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.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CAMPUS II COLEGIADO DE MATEMÁTICA KEILA NAARAH FERREIRA DA COSTA A MATEMÁTICA FINANCEIRA NA ECONOMIA PALACIANA: Uma abordagem histórica do primeiro e segundo impérios babilônicos ALAGOINHAS 2012

A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

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Monografia de Keila Costa a respeito da história e surgimento da matemática financeira ba babilônia, primeiro e segundo impérios.

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.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CAMPUS II

COLEGIADO DE MATEMÁTICA

KEILA NAARAH FERREIRA DA COSTA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NA ECONOMIA PALACIANA:

Uma abordagem histórica do primeiro e segundo impérios babilônicos

ALAGOINHAS

2012

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KEILA NAARAH FERREIRA DA COSTA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NA ECONOMIA PALACIANA:

Uma abordagem histórica do primeiro e segundo impérios babilônicos

Monografia apresentada com objetivo de aprovação no Componente Curricular Trabalho de Conclusão de Curso III, Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Departamento de Ciências Exatas e da

Terra, área de concentração Educação Matemática.

Prof.ª Ma. Maria Eliana Santana da Cruz Silva

ALAGOINHAS

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA C837m Costa, Keila Naarah Ferreira da. A matemática financeira na economia palaciana: uma

abordagem histórica do primeiro e segundo impérios babilônicos./

Keila Naarah Ferreira da Costa. - Alagoinhas, 2012.

53f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-Universidade do

Estado da Bahia. Departamento de Ciências Exatas e da Terra.

Colegiado de Matemática. Campus II, 2012.

Orientadora: Profª Ms Maria Eliana Santana da Cruz Silva

1. Matemática - História. 2. Matemática financeira. I.Silva, Mª

Eliana Santana da Cruz. II. Universidade do Estado da Bahia.

Departamento de Ciências Exatas e da Terra. Colegiado de

Matemática. Campus II. III. Título.

CDD: 510.9 Biblioteca do Campus II / Uneb

Bibliotecária: Rosana Cristina de Souza Barretto. CRB: 5/902

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KEILA NAARAH FERREIRA DA COSTA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NA ECONOMIA PALACIANA:

Uma abordagem histórica do primeiro e segundo impérios babilônicos

Monografia apresentada com objetivo de aprovação no Componente Curricular Trabalho de Conclusão de Curso III, Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Departamento de Ciências Exatas e da Terra, área de concentração Educação Matemática, aprovada em 27 de março de 2012. ____________________________________

Universidade do Estado da Bahia - UNEB Profª. Ma. Maria Eliana Santana da Cruz Silva Examinadora – Orientadora

____________________________________

Universidade do Estado da Bahia - UNEB Profª Esp. Urânia Maria Vieira Alves Examinadora

_____________________________________

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Prof. Me. Jaibis Freitas de Souza

Examinador

ALAGOINHAS

2012

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu pai Teobaldo Costa Homem (in

memoriam), que em um dia que padecia das enfermidades que acometiam seu

corpo, e bastante fraco, me chamou e disse: minha filha estude, não desista,

não sei se estarei aqui para ver você se formar, mas quero que você estude e

se dedique ainda mais. E na certeza da promessa que ali selamos, eu

permaneci, mesmo com tantas provações que passei firmada nos meus

propósitos pessoais e no pedido feito por meu pai.

Também quero dedicar o trabalho aos demais membros da família

Costa, sobretudo minha mãe Jandira Ferreira da Costa, que sempre ora por

mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, no qual deposito minha confiança e em quem encontro força, paz, alegria, salvação e capacitação.

Agradeço aos meus amigos, a todos eles, que me encorajaram. As minhas companheiras de sala, que estiveram comigo sempre.

A Orientadora Maria Eliana Santana da Cruz Silva, pelos conhecimentos e orientação, a Edneide Costa, pelo apoio e amizade, aos componentes da banca examinadora: Prof. Me. Jaibis Freitas e Prof. Esp. Urânia Maria V. Alves.

Ao corpo docente do curso de licenciatura em matemática.

A todos vocês, muito obrigado

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“[...] quando os seres humanos começaram a produzir registros escritos das

suas atividades, eles o fizeram não para escrever história, poesia ou filosofia,

mas para negócios”

Niall Ferguson.

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RESUMO

O presente estudo buscou investigar e comparar a matemática financeira legalizada e utilizada na antiga Babilônia, nos períodos dos reinados de Hammurábi e Nabucodonosor II, imperadores do primeiro e segundo impérios, respectivamente. Para tanto, foram utilizados livros, revistas, artigos e dissertações que continham cartas escritas por Hammurábi e seu código e também arquivos comerciais como listas de recibos, notas promissórias e contratos datados do reinado de Nabucodonosor II.. Nesta análise, utilizou-se uma metodologia qualitativa na coleta e discussão dos dados, buscando estudar o papel, as influências e comparar rudimentos e avanços da matemática financeira retratada no código de Hammurábi, sobre a que era utilizada no segundo império babilônico. De tudo isto ficou notório que algumas taxas de juros foram conservadas ao longo destes impérios, mas em compensação ocorreu um avanço considerável na economia babilônica no segundo império, mostrando que a matemática financeira de fato já atuava como ferramenta no quotidiano do comércio e vida babilônicos.

PALAVRAS-CHAVE: Matemática financeira. Economia babilônica. Juros. Código de Hammurábi.

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ABSTRACT

The present study sought to investigate and compare the financial mathematics

legalized and used in ancient Babylon, the periods of reign of abi ... Hammur

and Nebuchadnezzar II, emperor of the first and second empires, respectively.

For this purpose, we used books, magazines, articles and dissertations that

contained letters written by Hammurabi and his code as well as lists of files

trade receipts, promissory notes and contracts dating from the reign of

Nebuchadnezzar II. In this analysis, we used a qualitative methodology to

collect data and discussion, seeking to study the role, influence and compare

rudiments and advances in financial mathematics portrayed in the Code of

Hammurabi, which was used on the second Babylonian empire. From all this it

was clear that some interest rates were maintained throughout these empires,

but in recompense there was a considerable advance in the economy in the

second Babylonian empire, showing that the financial mathematics has indeed

acted as a tool in the everyday life of trade and Babylonians.

KEYWORDS: financial mathematics, economics, Babylonian, interest, code of

Hammurabi.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

I – Primeiro e segundo impérios da Babilônia: Contextualização histórica ........6

II – O papel e as influências da matemática financeira na economia palaciana nos períodos (1792-1750 a. c.) e (656-563 a.c.): investigação nos modelos fundiário e comercial............................................................................................................17

III – Comparação entre a matemática financeira utilizada no primeiro e segundo impérios babilônicos.........................................................................................................34

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................41

REFERÊNCIAS ................................................................................................45

ANEXOS............................................................................................................52

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INTRODUÇÃO

A história da matemática babilônica é norteada por informações sobre

diversos aspectos da matemática, sejam números, sejam medidas, ou seja, tudo o

que envolve matemática e processos matemáticos nestas civilizações. Alguns

estudiosos já se interessaram em descobrir a origem da matemática financeira, e

sua aplicação em uma civilização específica, como se interessou por ela o autor

Piton Gonçalves (2005) em seu artigo Introdução a matemática financeira quando

diz: “As tábuas mostram que os sumérios antigos estavam familiarizados com todos

os tipos de contratos legais e usuais, como faturas, recibos, notas promissórias.”

(GONÇALVES, 2005, p.1).

O presente trabalho nasceu da curiosidade de conhecer os primórdios da

matemática financeira, esta que faz parte do nosso dia a dia, porém por um período

de tempo, não se questionou a sua origem e importância para as civilizações e

sociedades. Conhecendo o livro A Ascensão do dinheiro: A história financeira do

mundo do autor Niall Ferguson, percebi que na região da Mesopotâmia é que se deu

sua origem, de fato registrada em tábuas de argila com a escrita cuneiforme, neste

livro o autor relata a historia financeira do mundo desde o inicio, até aos dias de hoje

e a partir daí, o interesse ainda mais foi estimulado em estudar o tema proposto.

Além disso, ao estudar a disciplina história da matemática na Universidade, percebi

que o foco são os pensadores matemáticos, aqueles que descobriram ou

desenvolveram algo que seja utilizado hoje em dia, surgindo um interesse de

investigar como a matemática financeira era utilizada, por que surgiu, de que modo a

mesma era relevante para a economia babilônica.

Ao me deparar com o tema e como conseqüência a busca por informações

sobre o mesmo, percebi que economistas, contabilistas, matemáticos e

administradores, pesquisam sobre a origem das finanças, tentando explicar e

reforçar os estudos existentes em história de finanças, economia e matemática,

entretanto os mesmos não mencionam em seus textos a importância da

regulamentação da matemática financeira registrada no código de Hammurábi.

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Neste trabalho buscamos analisar através de livros, artigos, revistas e

dissertações que continham algumas das cartas escritas pelo rei Hamurábi,

relacionadas à economia e também algumas cláusulas do código, contratos

financeiros e listas de transações comerciais. No intuito de investigar quais as

influências do código de Hammurábi na matemática financeira e na economia

palaciana dos impérios babilônicos de Hammurábi e Nabucodonosor II.

Este estudo tem como objetivo geral, analisar, através do código e cartas de

Hammurábi os reflexos da matemática financeira, legalizada neste império, sobre a

economia palaciana retratada nos recibos e contratos comerciais, do segundo

império babilônico. Para embasar tal objetivo, outros foram especificamente

levantados e estudados. São eles:

1. Investigar o papel da matemática financeira: na economia palaciana do

primeiro império babilônico sob o reinado de Hammurábi (1972-1750 a. E.C.)

sobre a economia palaciana do segundo império babilônico, sob o reinado de

Nabucodonosor II (605-565 a.E.C.)

2. Descobrir quais as influências constantes no código de Hammurábi (1972-

1750 a.E.C.) da matemática financeira do primeiro império babilônico sobre a

mesma no segundo império babilônico, de Nabucodonosor II (605-565

a.E.C.).

3. Comparar os rudimentos da matemática financeira utilizada na economia

palaciana no primeiro império babilônico, através do código de Hammurábi

(1792-1750 a. E.C.) e cartas, com os avanços da mesma no segundo império

de Nabucodonosor II (605-565 a. E.C.) através de contratos, notas

promissórias e documentos financeiros.

Com tais objetivos e problemática, as seguintes hipóteses foram levantadas

e para serem respondidas:

1. Será que as leis constantes no código de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.)

relacionadas a economia do primeiro império babilônico foram aplicadas a

matemática financeira da economia palaciana durante o reinado de

Nabucodonosor II (605-565 a.E.C.);

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2. Será que os reflexos da matemática financeira utilizada na economia

palaciana de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.) influenciaram de modo

relevante, as negociações dos setores familiar e privado do segundo império

babilônico sob o governo de Nabucodonosor II (605-565 a.E.C.).

Seguindo a idéia de Rodrigues (2007) que afirma que metodologia, “é um

conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência para formular e

resolver problemas de aquisição objetiva do conhecimento, de maneira sistemática.”

(Rodrigues, 2007a, p.1) A metodologia utilizada nesse estudo quanto à natureza

classifica-se em pesquisa básica que segundo Silva (2004), este tipo de pesquisa,

“objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação

prática prevista. Envolve verdades e interesses universais” (Silva, 2004a), sendo

também quanto aos objetivos exploratória, que segundo Silva (2004) ela “visa

proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a

construir hipóteses” (Silva, 2004b).Quanto à abordagem é qualitativa que segundo

Rodrigues (2007) “ os dados obtidos são analisados indutivamente e as informações

não podem ser quantificáveis.” (RODRIGUES,2007a)

A pesquisa é tecnicamente bibliográfica, pois segundo Medeiros (2000)

“pesquisa bibliográfica significa o levantamento da bibliografia referente ao assunto

que deseja estudar [...] seu objetivo é colocar o autor da nova pesquisa diante de

informações sobre o assunto de seu interesse”.” (Medeiros, 2000, p.237) e não

poderia deixar de acrescentar que a mesma é de caráter histórico-econômico

realizando análise e comparação dos textos direta ou indiretamente relacionados ao

tema, através da revisão de literatura que trate sobre: 1. Economia palaciana, 2.

Código de Hamurábi, 3. Origem da contabilidade, 4. Fontes documentais da

economia babilônica, 5. Atividades econômicas e pagamento de serviços na

babilônia, 6. Decretos reais babilônicos

A pesquisa está relacionada para a matemática financeira na economia da

Mesopotâmia antiga, região da baixa Mesopotâmia.

