XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO AGRÁRIO E AGROAMBIENTAL
NIVALDO DOS SANTOS
VALMIR CÉSAR POZZETTI
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D597Direito agrário e agroambiental [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Nivaldo Dos Santos; Valmir César Pozzetti -Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-405-1Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
CDU: 34
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Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Meio Ambiente. 3. Dignidade. 4. Campo. XXVI
Encontro Nacional do CONPEDI (26. : 2017 : Brasília, DF).
XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO AGRÁRIO E AGROAMBIENTAL
Apresentação
A edição do XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, ocorrida em Brasília/DF, em
julho de 2017 consolida o Direito Agrário e Agroambiental como áreas de ampla produção
acadêmica em programas os mais diversos, em todos os quadrantes do país.
O grande interesse demonstrado pelos pesquisadores em estudar temas dessas áreas
encontrou, nas sessões do Grupo de Trabalho realizadas no evento, uma enorme
receptividade e oportunidade de discussão.
A obra que ora apresentamos reúne os artigos selecionados, pelo sistema de dupla revisão
cega, por avaliadores ad hoc, para apresentação no evento.
Diversamente do ocorrido em edições anteriores, na atual obra constatamos uma diversidade
temática tal, incapaz de propiciar um bloco de interesse específico dos pesquisadores, senão
que estamos ampliando, cada vez mais, o alcance do Direito Agrário nos temas discutidos.
Apresentamos, assim, os trabalhos desta edição.
O trabalho intitulado “A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DO FUNRURAL E SUAS
CONSEQUENCIAS PARA OS PRODUTORES RURAIS: UMA ANÁLISE POLITICA E
JURIDICA DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL”, de autoria de Thiago
Henrique Costa Silva e Maria Izabel de Melo Oliveira dos Santos, aborda dados historiais e a
partir daí, procura oferecer suporte teórico apto a demonstrar a necessidade de um olhar mais
cuidadoso ao crescente número de idosos no país e a necessidade de se identificar um custeio
previdenciário ao homem do campo, que lhe assegure existência digna, concluindo, dessa
forma, que a contribuição ao FUNRURAL é constitucional.
Os autores Fernanda Martins Albuquerque Soares e Lilian Pereira da Cunha trabalham nova
discussão sobre a luta pela terra e sua atualidade, no artigo intitulado “REPÚBLICA DE
TROMBAS E FORMOSO – GOIÁS (1950 – 1964): ORIGEM, APOGEU E
CRIMINALIZAÇÃO DE UM MOVIMENTO SOCIAL CAMPONÊS”, que analisa o
complexo de informações sobre a temática dos movimentos sociais ligados ao campo e uma
história de esfacelamento, destacando-se, no estado de Goiás, a luta dos posseiros em
Trombas e Formoso, pelo acesso à terra, e questiona o processo de criminalização do
movimento social camponês de Trombas e Formoso, indagando se o mesmo representou uma
violência institucionalizada ou apenas uma prática de defesa social para a manutenção da
ordem. Apresenta, portanto, um contexto histórico da gênese e desenvolvimento desta
Republica Campesina.
O papel das unidades de conservação fica evidenciado no trabalho intitulado “AS
RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL E A NECESSIDADE DA
INSTITUIÇÃO DE ÁREAS PRIVADAS AMBIENTALMENTE PROTEGIDAS NOS
IMÓVEIS RURAIS DO SUL DO ESTADO DE GOIÁS”, de André Luiz Duarte Pimentel,
que analisa a necessidade da instituição voluntária da Reserva Particular do Patrimônio
Natural nas propriedades agrárias situadas no Sul do Estado de Goiás, onde tais reservas
inexistem. Destacada a importância da criação volitiva dessas reservas como mecanismo para
o cumprimento e efetividade da função socioambiental da terra e também para a preservação
do bioma Cerrado.
Romulo Cesar Barbosa Marques e Luciana Ramos Jordão brindam seus leitores com um
trabalho intitulado “ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO ESTADO DE
GOIÁS: DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL COMO FORMA DE SUPERAÇÃO
DA QUESTÃO AGRÁRI” no qual analisam a assistência técnica e extensão rural no estado
de Goiás, sob o prisma do desenvolvimento agroambiental e a superação da questão agrária;
para isso fazem um escorço histórico da criação de órgãos de assistência e fomento,
discutindo as novas políticas de fomento rural e as necessidades do pequeno produtor
contemporâneo.
Já o trabalho “CORUMBÁ DE GOIÁS: UMA HISTÓRIA DE LUTA NO CAMPO”, de
Natasha Gomes Moreira Abreu e Nivaldo Dos Santos, discute, sob a ótica dos conflitos
coletivos agrários, o direito de posse e proteção jurídica da propriedade da terra e a condição
de atendimento da função social. O estudo é desenvolvido a partir de revisão sobre as teorias
da posse, e a sua repersonalização e, ao final, é debatida a função social nas ações de
reintegrações de posse através do estudo de caso do processo de Reintegração de Posse da
Fazenda Santa Mônica em Corumbá de Goiás, e no final, analisa de forma crítica, a decisão
judicial exarada.
O trabalho intitulado “DIREITO À TERRA E A AQUISIÇÃO DE TERRAS POR
ESTRANGEIROS” é explorado por Isabella Andrade Ferreira Xavier e Vilma de Fátima
Machado, em um estudo que demonstra o quanto as restrições impostas pela lei nº 5.709/71
na aquisição de terras por estrangeiros são importantes para a soberania e segurança nacional
e que, o afrouxamento dessas restrições podem ocasionar a perda da identidade na relação
entre homem, terra e território, gerando riscos na proteção do patrimônio cultural e nas
reivindicações de terra, por nacionais.
