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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA Núcleo de Prática Jurídica - NPJ/UCB Unidade de Taguatinga EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE TAGUATINGA/DF Processo nº 2009.07.1.025859-8 Universidade Católica de Brasília – Campus I -QS 07, Lote 01, EPCT Águas Claras – Taguatinga – DF – CEP 71.966-700 Fone: (61) E- mail: @ucb.br

Alegações finais por memoriais - Modelo

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE TAGUATINGA/DF

Processo nº 2009.07.1.025859-8

LUCAS GOMES NUNES, já devidamente qualificado nos autos em

epígrafe, vem respeitosamente à presença de Vsa. Excelência, por intermédio do Núcleo

de Prática Jurídica da Universidade Católica de Brasília – NPJ/UCB, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS

para tanto, pretende-se aduzir as razões e os fundamentos explanados a seguir.

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Trata-se de denúncia contra Lucas Gomes Nunes incurso nas penas do

artigo 157,§2º, inciso II, artigo 307, ambos do Código Penal Brasileiro e do artigo 1º, da

Lei nº 2.252/54, atual artigo 244B, da Lei nº 8.069/90.

A exordial acusatória de fls. 02/05 está nos seguintes termos:

No dia 22 de junho de 2009, entre 11h20 e 11h30, na QSD 07, Praça Vila Matias, Taguatinga Sul/DF, LUCAS GOMES NUNES, agindo de maneira livre e consciente, em unidade de desígnios e divisão de tarefas com os adolescentes HUGO CÉSAR MARTINS e LUKAS VITÓRIO DA CUNHA OLIVEIRA, subtraíram, para proveito de todos, mediante grave ameaça, um aparelho de telefone celular, marca Motorola, modelo Z-03, um boné, sem marca e modelo, cor preta, e uma jaqueta, marca Umanno, cor cinza, todos de propriedade da vítima DANYLO MATHEUS DE LIMA SANTOS.

Consta ainda que, nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima mencionadas, LUCAS GOMES NUNES, agindo de maneira livre e consciente, facilitou a corrupção dos adolescentes HUGO CÉSAR MARTINS e LUKAS VITÓRIO DA CUNHA OLIVEIRA ao cometer o crime de roubo contra DANYLO MATHEUS DE LIMA SANTOS em concurso com eles.

Consta, por fim, que, no dia 22 de junho de 2009, por volta das 12h30, no interior da DCA II, situada na QNM 2, conjunto F, casa 01, Ceilândia/DF, LUCAS GOMES NUNES, agindo de maneira livre e consciente, atribui-se falsamente a identidade de seu irmão, o adolescente SAMUEL GOMES LIMA, para obter vantagem em proveito próprio.

Apurou-se que a vítima DANYLO acabara de sair do colégio e caminhava pela via pública quando foi abordado pelo denunciado LUCAS GOMES NUNES, pelos adolescentes HUGO CÉSAR MARTINS e LUKAS VITÓRIO DA CUNHA OLIVEIRA, e por um quarto indivíduo ainda não identificado, os quais anunciaram tratar-se de um assalto, informando que estavam armados e que se chamasse a polícia seria bem pior.

O acusado LUCAS e seus comparsas, então ordenaram a DANYLO que lhes entregasse os bens acima descritos, o que, diante da intimidação decorrente do anúncio de que estavam armados, foi atendido pela vítima.

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Em seguida, o denunciado e os demais evadiram-se rapidamente do local, mas a Polícia Militar, acionada de imediato, conseguiu detê-los, obtendo êxito, ainda, em recuperar o boné e a jaqueta que haviam sido subtraídos.

Durante a ação da Polícia Militar, o acusado LUCAS, com a finalidade de evitar sua prisão em flagrante, atribui-se falsamente a identidade de seu irmão, o adolescente SAMUEL GOMES LIMA. Diante disso, foi encaminhado à DCA II, onde, também com a finalidade de evitar sua prisão em flagrante e as demais conseqüências penais, novamente atribui-se de modo declarações com tal nome (fls.16). A atribuição da falsa identidade somente foi descoberta posteriormente pela equipe técnica do CESAMI, que já conhecia o denunciado, e comunicada à 2ª Vara da Infância e da Juventude (fls.59).

O réu LUCAS GOMES NUNES, ao cometer o crime de roubo em concurso com os adolescentes HUGO CÉSAR MARTINS, nascido em 11 de setembro de 1993, e LUKAS VITÓRIO DA CUNHA OLIVEIRA, nascido em 18 de junho de 1994, ambos menores de 18 anos, facilitou-lhes a corrupção

A denúncia foi recebida às fls. 103/105.

O denunciado foi citado às fls. 144, apresentou resposta à acusação às

fls. 147/148.

Na fase do artigo 402, do CPP, as partes não apresentaram requerimento

conforme fls. 171.

O Ministério Público apresentou alegações finais às fls. 178/183.

É o relatório.

