temos a oportunidade – e
talvez não haja uma próxima – de embarcar na onda dos projetos de reinvenção do Estado e da
própria sociedade propostos por bolivianos/as e equatorianos/as e repensar o lugar que a diferença tem
ocupado no projeto brasileiro de desenvolvimento. Essa diferença é a que inclui povos indígenas,
quilombolas, ciganos, ribeirinhos e todos aqueles que vigoram em outra lógica que a do consumo e da
mercadoria.
* MARIACA, Margot, "¿Qué es el Suma Qamaña?", disponível em: http://goo.gl/dg0VKj
Pedro MacDowell, antropólogo, integrante da
Coordenação de Saúde Mental, Álcool e
outras Drogas, fundador e puxador da Horda
Carnavalesca Até Parece.
O Bem Viver e os Povos Indígenas
A Coordenação Geral de Saúde Mental,
Álcool e outras Drogas (CGMAD/DAET/SAS/
MS) e a Coordenação Geral de Atenção
Primária à Saúde Indígena (CGAPSI/DASI/
SESAI/MS) participarão das atividades da
Ação Karajá, evento que ocorrerá de 2 a 6 de
junho nas quatro aldeias Karajá da Ilha do
Bananal, no estado do Tocantins. A Ação
Karajá ocorre desde 2012, como uma resposta
do povo Karajá ao grande número de suicídios
ocorridos em suas aldeias nos últimos anos.
Participam também representantes da Funai e
do DSEI Araguaia. Na próxima edição do
Viramundo traremos mais notícias desta ação!
32
Expediente
Expediente
Coordenação Geral
Roberto Tykanori Kinoshita
Coordenação adjunta
Fernanda Nicácio
Alexandre Trino
Pauta: Fernanda Nicácio
Conselho editorial | Arte | Diagramação:
Adélia Benetti de Paula Capistrano
Marcel Henrique de Carvalho
Pedro de Lemos MacDowell
Endereço
Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool
e outras Drogas. SAF-Sul, Trecho 2, Lotes 05/06,
Torre II , Ed. Premium, térreo, sala 13.
CEP:70070-600
Telefone: (61) 3315-9144
Agradecemos a generosa colaboração de
Rosangela Ogawa, Marta Soares, Maxwell
Vilela e o Fórum Mineiro de Saúde Mental de
Minas Gerais, Moisés Ferreira, Beatriz Barreiros,
para esta edição.
Equipe da Coordenação de Saúde Mental
Adélia Benetti de Paula Capistrano Alexandre
Teixeira Trino Ana Carolina Conceição Andrea
Borgli Moreira Jacinto Anissa Rahnamaye Rabbani
Aretuza Santos de Oliveira Freitas Arthur Mamed
Cândido Barbara Coelho Vaz César Henrique dos
Reis Cinthia Lociks de Araújo Claudio Antônio
Barreiros Cleide Aparecida Souza Daniel Adolpho
Daltin Assis Denis Wilson Recco Enrique Araújo
Bessoni Fernanda Nicácio Gabriela Hayashida
Greici Cristhina Justino Ingrid Hrusa Coutinho da
Silva, Isadora Simões de Souza Jakson Silva Brito
Janaina Barreto Gonçalves Jaqueline Tavares de
Assis Hinara Helena Silva Pereira de Souza June
Correa Borges Scafuto Keyla Kikushi Câmara
Leisenir de Oliveira Marcel Henrique de Carvalho
Luiz Felipe Zago Maria Fernanda de Silva Nicácio
Mariana da Costa Schorn Mariane Ribas Barbosa
Michaela Batalha Juhasova Milena Leal Pacheco
Nádia Maria Silva Pacheco Patricia Herli Diniz
Patricia Portela de Aguiar Patrícia Santana Santos
Paula Valicchelli Yamaoka Pedro de Lemos
MacDowell Pedro Henrique Marinho Carneiro
Pollyanna Fausta Pimentel de Medeiros Raquel de
Aguiar Alves Raquel Turci Pedroso Roberto Tykanori
Kinoshita Rubia Cerqueira Persequini Samia Abreu
Oliveira Silvana Di Maio Andrade Santiago Taia
Duarte Mota Thais Soboslai Thiago Monteiro Pithon
Viviane Paula Rocha Wanda Ferreira Vasconcelos
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Foto: intervenção da Casa
de Saúde Anchieta, 1989.
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