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Alves tania estrutura ecologica urbana

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  • AESTRUTURAECOLGICAURBANANOMODELODAREDEESTRUTURANTEDACIDADE

    TniaMonteiroAlves

  • 11deAgosto2010BubokPublishingS.L.

    1edio

    Edio:TniaMonteiroAlves

    ProjectogrficoCapa:TniaMonteiroAlves

    ISBN:

    DL:

    Impresso:Bubok

  • Atimeuamor,peloapoio,pacincia,companhia,carinho,porMeteresencontrado,aceiteemefazerestofeliz,eporquems

    realmente.Portudoisto,obrigadopelasmanhs,pelastardesepelasnoites,portodososmomentos...eportiqueamo.

    memriadosmeusavs,NunoeConceio.

  • Agradecimentos

    Aomeuorientador,ProfessorDoutor JorgeCarvalho,peloapoio,incentivo,pelasbiaorientao,quefezcomqueeunosasse do meu caminho, e principalmente por ter acreditadonestetrabalho.

    AoRogrio,peloapoioincansvel,peloconfortoepacincianosmomentos de desnimo e de stress, pelas sugestes, pornometerdeixadodesistireacreditarqueeueracapaz,porseromeumelhoramigo.

    minha famlia, que mesmo longe, encorajou e apoiou,estandosemprepresente.

    Aosamigosquedelongeapoiarameanimaramnospioresmomentos, especialmente, a Anglica, o Dinis, a Rebeca, e aCristina.

    Cmara Municipal de Mirandela, especialmente aoHenrique Pereira e Maria Gouveia, pelas informaesfornecidas,pelotempodispensadoepeladisponibilidade.

    Obrigadoatodosquedequalquerformacontriburamparaestetrabalho

  • NDICE

    NDICE9

    NDICEDEFIGURAS13

    NDICEDEQUADROS.14

    NDICEDEESQUEMAS...14

    NDICEDEPLANTAS...15

    INTRODUO17

    1.RelevnciadoTema.....17

    2.MetodologiaeEstrutura..20

    CAPTULO1.CIDADE,ORDENAMENTOEAMBIENTE25

    1.1Cidadepsindustrialambiente,

    caractersticaseproblemas......................................................................25

    1.1.1Asrespostasmodernistasaocaosurbano...26 1.1.2OCasoPortugus60 1.1.3Snteseeorientaes...74

    1.2Cidadeemergentecaractersticas...83

    1.2.1ProblemasAmbientais,SociaiseEconmicos88 1.2.2ProblemasFsicoEstruturais.93 1.2.3Problemasaresolvereorientaes.100

  • CAPTULO 2. REDE ESTRUTURANTE DA CIDADEESEUSELEMENTOS...103

    2.1Conceitostericosbsicos...103

    2.1.1Aunidadeterritorialeaunidadedevizinhana.103 2.1.2Oconceitodeestrutura107

    2.1.2.1Oestruturalismoeafenomenologia...110

    2.1.3OselementosdaimagemurbanadeKevinLynch..113

    2.2Oselementosestruturantesdacidade...116

    2.3ARedeEstruturantecomoinstrumentodeordenamentodacidadeederesoluodosseusproblemas.120

    CAPTULO 3. O VERDE COMO ELEMENTOESTRUTURANTE..129

    3.1Overdenacidadeperspectivamoderna129

    3.2OconceitodeContinuumnaturale...139

    3.3OsconceitosdeEstruturaEcolgicaedeEstruturaEcolgicaUrbana..140

    3.4Asfunesebenefciosdoverdenacidade.158

    3.5Aestruturaecolgicaurbanacomoelementoestruturantedacidade...164

    3.6Sntese.174

  • CAPTULO 4. FORMULAO DE METODOLOGIA PARADELINEAO DA ESTRUTURA ECOLGICA URBANA NOQUADRODEUMAREDEESTRUTURANTEDECIDADE...179

    4.1IdeiasdeReferncia..179

    4.2MetodologiaparadelineaodaEstruturaEcolgicaUrbananoquadrodeumaRedeEstruturantedeCidade180

    4.2.1RefernciasespaciaisconstitutivasenveisdeintegraodaEstruturaEcolgicaUrbana...183 4.2.2Classes,tipologiasefunesdosespaosdaEEU...188 4.2.3RelaesentreaEstruturaEcolgicaUrbana(EEU)eosrestanteselementosestruturantes...197

    4.2.3.1RelaesentreaEEU,osPercursosVirioseosIntermodais.200

    4.2.3.2RelaesentreaEEUeasCentralidades...203

    4.2.3.3RelaesentreaEEUasUnidadesTerritoriaiserespectivosEspaosdeFronteira205

    4.3ObservaesFinais...207

    CAPTULO 5. APLICAO A CASO DE ESTUDO MIRANDELA.209

    5.1ProcessoMetodolgico210

    5.2Escaladecidade212

    5.2.1Anlise212

    5.2.1.1IdentificaodasRefernciasEspaciaisConstitutivaseClassesdaEstruturaEcolgicaUrbana..212

    5.2.1.2Identificaodosoutroselementosestruturantes214

  • 5.2.1.3RedeEstruturanteexistenteinsuficinciasepotencialidades..215

    5.2.2Proposta..221

    5.2.2.1RedeEstruturanteproposta.221

    5.2.2.2EstruturaEcolgicaUrbanapropostanomodelodaRedeEstruturante..224

    5.3.Escaladepartedecidade(unidadeterritorial)...230

    5.3.1Anlise230

    5.3.1.1IdentificaodasrefernciasespaciaisconstitutivaseClassesdaEstruturaEcolgicaUrbana..230

    5.3.1.2Identificaodosoutroselementosestruturantes233

    5.3.1.3Redeestruturanteexistente..234

    5.3.2Proposta..236

    5.3.2.1EstruturaEcolgicaUrbanaproposta.236

    CAPTULO6.CONCLUSES239

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS..245

  • NDICEDEFIGURAS

    Fig.1CidadeindustrialdeRobertOwenamultiplicaodascidadespelocampo27

    Fig.2CidadeindustrialdeRobertOwenNewHarmony..28Fig.3FalanstriodeFourier29Fig.4PlanodeBarcelonadeIldefonsoCerd(1864).Alternativas

    propostasparaosquarteires35Fig.5CidadeLineardeSoriayMata.37Fig.6EsquemageraldacidadejardimdeEbenezerHoward.Esquema

    desecodacidadejardim.41Fig.7SistemadecidadesCidadeSocial...42Fig.8ProcessodeConurbao,CertoeErrado(Diagramadolivro

    CitiesinEvolution(1915)deGeddes,ondemostraoalastramentodacidadeeoseuremdio...47

    Fig.9CidadeIndustrialdeTonyGarnierPormenordosbairroshabitacionais.51

    Fig.10LeCorbusierLaVilleContemporaine..56Fig.11AcidaderadiosadeCorbusieresboosdeedifcios

    construdosemamplosespaosverdes57Fig.12readecidadedesenvolvidacomoplanodeunidadede

    vizinhana(1916)deDrummond...105Fig.13PlantadoCentralParkdeOlmstedeVaux..131Fig.14VistaareadoCentralPark...132Fig.15Modelodacidadejardimcomaestruturaverde..135Fig.16Termosdaredeecolgicaecorredoresverdes..142Fig.17Funeschaveabiticas,biticaseculturaisdainfraestrutura

    verde152Fig.18Funotermoreguladoradavegetao..160Fig.19Funodeprotecocontraovento161Fig.20Percursopedonal...163

  • Fig.21Alternativastericasparaadistribuiodosespaosabertosnascidades..166

    Fig.22Integraodesuperfciecomercialnaenvolvente205NDICEDEQUADROS

    Quadro1SntesecomparativadeconceitosdeEstruturaEcolgicaeEstruturaEcolgicaUrbanaabordados..155

    Quadro2CorrespondnciaentreasrefernciasespaciaisconstitutivaseosnveisdeintegraonaEEU.187

    Quadro3RelaoentreasrefernciasespaciaisconstitutivaseasclassesdaEEU....188

    Quadro4Relaoentreclasses,tipologiasdeespaosefunesdaEEU...190

    Quadro5RelaesGeraisdaEEUcomosRestantesElementosEstruturantes...198

    Quadro6RelaesdaEEUcomosRestantesElementosEstruturantes...199

    NDICEDEESQUEMAS

    Esquema1Metodologiaeestruturadotrabalho.20Esquema2MetodologiaparadelineaodaEstruturaEcolgica

    UrbananoquadrodaRedeEstruturantedaCidade181

  • NDICEDEPLANTAS

    Planta1AnlisedasrefernciasespaciaisconstitutivaseclassesdaEEUEscaladeCidade213

    Planta2AnlisedaRedeEstruturanteExistenteEscaladeCidade220

    Planta3PropostadaRedeEstruturanteEscaladeCidade...223Planta4PropostadaEstruturaEcolgicaUrbana

    EscaladeCidade229Planta5Anlisedasrefernciasespaciaisconstitutivaseclassesda

    EEUEscaladePartedeCidade232Planta6AnlisedaRedeEstruturanteExistente

    EscaladePartedeCidade235Planta7PropostadaEstruturaEcolgicaUrbana

    EscaladePartedeCidade.238

  • 17

    INTRODUO

    1.RelevnciadoTema

    As cidades sofreramum enorme crescimento apartirdaindustrializao, causadopeloaumentodapopulao,oquealterou para sempre a sua configurao, que foi sendomoldada pelas prticas que foram surgindo, algumasespontneas,outrasapartirdosmodelosutpicosquederamorigemaourbanismodosc.XX.

    A cidade actual continua a crescer, sem uma direcodefinida, de forma catica, e alastrase pelo territrio,associadaaumaexpressojcomvriosanos,emmanchadeleo.Estecrescimentonem sempre justificadopeloaumentoda populao, vai acontecendo de forma casustica efragmentria,assentenosinteressesimobiliriosenumainfraestruturaviriacadavezmaisvasta.

    O resultado evidente: a cidade apresentasefragmentada,dispersa,desordenada,destitudadeumaformaou de uma estrutura, sem identidade, e com inmerosproblemas,fsicoestruturais,ambientais,sociaiseeconmicos.Esta cidade emergente no vai, de todo, ao encontro dodesenvolvimentosustentvel,conceitocriadojnosanos80,eque teve por base a consciencializao da importncia dasquestes ambientais e ecolgicas eda sua incompatibilidadecomocaminhoqueacidadeseguianaaltura.

    Esta consciencializao conduziu ao aumento daimportnciados espaosverdesna cidade, j iniciada comaindustrializao,ondeasuacriaoteveporbasearespostasquesteshigienistasesociais.Aimportnciaactualprendesecomasquestesambientaiseecolgicas,conduzindocriao

  • 18

    devriosconceitos,nomeadamenteosdecontinuumnaturaleedeEstruturaEcolgicaUrbana(EEU).

    Noentanto,omodo comoosespaosverdeseaprpriaEstrutura Ecolgica Urbana (EEU) tm sido abordados,assemelhasebastanteabordagemdequeacidadetemsidoalvo,equeaquicontestamos,apresentandosediversasvezesde modo descontnuo sem a articulao e amultifuncionalidade que seria esperada. Derivam deintervenes isoladas, no fazendo parte de uma viso deconjunto, de continuidade, e to pouco de integrao earticulao com a estrutura edificada, resultando apenas empeassoltas,resduos,semidentidadeesemleituranaeparaacidade.

    comaleituradestasduasrealidades,acidadeactualeosespaosverdesdesta(tendoemvistaumaEstruturaEcolgicaUrbana), e assumindoas como um todo, porque a questoassentanessavisode conjunto,que se afigura fundamentalcontrariar: as tendncias actuais de crescimento catico edescontrolado que atinge as cidades e que as vaidesfigurando, fazendo com que a sua identidade se dilua,tornandoasnumsomatriodenolugares;eomodocomoosespaos verdes so encarados nesta cidade, uma vez quedevemfazerpartedela.

    necessrioumurbanismoqueassumaumaescalamaishumana e que realce a questo ecolgica e ambientalutilizandoparatalnovoselementoscomoaanliseestruturale semiolgica do quadro urbano contribuindo para ainstaurao de um Urbanismo adaptado ao habitante1 e sparticularidadesenecessidadesdecadacidade.

    1 Choay(2005,contracapa)

  • 19

    Assim, este trabalho desenvolvese a partir de algumaspreocupaesecertezas:

    Acidadeactualcarecedeumaabordagemholstica,noque refereao seuordenamento,de formaadar respostaaosvrios problemas que apresenta, nomeadamente de forma,identidade e legibilidade, sendo indispensvel assumir acidade como ela se apresenta, dispersa e fragmentada, nassuasdiversaspartes,escalas,noseutodo.

