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4 A Educação Física e os portadores de deficiência A atenção do Profissional de Educação Física pelo trabalho com portadores de deficiência é relativa- mente nova, assim como faz pouco tempo que a so- ciedade como um todo começou a encarar a ques- tão. Os cursos de graduação ainda estão formando sua base teórica, porém uma série de acontecimen- tos espelha e vem produzindo uma mudança grada- tiva na maneira de encarar e tratar o portador de deficiência, para o qual a atividade física pode signi- ficar melhores condições de vida e maior inserção social. Uma série de instrumentos legais visa dar garantias aos portadores de deficiências, havendo leis especí- ficas por tipo de deficiência. No geral, a Constitui- ção Federal de 1988 lhes assegura “a plena inserção capa A Educação Física tem muito a oferecer às pessoas portadoras de diversos tipos de deficiência, nas mais variadas formas de atividade. Seguramente, é capaz de promover maior integração social do deficiente, provocando seu interesse pelo Esporte e pela própria graduação profissional

A Educação Física e os portadores de deficiência

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A Educação Físicae os portadores de

deficiência

A atenção do Profissional de Educação Física pelotrabalho com portadores de deficiência é relativa-mente nova, assim como faz pouco tempo que a so-ciedade como um todo começou a encarar a ques-tão. Os cursos de graduação ainda estão formandosua base teórica, porém uma série de acontecimen-tos espelha e vem produzindo uma mudança grada-tiva na maneira de encarar e tratar o portador dedeficiência, para o qual a atividade física pode signi-ficar melhores condições de vida e maior inserçãosocial.

Uma série de instrumentos legais visa dar garantiasaos portadores de deficiências, havendo leis especí-ficas por tipo de deficiência. No geral, a Constitui-ção Federal de 1988 lhes assegura “a plena inserção

capa

A Educação Física tem muito a oferecer às pessoas

portadoras de diversos tipos de deficiência, nas mais

variadas formas de atividade. Seguramente, é capaz

de promover maior integração social do deficiente,

provocando seu interesse pelo Esporte e pela

própria graduação profissional

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na vida econômica e social e o total desenvolvimen-to de suas potencialidades”. Foi criada a Coorde-nadoria Nacional para Integração da PessoaPortadora de Deficiência – CORDE, órgão daSecretaria Especial dos Direitos Humanos, e insti-tuída “a tutela jurisdicional de interesses coletivosou difusos dessas pessoas”. Posteriormente, oDecreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, quedispõe sobre a Política Nacional para a Integraçãoda Pessoa Portadora de Deficiência, consolidou asnormas de proteção e definiu explicitamente quemse enquadra em cada tipo de deficiência.

Até então, não é exagero dizer que as severas limi-tações físicas confinavam a maioria dos deficientescomo camada excluída da sociedade. Vistos comoseres sem potencialidade, eram marginalizados emtodos os campos sociais. Diante da falta de qualquerestímulo, viam-se os próprios deficientes comoexcluídos, a começar pelas barreiras arquitetôni-cas, sem uma verdadeira percepção corporal desuas capacidades. Em trabalho dirigido ao

, SérgioCavalcante chama a atenção para a necessidade,sejam quais forem as tendências conceituais daEducação Física, de uma prática profissional paraportadores de deficiência, especialmente a mental.E resume, em uma frase, o difícil equilíbrio na rela-ção sociedade/deficiente, dizendo:

.

Esse movimento de conscientização veio a ter noEsporte um forte aliado, com o interesse desperta-do pela participação de atletas brasileiros nos JogosParaolímpicos. O Desporto Paraolímpico Brasileirocomeçou a despontar em 1958, e em 1972 tomouparte nos Jogos pela primeira vez. Em 2000, porocasião da oitava participação brasileira na compe-tição, desta vez em Sydney, a maior cobertura damídia e o volume de medalhas conquistados proje-taram o país internacionalmente, fazendo crescer

também o interesse doméstico pelo desporto adap-tado.

