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Rebeka Figueiredo rebeka.fi[email protected] C ícero Toledo, de 56 anos, está prestes a começar a receber a aposentadoria da Previdência Social, mas preten- de continuar trabalhando na loja de produtos artesanais que fundou há 20 anos. A funcio- nária pública Maria das Graças Ricardo, de 52 anos, também vai continuar trabalhando após a aposentadoria, marcada para o fim do ano que vem. Toledo diz ter feito tudo que pôde para garantir uma boa aposentadoria. Contribuiu com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), fez poupança e comprou imóveis. “Mas quero continuar com o comércio”, diz ele, que já atuou como metalúr- gico quando era mais jovem. Maria das Graças não se planejou como Toledo e hoje admite que isso foi um erro. De olho no futuro Investir em previdência privada, títulos do Tesouro e poupança pode ajudar a garantir uma aposentadoria tranquila, mesmo para quem já contribui com o INSS “Falo para o meu sobrinho in- vestir na previdência privada”, conta. “Quero viajar, ficar com meu neto, mas vou tentar um negócio na área de vendas para complementar a renda”, plane- ja Maria das Graças. Uma pesquisa do HSBC so- bre aposentadoria feita com 15 mil pessoas de 15 países mostra que 64% dos brasileiros nun- ca guardaram dinheiro para a aposentadoria e 59% conside- ram inadequada sua prepara- ção para esse período. Daque- les que nunca pouparam, 42% disseram que não o fazem por causa do alto custo de vida, e 24% responderam que nunca pensaram em poupar. Para Janser Rojo, planeja- dor financeiro da QI Finan- ceiro, o segredo para a inde- pendência econômica não é o tamanho do salário, mas o valor poupado todo mês. “Fa- la-se em economizar 10% do salário, mas cada um tem uma Quero viajar, ficar com meu neto quando me aposentar, mas vou tentar um negócio na área de vendas para complementar a renda Maria das Graças Ricardo, de 52 anos, funcionária pública FOTOLIA SEGREDO PARA INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA É O VALOR POUPADO MENSALMENTE, DIZ ESPECIALISTA realidade. Comece poupando o quanto puder e sempre que tiver um aumento de salário, guarde um pouco mais”, ensina. O aposentado Antônio Luiz da Silva, de 67 anos, vive há 16 apenas com o benefício concedi- do pela Previdência Social. “Não sobra muito dinheiro no fim do mês, mas consigo pagar minhas contas”, diz Silva, que antes tra- DEMETRIO KOCH balhava como motorista e hoje divide seu tempo entre a esposa, a filha e o neto de 3 anos, além de se dedicar à pesca. Os rendimentos do INSS podem não ser suficientes para manter o padrão conquistado durante os anos de trabalho, alerta o educador financeiro Reinaldo Domingos. “Dos 20 milhões de aposentados brasi- leiros, apenas 1% consegue se manter financeiramente com qualidade de vida, sem depen- der de outras pessoas. É preciso reservar outros recursos para uma aposentadoria sustentá- vel”, explica Domingos. “É bom aplicar todo mês uma parte do salário em poupança, previdên- cia privada, títulos do Tesouro ou outro investimento para a aposentadoria complementar. Os pais também podem plane- jar o futuro dos filhos”( veja mais dicas acima). Domingos lembra que o ideal é começar a guardar o quanto antes. “Após os 30 DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 - 18 brasil

De olho no futuro

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Page 1: De olho no futuro

Rebeka [email protected]

Cícero Toledo, de 56 anos, está prestes a começar a receber a aposentadoria da

Previdência Social, mas preten-de continuar trabalhando na loja de produtos artesanais que fundou há 20 anos. A funcio-nária pública Maria das Graças Ricardo, de 52 anos, também vai continuar trabalhando após a aposentadoria, marcada para o fim do ano que vem.

Toledo diz ter feito tudo que pôde para garantir uma boa aposentadoria. Contribuiu com o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), fez poupança e comprou imóveis. “Mas quero continuar com o comércio”, diz ele, que já atuou como metalúr-gico quando era mais jovem.

