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Breve apresentação ilustrativa da noção de Temporalidade em Merleau-Ponty
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A Temporalidade em Merleau-
Ponty
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)
De onde parte Merleau-Ponty: O “Cogito” e a intencionalidade na
fenomenologia
O “cogito” cartesiano: “Penso, logo existo.”
- consciência de si mesmo: isolada do mundo, presa à subjetividade
- ideias: impressões internas correspondentes a sensações advindas de coisas exteriores
- representação: acesso indireto aos objetos
- problema: correspondência representação-representado
SUJEITOOBJETO
SUJEITO
OBJETO
ConsciênciaRepresentação do objeto =>
Intencionalidade husserliana:
- consciência é “consciência de” alguma coisa
- intenção: pensamento em ação, direcionado a algo
- intencionalidade: conceito que define o ato de revelação que ocorre entre o sujeito/observador e os objetos para si e para outros => “explodir em direção a”
- consequência: a fenomenologia retoma a possibilidade do ser humano de buscar a verdade, dando uma nova alternativa que visa solucionar o problema da correspondência representação-representado; diluição da separação entre o mundo exterior (transcendência) que está “fora” do sujeito e a própria interioridade do sujeito (imanência) => ambas as esferas se encontram no fenômeno
SUJEITOOBJETO
INTENÇÃO
SUJEITO
OBJETO
FENÔMENO
Fenomenologia:
- fenômeno: Husserl funda o duplo sentido de transcendência e imanência quando faz do objeto da fenomenologia, o que ele chama de “fenômeno puro” (a percepção da percepção, ou seja, o ato de pensar o que está sendo percebido). A reflexão transcendental não reflete sobre o pensamento, mas sobre o “pensar”; não reflete sobre o percebido, mas sobre o “perceber”
- método: compreender as coisas em si mesmas- desconstrução do pensamento cartesiano: não é um sujeito que determina as causas e efeitos de fatos externos observados- presença: a maneira de um objeto “aparecer” faz parte do modo de “ser” deste objeto => na fenomenologia, não existe nada que se “presente” que não seja “real” / acesso direto aos objetos
Merleau-Ponty:
“A primeira verdade é ‘Eu penso’, mas sob a condição de que por isso se entenda ‘eu sou para mim’ estando no mundo [... ...] O interior e o exterior são inseparáveis. O mundo está inteiro dentro de mim e eu estou inteiro fora de mim.” (Fenomenologia da Percepção, 2006, p. 546)
A percepção do tempo
Na percepção do senso comum: o tempo “passa”...
O rio de Merleau-Ponty
Sujeito navegando no rio
NASCENTE: Passado (águas que já passaram))
FOZ: Futuro (águas que estão por vir)
FOZ: Passado (águas que já passaram)
NASCENTE: Futuro (águas que estão por vir)
Sujeito parado na margem do rio
Observador – Posição 1:
Observador – Posição 2:
Nos desenhos apresentados, o que de fato é passado e o que é futuro?
Nascente ou Foz?No mundo, tudo está sempre presente.
- totalidade: o tempo em si não é uma sucessão de “agoras”; o tempo absoluto é eterno
- posicionamento do observador: recorte espaço-temporal => abertura dos horizontes de passado e futuro
- ser temporal: percepção da ausência que temos dos “presentes” que não estão presentes
- o tempo se apresenta para nós “em ação” e não como um ser
Merleau-Ponty:
““Esta mesa traz traços de minha vida passada, inscrevi nela as minhas iniciais, nela fiz manchas de tinta. Mas por si mesmos estes traços não remetem ao passado: eles são presentes; e, se encontro ali signos de algum acontecimento ‘anterior’, é porque tenho, por outras vias, o sentido do passado, é porque trago em mim essa significação.” (Fenomenologia da Percepção, 2006, p. 553)
O passado e o futuro não estão “nas” coisas; somos
nós que damos o significado, o sentido de passado ou futuro, pelo
modo como percebemos as coisas, pela
intencionalidade específica com que nos dirigimos a
elas.