A popularização e a desmistificação da condição dodeficiente tem sido levada à reflexão em outrosimportantes setores da sociedade. O cinema, porexemplo, tem abordado as mais variadas situações,como nos filmes ,

, e , quetratam da deficiência física, e

(visual), e(paraplegia), (Tetraple-

gia), e (auditiva),e (mental),

, e (autismo),(paralisia cerebral), (síndrome

de Down).

contaJoão Carvalho, ex-presidente do ComitêParaolímpico Brasileiro. Procurado por pessoas daANDEF – Associação Niteroiense do DeficienteFísico, no Rio de Janeiro –, entre outras, o autor danovela, Manoel Carlos, aceitou diversas sugestõesquanto ao tratamento dado ao personagem do atorNuno Leal Maia, um Professor de Educação Físicaque sofre um acidente e torna-se portador de defi-ciência. Foi quando o personagem, deixando de selamentar, voltou à vida e até a dar aulas de ginástica.

Na novela, a postura do personagem teve funçãoexemplar e educativa,

, avalia Carvalho. Anos antes, porém,um Professor de Educação Física na “ pode-ria até ser impedido de ensinar diante de uma situa-ção que o incapacitasse fisicamente. E, sem dúvidaalguma, a pessoa portadora de alguma deficiênciajamais teria acesso aos cursos superiores deEducação Física, como hoje já acontece. Isto revelaque o olhar do Profissional de Educação Físicamudou, mudou também o perfil que se espera doProfessor e, por conseguinte, os critérios de acessoàs faculdades.

XCongresso Brasileiro de Ciências do Esporte

A história nosmostra que o portador de deficiência tem tido momen-tos distintos em seu relacionamento social. Hámomentos marcados por rejeições, outros por segre-gações, sendo muitas vezes visto como vítima, ocor-rendo assim o protecionismo exacerbado

A força de um campeão Carne trê-mula O óleo de Lorenzo Uma janela para o céu

À primeira vista Alémdos meus olhos Amargo regresso Nascidoem 4 de julho Feliz ano velho

Filhos do silêncio Mr. HollandForrest Gump Gilbert Grape Meu filhomeu mundo Nell Rain man Meu péesquerdo O oitavo dia

No Brasil, a telenovela História de Amor projetou aquestão do deficiente físico em nível nacional,

servindo para diluir muitospreconceitos

vida real”

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Reconhecimento social

Hoje, nem tudo são flores, mas esta transformaçãovem ocorrendo aos poucos e com muita luta, mas jáaponta em um sentido de reconhecimento social doportador de deficiência, antes impensável – eravisto mais como um doente incurável.

A Educação Física, portanto, vem despertando aospoucos para a sua importância – fundamental – notrabalho com o deficiente. Faz pouco tempo quenossas universidades deram início à formação deuma base teórica para esse trabalho, e cursos deespecialização ainda são oferecidos em pequenonúmero e nem sempre com continuidade.

Enquanto Presidente da ANDE – AssociaçãoNacional de Desportos para Deficientes –, quecoordena boa parte do chamado desporto adapta-do no Brasil, o Prof. Ivaldo Brandão trabalha direta-mente com o desporto adaptado de alto nível.Mesmo assim, alerta: tendo começado pelo desen-volvimento da prática de alto nível, o Brasil carecede base científica própria, e precisa terminar deconstruí-la nas universidades. Brandão, Professorna Faculdade Castelo Branco, Rio de Janeiro, acres-centa:

Contudo, Brandão acredita que o sucesso alcança-do por deficientes que praticam esporte motivarácada vez mais pessoas em situação semelhante,vindo a gerar uma demanda de Profissionais deEducação Física preparados, e vindo também pres-sionar o mercado de trabalho.