Maria das Graças não se planejou como Toledo e hoje admite que isso foi um erro.

De olho no futuro

Investir em previdência privada, títulos do Tesouro e poupança pode ajudar a garantir uma aposentadoria tranquila, mesmo para quem já contribui com o INSS

“Falo para o meu sobrinho in-vestir na previdência privada”, conta. “Quero viajar, ficar com meu neto, mas vou tentar um negócio na área de vendas para complementar a renda”, plane-ja Maria das Graças.

Uma pesquisa do HSBC so-bre aposentadoria feita com 15 mil pessoas de 15 países mostra que 64% dos brasileiros nun-ca guardaram dinheiro para a aposentadoria e 59% conside-ram inadequada sua prepara-ção para esse período. Daque-les que nunca pouparam, 42% disseram que não o fazem por

causa do alto custo de vida, e 24% responderam que nunca pensaram em poupar.

Para Janser Rojo, planeja-dor financeiro da QI Finan-ceiro, o segredo para a inde-pendência econômica não é o tamanho do salário, mas o valor poupado todo mês. “Fa-la-se em economizar 10% do salário, mas cada um tem uma

Quero viajar, ficar com meu neto quando me aposentar, mas vou tentar um negócio na área de vendas para complementar a renda

Maria das Graças Ricardo, de 52 anos, funcionária pública

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SEGREDO PARA

INDEPENDÊNCIA

FINANCEIRA É O

VALOR POUPADO

MENSALMENTE, DIZ

ESPECIALISTA

realidade. Comece poupando o quanto puder e sempre que tiver um aumento de salário, guarde um pouco mais”, ensina.

O aposentado Antônio Luiz da Silva, de 67 anos, vive há 16 apenas com o benefício concedi-do pela Previdência Social. “Não sobra muito dinheiro no fim do mês, mas consigo pagar minhas contas”, diz Silva, que antes tra-

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balhava como motorista e hoje divide seu tempo entre a esposa, a filha e o neto de 3 anos, além de se dedicar à pesca.

Os rendimentos do INSS podem não ser suficientes para manter o padrão conquistado durante os anos de trabalho, alerta o educador financeiro Reinaldo Domingos. “Dos 20 milhões de aposentados brasi-leiros, apenas 1% consegue se manter financeiramente com qualidade de vida, sem depen-der de outras pessoas. É preciso reservar outros recursos para uma aposentadoria sustentá-vel”, explica Domingos. “É bom aplicar todo mês uma parte do salário em poupança, previdên-cia privada, títulos do Tesouro ou outro investimento para a aposentadoria complementar. Os pais também podem plane-jar o futuro dos filhos”(veja mais dicas acima). Domingos lembra que o ideal é começar a guardar o quanto antes. “Após os 30

DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 - 18 brasil

Page 2: De olho no futuro

Não sobra muito dinheiro no fim do mês, mas consigo pagar minhas contas

Antônio Luiz da Silva, de 67 anos, aposentado pelo INSS

fiz tudo que consegui para garantir uma boa aposentadoria, mas quero continuar trabalhando com o comércio

Cícero Toledo, de 56 anos, dono de uma loja de produtos artesanais

É PRECISO

RESERVAR OUTROS

RECURSOS ALÉM

DE PAGAR O INSS,

ENSINA EDUCADOR

FINANCEIRO

Benefícios do INSSPor idade: mulheres só

se aposentam por idade se tiverem no mínimo 60 anos.

No caso dos homens, a idade mínima é de 65 anos. Para trabalhadores rurais, a idade é de 55 e

60 anos, respectivamente. O tempo de contribuição

exigido varia. Quem co-meçou a contribuir até 24 de julho de 1991 pode se aposentar com menos de 15 anos de contribuição. Um segurado que completou 65 anos em 2001, por exemplo, deve ter 120 meses de con-tribuição. Já quem começou

a contribuir a partir de 25 de julho de 1991 deve ter o mínimo de 15 anos de

contribuições. Quanto mais tempo, maior a aposenta-doria. O valor final do be-nefício é de 70% da média salarial mais 1% para cada ano de contribuição.