Já o trabalho intitulado “DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA COMO
VERTENTE DO DIREITO AGRÁRIO: A (IN) EFICÁCIA DO SISTEMA NACIONAL DE
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À
ALIMENTAÇÃO DAS PESSOAS CUSTODIADAS”, de José Augusto Magni Dunck,
discute a importância do direito agrário e a eficácia do Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (SISAN) em formular políticas públicas de desenvolvimento para
concretizar o direito humano, à alimentação adequada, às pessoas privadas de liberdade e
redução da desigualdade social. Com apoio em relatório oficial e realiza diagnóstico sobre a
alimentação dos presos e a eficácia do SISAN. A partir de categorias de Foucault faz debate
sobre a influência do racismo institucional como variável que legitima a ausência de
concretização do direito humano à alimentação adequada a essa parte da sociedade.
Já o estudo jurisprudencial intitulado “EXTERNALIDADES NEGATIVAS
DECORRENTES DO USO DE AGROTÓXICOS E A INSEGURANÇA ALIMENTAR:
UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL”, de Camila
Santiago Ribeiro e Eduardo Gonçalves Rocha, analisa a atuação do Supremo Tribunal
Federal frente aos efeitos negativos gerados pela ampla utilização de agrotóxicos na
produção agrícola, que vem distribuindo ônus para toda a sociedade e contribuindo para o
aumento da insegurança alimentar. As externalidades negativas que têm origem no
agronegócio vão além dos limites econômicos e demográficos da atividade e fazem toda a
sociedade suportar os custos sanitários, ambientais e sociais desse modelo de produção
agrícola. Uma análise das decisões da corte constitucional demonstra como essa questão vem
sendo enfrentada judicialmente.
Os autores Ricardo Araujo Dib Taxi e Liandro Moreira Da Cunha Faro, trazem reflexões
sobre o tema “JUDICIALIZAÇÃO DA QUESTÃO AGRÁRIA E COMUNIDADES
TRADICIONAIS QUILOMBOLAS: O JUDICIÁRIO QUANDO DA ANÁLISE DOS
CONFLITOS TERRITORIAIS”, onde destacam o papel do judiciário nos conflitos que
envolvem direitos territoriais das comunidades tradicionais, observando a tendência do poder
judiciário brasileiro em julgar demandas desta natureza, através de uma estrutura
institucional que provoca violência aos grupos étnicos e seus direitos territoriais.
O trabalho intitulado “O CANCELAMENTO DE REGISTRO DE IMÓVEIS E SUAS
CONSEQUÊNCIAS NO COMBATE À GRILAGEM DE TERRAS NO ESTADO DO
PARÁ“, de autoria de Dauana Santos Ferreira e Rita De Cassia Ferreira De Vasconcelos,
explora os conflitos agrários no Estado do Pará, cuja politica governamental é tendenciosa,
privilegiando a classe economicamente mais forte em detrimento dos pequenos proprietários,
populações tradicionais e propriedade coletiva, destacando que, não obstante a CPI da
Grilagem instituída no âmbito do congresso Nacional, o cancelamento de matrícula de
registro de imóveis no estado do Pará não ocorreu de forma efetiva, prejudicando as
populações fragilizadas, originários proprietários da terra.
Já o trabalho de autoria de Ramon De Souza Oliveira, intitulado “O CIRCUITO ESPACIAL
DA PRODUÇÃO DO CAFÉ A PARTIR DO MUNICÍPIO DE PATROCÍNIO/MINAS
GERAIS” traz contribuições sobre a evolução da cafeicultura em Patrocínio, no estado de
Minas Gerais (MG), discutindo a produção de “cafés finos”, modernização da agricultura, a
agricultura científica globalizada.
O trabalho intitulado “CONFLITO COLOMBIANO NO SÉCULO XX: A PERSPECTIVA
DAS LUTAS POR TERRAS E TERRITÓRIOS COMO DIREITO À TERRA E PAZ”, de
autoria de Luís Felipe Perdigão De Castro e Miquelly Barbosa da Silva, aborda a luta pela
terra, o conflito colombiano no século XX, em especial a dinâmica da legislação rural dentro
dos processos de concentração e exclusão no campo. Parte-se, inicialmente, de um breve
panorama histórico para, na sequência, debater as significações das lutas por terras e
territórios, como busca por direitos e identidades sociais. O pano de fundo é a luta por terra
como elemento transversal das violências contra comunidades camponesas, indígenas e afro-
colombianas. O objetivo é discutir as contradições e rupturas que permeiam as disputas e
legislações agrárias da Colômbia.
Na produção intitulada “CONFLITO DE NORMAS NO ART. 4º DA LEI nº 12.651/2012,
CRITÉRIO HIERÁRQUICO E A TEORIA DO MAL MENOR”, de autoria de João Da Cruz
Gonçalves Neto e Lais Machado Papalardo de Moraes Carneiro, os autores analisam o art. 4º
da Lei nº 12.651/2012 e o consideram carecedor de precisão legislativa, o que pode causar
problemas na interpretação normativa e, com isso, graves conflitos agroambientais. A partir
do conceito de Área de Preservação Permanente e da importância de sua manutenção,
entendeu-se que a discricionariedade relativa à extensão da área a ser preservada pode
significar perda do direito pleno de propriedade ou ataque ao meio ambiente preservado.
Estuda-se o caso de antinomia aparente de normas ambientais, a qual pode ser solucionada
pelo critério hierárquico e pela aplicação da Teoria do Mal Menor.
A análise do trabalho intitulado “PERSPECTIVAS PARA O DIREITO
AGROAMBIENTAL A PARTIR DA NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO RURAL”, o
autor João Daniel Macedo Sá, discute as perspectivas do desenvolvimento rural no Brasil;
identifica como se constrói a noção de desenvolvimento rural e se existe uma questão
estrutural que interliga a pobreza e a concentração de terras no meio rural. Apresenta uma
crítica às políticas públicas com enfoque setorial, por não darem a devida atenção à obtenção,
pelos indivíduos, do conjunto de capacidades e funcionamentos ligados às condições
mínimas para uma vida digna. Por isso, argumenta que as políticas públicas devem ser
pensadas e planejadas de maneira integrada, de modo a buscar essa ampliação das
capacidades humanas.