    Esta nova abordagem assenta num modeloorganizacionaldacidade, jdefendidoporCarvalho(2003),aredeestruturantedacidade.

    com base na convico de que a rede estruturanteconsiste efectivamente num instrumento notvel deordenamento, articulao e suporte da cidade, capaz de lheconferir a coerncia e legibilidade desejada, que sodesenvolvidos os objectivos deste trabalho, e que assentamfundamentalmente:

    nacomprovaoqueaEstruturaEcolgicaUrbana(EEU)consiste num dos elementos estruturantes fundamentais darede estruturante da cidade, definindo o seu papel epotencialidadesparaaarticulaodaredee,porconseguinte,dacidade;

    naformulaodeumametodologiaparaadelineaodaEstrutura Ecolgica Urbana (EEU) no quadro desta redeestruturante, com o objectivoda identificaodos espaos erelaesque, efectivamente,poderopromover a articulaopretendida.

    Nestecontexto,otrabalhodesenvolvido,parecerelevanteeoportuno,namedidaquesepretendedarnfaseaopapeldaEstrutura EcolgicaUrbana (EEU) na articulao da cidade,

  • 20

    Cidade ps-industrial

    Cidade Problemas da Cidade

    Cidade emergente/(des)ordenamento

    Estrutura e elementosde imagem de Lynch

    Rede Estruturante

    Rede estruturante (Modeloorganizacinal da cidade) como resposta

    Elementos Estruturantes

    Evoluo do verde nacidade e suas funes

    VerdeVerde (Estrutura Ecologica Urbana)como elemento estruturante

    Formulao de Modelo para definioda EEU, no quadro da Rede

    Estrutura EcolgicaUrbana

    Concluses

    Aplicao a caso de Estudo

    enquadrada num novo modelo organizacional, a redeestruturante, apresentando novas potencialidades, assentesnuma viso holstica da cidade, pretendendo qualificala,tornandoacoerenteeperceptvel.

    2.MetodologiaeEstrutura

    AEstruturaEcolgicaUrbana,neste trabalho,encaradanumaperspectivacomplementardaquelaquehabitualmenteabordada.

    O trabalho foi iniciado j com o conhecimento que aEstrutura Ecolgica Urbana desempenha (ou deveriadesempenhar) um papel importante na cidade.No decorrerdeste,esseconhecimentofoisendocompletadoeatpostoemcausa, constatandose que, efectivamente, as potencialidadesda Estrutura Ecolgica Urbana no meio urbano vo muitopara alm das funes ecolgicas e ambientais, s quais constantementeassociada.Portanto,pretendeuseprovarestaideia, inicialmente embrionria, atravs da investigaodesenvolvida.

    Esquema1Metodologiaeestruturadotrabalho

  • 21

    Ametodologiadotrabalhoconsistiu:

    na compreenso da evoluo histrica da cidade, combasenumaabordagemterica:

    fazendo um estudo da evoluo da cidade psindustrial,dosseusproblemasedassoluesqueforampreconizadasaonveldoseuordenamento;

    caracterizando a cidade actual, concluindo queesta apresenta vrios problemas ambientais,sociais, econmicos, nomeadamente fsicoestruturais,equaisasrespostasadar.

    noassumiraRedeEstruturante,compostaporelementosestruturantes, como instrumento adequado para oordenamentodacidadeactual,baseandoseestaemconceitosestruturalistas;

    naapresentaodaevoluodosespaosverdesataosnossos dias, assim como das suas funes, com base numaabordagem terica,enacomprovaodaEstruturaEcolgicaUrbanacomoumdoselementosfundamentaisdaRede:

    efectuandoumestudodaevoluodopapeldosespaosverdesnacidade,apardaevoluodesta;

    apresentando o conceito actual de EstruturaEcolgica Urbana e as suas interpretaes, ecomprovando que esta, possui a capacidade deconstituir um dos elementos fundamentais daRede,atravsdaanlisedoseupapelarticulador.

    naformulaodeumametodologiaparaadelineaodaEstruturaEcolgicaUrbananoquadrodaRedeEstruturante,nomeadamente no que diz respeito s relaes que sepretendequeestabelea:

  • 22

    analisando o modo como a Estrutura EcolgicaUrbanapodedesempenharumpapelarticuladorna Rede e na cidade, com base nos conceitos eorientaes (alguns deles da Histria)identificadosesintetizadosaolongodotrabalho.

    na aplicao da metodologia formulada a um caso deestudo.

    nas concluses,que seassumem comouma sntesedasquesechegouaolongodotrabalho.

    O trabalho organizase assim em seis captulos, queemboraassentemporvezesemtemasdiferentes,articulamseecomplementamseentresi:

    No primeiro captulo, so apresentadas duas realidades,assentesnapesquisabibliogrfica.

    Aprimeiraassentanaevoluohistricae caractersticasda cidade psindustrial, os seus problemas, e quais asrespostasanveldeordenamentodacidadeparaosresolver.Soabordadastambmasopesurbansticas levadasacaboentreosanos20eos50emPortugal.Apartirdestapesquisaefectuadaumasntesenaqualsepretendecolherorientaes,sobretudoanveldeestruturaparaoordenamentoactualdacidade.

    A segunda realidadeprendese com as caractersticasdacidade emergente e os problemas que ela apresenta,nomeadamente os fsicoestruturais, cuja resoluo poderminimizar os restantes, focando como finalizao destecaptuloosproblemaspassveisdeseremresolvidoscombase

  • 23

    na definio de uma rede estruturante e nomeadamente daEEU.

    No segundo captulo, so expostos conceitos tericos,como os de estrutura e estruturalismo, e os elementos deimagemurbanadeLynch,queconsistemnabasedadefiniodos elementos estruturantes e da rede estruturante. Soigualmenteidentificadososvrioselementosestruturantesearedeestruturante,assimcomoassuasrelaes,apresentandoseestacomorespostaparaalgunsdosproblemasdacidade.

    No terceiro captulo efectuada uma pesquisa sobre aevoluo da importncia dos espaos verdes na cidade,focando qual o papel que desempenharam ao longo daevoluodacidade.

    Explicitase igualmente o conceitode continuum naturale,queseapresentacomoumdesenvolvimentonaturaldopontoanterior e, ainda neste seguimento, so confrontados osconceitos de Estrutura Ecolgica e de Estrutura EcolgicaUrbana, assim como exposto a forma como estas soassumidaseabordadas,anvelnacionaleinternacional.

    Soaindaapresentadasas funesdosespaosverdesnacidade.

    nestecaptuloquese respondeaumdosobjectivosdotrabalho, assumindo e apresentando a Estrutura EcolgicaUrbanacomoelementoestruturantedacidadeeexplicitandoopapelquedetmoupodedeternaredeestruturante.

    O captulo termina comuma sntese, que colhe algumasorientaes,nomeadamenteondeseconcluique,naHistria,aEstrutura Ecolgica Urbana j desempenhou o papel deelementoestruturante,emborano tenhasidoassumidocomtal.

  • 24

    Noquartocaptulo formuladaumametodologiaparaadelineaodaEstruturaEcolgicaUrbananoquadrodaredeestruturantedacidade,ondesefocaaimportnciadaselecodosespaosaintegrarnaEstruturaEcolgicaUrbana,assentesem referncias espaciais e nveis de integrao, se definetipologias de espao e, essencialmente so apresentadas eexpostasotipoderelaesentreaEstruturaEcolgicaUrbanaeosrestanteselementosestruturantescomvistadefiniodarede.

    No quinto captulo aplicada a metodologia para adelineaodaEstruturaEcolgicaUrbanaformuladaeaRedeEstruturanteaumcasodeestudo.

    O sexto e ltimo captulo assenta na concluso onde efectuada uma sntese das concluses a que se chegou aolongodoestudo,fundamentalmentequeaEstruturaEcolgicaUrbana consiste num elemento estruturante de grandeimportncia para a rede estruturante e ordenamento dacidade, tendo a capacidade de restabelecer as relaesespaciaisdesta,dotandoadeumaformacoerenteecontnua,de legibilidade, tornandoa perceptvel, e identificvel nassuaspartesenoseuconjunto,comoumtodo.

  • 25

    CAPTULO1.CIDADE,ORDENAMENTOEAMBIENTE

    nosoaspedras,masoshomensquefazemacidade2

    1.1 Cidade psindustrial ambiente, caractersticas eproblemas

    Aindustrializaoalterouprofundamenteascidades.

    O aumentodaproduo e a ofertade empregoprovocaumagrandeaflunciacidadede foraoperriaque,vindado campo, procura aqui uma oportunidade de emprego emelhores condies de vida. No entanto, a cidade no seencontra preparada, e com a necessidade de albergar estapopulao, gruposde especuladoresdo incio construode casas, originando os bairros operrios denominados naGrBretanha de slums. Com o aumento da densidadepopulacional, iniciase o processo de suburbanizao, aperiferia que envolve a cidade antiga, e todo o espaodisponvel nesta ocupado, nomeadamente as suas zonasverdes, jardins e hortos so substitudos por novasconstrues e remendos (Benevolo, 1997:565), e as condiesdehabitabilidadetornamseprecriaseinsalubres.Osbairroscaracterizamsepelafaltadeespaoqueimpedeaeliminaodosrefugoseodesenvolvimentodasactividadesaoar livrepor falta de espaos pblicos e jardins, exiguidade e mqualidade dos edifcios, falta de higiene, luz e ventilao(Benevolo, 1997:565;Carvalho, 2003:57).Alis, Engels, numadescrioque fazdeManchester,dizqueali termina todaaaparncia de cidade e no cresce nem um fio de relva(Benevolo,1997:566).

    2 (AristtelesinNaredo,2000:18)

  • 26

    Ascidadesevoluemsemumadirecoespecficasombradalocalizaodasindstriasedosinteressesespeculativosnaconstruomassivadebairrosparaasclassestrabalhadoras.Acidadetradicionaldegradaseeperdetodooequilbriocomomeionatural.

    Embora existam algumas aces por parte dasadministraeslocaisnatentativaderesolverosproblemasdacidade,maiorpartedelasnosurtegrandeefeito.Noentanto,duranteamesmaaltura,nomenosimportantessoasteoriase a influnciadospensadoresdosproblemasurbanos.Alisem retrospectiva, a influncia de todos foi literalmenteincalculvel,aliscontinuaaslo.()Algumasdestasideiasestavam desenvolvidas no final do sc. XIX, e uma grandepartefoitornadapblicanofinaldaPrimeiraGuerraMundial.No entanto, com a excepo de algumas experincias depequena escala at 1939, maior parte da influncia naspolticas prticas e no desenho apenas comeou a partir de1945(Hall,1977:42).

    1.1.1Asrespostasmodernistasaocaosurbano

    Os muitos problemas decorrentes da cidade industrialconduzem ao descontentamento social e a uma busca desoluesparaacidadeexistente.Desdemodo,a tentativadecuradacidadecomeapelasuahigienizao,easprimeirasrespostas surgem ao longo do sculo XIX atravs dosocialismoutpico,pormeiodecrticas,dennciasemodelos.

    RobertOwen(17711858),industrialinglsempenhasenamelhoriadaqualidadedevidadostrabalhadores,pondoesseideal em prtica na sua fbrica em New Lanark,fundamentalmenteatravsdareduodashorasdetrabalho,

  • 27

    daprticadaescolaridadeobrigatria,edomelhoramentodohabitat, com base numa cidademodelo num espao verde(Choay, 2005:61). O seu modelo de cidade consiste noestabelecimento de pequenas comunidades semiruraisdistribudaspelo espaoverde,pequenas cidades industriaisautosustentveis,comoOwenasdenomina (Choay,2005:6263, Guimares, 2007:108). Deste modo o modelo propostolocalizase num terreno agrcola com cerca de 500 ha, ondeOwenpropeadisposiodehabitaesnumquadrado,paracercade1200pessoas,emqueazonacentralocupadaporedifcios pblicos e zonas verdes destinadas ao lazer edesporto.Osedifciosparaalmdeserviosenglobamalgunsequipamentos como escolas, biblioteca e um centro deencontro, que constitui o centro. No permetro externodesenvolvemseasreasdehabitaes,ondeosjardinsdestase um anel de ruas isolam todo o tipo de estabelecimentosindustriais e rurais (Benevolo, 1997:567; Owen in Choay,2005:6364).

    Fig. 1 Cidade industrial de Robert Owen amultiplicaodascidadespelocampo.Fonte:Benevolo(1997)

  • 28

    Owen apresenta o seu plano, entre 1817 e 1820, ao governoingls, no entanto este reprovado. J na Amrica (1825)adquireum terrenopararealizaroseusonho,comunidadequal chamouNewHarmony,no entanto confrontado com arealidade,vistoterqueseadaptaraaldeiasjexistentes,asuatentativafracassa(Benevolo,1997:568).

