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Juliana Ribeiro da Silva BevilacquaRenato Arajo da Silva
em Artes
Juliana Ribeiro da Silva BevilacquaRenato Arajo da Silva
em Artes
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Introduo: Emanoel Araujo5
Apresentao 7
Luba 8
Tchokwe 10
Iaca 12
Songye 14
Iorub 16
Ejagham 22
Igala 24
Bamileque 26
Bamum 28
Attie 30
Bobo, Bwa 32
Dogon 34
Bamana 36
Questes para reflexo 38
Dilogos entre obras 46
Glossrio 50
Bibliografia 52
B571BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva; SILVA, Renato Arajo da. frica em Artes. So Paulo: Museu Afro Brasil, 2015. 56 p. : il. ; 31 cm. Bibliografia. ISBN: 978-85-63972-15-61. Arte Africana. 2. Museu Afro Brasil. 3. Guia para Professores. 4. Mscaras. 5. Esculturas. I. Bevilacqua, Juliana Ribeiro da Silva. II. Silva, Renato Arajo da. III. Ttulo CDD 709.6
Esta publicao parte integrante do EDITAL DE CONCURSO PBLICO No 01 /2013 III IDEIAS CRIATIVAS ALUSIVO AO DIA NACIONAL DA CONSCINCIA NEGRA 20 DE NOVEMBRO, SELEO PBLICA PARA APOIO A PROJETOS ARTSTICOS E CULTURAIS da Fundao Cultural Palmares conforme Decreto de 25 de fevereiro de 2013, publicado no Dirio Oficial da Unio, de 26 de fevereiro de 2013, nos termos, no que couber, da Lei no 7.668/1988, do Decreto no 6.853/2009, observadas as disposies da Lei o 8.666/93, na Portaria Ministrio da Cultura no 29/2009.
Capa: detalhe da Mscara placa (Nwantantay).Povos Bobo, Bwa; Burkina Faso.Acervo Museu Afro Brasil.
Verbete Estatueta Songye (p.14):Prof. Dr. Marta Helosa Leuba Salum (Lisy)
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A frica em suas Obras de ArteEmanoel Araujo*
Mais de 110 anos se passaram desde que o antroplogo alemo Leo Frobenius fincou seus ps na frica pela primeira vez e ela, por meio de suas obras plsticas, continua to admirvel, inusitada e misteriosa quanto antes O que o antroplogo viu ali o deixou comovido Para tanto! Nenhum olhar estrangeiro vislumbraria aquelas profuses de matrias e de formas de maneira indiferente A viso daqueles monumentos divindade real que eram as cabeas comemorativas de reis em If, em seu exorbitante naturalismo, atingiu de assombro aquele que viria a ser professor honorrio da Universidade de Frankfurt e fundador do Museu de Etnologia da mesma cidade Tamanho foram o espanto e a admirao que Frobenius props que aquelas cabeas, feitas em maravilhoso bronze, na complexa tcnica da cera perdida, no podiam ter sido elaboradas por africanos
O que se conhecia de arte africana at ento, era o que traziam os olhares modernistas com as mscaras da frica que viam no Museu de Etnografia do Trocadero, cheias daquilo que consideravam um primitivismo e que era, na verdade, o resultado de sculos e sculos da vibrante tradio plstica africana da abstrao O continente africano viu emergir civilizaes ocultadas hoje pelo terror da histria que expressaram largamente o mistrio da vida atravs da expresso plstica e do estabelecimento de uma tradio artstica calcada na verdade utilitria e mgica do cotidiano Mas foi o olhar imperialista e os impulsos tirnicos das potncias ocidentais que quiseram relegar a arte africana ao quadro funcional, religioso e social
Essa arte produzida por um ato livre de criao Dir-se-ia que ela contemplou exatamente os interesses modernistas porque ela tinha a capacidade de fazer a mediao, por um lado, entre o mundo perceptivo dos objetos com suas formas regulares e irregulares e, por outro, a profuso da imaginao humana; mediao esta em que so indistintos na experincia o sagrado e o profano Esta arte experimenta a liberdade dentro de um rigor da tradio, que no acadmica, mas no deixa de ter sua rigidez porque nos seus cnones ela voltada para o domnio de um outro mundo o respeito absoluto pelo mundo da ancestralidade Esta arte tambm universal na medida em que atinge essa liberdade criadora que o ato consciente do artista ao produzir a obra E eu disse aqui a obra e no sua obra, porque aquela arte que foi produzida no pertence ao artista que a produziu seno a todos Aquela obra pertence a seu povo e podemos dizer, por extenso, que aquela obra pertence humanidade
* Emanoel Araujo (1940), artista plstico, ex-diretor da Pinacoteca do Estado de So Paulo e ex-Secretrio da Cultura do Municpio, o criador e Diretor do Museu Afro Brasil.