Os autores Ana Luisa Santos Rocha e José Heder Benatti, no trabalho intitulado “POLÍTICA
NACIONAL DE REFORMA AGRÁRIA E SEUS DIFERENTES INSTRUMENTOS
FUNDIÁRIOS”, discutem os diferentes instrumentos que compõem o rol de projetos da
Reforma Agrária no Brasil, tendo como base a Norma de Execução INCRA nº 69/2008 e os
projetos estaduais no Estado do Pará, demonstrando um aumento gradativo nas categorias
fundiárias e os sujeitos abrangidos nessa política pública.
No trabalho intitulado “PRINCÍPIOS E CLÁUSULAS GERAIS: A QUESTÃO DA
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE” a autora Bárbara Tuanni Veloso da Silva faz uma
análise teórica sobre a função social da terra, e conclui que o direito a ela deve ser aplicado e
interpretado de forma plural, evidenciando o papel do juiz, e de diferentes teorias sobre a
hermenêutica, deixando claro a importância da “terra” para as comunidades indígenas,
demonstrando que para eles há um valor muito maior que o cultural e econômico: um valor
vital.
Finalizando, o autor Olímpio de Moraes Rocha, no trabalho “PROJETOS DE REFORMA
AGRÁRIA VIA DESAPROPRIAÇÃO SOCIAL E EXPLORAÇÃO MINERAL:
DIÁLOGOS JURÍDICOS POSSÍVEIS” faz uma análise sobre o desenvolvimento
econômico, à luz da atividade minerária, destacando os riscos e perigos que a atividade
acarreta, demonstrando o perigo da dicotomia entre os objetivos fundamentais da República:
o desenvolvimento nacional e a redução das desigualdades sociais, destacando o importante
papel da atividade agrária para a manutenção do meio ambiente saudável e com qualidade de
vida.
Assim, a presente obra é um verdadeiro repositório de reflexões sobre Direito Agrário e
Agroambiental, o que nos leva a concluir que as reflexões jurídicas, nessa obra, são
contribuições valiosas no tocante a oferta de proposições que assegurem a melhoria de vida
no campo, o acesso à terra e a dignidade de trabalhadores e produtores rurais, em harmonia
com o meio ambiente e com os demais seres que habitam esse espaço, sendo imprescindível
discutir e assegurar direitos, não só do homem, mas dos biomas.
Desejamos, pois, excelente leitura a todos.
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos
Prof. Dr. Valmir César Pozzetti
JUDICIALIZAÇÃO DA QUESTÃO AGRÁRIA E COMUNIDADES TRADICIONAIS QUILOMBOLAS: O JUDICIÁRIO QUANDO DA ANÁLISE DOS CONFLITOS
TERRITORIAIS
TRADITIONAL INDIGENOUS COMMUNITIES BEFORE THE LAW : THE JUDICIAL SYSTEM ANALYSING TERRITORIAL CONFLICTS
Ricardo Araujo Dib TaxiLiandro Moreira Da Cunha Faro
Resumo
O presente trabalho visa analisar o papel do judiciário quando do julgamento dos conflitos
envolvendo direitos territoriais das comunidades tradicionais. Faz-se uma panorama sobre
direitos territoriais e a tendência do poder judiciário brasileiro em julgar demandas desta
natureza, considerando que o Estado não tem política pública efetiva para o reconhecimento
de direitos culturais, mantendo estrutura institucional capaz de provocar violência aos grupos
étnicos e seus direitos territoriais.
Palavras-chave: Judiciário, Conflito territorial, Comunidade tradicional
Abstract/Resumen/Résumé
This paper aims to analyze the role of Brazilian legal system when judging conflicts
involving the territorial rights of traditional communities. An overview of territorial rights
and the tendency of the Brazilian courts to judge demands of this nature, considering that the
State has no effective public policy for the recognition of cultural rights, maintaining an
institutional structure capable of provoking violence to ethnic groups and their rights
Territories.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Legal system, Land conflits, Traditional comunities
269
I. INTRODUÇÃO:
O ano de 2013 foi marcado por aumento do conflito fundiário na Amazônia em
comparação ao ano de 2012, justamente em virtude da expansão agrícola crescente neste
território, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra. Nesta conjectura, as populações
tradicionais são importantes atores na análise deste imbricado problema sócio-econômico-
político-cultural, uma vez que das populações tradicionais que, em 2013, foram vítimas de
algum tipo de violência, 55% se localizavam na Amazônia e, sendo que, 60% dos conflitos
fundiários envolvem populações tradicionais (CANUTO, et al, 2013).
Dentro deste universo de conflitos, deve-se observar que, entre os estados brasileiros,
o Estado do Pará ostenta o 2º lugar no ranking nacional de conflito no campo, envolvendo,
também, comunidades tradicionais (CANUTO, et al, 2013). “A problemática que envolve os
conflitos e a violência no Estado do Pará está diretamente associada à concentração da
propriedade da terra” (SAUER, 2005, p.14).
Ganha destaque, ainda, o Estado do Pará, quando se trata de comunidades
remanescentes de quilombos. De acordo com a Comissão Pró-índio de São Paulo (CPI, 2011),
existem 117 títulos concedidos à comunidade quilombolas, abrigando em torno de 193
comunidades, com destaque para o Pará que concedeu 38% das titulações1.
O Pará é o ente da federação que mais tem comunidades quilombolas2 tituladas, seja
pelo órgão estadual (47)3, seja pelo órgão federal (9)4, sendo que a estimativa, de acordo com
Trecanni (2006), é a existência de 410 comunidades quilombolas no Pará. Deve-se, frisar ainda,
que este Estado foi o primeiro da Federação a ter uma comunidade quilombola titulada no ano
1995 (Comunidade Boa Vista, Município de Oriximiná)5.
Em virtude da quantidade de comunidades quilombolas no Estado do Pará, é factível
a existência de conflitos fundiários constantes, decorrentes da expansão da fronteira agrícola,
promovida ora pelo Estado, ora pela iniciativa privada.
