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Caderno Intersaberes, v. 1. n.1, jul./dez., 2012 Página 140
Análise das relações entre memória e aprendizagem
na construção do saber
Analysis of Relationship between Memory and Learning Construction of Knowledge
Joseneide Bezerra Cerqueira Estrela 1
Josenete dos Santos Falcão Ribeiro 2
1Pós-graduação em Educação - UNINTER, [email protected] 2 Pós-graduação em Educação - UNINTER, [email protected]
Resumo
Este artigo propõe compreender a relação existente entre aprendizagem e memória, enfatizando o papel que esta exerce no ato de aprender. Explicita como a memória é formada em todas as suas etapas desde a aquisição, passando pela consolidação e por fim a evocação e o quanto a integridade de funcionamento dessas etapas contribui poderosamente para todas as demais atividades mentais presentes no processo de aprendizagem. Junto a isso, repassa algumas correntes pedagógicas com a intenção de analisar alguns conceitos necessários e de verificar qual o papel da memória no processo de aquisição da aprendizagem e como os educadores fazem uso dessa capacidade humana. Inclui refletir sobre a aplicação dos conhecimentos neurocientíficos na educação e sobre a necessidade de maiores pesquisas que abranjam tanto a memória quanto a aprendizagem, principalmente a relação entre essas duas áreas no sentido de melhorar a prática pedagógica, bem como uma melhor aprendizagem. Tem como objetivo final, retomar a importância da memória no ato de aprender à luz dos conhecimentos neurocientíficos aplicados à educação. Apesar de muitas descobertas acerca dos mecanismos bioquímicos e físicos presentes na memória, ainda não temos fundamentação suficiente para compreender todos os processos que ocorrem na formação das memórias e o quanto esses processos estão diretamente ligados à aprendizagem.
Palavras-chave: Memória. Aprendizagem. Neuropsicologia. Construção do conhecimento. Consolidação da Memória. Evocação.
Caderno Intersaberes, v. 1. n.1, jul./dez., 2012 Página 141
Abstract This article proposes to comprehend the relationship that exists between the learning and the memory, emphasizing the role that the first one performs in the act of learning. It makes evident how the memory is made up in all its steps from the acquisition, passing through consolidation, and at last the evocation and how the integrity and the functioning of this steps mightily contribute to all other mental activities in the learning process. Moreover, review some pedagogical chains with the intention to examine some necessary concepts and to check what the role of memory in the process of acquisition of learning and how teachers make use of that human capacity relegated to merely repetitive tasks. Includes reflect on the application of neuroscientific knowledge in education and the need for further research covering both memory as learning, especially the relationship between these two areas in order to improve teaching practice and improved learning. Its final objective, retake the importance of memory in learning in light of neuroscientific knowledge applied to education. Although many discoveries about the biochemical mechanisms and physical gifts in memory, we still lack sufficient reasoning to understand all the processes that occur in the formation of memories and how these processes are directly linked to learning.
Keywords: Memory. Learning. Neuropsychology. Knowledge building. Memory consolidation. Evocation.
Introdução
Este artigo tem como objetivo analisar qual o papel da memória no processo da
aprendizagem e a sua contribuição como grande construtora do ser humano, da
capacidade do homem ter consciência de que sabe que sabe, tornando-se único no
mundo e a relação da memória com a aprendizagem.
Memória refere-se à capacidade que os animais têm de armazenar informações
que são adquiridas a todo instante, provenientes do meio interno e externo e, que
podem ser lembradas e utilizadas posteriormente. De posse desse conhecimento
trataremos nesse artigo sobre os mecanismos de funcionamento da memória, a
descrição de alguns modelos teóricos referentes a relação entre memória e
aprendizagem como também, a conexão entre os processos mnemônicos e o ato de
aprender.
Segundo Lent (2005), a memória difere da aprendizagem, já que esta se
relaciona apenas ao processo de aquisição das informações e aquela engloba também
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a retenção e a recordação. No entanto, as duas estão intimamente ligadas entre si,
exercendo a memória um papel determinante na seleção e consolidação da
informação adquirida.
Para analisar essa relação selecionamos algumas questões que nortearão a
pesquisa e que serão respondidas ao longo do trabalho. Essas questões relacionam-se
ao melhor entendimento a respeito da necessidade de uma boa consolidação da
memória para que haja uma aprendizagem significativa, observando quais os fatores
que interferem na recordação de um conteúdo aprendido, buscando saber se o
conhecimento existente sobre memória é suficiente para utilizá-la de modo eficiente
pelos educadores. Utilizaremos como procedimento metodológico a pesquisa
descritiva que terá como fonte de dados a pesquisa bibliográfica. Será realizada
mediante revisão bibliográfica de diversos autores, pesquisadores e teóricos dos
campos da neurociência, psicologia e educação.
