14
Rácios Nos estudos da economia da empresa tem-se verificado ser útil o uso de «relações» de quociente entre grandezas económicas típicas. Muitos vocábulos têm sido utilizados para designar tais relações, nomeadamente, índice, grau, quociente, indicadores, rácio, coeficiente, etc. Universalmente, tem-se adoptado a palavra rácio, neologismo correspondente ao inglês “ ratio”, que procede do étimo latino ratio (razão). Rácio: Relação de quociente entre duas grandezas correlacionadas e típicas da situação, da actividade ou do rendimento, potencial ou efectivo, de uma empresa real, ideal ou de uma média de empresas. João Carvalho das Neves, Professor Catedrático, salientou o seguinte: “A técnica estabelecida pelos analistas financeiros consiste em estabelecer relações entre contas e agrupamentos de contas do Balanço e de Demonstração de resultados entre outras grandezas económico – financeiras”. Classificação dos rácios Entre as inúmeras classificações de ratios que poderão formular-se. Vejamos as mais vulgares: a) Quanto aos objectivos da análise O mesmo e dizer quanto á natureza dos fenómenos que os rácios procuram revelar ou medir, assim se poderá falar em rácios financeiros (rácios

Rácios

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Conceito sobre rácios, classificação, utilidade prática, cautelas, vantagens e desvantagens.

Citation preview

Page 1: Rácios

RáciosNos estudos da economia da empresa tem-se verificado ser útil o uso de «relações» de quociente entre

grandezas económicas típicas.

Muitos vocábulos têm sido utilizados para designar tais relações, nomeadamente, índice, grau, quociente,

indicadores, rácio, coeficiente, etc.

Universalmente, tem-se adoptado a palavra rácio, neologismo correspondente ao inglês “ ratio”, que

procede do étimo latino ratio (razão).

Rácio: Relação de quociente entre duas grandezas correlacionadas e típicas da situação, da actividade ou

do rendimento, potencial ou efectivo, de uma empresa real, ideal ou de uma média de empresas.

João Carvalho das Neves, Professor Catedrático, salientou o seguinte: “A técnica estabelecida pelos analistas financeiros consiste em estabelecer relações entre contas e agrupamentos de contas do Balanço e de Demonstração de resultados entre outras grandezas económico – financeiras”.

Classificação dos rácios

Entre as inúmeras classificações de ratios que poderão formular-se. Vejamos as mais vulgares:

a) Quanto aos objectivos da análise

O mesmo e dizer quanto á natureza dos fenómenos que os rácios procuram revelar ou medir, assim se

poderá falar em rácios financeiros (rácios de análise financeira), rácios económicos (rácios de análise

económica), rácios económicos – financeiros e rácios técnicos.

Rácios financeiros:

São extraídos da contabilidade (lato senso), designadamente de balanços, contas de ganhos e perdas e de

exploração e orçamentos. Através deles procura – apreciar – se a estrutura financeira, os aspectos de

financiamento da empresa – origens e aplicações do capital (lato senso) –, a capacidade de crédito, a

solvibilidade da empresa, as politicas financeiras seguidas, etc.

Rácios económicos:

São os anteriores, são também calculadas a partir de cifras da contabilidade, mas alguns deles baseiam-se

mais particularmente nas estatísticas de produção e de venda. Com estes rácios procura apreciar-se

Page 2: Rácios

especialmente a situação económica, a estrutura patrimonial e a marcha da empresa (formação do lucro,

andamento dos custos e proveitos auto – financiamento, etc.)

Rácios económicos – financeiros:

A caracterização destes rácios deduz – se facilmente da sua designação e das espécies simples anteriores.

Como exemplos podemos citar os rácios de rendibilidade das vendas, de rotações de “stocks”, do capital,

etc.

Rácios técnicos

Respeitam geralmente á produção ou ás actividades especificamente tecnológicas da empresa e os seus

termos expressam-se frequentemente em quantidades físicas. Baseiam-se em estatísticas da produção, do

rendimento e utilização das máquinas, de produtividade da mão – de – obra, etc. É nestes rácios que

assenta predominantemente o exame das produtividades _ dos equipamentos, da mão – de – obra, etc. –

Expressas em unidades – tipo (horas de máquinas, horas de trabalho de operários, rendimento de matérias,

etc.).

b) Quanto a técnica da sua construção

Os rácios podem classificar-se em efectivos, orçamentais, médios ou básicos e pilotos ou ideias.

Os rácios efectivos e orçamentais são rácios de observação, mas os restantes não têm propriamente tal

finalidade, antes são instrumento para essas observações, são elementos de comparação com os rácios

efectivos e orçamentais.

Rácios efectivos

Os efectivos são extraídos directamente do balanço, das contas de exploração ou das estatísticas da

produção, das vendas, dos rendimentos, etc., de determinada empresa em particular.

