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Prado Slides – Tramandaí / RSPrado Slides – Tramandaí / RS
Prado Slides – Tramandaí / RS
A sua é de que tamanho?
Difícil encontrar alguém que tenha uma solidão pequena, ajustada, do
tipo baby look.
Geralmente, a solidão é larga, esgarçada, como uma camiseta que
poderia vestir outros corpos além do nosso.
E costuma ser com outros corpos que se tenta combatê-la, mas
combatê-la por quê?
Prado Slides – Tramandaí / RS
Se nossa solidão pudesse ser visualizada, ela seria um vasto
campo abandonado, um estádio de futebol numa segunda-feira de
manhã.
Dói, mas tem poesia.
Talvez seja por aí que devamos reavaliá-la: no reconhecimento do que há de belo na sua amplitude.
Prado Slides – Tramandaí / RS
A solidão não precisa ser aniquilada, ela só precisa de um sentido.
Eu não saberia dizer que outra coisa mais benéfica há para isso do que livros. Uma biblioteca com mil volumes é um exército que não
combate a solidão, mas a ela se alia.
Prado Slides – Tramandaí / RS
A solidão costuma ser tratada como algo deslocado da realidade, como um tumor que invade um órgão
vital.
Ah, se todos os tumores pudessem ser curados com amigos.
Uma pessoa que não fez amigos não teve pela sua vida nenhum respeito.
Prado Slides – Tramandaí / RS
Nossa solidão é nossa casa e necessita abrir horários de visita, hospedar, convidar para o almoço, cozinhar com afeto, revelar-se uma solidão anfitriã, que gosta de ouvir as histórias das solidões dos outros,
já que todos possuem seus descampados.
Prado Slides – Tramandaí / RS
A solidão não precisa se valer apenas do monólogo. Pode aprender a dialogar e deve exercitar isso também através da
arte. Há sempre uma conversa silenciosa entre o ator no palco e o sujeito no escuro da platéia, entre o pintor em seu ateliê e o visitante do museu, entre o escritor e o
seu leitor desconhecido.
Ah, os livros, de novo.
De todos os que preenchem nossa solidão, são os livros os mais anárquicos,
os mais instigantes.
Leia, e seu silêncio ganhará voz.
Prado Slides – Tramandaí / RS
Às vezes, tratamos nosso isolamento com certa afetação.
Acendemos um cigarro na penumbra da sala, botamos um disco
dilacerante e aguardamos pelas lágrimas.
Já fizemos essa cena num final de domingo - tem dia mais solitário?
Prado Slides – Tramandaí / RS
É comum que a gente entre na fantasia de que nossa solidão daria um filme noir, mas sem esquecer que
ela continuará conosco amanhã e depois de amanhã, deixando de ser
charmosa e nos acompanhando até o supermercado.
Suporte-a com bom humor ou com mau humor, mas não a despreze.
Prado Slides – Tramandaí / RS
Permita que sua solidão seja bem aproveitada, que ela não seja
inútil.
Não a cultive como uma doença, e sim como uma circunstância.
Prado Slides – Tramandaí / RS
Em vez de tentar expulsá-la, habite-a com espiritualidade, estética, memória, inspiração,
percepções.
Não será menos solidão, apenas uma solidão mais povoada.
Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em
meio a uma multidão, escreveu Baudelaire.
Ah, os livros, outra vez.
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CRÉDITOS
Formatação: Prado Slides
E-mail: [email protected]
Texto: Martha Medeiros
Extraído do Caderno Donna do Jornal Zero Hora de 11/nov./2007
Imagens: Net
Música: Sandra de Sá
Solidão