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2 Trim, trim. Trim, trim. O despertador estava tocando. O relógio anunciava que eram 6:00 a.m. Trim, trim. Desligo o despertador e vou me arrumar para o colégio. Quando desço, encontro minha mãe na cozinha, preparando seu café. - Amanda – Cecília falou calmamente – me desculpe pelo meu comportamento ontem à noite. Eu não devia ter agido daquela forma. Sabia que um dia você iria começar a namorar, só não esperava que fosse agora que completou dois anos desde que seu pai nos deixou... – Ela continuou falando, mas eu estava tão comovida com a sinceridade em suas palavras, que não ouvi mais nada. - Desculpas aceitas, mas nós não saímos – eu e Erik - na verdade ele só me deu uma carona, nada mais.

-------- 2° capítulo

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Trim, trim.

Trim, trim.

O despertador estava tocando. O relógio anunciava que eram 6:00 a.m.

Trim, trim.

Desligo o despertador e vou me arrumar para o colégio. Quando desço, encontro minha mãe na cozinha, preparando seu café.

- Amanda – Cecília falou calmamente – me desculpe pelo meu comportamento ontem à noite. Eu não devia ter agido daquela forma. Sabia que um dia você iria começar a namorar, só não esperava que fosse agora que completou dois anos desde que seu pai nos deixou... – Ela continuou falando, mas eu estava tão comovida com a sinceridade em suas palavras, que não ouvi mais nada.

- Desculpas aceitas, mas nós não saímos – eu e Erik - na verdade ele só me deu uma carona, nada mais.

- Sim, eu me lembro de quando eu e Marcos começamos a sair... – Cecília e olhou para o relógio na parede que começou a anunciar que eram 07:00 horas – Tenho que ir, ou vou me atrasar para o trabalho.

Cecília saiu, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

*****

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No pátio da escola, Amanda estava falando com Danielle quando avistou Erik do outro lado do pátio. Ele estava com outro, Scott, o garoto era novo na escola, mas Amanda já tinha ouvido muitas garotas falarem dele, dando descrições do tipo: alto, moreno, forte, lindo...

- Oi! – Disse Beatriz, interrompendo meus pensamentos – Em que está pensando Amanda? – Bia já estava dando beijinhos nelas quando consegui pensar uma resposta.

- Na festa que vai ter no sábado, ainda não sei o que vou vestir.

Só agora percebi que Danielle havia cortado seu cabelo preto e estava com algumas mechas mais claras. Bia por outro lado estava como sempre vai para a escola, com seu cabelo em uma linda trança que caída perfeitamente sobre seu ombro direito.

- Estava perguntando para a Amanda, Bia, se vocês gostariam de ir a uma festa perto do lado Greth. – Amanda agradeceu mentalmente a Dany por ter anunciado o assunto. Conhecia Bia desde sempre, e sabia que ela não largava uma boa fofoca. Se ela percebesse que eu peguei uma carona com Erik, sabe-se lá o que ela fria com essa informação. Mas Bia adorava festas, não, o correto seria dizer que ela adora os garotos das festas.

- Sim, sim, sim – Bia já estava feliz quando chegou à escola, mas agora ela dava pulinhos de alegria – Não precisava nem perguntar né amiga. Quando vai ser a festa?

- Sábado às 20:00 horas – Respondo automaticamente. Muito embora eu não tenha prestado atenção no que a Dany dissera, não pude deixar de pegar algumas frases soltas e entender, em parte, seu sentido. Danielle parecia super empolgada com a festa.

Enquanto Dany e Bia discutiam sobre o que iriam vestir no sábado, procurei Erik, mas não o vi em lugar nenhum.

O sinal soou.

Eu tinha aula de literatura no primeiro período. Quando cheguei na sala, vi Scott, sentado na carteira ao lado da sua, estranho, eu nem ao menos sabia que ele estava no primeiro ano.

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Sentei-me ao lado de Scott com um simples cumprimento. Ele sorriu – Oi, importa-se de eu me sentar aqui? – Seu sorriso era tão encantador que me fez perder o sentido das palavras.

- Hã, desculpe, o que você disse? – Perguntei sem jeito. Nunca tinha visto um sorriso como aquele. O sorriso de Scott fez com que me sentisse mais leve. Seu sorriso era sereno, repleto de alegria. Era como se só nós dois estivéssemos naquela sala, isso me deixou intrigada.

