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[A Voz da Ovelha]

A Voz da Ovelha

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A VOZ DA OVELHAAuthor: Eliy Wellington Barbosa da SilvaQuando você se sente sozinho o sofrimento vem à tona. Então se sente abandonado e torturado, tentando entender como e porque tudo isso está acontecendo. E quando a dor se torna insurpotável, é fácil esquecer que você não está sozinho em suas aflições.Você pode conhecer toda a história da paixão e do amor de Deus. Mas quero lhe convidar a cruzar a linha do saber e voltar a crer que você é o objeto do Seu incrível amor!Ele não pagou um alto preço pra te trazer até aqui e depois abandonar você. Sim, mesmo que tudo pareça estar fora do lugar, existe um plano e um propósito em todas as coisas... Pois o Pastor está em ação, te conduzindo passo a passo ao livramento.Convido você a lembrar onde tudo começou... quado o Pastor chamou o seu nome... você creu com todo o seu coração... e simplesmete seguiu a sua voz...Hoje Jesus tem os ouvidos prontos para te ouvir. O Pastor conhece o som da sua voz... Ele está sempre atento ao seu clamor... Por isso você não precisa morrer no deserto.

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A VOZ DA

OVELHA“Procura conhecer o estado das tuas ovelhas e

cuida dos teus rebanhos.” Provérbios 27.23

E L I Y W E L L I N G T O N B A R B O S A D A S I L V A

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Copyright © 2007 por Eliy Wellington Barbosa da Silva

Todos os direitos reservados.

Direitos exclusivos deste e-book para FONTE DE ÁGUAS VIVAS

Coorde n ação Ed i tor i a l • Eliy Barbosa

R e vi são • Reverendo Altamiro Carlos Menezes

P ro j e to e D i agram ação • Fonte de Águas Vivas

Aprov ação f i na l • Pastores Clenilson Barbosa da Silva & Marck Stefania

Martini

Ministério Fonte de Águas VivasRua São Paulo 241 • CentroJaguapitã • PR • 86.610-000

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SumárioCompradas! 15Purificadas! 12Primeiro Amor 17Vale da Humilhação 23Campina do Orgulho 31Monte da Provação 38Planalto da Revolta 44Monte da Salvação 49Aprisco Celestial 55

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Compradas!O deserto estava em chamas naquela

tarde. Era uma tarde como qualquer outra. Sem esperança, sem futuro, sem amor. Realmente, a vida nunca muda... Um vento quente e abafado trazia nuvens de poeira que nos sufocavam. Por isso, Pureza que estava tão suja quanto eu, tinha a expressão de um animal cansado.

Fazíamos parte de um bando de ovelhas desleixadas. Nossas íntimas e permanentes amigas eram as moscas. Já estávamos a tanto tempo neste deserto que parecia que fazíamos parte da paisagem: sem vida, sem distinções, quase mortas... Por isso a maioria de nós

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continuava indiferente, dominadas pelo engano, não percebendo o profundo estado de miséria em que vivíamos.

Nosso pastor Belial sempre nos espancava. Sua violência e desprezo eram tão comuns que muitas justificavam seus atos como sendo normais e necessários. Ele era o que era. E esse “seu ser” trazia conseqüências visíveis! Meu corpo revelava uma criatura cansada, faminta e Pureza era só ossos. Nesse momento nenhuma de nós tinha mais lágrimas. Nossa aparência e sensação eram de desgaste, desencorajamento, de rejeição e solidão. Mas algo em nós clamava por purificação, separação e renovação.

Apesar deste quadro de privação, Pureza e eu crescíamos mais rápido que as demais ovelhas, e isto nos fazia imaginar que logo iríamos virar almoço! E como não temer? Belial era um homem enorme, de presença imponente. Normalmente seu rosto não mostrava emoção alguma, seu olhar era frio e sua voz gelada.

Vivíamos sempre descontentes. Em geral, esta situação nos deixava assim. Na verdade, era sempre esta situação. Então, por que ficávamos? Aquilo era melhor do que morrer de fome ou que ser devoradas por animais.

É... Parecia ser apenas mais uma longa tarde quente, cheia de poeira e moscas... O que ninguém podia imaginar era que a vida estava

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para chegar. Seria o último dia de escravidão e eu não sabia. No horizonte pareceu que algo se moveu. No princípio apenas consegui visualizar uma silhueta. Ou seria mais uma miragem provocada pelo calor? Mas o que importa? Devia ser algum fantasma vagando em meio aquela imensidão.

Logo aquela figura desfocada começou a ganhar forma. Parece um ser celestial... Tive a impressão que o Seu rosto brilhava como a força do sol! Não... À medida que se aproximava a cena mudava... Então vi que era apenas um homem... Um homem comum, com a aparência de um trabalhador, que inspirava confiança... Mas com um olhar incomum!

Seus olhos eram meigos e me atraíam... E penetravam como labaredas de fogo. Era como se Ele pudesse ver minhas dores e me consolar. Ele nunca havia me visto, mas Seu olhar me dizia que Ele sempre me conheceu.

Não, não e não! Devia ser tudo fruto da minha imaginação provocado pelo calor estonteante. E com Belial gritando, quem poderia ficar lúcido?

Aquele estranho chegou no momento certo, pois nosso pastor mais uma vez estava descontando seus problemas em nós. Belial simplesmente ignorou a chegada deste estranho e continuou a nos humilhar.

- Venda-me estas ovelhas!

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O que pareceu à Belial uma simples forma de chamar a atenção, soou para nós como um grito de liberdade, um grito que ecoou por nossos corações. Nosso pastor não pode deixar de levantar os olhos incrédulos para aquele louco que queria comprar umas ovelhas tão ruins como nós. Mas vendo a seriedade no rosto daquele homem, um sorriso malicioso tomou conta de seus lábios. Era possível ver o brilho da ganância em seus olhos ao começar a fazer os cálculos de quanto poderia cobrar. Belial estava concluindo que alguém que se interessasse por ovelhas como nós não deveria ser muito inteligente: - Quero 60 moedas de prata pelas duas...

Um absurdo! - foi o que pensei. Com esta quantia aquele estranho poderia comprar um rebanho inteiro! Indignada, Pureza balançou a cabeça em sinal de desaprovação. Mas o estranho, com a mesma sinceridade na voz, aceitou:

- Tome suas moedas. Eu fico com estas duas.

O sorriso malicioso de Belial deu lugar a uma risada de surpresa, como se estivesse diante de uma criança ingênua. Mas naquele momento nenhuma de nós tinha noção da

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grandiosidade daquele ato e de suas maravilhosas conseqüências.

Vi que o olhar de Pureza congelou sobre aquele homem. Era como se o enorme deserto ao seu redor estivesse desaparecendo, e tudo quanto conseguisse enxergar fosse aquele homem. De repente, Pureza berrou de alegria, cheia de orgulho por pertencer a um Pastor tão jovial e rico. Tagarelava e saltitava sem parar... Fui obrigada a chamar-lhe a atenção:

- Calma Pureza... Você está me deixando tonta!

- Mas você não está feliz, Fiel? Até que enfim estamos livres!

- Pureza, você deveria se chamar ‘ingênua’... Claro que estou feliz, mas devemos tomar cuidado! Às vezes a solução pode ser pior que o problema!