Primeiro fomos mostrar capacidade, para depo-

is reparar que faltava organizar uma base teórica parao desporto adaptado. Esta base começou a ser sedi-mentada pelas universidades brasileiras a partir depesquisas feitas nos últimos dez anos. Por isso, temosmais conhecimento empírico e pouco conhecimentocientífico. Este veio inicialmente de fora. Sobra talen-to, e falta pessoal suficiente para orientar. Até 1990,só 23 cursos, das faculdades federais, tratavam daEducação Física Adaptada em seus currículos. Foinesse ano que o governo federal chamou as mais decem faculdades para fomentar a matéria em sua gradecurricular.

Esta é uma das gran-des preocupações que o Conselho de Educação Físicatem que ter. Haverá pressões sobre as academias, porprofissionais e estabelecimentos capazes de atenderos adaptados. Temos buscado trazer ao desporto adap-tado os profissionais qualificados, exigindo o registrono CREF. Não por apologia ao Conselho, mas por acre-ditar que essa condição amplia o sentido de responsa-bilidade do preparador e qualifica o próprio desporto.

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A atividade física, em níveis variados, tem ajudadoportadores de deficiência a adquirir não só maiormobilidade: resgatam também sua auto-estima, seuequilíbrio emocional. Mesmo deficientes físicoscom mobilidade reduzidíssima podem praticaresportes, sob a tutela de Profissionais qualificados ehabilitados.

provoca o Prof. Ivaldo Brandão.

acrescenta.

Sérgio Coelho de Oliveira, diretor-técnico daABRADECAR – Associação Brasileira de Desportoem Cadeira de Rodas –, dá um exemplo do extremopreparo necessário para que o Profissional deEducação Física trabalhe com segurança junto aportadores de deficiência.

O Prof. Brandão concorda que a graduação é insufi-ciente para o trabalho com deficientes, principal-mente se envolver o desporto.

, analisa.

Em que pesem as medalhas obtidas em Sydney, aatração exercida pelo desporto de alto rendimentonão deve ofuscar o indispensável trabalho com ochamado esporte participativo e muito menos atentativa de atrair para a prática de atividades físicasos não interessados em Esporte – o que é funçãodos Profissionais de Educação Física inclusive notrabalho com não-portadores de deficiência.

Na opinião de Ivaldo Brandão, esporte e atividadefísica quase se confundem, quando o assunto é otrabalho com deficientes.

Você diria que uma pessoa que apenas mexe a cabeçapode competir?,Pois pode! Há campeões de bocha que indicam a dire-ção da bola com o olhar, e soltam-na com um movi-mento do pescoço! A limitação existe, mas parte dela émuito mais psicológica do que motora. Ter o deficientecomo inútil não passa de um preconceito. A determi-nação que o desporto exige e devolve ao deficientesignifica a aquisição de uma gana de viver e se superarsem igual,

Portadores de síndrome deDown, por exemplo, têm muito a ganhar com a práticade natação, desde que esta seja feita com cuidado eacompanhamento adequado. A síndrome provocacerta flacidez e deixa duas vértebras flutuantes.Movimentos do pescoço, como os praticados nestetipo de nado, podem causar lesão cervical e até esma-gamento, com paralisia respiratória.

Mesmo após a gradu-ação, o Profissional não tem conhecimento total dasvárias deficiências e suas particularidades, ainda queseu trabalho não venha a envolver o desporto. Por isso,algumas universidades já vêm oferecendo cursos deespecialização. A FIEP de Foz do Iguaçu está abrindouma linha de pesquisa nessa área, inaugurando umcurso de personal para quem quiser treinar portadoresde deficiência

Há deficiências que inibema prática do desporto, ou este pode até piorar a condi-ção física do praticante. Mas a atividade física vale-sedo desporto como fator motivacional, tornando-seatividade física desportiva. Conhecemos um deficienteque tinha receio de jogar porque usava muletas.Começou a jogar futebol mesmo assim, e hoje nem usa

Participação x Competição

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mais muletas. É um trabalho difícil, pois um paralisadocerebral chega a ser confundido com um bêbado narua, ao pegar um ônibus etc. A sociedade precisaentender que o objetivo do desporto adaptado para oportador de deficiência é melhorar a qualidade de vidado indivíduo, facilitando suas atividades cotidianas.Como fazer isso cada vez melhor é um desafio postoaos atuais e futuros Profissionais da Educação Física,e, ressalto, não só em relação a possíveis atletas para-olímpicos.