DA CORRUPÇÃO DE MENORES

O Órgão do Ministério Público argüiu que por praticar crime juntamente

com os adolescentes Hugo e Lukas, o réu Lucas Gomes Nunes facilitou a corrupção dos

adolescentes. Por essa razão, incursionou nas penas correspondentes ao crime que, na

ocasião era tipificado no artigo 1º, da Lei nº 2252/54, e que agora encontra-se previsto

no artigo 244B, da Lei nº 8069/90.

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O Parquet entende que o crime de corrupção de menores é um crime

formal, não necessitando da demonstração da corrupção ou de estar ou não o menor

inserido na seara criminosa.

Contudo, pela lição de Guilherme Nucci, trata-se de crime material,

pois é necessária a demonstração de que o menor se corrompeu moralmente. Se o menor

já for corrompido moralmente, haverá crime impossível.

No caso em tela, é evidente que os citados adolescentes já eram

moralmente corrompidos senão vejamos:

No interrogatório do réu às fls. 175/176. Dada a palavra à Defesa, o

denunciado respondeu que “Lukas tinha passagem pela DCA e Hugo já havia ficado

internado no CESAMI”.

Sobre o histórico de vida de Hugo, destaca-se a seguinte passagem da

sentença de fls. 135/141:

No que pertine às suas condições pessoais, verifica-se que o mesmo registra outras graves incidências por roubo, furto e porte e uso de substância entorpecente, já tendo recebido medidas sócio-educativas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade. Contudo, se envolve em novas infração grave contra o patrimônio, o que demonstra não só a sua persistente indiferença para com o bem alheio, como, outrossim, a completa insuficiência das medidas anteriormente aplicadas, além do que caracteriza um nítido estado de tensão e conflito do adolescente com a lei e uma renitência de sua parte em se enquadrar às regras ordinárias do convívio social.

Ainda em análise às suas condições pessoais, segundo consta do relatório social do CESAMI (fls. 93/98), há uma enorme desestrutura do núcleo familiar em que o adolescente se encontra inserido, permeada de conflitos com sua genitora e padrasto, o que faz “com que o adolescente não se sinta pertencido ao seu sistema familiar recorrendo a pessoas envolvidas com a criminalidade”. A própria genitora confidencia que “não tem conseguido ser figura de autoridade e impor limites ao adolescente” que, assim, se encontra evadido da escola e passa a “maior parte do tempo nas ruas fazendo uso de drogas e se envolvendo em atos ilícitos”.

Destaca-se que Hugo tem um grande histórico de passagens pela 2ª Vara

da Infância e da Juventude, conforme consta das fls 74/76.

Desta forma, é patente que não houve dolo em relação a Lucas Gomes

Nunes em corromper os adolescentes Hugo e Lukas. A jurisprudência é uníssona em

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afirmar que não há crime culposo de corrupção de menores, só admitido a modalidade

dolosa. Senão vejamos a seguinte jurisprudência:

PENAL. MOEDA FALSA. PROVAS PRODUZIDAS EM SEDE INQUISITORIAL. CONFISSÃO DO RÉU. RETRATAÇÃO. VALIDADE DAS PROVAS. CORRUPÇÃO DE MENORES DO ART. 1o, DA LEI Nº 2.252/54. CONCURSO DE CRIMES. 1. A deficiência na defesa do réu consubstancia-se em nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da efetiva e concreta demonstração do prejuízo sofrido pelo acusado Eric em decorrência da má atuação de seu defensor o que, na hipótese, não se operou, tendo em vista em que se constata o desempenho satisfatório do patrono. 2. A assistência de advogado no interrogatório em sede policial não é obrigatória, devendo, entretanto, a autoridade policial dar ciência ao interrogado de seus direitos constitucionais, sendo do acusado, todavia, a demonstração do não cumprimento dos preceitos constitucionais, não bastando a mera alegação de descumprimento para eivar de nulidade o auto de prisão em flagrante. 3. A confissão efetuada pelos acusados, embora retratada em Juízo, constitui prova válida da autoria, uma vez que não está isolada dos demais elementos contidos nos autos, pois foi corroborada pelos depoimentos dos policiais que efetivaram a prisão em flagrante, do comerciante que recebeu as cédulas falsas, bem como do menor que os acompanhava. 4. Não obstante o réu Sebastião ter participado da introdução da moeda falsa junto com o réu Eric e o então adolescente Evaldo, de 17 anos à época, não há prova de que houve dolo da parte de Sebastião na corrupção do menor, o que afasta a tipicidade de sua conduta, uma vez que o crime não apresenta a modalidade culposa. 5. Verificada a existência de concurso de material, e não de concurso formal, entre os crimes de corrupção de menores e introdução de moeda falsa perpetrados pelo réu Eric. 6. Incabível a majoração da pena-base imputada ao réu Sebastião no que se refere ao crime de moeda falsa, uma vez que o julgador determinou o quantum ideal por meio de fundamentada exposição, individualizando-a por meio da análise de todos os elementos, considerando as circunstâncias positivas e negativas, não há reparo a se fazer no estabelecido, pois dentro do disposto pelo art. 59 do Código Penal. 7. Apelação do réu Eric desprovida. Apelação do réu Sebastião parcialmente provida, para absolvê-lo do crime de corrupção de menores e fixar sua pena definitiva em 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão. Apelação ministerial parcialmente provida, para reconhecer o concurso material entre os crimes de moeda falsa e corrupção de menores perpetrados pelo réu ERIC e fixar sua pena definitiva em 4 (quatro) anos e 10 (dez) dias multa.(TRF2, 2ª Turma Especializada, ACR200651130002446, Rel. Des. Fed. Liliana Roriz. DJU 12/12/2008, p. 172.)