- Ora, Fiel. Ninguém pode ser pior que o nosso antigo pastor Belial. Este Pastor parece ser manso e humilde... Viu os Seus olhos?

Algo dentro de mim estremeceu. Sentia que qualquer noite se tornaria dia através daqueles olhos... Mas meu orgulho não me deixou voltar atrás. E para não atrapalhar a alegria de Pureza, me calei.

- Adeus suas tolas... Bom apetite novo pastor...

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Aos poucos as vozes zombeteiras das demais ovelhas foram se silenciando. Realmente algumas delas sempre tiveram um enorme “Eu” carimbado sobre si. Elas não queriam ouvir a verdade, aquela verdade que explica a necessidade de ser libertada e purificada do domínio de Belial.

Mas Pureza e eu estávamos seguindo nosso novo Pastor para cada vez mais longe daquele lugar. Distante da paisagem ao meu redor, meus pensamentos eram contraditórios, sufocantes e perturbadores. Não levei saudades dali, mas deixei parte daquilo que chamava de vida...

Vida? O que era vida? Quem poderia determinar o que seria isto? Teria vida somente por ser uma criatura viva? E a guerra que existia dentro do meu coração? Ela também fazia parte da chamada vida? Ou era apenas uma conseqüência da vida? Existe vida sem paz? Existe vida sem esperança? Existe vida sem amor? Podemos...

Uma agradável brisa me despertou dos pensamentos. A paisagem ao redor começara a ganhar cores, contornos e cheiros diferentes. Estávamos saindo do deserto!

Formas novas... Árvores distantes... Pastagens surgindo como borrões no horizonte... Tudo novo... Tudo lindo... Mas não queria prestar atenção no caminho, não queria

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saber qual a direção. Eu não tinha intenção de voltar. Mesmo assim não pude deixar de pensar nas demais ovelhas que ficaram com Belial...

Por que nosso novo Pastor não tentou comprá-las também? Se Ele era realmente uma pessoa importante, por que não ajudou as demais? Por que somente eu e Pureza havíamos sido escolhidas? O que havíamos feito para merecer esta rara oportunidade? Mesmo que se julguem auto-suficientes, que destino elas teriam?

Era inútil me torturar. Mas algo me dizia que aquele encontro não havia sido casual. Será que de alguma maneira o Pastor já havia planejado nos proteger das ações daquele homem orgulhoso, violento e mau? Por que Sua ajuda veio neste momento? Belial poderia estar pronto a colocar em prática algum plano venenoso contra nós!

Somente o tempo poderia trazer todas as respostas e revelar as coisas como realmente são. Pois o tempo, não somente ajudaria no processo de curar as minhas feridas, mas também mataria uma espécie de pessoa que existe em todos os tempos: pessoas amantes de si mesmas, sem princípios ou limites, pessoas como Belial.

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Purificadas!Ao fim da tarde chegamos a um aprisco

simples, modesto e sem qualquer sinal de riqueza... Decepcionante... Era a melhor definição. Como um Pastor que paga um preço tão alto por suas ovelhas pode morar em um lugar tão pobre? Mas a julgar pelo brilho nos olhos de Pureza, para ela tudo era maravilhoso.

Havia outras ovelhas ali. Não nos unimos a elas, pois o Pastor nos levou primeiro até a porta do aprisco. Então Ele olhou para mim. Um olhar intenso que justifica o resto de nossa existência. E, quando menos esperava, Ele me tomou em Seus braços.

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Com a surpresa, antigos medos, vultos e ruídos tomaram meu corpo. Todas as minhas lembranças de alguém me segurando, estavam associadas a dor. Deveria fugir? Não! As conseqüências sempre foram terríveis. Medo... Dor... Opressão... Em meu coração um vale de lágrimas... Tinha que me livrar... Tinha que me afastar... Mas como poderia fugir de mim mesma?

O que me pareceu uma eternidade foram apenas segundos. Logo o Pastor me colocou em Seu colo para limpar minha lã. Em instante algo diferente estava acontecendo! Calor... Aconchego... Amor... Palavras conhecidas com sentidos até então ignorados começavam a ganhar vida.

Fiz o maior esforço possível para relaxar os nervos tensos e deixei-me ficar. Apenas ficar imóvel em Seu colo, fascinada com a doce sensação de ser aceita. Não se tratava de mim, dos meus sentimentos. A questão era confiar nEle com toda a minha vontade, crendo que o Pastor me traria os cuidados que eu necessitava. Estava embriagada por estes sentimentos quando Pureza me despertou ao, praticamente, pular nos braços do Pastor.

Vi meus pés tocarem o chão. Logo estava agradecendo cada toque purificador. Pela primeira vez sem a sensação de sujeira e de estar impregnada pelo cheiro terrível de Belial.

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Era como se um vento de paz houvesse invadido meu coração. Como se uma luz houvesse iluminado a minha alma. Como se meu corpo tivesse envolvido numa suave fragrância: era o cheiro da vida!

No colo do Pastor, Pureza estava com seus olhos fechados. Ela parecia ter sido transportada para um lugar onde era feliz e sua vida era extremamente fácil. Pureza se permitia ser examinada pelo Pastor, purificada por Ele, limpa de toda imundície do corpo e do espírito. Abrindo levemente os olhos, com um delicioso sorriso nos lábios, ela me sussurrou:

- Que Pastor maravilhoso temos agora... Deste Pastor eu nunca vou me afastar! – Pureza estava toda agradecida pela misericórdia e pela purificação.

A purificação que o Pastor estava fazendo em nós caminhava em todas as direções. Ia além de nossa aparência, passava por nossas emoções e se estendia à nossa alimentação, trazendo de volta forças para viver. Em seguida Ele nos levou para junto das demais ovelhas.

Pelos meus cálculos devia haver umas cem ovelhas por ali... A maioria foi comprada recentemente, como eu e Pureza. Elas também estavam eufóricas e comentavam que no outro dia o Pastor iria nos levar a um novo abrigo. Aquele era apenas temporário, mas o novo possuía muros altos e fortes.

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Logo que a noite chegou, Pureza e as demais ovelhas se entregaram ao sono, como não faziam há muito tempo... Sabíamos como era impossível descansar no deserto durante o forte calor do dia ou dormir no incrível frio da noite.

Mas naquela noite era diferente... A lua estava branca como a mais pura lã. Iluminados pelo luar, os toscos muros do aprisco projetavam longas sombras. Normalmente o medo atribui às pequenas coisas grandes sombras. Apesar disto, sentia uma profunda paz. Nenhum medo... Nenhum perigo... Nenhuma perda...

Mesmo sendo um lugar comum, via na pessoa do Pastor, uma proteção que nunca tive. Pois Belial nem sequer percebia quando alguma ovelha teimosa fugia do rebanho.

Era bom também ter um muro, um limite. No deserto não existem muros, referências ou limites. Para todos os lados que se olha se tem a impressão de que se pode fazer qualquer coisa, ir para qualquer direção, que não fará diferença. Lá você se torna um cego, pois acha que por ter liberdade de escolha, pode usá-la de qualquer maneira. E acaba a usando baseado unicamente em seu desejo e vontade, desprezando qualquer tipo de autoridade ou regra.