O tempo como dimensão do nosso ser
Suponhamos os seguintes eventos...
Evento A: minha conclusão de
curso do I grau
Evento B: queda do muro de Berlim
Evento C: Brasil penta-campeão
na Copa de 2002
Linha cronológica
Evento A Evento B
Instante 1 Instante 2 Instante 3 Instante 4
passado futuro
Evento C
recorte espaço-temporal: “ruptura” racional para ordenar fatos em sucessão, de acordo com a
percepção de um sujeito, sua intencionalidade num instante:
- no instante 1, para mim, todos os eventos estão no futuro;- no instante 2, para mim, o evento A está no passado e os demais, no futuro- no instante 3, para mim, os eventos A e B estão no passado e C, no futuro- no instante 4, para mim, todos os eventos estão no passado.
Que relação tem entre si (somente por si mesmos), a minha conclusão de curso do I grau, a queda do muro
de Berlim e o Brasil penta-campeão?No mundo, sem ter a mim como elemento que os
“costura”, todos os eventos estão sempre presentes. Sou eu que lhes dou o sentido de passado ou futuro,
da maneira como os ordeno na minha história.
O fato de um evento passar de futuro para presente e de presente para passado não está no evento;
não faz parte de determinado evento pertencer a um ponto fixo numa linha cronológica
temporal.
Merleau-Ponty faz uma analogia, descrevendo como uma paisagem “passa” pela visão de um observador dentro de
um vagão de um trem:
O observador sabe que não é a paisagem que está se movendo; a paisagem é fixa, imóvel (sempre presente no mundo). Porém, o observador tem a “sensação” (a rigor, a “percepção”) de que uma paisagem está ficando para trás
(passado), tão logo surge uma nova paisagem à frente (futuro).
É o sujeito, o observador que introduz a perspectiva, a direção, a intenção, o sentido de passado, presente e
futuro, segundo a sua percepção. No tempo em si, não existe nada que já não contenha
em si, todo o seu passado, presente e futuro.Faz parte do ser do tempo, o escoar.
Nós nos situamos no tempo; quando inserimos a nossa
intencionalidade, inserimos o presente no mundo. É a partir do presente que explodimos vetores em direção a um passado ou a um
porvir.
É no presente que se faz a intersecção entre ser e consciência.
S
Passado de S
Futuro de S
S
Passado de S
Futuro de S
Presente de S
Intencionalidade de S
Temporalidade
S SujeitoS
A consciência temporal enquanto ser
- a semente e a árvore: ato e potência se revelam com o “passar do tempo”
- a consciência não consiste na semente “ou” na árvore, mas na semente “e” na árvore; a consciência consiste na temporalidade deste ser que é o movimento de deixar-de-ser-para-vir-a-ser.
- distensão: a semente não é a causa da árvore; ela, de certo modo, já é a árvore.
O presente, a presença
Podemos questionar:
Se algo somente existe quando um sujeito lhe dá um
sentido, então, antes de existir o homem,
não existia o mundo?
As eras pré-históricas (pré-humanidade) existem no nosso
passado porque nós lhes damos este sentido e construímos significações
para tal. E só conseguimos lhes dar esse
sentido no “presente”. É no presente que se dá a síntese
sujeito-mundo.
SUJEITO MUNDOTEMPO
PRESENTE
EXISTIR É TER
CONSCIÊNCIA DE
ESTAR PRESENTE
NO MUNDO.
A TEMPORALIDADE EM MERLEAU-PONTYPor Clio Francesca Tricarico
Apresentação elaborada com base noTrabalho de Conclusão do Curso de Graduação em
FilosofiaOrientador: Prof. Dr. Hélio Salles Gentil
Universidade São Judas TadeuSão Paulo - 2008