Fundamentada e direcionada na história econômica da cidade de Babilônia

nos períodos compreendidos entre (1792 – 1750 a.E.C.) e (605 – 565 a.E.C.) por

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serem períodos de maior relevância imperial sobre a economia palaciana na

Babilônia, esta pesquisa estuda fatos passados os quais estão respaldados em

escritos deixados pela civilização Mesopotâmica e que estudiosos nas áreas de:

história, contabilidade, economia e matemática, dedicaram-se a discutir e analisar a

economia palaciana e os registros financeiros no período citado, totalizando doze

autores, dentre estes os mais relevantes são Emanuel Bouzon, Marcelo Rede,

Antonio Ramos dos Santos, e Valdinei P. Garcia.

Devido ao caráter técnico desta pesquisa e a necessidade de coletar

informações também ilustrativas à mesma o instrumento de coleta escolhido foram

livros, artigos e dissertações. A pesquisa baseia-se na coleta individual da

pesquisadora de informações de livros encontrados na biblioteca da Universidade do

Estado da Bahia, localizada no Campus II em Alagoinhas Bahia, nos meses de julho

a dezembro de 2009, março a dezembro do ano de 2010 e fevereiro a agosto de

2011 mas, sobretudo de artigos, os quais foram pesquisados na internet e em

revistas e, algumas dissertações de doutoramento também disponíveis na internet,

pesquisadas no mesmo período citado. Os dados coletados nos documentos citados

serão analisados para obtenção de elementos da presença da matemática financeira

relacionadas a juros e pagamentos de compra e venda de propriedades, o código de

Hamurábi será utilizado, além disto, para comparações entre os documentos

encontrados e já analisados datados do período do primeiro e segundo impérios

babilônicos.

O presente estudo é relevante, pois é concernente com a pesquisa científica,

não só para profissionais transdisciplinares que pesquisam sobre o tema, mas

também para estudantes de história da matemática. Sendo assim, na introdução

trazemos a justificativa que embasa a necessidade e relevância da pesquisa, a

problemática, os objetivos gerais e específicos relacionados a este problema e as

hipóteses para serem negadas ou não, lembrando da metodologia utilizada neste

trabalho. Em seguida, trouxemos toda a fundamentação teórica, na qual se embasou

este estudo, tendo neste, capítulos relacionados aos objetivos escolhidos. O primeiro

deles trouxe uma contextualização histórica dos impérios babilônicos estudados. O

segundo capítulo discutiu o papel e as influências da matemática financeira na

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economia palaciana no primeiro e segundo impérios babilônicos, tomando como

base os dois modelos econômicos existentes naquele período: o modelos fundiário e

comercial. No terceiro fizemos uma comparação entre a matemática utilizada no

primeiro e segundo impérios. Todos estes capítulos foram estudados nos períodos

dos reinados de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.) e Nabucodonosor II (605-565

a.E.C.).

Diante de todas as descobertas feitas neste trabalho, trazemos por fim as

considerações finais, seguidas de todas as referências utilizadas neste estudo.

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I - Primeiro e segundos impérios da Babilônia: contextualização histórica.

Neste capítulo, falar-se-á dos aspectos gerais da região e tema em estudo.

A Babilônia (anexos A e B) 1era uma cidade da região da Mesopotâmia2 situada na

Ásia Menor, entre os rios Tigre e Eufrates, tendo suas nascentes nas montanhas da

Armênia e atualmente conhecida como Iraque, distando de Bagdá em 80km. A

sociedade mesopotâmica surgiu paralelamente à egípcia. Pinto (2006) informa que

tanto o surgimento, quanto a urbanização e a criação da escrita, deram-se quase

que simultaneamente na Mesopotâmia e no Egito, ou seja são sociedades

contemporâneas. Além disso, tem-se provas de que o Egito passou a ser posse do

império Neobabilônico no reinado de Nabucodonosor II. A Babilônia tornou-se capital

de impérios da Mesopotâmia, durante dois períodos históricos diferentes e

relevantes para a história geral, universal, história da matemática, da economia, da

contabilidade e áreas afins.

A respeito dos aspectos gerais, Burns (1968), diz que a civilização

mesopotâmica iniciou-se por volta de 3500 a 3000 a.E.C. através dos sumérios,

localizava-se na parte norte da terra entre esses dois rios. Souza (1977) detalha um

pouco mais a localização da região, afirmando que a mesma fica na Ásia ocidental,

mais precisamente entre o Irã, Armênia, desertos da Síria, Arábia e alcançando o

Golfo Pérsico. Já Cardoso (1986) enfatizou a divisão da Mesopotâmia em alta e

baixa Mesopotâmia, focando-se na baixa Mesopotâmia, que era a planície, onde

dava-se as cheias dos dois rios. Grimberg (1940) explica que as cheias ocorriam

entre o fim do inverno e o inicio da primavera, como o inverno era rigoroso, com a

chegada da primavera, ocorria o derretimento da neve, tornando os rios mais

volumosos, os quais desciam e invadiam a planície da baixa Mesopotâmia,

permitindo o depósito de uma lama fértil, seguindo o seu curso e desaguando no

Golfo Pérsico(um braço de mar da Arábia). Estas cheias proporcionavam às

embocaduras dos rios uma bela vegetação, indicando alta fertilidade do solo. Isto

1 Centro do poder babilônico no reinado de Hamurábi e Nabucodonosor II. John D. Davis, Dicionário

da Bíblia, p. 69. 2 Terra entre rios. Ibid , p.391

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chamou a atenção de povos das montanhas do leste e de povos dos desertos do

ocidente, incluindo o povo semita3 vindo dos desertos da Síria, que chegaram a

região em 3000 a.E.C, (segundo Grimberg) e os sumérios montanheses que

estabeleceram-se nas embocaduras dos rios, e fundaram 3 cidades: Ur, Uruk e

Lagash. Os semitas denominaram a região superior do tigre como Acádia , fundaram

as cidades de: Agagê, Sipar e Babilônia. Como cada povo dominou distintas regiões

da Mesopotâmia, então ficou dividido ao norte pelos acádios e ao sul pelos

sumérios. Cardoso (1986) traz uma estimativa de 30.000km2 de extensão territorial

da Mesopotâmia e uma população de 200.000 habitantes em toda a Mesopotâmia,

com dados aproximados para as cidades da suméria, que tinham cerca de 10.000 a

50.000 habitantes, Ur com 10.000 habitantes e as demais ultrapassavam este

número.

É importante trazer aspectos sociais e políticos da Mesopotâmia no período

anterior aos impérios babilônicos, pois a região era alvo de constantes invasões e

em duas dessas, deram-se o início desses impérios e muito do que eles

encontraram de infra-estrutura, leis, religião, economia foi conservado.

Rezende Filho (2007) mostra os diversos aspectos da vida na Mesopotâmia

entre 4000 a 3400 a.E.C.: o trabalho era compulsório e havia a apropriação de

parcelas da produção como imposto, utilização da escravidão por dívidas, o trabalho

obrigatório e sem remuneração em torno do palácio real, excetuado por homens

livres que entregavam anualmente parte da produção, ocasionando o surgimento da

monetarização nesta sociedade. Em 4000 a.E.C utilizou-se o conceito de moeda: a

principio a cevada e depois o uso do ouro e em prata, em 3400 a.E.C. houve o

surgimento dos bancos no templo vermelho em Uruk.

O processo de inserção da matemática financeira nesta sociedade deu-se a

partir da criação do banco, pois neste, eles juntavam os donativos, oferendas e seus

recursos próprios e realizavam empréstimos a juros para agricultores e

comerciantes.

3 “Grupo étnico e lingüístico que compreende os hebreus, fenícios, assírios, aramaicos e árabes,”,

(HOUAISS, 2003 p.476)

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Ainda segundo Burns (1968), o período anterior ao Primeiro Império

Babilônico foi marcado por muitas revoltas e dominação de soberanos, os quais

perdiam o poderio, devido à invasão da região por outros povos. Um desses povos

foi os amoritas, povo também semita vindos do deserto da Arábia,que invadiram o

norte incorporando à sua cultura e vida, a arquitetura, cultura, economia e sistemas

já existentes no povo semita que ali havia se estabelecido antes da sua chegada, os

amoritas fundaram a capital imperial babilônica e segundo Giordani (1992) criaram

uma dinastia em que vários reis assumiram o poder. Inserido nesta dinastia está o

imperador Hammurápi(1792-1750 a.E.C.),o 6º e mais notável imperador do Primeiro

Império Babilônico.. Este criou um código de leis e dominou do norte desta região à

Assíria, até 1750 a.E.C, cerca de 40 anos, realizando obras políticas e sociais até

hoje pesquisadas. Seu império abrangia também os povos do mar do Elam até a

Síria e litoral do mediterrâneo. Quando Hamurábi (1792-1750 a.E.C.)4 assumiu o

império, existiam vários povos de raça, costume e língua diferentes e a solução para

efetivar a dominação, foi unificar a língua, o direito e a religião. A língua oficial era o

acádio, o direito foi regido pelo código de Hamurábi, o qual englobou as leis do

direito sumério e algumas tradições semitas e quanto à religião o deus oficial passou

a ser Marduk.

Muitos autores defendem a ideia de que Hamurábi unificou o império de

modo integral sem detalhar a dinâmica interna para tal façanha, porém, Bouzon

(1986), mostra através de estudos de cartas escritas pelo imperador Hamurábi, que

este usava bastante da política de pactos e alianças com reis contemporâneos.

Dentre eles Rinsim (1822-1763 a.E.C.) em Larsa, Samsi-Adad I(1815-1782 a.E.C.)

imperador Assírio, e o imperador Zimrilim (1782-1759 a.E.C.) em Mari. Estes

imperadores citados eram rivais entre si e isto fez parte da estratégia de Hamurábi

pois, o mesmo, fazia aliança com um imperador para destruir outro, e aí entraram

cidades como Larsa e uma parte do império Assírio, até sobrar apenas Zimrilim

imperador de Mari. A nova estratégia para dominar esta cidade foi desprezar a

aliança existente entre eles, causando desconfiança no imperador Mariano, ate que

4 Outra variação de período: (1729-1686 a.E.C.), GONÇALVES, Miguel Viagem histórica pelo vetusto

mundo da contabilidade, Revista pensar contábil, v.12, n. 47 p. 37

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Hamurábi organizou seu exército,sitiou e destruiu os muros de Mari, tornando-a

parte do seu império.

Neste momento, surge uma questão importante: no meio de tantas cidades

mesopotâmicas e que foram englobadas com a dominação do primeiro império, por

que justamente a Babilônia foi escolhida para ser a capital do império? A explicação

gira em torno do comércio existente nesta cidade. Grimberg (1940) enfatiza que

Babilônia era a cidade de maior importância comercial de toda a mesopotâmia e

explica que esta cidade era o local em que as caravanas entre a índia e os portos do

mediterrâneo se encontravam, e nestas ocorriam trocas de produtos do oriente e do

ocidente. Cardoso (1986) indica que estas caravanas utilizavam a rota norte-oeste

tendo o asno como animal de transporte que conduzia os produtos para serem

comercializados na Ásia Menor, hoje, conhecida como Península de Anatólia,

situada entre o mar Negro e o Mediterrâneo, correspondendo ao território da

Turquia, Armênia e Curdistão.

Mas, Cardoso (1986), também indica outros tipos de comércio existente, no

período anterior ao primeiro império, na Mesopotâmia, e que também foram

incorporados ao império babilônico. Atividades comerciais como: importação através

da navegação nos rios e canais irrigação e o Comércio de longo curso5, que traziam

para a Mesopotâmia produtos como o Sílex, e asfalto. Interessante é notar que com

esses comércios existiam pessoas responsáveis por tais transações, e estes eram

funcionários do palácio ou do templo. Cardoso (1986) caracteriza-os como chefe dos

agentes comerciais, pois pelos escritos de cartas e contratos encontrados nas

escavações, estes agentes trocavam os excedentes (agrícola e têxtil) do palácio, por

madeira e metais como cobre, estanho, pedras duras, ouro, prata. Lápis-lazúli e

tecidos. Estes agentes comerciais não atuavam apenas nas caravanas e no

comércio de longo curso, mas também no comércio marítimo e comercializavam

com cidades que hoje são conhecidas como Bahrein, Arábia e India. Com o

crescimento desses comércios, e da troca de metais valiosos, surgiram duas coisas

importantes: os empréstimos de metais, que até o momento era de sementes e

5 É a navegação entre portos de diferentes países. LACERDA, Sander Magalhães, Revista do

BNDES, Vol 11, p.209

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cevada, o uso de lingote de metais nas importações e o setor privado que também

por causa do acúmulo de riquezas, comercializava terras e emprestava a juros.