Mas quanto mais andamos, pensando que tudo é nosso, mais a canseira, o desânimo e a solidão nos invadem. Então damos dez mil

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passos para frente, para descobrir que tudo que se conseguiu foi dar um passo para trás. E esta falsa impressão de não termos limites, nos leva andar até a direção da morte.

No aprisco era diferente: o muro evocava em mim uma crescente fome pela realidade. Toda vez que olhasse para o muro saberia qual era o meu lugar. E vivendo dentro destes limites estaria sempre segura, pois eles me afastariam dos perigos e me aproximariam do meu Pastor...

Pensando nestas coisas, suavemente o sono me abraçou, doces sonhos se misturaram com a realidade e adormeci.

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Primeiro AmorQuando o sol da manhã tingiu de azul o

céu, todas continuavam encantadas com os acontecimentos do dia anterior. Havia risinhos ansiosos em nossos lábios com a jornada para o novo aprisco.

Confesso que senti vontade de dormir mais um pouco. Vivia cansada e geralmente não dormia bem. Mas naquela noite tive um sono tranqüilo. Logo abandonei a idéia pensando no emocionante dia que teríamos.

Seguindo nosso Pastor aos poucos nos afastamos do aprisco, rumo à Estrada Principal.

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A Estrada Principal ou, como preferem alguns, a Estrada do Primeiro Amor, era um sonho para qualquer viajante: repleta de árvores cujas copas nos protegiam do sol escaldante... fontes de água refrescante... recantos para se descansar...

A jornada seria fácil e confortável, por isso passei a confiar mais em nosso Pastor. Pureza que sempre foi alegre, neste dia estava com o rosto extremamente radiante de felicidade. Ela já havia feito amizade com outras ovelhas: Segredo, Destaque e Liberdade.

- Existe realmente um aprisco celestial? Foi a primeira coisa que Destaque me

falou. Antes que pudesse responder alguém me interrompeu:

- Não pense nisso, aprecie somente este confortável caminho.

Era Liberdade. Resolvi me afastar delas, sem responder. Gostava de ver Pureza feliz, mas não me senti à vontade junto de suas novas companheiras. Tinha a impressão que em volta delas havia sempre ventos de mexericos, elogios insinceros e distorções. Acho que Pureza percebeu isso. Será que foi por causa do sorriso amarelo que dei quando ela me apresentou suas amigas?

A pergunta de Destaque e o comentário de Liberdade não me perturbaram. Independente de suas faltas de expectativa a

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realidade não mudaria. Mas me incomodava pensar que elas poderiam influenciar Pureza. Precisava aconselhá-la:

- Pureza, não se esqueça que fomos compradas com uma perspectiva. Sinto que pela primeira vez temos a esperança de um futuro... Até agora nossa vida tinha sido apenas uma seqüência de dias vazios, extremamente difíceis de serem preenchidos. Se somos a soma de nossos dias vividos, então até agora não vivemos!

Pureza piscava, tentando acompanhar os pensamentos que de mim jorravam:

- Estes dias faziam parte de um enorme vazio, que apesar de se chamar passado, nunca passava e devorava o nosso futuro... Era como se estivesse esticando um presente que não tinha futuro... E o nosso futuro? Ah... Aquele futuro agora não passava de um inimaginável passado...

Uma lágrima silenciosa calou a minha voz e tocou o meu coração. O que estava acontecendo comigo? Por que estava tão sensível? De onde vinha este estranho sentimento de compaixão? Aquela estrada me levava ao arrependimento. Como pude andar tanto tempo no deserto, longe da Estrada do Primeiro Amor?

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Sentia vontade de cantar, sorrir, chorar... Não importava! Tudo me fazia sentir bem. Era como se os demais sentimentos estivessem sendo filtrados pelo amor, e ele fazia com que não revelassem o pior de si. Até mesmo as novas amigas de Pureza se tornaram suportáveis.

Mas o que havia de especial neste lugar? Olhei atentamente para a estrada que se descortinava diante de mim, procurando uma razão para aquele sentimento. A vista é maravilhosa... As cores pareciam mais intensas... O céu azul adornado por brancas nuvens, árvores imponentes com sombras acolhedoras, som de águas vivificantes, um vento renovador acariciava meu rosto...

Como não havia percebido estas maravilhas antes? O céu, as nuvens, as árvores, o vento, a água... Mas nada disso havia mudado. Quem havia mudado era eu! Claro! A estrada estava repleta de vida. Me sentia diferente, pois não estava acrescentando dias à minha vida, mas vida aos meus dias! Me sentia viva.

Ah... Agora eu entendia a necessidade de ter sido despojada de toda a impureza pelo Pastor. Sim, agora me sentia qualificada a entrar na Estrada do Primeiro Amor, irrepreensível, aceita, amada. Não queria me afastar dela.

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Queria ficar aqui com o Pastor e segui-Lo sempre.

Estava tão atordoada com os meus sentimos, que nem havia percebido que tinha me afastado de Pureza. Era como se um véu tivesse se abrindo e me permitisse ver tudo como realmente era. Conseguia até mesmo ter um vislumbre do Céu toda vez que o Pastor sorria. Seu sorriso interpretava a esperança de um futuro que nunca conheci.

Havia encontrado o que procurava: vida e amor! Ou amor e vida? Teria sido o amor ou a vida a origem de tudo? Não importa, pois no deserto onde vivi não havia vida, amor ou distinções: lágrimas se confundiam com suor; solidão se misturava com a imensidão; tristeza se ajuntava com a dor; engano se unia com a ilusão...

Mas naquela estrada descobri que somente o amor poderia manter todas as coisas funcionando juntas. Debaixo do amor nossas diferenças parecem sem significado...

Envolvida por meus sentimentos, me assustei quando vi que a noite chegou. Nosso Pastor já havia escolhido um dos recantos para descansarmos. Amanhã continuaríamos a jornada por aquele caminho maravilhoso. Esta estrada trazia em meu coração um desejo ardente de seguir o Pastor. Na Estrada do Primeiro Amor seria impossível de alguém

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tropeçar. Somente deve ficar atento para não se desviar; é por isso que continuamente se deve olhar para o Pastor.

Logo todas as ovelhas dormiram. Olhando para elas deitadas, parecendo pedacinhos de lindas nuvens brancas esparramadas pelo chão, me senti grata pela vida e pelo amor... Aos poucos meus sentimentos se misturaram com o doce silêncio daquela noite.

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Vale da HumilhaçãoPela manhã nosso Pastor se levantou

como o Sol, para nos aquecer e alimentar. Com certeza a maioria de nós teve uma noite maravilhosa e seria bom continuar a jornada. Sabíamos que a Estrada do Primeiro Amor terminava no Aprisco Celestial.

Deliciosos sentimentos haviam começado a me invadir quando, de repente, nosso Pastor saiu da Estrada Principal e entrou em uma trilha sinuosa...

A trilha nos levava para baixo. Não levava somente meu corpo, mas também meu ânimo. A

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paisagem também começou a mudar. Aos poucos perdia cores e vida. Tons cinzentos estavam em todos os lugares.

Logo a desconfiança e o medo me dominaram. Onde estava o amor? Observei a paisagem para ver se estávamos muito longe da Estrada do Primeiro Amor. Mas não conseguia vê-la! Sabia que sozinha jamais conseguiria encontrar o caminho de volta para a estrada...