    Entretanto em Frana, Charles Fourier (17721837), umescritorquedefendeumnovo sistema filosfico epoltico, eque acredita que a reestruturao da sociedade atravsassociaoecooperaoacuraparadoenapassageiraquecivilizao existente, assenta a sua proposta num grandeedifcio,oFalanstrio,nemurbanonemrural3,noqualdevehabitar um grupo de 1 620 pessoas de diferentes estratossociais,afalange(comunidade),implantadonumterrenocom250 ha (Benevolo, 1997:568). Segundo Choay (2005:9, 68), omodelodehabitaocolectivadeFouriercaracterizasepelanegao da famlia, pela ruptura com osmodelos passados,pela forma de introduo da natureza no modelo eessencialmente pela viso funcionalista com o incio dozonamento funcional.O edifcio apresenta juma separaode funes, por alas e pisos, separando os servios,3Miles(2008:43)

    Fig. 2 Cidade industrial de Robert Owen NewHarmony.Fonte:Benevolo(1997)

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    equipamentos,oficinas,habitaesezonaparavisitantes.Nopisotrreoexisteumptiocentraleptiosfechadosdemenordimenso, de modo a no terem vista para ao campo, quefuncionam como jardins de Inverno, e passagens fechadaspara as carroas. O ptio central consiste no elemento deseparao entreo edifcioprincipal eos estbulos, celeiros elojas. No primeiro piso, encontramse as galerias cobertasclimatizadas que fazem toda a comunicao interna,substituindo as ruas4 (Benevolo, 1997:568; Fourier inChoay,2005:7274;Miles,2008:4344).

    Segundo Benevolo (1997:568) entre 1830 e 1850 existemvrias tentativasdecolocarestemodeloemprticaporpartedealgunspases.

    Noentanto,oFalanstrioapenasumapartedeumidealmaior,ouseja,umapeadeumadecidade idealdoperodogarantista5, que iria multiplicarse nessa cidade egradualmente,atravsdeumgrandenmerodeFalanstrios

    4Fourieraboleas ruasassimCorbusier farno sculo seguinte,poderemosdizer que o modelo de Fourier serviu de inspirao para as ideiasdesenvolvidas por Corbusier para a Cidade Radiosa, alis segundo Choay(2005:68)anegaodafamlianomodelodeFourieradiferenasubstancialentreosdoismodelos.5 Ver Choay(2005:6869)

    Fig.3FalanstriodeFourier.Fonte: http://web tiscali it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b jpg

    Fig.3FalanstriodeFourier.Fonte:http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b.jpg

  • 30

    substituila (Miles, 2008:42). Essa cidade dividese em trsanis concntricos de dimenses distintas adaptadas sconstruesnelasinseridas,separadosporplantaesrasteirase relvados. O primeiro anel a cidade central, o segundo,destinadoaosgrandesedifciosfabrisearrabaldeseoterceiropara as grandes avenidas e subrbios. Todas as casas soisoladas, tendoos jardinsouptiospermeveisnomnimoamesmareada superfcie impermeabilizadapelaconstruo.Oespaovaziopermevelodobroeotriplo,nosegundoeterceiro anel, respectivamente. O espao entre os edifciosdeve ter pelo menos metade da altura deste, nas fachadaslateraisetardoz,eosedifcioslocalizadosnasruas,nodevemexcederemalturaa larguradesta, reservandoumngulode45C na fachada frontal, promovendo assim a ventilao einsolao. As ruas devem ter como ponto de fugamonumentosoupaisagem rural, algumas sero curvas,paraquebrar a rectilineariedade sendo metade arborizadas comespcies variadas. Existem ruas pedonais, com a mesmalargura das outras, no entanto parte da largura destas ocupadaporrelvado(FourierinChoay,2005:6971).

    Owen eFourier recusam a cidade existente eo seu caosconsequncia tambm da sua estrutura orgnica, propondoum modelo de cidade do futuro, implantado num espaoamplamenteaberto,rompidoporvazioseverdesetraadodeacordocomumaanliseeclassificaodasfuneshumanas,onde o racionalismo a cincia e a tcnica resolvem todos osproblemasdacidade.

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    Estas premissas, segundo Choay6 constituem a base dourbanismoprogressista(Choay,2005:89).

    InfluenciadosporFourier,VictorConsidrant (18081893)e Jean Baptiste Godin (18191888) propem edifciosinspirados no Falanstrio, como a colnia da Reunio, e oFamilistriodeGuise7,respectivamente(Choay,2005:77,105).Contudo,oFamilistrio,postoemprticaemGuise,apresentacaractersticas mais modestas, e seria implantadoisoladamentenumparquecircundadopelaenseadadeumrio(Benevolo, 1997:568). constitudoporum edifcioprincipalcom trsblocos fechados;edifciosanexos,ondese localizamos equipamentos e servios; ptios fechados e ruasgaleria,onde as pessoas convivem. Os elementos chave doFamilistrioassentamnahigiene,areluz,convivnciaevidasocial, estimulao intelectual e educao (existncia deescolascomvriosnveisacadmicosebiblioteca).

    Godin preconiza essa luz e ar atravs dos jardins queenvolvem o edifcio, alis defende que a jardinagem umrecurso atractivo e essencial na educao (Godin in Choay,2005:105107).

    Outra soluoutpica que surge namesma altura comoresposta ao estado de insalubridade da cidade, a deBenjaminRichardson (18281896),mdico inglsque fundaoJournal of Public Health and Sanitary Review (18551859) e aSocial Science Review (1862), que devido sua preocupao

    6 Choay classifica as utopias socialistas e as propostas do sc. XX deprogressistas e culturalistas,doismodelos, que sedistinguempelo tipodeprojeces espaciais, de imagens da cidade futura, o primeiro associado criaodeumanovacidadeassentenasnovastcnicasenofuncionamismo,eosegundonanostalgiadaantigacidadeorgnica(2005:715)7 aindahojeemfuncionamento

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    com a sadepblica e o estadoda cidade,desenvolvenumlivro (1876) um modelo utpico de cidade para 100 000habitantes, qual chama Hygeia, e que surge de umacomunicao num congresso da Social Science Review (1875),conhecendo a partir desse momento, uma difuso mundial.(Choay,2005:99;OttoniinHoward,2002:25).Hygeiaocupaumterrenocom4000acres (cercade1600ha),comcercade20000casas,numamdiade25pessoasporacre8.Ascasastmno mximo 4 andares (cerca de 18 m), cada uma com ummximode15apartamentos.Todasastraseirasdascasastmjardim, assim como terrao onde podem existir plantas. AcidadecortadaporduasgrandesruasprincipaisnosentidoEsteOeste, existindo em cada uma, uma viafrrea para otrfego pesado.Outras ruas cortam as principais no sentidoNorteSul, assim como as secundrias que so paralelas aestas, ladeadas por rvores e bastante largas, promovendoumaboainsolaoeventilao,tambmdevidobaixaalturadas construes. Os edifcios pblicos, os servios e osequipamentos,soindependentes,formandopedaosderuase ocupando aposiode vrias casas. So cercadosporumjardim e contribuem no s para a beleza da cidade, mastambm para a sua salubridade (Richardson in Choay,2005:100).Nas ruasprincipais, localizado equidistantemente,emvintelocais,encontraseumprdioisoladoenvolvidoporterreno,ohospitalmodelo,que sedecompeempequenasinstituies(Richardson,inChoay,2005:101).

    Entretanto, aindadentrodas crticas e soluesutpicas,mas numa perspectiva distinta das anteriores, John Ruskin(18181900)eWilliamMorris(18341896)criticamaapobrezado planeamento urbano e cidade inorgnica, incoerente,8 1acreequivaleacercade0.4hectares

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    desintegrada, defendendo um ideal nostlgico daorganicidade ediversidade,daharmoniadas ruas e cidadesdo passado, sendo estas as bases do urbanismo culturalista(Choay,2005:122).

    Morris (Choay, 2005:132135) critica ainda o fourierismodizendoqueaquelemododevidaapenaspodeserconcebidopor pessoas envoltas pela pior forma de pobreza. Defendetambm a recuperao e regenerao dos centros antigos,assimcomoasupressodadiferenaentreacidadeeocampo,eapreservaodoambientenatural.

    Aqum das solues utpicas, a renovao de Paris levadaacaboduranteoSegundo Imprio (18511870), tendovriassituaespositivasaseufavor,aambiodeNapoleodetornarParisamaissignificativacidadedomundo(Ottoniin Howard, 2002:32), a capacidade do Prefeito Haussman(18091891) e a existncia de duas recentes leis, a daexpropriao (1840) e a sanitria (1850). Esta renovaopretende dar resposta aos problemas de insalubridade econgestionamentodacidade,atravsdabuscadaregularidadee de uma imagem moderna, revalorizando os monumentosatravsdasualocalizaoestratgica.Acirculao(165km)oelementobasedoPlanodeHaussman,dandocontinuidadeslinhasbarrocasdopassadosoexecutadas95kmdenovasruas que rasgam o tecidomedieval, fazendo desaparecer 50km das suas ruas antigas (Benevolo, 1997:589), a cidade assimcortadaporeixosortogonaisquesecruzamnumazonacentral,alede laCitt.Osistemaviriocompletadopor12avenidas que se prolongam at periferia e ao campo,perfazendo70kmderuas,comoobjectivodefacilitarfuturasexpanses urbanas. A cidade estendese assim at sfortificaes externas. So ainda propostas avenidas que

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    circundam o centro e ligam os vrios sectores da cidade,principalmente as estaes ferrovirias (Benevolo, 1997:589;OttoniinHoward,2002:32).propostaumaeficienteinseronotecidourbanodenovosequipamentoseserviosquevisamresponder snovasnecessidadesdapopulao, tais como,oaqueduto, gs, iluminao, rede de transportes pblicos,escolas, hospitais e nomeadamente parques pblicos(Benevolo,1997:593).

    SegundoOttoni (Howard,2002:36)oPlanodeHaussmaninspirou intervenes noutros pases, como por exemploViena,quederrubaasmuralhasantigaseassubstituiporumanel verde, o Ringstrasse (18731914) onde localiza, isoladosrelativamente cidade, novos equipamentos e servios. AintervenodeHaussman e oRingstrassedeViena inspiramainda,no inciodoprimeiroquarteldo sc.XX,acriaodeummovimento,nosEUA,queassentanoembelezamentodascidades, cujo precursor Daniel Burnham (18461912)responsvel pelo plano deChicago (1909), obraprima destemovimentoquesedenominadeCityBeautifulequeinfluenciagrandemente o desenho urbano europeu nos anos 20 e 30(Lbo,1995:15).

    Assim como Paris, Barcelona tambm sofre umainterveno,masnestecasotratasedeumplanodeexpansoEnsanchelevadoacaboporIldefonsoCerdem1859.EstetipodeensanchefoitambmrealizadoemMadridcomoPlanoCastro.OPlanodeCerd foipensadoparaalbergar800000pessoas9 e alterou a cidade de Barcelona para o queconhecemos hoje. Caracterizase por possuir uma visoconjunta da cidade, com vista a resolver os problemas de

    9 Lamas(2007:218)

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    higiene, mobilidade, densidade e desenvolvimentoeconmico.Odesenhodanovacidadeassentanumconjuntodeelementosque formamumaestruturadeconjunto,aredeviriaeosseuscruzamentos,osns,eosquarteiresaosquaisdenominadeilhas,ondelocalizaosedifcios,equipamentoseespaos verdes (Rueda, s/d). O Plano consiste numaquadrcula regular formadaporvias com 20mde largura equarteirescom113mdelado,queformam,numconjuntodenove, um quadrado com 400m de lado (Lamas, 2007: 216).Contudoestaquadrculacortadaporviasdiagonaisqueseencontram numa grande praa. Esta nova malha envolve acidade antiga que chega a ser atravessadapor algumasviasquedocontinuidadeaoseixosdaexpanso.

    Fig.4PlanodeBarcelonadeIldefonsoCerd(1864).Alternativaspropostasparaosquarteires.Fonte:Lamas(2007)

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    Embora o Plano consista numa malha ortogonal que formaquarteiresregulares,Cerdpropeumavariedadedeformasde ocupao destes, no entanto, a nova cidade construdasegundoaformaclssica(Carvalho,2003:5253).Paraalmdaestruturaviriaquepreconiza,Cerdprope igualmenteumsistemadeparquesejardinscomopropsitodefuncionaremcomoespaosdearpuro(Mendoza,2003).

    No entanto, embora os quarteires propostos possuamcondies de higiene, salubridade e um carcter residencialmuitoforte,aocontrriodacidademedieval,apresentandoseigualmente muito direccionados para a burguesia, noresolvendo assim o problema da acomodao das classestrabalhadoras(Alonso,s/d:159).

    Arturo Soria y Mata (18441920) engenheiro espanhol,apresentaoseumodelo,aCidadeLinear,numarevista(1882)desenvolvendoo em projecto at 1892. Com este modelopretende urbanizar o campo e ruralizar a cidade, juntandonummesmoespao,campo, indstria,servioseresidncias(Alonso,s/d:160).Omodeloconceptualdacidadeconsistenaorganizao de quarteires regulares ao longo de uma viacentral de circulao rpida proveniente de uma cidade jexistente,apresentandose,segundoSoriayMata,comoumacidadejardim linear, que oferece uma fcil acessibilidadeentre a cidade e o campo e um mtodo de crescimentosimples,atravsdaadiodequarteiresaolongodavia,emcontraposiocomomtododecrescimentodacidadejardimdeHoward(Hall,1977:7071;Hall,2002:131).