Neste contexto, não podemos deixar de falar a respeito das principais

atividades econômicas, dos principais produtos e dos profissionais já existentes na

sociedade babilônica. Cardoso(1986), Burns (1968), Rezende Filho(2007) citam que

a agricultura intensiva era a base da economia, sendo cultivados a cevada, o trigo, o

gergelim, legumes, raízes, frutas, algumas árvores para extração de madeira e a

tamareira.Os rebanhos: ovinos, caprinos, suínos, bovinos, muares, asnos, cavalos,

ovelhas também eram atividades econômicas e dentre outros produtos: linho,

algodão, confecção de barcos de junco, confecção de anzóis, redes, confecção de

cestos, cordas, cabos, fabricação de tijolos, cerâmica vasilhas e tábuas em argila,

uso da pedra, madeira, vidro, metal e couro.Os profissionais: Escultores, ourives,

cortadores de pedras, carpinteiros, forjadores, curtidores, alfaiates, calafates. Os

templos aproveitavam bastante estes profissionais, montando oficinas. No capítulo 2,

estará detalhada a estrutura administrativa-politica-economica dos templos.

Em meio a um comércio em expansão, e diante de uma cidade-estado, por

sua organização, Hamurábi(1792-1750 a.E.C), viu-se diante do desafio de

comandar, toda a vida babilônica, para tanto Hammurápi criou um código de leis

com a finalidade de ordenar e a sociedade e garantir a propriedade privada, no

código constam duzentas e oitenta e duas cláusulas. Baseado no princípio “olho por

olho, dente por dente”, chamado principio de Talião, o código envolvia comércio,

família, adultério, escravidão, assassinato, magia, ladrões, receptores, falso

testemunho, roubo, furto, arrombamentos, deveres dos soldados, casamento,

escravidão, juros estipulados entre 20% e 33,3% regulamentando o depósito

bancário, família, poder de pais sobre filhos, salários de operários, preço de aluguel

de animais e utensílios, indenizações aos acidentados no trabalho, contratos

comerciais de associação e de comissão de sociedade e a fixação de preço máximo

aos produtos de primeira necessidade .

No que se refere ao domínio econômico, o código consagra alguma

intervenção na atividade privada, por meio de delimitação de salários e preços.

Page 21: A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

11

Como afirma Pinto (2006). Revelando que o palácio interferia no setor privado, o que

torna-o alvo de análise neste estudo.

O código de Hamurábi foi encontrado nas escavações feitas em Susa

(antiga cidade Persa) em 1901, pois a Pérsia havia invadido a Babilônia e levou

muito despojo de guerra, incluindo o código .

Como tratava do comércio e existia o fato de que se cobravam juros nos

empréstimos, o código de Hammurápi estipulava a taxa de juros, o que causou uma

evolução nas funções bancárias da época. O banco passou a realizar pagamentos

de juros sobre depósitos, débitos em contas, e transferência de fundos, eventos que

tornaram a Mesopotâmia a primeira civilização a de fato, aplicar a matemática

financeira em suas transações comerciais. Ressalto aqui que este não foi o único

código utilizado na época, mas este é o que foi analisado neste trabalho. O código

refere-se a três classes sociais, as quais possuíam atribuições e penas de acordo

com o nível de importância na sociedade, menciona referencias sobre trabalho e

salário mínimo, categorias profissionais e leis de trabalho. Nesta pesquisa o que de

fato interessa constante no código, é aquele que se relacione direta ou indiretamente

com a matemática financeira.

No código são citadas evidências da matemática financeira influenciando a

economia palaciana no governo de Hammurábi. Na cláusula 8º que foi citada neste

capítulo e comentada no próximo, está escrito:

Se alguém rouba um boi ou uma ovelha ou um asno ou um porco ou um

barco, se a coisa pertence ao Deus ou a corte, ele deverá dar trinta vezes

tanto, se pertence a um liberto, deverá dar dez vezes tanto. Se o ladrão não

tem nada para dar deverá ser morto. (Cultura Brasileira, p.3)

. Quando é mencionado que deveria dar trinta vezes o tanto que foi roubado,

existe a noção de juros, o qual está sendo usado como penalidade para a pessoa

que roubasse qualquer um dos itens citados, ou afins e ainda existem outras

cláusulas diretamente relacionadas aos juros, tais como 48º a 51º, 61º e 62º, 100º,

106º, 107º, 112º, 114º, 122º, 241º a 277º, com poucas exceções. Kerstein (2010),

cita E. Bergman em sua divisão dos artigos ou cláusulas do código de Hamurábi, o

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12

qual divide-o em sete: 1-Leis contra delitos durante um processo civil (§1-5), 2-leis

regulamentando direito patrimonial (§6-126), 3-leis regulamentares do direito de

família e herança(§127-195), 4-punição de lesões corporais (§196-214), 5-leis

regulamentando direitos e obrigações das classes (§215-240), 6- leis para regular

preços e salários (§241-277), 7-leis para a posse de escravos(§278-282). E compara

a divisão de E. Bergman, com a de Hugo Winker, que divide as cláusulas em

quatorze partes que são: 1- encantamentos, juízos de Deus, mentiras ou falso

testemunho, prevaricação (§1-5), 2-furto, reivindicação de imóveis (§6-25), 3-direitos

e deveres de funcionários do palácio (§26-41), 4- aluguéis, e doações em

pagamento (§42-65), 5-regulamentação de relações entre os comerciantes e

comissários (§100-107), 6-regulamentação para tabernas (§108-111), 7-contratos de

transporte, processos de execução e escravidão por dividas (§112-119), 8-

regulamenta contratos de depósitos (§120-126), 9-injúria, difamação(§127), 10-

família(§128-184), 11-processos de adoção(§185-195), 12-crimes, penas,

indenizações(§169-214), 13-leis para classes superiores(§215-240), 14-sequestro,

aluguel de animais, trabalho de camponeses, pastores e operários (§241-282).

O código de Hamurábi contém cláusulas bastante específicas sobre salários

e preços das mercadorias, abrangendo o aspecto econômico da civilização

babilônica, assim como leis regulamentando multas com valores diferenciados para

diferentes classes sociais.

A cláusula 24º: “Se eram pessoas, a aldeia e o governador deverão pagar

uma mina aos parentes” (Cultura Brasileira, p.5). é uma cláusula interessante, pois

revela que a matemática financeira já auxiliava o surgimento da previdência social,

pois nela o estado assume compromissos parecidos com o que hoje conhecemos

como previdência social, por fornecer às famílias de falecidos uma ajuda financeira.

A estrutura e estética do código de Hammurápi segundo Bouzon (1993), é

“um monumento de diorito6 negro com 2,25m de altura esculpida em baixo relevo na

parte superior”. Bouzon (1993) informa que esta estela foi encontrada pela missão

francesa e transportada para o museu de Louvre em Paris, sendo o epigrafista da

6 Rocha magmática plutônica. Miguel Torga, p.2

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missão, Vicente Scheil, o qual decifrou a escrita e traduziu da língua acádica para o

francês, dividindo-a nessas 282 cláusulas e pelas demais identificações feitas nesta

estela à mesma é datada do período Paleobabilônico. Relacionado ao aspecto

formal o código divide-se em prólogo, corpo de leis e epílogo. Bouzon (1993)

ressalta que a forma como os escribas de Hammurápi escreveram, dispensa a

análise dos juízes existentes no período para proferir sentenças.

Burns (1968) e Giordani (1992) falam também que após a passagem do

período deste império, houve uma grande expansão territorial sob o comando de

vários imperadores notáveis, como: Sargão II (772-705 a.E.C.), Senaqueribe (705-

681 a.E.C.) Assurbanipal (668-626 a.E.C.), os quais conquistaram vários territórios e

falam da presença de povos notáveis como os cassitas e hititas. Neste período

surgiram os caldeus, semitas que se estabeleceram no sudeste da região e através

deles, um novo império surgiu com o antigo governador dos imperadores citados,

Nabopalassar, que organizou uma revolta e tomou o poder. A partir deste império,

veio a sucessão do seu filho, Nabucodonosor II(605-565 a.E.C.), também importante

imperador desta região, imperador do Segundo império Babilônico (626-539 a.E.C.).

Nabucodonosor começou a imperar em 605 a.E.C.e assim como Hamurábi,

realizou feitos importantes, os quais são descobertos e pesquisados até os dias

atuais, obras como: construções de templos e jardins, construção da torre de babel e

além disso era um homem corajoso, pois era bastante guerreiro, construiu um

suntuoso palácio, casas e muralhas.

O segundo império babilônico era uma dinastia7, na qual dominaram seis

soberanos, sendo Nabucodonosor o quinto deles e também o mais notado depois de

Nabopalassar (632-605 a.E.C.), que governou a parte ocidental da mesopotâmia:

Síria, Palestina e Egito, enquanto o outro imperava sobre todo o ocidente asiático de

Susa ao mediterrâneo, do alto Tigre até as margens do Golfo Pérsico até o Egito.

Este império foi de grande crescimento para a Babilônia, pois todos os recursos

eram ilimitados. A mão-de-obra dividia-se em qualificada e não-qualificada. Escritos

7 Sucessão de soberanos de uma mesma família Antonio Houaiss, mini-dicionário, 2003 p.172

Page 24: A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

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encontrados revelam que Nabucodonosor II (605-565 a.E.C.), considerava os

cidadãos babilônicos como acumuladores de riquezas.

Neste período, a Babilônia era considerada a metrópole da antiguidade,

ocupando a mesma um perímetro urbano de 86 km2. Heródoto em suas pesquisas,

estimou que as muralhas possuíam cerca de 100m de altura e 25m de largura, além

disso descobriu que ao redor da cidade existia um fosso cheio de água e as

muralhas possuíam portas de bronze.

Nas classes sociais, existia a figura do imperador, considerado vigário de

Deus, tendo responsabilidades religiosas, militares e administrativas. Em seguida

vinham a corte e os funcionários reais ou do estado: cortesãos, governadores,

prefeitos, administradores dos bens reais, sacerdotes, conjuradores, lamentadores,

cantores, artesãos, lavradores, adivinhos e eunucos.

Os templos não eram apenas construções notórias neste período, mas

continuavam realizando seu papel político-econômico-administrativo, sobretudo na

economia. Um dos templos descoberto é o de Enna na cidade de Uruk, que possuía

20.650 hectares de terra. Continuavam detendo as terras as quais em sua maioria

eram arrendadas a pequenos parceiros, que entregavam uma parte de tudo o que

colhiam aos templos ou a arrendatários. Estes por sua vez exploravam as terras

utilizando trabalhadores chamados sabé, sendo estes alugados em grupo, pois

devido ao crescimento da mesopotâmia, os trabalhadores se uniam e ofereciam

seus serviços em troca de pagamento. Nesses templos, também existiam muralhas

com portas de bronze.

Cardoso (1986) traz a informação de que as terras dos templos ainda eram

administradas pelos lavradores dependentes e em troca do seu trabalho recebiam:

alimentos, vestiário e prata. Mas não só os lavradores manuseavam essas terras,

pois uma parte delas eram repassadas a dignitários do templo, como pagamento por

dias de serviço, podendo estes até negociar tais terras.

A dominação dos templos se estendia também pra as oficinas artesanais e

comércio exterior, conservando o modelo iniciado no primeiro império, e neste

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15

comércio, também foi conservada a presença do agente comercial ou tamkarum,

que negociava bastante com as cidades de Tiro e Sidom

Grimberg (1940) detalha informações sobre os escritos encontrados

relacionados a esse período: “ Nas ruínas da Babilônia propriamente dita só aparece

uma grande quantidade de uma única espécie de documentos: acordos comerciais e

cartas de negócios sobre placas de argila”. (GRIMBERG, 1940, p.194). Os demais

escritos foram encontrados em Susa, cidade Persa. Estes revelam o detalhamento

das atividades econômicas, vida em sociedade, relações entre famílias. Estes textos

mostram que a agricultura continuava a ser base da economia, com um aumento da

criação de gado. A agricultura era sobresaliente pelo comércio. O ouro e a prata já

regulavam as operações comerciais, sendo repassados por peso e em seguida, a

variação de peso para unidade monetária. A prova da existência do ouro está nos

estudos de Heródoto sobre eles, podendo o mesmo afirmar que a quantidade de

ouro empregada na construção dos templos era cerca de 23 toneladas.

Os registros de compra, aluguel de casas ou fazendas, eram feitos através

de contratos assinados pelas partes contratantes e testemunhas. Muitos destes

documentos encontrados referem-se ao comércio da firma Egibi e filhos8, os quais

são comparados por Grimberg (1940) aos atuais Rothschilds9. Dominavam parte da

vida econômica da Babilônia e pertenciam ao setor privado.

As transações não eram limitadas ao comércio, mas até em meio às

relações sociais e de família, os babilônios faziam negócios. Oliveira (2008) fala que

o casamento era feito em local público, reunindo todas as moças para que fossem

vendidas. As mais belas vendia-se por um preço maior, o que era arrecadado

utilizava-se como dote para os homens que se casassem com as consideradas

menos bonitas. Caso o casamento fracassasse, havia a separação em lei e o

dinheiro era devolvido.