Fiquei espantada porque muitas ovelhas não perceberam que estávamos longe da estrada e que este lugar era diferente. Algumas estavam sérias, mas muitas se comportavam como se estivessem em um passeio. De qualquer maneira o querer da nossa natureza deveria ser corrigido, para que pudéssemos obedecer sempre ao Pastor, por onde quer que Ele fosse.

Procurei Pureza. Ela estava muito ocupada com suas novas amigas para conseguir ver para onde estávamos indo. Também... Destaque lhe prendia a atenção, Liberdade zombava de tudo e Segredo... Segredo tinha uma expressão mórbida.

Continuamos descendo e tudo que conseguia enxergar era uma grande e escura mancha no final da trilha. Parecia que o lugar para onde nós estávamos indo ficava a quilômetros de distância, escondido no centro da terra.

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A mancha começou a ganhar forma... Era um lugar sombrio... O ar era frio e úmido... Me vi envolta por um denso nevoeiro... Senti um calafrio... Parecia que estava numa sepultura: nada tinha vida ou valor. O lugar fez meu estômago revirar, me deixando mais fraca e inútil do que nunca... Era o Vale da Humilhação!

- Será que Ele sabe para onde estamos indo? – perguntou Liberdade.

- Sei lá, só sei que este lugar é... – respondeu Destaque.

- Horrível! - completaram com suas vozes irritantes em coro.

Definitivamente elas não eram boas companhias para Pureza. Parece que tudo ao redor delas era tocado por egoísmo e dúvida! Olhei para trás, mas só conseguia ver Segredo. Havia algo de errado com ela, que ia além da minha implicância. Seus olhos angustiados e os passos pesados revelavam um coração que estava sendo esmagado dentro do peito...

Deveria me aproximar? As outras ovelhas estavam muito preocupadas com seus próprios temores para perceberem o que acontecia com as demais. Lentamente me aproximei... O que deveria falar? Nada. Às vezes o silêncio é um grande conforto.

Segredo continuava cabisbaixo... Parecia carregar uma dor mais velha do que ela...

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Trevas mudas envolviam sua alma... Mas para mim elas faziam um barulho enorme, inquietante, incômodo...

- Muitas vezes existe uma distância eterna entre dois corações...

- Ah!?A voz triste de Segredo havia me pego de

surpresa. - Muitas vezes existe uma distância eterna

entre dois corações... Nos conhecemos na infância. Ainda me lembro de seus primeiros passos desajeitados. De sua dificuldade em pronunciar certas palavras. Daquele sorriso gostoso... Segredo estava falando de alguém que havia amado. Não a detive, apenas fiquei escutando, deixando que Segredo compartilhasse de suas emoções:

- Fiquei apaixonada por aquela criaturinha. Foram tempos incríveis, pois passávamos a maior parte dos dias juntos. Nestes dias descobri que a vida com ele seria muito agradável.

Mas algum tempo depois ele foi embora. O rebanho em que vivíamos foi dividido. Separados, somente algumas ovelhas mais velhas tinham livre acesso, pois eram usadas para amamentar as novas.

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E foi assim que mantivemos contato. Nossas mães estavam incluídas no grupo de ovelhas que amamentavam: sua mãe me contava tudo a seu respeito e minha mãe lhe contava tudo sobre mim.

Conhecia cada detalhe de sua vida. E não somente imaginava, mas vivia cada situação. Era como se estivéssemos juntos em todos os momentos. Conhecia suas esperanças e desilusões... E sonhava com o dia em que estaríamos definitivamente juntos.

Mesmo tendo uma relação tão profunda, depois que ele foi embora, nos encontramos apenas seis vezes. Mas nos conhecíamos muito para simplesmente nos ajustarmos. Ele sempre teve uma vida intensa. Uma insaciável fome de viver. E no caos de sua vida eu não possuía exatamente o espaço que queria.

‘Você é minha melhor amiga’; ‘Você é muito importante para mim’; ‘Você é como uma irmã’, dizia ele. Isto me matava! Trocaria tudo para ser apenas seu amor.

Trago ainda as marcas da tristeza, da solidão, das noites de choro... Mas não importava o que ele fazia ou dizia, eu sempre o perdoava... Mesmo ignorado, meu amor era forte demais para ser abalado.

Até que um dia ele apareceu... Foi uma surpresa para mim. Continuava lindo como

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sempre, mas havia um brilho diferente em seu olhar. Sua mãe já havia me contado que ele estava cansado de suas ‘aventuras’.

As palavras que me disse naquele dia passaram a fazer parte de mim. À noite quando fecho os olhos posso ainda ouvi-las fortes em meu coração:

‘Querida... Eu já estive aqui... Neste mesmo lugar... E nunca consegui esquecer como foi bom... Estive tão distante... Por caminhos tortuosos... Mas agora eu voltei... Não encontrei em nenhum outro lugar o que procurava... Amor, compreensão, paz... E tudo isto aqui estava, por todo esse tempo... Em você... ’.

Foi um dia mágico. Senti que finalmente meus sonhos se tornariam realidade... Se a felicidade fosse uma pessoa, essa pessoa seria eu!

Marcamos um encontro para próxima semana... Porém este encontro nunca aconteceu... Naquela noite ele morreu...

Engoli um seco... Uma forte mão apertou meu coração... O ar se tornou pesado... Meus olhos doíam... Quantos segredos e sofrimentos desconhecidos havia dentro deste coração? O que poderia dizer para ela? Como poderia consolá-la? Será que eu...

- Você parece muito triste minha querida...

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Fomos surpreendidas pelo Pastor... Como Ele havia nos notado em meio às ovelhas? Será que Ele era capaz de ouvir cada ovelha apavorada precisando desesperadamente de uma palavra de orientação? Antes que tivesse a resposta, Ele tomou Segredo em Seus braços e continuou andando...

- Não precisa ter vergonha de chorar, pois estou aqui para te consolar... Não adianta tentar disfarçar, pois os seus problemas Eu vejo em seu olhar... Não precisa pensar que esta dor não vai mais passar... Pois o meu amor vai te amparar!

A Sua voz era o Paraíso. Ele falava como quem conhece uma vida... Ele a segurava como quem segura uma filha... Segredo encostou a cabeça em Seu peito e deixou as lágrimas correrem...

Seu choro não era de desespero... Nem de dor... Mas o choro de quem é consolada e amada... Estava descobrindo que uma ardente paixão só é esquecida com um eterno amor... Algo me dizia que a partir deste dia, sofrimento, tristeza e dor seriam apenas ecos para Segredo. Ecos que jamais retornarão.

Tentei encontrar o caminho através de uma névoa de lágrimas que se formava diante de meus olhos. Quantas de nós possui coragem de revelar nossa dor ou o que o coração procura? Corações sensíveis, abertos, que

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confiam, geralmente são mais fáceis de ser partidos. Quem não teme ser ferido ou ter sua frágil alma atropelada pela insensibilidade? Facilmente aprendi que deveria ficar perto do Pastor, pois só ao Seu lado poderia me sentir valorizada, respeitada.

