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1 INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR BLAURO CARDOSO DE MATTOS - FASERRA DANIELA DOS SANTOS OLIVEIRA SILVIA ALVES LEITE DURÃS ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE NO TERCEIRO SETOR: estudo de caso Mitra Arquidiocesana de Vitória SERRA - ES 2014

Atuação contabilidade Terceiro setor

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INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR BLAURO CARDOSO DE

MATTOS - FASERRA

DANIELA DOS SANTOS OLIVEIRA

SILVIA ALVES LEITE DURÃS

ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE NO TERCEIRO

SETOR: estudo de caso Mitra Arquidiocesana de Vitória

SERRA - ES

2014

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DANIELA DOS SANTOS OLIVEIRA

SILVIA ALVES LEITE DURÃS

ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE NO TERCEIRO

SETOR: estudo de caso Mitra Arquidiocesana de Vitória

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos. Do curso de Graduação em Ciências Contábeis, como exigência parcialpara obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador (a): Marcelo Hideki Togo

SERRA - ES

2014

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DANIELA DOS SANTOS OLIVEIRA

SILVIA ALVES LEITE DURÃS

ATUAÇÃO DA CONTABILIDADE NO TERCEIRO

SETOR:estudo de caso Mitra Arquidiocesana de Vitória

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Instituto de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos, do curso de Graduação em ciências contábeis, como exigência parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Ciências contábeis.

Aprovado em ___de____________de 2014.

BANCA EXAMINADORA

______________________________

ProfessorMarcelo Hideki Togo Orientador(a)

______________________________

Prof(a).

______________________________

Prof(a).

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Dedicamos este trabalho a Deus por nos permitir cada passo dado até o presente momento e aos nossos familiares e professores pelo incentivo durante esses anos e por nos apoiar em todas as decisões.

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LISTA DE TABELAS Tabela 01. Classificação dos dados sem fins lucrativos.........................................20 Tabela 02. Repasse para Mitra nos meses de Abril e Maio..................................,.42 Tabela 03. Livro caixa consolidado.........................................................................43

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LISTA DE FIGURAS

Figura01. Organograma da Igreja Católica Apostólica Romana..............................32 Figura 02. Estrutura organizacional da Mitra Arquidiocesana de Vitória.................,.35

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LISTA DE SIGLAS

CNBB:Conferencia Nacional de Bispos do Brasil

CDC: Código de Direito Canônico

NBC-T:Norma Brasileira de Contabilidade Aplicáveis ao Terceiro Setor

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FUND:Fundação

N.Sra: Nossa Senhora

COD: Código

DOC: Documento

CRC: Conselho Regional de Contabilidade

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RESUMO

A contabilidade é a ciência que estuda e controla o patrimônio seja ele público ou privado, para produzir informações, que se transformará em balanço patrimonial, Demonstração do resultado do exercício, fluxo de caixa, dentre outros relatórios contábeis. Com a coleta de dados e analise de relatório econômico-financeiro é possível extrair elementos capazes de produzir informações fundamentais para tomada de decisão. Entidades sem fins lucrativos como toda sociedade, seja de primeiro ou de segundo setor faz uso da contabilidade para atender em âmbito interno e externo. O presente trabalho tem por objetivo verificar como a Mitra Arquidiocesana de Vitória faz o uso da contabilidade e sua importância para a entidade. Mitra Arquidiocesana de Vitória é o nome jurídico da Arquidiocese de Vitória do Espírito, que representa a igreja católica no Estado. Através de sua mensagem cristã pregada nas Igrejas contribui para a justiça, a paz, a fraternidade nas relações humanas. Sabendo que as Igrejas sofrem com diversas críticas a respeito da destinação de seus recursos a contabilidade é um meio de prova eficiente de onde e como estes recursos foram utilizados, Demonstraremos como se dá a prestação de contas através do estudo de caso realizado na entidade. Palavras-chave: Mitra arquidiocesana de Vitoria; Relatório Econômico financeiro,Terceiro Setor.

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SUMARIO

1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

1.1 PROBLEMA ........................................................................................................ 12

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13

1.2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 13

1.2.2 OBJETIVOSESPECÍFICOS ............................................................................. 13

1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14

1.4 METODOLOGIA .................................................................................................. 15

1.4.1LIMITAÇÕES .................................................................................................... 16

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 17

2.1 TERCEIRO SETOR ............................................................................................ 17

2.1.1 Normas Brasileiras de Contabilidade, Aplicáveis ao Terceiro Setor. ........ 21

2.1.2 Características Básicas da Contabilidade do Terceiro Setor ..................... 25

2.1.3 Fundos Especificados ................................................................................... 26

2.1.4Outras características .................................................................................... 27

2.2 DAS ORGANIZACOES RELIGIOSAS – Lei 10.825/2003 ................................... 27

2.3 A IGREJA CATOLICA ......................................................................................... 28

3. ESTUDO DE CASO MITRA ARQUIDIOCESANA DE VITÓRIA .......................... 34

3.1MITRA ARQUIDIOCESANA DE VITÓRIA ............................................................ 34

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3.1.1 Histórico .......................................................................................................... 34

3.1.2 Objetivos ......................................................................................................... 35

3.1.3 Estrutura Organizacional ............................................................................... 35

3.1.4 Tomadas de decisão - Assembléia ............................................................... 36

3.2CONTROLE FINANCEIRO .................................................................................. 36

3.2.1 Controle financeiro das paróquias ............................................................... 37

3.3DESCRIÇÃO E ANALISE DE DADOS ................................................................. 39

3.3.1 Registros contábeis na Mitra Arquidiocesna: como é feito ....................... 41

3.3.2Análise dos dados da Mitra Arquidiocesana de Vitória ............................... 42

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 45

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47

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1. INTRODUÇAO

O Terceiro Setor exerce um importante papel para sociedade, sobretudo no que diz

respeito aos aspectos econômicos, resolução de conflitos sociais e gerenciamento

dos bens públicos destinados a benefício da sociedade. Em suma, trata-se

basicamente do desempenho de atividades de interesse público, embora seja

realizado por meio de iniciativa privada. Muitas entidades integrantes do terceiro

setor recebem subvenções ou auxilio por parte do Estado por não possuírem

condições de arcar com as despesas e execução de tais serviços.

No presente trabalho serão abordados os aspectos legais ou fiscais das associações

e fundações, instituições religiosas e outras entidades sem fins lucrativos que não

podem ser certificadas como Entidades Beneficentes de Assistência Social, divididos

em quatro capítulos. No capitulo primeiro será tratado o tema principal do artigo,

qual seja, a definição e características do Terceiro Setor, sua importância,

pretensões e colação de algumas questões polemicas relativas á sua instituição.

Ainda, No segundo capítulo será abordado o conceito de Terceiro Setor e sua

importância para a contabilidade. Serão destacados as semelhanças e avanços em

relação às Organizações Sociais, sua forma de organização e principais

características. Será definido o conceito de Igreja Católica e suas atribuições que,

apesar das inúmeras semelhanças com o Terceiro Setor, mesmo diante de sua

finalidade, a partir da Lei n° 10.825 de 22 de dezembro de 2003, não é vista como

associação. Ainda assim, é tratada pela contabilidade com extrema importância,

mesmo havendo déficit de informações para melhor controle financeiro acerca do

patrimônio da mesma, o que pode ser melhorado e até mesmo sugerido como

procedimento de benfeitorias através da presente pesquisa.

Em seguida, no terceiro capítulo, será procedido levantamento de análise de dados

e registros contábeis fornecidos, através de questionário fornecido pela Mitra

Arquidiocesana de Vitória acerca do tema escolhido. Por fim, no quarto e último

capítulo, as conclusões do trabalho.

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1.1 PROBLEMA

Na visão de Olak (1996), no momento em que o ser humano passa a viver em

sociedade, é necessário a este garantir seu convívio de forma digna perante todos.

Toda e qualquer necessidade que ocorrer deve ser atendida, mesmo que básicas,

como alimentação, segurança, saúde, moradia, transporte e demais atividades que o

satisfaçam, garantias estas que devem ser providas pelo Estado.

Mas não é o que acontece. O Estado, como foi dito anteriormente, é conhecido

como Primeiro Setor, correlacionado ao Segundo Setor, por motivos e questões

individuais. Logo, o Terceiro Setor, que não se faz intitular nem como público,

tampouco privado, não possui fins lucrativos, mas possui fins públicos, e são

organizados a partir de agentes privados.