8 Poderosos donos de terra e emprestadores de dinheiro do setor privado babilônico. Niall Ferguson,

A ascenção do dinheiro: A história financeira do mundo,2009, p.34 9 Banqueiros internacionais, renomada dinastia européia. Daniel Nunes Gonçalves, 1997

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16

Dos expostos acima, percebe-se que o período neobabilônico foi de muito

progresso, sobretudo na economia e nas riquezas tanto dos templos quanto do setor

privado, podendo-se até ser comparado com grandes nomes da economia mundial,

os já citados Rotschilds, o que serve para reforçar ainda mais a idéia que foi

proposta neste trabalho.

E em si tratando dos dois impérios, percebeu-se sociedades bastante

organizadas, apesar do dito popular, que diz que babilônia signifique confusão, mas

difícil compreender o porque desta analogia sem sentido, já que, considerando-se o

período em questão e a forma de organização, Babilônia foi o centro econômico

mundial, não por questões religiosas, mas pela forma como seus líderes

organizaram e administraram a sociedade.

Page 27: A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

17

II - O papel e as influências da matemática financeira na economia palaciana

nos períodos (1792-1750 a. c.) e (605-565 a.c.): investigação nos modelos

fundiário e comercial.

Sobre a economia da região, Burns (1968), afirma, baseado nos documentos

encontrados relativos a esse período, que já se percebiam negócios privados de

forma considerável, havia as terras pertencentes ao rei, como também a produção,

porém existia o setor privado relacionado a economia familiar babilônica e

neobabilônica, como mostra Ramos dos Santos(1998), da Universidade de Lisboa,

em sua dissertação de doutoramento em história intitulada: O sector privado na

economia da Babilônia recente (626-539 a.E.C.): O modelo fundiário e o modelo

comercial. O autor fala da existência de família de empresários no período

neobabilônico, fala sobre a existência de fontes documentais já encontradas e

traduzidas a respeito da economia das famílias neobabilônicas, diz que geralmente

estes documentos são listas de pessoas que receberam o pagamento pelos seus

serviços em alimento, ou em dinheiro, que no período a moeda era a prata ou

ambos. Esta Abordagem divisória da economia babilônica foi aqui analisada, por

serem as mais notáveis neste período e porque os dois modelos apresentam

diferenças cruciais, na aplicação da matemática financeira.

A existência de empresários envolvidos com a economia familiar e no setor

privado, abrange situações de compra, venda e aluguel de terrenos, que era o bem

principal do período, mas não só este. Existiam também atividades de transporte,

empréstimos em prata como adiantamento de pagamentos de serviços, ou até

mesmo, pagamento antecipado por produtos agrícolas antes da colheita. Santos

(1998) defende que o setor privado era totalmente independente da interferência do

palácio em suas negociações. Mas segundo Rede (2006), até o setor privado sofria

interferência da economia palaciana, pois devido a um crescimento elevado da

economia doméstica, a qual originou o setor privado, gerou tensões nas relações

econômicas resultando que os soberanos interferissem através de decretos no

âmbito familiar e também no setor privado. Santos (2008) apresentou uma única

interferência palaciana a de que os negociantes da época utilizavam medidas de

Page 28: A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

18

estalão, que eram normalmente utilizadas no palácio, para realizar pagamentos, o

que faz pensar que o setor privado era autônomo, porém dependente dos decretos

reais ou com mínimas influências deste.

Relacionado a isso, Bouzon (1992), fala que o setor privado entra também

no sistema de empréstimos do período em questão, pois devido à divisão das terras

para os membros das famílias através dos testamentos, a terra se tornava muito

subdividida com pequena área, podendo ser pouco aproveitada, o que ocasionava

os empréstimos que esses pequenos produtores tomavam dos templos, as

sementes ou prata que seriam pagas após um ano, quando do período de colheita, e

esses empréstimos poderiam ter o acréscimo de 20% sobre a prata e 33,3% sobre

as sementes. Como os juros eram exorbitantes, os produtores não conseguiam

saldá-las e se tornavam escravos do palácio ou então tomavam outros empréstimos,

só que agora, utilizavam o setor privado para saldar as dividas com o palácio,

porém, permanecendo devedores para com os novos credores.

Santos (2004), menciona a existência de textos que fazem referência a

transações comerciais, através da comercialização do excedente dos palácios

através dos tamkârum, ou seja, o mercador na língua acadiana. A respeito desta

informação, Rede (1996), também menciona algo parecido em seu artigo, inclusive

diz que o palácio distribuía seus recursos ou produtos em troca de pagamento de

tributos, o palácio também concedia seus produtos aos mercadores, que os

comercializavam entregando uma parte da renda ao palácio, e o mesmo cobrava

taxas aos agricultores, pastores ou qualquer outra categoria social do período que

precisasse de empréstimos.

Sobre o período neobabilônico, Santos (2004), menciona a existência dos

descendentes de Egibi, diz que os arquivos existentes sobre eles revelam operações

como: venda, troca, aluguel de casas, terrenos, campos os quais eram o principal

bem do período. Esta família fazia empréstimos à taxa de juros de 20% sob

garantias reais. Mas em si tratando do sub-tema deste capítulo foram analisados,

todas estas atividades econômicas citadas, porém direcionadas para os dois

modelos relevantes existentes no período: o fundiário e o comercial, nos quais os

estudos foram desenvolvidos nesta ordem.

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19

Em si tratando do modelo fundiário Rede (2006), traz uma indicação

relacionada ao surgimento do setor privado, sendo esta a transmissão de imóveis

fundiários familiares, pois eram transmitidos apenas entre familiares ou no máximo

pela vizinhança, sendo os tamkârum os agentes iniciadores, pois através deles

ocorriam as principais circulações dos imóveis. Esta circulação dava-se através dos

contratos, os quais garantiam a legitimidade da operação e inclusive os compradores

tinham o direito aos títulos das propriedades.

Mas nisto tudo, onde entra a economia palaciana? Ora tão somente do fato

de que a dominação inicial sobre as terras partia dos templos e palácios, além disto,

os tamkârum eram funcionários da administração palaciana, recebendo lotes de

terra como pagamento. Este método era chamado de sistema Ilkum10, este sistema

proporcionava acumulação de lotes e o poder de usá-los como lhes convinha,

inclusive negociá-los entre os familiares. Mas Rede (2006), deixa claro que a

consciência do negócio nestas vendas ainda diferia da ideia capitalista de lucro, pois

a consciência era voltada para o crescimento das propriedades familiares.

O início do setor privado deu-se em Larsa por volta dos séculos XIX e XVIII

a. C., no período anterior a anexação desta cidade ao império de Hamurábi (1792-

1750 a.E.C.), mas, este modelo foi se desenvolvendo na mesopotâmia, atingindo

outras cidades como a Babilônia, inclusive as cartas de Hamurábi, traduzidas por

Emanuel Bouzon, já revelavam que as terras palacianas eram entregues como

pagamento aos servidores, mostrando que o costume perpetuou-se até o reinado

deste imperador e Santos ( 2005), também nos mostra que inclusive no reinado de

Nabucodonosor II, este modelo ainda existia na Babilônia.Durante as pesquisas para

este estudo percebeu-se a evolução da comercialização das terras para outras

mercadorias, no segundo império, e não só isso, viu-se que os meios de

comercialização de produtos eram as caravanas e o comércio de longo curso.

Mas, voltando a falar sobre o sistema Ilkum, Rede (2007), afirma que este

método foi intensificado no reinado de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.). Tais

10

trabalho feito em terra realizada de uma autoridade, de serviços prestados em uma autoridade superior, em troca de terrenos detidos, Ignace J. Gelb The Assyriam Dictionary, p 73 (Tradução:Michaelis Moderno dicionário:inglês-português/português-inglês,2007 )

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propriedades poderiam ser transmitidas como herança, só que era controlado pelo

palácio, dependendo da continuidade do filho deste funcionário na administração

palaciana.

Quando Larsa foi anexada ao império de Hamurábi (1792-1750 a.E.C.), o

palácio se apoderou das terras cultiváveis desta cidade. Mas o que as terras

palacianas tem a ver com a matemática financeira e seu papel na babilônia?

Simplesmente o fato de que o excedente do palácio era retirado destas terras e com

este excedente que se faziam os empréstimos na Babilônia de Hammurábi(1792-

1750 a.E.C.).

Bouzon (1986), comenta e explica uma carta de Hammurábi escrita a

Samas-hazir11, nela fala-se da cevada produzida em um campo, uma parte dela

servia como tributo para o palácio: já vimos que tais tributos serviam depois para

realização de empréstimos para os camponeses, estes já realizados com taxas de

juros anuais:

A Samas-hazir diz: assim (falou) Hamurábi: Os “Sapir-mãtina”12

de Emutbal

13 ainda não recolheu a babel a cevada da sua “biltum”

14. Compele-

os “Sapir mãtim” e controlá-os! Eles devem recolher a babel o mais rápido possível, a cevada de sua “biltum”. (Se) eles não recolherem [ a Babel a cevada de sua “biltum”] a sua punição será colocada sobre ti. (BOUZON, 1986a)

Bouzon (1986), traz uma breve explicação sobre esta carta, dizendo que o

rei a escreveu aos seus funcionários. Este tablete de argila está inventariado sob a

numeração NBC 5300 na Nies Babylonian Collection da Yale University. Claramente

percebe-se que Hammurábi está reclamando de um funcionário morador de Larsa,

da inadimplência de impostos por parte de “Sapir mâtim” em Emutbal, estes eram

encarregados da administração. Bouzon (1986), deixa bem claro que o termo

“biltum” significa o aluguel ou parte da produção que é devida ao palácio ou até

mesmo a um proprietário do campo. Explica também que este campo, pertence ao

palácio e que foi entregue a funcionários, tendo o palácio direito a uma parte da

11

“encarregado da administração palaciana” (BOUZON, 1986, p.17,grifo nosso) 12

Era um dos encarregados da administração sobre uma região,Emanuel Bouzon, 1986, p.210. 13

Uma região administrativa da Babilônia, BOUZON, 1986, p.210 14

Parte do imposto sobre terras “devidas ao palácio” (BOUZON, 1986, p.210)

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produção. Tais funcionários deveriam recolher e enviar o imposto ao palácio, que no

caso deste campo, estava atrasado. Este atraso refletia no desenvolvimento das

atividades prestamistas do templo. E, tanto no primeiro, quanto no segundo

impérios, o excedente do palácio era utilizado para realização de empréstimos in-

natura. Além disto, vimos no capítulo anterior que o setor privado também nasceu a

partir da existência dos funcionários do palácio, responsáveis pelo comércio, que

acumulavam riquezas e com isso, passaram a realizar empréstimos particulares.

Mas voltando a falar nas terras, Rede ( 2007), identifica três tipos:

Sistema ilkum: terras concedidas aos servidores como pagamento, porém o

palácio não cobrava impostos e exatamente por isso, proporcionou o

surgimento do setor privado na babilônia;

Sistema biltum: as terras estavam sob o controle produtivo do palácio, que

recolhia uma parte da produção e incorporava-a ao excedente palaciano,

podendo ser utilizado como empréstimo;

Reserva que poderia ser incorporada a qualquer dos dois casos citados.

Destas terras, muitas foram definitivamente negociadas. Bouzon (1991),

informa que as propriedades eram vendidas e tinham um valor em prata, variando

entre 2 a 6 siclos15 por cada IKU16 e mais algumas outras propriedades com valor de

7 a 10 siclos de prata por IKU, sendo que 1 IKU correspondia a 330l de cevada, que

custava 1 siclo de prata. Em outras cidades mesopotâmicas o preço médio era de 3

siclos /IKU. Tais valores foram analisados e estão dispostos na tabela abaixo:

Valores correspondentes entre siclos de prata e grama, (dólar ou real) atuais

2 a 6 siclos de prata 22,8g a 68,4g de prata 1,2 U$$ a 3,60 U$$ correspondente a R$2,268 a R$6,804

7 a 10 siclos de prata 79,8g a 114g de prata 4,20 U$$ a 6 U$$ correspondente a R$ 7,938 a R$11,34

15

Corresponde a 11,4 g de prata: http://www.senhorbomjesus.org.br/pdf/pesos_e_medidas_na_biblia.pdf. “Peso empregado para avaliar o valor dos metais” (DAVIS, 1996, P.557) 60 cents de 1 dolar, Jon D. Davis, Dicionário da Bíblia, p. 557 16

Pedaço de terra cercada por um dique. Ignace J. Gelb The Assyriam Dictionary, p.66 (tradução: Tradução:Michaelis Moderno dicionário:inglês-português/português-inglês,2007)

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Também existiam casos em que o habitante teria que pagar uma mina17 de

prata como foi escrito na cláusula 241º do código de Hamurábi: ”Se alguém

seqüestra e faz trabalhar um boi, deverá pagar um terço da mina” (Cultura Brasileira,

p.27). Analisando este caso quando o animal era sequestrado e explorado, o

sequestrador deveria pagar 684g de prata, ou em dólares 36,00 U$$ que

corresponde a R$68,04.