Rácios orçamentais

Os respeitantes a dados extraídos de orçamentos.

Rácios médios ou básicos

Os representativos de uma empresa «média» do ramo em observação. São obtidos através de médias

estatísticas simples baseadas em dados de muitas empresas ou, de preferência, de médias combinadas de

forma a eliminarem-se defeitos de valores erráticos.

Page 3: Rácios

Porem, note-se, que os rácios médios só poderão ter utilização se basearem em valores correctos o que

importa não só a seriedade na confecção dos dados das empresas mas também a uniformidade quanto ao

conteúdo das contas e aos critérios de valorimetria e do apuramento de resultados.

É nos Estados Unidos da América que a determinação de rácios médios e o seu emprego como

instrumento de análise estão mais generalizados. As associações de Credit Men servem-se, no estudo da

situação financeira das empresas, de um número limitada de rácios médios calculados por ramos de

actividades económica, afim de determinarem os riscos na concessão de crédito.

Observam aliás, três tipos de elementos ou factores a que atribuem determinada importância relativa entre

si: Factor pessoal, factor financeiro e factor conjuntural ou económica.

As observações de natureza pessoal respeitam a um conjunto de elementos variados acerca dos dirigentes

das empresas que vão desde a competência profissional, idoneidade moral, e fortuna pessoal até a aspectos

muito particulares (hábitos de vida, relações sociais, etc.)

O factor financeiro é examinado através dos elementos da contabilidade e do orçamento.

O factor conjuntural é medido através da observação da situação e evolução próxima da economia em

geral e do ramo ou actividade da empresa em particular.

A importância relativa atribuída a cada um dos tipos de observação é a seguinte:

Factor pessoal ……….…………….40%

Factor financeiro ….……………….40%

Factor económica …………………. 20%

Quantificações desta natureza não se revestem entre nos de significado prático. No entanto, deve acentuar-

se a extrema importância que qualquer dos três elementos apresenta para a observação da situação e

marcha de uma empresa.

Sob o aspecto que aqui interessa – a aplicação dos rácios na analise dos balanços – ocorre referir que a

Robert Morris Associetes( fundada em 1914 e que passou a designar-se em 2000, Risk Manangment

Association, instituição especializada no estudo destas matérias indica para a apreciação do factor

Page 4: Rácios

financeiro os sete rácios médios abaixo referidos, a cada um dos quais atribui determinada percentagem de

importância no chamado “cálculo do risco”.

Importância

Rácio Termo do rácioRelativa, no cálculo do

risco

Liquidez geral Activo Circulante 25%

Passivo Circulante

Solvibilidade total Capital próprio 25%

Passivo

Rotação de créditos Vendas 10%

Créditos de vendas

Rotação de Stocks Venda (pc) 10%

Stocks

De imobilizações Capital próprio 15%

Imobilizado

Rotação do imobilizado Vendas 10%

Imobilizado

Rotação do capital próprio Vendas 5%

Capital próprio

Supondo que, do exame dos dados de um grande número de empresas de um ramo em observação e

relativamente a determinada época, se obtinham os seguintes valores para os rácios acima apontados

através do cálculo de medidas estatísticas e se lhes atribuía aqueles coeficientes de importância:

Importância Rácios

Rácio Termo do rácio Relativa Médios

Liquidez geral Activo Circulante 25% 2

Passivo Circulante

Solvibilidade total Capital próprio 25% 2

Passivo

Rotação de créditos Vendas 10% 6

Créditos de vendas

Page 5: Rácios

Rotação de Stocks Venda(pc) 10% 4

Stocks

De imobilizações Capital próprio 15% 2,5

Imobilizado

Rotação do imobilizado Vendas 10% 4

Imobilizado

Rotação do capital próprio Vendas 5% 5

Capital próprio

100%

De harmonia com a tabela, quando o conjunto dos rácios de uma empresa apresenta um valor total dos

coeficientes de importância igual a 100, o risco diz-se Normal, (note-se que, em casos concretos, não

deixaria de observar-se os outros aspectos atrás referidos – Factor económico e pessoal). Quando o valor é

maior do que 100, o risco diz-se Inferior Normal e quando menor que 100, Superior ao Normal.