(sem grifo no original)

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Assim, não merece prosperar a alegação da acusação do crime de

corrupção de menores, haja vista, tal delito só admitir a modalidade dolosa, e não há nos

autos prova do dolo de Lucas Gomes Nunes em cometer tal delito.

DA FALSA IDENTIDADE

O Ministério Público defendeu que o denunciado fez-se passar por

terceira pessoa, isto é, seu irmão menor de idade Samuel Gomes Lima, com o fim de

obter a vantagem ilícita consistente em se livrar da imputação penal. O meio utilizado

foi idôneo, eis que o acusado confundiu as autoridades, chegando a ser processado

perante o juízo especializado, como se fosse Samuel.

Porém, Fernando Capez diz que:

O agente, ao mentir, age no exercício da autodefesa. A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, LXIII, assegura o direito ao silêncio, como manifestação do direito de defesa. Tal argumento é mais uma vez acolhido por Delmanto, para quem: “São constitucionalmente garantidos o direito ao silêncio (CR/88, art. 5º, LXIII, e §2º) e o de não ser obrigado a depor contra si mesmo, nem a confessar-se (PIDCP, art. 14, 3, g) ou a declara-se culpado (CADH, art. 8º, 2, g). Como lembra David Teixeira de Azevedo, “o faltar à verdade equivale a silenciar sobre ela, omiti-la”.

O crime é impossível. Argumenta-se que o meio empregado pelo agente é absolutamente inidôneo à obtenção de qualquer vantagem, uma vez que, ao fornecer dados falsos acerca de sua identidade no momento de qualificação, fatalmente o falso seria descoberto, em face da obrigatoriedade da identificação civil e, na ausência desta, da identificação do agente pelo processo datiloscópico.

Não comete o crime de falsa identidade previsto no art. 307, do CP o agente que mente a sua identidade perante a autoridade policial para furtar-se à prisão em flagrante, pois tal atitude infere-se no exercício de autodefesa, não se vislumbrando a intenção de obter vantagem ou de causar dano a outrem (RT, 754/645). No mesmo sentido: “Inocorre o crime do art. 307, do CP na conduta do agente que, ao ser preso, atribui-se falsa identidade com o intuito de autodefesa, uma vez que esta afasta o dolo específico exigido pelo tipo penal”. (RJDTACrim, 35/136).

A jurisprudência segue o mesmo entendimento, senão vejamos:

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HABEAS CORPUS. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO FALSO À AUTORIDADE POLICIAL COM OBJETIVO DE OCULTAR CONDIÇÃO DE FORAGIDO. EXERCÍCIO DE AUTODEFESA. AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO. 1. Consolidou-se nesta Corte o entendimento de que a atribuição de falsa identidade, visando ocultar antecedentes criminais, constitui exercício do direito de autodefesa. 2. No caso, ao ser abordado por policiais, o paciente apresentou documento falso, buscando ocultar a condição de foragido e evitar sua recaptura. 3. Embora o delito previsto no art. 304 do Código Penal seja apenado mais severamente que o elencado no art. 307 da mesma norma, a orientação já firmada pode se estender ao ora paciente, pois a conduta por ele praticada se compatibiliza com o exercício da ampla defesa. 4. Ordem concedida, com o consequente afastamento da condenação recaída sobre o paciente.(STJ 6ª Turma, HC 200600674067. Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJU 05/10/2009).

(sem grifo no original)

CONCLUSÃO

No que tange ao crime de corrupção de menores art. 244B, da lei nº

8069/90 pugna pela absolvição do réu tendo em vista que há nítida falta de dolo na

conduta desempenhada pelo denunciado. Como inexiste a previsão de culpa em tal

crime, logo, não a que se falar em condenação do réu pela prática da conduta descrita

acima.

Com respeito ao crime descrito no art. 307, do Código Penal, ressalta-se

que o denunciado atribui falsa identidade com o intuito de autodefesa, uma vez que esta

afasta o dolo específico exigido pelo tipo penal, da mesma forma pugna pela absolvição

do réu.

Já com o crime descrito no art. 157,§2º, inciso II, incide a favor do réu as

atenuantes da confissão espontânea e da menoridade relativa.

Nestes termos,Pede-se deferimento.

Taguatinga – DF, de dezembro de 2009.

Felipe Kenzo Torres Alves

Estagiário - 2002056498

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