1 Todavia, todas as comunidades devidamente tituladas não representam 6% do total existente, uma vez que se
estima a existência de mais de 3.500 comunidades (TRECANNI, 2006). 2 De acordo com Trecanni (2006) tem-se a estimativa de que permaneceram no Estado do Pará (antigo Grão Pará)
aproximadamente 48.155 escravos. Para melhor compreender a existência de escravos no Pará vide Trecanni
(2006); Edna Castro e Rosa Acevedo (1998); Salles (2005) 3 Retirado da base de dados do Instituto de Terras do Pará (ITERPA). Disponível em
http://www.iterpa.pa.gov.br/SiteIterpa/QuilombolaConsulta3.jsf 4 O INCRA não possui base de dados atualizados. Por isso, a informação foi retirada da Comissão Pró-índio de
São Paulo. Disponível em http://www.cpisp.org.br/terras/asp/terras_tabela.aspx 5 Trecanni (2006; p.127) afirma que “O governo do Estado Pará não só foi o primeiro governo estadual a expedir
títulos de reconhecimento de domínio, mas é aquele que titulou mais que todos os outros”.
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Em decorrência dos conflitos agrários no Pará, criaram-se 10 varas agrárias no Estado
do Pará, contudo, atualmente, esta dividido em apenas 5 regiões agrárias: Castanhal, Santarém,
Marabá, Altamira e Redenção6.
Dois problemas graves são apontados: a) fundiário, provocado pela aquisição de terras
públicas/particulares, que incidem ou confluam sob território quilombola; b) ambiental, já que
estes arrozeiros estão ocupando campos alagados do município, e há grande receio de que essas
áreas sejam contaminadas com o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes (PEABIRU, 2011).
Portanto, a judicialização do conflito fundiário tem sido quase que inevitável e
constante no Estado do Pará, pelos complexos problemas apresentados, ações estas manejadas,
muitas vezes, pelos que estão à frente da expansão agrícola.
Em levantamento feito, a Comissão Pró-Índio de São7 aponta a existência de 97 ações
atualmente em curso contra os quilombolas, das quais 49 são ações possessórias contrárias aos
quilombolas, envolvendo 26 territórios. Na maioria das ações possessórias houve a concessão
de liminar de reintegração ou manutenção de posses desfavoráveis aos quilombolas, isto é,
existem liminares concedidas em 27 ações envolvendo 13 diferentes terras quilombolas.
A demanda agrária tem se transformado em demanda jurídica, em virtude da crescente
disputa pela terra (MITIDIERO, 2008). Contudo, esta situação decorre do fato da Amazônia
ser marcada por processos de frente de expansão agrícola, extrativa, pecuária e minerária, às
mais das vezes financiada pelo Poder Público, ocasionando intenso conflito agrário com os
diversos atores que vivem no campo/floresta.
II. RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE COMO SOLUÇÃO PARA A
REESTRUTURAÇÃO DO DIREITO CULTURAIS
O Judiciário, quando acionado para resolver problemas fundiários, tem sido algo de
“reconhecimento” dos direitos étnicos?
Fraser (2012) compreende dois tipos de injustiças: a) injustiça social, o que
compreende como resultado da estrutura econômica da sociedade e se concretizaria na forma
de exploração ou miséria; b) injustiça cultural ou simbólica, a qual se entende como sendo o
6 A Assembléia Legislativa do Estado do Pará, regulamentando o dispositivo da Constituição Estadual, promulgou
a Lei Complementar nº 14, de 17.11.93, que alterou o Código de Organização Judiciária paraense, criando Varas
privativas na área do Direito Agrário, Minerário e Ambiental. 7 Disponível em http://www.cpisp.org.br/acoes/html/resultados.aspx?LinkID=15
271
resultado de modelos sociais que impõem seus códigos de interpretação e seus valores,
provocando o não reconhecimento “do outro”.
A solução para o primeiro tipo de injustiça, seria a o que se chama de “redistribuição”,
isto é, deveria priorizar distribuição de renda, reorganização da divisão do trabalho, submissão
das decisões de investimentos ao controle democrático, transformação fundamental do
funcionamento da economia. Enquanto que para dirimir a questão da injustiça cultural, seria
necessário o reconhecimento, isto é, reavaliação de identidades desprezadas, reconhecimento e
valorização da diversidade cultural, alteração geral dos modelos sociais de representação
(FRASER, 2012).
“As soluções coletivas para a injustiça cultural dependem do chamado
multiculturalismo: trata-se de acabar com o desrespeito de identidades
coletivas injustamente desvalorizadas, ao mesmo tempo deixando
intactos o conteúdo dessas identidades e o sistema de diferenciação
identitária sobre o qual repousam. As soluções transformadoras, por
outro lado, são habitualmente associadas à desconstrução. Buscam
acabar com o desrespeito transformando a estrutura de avaliação
cultural subjacente. Ao desestabilizarem as identidades e a
diferenciação existentes, essas soluções não se limitam a favorecer o
respeito a alguém: mudam as percepções que temos de nós mesmos
(FRASER, 2012, p. 03)
“O não reconhecimento consiste na depreciação de tal identidade pela cultura
dominante e o conseqüente dano à subjetividade dos membros do grupo. Reparar esse dano
significa reivindicar “reconhecimento” (FRASER, 2007, p. 106).
“No modelo de status, então, o não reconhecimento aparece quando as
instituições estruturam a interação de acordo com normas culturais que
impedem a paridade de participação (...)Em todos esses casos, a
interação é regulada por um padrão institucionalizado de valoração
cultural que constitui algumas categorias de atores sociais como
normativos e outros como deficientes ou inferiores” (FRASER, 2007,
p.108)
“O não-reconhecimento, ou o reconhecimento distorcido, não apenas afeta
negativamente a formação da identidade (...) mas constituiu uma forma de opressão e um
bloqueio ao processo de emancipação social” (FIGUEIREDO, 2011, p. 32)
Oportunizar um alargamento no reconhecimento é proporcionar uma nova política e
um novo entendimento de justiça social, ultrapassando uma visão restrita de justiça e de
emancipação fixada em torno do eixo da classe, passando a compreender outros grupos culturais
diferenciados (CRUZ, 2013)
272
Estas lutas estão abalizadas no reconhecimento do pluralismo, que tem por fundamento
a valorização das práticas, organizações e estruturas culturalmente diferenciadas, abrindo,
igualmente, espaço para o exercício de uma cidadania étnica, sem limitar as opções de
participação democrática em uma única forma imposta pela sociedade dominante
(WOLKMER, 1994).