Se os rácios reais da empresa X do ramo considerado tiverem, respectivamente, os seguintes valores, 2,1;

1,8; 6,4; 4,8; 2,8; 4,2 e 5,0, vem que a análise do seu risco poderá basear-se no seguinte cálculo:

Importâncias Rácios Valores Importância

Rácio Termo do rácio Relativa Médios Reais Relativa

Liquidez geral Activo Circulante 25% 2 2,1 26,25

Passivo Circulante

Solvibilidade total Capital próprio 25% 2 1,8 22,50

Passivo

Rotação de créditos Vendas 10% 6 6,4 10,67

Créditos de vendas

Rotação de Stocks Venda(pc) 10% 4 4,8 12,00

Stocks

De imobilizações Capital próprio 15% 2,5 2,8 16,80

Imobilizado

Rotação do imobilizado Vendas 10% 4 4,2 10,50

Page 6: Rácios

Imobilizado

Rotação do capital próprio Vendas 5% 5 5 5,00

Capital próprio

100% 103,72

Neste exemplo, o risco é inferior ao normal, conforme se pode ver na última coluna do quadro em que se

obtém como valor relativo global dos diversos rácios 103.72%. A posição é tanto melhor – pelo menos do

ponto de vista desta análise - quanto maiores forem os valores dos rácios.

De notar que o conjunto dos rácios supra interessa a apreciação de carácter predominantemente financeiro.

Um exame mais completo das empresas ou da sua situação económica requer que se contemplem mais

alguns rácios. Por isso a Robert Morris Associetes, considera, além dos sete rácios acima indicados, mais

os quatro seguintes:

Lucro liquido Margem Margem VendasCapital próprio Vendas Activo Total Activo Total

Rácios pilotos ou ideias (ou normais)

Se os rácios exprimem a realidade visto resultarem das médias obtidas dos rácios reais de um grande

número de empresas do mesmo ramo de actividade, por sua vez, os rácios pilotos correspondem a valores

obtidos observados o que se considera a actividade normal ou ideal de uma empresa racionalizada.

c) Quanto a sua interpretação no tempo, temos:

Rácios estáticos: os que procuram caracterizar dada situação.

Rácios cinéticos: Os procuram caracterizar uma série de factos no decurso de determinado período.

d) Quanto à espécie de análise que visam, temos:

Rácios de estrutura: Os que estabelecem proporções entre rubricas do balanço.

Rácios de funcionamento: Os que mostram o comportamento da exploração.

Rácios mistos (ou de síntese): Os que combinam os anteriores.

Vantagens dos rácios: cautelas na sua utilização

Page 7: Rácios

Sendo os rácios expressões de sínteses, de quociente entre duas grandezas, poder-se-á perguntar se os

mesmos serão efectivamente mais adequados para a análise da gestão do que as grandezas que

confrontam.

Entende-se que a resposta deve ser afirmativa, pois para além da comodidade da simbologia, os rácios dão

indicações mais válidas do que as grandezas ou valores absolutos que correlacionam. Comprovemos a

afirmação através de alguns exemplos:

1º Exemplo:

A empresa A ganhou 100 contos.

A empresa B ganhou 120 contos.

A empresa A tem um capital próprio de 1.000 contos.

A empresa B tem um capital próprio de 1.500 contos.

Que conclusão se pode extrair do rácio de rendibilidade do capital próprio? A empresa A tem melhor

rendibilidade do que a B; rácio de A (100/ 1.000) é de 10%, o da B de

(120 / 1.500).

2º Exemplo:

A empresa C tem 1.000 contos de existência de mercadorias.

A empresa D tem 600 contos de existências de mercadorias.

A empresa C vendeu 1.500 contos de mercadorias.

A empresa D vendeu 700 contos de mercadorias.

Cálculos

Rácios de C = 1.000 x 12 = 8 meses (meses de stock) 1.500

Rácios de D = 600 x 12 = 10.28 meses (meses de stock) 700Conclusão:

A empresa C tem uma melhor gestão de stocks: para o seu volume de negócios empata proporcionalmente

menos capital em stocks.

3º Exemplo:

A empresa E tem um activo circulante (incluindo mercadorias) de 1.000 contos.

A empresa F tem um activo circulante (incluindo mercadorias) de 2.000 contos.

A empresa E tem um passivo a curto prazo de 500 contos.

A empresa F tem um passivo a curto prazo de 1.500 contos.

Fundo de maneio de E = 500 contos

Fundo de maneio de E = 500 contos

Page 8: Rácios

Rácio de liquidez geral: não obstante o fundo de maneio ser igual em ambas as empresas, o certo é que a

situação financeira de E é melhor que a de F, visto que o rácio de liquidez geral de E corresponde a 2 e o

de F apenas a 1,3.

As cautelas a ter com a utilização dos rácios

A utilização dos rácios requer sempre ponderadas precauções importando ter presente as sua limitações,

ocorrendo-nos a este respeito referir, entre outros, os seguintes aspectos:

Os rácios são indicadores de sintomas de gestão, tem um carácter precário, não podem se utilizados sem

ter em conta estes aspectos:

1. A necessidade de terminologia e métodos de avaliação uniformes. É importante a Normalização

da contabilidade das empresas e de cada ramo, de modo a permitir a comparação entre elas ou no

seio delas entre vários períodos económicos.