Hamurábi legalizou as transações de compra e venda dos campos, através

do código. A cláusula 39º redige que: “o campo, o horto e a casa que eles

compraram e possuem (como propriedade) podem ser obrigados por escrito e dadas

em pagamento de obrigação à própria mulher e filha.” (GARCIA, 2009,p.9). E a 37º

também revela que os oficiais do palácio recebiam campos como pagamento pelos

seus serviços: “Se alguém compra o campo, o horto e a casa de um oficial, de um

gregário, de um vassalo, a sua tábua de contrato de venda é quebrada e ele perde o

seu dinheiro, o campo, o horto e a casa voltam ao dono.” (Cultura Brasileira, p.6).

Demonstrando assim, a existência do sistema Ilkum citado acima.

Mas falemos um pouco sobre esta estrutura administrativa, política e

econômica que eram os templos e palácios babilônicos. Santos (2004), deixa claro

que o templo e o palácio coexistiam, tinham princípios idênticos na aplicação da

administração econômica e além disso, o palácio era o local de trabalho da nobreza

dos templos, ou seja, de parte dos administradores do templo. Seus funcionários

recolhiam e distribuíam as mercadorias, mas maior parte dos serviços de comércio

era realizada pelo tamkãrum. No entanto Rede (2006), afirma que no período

anterior ao primeiro império babilônico, não existia uma diferenciação entre templos

e palácios, porém com a centralização realizada por Hammurábi, ocorreu também

uma organização do estado, incluindo as funções dos templos e dos palácios,

subentendendo que houve uma separação e independência das atividades

realizadas por ambos. Porém, fica aqui registrado que o termo palaciano ao qual foi

proposto no tema, não se restringiu às atividades palacianas apenas, mas também,

17

1 mina corresponde a 60 siclos de prata, ou seja 684g de prata. Miguel Depes Tallon, A taxa de juros nas leis de Eshnunna, p.1

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23

as atividades dos templos, já que continuou existindo relação e dominação do

templo sobre o palácio.

Foi através da administração dos templos que os registros contábeis eram

realizados, mais precisamente pelos sacerdotes. Devido a isso, Santos (2004)

classifica esta economia como: “complexa” e estatizada”. Comparada aos povos

contemporâneos, como o Egito. Afirma que maioria dos funcionários do templo eram

eleitos em assembléia popular, pelos administradores palacianos e templários.Todas

as transações de venda eram acompanhadas por esses administradores e o rei e

seus subordinados também interferiam nos assuntos da economia babilônica.

Antes de tratar sobre os tributos, deixo claro, que o termo paleobabilônico,

corresponde ao período do primeiro império e o termo neobabilônico refere-se ao

período do segundo império.

Santos (2004) justifica que no período paleobabilônico, os tributos recolhidos

eram devidos aos deuses. Já que as terras pertenciam aos templos, enquanto que

no período neobabilônico, as terras eram em sua maior parte, propriedade das

famílias ou do setor privado e o rei só interferia na vida econômica destes, através

de decretos. As terras destas famílias eram hipotecadas, doadas, alugadas ou

trocadas e nestas transações, já existiam moedas de troca, as quais poderiam ser:

cevada, tâmaras, prata, sésamos, lã, tecidos, gado, aves, peixes, metais e

manufaturados. Os tributos arrecadados eram de 1/10 de toda a produção, valendo

esta lei para os dois impérios, inclusive Santos (2004), ressalta que no segundo

império, até os reis e familiares dizimavam anualmente ouro, prata e produtos

naturais, resultando que a interferência do rei fosse mínima neste período.

O templo e o palácio exerciam outras funções importantes, pagando

resgates, emprestando aos necessitados: “O templo deveria pagar o resgate dos

cidadãos que fossem capturados pelo inimigo. O templo provia ainda empréstimos

aos necessitados.” (SANTOS, 2004, p.189). Todo esse sistema palaciano possuía

um objetivo e era este que concedia à matemática financeira da época um papel

crucial. O objetivo destas atividades era o acúmulo de riquezas, e não só estes, mas

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também na economia doméstica e privada. Delineando um dos papéis da

matemática financeira do período.

Falou-se tanto em organização dos templos então, considerei pertinente

tratar um pouco sobre as funções ali existentes. Santos (2005), lista cargos e

funções existentes na administração dos templos, deixando claro o acúmulo de

funções administrativas com religiosas. O quadro abaixo, é baseado na listagem

feita por Santos (2005), porém ressaltando apenas os nomes dos funcionários que

estavam direta ou indiretamente ligados à economia:

CASTA SACERDOTAL ADMINISTRAÇÃO ATIVIDADES

Urigallu:sumo sacerdote

Sanga Makh: portador de oferendas

Sacerdotes submissos aos

sumo-sacerdote,

Suma sacerdotisa:

Entu e Sacerdotisas

Agente comercial: Tâmkarum

Administradores:Sanga e

Ugula-é

Coletor de impostos no ano novo:

Zabar-dabbûm

Cozinheiro

Porteiro

Limpador de

pátio

copeiro

Destes funcionários, alguns chamam atenção por serem relacionados á vida

econômica na Babilônia. O sumo sacerdote ou também intendente geral tinha entre

ouras atribuições, a de administrar os bens. Já os administradores, entre outras

atividades, recolhiam os impostos. Os escribas anotavam os documentos oficiais,

inclusive as cartas e a contabilidade. Os tâmkarum intermediavam o comércio entre

o templo, palácio e as regiões vizinhas. O código de Hammurabi traz cláusulas

regulamentando a relação comerciantes (tâmkarum) e comissionários, inclusive os

subordinados a estes tâmkarum, como mostram as cláusulas 104º e 106º, elas

deixam bastante clara a relação comercial existente entre estes funcionário e

também como o código de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.) regulamentava tais

relações:

Se o negociante confia a um comissionário, para venda, trigo, lã, azeite ou outras mercadorias, o comissionário deverá fazer uma escritura da

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importância e reembolsar o negociante. Ele deverá então receber a quitação do dinheiro que dá ao mercador

Se o comissionário toma dinheiro ao negociante e tem questão com o seu negociante, este deverá perante Deus e os anciãos convencer o comissionário do dinheiro levado e este deverá dar três vezes o dinheiro que recebeu (O código de Hamurabi, Cultura Brasileira, p.11).

Inclusive, esta cláusula revela que o comissionário que devia ao negociante, tendo

questão com este, devia pagar o débito com juros. Se fossemos utilizar as fórmulas

do montante, prazo de pagamento, teríamos, caso se o comissionário tenha tomado

10 siclos de prata, como ele teve que devolver 30 siclos, então calculando pela

fórmula do montante teríamos juros de 20 siclos e uma taxa de 16,6% por 12 meses,

já que o prazo nos empréstimos era de 1 ano, pois se baseavam pelas colheitas.

Outra cláusula do código relativa aos tamkarum e aos juros que deviam ser

cobrados em suas transações é a 107º a seguir:

Se o negociante engana o comissionário pois que este restitui tudo o que o negociante lhe dera, mas o negociante contesta o que o comissionário lhe restitui, o comissionário diante de Deus e dos anciãos deverá convencer o negociante e este, por ter negado ao comissionário o que recebeu, deverá dar seis vezes tanto.(Cultura Brasileira, p.11)

Nesta cláusula, quem deve pagar juros é o tamkarum, mostrando que se o

mesmo agisse indevidamente, deveria pagar ao comissionário um valor

correspondente a seis vezes mais, mostrando que os juros era usado como

penalidade, para os que fossem desonestos em suas negociações. Se fôssemos

analisar uma por uma das cláusulas que regulamentaram as transações comerciais

do tâmkarum, muito seria falado, mas o foco deste capítulo são os modelos:

fundiário e comercial.

Assim como nos dias atuais, o prazo já era algo indispensável nas

transações comerciais do período. Santos (2008), afirma que os empréstimos em

alimento tinham prazos à época da colheita, enquanto que os tijolos o prazo era

relativo à altura de sua fabricação e os empréstimos em prata eram também

reembolsáveis no período da colheita, e, caso alguém precisasse de mantimentos

para viagem, o reembolso era realizado ao final desta. Os devedores deveriam

entregar o que tomaram emprestado, com juros. Quando os mesmos não eram

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cobrados, o preço pago à vista era exorbitante e os documentos destas compras à

vista, eram anotados como sem juros. Santos (2008), ainda afirma que existiam

contratos em que o comprador efetuava um pré-pagamento e explica mais, dizendo

que o comprador pagava antecipadamente a mercadoria porém, recebendo-a um

tempo depois, permitindo uma baixa nos preços, já que estas compras eram

realizadas durante o período de sementeira. Isso possibilitava segundo Santos

(2008), um cálculo dos preços diferenciais entre os períodos de sementeira e

colheita. Método que considerei mais rentável para o comprador, já que no caso

anterior, ele pagaria à vista bastante caro, ou então só restaria alternativa do

pagamento com juros, o que também não seria vantagem.

No caso dos patrimônios fundiários familiares, o palácio interferia através

dos decretos ou cartas reais, alguns deles já foram encontrados e discutidos por

Rede (2006), que afirma que tais contratos serviam para assegurar a dominação

palaciana e dos templos sobre as populações e desse modo influenciavam nos

contratos de alienação e transmissão de herança dos terrenos, nos de compra,

venda e aluguel, resolvendo problemas de disputa de terras palacianas ou não,

legitimando as solicitações dos alienadores do seu patrimônio, obrigando os

compradores a firmarem novos acordos. Este assunto teve a ver com o tema

proposto, por que apesar desta economia ser independente do palácio e templo, ela

ainda sofria interferência destes, o que possibilitou analisar alguns contratos e cartas

e perceber se o proprietário ou vendedor saíram perdendo ou ganhando após esta

interferência.

È importante analisar que nas cartas de Hammurábi, o mesmo anulava as

compras dos terrenos, enquanto que nos decretos não acontecia, pelo contrário,

ocorriam as seguintes atividades, segundo Rede (2006): 1) Devolvia-se o terreno

para o vendedor, 2) poderia substituir o terreno alienado por um outro com valor

equivalente, 3) um segundo pagamento do preço total do terreno.Tias decretos

tornaram-se influenciadores indiretos nas operações imobiliárias. Mas quanto a isso

Rede (2006), mostra um obstáculo, considerado pertinente ao tema, o

desconhecimento do processo de cálculo formativo dos preços dessas propriedades

e se os mesmos variavam com o tempo. E além disso, tudo o que foi encontrado

Page 37: A matematica financeira na economia palaciana uma abordagem histórico do i e ii impérios babilonicos

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sobre o período de Hammurábi, são cartas e o código, mas a maioria destas cartas

contém cobranças de impostos atrasado, regulação das atividades dos comerciantes

ou pagamento dos servidores.

Como está retratado a seguir na carta escrita por Hammurábi a Sin-iddinam,

nela Hammmurábi cobra o imposto atrasado em prata, sendo Sep-Sin um alto

funcionário da administração palaciana. Analisando esta carta pode-se perceber

que, no momento em que os administradores palacianos notaram que o pagamento

deste imposto estava incompleto, ocorreu uma contabilidade para que os mesmos

chegassem a esta conclusão, ficando aí implícito um dos papeis e influências da

matemática financeira.

A Sin-Iddinam diz: assim (falou) Hammurábi: o resto da prata que está com Sep-Sin, chefe dos mercadores e com os chefes de (cada) grupo de cinco, que estão sob a sua direção, que Sep-Sin e os chefes de (cada) grupo de cinco tomem e tragam a babel. (BOUZON, 1986a)

Ainda a Sin-Iddinam, Hammurábi escreveu mais uma carta, cobrando um

empréstimo em cevada para sua colheita, o qual foi cobrado com juros: “

A Sin-Iddinam diz: assim falou (falou) Hammurabi: “Ilsu-Ibbi, um mercador, chefe de um grupo de cinco, informou-me o seguinte:” Dei (como empréstimo), 30 GUR de cevada ao governador Sin-mãgir. Tenho em meu poder a sua tábua. Há três anos cobro dele continuamente, mas ele não me devolve a cevada”. Assim ele me informou. Vi a sua tábua. Que se recolha de Sin-mãgir a cevada e os juros (correspondentes). Dá-os a Ilsu-ibbi.(BOUZON, 1986b)

Analisando tal carta e sabendo que os juros de empréstimos in-natura eram

de 33,3%, podemos calcular quanto o governador deveria retornar ao palácio: a taxa

seria de 0,333, o capital seria de 30 GUR de cevada, como já haviam 3 anos se a

devolução da cevada, foi considerado o prazo de 3 anos, logo os juros seriam de

29,97 GUR e o montante, ou seja o que o governador teria que devolver seria um

total de 59,97 GUR de cevada , que corresponde a 17.991L desta. Percebeu-se o

quanto a cobrança de juros era importante para o crescimento e desenvolvimento da

economia palaciana no período de Hammurábi (1792-1750 a.E.C.). Mas, no período

do reinado de Hammurábi(1792-1750 a.E.C.), a maior parte dos arquivos

encontrados eram relacionados as propriedades fundiárias, fossem elas do palácio,

templo ou familiar. O modelo comercial do qual também trata este capítulo, foi

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predominante no segundo império babilônico, e a partir de agora, arquivos de

famílias de banqueiros e negociantes privados, que foram analisados.