Aqui era de fato um lugar para se humilhar, esquecer os nossos direitos de viajar pela estrada principal. Mesmo atravessando um lugar triste e perigoso, que muitas não conseguiram suportar, resolvi seguir o Pastor com a mesma confiança.

Mas muitas continuavam a seguir o Pastor no Vale da Humilhação porque tinham medo de se perder e morrer. E a obediência por medo é sempre uma situação terrível. Era a motivação errada, pois o Pastor queria nos mostrar que ao segui-Lo podíamos aprender a viver, e não apenas a morrer.

Na escuridão da noite não era possível saber onde estávamos. Mas para aquele que sabe para onde olhar, o Pastor está sempre perto, mesmo nas mais densas trevas. E somente Ele poderia sustentar o nosso interior quando todo o resto desaba, e fazer que mesmo no sofrimento o amor nos encontre.

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Campina do Orgulho

Acordei com os primeiros sons da manhã. Uma forte luz entrava pela... caverna!? A escuridão da noite não havia permitido ver onde estávamos. Mas na entrada da caverna havia uma figura que projetava uma longa sombra em nossa direção... Era o Pastor.

Naquela noite tive um sonho estranho, uma mistura de tudo quanto vivi nestes últimos dias. No sonho eu tentava consolar Segredo lhe

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dizendo: “Há muitas coisas que só o sofrimento pode nos ensinar”. Quando de repente o Pastor apareceu, tomou Segredo em Seus braços e disse: “Mas todas as coisas somente o amor pode curar!”

Pensava nisso enquanto voltávamos a caminhar, mas me sentia atordoada... Como sentimentos tão contraditórios podiam conviver juntos? A dor de Segredo me havia sensibilizado, mas o amor do Pastor me encantou.

E lá estava Segredo, bem junto ao Pastor... Mas ela estava diferente... No rosto em que só havia tristeza, agora existia um sorriso brilhante... As traições da vida que lhe ensinaram a se omitir por medo de sofrer, sucumbiram diante do amor do Pastor que a ensinou a viver. Parecia que seu sorriso estava dissipando as trevas do Vale da Humilhação... E logo isso realmente se tornou realidade, pois voltamos a ver o sol a brilhar em toda sua exuberância.

O calor matutino do sol me dava uma agradável sensação de preguiça. Não estava interessada na paisagem... Já havia vivido muitas emoções para tão poucos dias. Caminhava de olhos praticamente fechados, quase sorrindo, lembrando da maravilhosa transformação que Segredo teve. Neste instante

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fui despertada pelos gritos de admiração das ovelhas.

Diante de nós estava uma campina. Uma linda campina. Seu verde era deslumbrante... De uma beleza embriagante... Talvez o lugar mais bonito que já havia visto em toda minha vida. Era a Campina do Orgulho. A visão daquele lugar encantador falava diretamente à ambição no coração de algumas ovelhas, reforçando seu orgulho. Orgulho de fazer parte daquele rebanho. Orgulho da jornada que estavam fazendo. Orgulho de chegarem até aquele lugar tão diferente do deserto.

A Campina do Orgulho cercava dois grandes e maciços montes. Já havia ouvido falar neles, eram os Montes da Provação e da Salvação. Ah! Os montes... Os montes pareciam deslocados diante da beleza da campina: cobertos de pedras, com pouca vegetação, verdadeiros desafios ao otimismo.

Fiquei encantada ao perceber o quanto nosso Pastor era sábio em nos levar através da magnífica Campina do Orgulho... Estava desfrutando a paisagem quando Destaque gritou:

- Olhem! O que o Pastor está fazendo?Não conseguia acreditar. Mas Liberdade

logo respondeu:- Ele está indo para um dos montes!!!

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Era o Monte da Provação.- Quem Ele pensa que é? Com uma sombra de raiva na voz,

Destaque provocava as demais ovelhas.- Primeiro nos leva pelo Vale da

Humilhação e agora para o Monte da Provação!Destaque fez uma pausa de efeito e olhou

em volta esperando aprovação.- Até eu conheço um caminho melhor! –

completou Liberdade.Aquela conversa não me agradava, elas

nunca paravam de se queixar e questionavam sempre a ação do Pastor. Mas fiquei aliviada quando o Pastor resolveu descansar entre a Campina do Orgulho e o Monte da Provação, debaixo de uma grande sombra. Fiquei imaginando se Ele também não estava com dúvidas em trocar as delícias da campina pela dureza do monte... O que então eu não sabia era que o Pastor não iria compartilhar Seus planos enquanto nós estivéssemos agarradas aos nossos próprios esquemas, as nossas opiniões.

Mas na verdade outra coisa o preocupava: Liberdade, algumas ovelhas e Pureza... Pureza!? Seguiam pela campina. Elas iam ao encontro de uma ovelha de incrível beleza que estava a pastar. Atento, nosso Pastor pegou Seu cajado e, rapidamente, as reuniu junto com as

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demais. Foi a primeira atitude de “autoritarismo” que Ele teve com as ovelhas. Mas Liberdade fugiu pela campina.

Confusa, Pureza olhava para o Pastor numa mistura de incerteza e curiosidade, esperando alguma explicação. Então nosso Pastor apontou para a campina e mostrou a grande ovelha que estava pastando. De onde ela havia surgido?

Ela era magnífica! Uma ovelha como nunca havíamos visto. Com voz bastante calma o Pastor, disse:

- Estão vendo aquela ovelha no meio da campina? Parece sadia, feliz e amigável. Mas vejam o que há de errado com ela...

Olhei com mais atenção e vi, com horror, que era um lobo vestido com pele de ovelha, para nos atrair com sua aparência! Sua enorme e ameaçadora silhueta, disfarçada pela pele, era iluminada pelo intenso brilho do sol.

Se fez o mais completo silêncio. Todas tinham no rosto a mesma expressão de assombro e descrença. Então o Pastor concluiu:

- Jamais esqueçam: o que importa é o que se é por dentro, além do que os olhos podem ver...

Então este era o habitante da Campina do Orgulho! Um lobo que devora aqueles que querem por ali andar. E esta era a guia da

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Campina do Orgulho, a vontade própria. Liberdade havia se auto-elegido líder, sem nenhuma direção do Pastor, não para guiar, mas para dominar as ovelhas. Liberdade estava tão confiante em suas próprias forças e sabedoria que não havia percebido o devorador que a esperava.

Com tristeza no olhar, Pureza parecia assombrada, com o mesmo pavor manifestado em sua voz:

- Ah... Fiel. Como fui tola? E como o orgulho pode ser mortal! Como pude confiar em Liberdade? Poderia ter sido devorada! E o pior é que decepcionei o meu Pastor...

- Não se preocupe, amiga. É de nossa natureza fazer julgamentos baseados na aparência. E sempre existe um grande perigo em andar no orgulho de nossos próprios pensamentos. Mas vamos embora. Vamos seguir o Pastor.

Na Campina do Orgulho já tínhamos visto que era melhor ficar sob o Seu cajado, pois sempre havia um inimigo querendo matar e destruir. E o Pastor não permitiria que nenhuma de suas ovelhas se tornasse inchada de orgulho.

Enquanto caminhávamos para o Monte da Provação, não pude deixar de pensar na figura do Pastor parada à entrada da caverna e no lobo parado na campina. Simplesmente a sombra

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revelou o que o dia escondeu. O lobo estava tão visível, tão exposto, mas não o vimos como realmente era!