O problema encontrado tem relação com o crescimento do Terceiro Setor, que de

certa forma substitui o Estado em suas obrigações em razão dos problemas que

surgem e acabam por fim se acumulando. Por esta e outras razões o Terceiro Setor

necessita evidenciar de forma clara e precisa o resultado de suas ações, mesmo

porque são atendidas por terceiros, pessoas físicas, empresas privadas ou até

mesmo órgãos governamentais. Olak (1996, p.45) destacou as Entidades Sem Fins

Lucrativos como instituições de propósitos específicos a fim de gerar mudanças à

sociedade, com recursos obtidos através de doações e contribuições para

concretizar o chamado bem comum.

Entidades sem fins lucrativos, como determina o próprio nome, não visa lucro,

somente recebem incentivos fiscais ou imunidades no âmbito tributário, de acordo

com a legislação vigente. A Constituição Federal de 1988 prevê que a entidade ora

estudada, objeto do presente trabalho, ou seja, a Igreja Católica, bem como as

fundações, entidades sindicais dos trabalhadores, instituições de educação e de

assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei, e os templos de

qualquer culto são imunes de tributação.

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Segundo Young (2004 p.26-27):

Entende-se que o templo não possui patrimônio, renda ou serviços, mas sim pessoa jurídica mantenedora. Considera-se como renda imune aquela advinda da prática religiosa, através de doações de fiéis, traduzidas pelo dízimo e outras contribuições. O amparo legal é extraído do Parecer Normativo CST 162/74 item 7, o qual dispõe que a sociedade religiosa que mantém anexa ao templo, livraria para a venda de livros religiosos, didáticos, discos com temas religiosos e artigos de papelaria, visando a divulgação do evangelho, não terá o eventual lucro tributado.

Por esta razão, pergunta-se de forma clara, objetiva e especifica - dado o tema

escolhido, como questão problema: Quais procedimentos são utilizados pela

Mitra Arquidiocesana de Vitória para obtenção de controle financeiro das

Igrejas?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O objetivo geral desta pesquisa visa demonstrar quais são os procedimentos ou

mecanismos utilizados para obtenção do controle financeiro das paróquias através

da Mitra Arquidiocesana de Vitória.

1.2.2 Objetivos específicos

Descrever o Terceiro Setor e sua Legislação vigente, bem como o enquadramento

das Organizações Religiosas neste tipo de entidade;

Conceituar e demonstrar quais procedimentos são necessários para se obter um

controle financeiro;

Identificar os métodos financeiros utilizados pela Mitra e capelas para a entrada e

saída de recursos.

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1.3 JUSTIFICATIVA

A justificativa será baseada no fato de vislumbramos que a entidade sem fins

lucrativos não é evidenciada no que diz respeito à contabilidade. Silva (2002, p.8),

diz o seguinte:

A Contabilidade, no Brasil, ainda não se conscientizou deste grande mercado, o das Entidades Sem Fins Lucrativos, pois grande parte da literatura pertinente ao assunto é oriunda de áreas vinculadas a Administração. Percebe-se, pois a necessidade dos contabilistas buscarem informações a respeito do Terceiro Setor, através de todos os meios possíveis para atingir tal conhecimento.

O principal objetivo do trabalho é demonstrar como uma entidade, no caso supra, a

Igreja Católica realiza a tomada de decisões e gerenciam suas despesas, receitas,

como se estrutura e realiza o balanço de seu patrimônio no procedimento contábil,

sobretudo, como procedem mensalmente na prestação de contas. Desta feita, fica

demonstrada a importância que a contabilidade exerce no que tange os aspectos

religiosos, mesmo sendo estes contemplados com a isenção de tributos.

Ainda, a escolha do tema é pertinente ao fato de que muitas pessoas não possuem

acesso às informações e em razão de motivos pessoais e profissionais, para melhor

entendimento sobre como é realizado o procedimento contábil da Mitra

Arquidiocesana, mais precisamente, na Mitra Arquidiocesana de Vitoria, foco

principal do trabalho.

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1.4 METODOLOGIA

O procedimento utilizado para fins de pesquisa do presente trabalho, na maior parte

de seu conteúdo, se dá por meio de pesquisas bibliográficas. Conforme surgiam as

dúvidas e problemas acerca do tema escolhido, buscou-se encontrar soluções a fim

de esclarecê-las.

Como o assunto escolhido abrange a contabilidade e forma de gestão

organizacional da Igreja Católica, foi realizado estudo de caso na Mitra

Arquidiocesana de Vitória Através de questionário e entrevista para saber a forma de

gerenciamento da organização, além de algumas bibliografias.

O presente trabalho será elaborado com base em uma Organização Católica, já

mencionada acima, precisamente em Vitória, motivo pelo qual se encontra

delimitada a pesquisa e citação de referências.

Foirealizado levantamento de dados e documentos pertinentes ao assunto, bem

como abordagem de autores de importante relevância para desenvolvimento da

pesquisa. Importante destacar que, na visão de Gil (2010, pg. 27):

Aspesquisas exploratórias têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses. Seu planejamento tende a ser bastante flexível, pois interessa considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado. A coleta de dados pode ocorrer de diversas maneiras, mas geralmente envolve: 1. Levantamento bibliográfico; 2. Entrevista com pessoas que tiveram experiência pratica sobre o assunto; e 3. Análise de exemplos que estimulem a compreensão.

Ainda, foi realizado levantamento de informações, respondidos os questionamentos

abordados acerca do controle financeiro na Mitra e suas Paróquias, identificando de

plano os procedimentos de cunho financeiro por estes adotados. A principal intenção

é entender os meios utilizados para avaliar o controle financeiro de uma instituição

do Terceiro Setor da Mitra Arquidiocesana de Vitória, Espírito Santo.

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1.4.1 Limitações

As limitações encontradas para realização do trabalho ocorreram pela dificuldade de

analisar o procedimento adotado pela Igreja Católica no que diz respeito à forma de

contabilizar sua receita e despesas, bem como a sua hierarquia: a quem a paróquia

se reporta, quem se reporta a Mitra, e assim sucessivamente. Optou-se por realizar

de forma esclarecedora, um questionário com uma série de perguntas na Mitra

Arquidiocesana de Vitória, para recolhimento de dados e informações importantes,

acerca do procedimento contábil de cada uma destas, já que não foram encontrados

registros escritos sobre o presente assunto.

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2. REFERENCIALTEÓRICO

O referencial teórico utilizado no trabalho trata a Legislação pertinente às

organizações religiosas, sobretudo a Lei 10.825/2003, bem como a Igreja Católica e

sua classificação, controle financeiro e estrutura organizacional.

2.1 TERCEIRO SETOR

Terceiro setor, segundo conceitua ARAÚJO (2009), significa dizer que o Estado

exercendo múltiplas atividades, seja na política, administração, economia e finanças,

possui a finalidade de desempenhar funções básicas, rotuladas como: “instituição de

dinamização de uma ordem jurídica; resolução dos conflitos sociais por meio da

aplicação das normas instituídas; e, administração e gerenciamento dos bens

públicos para atender às necessidades da coletividade”.

Ainda, o mesmo autor afirma que o Terceiro Setor são as entidades sem fins

econômicos e/ou lucrativos, que a lei assim a tipifica para que não apresente

superávit em suas contas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine

referido resultado, de forma integral, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus

objetivos sociais, conforme estabelecido na Lei nº 9.532, de 1997, art. 15, § 3º,

alterado pela Lei nº 9.718, de 1998, art. 10.

PAES (2006, p.122) defende o Terceiro Setor como composição de organizações de

natureza privada (sem objetivo do lucro) dedicadas à consecução de objetivos

sociais ou públicos, embora não seja integrante do governo (Administração Estatal).

Na concepção de Landin(1998 apud Pancieri, 2001, p. 112):

Até os finais do século XIX, a grande parte do que havia se consolidado no Brasil em termos de assistência social, saúde, educação, constituía-se em organizações (sem fins lucrativos) criados pela Igreja Católica com o mandato do Estado. Ordens religiosas, confrarias, irmandades, dedicaram-se a criar hospitais, escolas, orfanatos, asilos, entre outras, organizações com relativa autonomia de funcionamento cujos recursos provinham de dotações da Coroa, de doações e heranças de “beneméritos”, o que poderia ser chamada “filantropia senhorial”

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A partir da separação de fato entre a igreja e o Estado, com base no Decreto 119-A

de 07 de janeiro de 1890 (que visava proibir a intervenção da autoridade federal e

dos Estados federados em matéria religiosa, consagrando a plena liberdade de

cultos, e extinção do padroado), o Estado pôde assumir sua função social. Mas na

verdade, as principais associações voluntárias surgiram através da igreja, uma vez

que o Estado não foi eficiente em participar da resolução dos problemas que

surgiam, razão pela qual surgiu o chamado Terceiro Setor.