2. Adopção de valores economicamente exactos, ainda que sejam diferentes, das cifras contabilísticas.

E valores, fiscais.

3. Os termos de cada rácio deve reportar-se a mesma data e período. A periodicidade pode contudo variar

para cada rácio e para cada tipo de empresa. Nas empresas de período sazonal de actividade, os rácios

devem ser determinados antes: ou depois da exploração.

4. No caso de empresas com diversas actividades, os dados terão de desdobrar-se, o que normalmente é

fácil para as cifras da conta de exploração, o que não poderá acontecer para as contas do balanço.

5.0s termos dos rácios devem prevenir erros voluntários, involuntários e efeitos acidentais das

flutuações monetárias. Em certos casos deverão utilizar-se de preferência unidades físicas.

  PRODUTO A RENDIMENTO DA MAO DE OBRA

  Quantidade     Quantidade C° de Produc.

ANO Produzida Custo Unit. N° de Trab. N° de Trab. N° de Trab.

                   

                   

1 500 200,00 50 500 = 10 500x200,00 = 2.000,00

    50     50    

           

           

           

2 400 300,00 50 400 = 8 400x300,00 = 2.400,00

    50     50    

                   

Page 9: Rácios

6. Por motivos de ordem prática aconselha-se a determinação de um número limitado de rácios:

Por exemplo, para a análise económica e financeira bastará geralmente o uso dos 7 rácios atrás citados e

mais os 4 que se calculam subsidiariamente.

7. Os rácios devem ser estabelecidos de modo a que a valores mais elevados correspondam sempre

melhores situações, actividades ou rendimentos. Note-se a excepção aos rácios de gastos que

tradicionalmente se fixam em percentagens do volume de produção ou lucros

Vantagens da utilização dos rácios

1. Os rácios são um meio, um instrumento importante no estudo dos problemas da gestão das empresas.

Evidenciam, de um modo sistemático e por vezes expressivo, quer a situação quer a actividade _ seus

custos, proveitos e resultados – em termos monetários ou não ou seja a elaboração do diagnóstico

financeiro de uma empresa baseia-se no triângulo da liquidez, estrutura financeira e rentabilidade que

tem subjacente os rácios.

1. Permite a formulação de comparações muito úteis só controlo da gestão, sob diversos aspectos. Assim,

comparando rácios reais de uma empresa obtidos em períodos sucessivos, podem apreciar-se as

evoluções verificadas e as suas tendências.

2. A possibilidade de comparação entre rácios orçamentais e rácios reais favorece o cumprimento dos

programas, permite a atribuição de responsabilidade e dá indicações úteis á gestão futura. Contribui

para uma maior eficiência dos serviços.

Quanto às desvantagens podemos resumi-las em:

a) Se tiver havido incorrecções ao nível dos Balanços, Demonstrações de Resultados e Anexos, os rácios

reflectirão essas incorrecções

b) Em relação a determinados fenómenos, os relatórios financeiros podem não ser a base de dados mais

adequada para a sua análise

c) As empresas podem realizar actividades em vários segmentos de negócios. Cada empresa tem uma

classificação das actividades económicas que corresponde à área de negócio mais importante, se as

conclusões disserem respeito a um só segmento e não à actividade global da empresa, os resultados dos

rácios podem ser enviesados

Page 10: Rácios

d) As políticas de provisões e de amortizações adoptadas pelas empresas podem ser diferentes e conduzir

a distorções ao nível dos rácios

e) Um grupo económico pode seguir uma política de transferência de preços entre empresas no seio do

grupo, motivada por interesses de optimização fiscal. Esses preços podem não corresponder aos custos

obtidos através da Contabilidade Analítica, conduzindo a que numa empresa os resultados sejam

superiores e que noutra sejam inferiores aos que de facto se verificariam se o critério fosse somente o dos

preços de mercado, sem que houvesse outras motivações.

f) Os rácios financeiros são apenas um instrumento de análise que pode e deve ser complementada por

outros; tratam apenas dados quantitativos, não tendo em consideração factores qualitativos como a ética,

motivação, etc..

Podem construir-se inúmeros rácios, mas a sua utilização vai depender sobretudo dos objectivos de

análise: qual a natureza dos fenómenos que se pretende medir ou revelar, quais as fontes de informação

que se vão utilizar, etc…

Bibliografia

João Carvalho das Neves – Análise Financeira (Métodos e Técnicas)Rogério Fernandes Ferreira – Gestão FinanceiraContabilidade Geral e Financeira – Exercícios Práticos, Legislação Complementar IRS-IRC-SOC. COM-ivaHélder Viegas da Silva e Maria Adelaide Matos - A EMPRESA E A CONTABILIDADEDante C. Matarazzo e Armando Oliveira Pestana – Análise Financeira de Balanços