Mscara Bwa, Burkina Faso, dcada de 1980Christopher D. Roy
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1 Ashanti
2 Attie
3 Baga
4 Bamana
5 Bamileque
6 Bamum
7 Baul
8 Bobo
9 Dan
10 Dogon
11 Edo
12 Ejagham
13 Fali
14 Fang
15 Fon
16 Iaca
17 Igbo
18 If
19 Igala
20 Iorub
21 Kongo
22 Kuba
23 Landuma
24 Luba
25 Maconde
26 Malinque
27 Mangbetu
28 Mossi
29 Nafana
30 Pende
31 Punu
32 Senufo
33 Songye
34 Suku
35 Tchokwe
36 Tiv
37 Vili
38 Yombe
Mapa da frica contemplando os povos representadosno acervo do Museu Afro Brasil
Apresentao
O acervo de arte africana do Museu Afro Brasil, Parque Ibirapuera So Paulo, conta atualmente com cerca de 100 obras So mscaras, estatuetas e outros tipos de produes de diferentes povos e pases da frica, que permitem ao visitante ter um breve contato com a riqueza artstica e cultural existente no continente
A maioria das obras africanas do acervo do Museu foi adquirida aps o fim do perodo colonial na frica (segunda metade do sculo XX) e muitas delas j foram produzidas para serem vendidas em mercados ou galerias Esse fato no invalida, entretanto, a importncia dessas obras no que diz respeito s suas caractersticas estilsticas e formais e aos contextos de origem aos quais elas remetem
Nesta publicao selecionamos 15 obras expostas no Museu Afro Brasil O critrio de seleo levou em considerao oferecer ao leitor no apenas um contato com obras de diferentes povos da frica, mas props tambm oferecer uma introduo aos diversos tipos de produes que englobam mscaras, estaturia, e ainda os chamados objetos de corte ou relacionados ao poder do chefe ou do rei
Sendo assim, compem esta seleo obras significativas para que se possa introduzir, por meio das artes, jovens e adultos cultura africana tradicional Esse livro serve como um convite ao professor e aos demais interessados explorarem o rico universo da produo artstica da frica e esperamos que esta publicao seja apenas um ponto de partida
Juliana Ribeiro da Silva BevilacquaRenato Arajo da Silva
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Os Luba habitam a provncia de Shaba, no sudeste da Repblica Democrtica do Congo So conhecidos pela preservao de seus relatos orais, poesia e artes visuais, principalmente aquelas ligadas realeza, tais como emblemas e esculturas Dentre esses artefatos destaca-se a produo de elaborados bancos, objetos que se imagina fazerem parte exclusivamente do mobilirio, mas na verdade so um dos mais importantes emblemas da realeza luba Em muitos casos, eles so tidos como um receptculo do esprito de um rei j falecido, e estes no tm, portanto, uma funo prtica Os bancos so emblemas to potentes que muitas vezes so mantidos em locais secretos Ele geralmente mostrado ao pblico apenas em raras ocasies, como num cortejo, em que carregado e exibido pelos membros da corte ou num momento de investidura de um rei, onde aparece como mais uma dentre muitas insgnias do seu poder
H pelo menos dois tipos de bancos entre os luba: um em forma de caritide, ou seja, com a presena de uma ou duas figuras femininas sustentando o assento; e o outro, composto geralmente de duas plataformas redondas, uma na parte superior e outra em sua base, ligadas por quatro suportes curvados e enfeitados com padres geomtricos entalhados
Os bancos em caritide, em que chama ateno a figura feminina, esto relacionados ao esprito de importantes dirigentes do passado Mas para o banco se tornar efetivamente um receptculo do esprito de um chefe, a mulher ali esculpida precisa apresentar os atributos de beleza que potencializaro a comunicao com o mundo sobrenatural, como as escarificaes, penteados elaborados e expresso de serenidade e sabedoria Todos esses atributos podem ser observados neste banco que faz parte do acervo do Museu Afro Brasil A figura feminina representada porta dois braceletes com marcas tpicas do povo luba e revela ainda, em torno do umbigo, as escarificaes, que so cicatrizes feitas na pele, marcadores de identidade e hierarquia
Russuna e sua esposa.Verney Lovett Cameron. Across Africa.Londres: Daldy, 1877. Vol. 2
Banco Povo LubaRepblica Democrtica do CongoMadeira35,5 x 26 x 21,7 cm
Banc
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Conhecidos tradicionalmente como exelentes caadores e escultores, os tchokwe habitam atualmente em Angola, Repblica Democrtica do Congo e tambm na Zmbia O seu lugar de origem, no entanto, est localizado em Angola, onde os rios Kwango, Kassai e Lungwe-Bungo tm as suas nascentes
As mscaras Chihongo e Pwo so as mais conhecidas dos tchokwe e as mais apreciadas nos museus e colees privadas ao redor do mundo A mscara Pwo costumava representar uma mulher madura que conseguiu provar a sua fertilidade ao ter uma criana Mais recentemente, no entanto, essa mscara passou a representar, possivelmente por influncia europeia, uma moa jovem e o desejo de ter muitos filhos
A mscara Pwo apresenta mltiplas facetas: pode representar uma figura feminina em geral, com seus traos caricaturais, ou secretamente ser o retrato
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