Manter o discurso dominante é tomar a parte pelo todo, ou seja, acreditar que a
sociedade ocidental e toda a sua estrutura de conceitos deva ser aceita por todas as outras
culturas, como se fosse ela o todo, e não a parte8 (SANTOS, 2006).
Portanto, para que seja possível a viabilidade do diálogo, a existência de uma
comunidade de comunicação de natureza interétnica é condição de exequibilidade, o que se
pressupõe a existência de uma comunidade de argumentação composta por sujeitos portadores
de cultura distinta (OLIVEIRA, 2000).
Nesse sentido, o pressuposto ético fundamental é que essa negociação
só pode ter lugar no âmbito de relações simétricas, o que significa dizer:
livres e democráticas, capazes de estabelecer, numa primeira etapa,
regras claras, acordadas por consenso explícito entre os interlocutores
de ambos os lados. O não ferir a ética começaria por não romper as
regras preliminares de entendimento (OLIVEIRA, 2000, p.219).
Therbon (apud SANTOS, 2006, p.314) assevera que esta política de identidade está
baseada em três premissas: diferenciação, auto-referência e reconhecimento.
O processo de diferenciação é a luta que cada grupo social mobiliza para manter as
suas diferenças, sem ser envolvido pela “virulência dos processos hegemônicos” (SANTOS,
2006, p.314).
A auto-referência é um conjunto de valores agregados ao longo de um processo de
construção cultural9, que possibilita referenciar/identificar algum grupo, dando um sentido de
pertença étnica, por exemplo: os mitos de origem, os rituais, os símbolos.
8 Barth (2000, p.28) analisando a questão dos grupos étnicos elucida que “somos levados a imaginar cada grupo
desenvolvendo sua forma cultural e social em isolamento relativo, essencialmente, reagindo a fatores locais, ao
longo de uma história de adaptação por intervenção e empréstimos seletivos. Esta história produziu um mundo
de povos separados, cada um com sua cultura própria e organizado numa sociedade que podemos legitimamente
isolar para descrevê-la como se fosse uma ilha”. 9 “Cada sistema cultural está em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre
gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a
compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que
ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente
este constante e admirável mundo novo do porvir” (LARAIA, 2003, p.101).
273
Por fim, o reconhecimento baseia-se na alteridade interpessoal, isto é, todo indivíduo
precisa, para se desenvolver plenamente, do reconhecimento do outro, onde este outro irá
valorizar e aceitar as divergências.
O conhecimento e o reconhecimento das diferenças pressupõe a
prevalência do conhecimento-emancipação10 e da ecologia dos
saberes11. De facto, só na trajetória do colonialismo para a
solidariedade será possível reconhecer as diferenças e distinguir, entre
elas, as que inferiorizam e as que não inferiorizam, na específica
constelação social das desigualdades e de exclusões em que elas
existem. (SANTOS, 2006, p.314)
Um Estado que não consiga realizar este diálogo intercultural dos direitos
fundamentais recai no discurso hegemônico, e não atende aos princípios constitucionais do
pluralismo jurídico e político.
Em sendo assim, os modelos institucionais criados pela sociedade dominante são o
reflexão da necessidade de se manter a estrutura vigente, sem provocar rupturas sociais capazes
de reverter à lógica hegemônica, abrindo espaço para um diálogo intercultural. E o Poder
Judiciário, através de suas decisões, como elemento desta estrutura sócio-política, é o
reprodutor, através das assertivas jurídicas, desta lógica dominante, para manter a estrutura
vigente, sem abrir espaço para o diálogo intercultural.
A cultura jurídica nacional foi formulada pela ampla supremacia do oficialismo estatal
em detrimento das diversas formas de pluralidade de fontes sociais, culturais e normativas
(WOLKMER, 1994).
Repensar esta estrutura normativa e social do Brasil, permite desmistificar, em nome
do pluralismo, a tradição hegemônica de uma cultura marcada por uma visão formalista e una
do direito, cuja intenção é manter um sistema de dominação (WOLKMER, 1994).
As condições as quais foram embasadas a estrutura normativa brasileira levam a
perceber a cultura jurídica como materialização das condições histórico-políticas e das
contradições sócio-econômicas, traduzidas pelos interesses hegemônicos das classes
dominantes (WOLKMER, 1994).
10 Santos (2000, p.78) define o que seja conhecimento-emancipação: “O conhecimento-emancipação é uma
trajectória entre um estado de ignorância que designo por colonialismo e um estado de saber que designo por
solidariedade. O conhecimento-regulação é uma trajectória entre um estado de ignorância que designo por caos e
um estado a saber que designo por ordem. Se o primeiro modelo de conhecimento progride do colonialismo para
a solidariedade, o segundo progride do caos para a ordem” 11 “Ecologia de saberes. A primeira lógica, a lógica da monocultura do saber e do rigor científico, tem de ser
questionada pela identificação de outros saberes e de outros critérios de rigor que operam credivelmente em
contextos e práticas sociais declarados não-existentes pela razão metonímica” (SANTOS, 2004, p.790).
274
Esta hermenêutica está baseada no próprio sentido do pluralismo que permeia
sociedades como a brasileira.
Ao contrário da concepção unitária, homogênea e centralizadora denominada de
“monismo”, a formulação teórica e doutrinária do “pluralismo” designa a existência de mais de
uma realidade, de múltiplas formas de ação prática e da diversidade de campos sociais com
particularidade própria, ou seja, fenômenos autônomos e elementos heterogêneos que não se
reduzem entre si (WOLKMER, 1994, p.158).
III. O PAPEL DO JUDICIÁRIO E O RECONHECIMENTO SOCIAL
O sistema jurídico tem por tendência “apagar” a possibilidade de considerar a
existência de direitos de grupos étnicos, uma vez que o formalismo excessivo não é capaz de
compreender os fenômenos sociais, bem como aceitação de práticas jurídicas diferenciadas.