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    Soria yMatadesenvolve omodelo com uma largurade500m, tendo como eixo principal um caminhodeferro queune aglomerados rurais j existentes (Hall, 2002:131),definindo atravs das suas estaes a localizao deequipamentos e comrcio (Fadigas, 1993:156). A rede viriasecundriaconsisteemruasperpendicularesaoeixocentral,euma paralela de cada lado, que no conjunto definem osquarteires com 200 m de largura. Paralelamente aosquarteires formalizadauma faixaverdede cada ladoquefaz a transio com o campo. Todas as habitaes sounifamiliarestmjardimehorta.OprojectodaCidadeLineardeMadrid foi iniciado em 1894, edeuse por concludo em1904, por dificuldades financeiras, apenas com 5 kmconstrudos,nunca tendo sido consideradauma cidade,masapenasumsubrbio(Hall,2002:131).

    Fig.5CidadeLineardeSoriayMata.Fonte:ht tp : / /w3 .uni roma1 . i t /menich in i /web_menich in i /pr ima%20lez ione/ cap_3/ c i t ta_ l ineare_ f i l e / s l ide0010_ image003 . jp

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    Contudo, o conceito da Cidade Linear encontrasepresente na organizao, maioritariamente espontnea,adoptadaporvriasexpansesurbanas,queforamcrescendoaolongoasprincipaisvias(Fadigas,1993:159160).

    No final do sc. XIX, um arquitecto denominado Sitte(1843 1903), publica uma obra, Der Stadtebau nach seinenKunstlerischen Grundsatzen (1889), na qual desenvolve umateoria e um modelo de cidade ideal. Esta obra influenciamuitosurbanistasgermnicoseexerceumagrandeinflunciana realizao das cidadesjardim britnicas e no urbanismoculturalista anglosaxo. As suas solues, so vistas poralguns, sendode carcterhumanista (Geddes eMumford) eporoutros(LeCorbusier)retrgradasenostlgicasdopassado(Choay,2005:205).Sittepreconizaumasoluoassenteemtrsobjectivos:eliminaodosistemamodernodeconstruircidadebaseado na regularidade; recuperao do que resta dascidades antigas; aproximao e adaptao, realidademoderna, dosmodelos antigos nas novas criaes.Critica amaneira como os locais pblicos, tais como o frum, omercado,eapraa,soexecutadospelosistemamoderno,noservindo as necessidades das pessoas e da cidade,fortalecendo a ideia ao dizer que relativamente s praas asua nica razo de ser consiste em proporcionarmais ar emaisluzeemrompercomamonotoniadosoceanosdecasas()elasservemnomximocomo locaisdeestacionamentoeno tmnada aver comas casasquedopara elas () emresumo, falta animao precisamente nos lugares onde naAntiguidade, ela era mais intensa perto dos edifciospblicos(SitteinChoay,2005:206,208).Noseulivro,propeumareformanaordenaodascidadesmodernas,consistindoum dos pontos fundamentais, a elaborao de planos de

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    extenso de cidade preparados de modo inteligente, comestudospreparatrios(antecipandoseaotrabalhodeGeddes),constitudos por um bom programa de execuo, onde calculadoaproximadamenteocrescimentodapopulaonumperodo de cinquenta anos; um estudo de circulao; assimcomoumestudodotipodeconstruesaexecutareomododeasdispornacidade,querespalhadasdeacordocomasuafuno,querembairroscommisturadeusos.Defendeaindaaideia que os jardins devem ser espalhados, mas, emcompensao,osedifciosimportantesdevemseragrupados,quehavendoanecessidadedevriaspraas,estasdeveroseragrupadas, tendo cadaumadelasuma identidadeprpria,eque as irregularidades existentes devem ser mantidas emdetrimentodaaspiraodasimetria(SitteinChoay,2005:216217).Oobjectivodoplanoconsistenoidealdeproporcionaracada cidade uma praa original, onde todos os edifciosimportantesestejam reunidos,umapraaouumbairro,comidentidade,umespaoqueaspessoasgostemecomoqualseidentifiquem.

    O pensamento culturalista ganha forma no final do sc.XIXeinciodosc.XX,atravsdaprimeirarespostaprticaproblemticadacidadeindustrial,dadaporEbenezerHoward(18501928), considerado o pai das cidadesjardim, e ofundadordaAssociaodasCidadesJardim(1899).atravsdoseu livroTomorrow:APeacefulPath toSocialReform (1898)reeditado em 1902 sobo ttulodeGardenCities ofTomorrow,queexpeaomundoasteoriassobreoseumodelodecidadeideal a cidadejardim (Hall, 1977:44).No entantoHoward,explicaquenosetratadeumdesenhodefinitivo,masdeumconceitoquesedeveadaptarscaractersticasdoslocaisaserimplementado para a sim, tomar a sua configurao

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    definitiva (Howard in Rego, 2001:1570; Ottoni in Howard,2002:41).

    As suas teorias so postas em prtica pelos arquitectosRaymond Unwin e Barry Parker no projecto da primeiracidade jardim,Letchworth (1903),eporLouisdeSoissonsnodeWelwynGardenCity(191920).

    O diagrama Trs mans que Howard apresenta no seulivro explicita as vantagens e desvantagens existentes nacidade e no campo, sendo as vantagens da primeira, asoportunidadesdeempregoeacessibilidadeaserviosurbanoseadesvantagemopobreambientenaturalexistente,porsuavez o campo oferece um ambiente excelente, mas no asoportunidades da cidade (Hall, 1977:48), resumindo, com odiagramaHowardpropequeacidadeeocamposecasem,formando o man cidadecampo, a cidadejardim, onde sejuntamtodasasvantagensdocamposempremcausaasqueacidadeoferece,nohavendo lugarparaasdesvantagensdenenhuma delas (Mumford, 1956; Hall, 1977:51; Howard inChoay,2005:221).

    A cidadejardim consiste ento numa pequenacomunidadeconcentradaeautosuficientecomcercade30000pessoasnacidadee2000nazonaagrcola(OttoniinHoward,2002:41;Choay, 2005:223), assente na indstria e agriculturalocal,ecomumapopulaoresidente limitadaem termosdedensidade e nmero (Mumford, 1956). Segundo Howard, azona da cidade deve ocupar 400 ha na parte central de umterrenocom2400ha,eteraformacircular,comumraiode1130 m. No centro da cidade existe um jardim, com 2 ha,rodeado pelos edifcios pblicos de maior dimenso eimportncia. Desta zona central partem seis boulevardsarborizadas (como todas as ruas da cidade) com 36 m de

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    largura,quedividemacidadeemseisbairrosoupartes,equeatravessam a cidade at ao limite da circunferncia,penetrando no campo. No anel concntrico ao centrodesenvolveseoParqueCentralqueocupaumareade58ha,e inclui ptios de recreio sendo de fcil acesso a toda apopulao.Este Parque limitado, excepto nas intercepescomasboulevards,pelo PalciodeCristalqueconsistenumagrande arcada envidraada abertaparaoparque,no sendoapenas o centrode comprasda cidade edodistrito e umaexposiopermanenteondeos fabricantesda cidade exibemos seus produtos, mas tambm um jardim de Vero e deInverno (Choay, 2005:225). Aps o Palcio de Cristal,desenvolvese o cinturo de casas (implantadas em terrenosespaosos com jardins algumas vezes comunitrios), que divididopelaGrandeAvenida,umcinturoverdecom125mde largura, mais de 5 km de comprimento, ocupando umareade50hectares.Nestaavenida,esto localizadasemseisreas,com1haemeio,asescolaserespectivaszonasdejogosejardins,enoutrasasigrejas.Noanelexteriordacidade,estolocalizadastodootipodeindstriasearmazns,aolongode

    Fig.6EsquemageraldacidadejardimdeEbenezerHoward.Esquemadesecodacidadejardim.Fonte:Hall(1977)

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    umcaminhodeferrocircular,queseligaaumagrandelinhafrreaatravsderamificaes.Aenvolveracidadeencontrase a zona agrcola (Ottoni in Howard, 2002:41; Choay,2005:222225) que absorve os resduos slidos urbanos(Andrade,2005:31).

    Howard defende uma elevada densidade residencial,assim prope que quando cidade crescesse at ao limiteestabelecido, ela deixaria de crescer e seriam criadas outraspequenas cidades autosuficientes em redor da cidadeprincipal,mantendoascaractersticasdesta,eestandoapoucadistnciadamesma, consistiria num crescimentopor adiode clulas numa complexa aglomerao de cidades, tendocomo pano de fundo o campo (Hall, 1977:52; Corbett &

    Fig.7SistemadecidadesCidadeSocial.Fonte:Hall(1977)

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    Corbett,1999:5;Ottoni inHoward,2002:41;Choay,2005:226227). Howard chamou a este assentamento policntrico deCidade Social (Hall, 1977:52; Hall, 2002:109). As cidadesseriamenvolvidasporumcinturoverde,deformaaevitarodesenvolvimento da cidade em mancha de leo, e teriamligaes rpidas entre si e com a cidade central, atravs decaminhosdeferro e elctricos, facilitando a mobilidade doshabitantesdetodooconjuntodecidades,alisadistnciadecadacidadeaocentrodacidadeprincipal,noseriamaiorque5quilmetros(OttoniinHoward,2002:41;Choay,2005:227).

    Um dos pontos a destacar destemodelo o factode seestarnapresenadeuma cidade,um contnuourbano, comuma grande presena de espaos verdes o cinturo verdeinterior,oparqueeoespaoagrcolaenvolventeenonumamisturadecidadecampo(Carvalho2003:76).Acidadejardimassentadestemodonumacidadedetamanhodefinidoeondesubsiste um equilbrio funcional entre cidade e o campo(Fadigas,1993:162).

    AsteoriasdeHowardcomeamainfluenciarourbanismodevriospasesnoiniciodosc.XX,apsapublicaodoseulivro, tendo vrios seguidores, entre eles Raymond Unwin(18631940), que com Barry Parker, constri mais tarde umsubrbiojardimnoNordestedeLondresHampsteadGardenSuburb(19059).

    UmdosmaiorescontributostericosdeUnwinconsistenolivroTownPlanninginPractice(1909)ondeexpealgumasdassuasideias,nomeadamente,apreocupaodoconfrontoentreos traados regulares e irregulares e a proposta doplaneamento da cidade a duas escalas, o town planning distribuiofuncionaledosequipamentos,eorganizaodostraados virios; e o site planning organizao do

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    bairro/quarteiro/rua (Carvalho, 2003:78; Lamas, 2007:254256), que podemos dizer equivalentes aos actuais plano deurbanizaoeplanodepormenor.Defendea importnciadecentros bem definidos, com uma concentrao de edifciospblicos, constituindo verdadeiros ncleos de composiodentro do projecto da cidade. Para alm da definio decentros, Unwin preconiza a diviso destes em, principais esecundrios, sendo necessrio a sua existncia tambm nosbairros e subrbios, e importante a escolha das suaslocalizaes,umavezqueestescentros devemservirnosdestioparaosedifciospblicos,mastambmcomofocosdevida social. Unwin menciona ainda que a estao docaminhodeferro um dos pontos focais das vias decomunicao, um n de alguma importncia, visto ser umadasentradasdacidade,postoisto,develocalizarsenofundode uma praa aberta, enobrecendo a entrada da cidade efacilitando o trfego (Unwin in Choay, 2005:230231). Estaposio referente importncia dos centros e dos ns retomada, por Kevin Lynch (Lamas, 2007:254). O livro e osideais de Unwin tm influncias de Sitte, assim como sebaseiam igualmente nos ideais deHoward, no entanto comalguns desenvolvimentos e modificaes, que Unwindesenvolve com Parker, particularmente no que refere proposta de densidades residenciais mais baixas; aodesenvolvimento de cidades tendo como pano de fundo oespao verde livre; e existncia de cintures verdes comolimite das novas comunidades/bairros (Hall, 1977:55). Alis,Unwin defende que no se deve deixar crescer as cidadeslivremente, sendo fundamental concederlhes limites, queseparem as diversas partes das vizinhas, nomeadamente osnovosbairros,umalinhadeseparaontidaentreocampoecidade,evitandoasmargensirregularesdeaglomeraes()

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    que desonram os subrbios de quase todas as cidadesmodernas.Limiteessequepodeserformalizadoporfaixasdefloresta, terras de cultivo ou parques com reas de jogos(UnwininChoay,2005:230).