O Terceiro Setor preceitua-se por um conjunto de organismos, organizações ou

instituições sem fins lucrativos com autonomia e administração própria, cuja função

e objetivo principal visam atuar voluntariamente junto à sociedade civil visando ao

seu aperfeiçoamento. Porem seu objetivo é provocar mudanças sociais, através da

transformação de cada indivíduo envolvido.

Desta forma, o Terceiro Setor abrange de maneira atenuante às lacunas deixadas

pelo Governo – no caso o primeiro setor nas ações que envolvem educação,

assistência social, saúde, comunicação, profissionalização, dentre outras, sempre

em busca pela melhoria da sociedade.

Por fim, destaca-se ainda a posição defendida por RESENDE (2008) que assim diz

acerca do tema: “TERCEIRO SETOR é aquele que congrega as organizações que,

embora prestem serviços públicos, produzam e comercializem bens e serviços, não

são estatais, nem visam lucro financeiro com os empreendimentos efetivados,

estando incluídas aqui, portanto, as associações, sociedades sem fins lucrativos e

fundações”.

Sua natureza jurídica é abordada nos incisos I, III, IV e V do art. 44 do Código Civil,

Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que assim reza:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I – as associações;

II – as sociedades;

III – as fundações.

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IV – as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de

22.12.2003);

V – os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003).

Pancieri (2001) defende o surgimento do Terceiro Setor através da Igreja Católica.

Para Paes (2003), o surgimento deste setor, no mundo, se deu através do

Protestantismo:

Desde os primórdios da colonização da Igreja Protestante era sempre uma das primeiras preocupações dos colonos. E, depois de construída, ela funcionava como escola para as crianças, centro comunitário e instância de resolução de conflitos. Ao forte sentido de iniciativa individual das pessoas, aliava-se uma grande capacidade de associação das mesmas para consecução de objetivos comuns de auto-ajuda. (PAES, 2003, p.92)

Pancieri, o Terceiro Setor foi criado para suprir as necessidades apresentadas e que

não foram supridas pelo Estado, gerando laços de solidariedade entre os indivíduos

e a prática do bem comum, que perdura até o presente momento.

Como composição do terceiro setor, temos as seguintes definições:

SETOR PÚBLICO – (ESTADO)

Tem as ações organizadas e delimitadas por um arcabouço legal, é dotado de

poderes em face da sociedade, para que possa atuar em seu benefício, devendo ter

sua atuação dirigida a todos os cidadãos.

SETOR PRIVADO – (MERCADO)

Tem como objetivo a troca de bens e serviços, busca o lucro e sua maximização.

TERCEIRO SETOR – (público, porém privado).

A composição das organizações privadas sem fins lucrativos visam o atendimento

de necessidades coletivas da sociedade conforme preceitua o artigo 44 do Código

Civil Brasileiro (Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2003).

São pertencentes ao Terceiro Setor: associações, fundações, organizações

religiosas, organizações sindicais e os partidos políticos. A existência do primeiro,

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20

segundo e terceiro setor é indispensável para a sociedade como um todo, posto que

estejam interligados, e um supre as necessidades do outro, de forma harmoniosa,

reconhecendo ser impossível atingir seus objetivos de forma isolada do Terceiro

Setor. O administrador das organizações do terceiro setor é quem vai garantir de

forma objetiva e responsável a entidade para que este alcance a diretriz proposta

pela a organização, e cumpra com êxito o papel que lhe foi destinado.

Coelho (2000 apud Pancieri 2001), em sua obra, relata que o Terceiro Setor tem

apresentado um crescimento significativo, sobretudo nas últimas décadas.

Pesquisas e estudos realizados pelo IBGE, em parceria com o IPEA, a ABONG e o

GIFE, nos períodos de 2002 e 2005, foi observado um acréscimo de 22,6% no

número de associações e fundações sem fins lucrativos, que passaram de 275,9 mil

em 2002 para 338,2 mil em 2005. A composição dessas organizações está

evidenciada na tabela 1 a seguir:

Tabela1 classificação das entidades sem fins lucrativos

CLASSIFICAÇÃO DAS ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS

NÚMERO DE FUNDAÇÕES PRIVADAS E ASSOCIAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS -

TOTAL 338.162

Habitação 456

Saúde 4.464

Hospitais 2.068

Outros serviços de saúde 2.396

Cultura e recreação 46.999

Cultura e arte 14.796

Esportes e recreação 32.203

Educação e pesquisa 19.940

Educação infantil 3.154

Ensino fundamental 7.910

Ensino médio 1.448

Educação superior 2.152

Estudos e pesquisas 2.441

Educação profissional 447

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21

Outras formas de educação/ensino 2.388

Assistência social 39.395

Religião 83.775

Associações patronais e profissionais 58.796

Associações empresariais e patronais 4.321

Associações profissionais 19.645

Associações de produtores rurais 34.830

Meio ambiente e proteção animal 2.562

Desenvolvimento e defesa de direitos 60.259

Associação de moradores 19.196

Centros e associações comunitárias 29.586

Desenvolvimento rural 1.752

Emprego e treinamento 722

Defesa de direitos de grupos e minorias 6.276

Outras formas de desenvolvimento e defesa de direitos 2.727

Outras instituições privadas sem fins lucrativos 21.516

Outras instituições privadas sem fins lucrativos não especificados anteriormente 21.516

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2005. Quadro 1 – Número de Fundações Privadas e

Associações sem Fins Lucrativos, segundo classificação das entidades sem fins lucrativos - Brasil – 2005.

Esses dados reforçam a importância da preparação dos profissionais da

Contabilidade para a atuação em tal setor. Cabe salientar ainda que o estudo das

Ciências Contábeis nessa área pode ser ampliado com a participação das

instituições de ensino superior no desenvolvimento da temática. Apesar da escassa

literatura sobre a atuação do profissional da Contabilidade no Terceiro Setor, cabe

pesquisar sobre o potencial do segmento, bem como ampliar o conhecimento sobre

suas características e peculiaridades.

2.1.1 Normas brasileiras de contabilidade aplicáveis ao terceiro setor

Sabemos que as entidades sem finalidade lucrativa são aquelas em que o resultado

positivo não é destinado aos detentores do patrimônio líquido e o lucro ou prejuízo

são denominados, respectivamente, de superávit ou déficit. As entidades, mesmo as

Page 22: Atuação contabilidade Terceiro setor

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que possuam sede no exterior, porem atua no Brasil, devem seguir as normas

contábeis brasileiras.

Dentre as normas estabelecidas, especificamente encontramos as seguintes:

NBC T 2.2– Da Documentação Contábil

A entidade é obrigada a realizar a escrituração de seus documentos contábeis sejam

eles livros e papeis entre outros. Esta documentação poderá ser interna quando

gerada da própria entidade ou externa quando gerada de terceiros. Devendo a

entidade conservar em boa ordem a documentação contábil.

NBC T 2.5– Das Contas de Compensação

As contas de compensação constituem de sistema próprio eobrigatório quando, nos

casos que se obrigue. E deverão ser registrados os atos relevantes que possam

modificar o patrimônio da entidade.

NBC T 3– Conceito, Conteúdo, Estrutura e Nomenclatura das Demonstrações

Contábeis

As demonstrações contábeis são extraídas dos livros, registros e documentos que

compõe um sistema contábil de qualquer tipo de entidade, onde a responsabilidade

técnica é exclusiva do contabilista em que este deverá obedecer as normas e os

princípios fundamentais de contabilidade aprovados pelo Conselho Federal de

Contabilidade. O grau de revelação das demonstrações deve propiciar suficiente

entendimento inclusive com o uso das normas explicativas que não poderão

substituir o que é intrínseco as demonstrações.

O Balanço Patrimonial: O balanço patrimonial é a demonstração contábil destinada

a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, a posição

patrimonial e financeira da Entidade.

Page 23: Atuação contabilidade Terceiro setor

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Demonstração de Resultado: A demonstração do resultado é a demonstração

contábil destinada a evidenciar a composição do resultado formado num

determinado período de operações da Entidade.

Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados: A demonstração de lucros ou

prejuízos acumulados é a demonstração contábil destinada a evidenciar, num

determinado período, as mutações nos resultados acumulados da Entidade.

Demonstração do patrimônio líquido: A demonstração das mutações do

patrimônio líquido é a demonstração contábil destinada a evidenciar, num

determinado período, a movimentação das contas que integram o patrimônio da

Entidade

Demonstrações de Origens e aplicação de recursos: A demonstração das

origens e aplicações de recursos é a demonstração contábil destinada a evidenciar,

um determinado período, as modificações que originaram as variações no capital

circulante líquido da Entidade.

NBC T 4– Da Avaliação Patrimonial

Esta norma estabelece as regras de avaliação dos componentes do patrimônio de

uma entidade com continuidade prevista nas suas atividades. Os componentes do

patrimônio são avaliados em moeda corrente nacional e os componentes do

patrimônio em moeda estrangeira são convertidos ao valor da moeda corrente

nacional, à taxa de câmbio da data da avaliação.

NBC T 6– Da Divulgação das Demonstrações Contábeis

Publicadas na imprensa, oficial ou privada em qualquer das modalidades; Titulares

do capital associados, credores, órgãos fiscalizadores, bolsas de valores, entidades

de ensino e pesquisa e outros interessados. A divulgação das demonstrações

contábeis tem por objetivo fornecer aos seus usuários um conjunto mínimo de

informações de natureza patrimonial financeira, econômica, fiscal, social que

possibilite o conhecimento e análise da situação da entidade.

Page 24: Atuação contabilidade Terceiro setor

24

NBC T 10 – Aspectos Contábeis de Entidades Diversas:

NBC T 10.4– Fundações

Esta norma estabelece critérios e procedimentos específicos de avaliação, de

registro contábil e de estruturação das demonstrações contábeis das Fundações.

Estas são organizações destinadas a fins de interesse coletivo (art. 11 da Lei de

Introdução ao Código Civil e art. 16 e outros do Código Civil) e podem ser “fundação

pública de natureza jurídica de direito público” ou “pessoas jurídicas de direito

privado”. São compostas por uma coletividade humana organizada, e, como tais,

são entidades econômicas, com existência distinta de cada um dos indivíduos ou

entidades que as compõem, com capacidade jurídica para exercer direitos e

obrigações patrimoniais, econômicos e financeiros. Aplicam-se às Fundações os

Princípios Fundamentais de Contabilidade, bem como, com as alterações tratadas

nos itens 10.4.5.1, 10.4.5.2, 10.4.6.1, 10.4.6.2 e 10.4.7.1, todas as Normas

Brasileiras de Contabilidade e suas Interpretações Técnicas e Comunicados

Técnicos, editados pelo Conselho Federal de Contabilidade.

NBC T 10.18-Entidades Sindicais e Associações de Classe

10.18.1.1 – Esta Norma estabelece critérios e procedimentos específicos de

avaliação de registros contábeis e de estruturação das demonstrações contábeis

das Entidades Sindicais e Associações de Classe, e aplica-se às entidades sindicais

de todos os níveis, sejam confederações, centrais, federações e sindicatos; a

quaisquer associações de classe; a outras denominações que possam ter,

abrangendo tanto as patronais como as de trabalhadores. Requisito básico é

aglutinarem voluntariamente pessoas físicas ou jurídicas, conforme o caso, unidas

em prol de uma profissão ou atividade comum.

NBC T 10.19– Entidades sem Fins Lucrativos

Esta norma estabelece critérios e procedimentos específicos de avaliação, de

registros dos componentes e variações patrimoniais e de estruturação das

demonstrações contábeis, e as informações mínimas a serem divulgadas em nota

explicativa das entidades sem finalidades de lucros. Está é a norma que vem

regulamentar a entidade estudada no presente trabalho.

Page 25: Atuação contabilidade Terceiro setor

25

NBC T 19.4- Incentivos Fiscais, Subvenções, Contribuições, Auxílios e Doações

Governamentais

Estabelece procedimentos contábeis e as informações mínimas a serem divulgadas

em notas explicativas pelas entidades privadas que recebem incentivos fiscais,

subvenções, contribuições, auxílios e doações governamentais.

Contudo, estas normas reconhecem que as entidades são diferentes das demais e,

para que haja um bom funcionamento, recomendam a adoção de terminologias

específicas para as contas de Lucros ou Prejuízos, Capital e para a denominação da

Demonstração do Resultado, que, obedecidas com rigor, apresentarão resultados

satisfatórios aos principais interessados. Cabe destacar que as referidas normas

ainda não foram reformuladas conforme o disposto na Lei nº 12.101-2009 e demais

disposições subseqüentes.

2.1.2 Características básicas da contabilidade do terceiro setor

As características das entidades sem fins lucrativos sofreram alteração em sua

forma de gestão, bem como em outras particularidades. O administrador das

organizações do terceiro setor pensou principalmente nos objetivos e

responsabilidades de gerir a entidade de forma que alcance a diretriz proposta pela

a organização cumprindo a missão a que a entidade se destina.

Freeman e ShouldersapudOLAK e NASCIMENTO(2008, p.3) relatam que existem

algumas características que são peculiares ao terceiro setor, quais sejam:

• O lucro não é razão de ser dessas entidades;

• A propriedade pertence à comunidade;

• As contribuições não dão direito ao doador de participação nos bens e

serviços da organização; e,

• As principais decisões são tomadas via assembléia geral, por membros de

diversos segmentos da sociedade.

• As entidades sem fins lucrativos têm na missão sua razão de ser, e é o

motivo de sua existência.

Page 26: Atuação contabilidade Terceiro setor

26

Seu objetivo é a transformação dos indivíduos de forma que afirma DRUGKER

(1994, p.14) “Provoca mudanças sociais”, enquanto as entidades com fins lucrativos

possuem visão de lucratividade.

Em decorrência da busca de resultados satisfatórios de recursos, têm-se buscado a

profissionalização, que também é uma forma para atender outra exigência da

sociedade por meio da transparência, onde serão aplicados os recursos

conseguidos, pra que desta forma tais técnicas posam mensurar os resultados

sociais de difícil quantificação monetária.

As principais fontes de recursos financeiros e materiais são obtidos através de

doações, contribuições e subvenções. Diante disso, a contabilidade busca métodos

para interpretar, analisar, registrar e demonstrar os fatos administrativos, expressos

monetariamente, que modificam o patrimônio (conjunto de bens, direitos e

obrigações) de uma entidade (pessoa física ou jurídica). Esta vem a ser o principal

instrumento que fornece informações úteis e confiáveis pautadas em documentos na

utilização para a tomada de decisões. Pode-se dizer deste modo, que a função da

Contabilidade visa esclarecer todas as mudanças financeiras e econômicas que

ocorrem no patrimônio das entidades.

No Brasil, a contabilidade, no que tange o terceiro setor, procura obedecer e

disciplinar as particularidades pertinentes às entidades sem fins lucrativos. É

também uma exigência dos Órgãos fiscalizadores que a contabilidade das entidades

filantrópicas também esteja em ordem, como é o caso a do Decreto nº 7.237, de 20

de julho de 2010, que revogou o Decreto nº 3.048/1999 art. 209 § 3º, para dispor

sobre o processo de certificação das entidades beneficentes de assistência social

para obtenção da isenção das contribuições para a seguridade social.

2.1.3Fundos Especificados

Neste aspecto a contabilidade tem o papel fundamental de realizar registros

recebidos, bem como atender de forma separada e em fundo, todas as restrições

que surgirem impostas por órgãos diretivos da entidade. Colocando em pratica, nada

Page 27: Atuação contabilidade Terceiro setor

27

mais será trazer à entidade a existência de Fundos de pesquisas, Fundos de

colaboração social, etc.

2.1.4Outras Características

Outras características distintivas da contabilidade do terceiro setor:

a) Aplicam-se a essas entidades os Princípios Fundamentais de Contabilidade, bem

com as Normas Brasileiras de Contabilidade e suas Interpretações Técnicas e

Comunicados Técnicos, editados pelo Conselho Federal de Contabilidade.

b) As entidades sem finalidade de lucro são aquelas em que o resultado positivo não

é destinado aos detentores do patrimônio líquido e o lucro ou prejuízos são

denominados, respectivamente, de superávit ou déficit.

c) O valor do superávit ou déficit do exercício deve ser registrado na conta Superávit

ou Déficit do Exercício enquanto não aprovado pela assembleia dos associados e

após a sua aprovação, deve ser transferido para a conta Patrimônio Social.