Por tempo de con-tribuição: homens devem ter pelo menos 35 anos de contribuição e as mulheres, 30 anos. Para quem come-çou a contribuir antes de dezembro de 1998 e quer

se aposentar antes, o be-nefício proporcional pode ser solicitado por homens a partir dos 53 anos de idade e 30 de contribuição, e por mulheres aos 48 anos de idade e 25 de contribuição. O salário de benefício é cal-culado pela média simples dos 80% maiores salários do contribuinte, corrigidos des-de julho de 1994. O resulta-do é multiplicado pelo fator previdenciário, que leva em conta a idade, o tempo de contribuição e a expectativa de vida. Se o fator for me-nor que 1 – o que ocorre na maioria dos casos – o valor do benefício será reduzido. Se for maior que 1, o segu-rado sai ganhando, pois a aposentadoria aumenta des-de que não ultrapasse o teto de R$ 4.157. Ainda existe a aposentadoria por invalidez (para trabalhadores consi-derados pela perícia médica incapacitados para exer-cer serviços que garantam sustento) e a aposentadoria especial, para pessoas que tenham trabalhado em con-dições prejudiciais à saúde ou à integridade física.

QUALIDADE DE VIDA: Só 1% dos aposentados consegue se manter financeiramente sem depender de outras pessoas

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ou 40 anos, o valor poupado todo mês precisa ser maior”.

Segundo Rojo, manter os aportes mensais e não mexer no dinheiro reservado para a aposentadoria são as principais dificuldades. “É importante controlar os gastos, fugir das dí-vidas de longo prazo e manter as aplicações para garantir uma boa renda quando não for mais possível trabalhar”, completa.

Apesar de não ser tão rentável, o investimento na

Previdência Social ainda é im-portante. “É uma contribuição mensal pequena e vale a pena pelos benefícios além da aposen-tadoria, como o auxílio em caso de acidente ou doença”, lembra Breno Campos, do escritório Lacerda & Lacerda Advogados.

Seguro complementar“Dinheiro investido é di-

nheiro trabalhando por você.” É com essa frase que Janser Rojo destaca a importância de aplicar parte da renda mensal em investimentos para o futuro. Rojo lembra que toda aplicação tem pontos negativos e positivos. A poupança, por exemplo, tem baixa rentabilidade e alta liqui-dez, podendo ser usada como “reserva de emergência”. Ela ainda é uma opção para quem não pode arriscar altas quantias.

Alguns títulos do Tesouro Dire-to podem render até 100% da taxa Selic, mais do que os cerca de 70% da poupança. “Mas o Tesouro tem dedução de Im-posto de Renda e precisa ficar mais tempo para render. Se ti-rar o dinheiro antes do prazo, perde-se uma parte.”

Já os planos de previdência privada têm perfis diferentes e são feitos para investimentos de longo prazo. “Jovens podem optar por um plano com uma parcela maior de renda vari-ável, que tem rentabilidade maior e mais riscos, enquanto pessoas de 40 ou 50 anos cos-tumam adotar um perfil con-servador, com lucro menor e mais segurança”, avalia. Em todos os casos, diz o planeja-dor financeiro, é importante procurar taxas de administra-ção e carregamento baixas ou iguais a zero.

Também chamada de previdência complementar, é uma forma de seguro opcional contratado para garantir uma renda extra ou o resgate de uma quantia após um período de contribuições. Ela pode ser aberta (contratada por qual-quer pessoa) ou fechada (destinada a

grupos, como funcionários de uma em-presa ou servidores públicos). Antes de escolher um plano, é importante consul-tar o histórico de rentabilidade e as ta-xas de administração e de carregamen-to. Quanto menores as taxas, maiores serão os rendimentos.

Previdência privada para complementar a renda

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