    TambmnosEUAasinflunciasdeHowardsosentidas,assimduranteo inciodosanos20,umgrupodeseguidoresde Howard e das experincias de Unwin, denominado deRegionalPlanningAssociationofAmericatentapremprticaateoria da cidadejardim, no entanto, o resultado so apenassubrbiosjardim ou cidades inacabadas.Deste grupo fazemparte, entre outros, Lewis Mumford, Clarence Perry, quedesenvolveoconceitode unidadedevizinhana,doqualsefalar adiante, Clarence Stein (18821975) e Henry Wright(18781936).

    Steindosprimeirosplaneadores,partedeParkereLeCorbusier, em Inglaterra e Frana respectivamente, a tentarsolucionar os problemas trazidos pelo uso massivo doautomvel.Defende que nas zonas residenciais necessriouma separao entre a circulao pedonal/bicicletas e a detrfego automvel (Hall, 1977:59) assim, juntamente comWright,tentaaplicarestapreocupaoeasteoriasdeHowardno desenvolvimento do que a primeira cidadejardim dosEUA,Radburn, emNew Jersey (1933), que no chega a serconcludadevidoaosanosdaDepresso.Radburnorganizaseem quarteires regulares de grandes dimenses, com umespao central livre onde se localizam a escola, algumcomrcio e jardins comunitrios, e para onde se encontramviradas as habitaes. A importncia do automvel minimizada e o acesso s habitaes efectuado atravs deculdesacs que partem das vias principais. A rede decaminhos pedonais e ciclovias permitem o acesso a toda a

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    comunidade, e possuem uma informal naturalidade (Hall,1977:61; Hall, 2002:146; Carvalho, 2003:8889; Corbett &Corbett,1999:5;Lamas,2007:312).

    Embora no tenha sido concluda, com a experincia deRadburn,SteineWrightdoumcontributofundamentalparaa cidadejardim que reside no manejo do trfego e dacirculao de pedestres atravs do chamado esquemaRadburn,porelesdesenvolvidoem1928(Hall,2002:142143).O princpio do Esquema de Radburn, aplicado por Steinnoutros dois casos nos EUA nos anos 30, mas apenas adoptadonaGrBretanhadepoisda 2GuerraMundial,nofinalosanos 50 (Hall,1977:61), excepoda suautilizaopor Parker em Wythenshawe (1930), Manchester. Stein nadcada de 20/30, reinterpretando a cidadejardim prope asGreenbelt Towns, cidades satlites envolvidas por cinturesverdesequedeacordocomFadigas(1993:174)nopassavamde unidades de vizinhana, equipadas, mas comcaractersticasdereasresidnciassuburbanas,ossubrbiosjardim.

    SegundoHall(1977:56;2002:128),BarryParker(18671947)vai um pouco mais alm no desenvolvimento ereinterpretaodasideiasdeHoward,enaintroduodetrsconceitosquetrazdosEUA(1925),doisdelesdiscutidoscomClarenceSteineHenryWrightem1924,quepeemprticanoprojectodeumacomunidadepara100000habitantes,aSuldeManchester, Wythenshawe10 (1930). O primeiro consiste nodesenvolvimento de parkways (vias rodovirias associadas aparques, concebidas por Olmsted) no espao livre entre ascidades, facilitando a ligao entre elas (uma adaptao do

    10 ParaHall(1977:56)aterceiracidadejardim

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    caminhodeferro para a realidade motora); o segundo, oprincpio da diviso da cidade em unidades de vizinhanaarticuladas;eporltimooprincpiodoesquemadeRadburndacidadejardimelaboradaporSteineWrightem1928(Hall,2002:128129).

    o grupo Regional Planning Association of America,principalmente atravs de Mumford, que igualmente nadcada de 20, espalha pelos EUA e o resto do mundo, afilosofiaeconceitosdeoutroestudiosoPatrickGeddes(18541932), fundindoa com adeHoward, e como aconteceu comeste,reinterpretandoa(Hall,2002:161).

    Geddes um bilogo escocs que se interessa pelourbanismo, nomeadamente pela relao do Homem com omeioenvolventeepelocrescimentodascidades,chamandoaatenoqueasnovas tecnologias (energia,motor)estavamafazer com que as cidades se dispersassem cada vez maisacabandoporseconglomerarem,definindoessasituaocomumnovoconceitoconurbao(Hall,2002:171).Segundoeleogrande problema desse crescimento que essas cidades so

    Fig. 8 Processo de Conurbao, Certo e Errado (Diagrama do livroCities inEvolution (1915)deGeddes,ondemostrao alastramentodacidadeeoseuremdio.Fonte:Hall(2002:172)

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    ainda o resultado da era industrial (descentralizaosuburbana),portantoconsistemnumproblemaemexpanso,deste modo, assim como Howard tambm preconiza, masnoutraescala,imprescindveltrazerocampoatcidadeatrua,enoapenasocontrrio,fundamentalqueascidadesparemdeesparramarsecomoborresdetintaemanchasdegordura(Hall1977,65;2002,171).

    Com esta preocupao Geddes cria o conceito deplaneamentoecidaderegionaleexpeassuasideiasemdoislivrosCityDevelopment(1904)eCitiesinEvolution(1915).

    Um dos seus maiores contributos consiste no diagramaSecodeVale11enomtodoqueprope,equeassentananecessidade da elaborao de um levantamento ambiental,geogrfico, historio, econmicosocial, limitaes epotencialidades locais, para o desenvolvimento de qualquerprojecto urbano, para isto ele elabora um esquema12 geraladaptvela cada realidade (Hall,1977:65;Sarmento,2004:10;Choay, 2005:274275).Questiona ainda, numa conferncia seuma vez donos desses elementos no seramos capazes deprever e organizar seu possvel desenvolvimento? (Choay,2005:275).

    Mas aps a 2 Guerra Mundial que quer a teoria dacidadejardimdeHowardquerafilosofiadeGeddescomeama proliferar, principalmente na GrBretanha. A ideia deconstruir este modelo de cidade em grande escala avanaassim, com o objectivo de evacuar a populao dos centrosurbanos sobrelotados, apsuma sriede relatrios, entre osquaisodeBarlow(1940),Uthwat(1942),Reith(1946),ecomo

    11 VerHall(2005:165166,171)eSarmento(2004:1114) 12 Choay(2005:277278)

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    resultadodasNewTownsActde1947quepromovemacriaodeumasriedenovascidades,14naGrBretanha,seguindoosideaisdacidadejardim(Mumford,1956;OttoniinHoward,2002:56,85;Carvalho,2003:8081).

    Paraalmdos relatriosdestacaseoPlanoAbercombrieparaLondres(1944)elaboradoporPatrickAbercrombie(18791957),quepropeodescongestionamentodacidadeexistente;umcinturoverde,comreasdejogos,lazereequipamentos,entreos20kme35kmdocentro;eacriaodenovascidadesautosuficientes, com cerca de 50 000 habitantes (Ottoni inHoward, 2002:86;Carvalho, 2003:80).Nesteplano possvelconstatar as influncias de Howard, Unwin, Geddes eMumford(Hall,1977:66;Hall,2002:200).

    Contemporaneamente a Howard, Tony Garnier (18691948) apologista dos ideais progressistas exerce um papelprimordialnaorigemdourbanismo e arquitecturamoderna(Choay 2005:164).Garnierdedicase igualmente elaboraodeumplanodeumacidademodelo, terminandooem1901,no entanto,o seu livroUneCit Industrielleapenas editadoem 1917. No livro so definidos os princpios bsicos dacidade, que assentam na anlise e separao das funesurbanas(zonamento);naorganizaodacidadeaumaescalamacro, como uma cidade linear, centrada em eixos virios,nomeadamente no caminhodeferro e consequente sucessode estaes13; importncia dos espaos verdes, comoelementos isoladores; padronizao dos diferentes tipos deedifcios; e utilizao de novos materiais, nomeadamente obetoarmado(Choay2005:163).

    13 Carvalho(2003:95)

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    Uma Cidade Industrial ter sido o ponto de refernciapara aqueles que, sem visionarem a ruptura com a cidadetradicional,propunhamasuaevoluoeadaptao (Lamas,2007:268). Garnier prope uma cidade mdia, para 35 000habitantes, implantada entre uma zona montanhosa e umaplancie por onde passa um rio. Na plancie, perto do riolocalizaseafbricaprincipal,umametalrgica,eentreestaeacidade,quesedesenvolvenumplanalto,passaumcaminhodeferro. Acima da cidade encontramse dispersos osestabelecimentos sanitrios. Quer estes, quer a cidade estoexpostosaSuleabrigadosdosventos,umavezqueestandojemvigoremmuitascidadesosregulamentosdehigiene14,soelaboradas e cumpridasuma sriedenormasna sua cidademodelo. A estrutura viria consiste numa rede de ruasparalelas eperpendiculares.A ruamais importantepartedaestaodaestradade ferroevaide lesteparaoeste.As ruasnortesul tm 20metros de largura e so arborizadas dos 2lados,asruasOesteLestetm19ou13m,sendoasprimeirasarborizadasapenasdeumladoeassegundasno(GarnierinChoay, 2005:164166). Os bairros residenciais organizamseporquarteirescom150x30m(sentidoLesteOesteeNorteSul,respectivamente),quesesubdividememlotesde15x15m,com um lado virado para a rua. A superfcie construdadever ser inferior metade da superfcie total do terreno,desenvolvendose no restante terreno do lote um jardimpblicoqueenvolveasconstruesatrua,existindoassim,umapassagem livrede acesso construo situada atrsdaprimeira,permitindooatravessamentoemqualquer sentido,

    14 quevariamconsoanteascaractersticasclimatolgicasegeogrficasdoslocais,aorientao,eadominnciadosventos

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    semanecessidadedepassarpelarua,eousufrutodo jardimporpartedetodososresidentes(GarnierinChoay,2005:165).

    SegundoLamas(2007:270),Garnierpropeapermannciada relao traado/rua/lote/edifcio, sendo a organizao doespao definida pela arquitectura. No que concerne aosservioseequipamentos,Garnierprope,nocentrodacidade,um espao destinado ao que ele denomina deestabelecimentospblicos,equeformamtrsgrupos,ogrupoIosserviosadministrativosesalasdeassembleias,ogrupoII as coleces, que englobammuseus, biblioteca, salasdeexposies,eogrupo IIIosestabelecimentosdesportivosede espectculos. Os dois ltimos grupos localizamse numparquelimitadoaonortepelaruaprincipalepelogrupoI,aosul por um terrao ajardinado com vistas para a plancie(GarnierinChoay,2005:166).

    Fig.9CidadeIndustrialdeTonyGarnierPormenordosbairroshabitacionais.Fonte:Lamas(2007)

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    Espalhadas pelos bairros, em locais convenientementeescolhidos,localizamseasescolasprimrias,dentrodasquaisexisteuma rua ajardinadaque separa asdiferentes classes eservederecreio.NoextremoNordestedacidadesituamseasescolas secundrias. A estao disponibiliza igualmentealguns servios, e localizaseno cruzamentoda avenidaquesai da cidade com as ruas que conduzem cidade velha,existindo na praa sua frente um mercado ao ar livre. Obairroanexoestaoconstitudoporhotis,grandeslojas,eoutros servios, ficando o resto da cidade desocupada deconstruesemaltura(GarnierinChoay,2005:166169).

    Embora faa parte do movimento moderno de ideaisprogressistas, Garnier mantm ainda a relaorua/lote/edifcio, porm essa relao rompida atravs dosseusprecursores.

    Assimcomoomovimentoculturalista,noinciodosc.XXo movimento moderno e designadamente os ideaisprogressistas inspiram vrios profissionais, nomeadamenteWalter Gropius (18831969), o fundador da Bauhaus15, quesegundo Choay (2005:175) exerce uma influncia ideolgicasobre a arquitectura e o urbanismo, comparvel deCorbusier.

    com a influncia de Gropius que a arquitecturaamericana adere, depois da 2 Guerra Mundial, ao estilointernacional. Este estilo usado na construo moderna ebaseiasenaexactidoerigorformal,simplicidadedentrodadiversidade;estruturaodasunidadesconstrutivasconformes funes respectivas dos edifcios, das ruas, dosmeios de

    15Cujosprincpiossefundamentavamnosconceitosdacriaodeumespaomoderno,dapadronizaoeprfabricao

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    transporte; limitao a formastipo, de base, que soclassificadas e repetidas (Gropius inChoay, 2005:177).ParaGropiusaresidnciaaclulatipodeumaunidadesuperiorque na rua, e a cidade deve ser homognea, atravs darepetio de elementos arquitectnicos standardizados, e teruma estruturamaisdilatada,masnodispersa,devendo serexecutadas simultaneamente construes horizontais (naszonas suburbanas) e verticais (nos centros urbanosdensificados)de10andares,que tmvantagensno aumentodeespaovital,favorecendoosganhosdesol,luzear,devidoaodistanciamentoentreconstrues,eaumentandooespaopara estacionamentos e localizao de comrcio. Porm,tambmGropiussenteanecessidadedecidadesmaisverdeseda reconciliao entre a cidade e o campo, defendendo, acriao de cidades verdes disseminadas num campourbanizado,isto,unidadesdeescalamaishumanadispersaspela regio, como resposta ao crescimentourbano, aliviandoassim os grandes centros. Estas cidades estabeleceriam areconciliao cidade/campo e consistiriam na base de umaestruturaurbanaregional(GropiusinChoay,2005:180181).