Não há demérito nisso para a Fisioterapia. Sãofronteiras de atuação

Os Jogos Panameri-canos e Olímpicos popularizaram modalidades extra-futebol no Brasil como nada mais conseguiria fazer, ehoje o desporto paraolímpico alcançou um nível depreparo e excelência que o aproxima, ao máximo, dodesporto olímpico. Já é, também, um esporte espetá-culo, e com tal ascensão, logo cairá no gosto das pesso-as. Lembremos que nos Jogos de Sydney poucos recor-des foram superados, exceto na Natação, e mesmoassim porque os equipamentos foram modificados. Asprovas já alcançaram o limite humano, o que não acon-tece nos Jogos Paraolímpicos, onde a competição ten-derá a ser maior. Digo sempre que o desporto parao-límpico precisa da mídia tanto quanto do ar que respi-ramos, para atingir o deficiente que está escondido emcasa sem ânimo, sem vontade de viver.

Um ponto importante na maneira de atuar é desta-cado por Brandão: o de que o Profissional deEducação Física, comparado ao Fisioterapeuta, porexemplo, não vê a pessoa portadora de deficiênciacomo paciente, e ao não fazê-lo, amplia seus limi-tes.

, explica.

A discussão sobre a prioridade dada ao desporto dealto desempenho, em possível detrimento doesporte de massa, movimenta o campo daEducação Física e do Esporte em geral – e não fala-mos apenas do desporto adaptado. Para JoãoCarvalho, que foi presidente do ComitêParaolímpico Brasileiro de 1995 a 1997 e de 1997 a2001 – quando ocorreram os Jogos Paraolímpicos

de Atlanta (1996) e Sydney (2000) – não há comonegar que a opção pelo esporte de altíssimo rendi-mento é excludente, o que não impede, afirma ele,que esta opção acabe funcionando como ferramen-ta de inclusão social. Ele explica:

Carvalho é Diretor de Projetos da ANDEF e atual-mente trabalha na implantação do vôlei paraolímpi-co junto à Confederação Brasileira de Vôlei, naforma inicial de uma associação nacional que englo-be as duas categorias existentes: o de competição,onde cinco atletas jogam sentados na quadra, ao

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lado de um sem amputação, e o voleibol para sur-dos e deficientes mentais, no chamado esporte departicipação, onde o que menos importa é compe-tir. O desporto adaptado, ressalta, desmistifica anoção de inutilidade existente na sociedade.

garante Carvalho,que trabalhou pelo desenvolvimento do futebolpara amputados no país, sendo fundador e primeiropresidente da ABDA – Associação Brasileira deDesporto para Amputados.

Carvalho ressalta a necessidade de reverter no por-tador de deficiência a expectativa inicial que acom-panha a perspectiva da atividade física. Após o cho-que do nascimento com alguma deficiência, ou dadoença ou acidente que a causou, começa a buscade tratamento e apoio à família e à própria pessoa. Afisioterapia é, então, sentida como um sacrifício quevisa melhorar sua qualidade de vida, e a prática deesporte pode significar um sacrifício, quando

, comenta Carvalho.

finaliza.

O defi-ciente adquire confiança, pois percebe que, se podeaté jogar e competir, pode o resto também.Acompanhamos deficientes de todo tipo e grau dedeficiência, e a diferença entre o esportista e o nãoesportista é gritante. O amputado não esportista queruma prótese que se aproxime o máximo da perna queperdeu. O esportista não centra sua atenção na estéti-ca, mas na estrutura, na funcionalidade, e adquiremaior aceitação do problema –

naverdade é o inverso, será um benefício inestimávelpara a vida dele Não tenho dúvi-da de que o Esporte é a mais importante ferramenta deinclusão social para o portador de deficiência, poisajuda na recuperação de sua auto-estima e realmentepromove maior qualidade de vida,