O modelo comercial está inserido no setor privado babilônico. Santos (2004),

mostra que o setor privado teve surgimento no período paleobabilônico através das

pessoas de Calmunamhe em Larsa e Silli – Eshtar em Ur. O primeiro deles realizava

diversas atividades econômicas dentre elas: agiotagem, mercador de escravos,

vendedor imobiliário, locador de barcos, com maior predomínio da prata nestas

transações. E o segundo mencionado: contratante de vendas e heranças,

comercializava o excedente palaciano, indicando que este era um dos tamkarum da

época. Mas, o que pôde-se observar é que estes foram os poucos participantes do

setor privado no primeiro império babilônico, ficando o estudo deste mais voltado

para o período neobabilônico. Neste, as famílias de banqueiros e empresários

deixaram sua marca registrada na história, perpetuando-a por seus descendentes,

durante a segunda dinastia babilônica, passando pelo reinado de Nabucodonosor II

(605-565 a.E.C.)18. Estes possuíam verdadeiras firmas, com contabilidade bem

organizada. As famílias notadas, já foram citadas anteriormente, os descendentes de

Egibi, a família de Ea-Ilûta-Bâni, a família de Nur-Sin..19

Os descendentes de Egibi eram homens de negócios, realizando contratos

de sociedade. Esta família recebeu dos seus antepassados, dívidas que o pai havia

deixado, porém conseguiram saudá-las. Após isso, com a pessoa de Nabû-Ahhê-

Iddin, houve crescimento dos negócios com numerosas vendas, trocas e aluguéis de

bens, ocasionando um aumento do capital, o qual também teve a contribuição dos

empréstimos com taxas mantidas de 20% ao ano. Além disso, constituíam

sociedades.

Enquanto que a família de Ea-Ilûta-Bâni, prevalecia o modelo de economia

fundiária percebido no primeiro império babilônico, estando estes também sujeitos à

influência palaciana através dos decretos e cartas reais, como já foi mostrado.

18

Duas outras variação de período: (612-539 a.E.C.), Cronologia do mundo pré-histórico, p.2: http://www.mestremidia.com.br/ead/file.php/9/cronologia_do_mundo.pdf. Ou (626-539 a.E.C.), Ciro Flamarion S. Cardoso, p.31. 19

Uma das famílias de negociantes do setor privado, Antonio Ramos dos Santos, 2001, p.1

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29

A família Nur-Sîn, demonstrou atividades mais avançadas. Atuaram com

maior relevância por volta de 556 a.E.C..Esta financiava um dos membros da família

com transações harrânu, aquelas feitas em caravanas, financiava também

associações comerciais, comprava e revendia produtos naturais sobretudo o alho. Já

no reinado de Nabónido (556-539 a.E.C.), iniciaram os empréstimos em prata,

aumentando gradualmente o volume desta nos empréstimos, exigindo cauções e

garantias, inclusive hipotecando bens. Mas ainda assim, os devedores renovavam

créditos junto a esta família possuindo uma rede de fornecedores os quais abastecia

os produtos naturais, ocorrendo exportação e importação dos mesmos, ocasionando

um déficit, já que importava-se mais que exportava-se. Mas Santos (2004) afirma

que tal família demonstrava pleno conhecimento de investimento, risco e lucro.

Inclusive associado a esta família, ele aponta a existência de uma sociedade entre

esta família e um comerciante chamado Iddin-Marduk. Este que utilizou seus

serviços de transporte e comercialização de produtos agrícolas. Este transporte

servia para pequenos produtores, porém Santos (2004) afirma que os valores

cobrados por estes serviços eram altos e acarretava a alta dos preços dos produtos.

Um exemplo muito claro de influência da matemática financeira nesta

economia do setor privado familiar, está num documento dos Nur-Sin, comentado

por Bouzon (1992). O texto comentado e citado abaixo, está no Louvre sob o

registro TCL 10, 132:

[...] o contrato inicial de compra do imóvel em questão foi onerado por um acto do rei expresso, aqui, pela formulação a-na si-im-da-at LUGAL: em conseqüência de uma simdatum

20 do rei. O novo contrato conservado em

TCL 10,132 não anula o contrato anterior, mas exige do comprador, Iddin-Amurrum, o pagamento adicional de 6 siclos, cerca de 48g de prata ao preço já anteriormente pago a Nur-Sin.”(BOUZON, 1992, p.84)

O que percebeu-se neste comentário de Bouzon(1992) é que não só a

matemática financeira pôde ser analisada, mas também, notou-se que o rei interferiu

numa transação comercial da família citada, mostrando novamente que a economia

palaciana ainda interferia nos negócios privados babilônicos. Relativo à matemática

financeira, o que pôde-se observar é que o rei não anulou a tábua do primeiro

20

“(....) trata-se sem dúvida de um tipo de intervenção do rei na sociedade e na economia (....), Bouzon, 1992, p.81

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contrato, porém obrigou que o comprador pagasse um valor adicional, tipo uma

indenização de 6 siclos de prata em cima do valor da compra da casa. Percebeu-se

que o rei interferia através de uma cobrança compensatória por alguma possível

reclamação do antigo proprietário da casa, isto dentro da matemática financeira,

pode ser classificado segundo Castro Neto (2002), como acréscimo21, mas ressalto

aqui, que de um modo intuitivo.

Mas voltando a falar sobre a economia do segundo império, Santos (2006),

tabela transações comerciais, com a presença da prata como pagamentos de

produtos e serviços. Através delas, pôde-se analisar onde a matemática financeira

influenciou a economia palaciana. Tais tabelas, trazem exemplos de documentos da

economia em geral e outros das famílias citadas e a especificação dos mesmos.

Porém aqui foram suprimidos a numeração dos documentos, restando apenas a

análise da atividade e o valor pago. Um dos documentos mostra que uma casa foi

vendida por 11,5 minas de prata, o que corresponde a 7866 gramas de prata, um

lote de terra foi vendido por 1 ¾ siclos de prata, correspondendo a 19,95 gramas de

prata, um pomar foi vendido por 3 minas e 1/3 de prata o que correspondia a

aproximadamente 2052 gramas de prata. Percebeu-se que a variação dos valores

cobrados entre o pomar e a casa revela que as ultimas eram muito mais valorizadas

naquele período. Mostrando onde a matemática financeira estava influenciando tais

transações.

Santos (2006) revela que os bens também eram comercializados, como

vacas, barcos/navios. Um navio fora vendido por 1 1/3 de prata e a vaca por 1 1/3 de

mina de prata. Também documentos de pagamento por serviços prestados em que o

serviço não foi especificado, porém o mesmo foi realizado durante 5 anos e a

pessoa receberia um determinado valor em siclos de prata por mês. Em outro caso,

não especificou o tempo e nem o serviço, porém informou que o contratado recebia

19 moedas de prata por ano, mostrando que a matemática financeira participava da

organização dos serviços prestados no período.

21

“ Os acréscimos (....) em uma série de operações, cada operação é realizada de forma acumulada “sobre” o resultado da operação anterior.” (Castro Neto, 2002, p.6)

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31

Em outro texto, Santos (2008), traz o modelo de um documento, que

representa um contrato de empréstimo e um dos modos como se cobrava juros

nesta modalidade:

TuM 2/3, 75 - << 2 kurru, 1 pânu de cevada, capital de Nabú-sum-iskun, filho de [Puhhuru], descendente de Iluta-bãni, estão a cargo de /.../, filho de Liblut, descendente de Ša-pĩ-Kalbi. No mês Ayaru, ele dá-los-á (com) 1 pãnu de cevada por kurru como juro. Ele não cultivará outro terreno; se ele cultiva a terra arável num outro terreno /.../ a (?) Nabû-šum-iškum ele pagará completamente. Testemunhas. 2 – Tešritu-Nbk 15 (590 a.C.). (SANTOS, 2008a)

A base de cobrança de juros deste documento é a cevada, o que não

impediu de analisar a matemática financeira, seu papel e influência. Por cada

Kurru22, o devedor pagaria 1 pãnu23 de cevada, ou seja, para determinada

quantidade de cevada, pagaria a cevada equivalente a região da fronteira do campo,

e caso ele cultivasse em outro campo, pagaria ele teria que pagar não apenas uma

parte como no primeiro caso, mas pagaria totalmente. Neste caso, percebeu-se que

a noção de juros partiu de cobranças como essa, através dos produtos naturais, até

porque, a economia era essencialmente agrária, e iniciou-se o uso de metais

preciosos como pagamento de impostos, empréstimos e serviços. Mas não foi pelo

fato de ser desse modo, que lendo textos como este, deixemos de entender, que

uma taxa de juros fora ali cobrada. Santos (2008), também traz um exemplo de

contrato de empréstimo em prata, pertencente a família dos Egibi:

Nbn. 443 - <<1,2 minas de prata, pertencentes a Itti-Marduk-balãtu, filho de nabû-zēra-ukkin, descendente de Egibi, foram debitadas a Nabû-zēra-ukkin,descendente Nabû-iddin, descendente de Ašlaku. 1 siclo de prata por mina será provido por ele mensalmente (como juro). O seu escravo Nabû-te-ka-ida serve de garantia.(SANTOS, 2008b)

Este documento fala que Nabû-zēra-ukkin, tomou emprestada 1,2 minas de

prata, o que corresponde a 820,8g de prata, porém deveria retornar mensalmente

por cada mina de prata, 11,4g. Já sabemos que os empréstimos em prata tinham um

prazo de um ano, então ao final de um ano, ele pagaria de juros um total de 136,8g 22

quantidade de cevada não bem definida, Ignace J. Gelb, THE ASSYRIAM DICTIONARY, 1971,p. 564, grifo nosso.( Tradução:Michaelis Moderno dicionário:inglês-português/português-inglês,2007) 23

de uma região, uma localidade. região na fronteira do campo, acentuado na Região em frente ... Ignace J. Gelb, THE ASSYRIAM DICTIONARY,2005, p.86 (Tradução:Michaelis Moderno dicionário:inglês-português/português-inglês,2007)

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de prata, e o montante pago seria de 957,6g de prata, que seriam 1,8 minas de

prata.Isto mostra mais uma vez, o quanto a matemática financeira era de suma

importância para a economia palaciana na Babilônia. Mesmo sendo o setor privado

independente do palácio, já vimos que as medidas de estalão utilizadas eram

baseadas naquelas utilizadas pelo templo e palácio, sendo este último, um

influenciador indireto.

A matemática financeira estava ativamente presente na vida econômica

desta economia. Em quase toda modalidade de empréstimos, ela se fazia presente.

Santos (2008), cita os modelos existentes caracterizando-os de modo a mostrar

papéis e influências da matemática financeira na economia do segundo império

babilônico. Classifica os empréstimos como: coletivo, gratuito ou de favor e de

consumo. O primeiro destes reforçava o crédito do maior interessado neste, se o

credor cobrasse o empréstimo, poderia fazê-lo a qualquer um dos participantes do

grupo, liberando os demais da dívida, e este pagamento, Santos (2008) detalha-o,

dizendo que poderia ser realizado em duas prestações, mostrando a existência do

parcelamento da dívida. A seguir um trecho de Santos (2008), explicando como se

dava tal parcelamento: “[...] se a primeira conta não fosse paga, o devedor deveria 1

siclo de prata; se a segunda prestação não fosse paga, o devedor perderia o

benefício do pagamento já efetuado, ele deveria pagar a totalidade da dívida.”

(SANTOS, 2008, p.20), ou seja, se o devedor não pagasse a primeira parcela,

independente do que ele devesse, ele teria que pagar 1 siclo de prata (11,4g), se

houvesse pagado a primeira prestação, porém esquecesse a segunda, teria que

pagar a dívida total, sem ter o pagamento da primeira prestação devolvido. Aqui a

matemática financeira assume o papel regulador garantindo não só a organização

do pagamento de tal transação, mas também garantindo o lucro do credor.

O empréstimo gratuito, Santos (2008) diz que poderia ser acompanhado por juros.

Enquanto que os de consumo eram feitos para a agricultura de subsistência.

Existiam também as modalidades de aluguel: em gêneros, em que estes

correspondiam aos juros do preço combinado. Aluguel da mão-de-obra, mas este

era totalmente gratuito, sem cobrança de juros. Santos (2008) aponta o aluguel por

serviços, em que o proprietário alugava uma equipe de trabalho ou um serviço

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individual. Neste caso, o trabalhador recebia um valor em prata como adiantamento,

compensada nos salários. Enquanto que para a equipe, o chefe desta, recebia uma

quantidade de prata como antecipação de sua remuneração e pelos seus liderados.