2.2 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

São conhecidas e denominadas entidades do terceiro setor, pois as organizações

religiosas não possuem fins lucrativos, do contrário, buscam atender aos problemas

sociais da população de forma humanitária. Estas se encontravam enquadradas na

Lei Federal 10.825/03 e passaram a ser classificada como pessoas jurídicas de

direito privado.

As organizações religiosas, na concepção de Olivo (2005), possuemtítulo conferido

pelo Estado a pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, voltados à

consecução a fins sociais.

Precisamente, as organizações religiosas são instituições de cunho religioso, em

que a arrecadação com contribuições são para caridade, para seus participantes e

para manutenção dos templos, motivo pelo qual estão isentas de pagamento de

impostos. O Decreto 119-A, de 07/1/1890 regulamentou a separação entre Estado e

Igreja, consagrando assim a liberdade de culto:

Page 28: Atuação contabilidade Terceiro setor

28

Art. 3º. A liberdade aqui instituída abrange não só os indivíduos nos atos individuais, senão também as igrejas, associações e institutos em que se acharem agremiados; cabendo a todos o pleno direito de se constituírem e viverem coletivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder público.

É possível entender que tal decreto defende a liberdade de consciência religiosa e

sentimento de religião,bem como autorização legal para o funcionamento de Igrejas,

intitulada pessoa jurídica.

A Lei 10.825/2003 justifica a Organização Religiosa, a saber:

I – da Organização Religiosa: conceito, natureza jurídica e registro. É considerada organização religiosa, espécie do gênero pessoa jurídica de direito privado, conforme alteração do artigo 44 do Código Civil levada a efeito pela Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2003, publicada no Diário Oficial da união – Seção 1 – do dia 23 subseqüente. Artigo 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações; IV – as organizações religiosas; V – os partidos políticos.

As organizações religiosas, elencadas na Lei 10.825/2003 foram assim conceituadas

devidas sua finalidade econômica não se constituir na destinação de bens a

determinadas atividades, sendo, pois esta caracterizada apenas para fins religiosos.

Mas nada obsta a existência de outras finalidades de cunho beneficente, filosóficos,

científicos, culturais ou filantrópicos.

Seu principal objetivo, de ampla visão, visa caminhar voluntariamente benefício das

pessoas que necessitam da ajuda que somente o Estado, sozinho, jamais

alcançaria. Para Coelho (2000, p. 31), as associações voluntárias caminham lado a

lado com as organizações religiosas:

Na realidade, os valores religiosos sempre foram um bom terreno para o desenvolvimento do setor voluntário. Todas as tradições religiosas ressaltavam o papel de instituições como a família, os amigos, os vizinhos e a Igreja como as primeiras instâncias às quais apelam em tempos de necessidades.

O autor quis dizer que as organizações prestam ajuda as pessoas que necessitam,

seja para fins de saúde, alimentação e demais problemas sociais. Por esta razão o

Código Civil Brasileiro assegurou a isenção de pagamento de impostos, diferente

dos fins destinados as associações, e ainda, o poder público não pode lhes negar

acesso a atos constitutivos para seu bom funcionamento.

Page 29: Atuação contabilidade Terceiro setor

29

2.3 A IGREJA CATÓLICA

Denominada organização religiosa, a Igreja Católica Apostólica Romana, existe a

aproximadamente dois mil anos, e está submetida a autoridade papal, sendo este o

Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro. Seu principal objetivo é pregar o

evangelho de Cristo, bem como seus ensinamentos.

A Igreja Católica encontra-se sob regimento do Direito Canônico (CDC), com intuito

de promover e atuar em programas sociais em todo mundo. No Direito Canônico,

artigo 100, encontramos a seguinte definição:

A Igreja Católica e a Sé Apostólica possuem a natureza de pessoas morais por própria ordenação divina; as outras pessoas morais inferiores possuem-na ou por disposição do direito ou por concessão especial do competente Superior eclesiástico outorgada por decreto formal para um fim religioso ou caritativo.

A Igreja Católica Apostólica Romana e a Santa Sé são caracterizadas pessoa

jurídica de cunho religioso e social, e estão enquadradas na mesma legislação

pertinente as organizações religiosas, garantidas as imunidades e isenções.

A Santa Sé ou Sé Apostólica é a Sede papal, sujeito internacional do Vaticano, que

intitula acordos diplomáticos em quase todos os países no mundo. Seu órgão

administrativo é a Cúria Romana, que são os organismos e pessoas que ajudam o

Bispo no governo de toda a Diocese, principalmente na direção da ação pastoral, no

cuidado da administração da Diocese e no exercício do poder judiciário (CIC c.

469).A Organização Jurídica Pública sem fins lucrativos é conhecida no âmbito civil

como Mitra Diocesana. Essa tem dois sentidos como: entidade jurídica civil sem fins

lucrativos da Diocese e paramento que o bispo usa na cabeça durante as cerimônias

litúrgicas. Em outras palavras, Mitra é a Organização Jurídica Civil da Diocese, e faz

parte da Cúria Diocesana.

Segundo o Direito canônico, é garantido a Igreja Católica o livre exercício de

autoridade para fins de poder de culto privado ou até mesmo políticos, sem

quaisquer impedimentos no âmbito de sua competência. Sua hierarquia é

conhecida, na seguinte ordem:

I – Papa II – Bispos III – Arcebispos

Page 30: Atuação contabilidade Terceiro setor

30

IV – Cardeais V – Padres VI - Diáconos

I – Papa

Conhecido por ser o chefe da Igreja Católica, este possui autoridade e jurisdição

devido a fé, por ser sucessor direto do Apóstolo São Pedro, e é eleito de forma

vitalícia pelo Colegiado de Cardeais. Toda e qualquer designação da igreja está sob

seu poder, devendo ser obedecido em todas as ordens por este estabelecidas.

O papa costuma visitar países no intuito de levar a crença com objetividade aos

demais povos de denominação católica, bem como a transmissão da paz, pregação

da caridade e bondade ao próximo e gerar a paz. Em outros tempos, o Papa auxiliou

a propagação do Cristianismo e resolveu conflitos de cunho doutrinário, lutando

contra monarcas acerca dos assuntos de interesse da igreja, estado e direitos

humanos.

Atualmente, os papas se dedicam a organização de missões evangelísticas em todo

o mundo, sendo esta a única autoridade que possui conhecimento e instrução para

dirimir assuntos acerca da legislação, alterações na lei do direito canônico, liturgias,

resolução de conflitos sobre irregularidades praticadas, tem poder de função

governamental sobre nomeações e seus cargos aprovam ou reprova ordens

religiosas e administra os bens da Igreja.

II – Bispos

São sucessores diretos dos doze Apóstolos, conferindo aos mesmos o cuidado

sobre os fiéis e suas dioceses, que são Unidades Organizacionais da Igreja Católica.

Os bispos de todo o mundo reúnem o Colégio Apostólico, que, para o Direito

Canônico, exercem seu poder sobre toda a igreja de forma simples mas livremente

aceita pelo Papa. São ainda responsáveis pela propagação da palavra de Deus,

celebração de eventos importantes, como a Eucaristia e demais sacramentos. São

obrigados a cada quatro anos a fazer uma visita ao Papa em Roma, levando consigo

um relatório sobre a diocese que está responsável, para fins de prestação de contas

e informações.

III – Arcebispos

Page 31: Atuação contabilidade Terceiro setor

31

Os Arcebispos estão à frente das arquidioceses, sendo estes responsáveis pelo

cuidado, zelo e disciplina eclesiástica, bem como presidir as reuniões dos Bispos da

Província. Possuem ainda funções voltadas para a liturgia nas dioceses de sua

localidade, sem a interferência direta na organização e ação pastoral das demais

dioceses ou até mesmo de outra Arquidiocese.

IV – Cardeais

Os Cardeais são os Bispos conselheiros e colaboradores de maior proximidade do

Papa, e a cada Cardeal é atribuída uma Igreja em Roma para fazer dele membro do

clero da cidade. Muitos destes cardeais servem na Cúria, ou seja, na administração

da Igreja junto ao Papa, atributo este estabelecido pelo Direito Canônico.Muitos

Cardeais possuem Dioceses sob seus cuidados, zelando pelo bem da Igreja sem

interferir na administração de seus bens e serviços. O Papa pode designar o Cardeal

a representá-lo em alguma celebração solene desempenhando determinado

encargo pastoral.