E o Pastor... O Pastor parado à entrada da caverna era apenas um vulto, uma sombra, mas resumia em si mesmo o significado da palavra futuro.

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Monte da ProvaçãoDeterminado, o Pastor começou a subir o

Monte da Provação. Fiquei feliz por ficar longe daquele lobo. E qual teria sido o fim de Liberdade? Ela nunca pensou duas vezes antes de fazer o mal ou antes de transgredir. Para Liberdade tudo era tão normal, mas a “liberdade” nem sempre é o melhor caminho a seguir.

Liberdade havia alimentado as suas necessidades de poder e prestígio, ainda que apenas com migalhas imperceptíveis de orgulho através das demais ovelhas. Agora o orgulho

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havia precedido sua destruição e seu espírito arrogante precedeu a sua queda.

Longe do lobo e próximo das pedras. Não pude deixar de notar como era difícil aquele caminho que o Pastor escolhera. A subida era estreita e sinuosa entre as rochas. O sol escaldante estava insuportável... Olhei com desconfiança para nosso Pastor:

- Será que Ele estava certo de ser este o melhor caminho para o novo aprisco?

Mas essa não era a pergunta correta a se fazer. Ela me lembrava muito Liberdade. Paramos para descansar e também para as que estavam atrás pudessem nos alcançar... Esta parada foi para mim como um banquete no meio do deserto.

- Até quando teremos que segui-lo?Apesar da provocação de Destaque,

Pureza guardava ainda o brilho da confiança no olhar, principalmente depois do incidente na Campina do Orgulho.

Voltei a observar o Pastor, queria ver se Ele demonstrava insegurança no caminho. Até mesmo pensei que Ele havia perdido o caminho entre as pedras. Mas logo se levantou e havia um incrível chamamento de misericórdia em Seu olhar para que todas o acompanhassem e subissem. Ele conhecia as durezas do Monte da

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Provação e não estava alheio ao esforço de suas ovelhas.

A estrada piorou... Mais pedras... Mais espinhos... Algumas ovelhas passaram resmungando baixinho perto de mim, sem nenhuma convicção. Tentei achar Pureza no meio das quase cem ovelhas, mas ela estava longe de mim. Todas nós estávamos passando pela mesma coisa! Nós todas estávamos sendo testadas! Todas nós agora sabíamos como era caminhar por um monte duro e quente.

Mas será que Pureza tinha as mesmas idéias e desconfianças? Não, aparentemente não tinha. Ela se esforçava para ficar bem perto Dele e trilhar o caminho aberto pelos Seus passos. Já Destaque seguia as outras automaticamente.

Novas paradas... Velhas desconfianças... E cada vez que Ele começava a caminhar havia mais determinação em Seus olhos e mais decisão em Seus passos. O Pastor se mantinha fiel, em pedra após pedra, espinho após espinho, provação após provação, nos ajudando e providenciando o que precisávamos. Cada ovelha estava aprendendo que a provação jamais é fatal, porque o Pastor está ao seu alcance.

O sol já estava a pique... A canseira e o calor haviam se multiplicado... Nossa esperança estava se evaporando naquele calor... E a

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estrada cada vez mais dura e difícil... Era mesmo uma provação.

Não conseguia entender. Estava seguindo o Pastor fielmente, me aprofundei em conhecer Seu coração, o desejei com fervor. Mesmo assim essa provação caiu sobre mim sem nenhum motivo. Agora a minha alma estava abatida como nunca vi igual na vida.

A subida pelo Monte da Provação estava me fazendo pensar que esta era a pior crise que passei até agora. Na verdade estava me convencendo que nunca enfrentei uma coisa dessas. Mas era mais do que uma longa provação física. Eu tinha dúvidas.

Melhor que ninguém eu sabia que o mundo era uma batalha. Sabia também que o Pastor era o único que conhecia o caminho para o Aprisco Celestial. Algo dentro de mim dizia que tudo isso cooperava para o meu bem, pois acreditava que não havia sido comprada sem motivo.

Subia passo a passo, devagar, pesadamente, como se carregasse um fardo. Me senti um pouco tonta, a vista embaraçou, mas focalizei os olhos no Pastor à minha frente e fiz o possível para prosseguir. Tinha que prosseguir, pois sabia que a recompensa é ir até o fim! Lutei para continuar em pé, pois queria chegar até onde estava o Pastor.

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Mas por que havia incredulidade em mim? O Pastor não estava ali também? Ele não tem visto minhas lágrimas? Qual prova mais, de que Ele estava comigo na minha provação, eu precisava? Já estava evidente que Ele não nos abandonaria. De alguma forma eu sabia que haveria outras recompensas por percorrer todo o caminho, e a principal delas era a de ter o Pastor conosco.

Sim, o Pastor desejava a nossa felicidade. Disto eu não podia duvidar! Ele queria que nós fossemos quebrantadas, havia nos trazido ao Vale da Humilhação, agora nos fazia escalar o Monte da Provação... Tudo isso para que pudesse nos levar mais para o alto, ao Aprisco Celestial.

Pureza também já não seguia o Pastor tão de perto... Ela estava quase sem fôlego, com os olhos arregalados, respirando o mais fundo que conseguia... O ar que respirava parecia arder em seus pulmões e suas pernas pareciam querer desmontar quando ela chegou ao topo. Ela evitava alguns trechos difíceis por onde o Pastor passava, seguindo Destaque.

Pureza, essa não é a melhor estratégia, garota! No Monte da Provação eu estava aprendendo a desistir de enfrentar as durezas da vida com minhas próprias forças. Quando estava no deserto eu já havia tido mais do que o suficiente de incertezas, de medo que não

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termina, de dúvidas de nunca saber o que fazer. Minhas forças estavam sendo consumidas. Cheguei ao ponto em que confiava unicamente nEle para que tudo cooperasse para o meu bem.

Sabia que o objetivo do Pastor não era nos levar à uma vitória, como se ela fosse simplesmente uma experiência única. Também não era para nos ensinar a manter a fé durante esta provação. Outra provação viria com o tempo. E talvez fosse um tipo de teste completamente diferente.

O objetivo era aprender a viver no Seu descanso, de tal forma que se tornasse um modo de vida. Ele queria que fossemos sustentadas por Sua Paz e segurança em todos os nossos sofrimentos, sabendo que nosso Pastor é tocado pelos sentimentos de nossa fraqueza.

Foi quando em uma curva apareceu um grande planalto!

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Planalto da RevoltaO Planalto da Revolta era tão lindo que

fazia inveja à Campina do Orgulho. Revolta, inveja e orgulho é uma combinação perigosa e ficava entre os Montes da Provação e da Salvação. Ali havia muitas ovelhas desgarradas e sem pastor, que se distanciavam por aquele caminho largo e espaçoso...

Estiquei o máximo que minha altura permitia, vi que lá na frente havia muitas rochas onde se escondiam serpentes e feras. E depois das rochas um grande abismo. De repente senti

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todo meu corpo congelar. Um pensamento cortou minha mente.