    Todavia, apenas em 1928 que omodelo progressista amplamente difundido atravs do grupo dos C.I.A.M.(Congresso InternacionaldeArquitecturaModerna),que em1933, no IVCongressodecorrido emAtenas com o tema ACidade Funcional, elaboram La Charte dAthnes (Carta deAtenas) apenas publicada em 1943, onde expressam edelineiam os ideais progressistas.Os princpiosdaCartadeAtenasassentamnosol,espaoeverdeeemquatro funeschave:habitar, trabalhar, recrearsee circular,porm se porum lado,aspreocupaeshigienistas levavamexignciadeluz e verdura, por outro, o modo de fornecer estes

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    elementos era desligado do suporte fsico e biolgico(Magalhes, 2001:9294, 98; Choay, 2005:1920). O grandedivulgadordaCartadeAtenas, redigindooseu texto finalLe Corbusier (Carvalho, 2003:94, 97; Lamas, 2007:337, 342,344).

    Le Corbusier (Charlesdouard Jeanneret, 18871965),embora na prtica tenha tido poucas realizaes, umdivulgadordosideaisdourbanismoprogressista,assimcomoGarnier e Gropius, organizando a sua cidade segundo aclassificao das funes urbanas (zonamento), criao deprottipos funcionais, standardizao e racionalizao dohabitat colectivo, e multiplicao dos espaos verdes(Carvalho,2003:97;Choay,2005:183).Corbusier culpabilizaotraadonogeomtricodacidade,peloestadoemqueestaseencontra,criticandoacidadeonde tudoseconfundeecrescenum ambiente catico onde se acumulam os imveis, seenlaam ruas estreitas repletas de barulho, de cheiro agasolina e de poeira, fortalece a sua ideia dizendo que ascondies naturais foram abolidas! A cidade radiocntricaindustrialmodernaumcncerquevaiindobem(CorbusierinChoay, 2005:184185).Critica igualmente a cidadejardim,denominandoa de grande disperso de pnico (Carvalho,2003:99).Assim,osprincpiosdeCorbusierbaseiamseemtrspontos,nacriticadonofuncionamentodacidadetradicionale congestionamento dos centros, no paradoxo que ocongestionamentoresolvidoaumentandoadensidadeeporltimoapreocupaodadistribuiodedensidadedentrodacidade (Hall, 1977:73). Atravs de uma classificao dapopulao, Corbusier prope um programa de urbanismocom o objectivo de limpar e simplificar a cidade, no qual ocentro consiste apenas no local de trabalho para cerca de

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    500 000 a 800 000pessoas, esvaziandose noite,umapartedessaspessoashabitanazonaresidencialurbanaearestanteabsorvidapelascidadesjardim.

    Esteprograma16 fixaas linhasorientadorasdourbanismomoderno (Corbusier in Choay, 2005:187). Deste modo, em1930LeCorbusier elaboraa sua tese,quedenominadeVilleRadieuse(CidadeRadiosa).Comasnovastcnicasemateriaisdeconstruoelepretendeabrirasfachadasparaoareosol,deixandoo solo livre,e fazendodos telhadosumnovo solo.Abole a rua e a sua vida, os ptios, as praas e pretendetransferirparaosterraos,oscafs,comrcioelocaisdelazerondepequenaspassagensestabelecemacirculao(CorbusierinChoay,2005:189190).Acidaderadiosadesenvolveseassimnum terreno plano, uma vez que necessrio construirgeometricamenteeaoarlivreeparaCorbusierconstruiraoarlivresignificasubstituiroterrenoirregular,insensato()porum terreno regular e longe do rio (Corbusier in Choay,2005:192,194).

    divididasegundoaclassificaodapopulao(urbanos,suburbanos e mistos), separao de funes (trabalho,habitaoelazer)efuncionalondesedistinguemdoisrgos,separados por uma zona de extenso e proteco, a zonavassala, reservasdearbosques eprados,uma cidadeocentro organizado e compacto, o outro a cidadejardim ocinturo extensvel e flexvel (Corbusier inChoay, 2005:192).Demodoarespondernecessidadedoaumentodadensidadedefendida por ele, ao aumento dos espaos verdes, e diminuiodo caminhoapercorrer,Corbusier combasenosnovos materiais e tcnicas, prope a construo em altura,

    16 Choay(2005:187)

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    longedasruas,comas janelasdandoparaparquesextensos(Corbusier in Choay, 2005:194), sendo a unidade dehabitaooelementomorfolgicodeorganizaodacidade(Lamas,2007:352).

    Assim os edifcios afastamse do solo, ficando este livreentre pilares, desenvolvendose o primeiro piso a 3 m dealtura. Estas unidades de habitao tm 50 m de altura,ocupandoumapequenareadesolo,25haemcontraposiocom os 200 ha da cidadejardim, esto afastadas umas dasoutras cerca de 150 a 200 m, e so envolvidas por espaospblicose jardins.Acirculaoefectuadapormeioderuasinteriores,ruasgaleria(CorbusierinChoay,2005:191).Noquereferecirculaoviria,Corbusiereliminaoconceitoderuacorredor,deixando estade serum elemento estruturantedacidade, e aposta na rapidez da circulao viria atravs da

    Fig.10LeCorbusierLaVilleContemporaine.Fonte:Lamas(2007)

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    segregaoeespecializaodeviasedageometria,umavezque defende que a cidade moderna composta por linhasrectas e as 7 vias17 constituem o sistema sanguneo erespiratrio () capazes de regular a circulao moderna(CorbusierinChoay,2005:188).Destemodo,propetrstiposde rua, no subsolo (nvel trreo), os transportes pesados decargas e descargas rodeados de espao verde; ao nvel doprimeiropiso,oacessodosautomveis,peesebicicletas,eaumnvel sobrelevado (osviadutos),comsentidoNorteSule

    17Aregradas7Vfoiestabelecidaem1948apedidodaUNESCOeconsistenaclassificaoehierarquizaodevias(Choay,2005:187188)

    Fig. 11 A Cidade Radiosa de Corbusier esboos de edifcios emamplosespaosverdes.Fonte:Lamas(2007)

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    EsteOeste, o grande autdromo de atravessamento, paraveculos rpidos. Existe apenas uma estao localizada nocentro, que faz a comunicao com todos os meios detransporte,inclusiveosareos(CorbusierinChoay,2005:193194).

    SegundoCarvalho(2003:94)distinguemsedoismomentosrelativosaomodeloexpressonaCartadeAtenas,oprimeirodesdeoinciodosculoat2GuerraMundial,queassentabasicamente em utopias e algumas realizaes, e onde sedestacam,osjmencionados,Garnier,GropiuseLeCorbusier,eumsegundomomento,nopsguerraataosanos70,comaadopo intensivadomodelo,devidonecessidade inerentede construir rpido e economicamente, neste momento omodeloassumeainternacionalizao.

    No entanto o modelo preconizado na Carta de Atenascomea a ser criticado a partir dos anos 60, tendo sido aaboliodaruaedaspraas,asuabanalizaoeosresultadosapresentados os principais motivos desta crtica. Alis noincio dos anos 70 o urbanismo moderno comea mesmo amorrer dando lugar criao do Novo Urbanismo e nostalgia pela cidade antiga (Carvalho, 2003:94; Lamas,2007:387389).

    Contemporaneamente a Le Corbusier mas apresentandoumaperspectiva completamentedistintada culturalista edaprogressista, encontrase o arquitecto Frank Loyd Wright(18691959), considerado como terico da disperso eantiurbanista,ecujainflunciaseespalhapelomundoapartirde 1911, contudo mais discretamente que a dos arquitectoseuropeus.Os conceitosde liberdade total, individualidade ede espao orgnico so elemento inspirador de toda a suaobra.Apresentaoseumodeloutpico,BroadacreCity,em1934,

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    atravsdeumamaquetegiganteedapublicaodetrslivros(Choay,2005:235236).Onomedomodeloprovmdaideiade1 acre por indivduo, e a cidade natural da liberdade doespaoconsistenumhbridourbanoruraldebaixadensidaderesidencial, em que as construes de linhas orgnicas seespalhameintegramharmoniosamentenapaisagem,quenose assume como um suporte mas como um elementoarquitectnico. A arquitectura subordinase natureza.(Carvalho, 2003:119; Wright in Choay, 2005:241; Choay,2005:31).Wrigthsuprimeacidadeexistente,evoautomvelnocomoumproblema,comoosoutrosurbanistas,mascomoumaliado,umavezquecomoaumentodoseuusoeextensode vias, mais fcil chegar rapidamente a qualquer lado,portantoaconcentraodeixadesernecessria,viabilizandooseu modelo (Hall, 1977:67; Fadigas, 1993:167). A circulaoviriapromovidaporautoestradasintegradasnapaisageme ladeadasporrvoresesebes.Todasasunidadesfuncionais(residncia, oficinas, comrcio) ficam a curta distncia dasescolasedomercado,eoslocaisdetrabalhonasproximidadesdas habitaes. As escolas so implantadas num parqueenvolvidoporcampo,etmterrenosuficienteparaosalunosfazerem plantaes (Wright in Choay, 2005:241245). EmBroadacreCitynoexisteseparaode funes,comonoutrosmodelosmodernistas,porquecomorefereCarvalho(2003:125)na construo dispersa, caracterstica domodelo, isso no necessrio.

    Embora o modelo no seja efectivamente aplicado adispersoumarealidadedacidadeactual.

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    1.1.2OCasoPortugus

    EmPortugalaindustrializaonomuitosentida,destemodo o crescimento das cidades no segue o exemplo dasvrias cidades europeias, mantendo os seus limitesamuralhadosatmeadosdosc.XIX.ApenasLisboaeoPortoregistam um significativo crescimento urbano (Carvalho,2003:5152),queconduz,em1865,elaboraodeumdiplomacom as bases dos Planos Gerais de Melhoramentos destascidades,quevigoram at 1934 enosquais estopatentes asprincipais preocupaes urbanas da poca, a higiene e acirculaodascidades.AtravsdestesplanosourbanismodosprimeirospassosemPortugal,pormestesseevidencia,nosanos30,atravsdasacesdeDuartePacheco,alturaemque so efectuados os Planos Gerais de Lisboa e Porto. NoentantoascorrentesurbansticaschegamaPortugalcomumgrande desfasamento e por vezes j alteradas ou comdiferentesinterpretaes(Lbo,1995:13).

    Como j foi referido, antes da poca deDuarte Pachecosoelaboradosalgunsestudos,nomeadamenteparaLisboaePorto. Em 1874, altura em que se inicia um crescimentopopulacional na capital,RessanoGarcia (18471911) ingressana Cmara Municipal de Lisboa e elabora uma srie deestudos, influenciados pelo Plano de Haussman, mas queharmoniosamenteseconjugamcomasprexistncias,sendointegrados, em1904,noPlanoGeraldeMelhoramentos,quepropeno interiordanovamalhaurbana,umgrandeespaoverdecentral(Lbo,1995:17,22).

    Em1927,aCmaraMunicipaldeLisboaconvidaForestier,arquitectopaisagistafrancs,paracolaborarnaelaboraodeoutro Plano Geral de Melhoramentos que visa organizar o

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    crescimentodacidade.ApropostadeForestierreflecteassuasorientaesmetodolgicasparaaszonasdeexpanso,quesebaseiamnoestabelecimentodeumprojecto,umprogramaousistema, expresso topograficamente, de espaos livres, dejardins e de parques (Lbo, 1995:16,26, DGOTDU, 2005),sistema este j preconizado porOlmsted nosEUA (Fadigas,1993: 143144; Telles, 1997:57; Magalhes, 2001:105). Aproposta assenta assim, na localizao de um parque queenvolve a cidade onde localiza alguns equipamentos e trspequenascidadesjardins(Carvalho,2003:84;DGOTDU,2005)enaexpansodacidadeparaNorte,quesearticulaporumarotunda com uma alameda que atravessa o parque e queconsiste no principal eixo da cidade (Lbo, 1995:2628;DGOTDU, 2005). Lbo (1995:16,124126,142) enquadra ainterveno de Forestier no movimento City Beautiful, queinfluencia,entreosanos30e40,osplanosdeCristinodaSilva,Carlos Ramos, Paulino Montez, Jorge Segurado (Plano deUrbanizaodaPraiadoCabedelo,1934),JosPorto(PlanodeUrbanizaodaTermasdoGers,1936)ePauloCunha(PlanoGeraldeArranjodaQuarteira,1942).