V – Padres

Os padres são os colaboradores dos Bispos sendo alguns líderes de Paróquias de

sua Diocese com diversas funções dentro de seu ministério, podendo exercê-lo na

dependência do Bispo e em comunhão com ele. O Vaticano estabelece que os

Padres sejam considerados cooperadores dos Bispos e tem como função anunciar o

Evangelho de Deus a todos os homens, consagrar, oferecer e distribuir o Corpo e

Sangue de Cristo e tem o poder de perdoar e reter os pecados. Estes são

designados a zelar pelo selo pastoral de sua Diocese e no campo missionário, com

finalidade de promover a consciência missionária de seus fiéis e de sua

comunidade.

VI – Diáconos

São os auxiliares dos Padres e Bispos e são ordenados para o serviço da caridade,

da proclamação da palavra de Deus e da liturgia, mas não são ordenados para o

sacerdócio, sendo o oficial eleito pela Igreja e seu conselho. O Código do Direito

Canônico cita como funções dos Diáconos, abrir e organizar a Igreja, recolher

ofertas e entregas para o responsável pelo financeiro da Igreja, mostrar exemplo de

Page 32: Atuação contabilidade Terceiro setor

32

ordem na Igreja e auxílio aos Padres no que for preciso nas práticas sacerdotais. A

Igreja Católica possui ainda uma divisão bem estruturada para designação de seus

colabores, demonstrado na seguinte ordem:

Figura 1: Organograma da Igreja Católica Apostólica Romana

Fonte: CNBB

A Santa Sé tem domínio para governar o Vaticano, e é a sede universal da Igreja

Católica. Cada país possui a sede universal para coordenar a ação pastoral. No

Brasil, quem a realiza é a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil),

sociedade civil de direito privado que alcança as atividades de natureza religiosa,

educacional e cultural. Elas não alcançam os benefícios tributários, salvo a

imunidade.

Para, Tatto (2003, p. 40), “para melhor acompanhamento das necessidades e das

atividades, a Diocese é dividida em Setores, constituídos de um grupo de Paróquias

com suas Comunidades”. Diocese era o mesmo nome dado às circunscrições

administrativas de algumas províncias romanas.

Delaméa (2002, p. 48) destaca “a dupla função do Bispo diocesano em matéria

patrimonial: a administração imediata dos bens da diocese e a função de controle e

vigilância sobre os bens patrimoniais pertencentes às pessoas jurídicas eclesiásticas

e a ele sujeitas. ”Deste modo, há necessidade de possuir cadastro de

CNPJ(Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas) e suas paróquias e comunidades

utilizam-se do mesmo número como se fossem filiais.

Page 33: Atuação contabilidade Terceiro setor

33

A Paróquia é definida no Código de Direito Canônico (CDC), Cân. 515, como “uma

determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular, e

seu cuidado pastoral é confiado ao pároco, como seu pastor próprio, sob autoridade

do Bispo diocesano”. A paróquia só pode ser assim denominada a partir da reunião

de fiéis, das comunidades, sendo estas popularmente conhecidas como capelas. A

Igreja se concretiza em comunidades ligadas entre si, que formarão Paróquias, que

por fim constituem a Diocese.

Importante destacar ainda, que na visão de Delaméa (2002, p. 48) a “Igreja, para

que aptamente possa responder à vocação cristã e aos preceitos do Evangelho,

necessita de certaestrutura organizacional e administrativa para fazer frente às

exigências pastorais e de tudo quanto se realize na Igreja tendo em vista sua missão

e fins específicos”.

Page 34: Atuação contabilidade Terceiro setor

34

3. ESTUDO DE CASO

Foi realizado um estudo de caso na Mitra Arquidiocesana de Vitória que é a matriz,

ou seja, a central de todas as Igrejas Católicas da Grande Vitória e da área Serrana

do Espírito Santo

3.1 MITRA

A denominação da instituição é Mitra Arquidiocesana de Vitória, instituição sem fins

lucrativos sucessora da Mitra Diocesana de Vitória ou Mitra Diocesana do Espírito

Santo, com sede e foro na cidade de Vitória, representa e administra os bens

materiais que constituem o patrimônio da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo,

que é a porção do Povo de Deus, confiada ao Arcebispo Metropolitano, para que

pastoreie em cooperação com o Presbitério, regendo-se por estatuto, pela legislação

aplicável e ainda normas do Direito Canônico, em vigor na Igreja Católica Apostólica

Romana.

A Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo se divide canonicamente em Paróquias,

cada uma delas tendo personalidade jurídica. No entanto, todas as igrejas, matrizes,

capelas, com suas casas residenciais ou obras anexas, o Seminário Arquidiocesano,

o Centro de Treinamento Dom João Batista, o Instituto de Filosofia e Teologia da

Arquidiocese, bem como seus bens móveis e imóveis, pertencem a Mitra

Arquidiocesana de Vitória.

3.1.1 Histórico

A Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, datada de 16 de fevereiro de 1958,

substitui a antiga Diocese do Espírito Santo ou Bispado do Espírito Santo que

também se apresentou sob as denominações de Arcebispado de Vitória ou Cúria

Metropolitana de Vitória, Cúria Diocesana de Vitória em alguns atos, fundada por

Leão XIII, aos 15 de novembro de 1895, tem personalidade jurídica própria e

imanente por força de sua instituição, e ainda, por ato expresso do Governo

Federativo do Brasil, representado pelo Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890.

Page 35: Atuação contabilidade Terceiro setor

35

3.1.2 Objetivo

A Mitra Arquidiocesana de vitória é uma entidade religiosa, tendo como objetivos:

conservar, administrar e dinamizar o patrimônio da Arquidiocese de Vitória; prover o

Culto Divino e demais obras e movimentos em que se desdobra a ação pastoral da

Arquidiocese, a manutenção e representação episcopal, o Clero diocesano, a Cúria

Metropolitana e a Coordenação Pastoral.

3.1.3 Estrutura organizacional

A Mitra Arquidiocesana de Vitória será administrada pelo Arcebispo, assessorado

pelo: Bispo Auxiliar, Vigário Geral; Vigário Episcopal para assuntos Econômicos;

Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Conselho de Administração; Gerente

de Administração e Párocos ou Administrador Paroquial de cada Paróquia

legitimamente regida pela arquidiocese.

Figura 2. Estrutura organizacional da Mitra Arquidiocesana de Vitoria

Fonte: pesquisa realizada na Mitra Arquidiocesana de Vitória adaptado pelo autor.

MITRA ARQUIDIOCENA

PARÓQUIA

COMUNIDADE COMUNIDADE COMUNIDADE

PARÓQUIA

COMUNIDADE COMUNIDADE

PARÓQUIA

COMUNIDADE COMUNIDADE COMUNIDADE COMUNIDADE

Page 36: Atuação contabilidade Terceiro setor

36

3.1.4 Atribuições de cada administrador

O Arcebispo é o administrador geral e supremo da instituição, com todos os poderes

de acordo com o Código de Direito Canônico.

O Colégio de Consultores será composto exclusivamente por sacerdotes, nomeados

pelo Arcebispo, conforme determina o Código de Direito Canônico.

O Conselho de Administração será composto de sacerdotes e leigos, nomeados

pelo Arcebispo, e não tem poder ou função deliberativa.

Os membros do Conselho de Administração são nomeadospor um qüinqüênio, mas,

passado esse tempo, podem ser assumidos para outros qüinqüênios.

O Conselho de Administração o Colégio de consultores reuni quando convocados

previamente pelo Arcebispo.

Os cargos remunerados são fixados pelo Arcebispo, de acordo com a lei vigente no

país.

A Assembléia Geral é convocada pelo Arcebispo pelo menos duas vezes no ano,

quando a Administração Geral faz sua prestação de contas, a qual será avaliada

pelos membros desta Assembléia

3.2 CONTROLES FINANCEIROS

Assunto de extrema importância é o controle financeiro, senão o mais importante. A

partir deste é que os envolvidos na gestão poderão saber o montante acerca dos

recebimentos e gastos realizados, para fins de planejamento financeiro. Sob este

aspecto, cumpre mencionar ainda que o profissional habilitado a fazê-lo deve

possuir experiência.