(NETO, et al, 2011).
Até a década de 80, os conflitos estavam muito restritos por disputa por terra, referindo
a posse e propriedade, acabando por desembocar no judiciário. Contudo, ao longo do tempo, os
conflitos começaram a ter outra natureza: conflito com as comunidades e povos tradicionais
que já ocupavam a área, na qual, pugnava-se, não somente pelo reconhecimento territorial, mas
também pelo reconhecimento à diversidade.
“Foi da oligarquia rural brasileira, um grupo extremamente coeso, que conseguiu
sobrepor seus interesses àqueles de toda a sociedade brasileira que, a partir de 1930, nasceu a
burguesia industrial” (TRECANNI, 2001, p.115).
A ocorrência de conflitos socioterritoriais se reitera no tempo e no espaço, dentro do
contexto de concentração fundiária, uma vez que está marcada pelo crescimento do modelo do
agronegócio, de mobilizações populares de luta por direitos socioterritoriais, bem como a
ausência de eficazes políticas públicas estruturantes de democratização do acesso à terra
(MARÉS, 2003).
Conforme se depreende, é com frequência que o Estado-juiz, para legitimar o fluxo da
expansão agrícola mantem um discurso hegemônico sem considerar os diversos interlocutores
envolvidos em uma demanda sobre território quilombola. Impõem-se modus operandi na forma
de utilização da terra, nos modelos desenvolvimentista de exploração intensiva, baseada apenas
no crescimento econômico, no alto índice mercadológico, sem considerar a existência de
grupos, culturalmente diferenciados, que utilizam a terra de acordo com o uso e costume
275
tradicional, e não pela lógica do mercado. Daí surgem os conflitos que se desenrolam no
Judiciário.
Em países como Brasil, onde as instituições não sofreram mudanças substancias em
relação à cultura jurídica, é frequente perceber que a justiça, ao analisar problemas de teor
econômico, político e social, tomam como base de solução os aspectos patrimoniais e
contratuais entre indivíduos, sem inferir sobre as demandas coletivas e culturais (SANTOS,
2009).
Mitidiero (2008, p.389) afirma que:
A judicialização da questão agrária é entendida por Chemeris (2002,
p.89) como o resultado da ausência de políticas públicas para a
resolução de tal questão. Para ele, a questão social que envolve os sem
terra deveria ser enfrentada pelos poderes legislativo e executivo como
fato político, a quem caberia, por meio de políticas públicas, solucionar,
mas, como não é resolvido por esses dois poderes, surgem as
organizações de luta pela terra, e os conflitos decorrentes do embate
entre sem terra e proprietários recaem sobre o Judiciário, que passa a
ter poder de decisão.
Chemires (apud MITIDIERO, 2008, p.389) entende que “o Poder Judiciário passou a
entrar na esfera da economia e da política, colocando-se dentro da realidade social e
participando da transformação ou manutenção dessa mesma realidade”.
Importante observar que existe uma hipótese de reprodução de certos padrões judicias
entre categorias de litigantes que frequentemente se enfrentam na justiça, o que possibilita a
pensar que certos atores talvez possuam maior confiança no sistema de justiça para a defesa dos
seus interesses (SANTOS, 2009).
Marés et al (2009; p.88) afirma que:
Neste sentido, apresenta-se para o debate o problema, de um lado, de
uma cultura jurídica essencialmente legalista e formalista, aliada e
coordenada, de outro lado, com uma estrutura e cultura institucional
autoengessada na via judicial em uma compreensão estritamente
adversativa, não acostumada ou sequer ciente da possibilidade de
utilização de novos e diversos instrumentais mais aptos para a
compreensão e o diálogo com os elementos constitutivos do conflito
fundiário rural.
Geralmente as ações do poder judiciário pendem a manutenção da “ordem” e não
resolvem algo que, a princípio, não é da sua função (...) e acirram a tragédia social causada pela
concentração de terra” (MITIDIERO, 2008, p.389).
276
“Em todo campo a distribuição de capital é desigual, o que implica a existência de um
permanente conflito, com os agentes e grupos dominantes procurando defender seus privilégios
em face da contestação dos demais” (AZEVEDO, 2011, p.29-30).
Por isso, “o Judiciário tem sido largamente utilizado pelos donos de terras para
bloquear situações ou para encaminhá-las de acordo com suas conveniências” (BENATTI,
2006, p.41)12.
Acevedo e Castro (1999, p.142), na análise sobre o conflito judicial envolvendo a
comunidade quilombola de Abacatal (Ananindeua/PA), afirmam que “autoridade jurídica,
detentora de uma violência simbólica, legítima, no dizer de Bourdieu (1989, p.211), fazia uso
das leis para dizer quem estava certo – o proprietário possuidor das escrituras e certidões de
registro de imóveis – e errado - os ‘invasores’ (...)”.
A partir da década de 7013, esta posse tradicional começou a consolidar politicamente
e estes grupos “iniciam a reivindicação de seus direitos em defesa do apossamento. Isso ocorre
quando se vêem ameaçados por outros grupos sociais que tem relação diferente com a terra”
(BENATTI, 2003, p.110).
“O convívio dessas duas concepções é incompatível no mesmo espaço físico, pois uma
terá que desaparecer para que a outra se consolide. Nessa situação, o conflito se torna intenso e
violento, já que o objeto da disputa é o mesmo, porém com destinações bem distintas”
(BENATTI, 2003, p.110).
Loureiro (2001) entende, também, que o fato de a região amazônica ter sido tomada
como sistema natural único trouxe enorme impacto ambiental e fundiário aos seus diversos
ecossistemas e aos grupos étnicos. As populações tradicionais tornaram-se imperceptíveis no
conjunto das políticas públicas, por não serem tratadas como atores sociais importantes nesse
processo de desenvolvimento e mudança.
Com a expansão da fronteira acentuou-se a disputa pela terra. Os novos
ocupantes entraram em conflito com a forma de ocupação preexistente
que era ampla, apesar de imprecisa quanto aos seus limites e titulação.