- Pureza!Eu tinha que encontrá-la e lhe avisar dos

perigos! Mas era tarde... Atônita vi Pureza, com os olhos perdidos no infinito, seguir Destaque e entrar naquele planalto. Antes de Destaque entrar no planalto, ela percorreu todo o rebanho e assediou algumas ovelhas. Para quem só havia encontrado pedras e canseira no Monte da Provação, o Planalto da Revolta era muito atrativo.

Como não entrar ali? Era inevitável Destaque influenciar Pureza, pois o poder fluía dela de forma natural. E agora eu via que Pureza não havia aprofundado raízes de confiança no Pastor durante a provação. Pensei em correr atrás dela e buscá-la, mas resolvi não ir, pois o Pastor poderia pensar que eu queria também me desviar.

Só podia gritar desesperada:- Pureza... Pureza!!! Volte...Foi quando o Pastor correu atrás dela e,

com a curva do cajado, pegou Pureza pelo pescoço e a trouxe para junto das demais. Uma dor horrível e penetrante tomou conta de seu rosto. Então correu desesperada, sem saber qual era o perigo, de onde vinha e onde poderia se esconder.

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Procurei Destaque, mas ela havia desaparecido entre as rochas. De repente um grito gelou o meu sangue. Era Destaque.

Ela saiu correndo de trás das rochas seguida por uma enorme fera... Seus pés se agarravam com desespero ao chão, querendo correr mais rápido, lançando torrões de terra ao ar... Seus olhos fitavam angustiados tudo, mas eram como se não vissem nada.

A fera se aproximava rapidamente! Estávamos atônitas, incrédulas, diante do espetáculo de horror. Sabíamos o que iria acontecer. Era inevitável...

Lágrimas corriam dos olhos de Destaque... Saliva escorria da boca da fera... O terror estava estampado na face da pobre ovelha... A ganância era vívida na terrível face da fera... A cada passo a fera se aproximava mais... A cada passo Destaque gritava mais...

Foi quando a fera saltou sobre Destaque. Prendi a respiração e tudo que consegui ouvir foram as fortes batidas do meu coração... A fera no ar, as garras à mostra, a boca aberta, os dentes brilhando, os olhos na vítima... Triste... Horrível o que a revolta pode fazer com alguém!

Mas antes que a fera tocasse o corpo da ovelha, uma incrível força a arremessou para trás, a fazendo cair inerte a alguns metros! Destaque passou correndo entre nós, nos

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atropelando... Mas naquele momento só tínhamos olhos para o Pastor...

Ele estava ainda parado, com os músculos enrijecidos, segurando o cajado na mesma posição que havia atingido a fera. Tendo certeza que a ameaça foi anulada, abaixou o ameaçador cajado, se virou e caminhou em nossa direção.

Seu rosto estava marcado por uma preocupação incomum. Seus olhos procuravam uma das ovelhas. Quando encontrou Destaque, era possível ver o alívio em Seu rosto. Sem dizer nenhuma palavra, a colocou em Seus ombros e começou a subir o Monte da Salvação.

Destaque estava vivendo a glória da entrega. Ela estava abandonando todos os seus planos e vontades, porque havia experimentado as terríveis conseqüências de caminhar segundo sua própria ambição. Destaque estava se entregando inteiramente à vontade do Pastor. Ela estava se tornando a criatura mais linda que havia visto em muito tempo.

Naquele momento, a incomparável ternura do Pastor dispensava comentários... Sua ternura era mais profunda que palavras, pensamentos ou emoções... Seu amor era maior que o orgulho ou a revolta... Ele estava levando intenso e agudo arrependimento para dentro dos nossos corações. Mesmo assim existiam ovelhas que se mantinham firmes em sua rebelião, cheias de orgulho destrutivo. Elas se tornaram cegas,

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ficando insensíveis ao perigo no qual se colocaram.

A vida é a única oportunidade que temos para amar. E o Pastor estava mostrando que o amor é a única oportunidade que temos para viver. Agora estávamos confiantes que o Pastor não nos permitirá passar por nenhuma provação sem prover um modo de nos apoiar. Teríamos no Pastor todo poder e autoridade para derrubar toda fortaleza: toda dúvida, todo medo e toda incredulidade.

Em uma grande provação, nenhuma de nós precisaria se preocupar se seria forte ou frágil. Nosso Pastor nos daria a Sua Graça quando necessário.

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Monte da SalvaçãoContinuamos a marcha pelo Monte da

Salvação. Tentei me aproximar de Pureza, mas ela me evitava. Estava cabisbaixa, triste e envergonhada. Sua tristeza era tão grande que me contagiou. Pureza suspirou fundo... Derramando lágrimas de vergonha e mágoa, disse: - Existe uma dor em meu peito... É uma dor profunda... Uma dor que rasga a alma...

Ela falava sobre a dor do arrependimento.

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- Somente hoje eu já decepcionei e magoei nosso Pastor duas vezes! Uma na Campina do Orgulho e outra no Planalto da Revolta...

- Pureza! Não traga maior dor ou pesar ao seu coração! É só você olhar ao redor e você verá dramas e desastres iguais ao seu. Todas passamos por momentos de dúvida, de incerteza, de instabilidade!

- Mas por que eu não consigo fazer ou falar o que realmente é certo? Como posso deixar essas coisas me seduzirem de forma tão rápida? Por que sempre foi mais fácil condenar o mal dos outros, do que fazer o nosso bem?

- Amiga, qualquer uma de nós pode falhar miseravelmente. Tenho certeza que o amor do Pastor por você neste momento é maior do que nunca! Pois a quem Ele ama, Ele corrige. Foi uma correção de amor.

Eu sabia que ela estava me ouvindo:- Aquilo que aos seus olhos pode parecer

Ele te machucando, na verdade é Ele te amando!

Pureza apenas se afastou de mim. Deixei a ir. Era melhor ela ficar um pouco sozinha. Já começava a escurecer quando chegamos ao alto do Monte da Salvação. Melhor seria ela não ir muito longe.

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Ali o Senhor do Monte da Salvação havia mandado fazer um abrigo para os viajantes. Entramos neste simples, porém aconchegante aprisco, e comecei a procurar Pureza no meio do rebanho.

Não conseguia encontrá-la! Meu coração disparou. Estava prestes a chamar nosso Pastor quando Ele passou ao meu lado com o rosto marcado pela preocupação. Ele chamava por Pureza:

- Pureza! Onde está você minha ovelhinha?

Passados alguns momentos de pesado silêncio, ouvi um barulho na distante escuridão. Era Pureza, que chorava no meio da noite. O Pastor também havia ouvido. Ele pegou o Seu cajado e a Sua bolsa, verificou se todas estavam seguras no abrigo e sumiu nas trevas, monte abaixo atrás de Pureza.

Pureza havia chegado a um ponto de quebradura, a um momento definitivo de ruptura. Ela tinha se esforçado para viver de forma fiel, diligente, em seguir a voz do Pastor. Ela provou várias vitórias no passado e amava profundamente o Pastor. Mas agora se quebrou em profundidade e estava ferida.

Fiquei imaginando como Pureza poderia estar: ferida, toda encolhida dentro de um buraco, tremendo de frio, com o focinho entre as patas... Sabe, às vezes acho que fazemos

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algumas coisas impensadas, pois esquecemos que somos todas mortais.