    Nosanos20soelaboradosestudosparavriaszonasdopas, pela primeira gerao de arquitectosurbanistasportugueses(Lbo1995:16,31,132).

    No entanto, nos anos 30queourbanismo se lana emPortugal, atravs da aco interventiva de Duarte Pacheco,dirigentedoMinistriodasObrasPblicas(1932)quetemporobjectivo a transformao da imagem das cidadesportuguesas, prevendo assim a necessidade da criao dePlanos Gerais de Urbanizao (1934). Todavia, estes apenasganham fora em 1944, altura em que comeam a existir as

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    bases de trabalho necessrias elaborao e execuo dosplanos(Lbo1995:3537).

    Assim,aolongodosanos30einciodosanos40destacamse alguns planos e intervenes levadas a cabo porarquitectosurbanistasportugueses.

    Em1932, tendoemcontaocrescimentopopulacionaldoPorto, Ezequiel Campos influenciado pela teoria doplaneamentoregionaldePatrickGeddes,propeaelaboraodeumPlanoqueenglobaaspovoaesenvolventes,tendoporobjectivoadefiniodeumavastacidade,acidade regional,atravsdeumplano regionaldeurbanizao.Noplano soestudados os acessos cidade e a sua interligao com asoutraspovoaes,a redede ruasqueenvolvemocentroealocalizao dos diversos usos, tais como a habitao,equipamentos, espaos verdes e a indstria. A ideia deEzequiel Campos posta em prtica mais tarde pelo prof.AntodeAlmeidaGarrettquedesenvolveoPlanodaRegiodoPorto(Lbo1995:15,3031).

    Aindanesteano,oarquitectoRogriodeAzevedoconcebeumapequenacidadejardimnaperiferiadeVianadoCastelo,na proximidade do caminhodeferro (Lbo, 1995:146;Carvalho, 2003:84). Lbo (1995:146) considera que estapropostaconsistenoprennciodacorrentequeirdominarourbanismo portugus a partir do final da dcada de 30.Contudo a nvel morfolgico aproximaa da correntereformista germnica das Siedlungen18, que da cidadejardimdeHoward.

    18 Pequenosaglomerados,geralmentecomtraadogeomtrico,localizadosprximosdanaturezaedocaminhodeferro(Lbo,1995:146)

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    CassianoBrancodosarquitectosportugueses jreferidos,onicoquenosededicaaourbanismoenoinfluenciadopelacorrenteCityBeautiful,ele,assimcomoRogrioAzevedoprenunciaacorrentedacidadejardim,antecipaemPortugal,alinguagemdaCidadeRadiosadeCorbusier,edesenvolvenoinciodosanos30,umapropostautpica,umplodelazernaCosta da Caparica, onde a arquitectura assume o papelprincipal.Apropostacaracterizasepeloamploespaopblicodesenhado a pensar no automvel e por ignorar as prexistncias,deixandoapenasapaisagemenvolventeque tempor funo enquadrar os conjuntos de grandes edifciospropostos(Lbo,1995:103,124).

    Da primeira gerao de arquitectosurbanistas, os maisnotveissoCarlosRamos,CristinodaSilvaePaulinoMontez(Lbo,1995:103).

    Em1935,CarlosRamosganhaoconcursoparaoPlanodaPraiadaRocha,queno sendoaprovadonaalturadevidoareacesnegativasporpartedaimprensa,omaistardeapsalgumasalteraes.Oplanodivideseemduascomposies,uma que se desenvolve em leque, tendo como centro umapraa costeira, e outra que se formaliza ao longo da costa,onde sodemarcadososnsdo eixovirioprincipalque seprolongaparaointerior.Nasduasavenidasperpendicularescostalocalizamseosequipamentoscomumaestruturaviriageomtricaquesedesdobraemruasdemenordimensoqueenquadram os quarteires residenciais, sendo toda a reaconstrudaenvolvidaporespaosverdes.ParaLbo(1995:113115) este plano um notvel exerccio de composioinspirado em exemplos contemporneos de desenho dacidade.Ramos,elaboraaindadoisplanosquesedestacam,o

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    deTomar (19381944) eodePontedeSor, iniciado em1944(Lbo,1993:9798,fig.5.10;1995:115117).

    Aolongodadcada30,CristinodaSilvadesenvolvedoisPlanos de Pormenor para Lisboa e tambm prope umacidadejardim para Lisboa que no concretizada,influenciandoporm,oplanoquedesenvolvenadcadade40paraaPraiadeVieiradeLeiria(Lbo,1995:103,105).

    Em 1941, Cristino concebe o Anteprojecto para aUrbanizao da Frente Marginal de Monte Gordo, queconsiste numa proposta que estrutura um conjunto deequipamentos, tendo como elementoprincipal oCasino queuneaalamedapedonaldapraiacomaviaprincipaldeacessoao aglomerado existente. Dentro da mesma linguagem,desenvolve em 1942, a Regularizao e Embelezamento dafrentemarginaldeSines(Lbo,1995:108110).

    Paulino Montez, no incio dos anos 40 desenvolve aspropostasapresentadas,em1929,paraasCaldasdaRainhaePeniche,nasquaisassumeoconjuntocomoumtodo,propemaisespaosverdesedefineseparadamenteozonamentoearede viria. No Plano das Caldas (194149) prope viasperifricasque envolvem a zonaurbana, eumbairrojardimparaacidade.Nasreasdeexpanso,aparecempelaprimeiravez,quernesteplanoquernodePeniche,impasseslimitadospor pracetas e pequenas alamedas. A proposta de praasrectangulares e um espao em U, envolvendo um grandeequipamento,introduzemamplasreasdedesafogonotecidourbano(Lbo,1995:135).

    Contudo nos anos 30, urbanistas estrangeiros voltam atrabalharemPortugal,aconvitedeDuartePacheco,etambmda Cmara do Porto. Estes urbanistas trazem diferentestendnciasdourbanismoeuropeu,influenciandoourbanismo

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    portugusaolongodosanos40econtribuindoparaosvriosperodos de desenvolvimento do urbanismo em Portugal,sendo os mais importantes, DonatAlfred Agache, GiovanniMuzioeEtiennedeGrer(Lbo,1995:37,51).

    Em 1933,DuartePacheco convidaAgacheparao estudoda ligaodeLisboaCascaiseparaaconcepodaexpansoda regio Oeste de Lisboa. Este valoriza a estrutura deconjunto, trabalhando escala regional e local, e Lbo(1995:51) enquadrao como a Forestier no movimento CityBeautiful.Agacheassumeumavisoalargadadoprocessodeplaneamento,paraalmdodesenho,ocupasedaestruturaoadministrativa e da fundamentao legal das operaes adesenvolver (DGOTDU, 2005). Inicia assim o estudo tendoem conta as potencialidades locais, assumindo a articulaocomocentrodeLisboanumaperspectivadedesenvolvimentoregional e no apenas local, deste modo prope uma redeviriaque assenta emdois eixosparalelos costa,aEstradaMarginaleaAutoestradadaCostadoSol,quesocortadasporviastransversais,tendocomoobjectivoainteriorizaodaexpanso urbana. Prope ainda um conjunto de espaosverdes,proporcionandoacadaaglomeradoaoportunidadedeternasproximidades reasverdesde recreio; e a criaodeum centro desportivo num amplo espao verde, na CruzQuebrada, acessvel quer de Lisboa quer das restanteslocalidades.Entre1935e1936,AgachededicaseaoPlanodeUrbanizaodaCostadoSol,queapresentacomopremissasaexpansourbanaeaexploraoturstica.Numaprimeirafase,desenvolveoplanoescalaregional,fazendoaarticulaodeLisboacomas localidadesatravsdoPlanoDirector;enumasegunda,passaparaa escala local,desenvolvendoosPlanosde Urbanizao das localidades ribeirinhas, tendo como

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    princpio orientador a requalificao dos centros e a sualigaocomLisboa.Aonveldodesenhodefinearedeviriaprincipal, as reas de expanso residencial e prope praasformais rodeadas por edifcios em banda, caracterizando ainterveno pelo contraste do formalismo proposto para asreas centrais e a flexibilidade das reas residenciaisperifricas (Lbo,1995:5457).ApropostadeAgacheassentaainda numa rea verde para a foz do rio Jamor, dandocontinuidade do Estdio; na transformao de jardinsprivados em espaos verdes pblicos, em Dafundo; e nosaglomerados com reasde expansodemaiordimenso,nadefiniodeumarededeespaosverdes,percursospedonais,pracetas, alamedas de dimenso reduzida e impasses, semelhana de Radburn, sendo Carcavelos considerado umexemplo paradigmtico (Lbo, 1995:5759; DGOTDU, 2005).Lbo, (1995:59) refere aindaque apropostadeAgache temumapujana formal euma clarahierarquizaodos espaosurbanos, que no vir a ser alcanada pelas propostassubsequentes.

    Aausncia,dedoisanos,deDuartePacheconoMinistriodas Obras Pblicas, finaliza o trabalho de Agache emPortugal.QuandoDuartePacheco regressaem1938,convidaEttiene de Grer para o desenvolvimento do Plano deUrbanizao da Costa do Sol, o Plano Director de Lisboa,algunsPlanosdeUrbanizaodossubrbiosdeLisboa,assimcomoosplanosdeCoimbra,Luanda,Braga,voraeSintra.comGrerque,tardiamente,ainflunciadefinitivadacidadejardim chegaaPortugalnosanos40,umavezquebaseiaassuas intervenes na teoria da cidadejardim de Howard,defendendoumsistemaplaneadodecidadesconstitudoporcentrosurbanosdedimenso limitadae relacionaCorbusier

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    com a construo em altura, que considera ultrapassada(Lbo,1995:75).

    Grer,em1938,dassimcontinuidadeaoplano iniciadopor Agache. Porm, o plano de Grer diferente dodesenvolvido pelo seu antecessor, que era mais urbano eformal, Grer aborda de uma forma mais geral o modelocidadejardim, mas relacionandoo com o tradicional.Contrariamente aAgachequevia aCostadoSolnum todo,Grerindividualizacadaaglomeradorelacionandoosapenascom a Marginal () e com o caminhodeferro. Osaglomerados caracterizamse pela orgnica dos seusarruamentos, adaptao ao relevo, utilizao de impasses epracetas, domnio da baixa densidade, sendo apenaspermitido habitaes multifamiliares em banda, com omximodeumpiso,nasreascentrais.Grerrefereainda,norelatriodoplano,queozonamentoqueestabelecediferentedo habitual, na medida em que pretende um aglomeradoresidencialespaado,mantidonumenvolvimentodeverdura(Lbo,1995:8992;DGOTDU,2005).

    OsPlanosdeUrbanizaodeCoimbra eLuanda, com acolaborao de David Moreira da Silva, so os primeiros aserem concludos por Gror em Portugal, e apresentam emcomum o desenvolvimento de localidades satlites comoalternativaaocrescimentodacidadecentral.Contudo,nestesplanos a teoria da cidadejardim que defende, afastase naprtica do conceito de Howard, aproximandose mais domovimentofrancsdosubrbiojardim(Lbo,1995:77).

    NoquerespeitaaoPlanodeBraga(1942)Groradoptaozonamento, estruturando o plano por zonas residenciais,comerciais e industriais, e preconizando para as reas deexpansoamonofuncionalidade(DGOTDU,2005).Propeum

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    traadoda redeviria epedonal,noqual amaiorpartedasruassosinuosas,comexcepodasviasprincipais;utilizaoimpasse, criando espaos semipblicos; prope vriastipologias de quarteires e estuda cuidadosamente alocalizao do equipamento, nomeadamente a implantaodasescolas,quesituanointeriordegrandesquarteires,comacessosprprios(Lbo,1995:84).

    Em 1946, Grer inicia o Plano Director de Lisboa, queconclui em 1948, e que contm as intervenes que foramefectuadasnos25anosqueseseguiram.DeacordocomLbo(1995:9396), o plano faz pela primeira vez a aplicao doconceito da conteno do crescimento urbano cidade deLisboa,eapresentacomoprincpiosorientadores,alocalizaodeumcinturoruraldeprotecoeconteno,com3kmdelargura; o zonamento monofuncional, que mais tarde sercontestadodevidos suas consequncias, sendopropostadeforma a minimizlas a descentralizao dos servios,reforando a vida interna dos bairros. Neste plano propeigualmente a localizao de parkways e cinturas verdes nosagrupamentosresidenciais.

    Grer para Lbo (2003:100), apresentase como umurbanistaactualeverstil,queabrangequernovastipologias,quer as correntes alems do sc. XIX, a cidadejardim deHoward, o princpio de Radburn e o de unidade devizinhana, e o urbanismo moderno. Contudo, segundoCarvalho (2003:86), a influncia do modelo cidadejardimtrazidaporGrer,sentidaatravsdos traadose tipologiasconcebidas para a requalificao e expanso das cidadesexistentes.