Isto revela, o quanto a matemática financeira, continuava a ser importante no

planejamento do pagamento dos salários, comparando com o período de

Hammurábi (1792-1750 a.E.C.), tal prática também foi percebido, através de

algumas cláusulas que regulavam o pagamentos dos salários de médicos e outros

servidores.

Santos (2008) mostra que os arquivos de Egibi, Iddin-Marduk, Nûr-Sin e

alguns outros empresários não ressaltados aqui, porém do período do reinado de

Nabucodonosor II, indicam taxas de juros relativamente altas. Taxas de 20%, 13,3%

12 e 1/3% e 10%, mas o mais exorbitante era de 40%. O juro de 1 siclo de prata por

mina, era muito utilizado, o que correspondia a taxa de 20%.

Através do que foi aqui exposto, percebeu-se o papel desempenhado pela

matemática financeira destes impérios e também onde e de que modo a mesma

influenciou a economia palaciana e o quanto a sua aplicação foi importante, para o

enriquecimento desta economia, e dos negociantes do período. Além disso,

percebeu-se que a taxa de juros de 20% e 33,3%, que fora regulamentada já no

código de Hammurábi, continuou sendo utilizada só com algumas variantes devido

ao setor privado, que estipulava suas taxas de acordo com as utilizadas nos palácios

ou não. E também o pagamento por serviços prestados, foram regulamentados no

código e preservados no império neobabilônico, mostrando influências do código

neste império. Outra influência percebida no primeiro império que foi demonstrada

no segundo foi o pagamento dos 10% como imposto, porém com algumas variantes.

Um dos papéis era contribuir para o acúmulo dos diferentes modos de riqueza nos

dois impérios. Outra semelhança foi o prazo nos empréstimos que iniciou-se no

primeiro império baseado na colheita, ou seja, após um ano e manteve-se do mesmo

modo no segundo império.

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34

III - Comparação entre a matemática financeira utilizada no primeiro e segundo

impérios babilônicos.

No capítulo dois vimos as influências e o papel da matemática financeira

utilizada no primeiro império refletidos no segundo império. Partindo dos documentos

analisados e mais alguns outros, foi feita uma comparação da matemática financeira

dos dois impérios babilônicos datados dos reinados de Hammurábi (1792-1750

a.E.C.) e Nabucodonosor II ( 605-565 a.E.C.).A análise comparativa dos documentos

foi feita seguindo a ordem : código de Hammurábi, cartas de Hammurábi,

documentos comerciais datados do segundo império babilônico no reinado de

Nabucodonosor II.

No capítulo um, vimos um pouco da contextualização histórica em que

estava inserida a civilização babilônica nos dois impérios. No mesmo capítulo foi

citada a cláusula 8º do código de Hammurábi, vista no capítulo 1, trata sobre o roubo

de algum pertence alheio e qual a penalidade para tal infração. É sobre esta

penalidade aplicada que a análise foi feita, pois diz que em caso de roubo de algo da

corte, o infrator deveria dar trinta vezes tanto, se fosse de um liberto, o infrator

restituiria dez vezes tanto e se o ladrão não tivesse condições de restituir, morreria.

Percebe-se facilmente que existia um juros implícito nesta cobrança, como foi

mencionado no capítulo um, porém aqui restringiu-se a análise ao rudimento, e qual

foi percebido? Simplesmente o fato de que a cobrança dos juros era em

mercadorias, pois a utilização do metal no período de Hammurábi, ainda era muito

restrito ou quase inexistente. Algo parecido ocorre na cláusula 37º:

Se alguém compra o campo, o horto e a casa de um oficial, de um gregário, de um vassalo, a sua tábua de contrato de venda é quebrada e ele perde o seu dinheiro; o campo, o horto e a casa voltam ao dono.(Cultura Brasileira, p.6).

Esta cláusula revela que os oficiais ou funcionários da administração

templária e palaciana recebiam campos, hortos e casas, como pagamentos pelos

serviços prestado à corte, sendo que estas não poderiam ser negociadas. Isto

restringe a análise do rudimento apenas à forma de pagamento, que era em

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propriedades, veremos mais adiante que no império de Nabucodonosor II, as formas

de pagamento eram mais abrangentes.

Outros rudimentos encontrados constam, nas cláusulas 44º e 45º, ambas

revelam respectivamente que os juros eram cobrados em produtos naturais e a

prevalência do setor agrário dominando as negociações:

Se alguém se obriga por em cultura, dentro de três anos, um campo que jaz inculto, mas é preguiçoso e não cultiva o campo, deverá no quarto ano cavar, destorroar e cultivar o campo inculto e restituí-lo ao proprietário e por cada dez gan pagar dez gur de trigo”. (Cultura Brasileira, p. 7)

Se alguém dá seu campo a cultivar mediante uma renda e recebe a renda do seu campo, mas sobrevem uma tempestade e destrói a safra, o dano recai sobre o cultivador (Cultura Brasileira, p. 7)

O segundo império teve avanços em relação a isso e veremos mais adiante.

Englobando as duas cláusulas 50º e 51º. e relembrando as formas de

negociação no período de Hammurábi, percebe-se que os negociantes deveriam

seguir a cobrança de taxa de juros estipulada pelo palácio, ou seja, 20% sobre os

metais e 33,3% sobre produtos naturais, enquanto que um avanço já foi percebido

no império de Nabucodonosor II:

Se ele dá um campo cultivável (de trigo) ou um campo cultivável de sésamo, o proprietário do campo deverá receber o trigo ou o sésamo que estão no campo e restituir ao negociante o dinheiro com os juros”. (Cultura Brasileira, p.8) Se não tem dinheiro para entregar, deverá dar ao negociante trigo ou sésamo pela importância do dinheiro que recebeu do negociante os juros conforme a taxa real”. (Cultura Brasileira, p.8)

A cláusula 122º diz que: “se alguém dá em depósito a outro prata, ouro ou

outros objetos, deverá mostrar a uma testemunha tudo o que dá, fechar o seu

contrato e em seguida consignar em depósito (Cultura Brasileira, p.13). Analisando,

percebe-se que a matemática financeira aqui era utilizada como ferramenta apenas

para a representação de banco existente na época, ou seja, as instituições hoje

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chamadas de bancos, eram apenas existentes de modo representativo através dos

primeiros banqueiros, os quais aceitavam depósito consignado.

A cláusula 257º mostra que existiu outro rudimento comumente percebido

que foi o pagamento de aluguel de serviços em produtos naturais.: “Se alguém aluga

um lavrador de campo lhe deverá dar anualmente oito GUR de trigo”. (Cultura

Brasileira, p.28), isto tornou-se rudimento em face do modo de pagamento dos

serviços no período neobabilônico.

Nas cartas escritas pelo rei Hammurábi (1792-1750 a.E.C.), algumas vem

ratificar os rudimentos da matemática financeira encontrados nas cláusulas do

código de Hammurábi. Uma delas vem logo a seguir:

A Sin-iddinam diz: assim (falou) Hammurábi: Ilšu-ibbĩ, um mercador, chefe de um grupo de cinco, informou-me o seguinte: “Dei (como empréstimo) 30 GUR de cevada ao governador Sin-māgir. Tenho em meu poder a sua tábua. Há três anos cobro dele continuamente, mas ele não me devolve a cevada”. Assim ele me informou. Vi a sua tábua. Que se recolha de Sin-māgir a cevada e os juros (correspondentes)! Dá-os a Ilšu-ibbĩ. (BOUZON, 1986c).

Este caso é bem parecido com o que foi anteriormente comentado, que os juros

cobrados eram em cevada ou produtos naturais, porém aqui a transação comercial

foi o empréstimo. Já outra revela que os serviços prestados ao palácio de fato eram

pagos com campos ou propriedades:

A Šamaš-ĥāzir diz: assim (falou) Hammurábi: Quando vires esta minha tábua, dá um campo de 1 BUR a Sin-muštāl, (um campo de) 1 BUR a Ili-iddinam, (um campo de) 1 BUR a Ili-išmeanni, os três chefes dos mercadores de UR, (juntamente) com os seus antigos campos de sustento”.(BOUZON, 1986d).

Já foi visto que os tributos devidos ao palácio, era uma fonte de renda e

sustento para os funcionários do mesmo e além disso servia para acumular o

excedente. Mas um rudimento foi encontrado relacionado a esses tributos como

mostra a seguinte carta: “A Sin-iddinam diz: assim (falou) Hammurábi: O pastor-

chefe Warad-Šamaš têm os atrasados de suas próprias ovelhas e vacas, que ele

deve exigir dos pastores, para inspeção [...]” ( BOUZON, 1986e). Sobre esta carta

Bouzon (1986) revela que ela trata do recolhimento dos tributos palacianos sob a

forma de produtos naturais. De tudo que aqui foi exposto relacionado ao primeiro

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império babilônico, percebe-se que a predominância das atividades eram agrárias e

os tributos também eram recolhidos dentro dessa modalidade econômica,

demonstrando o rudimento da matemática financeira neste império.E ratificando esta

idéia, vimos no capítulo dois que Nabucodonosor também contribuía com estes

tributos, retornando ao palácio 1/10 em ouro, prata e produtos naturais, mostrando

como a matemática financeira cresceu juntamente com o excedente palaciano, já

que por ter metais nos tributos, os empréstimos já eram realizados também em

prata.

Daqui em diante foi exposto o que ocorreu na economia neobabilônica, de

modo a indicar os avanços da matemática financeira, neste período.

Santos (2006) afirma que os empréstimos eram a base das finanças

babilônicas, sendo mantidas em prata ou em produtos naturais, utilizando hipotecas

e fiadores com garantias reais. As notas promissórias estudadas e comentadas por

Santos (2006), trazem o número do documento, o produto e o valor cobrado na

transação comercial, mostrando a predominância do uso da prata nas mesmas, em

alguns casos raros, a moeda eram animais ou produtos naturais, o que comparado

às transações comerciais que existiram no reinado de Hammurábi (1792-1750

a.E.C.), percebeu-se que este ultimo utilizava muito mais os produtos naturais do

que metais (ver tabela abaixo):

Documento Produto Quantidade

NBK 216 prata 6 minas

NBK 258 prata 2 minhas e 10 siclos

BM 30442 prata 12 siclos

NBK 261 prata 10 siclos

AO 20335 prata ½ mina

BM 32921 Cabras, bodes,.. (x) Fonte: What pays what? Cashless payment in Ancient Mesopotamia (626-331 BC), Antonio Ramos dos Santos.

Santos (2006) também trata sobre pagamentos de obrigações

documentadas em recibos por perdão de dívidas e cobrança de impostos. Já foi

visto no capítulo dois, que houve avanço na cobrança dos impostos nos dois

impérios babilônicos. No primeiro, Hammurábi não contribuía, porém regulamentava

toda economia, enquanto que no segundo, Nabucodonosor II já contribuía, com isso

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denota-se que Hammurábi participava efetivamente de todas as decisões da

economia e que Nabucodonosor II não controlava tanto a mesma.

Santos (2006) lista documentos relacionados a pagamentos comerciais,

demonstrando a existência de participação em ações, importações em número

considerável e também em associações comerciais, mostrando que a matemática

financeira não só acompanhou o avanço da economia babilônica, mas também foi

ferramenta crucial para seu crescimento. Nestas transações utilizava-se animais,

produtos naturais, propriedades, escravos e barcos, utilizando a prata no pagamento

das mesmas, ver nota24. Estes documentos podem ser de compra ou venda, tendo

predominância do uso da prata no pagamento, demonstrando a diferença entra a

visão existente entre os dois impérios e como a matemática financeira evoluiu junto

com este pensamento.

No primeiro império a visão era a preservação das propriedades fundiárias,

pois já existiam transações em torno destas, mas eram repassadas entre as famílias.

Já no segundo império existia uma prévia do sentimento capitalista e mercantilista

do lucro e acumulação de riquezas, proporcionando o crescimento das atividades

econômicas. Como foi dito no capítulo dois, os juros cobrados no período

neobabilônico, não eram só os estipulados no código de Hammurábi de 20% e 33,3

%, mas existiram outras taxas de 10%, 12 %, 16 %, 40 %, cobradas sobretudo nos

empréstimos.

Assim como no primeiro império, no segundo império existiam pagamentos

por serviços prestados, no segundo império continuou existindo, porém com um

diferencial importante, já aparecem menções de pagamento em prata e cita

atividades cujos contratos constam o período para a realização do serviço, a forma

de pagamento, o que era produzido e sua quantidade. Santos (2006), cita o caso de

um aluguel de serviço de uma vaca, durante o período de três anos por 1/3 de mina

de prata. Nesta, não fica claro para que servia o animal, talvez para ordenhar o leite

24

O documento NBN 85 registra uma casa por 11,5 minas de prata; o documento Nbn 1104 registra mais uma casa no valor de 2 minas e 1 siclo de prata; o A90 registra uma mula por 12 siclos de prata; o A131 registra a um pedaço de terra por 1 siclo e ¾ de prata; e o BM54065 registraum pomar por 3 minas e 1/3 de prata. Antonio Ramos dos Santos, What pays what? Cashless payment in Ancient Mesopotamia (626-331 BC), 2006, p.6.