Dormi bem naquela noite. Haveria alguma esperança para qualquer uma de nós nestes dias de provação, sem a misericórdia do Pastor? Agora eu olhava para trás, para os momentos de provação e me envergonhei de como eu havia reagido. Por que não me comprometi mais em confiar no Pastor, independente do que acontecesse? Por que abriguei alguns pensamentos que o Pastor não estava cuidando de nós? Agora eu conseguia considerar o final trágico da alma incrédula de Liberdade. A sua última companhia antes de partir para a eternidade foi com um lobo. Pureza vai ficar bem. Eu tinha certeza que o Pastor resolveria tudo enquanto eu dormia.

Ao amanhecer o Pastor surgiu com o corpo flácido de Pureza em Seus ombros. O Pastor havia tratado de suas feridas. Ela não oferecia nenhuma resistência.

Nunca havia sido difícil amá-la, mesmo quando não possuía aqueles olhos que agora se iluminavam quando sorria. Disse repentinamente emocionada:

- Você viu, Fiel? Ele passou a noite atrás de mim e subiu o monte comigo nas costas!!!

- Pureza... Ele sempre esteve conosco em todas as nossas provações. A vida é muitas vezes uma batalha: mas temos motivos para

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levantar a nossa cabeça, erguer os nossos olhos tristes e lembrar das coisas maravilhosas que o Pastor fez por nós!

- Ele transformou mais do que o choro desta noite em alegria. Ele transformou a noite de uma vida em dia de festa! Mas o que posso dar ao Pastor para agradecer todo este amor que nunca mereci? – me perguntou Pureza.

- O que você tem de mais importante...Pureza me deu um sinal quase invisível,

com um sutil movimento de olhos. Ela havia entendido: daria a sua vida. Ela estava pronta para desistir de uma vida de medo do futuro, de altos e baixos. Uma vida de achar que nunca está agradando o Pastor. Ela estava pronta a se oferecer como sacrifício vivo: uma entrega incondicional da vontade, do dirigir da vida.

Compreendi que nossas vidas daquele momento em diante, teriam realmente um novo dono. Não porque Ele havia nos comprado. Mas porque havíamos descoberto que Ele era o único que poderia cuidar de nossas vidas melhor que nós mesmas. Somente o Pastor possuía o poder, a autoridade, as orientações que precisávamos.

Fiquei a imaginar, quem seria aquele Homem que dava a vida por suas ovelhas? Quem era aquele com um coração despreocupado consigo mesmo, pronto para

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consolar e cheio de compaixão? Tive a certeza que Ele era o meu Bom Pastor e que nada, nada iria me faltar...

Meu desejo agora era segui-Lo de perto para conhecê-Lo melhor. Pois sabia que não importava o lugar ou a situação: nEle eu poderia confiar.

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Aprisco CelestialEstávamos mais perto do que podia

imaginar do Aprisco Celestial! A jornada havia sido mais curta do que havíamos pensado.

De qualquer forma ela tinha sido um combate. Viajar para o Aprisco Celestial significa batalhas, desgastes, ferimentos e um inimigo feroz disposto a nos destruir. É saber que subitamente a luta virá sobre nós, e seremos pressionados além do limite, enfrentando provações que nunca poderíamos cientificamente entender.

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Mas a breve, passageira e momentânea tribulação que havia sofrido nesta jornada, não se comparava com o peso e esplendor de Glória eterna que viveria. E tudo o que eu queria durante a jornada era me manter limpa, remida e inabalável.

Toda ovelha que chega ao Aprisco Celestial é chamada pelo Pastor. Fiquei imaginando quantas ovelhas haviam recusado o convite do Pastor. Outras inumeráveis companheiras experimentaram e tinham profunda consciência das curas e restaurações alcançadas ao seguirem o Pastor, mas mesmo assim ficaram para trás. Porém nós estávamos chegando, vindas de todas as direções para ganhar o privilégio de entrar por aqueles portões.

Até oscilamos durante a provação e quase desfalecemos. Mas em meio a tudo isso, nós guardamos a fé no Pastor.

Como? Foi porque permitimos que os nossos sofrimentos nos direcionassem para o Pastor. Como resultado, nossa confiança nEle somente aumentou. Nós percorremos o caminho para o Aprisco Celestial testemunhando a bondade e o poder de libertação do Pastor.

Ao chegarmos perto do Aprisco Celestial, fomos iluminadas por uma luz muito forte, mas cheia de calor e reconfortante. Meus olhos pareciam estar sendo atraídos por um imã.

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Aquela luz maravilhosa permeava todas as coisas.

O Aprisco Celestial não se parecia em nada com tudo que já havia visto. Era um lugar lindo, brilhante... Todas as cores do mundo eram apagadas em comparação com as cores do Aprisco Celestial. Que música era aquela? Cativava os ouvidos, encantavam a alma, preenchia todo o ser. Sabia que atrás daquelas portas estava escondido o que sempre procurei e revelava o que nunca encontrei.

Mas logo que entrei no Aprisco Celestial eu deixei de estar maravilhada com a beleza daquele lugar. De repente não estava mais interessada em seu rio de águas claras como um cristal. Nem ao menos desejava saber se conhecia outras ovelhas que também estava ali. Ou quem não estava por não ter conseguido fazer a jornada.

Nada disso importava. Porque naquele lugar o Pastor estava diferente. Na verdade eu passei a ver o Pastor como Ele realmente era. Durante toda nossa jornada, tudo o que tive foi um vislumbre de quem Ele era. Agora, no Aprisco Celestial, o Pastor era tudo! Nada mais interessava ou atraía mais do que a presença gloriosa do Pastor.

De fato havia sido uma grande honra seguir o Pastor. Mesmo sendo totalmente dependentes Dele, nos tratava como se

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fossemos raros presentes. Sua recompensa havia sido ver que a cada dia parecíamos mais com Ele...

Mas agora era diferente. Sua presença preenchia tudo, satisfazia tudo, transbordava tudo. A presença do Pastor consumia tudo o que havia no Aprisco Celestial. O Pastor havia se transformado na plenitude das realizações. NEle o tempo presente se eternizava.

Diante de Sua presença minha alegria e a percepção da vida foram ampliadas com revelações renovadas e inimagináveis. DEle fluíam ondas de paz, alegria e amor que excediam a todo entendimento.

Ah, se todo mundo pudesse por um segundo ter um vislumbre daquela Presença... Eles abandonariam seus planos, seus esquemas e correriam apaixonados atrás do Pastor. Deixariam seus argumentos, seus modos de fazerem as coisas, seus estilos de vida. Deixariam tudo pelo poder gracioso daquela Presença.

Sei que existem muitas ovelhas a serem amadas, chamadas e perdoadas. Sei que seu rebanho será de tantos como a areia da praia. Por isso em breve, Ele estaria lá fora, em algum lugar convidando:

- Sigam após mim pelo caminho do Aprisco.

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Este arquivo de dados é propriedade exclusiva de Eliy Wellington Barbosa da Silva. Ele não pode ser alterado ou editado de nenhuma maneira, nem ser distribuído em partes ou em sua totalidade. Isto inclui todo o seu conteúdo com a exceção de umas poucas e breves citações.

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Outros títulos disponíveis:

::Tire Deus do Armário:: As Cartas de Amor de Jesus

:: Diabo, Você Não Pode Caminhar Sobre Mim

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