A atividade física tem beneficiado portadoresde deficiência em João Pessoa, na Paraíba,onde a Prof. Luciene Rodrigues (CREF000301-P/PB) utiliza seus conhecimentospara um trabalho de Arte e Reabilitação juntoa pessoas com qualquer tipo de deficiência –

, exemplifica. Luciene Rodriguesatua com Dança há 30 anos. Provisionada noCREF-PB, desenvolve seu trabalho junto auma equipe multiprofissional de graduadosem áreas como Educação Física, Pedagogia,Arte-Educação, Psicologia, Serviço Social,além de técnicos em cada oficina: dança, músi-ca, teatro, literatura e artes visuais.

Este “Núcleo de Vivência em Artes”, coorde-nado por Rodrigues, foi criado em 1992 naFundação Estadual Centro Integrado deApoio ao Portador de Deficiência, presididapela Sra. Maria de Fátima Ribeiro. Segundo aCoordenadora, o trabalho de integração

começa com a vivência na própria Fundação,quando os participantes se dão conta do eloque os liga aos demais, mesmo que portado-res de outras deficiências. Há três tipos detrabalho desenvolvidos com a Dança: dançade reabilitação, dança artística e dança técni-ca. A dança artística costuma incluir grupos ecoreografia, enquanto a técnica é competitivae disputada entre duplas: um cadeirante e umandante.

Recentemente, Luciene Rodrigues tem seinteressado igualmente pela dança competiti-va. Ela participa de pesquisas sobre dança derendimento desenvolvidas na Universidadede Campinas – Unicamp, e é Vice-Presidente

um de meus alunos é deficiente auditivo e dançabalé clássico

servindo de exemplo

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da Confederação Brasileira de Dança, quepromoverá em novembro o II CampeonatoInternacional, em Mogi das Cruzes. Exceto nacompetição, quando as modalidades e regrasde danças de salão são previamente estabele-cidas, a reabilitação pode envolver qualquertipo de dança, do balé clássico à dança moder-na, a especialidade de Luciene, valendo-se detodo tipo de movimento adequado a cadaportador de deficiência.

.

A Fundação promove cursos para capacitarseu pessoal. Um de seus programas é o “Trei-

narte”, através do qual promove um treina-mento em arte voltado a profissionais daEducação, de forma a ajudá-los a entendercomo trabalhar a Arte na Educação com oobjetivo de reabilitação. O Núcleo deVivência em Artes tem expandido sua atuaçãopara o interior do Estado da Paraíba. ParaLuciene, a avaliação é muito positiva:

.

A primeira coisa queaprendemos é a não trabalhar sozinhos com odeficiente, jamais prescindir de uma avaliaçãodo fisioterapeuta, por exemplo. Em segundolugar, perceber, interagir, perguntar a formacomo a pessoa gostaria de começar a ser tocada,num processo lento de confiança – basta vercomo mesmo pessoas não portadoras de defi-ciência têm dificuldade de abraçar. E em tercei-ro, chegar a dominar bem a técnica de manipu-lação da cadeira de rodas, para que o corpo nãosofra. Para a dança, usa-se uma cadeira adequa-da, feita em alumínio e sob medida, como umprolongamento do corpo

Temosgrupos com deficientes mentais que já estão naescola e conseguem conquistar alguma indepen-dência. O trabalho com dança e arte em geraltem sido excelente para o portador de deficiên-cia, e felizmente a sociedade começa a vê-lo deforma bem diferente da que via anos atrás

superando adversidades

Um dos casos mais conhecidos de entrelaçamentoentre Educação Física e deficiência motora é o datécnica de ginástica Olímpica Georgette Vidor, queficou paraplégica depois do acidente com o ônibusem que viajava a equipe de ginástica do Flamengo.O ônibus bateu em um caminhão quando levava osatletas para disputar o Campeonato Brasileiro emCuritiba. Sete pessoas morreram e a também ginas-ta Úrsula Galera Flores, que sofreu traumatismo

craniano, não pôde mais competir. Seis anos depois,num exemplo de vida e de tenacidade, Georgetedesfilava em pé durante o carnaval carioca de 2001,

, segundo regis-tro do jornal O Globo.