    Em1941,aCmaraMunicipaldoPortoconvidaGiovanniMuziopara colaborar na elaboraodoPlanoReguladordo

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    Porto,que temporobjectivos resolverosproblemasda redeviria e da expanso da cidade para Poente, assim comoestudara ligaodocentrocomaPonteD.Lus.ApropostafinaldeMuzio,datade1942eapresentaumagrandereadeespaos verdes, uma rea de expanso apenas na zona doCampoAlegre (quepecaporno se adaptar ao terreno) e azona industrial localizadanoeixoPortoLeixes.Noentanto,com a morte de Duarte Pacheco, que acompanhava odesenvolvimentodoplano,estesuspenso(Lbo,1995:68).

    Como jsereferiuoplaneamentourbanoemPortugalsatingiuoseuaugeentre1944(alturaemquecomeamaexistirmelhores bases topogrficas) e 1954, dcada em que soconcludos volta de trezentos anteplanos de urbanizao,sendo aprovados at 1954 cerca de metade. Esta dcada marcada por dois momentos, que correspondem a duascorrentes.Oprimeiromomentode1944a1948influenciadoporAgache,Grere seusantecessores,noqualourbanismoassocia o urbanismo formal, em que o desenho do espaopblicoacusaainflunciadosmodelosalemoeitaliano,comuma verso tardia da cidadejardim (Lbo, 1995:145). Osegundo momento iniciase em 1948 com o I CongressoNacionaldosArquitectos,noqualhaadesoaosprincpiosdaCartadeAtenas,eomodelodeCorbusierganhaforaemPortugal.DoprimeiroperododestacamseMoreiradaSilva,Faria da Costa e Joo Aguiar. Contudo, Carlos Ramos,mencionado anteriormente elabora ainda, depois de 1944, oPlano Parcial de Urbanizao junto ao Castelo do Queijo(1946), o Plano do Bombarral (1948), Fundo (194549) eCabrela(1949).

    MoreiradaSilvadesenvolve,em1941,oPlanodeMoledodo Minho, estudo j elaborado por Ramos em 1929, onde

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    apresentaummaiorrespeitopelaspreexistnciaseumavisode conjunto,desenvolvendo um aglomeradojardim onde osespaosverdespredominam(Lbo,1995:148152).

    Faria daCosta, a par de JooAguiar, autor de vriosestudos entre o final dos anos 30 e os anos 50, de entre osquais,osPlanosdaCostadaCaparica,TrafariaeCoruche,eosBairros do Areeiro e Alvalade (Lbo, 1995:159; Lamas,2007:284).

    OBairrodeAlvaladedatade1945,ocupaumareade230ha,destinandosea45000habitantes.Oslimitesdobairrosograndesvias,eapropostaestruturasesegundoquatroeixosvirios,doisnosentidoNorteSuledoisnosentidoOesteEste,que dividem a rea de interveno em oito unidades e queretiramotrfegodeatravessamentodointeriordestas(Lbo,1995:161). Segundo Lamas (2007:284286) o Areeiro eAlvalade representam um exemplo equilibrado entre cidadetradicional e os princpios da urbanstica moderna, comoorganizao distributiva das funes e equipamentos, ahierarquizaoviria, adesprivatizaodo solo, a libertaodo interior dos quarteires para espao colectivo, as zonaslivres e arborizadas. Em Alvalade igualmente notrio aaplicaodo conceitode unidadedevizinhana,atravsdalocalizao do equipamento a cerca de 500m da habitao,localizaodeumaescolaprimriacomopontofocaldecadaunidadecomacessoatravsdeumaredepedonal,eaadopodamisturadeusos,conferindoaobairroumaautosuficincia(Lbo, 1995:161; Lamas, 2007:286). Lbo (1995: 160) afirmaainda, no que diz respeito a Alvalade, que a rede viriaproposta tem por base uma malha reticulada, que umasucessodeimpasses,pracetas,espaoslivreseequipamentospreenchem, resultando deste processo uma malha final

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    compacta e equilibrada e que Faria da Costa prope umanova linguagem relativa relao edifcio/rua, comoprennciodoinciodosegundoperodo,emquesoseguidososprincpiosdaCartadeAtenas.

    Joo Aguiar , nos anos 40, um dos urbanistas maissolicitados, tendo a seu cargo os planos de vrias cidade evilas,nomeadamente:Olho,Setbal,Faro,VianadoCastelo,Castelo Branco, Viseu, Santarm, Vila Real, entre outraslocalidades. Lbo (2003:170) refere que o urbanista numadialctica entre a consolidao e reestruturao do tecidoexistente (...) tenta a conciliao entre o urbanismo formal eumaimagemfortementeinfluenciadapelodesenhodacidadejardim.Os seusplanosprevemeapoiamsedeuma formageralnosseguintespontos:reestruturaoehierarquizaodarede viria, que na maioria dos seus planos conduz a umelevado nmero de demolies, principalmente nos centroantigos; criao de amplos espaos verdes e localizao denumerosos equipamentos nestes; definio de zonas para alocalizao de edifcios pblicos, as quais designa de zonasoficiais;criaodenovaszonasresidenciaismaioritariamentecomhabitaounifamiliar;demarcaodaszonasdestinadasaoperaesderenovaourbana,fundamentalmenteoscentrosantigos,porquestesdesalubridade.

    O Plano de Olho concludo em 1944 e apresenta aparticularidade, a nvel de forma urbana, de proporquarteires abertos circulao pedonal, numa intervenosemelhante que Faria daCosta prope paraAlvalade, e aidentificaodaformacidadejardim,comimpassesepracetasemU, numa zonade expanso.NoPlanode Setbal (19441947)apropostasemelhanteanterior,emborareferenteaocentro histrico, onde prope a abertura do interior dos

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    quarteires utilizao pblica, atravs de uma rede decaminhospedonais.

    OPlanodeFaro,terminadoem1945,propeumcinturoverdeondepermiteaexploraoagrcola,demodoaconterocrescimentoperifrico.Aindanesteplano,definequemetadeda rea de cada lote deve ser arborizada oumantida comojardim,valorizandoassimosarruamentos.

    No Plano de Castelo Branco (1945), Aguiar prope umanelperifricodecirculao,localizandopraasnosnsdestaviacomasviasregionais.

    O Plano de Viseu (19471950) inovador devido aplicao de dois conceitos, o de sistema de parques, jdefendido por Forestier, que prope de forma a criar ummacio verde contnuo, e o conceito de unidade devizinhana,japlicadoemAlvaladeporFariadaCosta,equepropenobairrojardimquedefineparaareadeexpanso(Lbo,1995:170183).

    AntodeAlmeidaGarretdesenvolveoPlanoReguladordo Porto (1952) sucedendo a Piacentiti e Muzio. O planobaseiasenanecessidadedeumaestruturaogeraldacidade, qualGarret responde com a proposta de uma rede viriaconexa e coerente, e de trs cintures de jardins e parquesonde localiza algum equipamento.Combaseno conceitodeunidade de vizinhana agrupa os bairros em unidadesresidenciais e define pequenas zonas locais de comrcio defcil acesso, assim como uma mais central (Lbo, 1995:208209).Aindasegundoaautoraesteplanoconstituiaindahojeummarcofundamentalnaestruturaodacidade.

    O segundo perodo iniciase em 1948 no I CongressoNacional dos Arquitectos, em que alguns urbanistas,

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    nomeadamenteArmnioLosa,VianadeLima eLoboVitaladerem e defendem os princpios da Carta de Atenas,promovendo a proliferao da ideia da Cidade Radiosa emPortugal. Este movimento influencia essencialmente aarquitectura e intervenes de pequena escala. Todavia,ArmnioLosa eBonfimBarreiros adoptamnonosPlanodoGers, Vila Nova de Gaia e Macedo de Cavaleiros,constituindo os primeiros exemplos do movimento (Lbo,1995:211212;Carvalho,2003:111).

    O Plano de Vila de Gaia finalizado em 1949, ecaracterizase pela segregao da rede de circulao, viria,pedonal e das ciclovias; zonamento monofuncional; altadensidade e extensos parques que enquadram os conjuntosedificados. So propostas unidades residenciaisinterdependentesquesearticulamcomdiversoscentroscomfunesdistintas,atravsdarededecirculao.

    OAnteplanodeMacedodeCavaleirosapenasterminadoem 1951 e apresenta uma caracterstica inovadora no querefere forma, os edifcios em banda libertamse da redeviriaedamalhacadastral(Lbo,1995:215).

    Apartirdosanos50aproduodeplanosdiminui,apsum longo perodo de grande actividade marcado pelasinfluncias estrangeiras que trazem, muitas vezes jdescaracterizadosoureinterpretadoseadaptadosaocontextoportugustrscorrentes,adaCityBeautiful,aCidadeJardimeaCidadeRadiosapreconizadanaCartadeAtenas.

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    1.1.3Snteseeorientaes

    Oestudoefectuado,dosmodeloscriadosnuma tentativade ordenamento da cidade industrial, para resolver asquesteshigienistasesociais,pretendecompreenderquaisasopes tomadas, a nvel organizacional, que elementos sedestacam na estruturaoda cidade, como que a cidade assumida,comoquearelaocomanatureza,grandementeevocada,solucionada,equaloseuvalorparaacidade,numatentativaderetiraralgumasorientaes.

    ARevoluo Industrial alterouprofundamente a cidade,quenoseencontrandopreparadaparaasmudanas,iniciouum crescimento descontrolado, devido ao aumento dapopulao,ocupandotodososespaosdisponveis,sobretudoas zonas verdes, conduzindo a condies de vida precria,problemas de insalubridade e sociais. A cidade comea adegradarse e perde o equilbrio com o meio naturalenvolvente, existente at ento. Surgem vrios modelos ouideias ao longo do sc. XIX, os primeiros pelos socialistasutpicos, na procura de solues alternativas para osproblemas da cidade industrial, como resposta s questeshigienistas e s sociais, que assentam na recusa da cidadeexistenteenorestabelecimentodoequilbriocomanatureza,anecessidadedeespaoabertoeverde.

    As propostas dos utpicos progressistas estudados,embora algumas assentem em edifcios colectivos (Owen,Fourier, Considrant e Godin), e outras em habitaesunifamiliares(Richardson),apresentammuitosemelhantes,namedidaemquesecaracterizamporumaviso funcionalista,comoinciodasegregaofuncional(zonamento);consistem,maioritariamenteemprottipos,experinciasformalizadas,ou

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    no,longedarealidadeurbana,quesepodemirreproduzindona paisagem prexistente, sendo essa a relao com anatureza/verde,aexistnciadeumamploespaoverdequeasenvolve;noexistindoassimumcarcterurbanoenemumaestrutura (viria ou verde) efectiva de cidade, alis algunsmodelos suprimem mesmo a rua (os edifcios colectivos deFourier, Considrant e Godin). E embora Fourier preconizetrsanisrelvados,queseparamfuncionalmenteasuacidadeideal,assuasnicasfunessoaesttica,espaosparaseremcontempladosnoconstituindoobstculosvisuais,earelaocom a natureza relativa s questes higienistas. Os espaosverdesouanaturezaconstituemapenaspanosdefundoondeas unidades se implantam, no constituindo elementos daprpriacidadeoucomunidade.

    Numa perspectiva distinta dos utpicos progressistas,Ruskin e Morris, culturalistas, criticam a desarticulao eincoerncia da cidade e preconizam a defesa da misturafuncional, como caracterstica de ruas harmoniosas; aregeneraodos centros antigos; anecessidadedeuma redede espaos verdes na cidade e a preservao da paisagemnatural.

    De notar que estas preocupaes inclusive, adesarticulao da cidade, so actuais, assim como anecessidade da mistura funcional, mas numa perspectivaplaneada tendo em contaasnecessidadesdapopulao easfunes a associar, e a rede de espaos verdes, actualmenteatravs da implementao de uma Estrutura EcolgicaUrbana.

    OPlanodeParisdeHaussmaneoPlanodeExpansodeBarcelona deCerd consistem em intervenes efectivas emcidadesexistentes,easduaspretendemresolverosproblemas

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    deinsalubridadeecongestionamentodacidade,promovendoumamelhormobilidade.

    No Plano de Haussman para Paris evidenciase, a forteredeviriaquefazaligaodasvriaszonasdacidadeedasestaes ferrovirias, funcionando como elementoestruturante;apreocupaoda localizaodosmonumentos,como pontos de referncia urbana e na sua estrutura; e oplaneamento para uma integrao eficiente de servios eequipamentos, incluindo espaos verdes, de forma aresponder s necessidades da populao.No que refere aosespaos verdes, e como se constatar adiante, a soluoadoptadanodetodoamaisvivel,noentantoasquestesaqueestesespaospretendemrespondernaaltura,relacionamsecomahigienizaodacidades,atravsdoarpuro,ecomasquestessociais,muito ligadasaorecreio,enocom funesecolgicasouestruturantes.

    Cerd, no seu Ensanche de Barcelona, tem uma visoglobal