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da vaca, mas o que importa era o aluguel pago em prata pelo serviço, mostrando

que ambos os envolvidos na negociação saíram lucrando. O aluguel de um navio

por 1/3 de prata, mostrando o avanço na forma de pagamento de serviços em

relação aos dois impérios. Outros documentos falam de fabricação de sapatos, por

19 moedas de prata por ano, revelando mais uma vez o avanço que acabamos de

falar.

No capítulo dois, consta a citação de um contrato de empréstimo, neste está

bastante claro, que no segundo império babilônico, os empréstimos já eram

comumente realizados em prata e os juros também cobrados com a mesma, sendo

que no primeiro império, a prevalência nos empréstimos era a cevada, independente

de serem negócios diretamente palacianos ou do setor familiar ou privado. Um outro

detalhe encontrado nas informações do texto de Santos (2008), é que os

empréstimos de produtos naturais já tinham retorno financeiro em prata,

configurando assim um grande avanço da matemática financeira no período

neobabilônico e as mercadorias vendidas já eram pagas com a prata. Como estas

mercadorias só eram pagas após um determinado prazo, os juro cobrados eram

exorbitantes, demonstrando os avanços da matemática financeira, inclusive

impulsionando a economia neobabilônica no sentido de enriquecer os credores.

Inclusive o crescimento de outros setores econômicos, como o privado e o familiar

demonstram claramente o quanto a matemática financeira avançou e impulsionou tal

crescimento.

O código foi estudado e percebeu-se que no pagamento de serviços, a

matemática financeira do primeiro império somente foi regulado no código de

Hammurábi para estipular a quantidade de prata recebida por serviço, como mostra

a cláusula 215º: “Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de

bronze e o cura ou se ele abre a alguém uma incisão com a lanceta de bronze e o

olho é salvo, deverá receber dez siclos”.(Cultura Brasileira, p.24). As cláusulas

seguintes, continuam nesta mesma linhagem, mostrando que o pagamento dos

serviços eram regulados no código. Já no segundo império a matemática financeira

era utilizada de modo mais livre e os pagamentos de serviços poderiam ser

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adiantados ou pagos após o serviço, promovendo até a aplicação de juros nos

mesmos.

Santos (2008) comenta que existiram penhores e cauções, alguns penhores

serviam para dar segurança nos pagamentos a curto prazo e a caução era usada

para reembolso de adiantamentos, para validar as garantias devidas ao credor. Isto

mostra que o uso de penhores e cauções refletem avanços da matemática financeira

como ferramenta para a economia no período neobabilônico.

Também vimos no capítulo dois, um caso clássico de indenização que foi

decretada pelo rei, documento este datado do período neobabilônico de

Nabucodonosor II, podendo também ser visto como um avanço, pois ocorreu um

acréscimo sobre o valor real. Outro avanço encontrado neste capítulo consta na

diferenciação dos preços de venda entre casas e pomares, o primeiro era mais

valorizado que o segundo.

Nos pré-pagamentos, em que o babilônico comprava uma mercadoria e

pagava antes de recebê-la, revela entre os dois impérios um avanço da matemática

financeira, quiçá um dos mais importantes para a economia babilônica, já que esse

negócio saía rentável financeiramente para o comprador. Outra modalidade

econômica que demonstrou avanço foi o empréstimo que no segundo império, seu

pagamento já poderia ser efetuado em parcelas, como mencionado no segundo

capítulo, sendo a matemática financeira utilizada aqui de modo a não só facilitar o

pagamento do devedor, mas também ao lucro do credor.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em conta o alvo desta pesquisa, entende-se que a matemática

financeira passou a existir de fato, a partir da sua indireta legalização exposta no

código de Hammurábi e com a conservação do monumento ao longo dos anos e seu

descobrimento, ficou possível pesquisar a respeito do surgimento da mesma. Vimos

que este imperador unificou o norte mesopotâmico e foi conquistando novos

territórios, e por isso fez-se necessário a inscrição de um código de leis que

regulasse toda a vida mesopotâmica e consequentemente babilônica. Porém este

código não era totalmente inédito, carregando consigo leis criadas por Eshunna. A

intenção dos juros neste código era usá-lo como penalidade para diversas situações

que pudessem ocorrer na vida babilônica, sobrepondo ao aspecto econômico no

qual o código também se dedicava.

Sobre a economia do primeiro império vimos que era essencialmente agrária

e as atividades giravam em torno desta e que no segundo império as atividades se

expandiram para novos setores como o familiar e privado, isto possibilitou a

revelação do papel da matemática financeira usada no primeiro império de

Hammurábi e algumas influências do código deste, ambos sobre a matemática

financeira do segundo império de Nabucodonosor II e rudimentos existentes na

matemática financeira do primeiro império e avanços da mesma no segundo império

babilônico. Possibilitou também perceber se as leis do código foram ou não

aplicadas à matemática financeira na economia existente no reinado de

Nabucodonosor II e se os reflexos da matemática financeira conservados até o

segundo império influenciou as negociações dos novos setores econômicos

existentes no reinado de Nabucodonosor II.

Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se que a matemática financeira

participava da organização e bom andamento das atividades econômicas do

primeiro império babilônico, ao respaldar a cobrança de impostos atrasados ou não,

mas devido ao caráter dos documentos encontrados datados do período do reinado

de Nabucodonosor II, nada pôde-se garantir que este papel existiu neste período.

Mas creio que muito dificilmente, este papel deixou de existir no segundo império, já

que servia de garantia para a dominação e economia babilônica.

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Sobre as influências, o código de Hammurábi, o código legislava taxas de

juros de 20% e 33,3% sobre a prata e a cevada respectivamente, tais taxas foram

percebidas nas transações comerciais datadas do reinado de Nabucodonosor II.

Dentre as influências da matemática financeira na babilônia antiga, um deles

foi apoiar as negociações feitas com as propriedades fundiárias no primeiro império

e permaneceu influenciando estas transações no segundo império. Mas ressalta-se

que neste ultimo império existiram alguns avanços quanto a isso, pois no segundo

império, a matemática financeira apoiava também o setor privado.

Os tributos em ambos os impérios serviam para acumular riquezas para a

economia palaciana, já que com estes, juntava-se o excedente e emprestava-se a

juros, permitindo que a matemática financeira tivesse o papel de auxiliar a

contabilidade palaciana.

Já foi dito que os juros eram usados como penalidade no código de

Hammurábi, mas também pelos expostos, que era utilizado para o enriquecimento

palaciano e das pessoas dos setores familiar e privado, através dos empréstimos.

Isto mostra que estes dois papéis citados iniciaram no primeiro império, mas pelos

estudos realizados notou-se que o segundo papel citado foi conservado no reinado

de Nabucodonosor II. Nada pode-se afirmar a respeito do uso dos juros como

penalidade sendo aplicado na economia deste reinado.

Outro papel da matemática financeira que iniciou-se no primeiro império e foi

válido sobre o segundo império, foi a utilização de prazos nos empréstimos, até

mesmo como meio de cálculo dos juros a serem cobrados, em ambos os casos os

juros eram de 20% e 33,3% com prazo de um ano.

Também notou-se um papel regulador da matemática financeira em ambos

os impérios. Regulava de modo a organizar os pagamentos das transações e além

disso garantia o lucro dos credores. Participava do planejamento de pagamento dos

salários das equipes contratadas no segundo império e para os funcionários

palacianos no primeiro império. Isto também pode ser citado como influência pois, no

primeiro império, o pagamento dos salários era regulado no código de Hammurábi,

sobretudo dos funcionários liberais, sendo estes pagos em prata, mas os

funcionários palacianos recebiam em propriedades, influenciando o modo de

pagamento existente no segundo império, neste os funcionários já eram pagos com

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prata e alimentos, e também já alugava-se equipes para contratação de serviços,

podendo ser pagos antecipadamente.

Este fato revela alguns avanços da matemática financeira na Babilônia e

sobre eles falaremos agora. Comparando o uso da matemática financeira entre os

dois impérios, percebeu-se que no primeiro, os juros eram cobrados em mercadorias

ou produtos naturais, enquanto que no segundo império, os juros para a maioria das

atividades eram cobrados em prata.

Do que foi falado sobre o pagamento dos servidores, já demonstra o avanço

na organização do trabalho pois no segundo império, já alugavam as equipes para

realizar atividades antes feitas pelos funcionários palacianos do primeiro

império.Demonstrando o quanto a matemática financeira avançou juntamente com a

economia.

Sobre os empréstimos, no primeiro império eram realizados em cevada,

tendo retorno com a mesma, no segundo império eram em cevada e prata, sendo

mantidas as taxas que já conhecemos.

A respeito dos tributos, vimos que no primeiro império o rei não contribuía

com 1/10 de tudo que tinha em produtos: ouro, prata e jóias, diferentemente do

segundo império em que o rei estava sujeito às regras da economia financeira e

deveria contribuir para o desenvolvimento da matemática financeira babilônica.

Nas negociações em geral, novas taxas de juros surgiram na economia do

segundo império, expandindo-se para 10%, 12%, 16% e 40%.Outra comparação de

rudimento e avanço encontrada entre os impérios, foi a utilização de cauções,

penhores e acréscimos nas transações econômica do segundo império, mas não

podendo nada ser afirmado se ocorria no primeiro império. Isto revelou o quanto a

matemática financeira evoluiu e ajudou a expandir a economia palaciana.

Diante dos fatos observados, podemos afirmar que s influências do código

de Hammurábi na matemática financeira e na economia babilônica no primeiro e

segundo impérios foi a estipulação de taxas de juros de 20% sobre os metais e

33,3% sobre a cevada nos empréstimos, a regulamentação de pagamentos de

salários em prata por serviços prestados ao palácio ou a sociedade babilônica em

geral. Sendo estas regulamentadas no código de Hammurábi e amplamente

aplicadas na economia do segundo império babilônico. Como estas leis refletiram na

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economia do segundo império e neste existiram novos setores econômicos como o

privado, e este utilizava dentre outras as medidas de estalão do palácio em suas

negociações e além disto percebeu-se, que mesmo as taxas de juros sendo

ampliadas, ainda utilizavam aquelas regulamentadas no código de Hammurábi e

também permaneceram pagando serviços às equipes de trabalho de um modo

parecido ao utilizado no primeiro império, nos respaldando a afirmar que este reflexo

foi de modo bastante relevante na economia do segundo império babilônico.

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SANTOS, Antonio Joaquim Ramos dos. O sector <<privado>> na economia da Babilónia recente (626-539 a.C.): O modelo fundiário e o modelo comercial. Lisboa, 1998. Disponível em: <http://dited.bn.pt/30880/1868/2325.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2010

SOUZA, Osvaldo Rodrigues de. HISTÓRIA GERAL. 16. ed. São Paulo: Ática, 1997, p.23-30.

TORGA, Miguel. Os tipos de Rochas. Disponível em: <http://www2.esec-miguel-torga.rcts.pt/Projectos/TIPOSDEROCHAS.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2011

ANEXOS:

Antiguidade Oriental. p.4, 6. Disponível em:

<soaulas.com/banco_aulas/2_40cap.02_antiguidade_oriental_1a.ppt>. Acesso em: 17 fev. 2012

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BIBLIOGRAFIA

FARACO, Carlos Alberto. Novo acordo ortográfico.Parábola, Curitiba,PR. . Disponível em: <http://www.parabolaeditorial.com.br/downloads/novoacordo2.pdf>. Acesso em:

GOMIDES, José Eduardo, A definição do problema de pesquisa a chave para o sucesso do projeto de pesquisa. Revista do CESUC. Ano IV nº 06, 1º semestre – 2002.Disponível em: <http://wwwp.fc.unesp.br/~verinha/ADEFINICAODOPROBLEMA.pdf>. Acesso em:

NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa-característica, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas em administração. nº 3. São Paulo, 1996. v. 1.

Periodização: Do surgimento da escrita até a decadência do império romano. Disponível em: <www.soaulas.com/banco.../2_54cap.02_antiguidade_oriental_1a.ppt>. Acesso em:12 jul. 2009

RODRIGUES, William Costa. Metodologia Científica. FAETEC/IST, Piracambi, RJ: 2007.

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ANEXOS

ANEXO A – CRESCENTE FÉRTIL NA ANTIGUIDADE

Fonte: Antiguidade Oriental:

<soaulas.com/banco_aulas/2_40cap.02_antiguidade_oriental_1a.ppt>

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ANEXO B – CRESCENTE FÉRTIL HOJE

Fonte: Antiguidade Oriental:

<soaulas.com/banco_aulas/2_40cap.02_antiguidade_oriental_1a.ppt>