A questão da terra passou a ser o eixo central do processo de ocupação
da Amazônia. Nesta disputa pelo controle do espaço o governo federal
interveio com a pretensão de ordenar o processo; na realidade, porém,
12 “O governo e o Poder Judiciário paraense têm agido com muita celeridade quando se trata de penalizar
trabalhadores e lideranças populares. Exemplo dessa situação foi a concessão de mais de 40 liminares de despejo,
muitas cumpridas em junho de 2005, de fazendas ocupadas na região sul e sudeste do Estado, atingindo quase
cinco mil famílias” (SAUER, 2005, p.15). 13 “Na realidade os governos militares manifestaram ser extremamente reacionários e centralizadores, fortaleceram
o aparelho burocrático e intervieram em todas as esferas da vida econômica, social e política. Para isso, muniram-
se de inúmeros órgãos ligados diretamente ao governo federal e cujas decisões eram centralizadas em Brasília
com pouca ou nenhuma autonomia a nível local. Os governos estaduais e municipais tiveram suas atribuições
reduzidas ou esvaziadas”. (TRECANNI, 2001, p.121)
277
sua ação criou as condições para a apropriação privada das terras, até
então prevalentemente devolutas, pelos detentores do capital
(TRECANNI, 2001, p.172).
Benatti (2003, p.110) afirma que:
A finalidade da terra para seringueiros, ribeirinhos, remanescentes de
quilombolas é inconciliável com a destinação dada pelas grandes
empresas mineradoras, empresas agropecuárias, e na maioria das vezes,
pelos grandes projetos governamentais. Nesses momentos de conflito,
a definição da faixa da terra para (...) que desenvolvam suas atividades
agroextrativistas torna-se essencial para estruturar vínculos de
solidariedade e forjar uma coesão social capaz de enfrentar seus
adversários de solidariedade, como também para garantir o controle
sobre sua área.
A expansão de um grupo econômico entra em choque com as territorialidades dos
grupos que residem aí, sendo que esta expansão significa a instalação da hegemonia do Estado
e suas formas de territorialidade em detrimento dos diversos grupos tradicionais que já
ocupavam secularmente a área (LITTLE, 2002).
Em se tratando de conflito entre propriedade privada e território de comunidade
tradicionais, vê-se que os princípios que norteiam os direitos sócio-culturais-territoriais não são
levados em consideração, em sua maioria, tendo em vista que o judiciário, além da visão
dogmática, ainda é a expressão de um determinada classe minoritária.
O Brasil assumiu uma herança do direito de propriedade do regime de exclusão: a
exclusão da sociedade, na qual a propriedade era tida como direito natural e universal e o
domínio exclusivo do proprietário (BENATTI, 2003a)14, sendo que esta realidade confrontou-
se com as ocupações pré-existentes.
“A diversidade fundiária do Brasil é pouco conhecida no país e, mais ainda, pouco
reconhecida oficialmente pelo Estado brasileiro. A inclusão dos diversos grupos não-
camponeses na temática, a questão fundiária no Brasil vai além do tema de redistribuição”
(LITTLE, 2002, p.2).
O Estado, em geral, demonstra resistência em reconhecer a existência de minorias e,
por isso, os direitos são formulados não como pertencentes às minorias como grupos, mas sim
14 “Desde as primeiras atividades econômicas – a exploração do pau-brasil, depois o ciclo do açúcar no Nordeste,
a mineração no Centro-Oeste, e posteriormente as plantações de café no Sudeste e de algodão no Sudeste e
Nordeste – até as culturas modernas como a soja no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os citros e a cana-de-açúcar no
Sudeste – a grande propriedade sempre priorizou a produção para o mercado externo” (BENATTI, 2003a, p.207).
278
aos seus membros individuais, não consagrando um status legal ou coletivo às minorias (GHAI,
2003).
A proteção dos interesses das comunidades tradicionais, dentro do processo judicial,
não será válida se for baseada em “canibalização ou mimetismo cultural”, pois esta deve ter
suas bases no processo de “identificação profunda dos postulados culturais inscritos na
personalidade e nas formas básicas de socialização” (SANTOS, 2003, p.444).
O território quilombola não reflete apenas a diversidade de atividades de relações
econômicas, mas também uma rede de sociabilidade, conteúdos e rituais simbólicos. Neste
espaço produz-se meio de vida, imprimir conteúdos históricos (ACEVEDO, 2004).
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o termo quilombo assume uma
significação atualizada, ao ser inscrito no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórios (ADCT15) para conferir direitos territoriais aos remanescentes de quilombolas
(O’DWYER, 2002).
Segundo Trecanni (2006, p.14) a expressão “’quilombo’ deixa de ser considerado
unicamente como uma categoria histórica ou definição jurídico-formal, para se transformar, nas
mãos de centenas de comunidades rurais e urbanas, em instrumento de luta pelo reconhecimento
de direitos territoriais”.
O texto constitucional não invoca apenas uma “identidade histórica”. Segundo o texto
é preciso que esses indivíduos históricos presumíveis existam no presente e tenham como
condição básica o fato de ocupar uma terra. Desta forma, qualquer invocação do passado deve
corresponder a uma forma atual de existência (O’DWYER, 2002).
Para O’Dwyer (2002, p.14), a partir da leitura do texto constitucional é possível
“conceituá-los, numa perspectiva antropológica, mais recente, como grupos étnicos que existem
ou persistem ao longo da história como um ‘tipo organizacional, segundo processos de exclusão
e inclusão que possibilitam definir limites” .
Partindo deste pressuposto, as comunidades remanescentes de quilombos é grupo
étnico atributivo, que devem ser definidos a partir de sinais considerados socialmente
significativos pelo grupo, e não por um olhar classificador de um observador externo
(O’DWYER, 2002), direito este amplamente garantido na Carta Magna (art. 214 e 215) e na
Convenção 169 da OIT (organização internacional do trabalho)16.
15 Conforme Trecanni (2006) o fato do direito ter sido posto no ADCT não deve ser encarado como uma norma de
valor secundário, pois é fruto do mesmo Podes Constituinte originário, tendo, portanto, força constitucional de
direito fundamental.