O controle financeiro trata desde o recebimento e pagamento a análise de

possibilidades de avaliação de riscos de mercado. No terceiro Setor, o controle

financeiro de uma entidade sem fins lucrativos, no caso supra a Igreja Católica,

necessita de maior apuração e controle mais complexo, além da riqueza de detalhes

acerca dos gastos e prestações de contas além de saber como investir os recursos

disponíveis. Para Albuquerque (2006), deve ser designado um membro da equipe

Page 37: Atuação contabilidade Terceiro setor

37

para assegurar que o sistema de controle financeiro seja controlado e respeitado por

toda organização e pela equipe que participa do projeto ou programa da instituição.

As receitas e despesas carecem de comprovação especificas, evitando quaisquer

problemas de prestação de contas no final do respectivo mês, comprovantes estes

que devem ficar com a organização segundo a legislação brasileira. Ainda, na

concepção de Albuquerque (2006), nas organizações também devem ser emitidos

relatórios financeiros, desenvolvidos para o controle de despesas domésticas, porém

podem ser usados para facilitar e agilizar a gestão financeira de seus projetos e

programas.

3.2.1Controle Financeiro das Paróquias

As paróquias realizam o controle financeiro com finalidade de administrar de forma

clara o controle de suas entradas e saídas em período mensal, para que seja

entregue a Arquidiocese de forma registrada e contabilizada.

Para Delaméa (1992, p.65):

As operações de tesouraria devem ser comprovadas através de documentos, entre outros, resultantes: dos recebimentos e pagamentos em dinheiro (inclusive cheques); da recepção ou entrega de bens; da assunção de dívidas ou da formação de créditos. Os documentos são de diversas procedências e formas, podem ser públicos ou privados e ser representados por contratos, títulos de créditos (duplicatas, notas promissórias, letras de câmbio, cheques, etc.), recibos, notas de entrega, notas fiscais, notas de venda à vista, notas de pedidos etc.

Todo e qualquer registro contábil obrigatoriamentetem que ser computado em um

controle financeiro, através de relatório de documentos e encaminhado a

contabilidade responsável pela Arquidiocese local.

Delaméa aborda ainda as principais funções delegadas ao administrador financeiro

da paróquia, quais sejam: manter atualizado as entradas e saídas no caixa; efetuar o

desconto e o recolhimento dos tributos previstos em lei no ato do pagamento ou

recebimento; estar de acordo com a legislação em vigor em relação ao contrato de

trabalho com os empregados; zelar para que os contratos de aluguéis e outros

estejam dentro das normas técnicas jurídicas; fazer os depósitos, tanto de

investimentos, como de aplicações ou outros depósitos bancários, sempre em nome

Page 38: Atuação contabilidade Terceiro setor

38

da paróquia, de forma lícita; manter o livro de registro em ordem e atualizados assim

como os documentos de controle e cobrança do fundo paroquial e deixar em dia as

taxas e tributos; prestar contas ao pároco e ao conselho de assuntos canônicos,

sempre através de documentos, ou seja, comprovantes e por fim elaborar um

balancete mensal de entradas e saídas e apresentá-lo ao pároco, para que seja

enviada a arquidiocese.

Estas atividades se tornam indispensáveis ao administrador econômico da Paróquia

e Capelas, prestando contas ao final do mês com a Paróquia responsável pela sua

circunscrição, e esta por sua vez prestará contas com a Arquidiocese. O

administrador econômico da Capela também deverá prestar contas aos fiéis de sua

comunidade de toda movimentação financeira do mês decorrente.

Pereira(2008) atesta que as coletas, doações e outros valores de cunho de

arrecadação podem ser aplicados e depositados somente em instituições financeiras

em nome da Paróquia, contendo sempre a assinatura do pároco assim como a

movimentação de todas as contas bancárias.

No caso supra, acerca da Mitra Arquidiocesana de Vitoria, a mesma, como pessoa

jurídica, segue a legislação em vigor, sendo obrigada a realizar as declarações

exigidas pelos órgãos municipais, estaduais e federais, sendo obrigada a elaborar

o livro diário, contendo o balanço patrimonial e a demonstração de resultado,

devendo ambos serem assinados por profissional graduado em ciências contábeis

legalmente habilitado e pelo responsável pela entidade. O livro diário tem que ser

registrado em cartório, e não é necessário nenhum tipo de publicação. Por fim, será

enviado para o cartório de registros.

Após, com base nas informações lançadas no radar é realizada a conferência e a

guarda dos documentos pelo prazo da legislação em vigor que é de 5 anos. Todos

os registros contábeis geram o chamado livro diário que é impresso, encadernado,

assinado e registrado em cartório.

Page 39: Atuação contabilidade Terceiro setor

39

3.3DESCRIÇÕES E ANALISE DE DADOS

A descrição e análise de dados foram elaboradasatravés de pesquisa de campo,

onde foi possível, em forma de questionário de perguntas e respostas feitas ao

responsável pelo setor contábil, com autorização do Administrador da Cúria, saber

como é realizado o registro dos movimentos financeiros pelas paróquias e

repassado a Mitra, que a coordena.

I - Como é feita a contabilidade das igrejas?

A Mitra Arquidiocesana de Vitória divide-se em Matriz e Filiais. Na matriz há um

departamento de contabilidade que recebe, contabiliza e guarda todos os

documentos pelo prazo exigido pela legislação.

II - Qual a importância do uso da contabilidade para a entidade?

A contabilidade é a ciência que estuda, controla e interpreta os fatos ocorridos no

patrimônio das entidades mediante registro (Hilário Franco), sendo assim, importante

para todas as entidades. A contabilidade existe também para atender ao fisco, pois

as entidades precisam prestar contas de suas receitas e despesas aos órgãos

federais, estaduais e municipais, como por exemplo, apresentar anualmente a DIPJ

(Declaração de Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas) em conformidade com a

Secretaria da Receita Federal. A contabilidade tem como objetivo de atender seus

usuários externos e internos, quais sejam: governo, bancos, administração,

funcionários, etc. É uma ferramenta indispensável no controle patrimonial, no

gerenciamento e na tomada de decisão, onde são elaborados vários relatórios

gerenciais, demonstrações contábeis, balanço patrimonial, etc.

III - Quais são os relatórios financeiros utilizados pela Mitra?

Demonstrativos financeiros da matriz e das filiais.

IV - A partir dos dados obtidos dos relatórios que tipo ou como é feita a

tomada de decisão?

Page 40: Atuação contabilidade Terceiro setor

40

A partir dos dados coletados analisamos se houve crescimento na receita, por

exemplo.

V - Se possível descrever, como é feita a coleta de dados/informações das

Igrejas.

Cada comunidade possui um tesoureiro e ele é responsável pelo envio da

documentação da movimentação financeira, remetendo a paróquia os comprovantes

de receitas e despesas e estes por sua vez encaminhados a Mitra.

VI - No processo de coleta de dados e contabilização das informações é

encontrada alguma dificuldade e ou impedimento?

As dificuldades encontradas mais comuns são demora no envio das informações e

erro no preenchimento dos demonstrativos/relatórios.

VII - Que tipo de serviço a Mitra arquidiocesana presta a sociedade?

A Mitra Arquidiocese de Vitória é o nome jurídico da Arquidiocese de Vitória do

Espírito, que representa a igreja católica no Estado. Através de sua mensagem

cristã pregada nas igrejas contribui para a justiça, a paz, a fraternidade nas relações

humanas; na estrutura e harmonia familiar; através de seus projetos e pastorais

sociais voltadas para a criança, a juventude, as famílias carentes contribui para

diminuir a mortalidade, a violência, a fome, as doenças, o tráfico de drogas e

entorpecentes, entre outros através de suas escolas e faculdades católicas fornece

uma educação do mais alto nível ajudando na formação intelectual, moral e

profissional das pessoas; contribui com a arte e a cultura; dentre outros benefícios.

VIII - Os serviços contábeis são terceirizados ou internos?

Os serviços contábeis anteriormente eram realizados em escritório de contabilidade

terceirizado. Em 2000 passou-se a ter um departamento de contabilidade com

contador próprio e em 2004centralizada toda a escrituração contábil na matriz.

IX - Qual é a estrutura organizacional da Mitra Arquidiocesana de Vitória?

Page 41: Atuação contabilidade Terceiro setor

41

A Mitra Arquidiocesana de Vitória divide-se em Matriz e Filiais, denominadas

paróquias. Cada paróquia possui um número de comunidades que varia em

quantidade de acordo com o tamanho e a necessidade do território paroquial.

3.3.1Registros contábeis na Mitra Arquidiocesana: como é feito

A principal finalidade contábil para a Mitra Arquidiocesana, dentro dos parâmetros

visados pelo terceiro setor, é promover o bem comum, otimizar os bens da igreja,

atender as necessidades da comunidade.