- Posso sentar-me ao seu lado? – Não respondo, Scott fixou seus olhos azuis nos meus. Explica-se: – Sou novo na escola, não conheço ninguém nesta sala e este lugar me chamou atenção, talvez seja pela parceira que terei ser tão bonita. – O modo como ele falou a palavra parceira me incomodou, era como se ele já tivesse planejado isso, como se eu não pudesse dizer não.

Assenti - não confiava em minhas palavras naquele momento – quando a professora, Clara, entrava na sala.

Scott permaneceu em silencio absoluto durante toda a aula, embora olhasse para mim uma vez ou outra, duas vezes nossos olhares se cruzaram e pude senti arrepios de pavor e prazer atravessarem seu corpo e entrar no meu através de seu olhar.

Quando o sinal soou novamente, levantei calma e silenciosamente da cadeira e fui em direção da aula de biologia.

Entrei na sala no último minuto, a primeira coisa que reparei foi que Erik não estava na sala. Andei até meu lugar de sempre, tentando me lembrar de que eu não podia ficar pensando em Erik e no porque de ele não estar na sala.

Não vi Erik nas horas que se seguiram. Estou pensando nele mais do que deveria, abalada com meus próprios pensamentos corei ligeiramente enquanto passava pelo portão do colégio.

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*****

À noite quando chego à rua de casa, vejo um carro preto, bem parecido com o de Erik, a única diferença é que este tem um arranhão na traseira.

Não, não era parecido com o de Erik, era o carro dele, percebo quando o motorista arrastou-se para fora do carro tendo uma visão completa de onde estou. De dentro do carro, um vulto negro e musculoso sai e anda em minha direção. Começo a ser tomada por um impulso de sair correndo, mas não consigo mover minhas pernas. Ele já está a menos de 20 passos de mim. Será que é Erik? Porque ele não foi à aula de biologia? O que ele está fazendo aqui...

O homem falou.

- Oi, você deixou isto cair dentro do meu carro na noite passada.

Erik. Era ele, Erik. Estende um envelope em minha direção, pego relutante. Enquanto abro minha cabeça fica distante, tento clareá-la, mas volto ao normal assim que vejo o que estava dentro do envelope. Minha foto, a foto que sempre fica dentro da bolsa, aquela em que estou pronta para a formatura, aquela que tirei enquanto esperava minha mãe terminar de se aprontar. Na foto estou com um vestido preto justinho e uma sandália – também preta – com quase 10 cm de altura.

- Obrigada, acho – Hesito, não sei o que dizer, tenho algumas perguntas, mas não quero que pareça que dei muita importância para o fato de ele não ter ido à aula – não vi você hoje na aula de biologia.

- Tive que sair mais cedo. Problemas de família.

Um sorriso travesso atravessa seu rosto, e percebo que estou corando, tudo o que eu menos queria. Pronto, agora ele sabe que eu me importei por ele não ter ido à aula hoje.

Problemas de família, é claro que não era nada de mais. Como não pensara nisso antes? Mas alguma coisa me incomoda, parece que estou

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ouvindo algo que insiste para que eu preste mais atenção. Mas não consigo entender o que é.

- Espero que não seja nada grave – Digo de leve, tentando brincar um pouco.

- Não é. Nenhum osso quebrado, ataques cardíacos, nem nada do tipo. – Os olhos de Erik atravessaram os meus. Como se esperasse alguma reação.

Noto uma ponta de tristeza em seu rosto. Queria poder abraçá-lo, confortá-lo, beijá-lo.

O pensamento é tão forte, tão intenso que do um passo – involuntário - para trás. Tropeço. Cai no chão. Não, não cai, Erik, ele estava diante de mim não pode ter me segurado tão rápido, não pode ter notado antes mesmo de mim que eu iria cair. Pode?

- Você está bem? – Sussurrou Erik, tão perto, posso até sentir seu cheiro, seu hálito. Uma mistura de sabonete com água quente. De hortelã com cerveja. Peraí! Eu disse “água quente”? Como pode ter cheiro de água quente?

Assenti uma vez, não podia me dar ao luxo de ser pega assim por minha mãe, não depois de ter convencido – ou quase convencido – ela de que nós não estávamos saindo. O que ela iria pensar se nos visse assim, tão próximos? Tão à vontade.

Afasto-me tão subitamente de seus braços, que o olhar de Erik muda de confortável e carinhoso para assustado e confuso. Aproveito o momento de confusão em sua cabeça e entro correndo em casa. Sem olhar para trás. Sabendo que se olhasse, provavelmente voltaria pedindo desculpas e me atiraria em seus braços.

Fecho a porta quando passo e sento-me escorada na parede - por quase cinco minutos - até que ouço o som do carro afastando-se pela rua escura.