16 “A Convenção 169 define, principalmente, três critérios fundamentais para determinar os grupos aos quais ela
se aplica: a existência de condições sociais, culturais e econômicas diferentes de outros setores da sociedade
279
Ademais, o art. 68 da ADCT “introduz no plano político e jurídico nacional algumas
realidades novas, pois o direito à propriedade é reconhecido a uma categoria coletiva: os
remanescentes das comunidades de quilombo” (TRECANNI, 2006, p.84).
Acevedo e Castro (1998, p.157) afirmam que:
Ao conceber a terra como bem comunal, seguem regras definidas nos
cânones do direito consuetudinário, historicamente fundador de sua
territorialidade. A discussão sobre as bases dessa territorialidade,
portanto, não poderia jamais caber no âmbito limitado do direito
privado. Ela não pode ser iluminada pelos padrões jurídicos que
regulam o estatuto da propriedade privada e suas formas de aquisição.
Desta forma, “não pode ser subordinada portanto a lógica da propriedade privada que
preside o direito brasileiro (...) Os negros mantêm, na concepção e na prática, terra comuns,
pois institucionalizam um sistema de regras (...)” (ACEVEDO e CASTRO,1998, p.158).
Segundo Trecanni (2006, p.91):
A Constituição reconhece o caráter pluriétnico de formação histórico-
cultural e atribui às comunidades tradicionais remanescentes de
quilombo papel de um grupo étnico, que foi fundamental na formulação
de nossa identidade nacional.
IV. CONCLUSÃO
Conforme visto acima, a tendência do judiciário brasileiro, em relação a propriedade,
é não proceder com a ponderação dos direitos envolvidos numa demanda desta natureza, ainda
mais quando envolve comunidade tradicionais, as quais, as mais das vezes, são colocadas em
estado de invisibilidade social, política, econômica e jurídica.
O judiciário tem sido a ferramenta para manter uma estrutura fundiária engessada no
“mito” da propriedade privada, que, por mais que esteja devidamente protegida pela
Constituição Federal, não é o único direito também resguardado.
nacional; a presença de uma organização social regida total ou parcialmente por regras e tradições próprias, e a
auto-identificação, entendida como a consciência que tem o grupo social de sua identidade tribal. Este último
critério é fundamental na identificação e reconhecimento dos grupos tribais que fazem parte de um país (...)Sobre
os sujeitos de direito a que se aplica a Convenção no Brasil, em princípio sua abrangência é definida para os povos
indígenas e quilombolas, ambos reconhecidos como minorias étnicas do Estado brasileiro na mesma Constituição
Federal de 1988. Estes aparentemente são os principais sujeitos de direito aos quais o Estado brasileiro reconhece
a aplicação da Convenção OIT 169” (O’DWYER, 2012, p.9)
280
Há necessidade de proceder com uma análise hermenêutica sobre o assunto, utilizando
da ponderação de valores existentes na sociedade, que não se circunscrevem ao interesse da
minoria.
González Casanova (2007) compreende que, mesmo após a formação do Estado-Nação,
dos países que perpassaram por um domínio colonial europeu, mantém ou renovam estruturas
mantidas desde o período colonial, formando um verdadeiro colonialismo interno, isto é,
fenômeno de conquista, em que as populações nativas não são exterminadas e formam parte do
Estado colonizador, e prosseguem no Estado independente.
Contudo, os povos ou minorias, submetidos a esta situação do colonialismo interno
sofrem com as seguintes situações, nos termos de González Casanova (2007, p. 432)
a) habitam em território sem governo próprio; b) encontram-se em
situação de desigualdade frente às elites das etnias dominantes e das
classes que as integram; 3) sua administração e responsabilidade
jurídico-política concernem às etnias dominantes, às burguesias e
oligarquias do governo central ou aos aliados e subordinados do
mesmo; 4) seus habitantes não participam dos mais altos cargos
políticos e militares do governo central, salvo em condição de
“assimilados”; 5) os direitos de seus habitantes, sua situação
econômica, política social e cultural são regulados e impostos pelo
governo central; 6) em geral os colonizados no interior de um Estado-
nação pertencem a uma “raça” distinta da que domina o governo
nacional e que é considerada “inferior”, ou ao cabo convertida em um
símbolo “libertador” que forma parte da demagogia estatal; 7) a maioria
dos colonizados pertence a uma cultura distinta e não fala a língua
“nacional”. (grifo nosso)
Ante estas agruras provocados por este modelo de desenvolvimento, os “povos da
floresta17” mobilizaram-se e reivindicaram, através da mobilização política, que seus direitos
fossem garantidos e reconhecidos na Constituição Federal de 1988, uma vez que “a imensa
diversidade sociocultural do Brasil é acompanhada de uma extraordinária diversidade
fundiária. (...) Essa diversidade fundiária inclui também as chamadas “terras de preto”,
“terras de santo” e as “terras de índio” (LITTLE, 2002, p. 02).
A Carta Magna trouxe novo regramento sobre a temática, garantindo reconhecimento
à diversidade cultural existente no Brasil, compreendo a necessidade de se buscar uma proteção
diferenciada para garantir, não apenas a sobrevivência física, mas também dos usos, costumes
17 Povos das floresta são os habitantes tradicionais da Floresta Amazônica (índios, seringueiros, castanheiros,
quilombolas, ribeirinhos). Para maior compreensão conferir Carneiro da Cunha, Manuela & Almeida, Mauro
Barbosa de. Enciclopédia da Floresta – o Alto Juruá: práticas e conhecimentos da população. São Paulo, Cia.
das Letras:2002.
281
e tradições. Entretanto, como se pôde perceber ao longo da pesquisa, existem obstáculos não
apenas materiais, mas um abismo entre a linguagem do Judiciário, hermética e autocentrada em
conceitos muito pouco alargáveis, e a linguagem dos povos tradicionais, os quais, para serem
ouvidos pela lei, precisam traduzir seu mundo para o local de fala do direito, com uma perda
imensurável.
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