Por esta razão a arquidiocese esquematizou e implantou um mecanismo de

integração administrativa e contábil para as entidades sem fins lucrativos, visando

assim a eficiência no resultado na estrutura interna da entidade e segurança acerca

das informações contábeis. No caso supra, a Mitra Arquidiocesana de Vitória

responde pelo patrimônio de paróquias e capelas, e por estas presta contas. Sua

organização depende tão e exclusivamente de resultados contábeis satisfatórios,

indispensáveis a boa administração.

Sua contabilidade é centralizada e corresponde a prestação de relatório de

movimento de entradas e saídas, movimento de caixa e banco e toda movimentação

contábil, que devem ser entregues mensalmente na Mitra para o devido lançamento

no Livro Diário. Essa centralização ocorre devido à utilização de um mesmo

Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ pela Arquidiocese, Mitra, todas as

Paróquias e Capelas, diferenciando apenas os números após a barra.

Todo registro contábil das paróquias deve ser centralizado no Departamento de

Contabilidade da Arquidiocese, conforme estabelece o Código de Direito Canônico e

legislação fiscal do Brasil. O registro é realizado em um plano de contas, conforme

necessidade de cada paróquia ou entidade. Sua contabilidade será processada para

emissão de balancetes e anualmente para a emissão do Balanço Patrimonial,

obrigatoriamente assinado por profissional habilitado ao Conselho Regional de

Contabilidade - CRC.

Page 42: Atuação contabilidade Terceiro setor

42

Por fim, a Arquidiocese, anualmente, deverá cumprir todas as suas obrigações na

forma da lei, preenchendo e entregando ao Ministério da Fazenda a Declaração de

Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica.

3.3.2Análise de dados da Mitra Arquidiocesana de Vitória

Cinqüenta por cento do valor arrecadado das comunidades é repassado pela

paróquia – o chamado fundo paroquial, e destes 50% dos gastos abaixo

mencionados, resta os outros 50% para a comunidade.

Tabela 2: Repasse Mitra mês maio e abril 2014

REPASSE PARA A MITRA

MÊS DE MAIO 2014 REF. A ABRIL/2014

VALOR RECEBIDO DO FUNDO PAROQUIAL R$ 34.009,27

Fundo presbiteral (4%) R$ 1.360, 37

Mitra (14%) R$ 4.761, 30

Seminário (3%) R$ 1.020, 28

Área (1%) R$ 340, 09

Fund. N. Sra. da Penha (3%) R$ 1.020, 28

TOTAL R$ 8.502, 32

Fonte: Adaptado pelo autor

A prestação de contas da paróquia para a Mitra Arquidiocesana ocorre da seguinte

forma:Todos os meses são extraídos relatórios e extratos de gastos, bem como

saldo bancário de sua conta vinculada e disponibilidade de forma de pagamento

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43

para cada tipo de documento, mediante apresentação de nota ou cupom fiscal. As

paróquias, através do chamado Fundo Paroquial, se reúnem para enviar cinqüenta

por cento de tudo que é arrecadado, com descrição de histórico, classificação da

receita ou despesa, valor classificado, valores de entrada e saída, bem com saldo

disponível em conta,

Para maiores esclarecimentos, segue demonstrativo realizado para lançamento no

livro Caixa.

Tabela 3: Livro caixa consolidado

LIVRO CAIXA CONSOLIDADO NO PERÍODO DE 01/04/2014 A 30/04/2014

Conta: xxxx – Comunidade São José dos Pinhais

Saldo anterior: xxx

Cód. Doc. Descrição Receitas Despesas

05/04/201423140 Demonstrativo de receita xxx xxx

08/04/201470601 Pgttransf. conta para FC xxx xxx

09/04/201415083 Padaria Só delicia xxx xxx

22/04/201464508 Açougue do José xxx xxx

Resumo dos Recursos:

Saldo anterior: xxx

Todas as receitas: xxx Todas as despesas: xxx

Saldo atual: xxx

Diante das informações prestadas anteriormente, resta destacar que Delaméa,

acerca da definição de patrimônios, composto de bens, direitos e obrigações de uma

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44

entidade, constitui-se por meio necessário para realização de seus fins, razão pela

qual é obedecida de forma criteriosa a demonstração do patrimônio das paróquias e

Mitras, e suas principais necessidades de uso e de consumo, quais sejam:

Não é fácil delimitar com precisão o ‘patrimônio estável’ pois não há regras absolutas para fixar a noção de estabilidade de um patrimônio: no que tange à natureza e quantidade dos bens, as exigências econômicas para a consecução dos fins, a seguridade da situação estacionaria e expansiva da paróquia no exercício de sua missão (DELAMÉA, 2002, p. 36-37).

Todas as receitas e despesas de uma entidade são fruto de doações e de seu

funcionamento, constituindo desta forma parte de seu patrimônio. As principais

fontes de receitas mensais da Igreja Católica hoje são: contribuições voluntárias dos

fiéis (dízimos, coletas, coletas especiais que são destinadas conforme o previsto no

art. 22 do Regimento da CAEP); receitas com festejos populares ou de serviços

prestados; receita com venda de bens patrimoniais ou a cobrança de créditos;

aluguéis; receitas financeiras; recebimento de bens de terceiros; vendas de artigos

religiosos (atividades que envolvem apenas as necessidades pastorais, conhecida

pela contabilidade como reembolsam de subsídios, pois se praticado comércio a

igreja deixa de obedecer a seus princípios institucionais).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa foi realizada com intuito de desmistificar a forma como a Igreja

Católica administra e gerencia a Contabilidade, sobretudo para o Terceiro Setor. A

fim de trazer à tona a importância da contabilidade na boa administração paroquial,

pretendeu-se analisar a forma como é aplicada ao setor sem fins lucrativos,

controles gerenciais que a mesma utiliza e forma de administrar por responsáveis

pelas paróquias, comunidades e Mitras.

Partindo do pressuposto objetivo geral, com fins de identificação acerca dos

controles de gestão da Mitra Arquidiocesana de Vitória, a primeira coisa a ser

pontuada é que foi necessário desenvolver um questionário para entender sua forma

organizacional e quem possuem a responsabilidade em realizá-lo, para depois

aprofundar-se em saber como a paróquia compartilha com a Mitra todos os dados,

informações e valores recebidos.

Por tratar-se especificamente da Igreja Católica, e com objetivo de trazer

conhecimento sobre a forma como é tratado o Terceiro Setor, a mesma é referida

apenas como Organização Religiosa Civil. No decorrer da pesquisa pode ser

observada a importância e influencia que a Igreja trouxe, a saber, na economia, de

forma que desafogou os Estados com a separação dos dois, no âmbito social,

surgindo assim o Terceiro Setor, com soluções que muito ajudaram os menos

favorecidos, no aspecto legal, sobrepondo-se ao processo de elaboração da

Constituição da República Federativa do Brasil e por fim para a própria

contabilidade.

A contabilidade em muito influencia, por meio de seus procedimentos de controle,

normas e condições de gerenciamento, de suma importância para o Terceiro Setor,

seja por meio de publicações, prestação de informações aos fiéis da Igreja, bem

como para a sociedade e para o próprio contador, que analisa e utiliza os seguintes

controles: Controle de Pagamento de Dízimo, de Contas a Pagar e a Receber, Fluxo

de Caixa, Inventário, Balancete Mensais e Centro de Custos por Comunidade.

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Através do estudo de caso podemos perceber que, para que, a Igrejacuide do seu

patrimônio ela necessita da utilização de pessoas capacitadas, softwares, dentre

outras ferramentas,como qualquer outra organização que lidam com pessoas e

valores financeiros.Necessitam de informações em tempo hábil para a tomada de

decisão, prestação de contase manutenção do pastoreio. Portanto, o uso da

contabilidade na organização é fundamental para o controle dos registros contábeis

da Mitra Arquidiocesana de Vitória.

As Igrejas tem por habito, prestar contas às suas sedes sobre sua forma de gestão.

Desta forma, pode-se concluir que a pesquisa desenvolvida sobre o procedimento

adotado pela Mitra Arquidiocesana de Vitória, por meio de suas atribuições e

responsabilidades, possui como meio de controle os devidos registros contábeis e a

preocupação na prestação de informações às entidades. Conclui-se ainda a

importância na exposição de demonstrativos e a publicação do balanço patrimonial,

conseqüentemente permite a Igreja maior proteção de seus bens e repasse dos

recursos ora investidos.

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