Certamente, Georgette Vidor não é a única brasile-ira que, já graduada em Educação Física, manteve-se na profissão depois de um acidente. O caminho

como referência ao poder da vontade

Luciene Rodrigues foi homenageada na

II Mostra Coreográfica de Dança de Salão

(Teatro Villa Lobos, Rio de Janeiro)

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inverso, contudo, também não é nada incomum, aexemplo da ginasta olímpica Ana Luiza Nonato deFaria, hoje com 27 anos. Deficiente visual, AnaLuiza nasceu com descolamento de retina, o quenão a impediu de atualmente estar trabalhando coma mesma modalidade junto a deficientes visuais devários graus – inclusive cegos. Graças a ela, queconhece bem as dificuldades do ginasta cego ousemi-cego, estes encontram menos dificuldade doque ela própria teve que superar.

O primeiro problema enfrentado por Ana Luiza foia desinformação.

relembra.

Ela precisou superar grandes dificuldades – passa-gem de uma barra para outra nas paralelas e os sal-tos na trave, sem falar em locais de treinamentocom pouca claridade. Veio a praticar treinamentode alto nível na faculdade, mas foi durante o estágio,no Flamengo, que Ana Luiza percebeu que havia umtrabalho a repassar e desenvolver. Graduou-se comuma monografia sobre a metodologia da ginásticaOlímpica para crianças portadoras de baixa visão, ehoje atua com esse público na iniciação ao despor-to.

, completa.

Se entre Educadores e Profissionais de EducaçãoFísica vem aumentando a atenção com as pessoasportadores de deficiência, entre estes também cres-ce a atração pela Educação Física, como no caso daginasta Ana Luiza. Outro caso que impressiona é ode Giuliano Ferrati.

, diz Ferrati.

.

Romano (CREF 000712-G/RJ) faz questão de pres-tar um depoimento pessoal sobre o discípulo, oqual veio a conhecer durante um curso:

.

Ainda criança, temendo por minhasegurança, meus pais me tiraram da ginástica olímpi-ca que eu já fazia. Voltei a praticar por minha conta,aos 18 anos, e foi a ginástica olímpica que me motivoua cursar Educação Física, eu ainda não pensava emtrabalhar com portadores de deficiência,

Ao me verem trabalhando, alguns alunos de 5ª a 8ªdo Instituto Benjamim Constant, no Rio, já falam emum dia graduarem-se em Educação Física. Eles viramque é possível

Tenho 22 anos, sou portador dedeficiência física pois tive que amputar as pernas quan-do tinha 7 anos, devido a um problema na patela e natíbia. Comecei a praticar esportes com apenas 12 anosde idade, fazendo Jiu-Jitsu. Readaptei todo o modo delutar do Judô, e também a forma como era lutado o Jiu-Jitsu Há dois anos conheci o Prof. Álvaro

Romano, que me convidou para praticar GinásticaNatural e me apadrinhou, ajudando-me a adaptar asatividades físicas à minha situação. Hoje, adoro qual-quer tipo de esporte, pois até futebol eu jogo

Giulianochegou e ficou no canto da sala. Já tinha experimenta-do a Ginástica Natural com um aluno meu do jiu-jitsu,que a praticava. No intervalo fui conversar com ele,começamos a fazer alguns movimentos e fiqueiimpressionado com sua adaptação. Não mais que 5minutos! Disse-lhe logo que não precisava de aulaespecial. “Faça junto com os outros normalmente”,recomendei. Desde então ele tem participado de even-tos comigo, ele já queria fazer essas apresentações.Seu objetivo agora é cursar Educação Física, o quepassou a ser o meu objetivo também, por seu potenciale vontade de ser professor

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O Prof. Alvaro romano com seugrande amigo, Giuliano,em um momento dedescanso e descontração