Partindo dessas pesquisas, observamos que através da memória os
conhecimentos são armazenados e posteriormente transmitidos, possibilitando assim
a perpetuação dos seus valores sociais e culturais, configurando a existência de uma
memória coletiva. Esta memória permitiu que o homem se percebesse como ser de
projeto, senhor da sua existência, tendo plenos conhecimentos do que sabe e do que
pode fazer com o seu saber, possibilitando com isto a evolução da sua espécie.
Não se pode compreender a aquisição do conhecimento sem considerar os
mecanismos que os envolve, dentre eles estão as funções psicológicas superiores. A
memória está envolvida em todo ato de aprender e a evocação, o esquecimento ou a
extinção são determinados, de certo modo, pela qualidade de aprendizagem.
Cury (2005) aborda a memória como sendo suporte para a construção do mundo
intelectual e a considera como depósito de toda a nossa história intrapsíquica,
englobando toda sorte de vivência, e experiência tendo como elemento imprescindível
a emoção que acompanha as lembranças.
É necessário ressaltar a importância que a retomada dos conteúdos, como sua
repetição ou reverberação exercem sobre a consolidação das memórias, garantindo
assim uma construção mais sólida do conteúdo, episódio ou procedimento a serem
adquiridos.
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Ainda dentro deste raciocínio pode-se inferir que os conhecimentos prévios que
possibilitam a evolução do processo de aprendizagem, só são possíveis graças ao ativo
papel da memória, que quando bem consolidada, permite as necessárias associações,
comparações, classificações, categorizações e generalizações do novo conhecimento
relacionando-o com os anteriores.
Izquierdo (2006), fala que, alguns conteúdos são temporariamente extintos,
dependendo das circunstâncias, da falta de estimulo e da falta de utilização pelo
cérebro. No entanto por estar de forma latente retido na memória de longo prazo
poderá a qualquer momento estando em condições favoráveis, ser rememorado.
Há também falhas temporárias no processo de evocação ou recordação que
podem ser causadas por vários fatores como stress, cansaço, problemas emocionais e
que são denominados como o famoso “branco”. Essas falhas ocorrem com relativa
freqüência e comprometem o desempenho dos alunos
A memória está presente também, quando o individuo se depara com uma
situação que traz á tona lembranças dolorosas que ocorreram e que tem alguma
relação com o presente momento. Esta relação pode interferir no processo de
aprendizagem, podendo até bloqueá-lo.
Diante do exposto, sabemos que a continuidade da humanidade depende, em
suma, de capacidade de transmissão e de mediação cultural entre gerações (FONSECA,
2007). Nesse aspecto a memória tem papel fundamental processando as informações
e consolidando a aprendizagem.
Todos os saberes adquiridos são continuamente transformados em novos
saberes. Nesse processo, os esquemas neuronais se modificam e ampliam a
capacidade do homem de aprender novos conhecimentos e de modificar o que já foi
construído.
A aprendizagem tem sido centro de interesse de vários autores ao longo dos
últimos 70 anos, constituindo-se em um campo, muito vasto e rico em informações.
Abordamos apenas, nesse trabalho, alguns conceitos mais significativos e adequados
aos fins que desejamos atingir.
Segundo Dias (2004), o indivíduo é autor do seu conhecimento e concebe a
aprendizagem como:
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A capacidade e à possibilidade que o indivíduo tem de selecionar e perceber informações, conhecer, experiência, compreender, interpretar, associar, armazenar e utilizar essas informações oriundas do meio. Estas capacidades proporcionam a associação e integração dessas informações dos conhecimentos que o indivíduo possui, garantindo relacionamentos afetivos, e melhor qualidade de vida no meio em que vive. (DIAS, 2004, p. 393)
Ampliando a nossa compreensão sobre esse tema Fonseca considera a
aprendizagem como o comportamento mais importante dos animais superiores,
quando diz que:
[..] aprendizagem constitui uma mudança de comportamento resultante da experiência. Trata-se de uma mudança de comportamento ou de uma conduta que assume várias características. É uma resposta modificada, estável e durável, interiorizada e consolidada no próprio cérebro do indivíduo. (FONSECA, 1995, p. 127)
É através dessas e de outras citações que estão no nosso trabalho, que
buscaremos fundamentar o nosso tema e a partir daí, construirmos a nossa
aprendizagem sobre a memória e a consolidação do saber.
Memória - Definição e importância
A memória é uma das funções psicológicas superiores ou executivas, portanto é
uma função “inteligente”. Ela proporciona que os seres humanos e os animais
aproveitem as experiências passadas e as utilizem na aquisição de novas habilidades e
na resolução de problemas.
É impossível conceber qualquer atividade humana, seja ela mental, motora ou
afetiva sem o papel ativo da memória. Sem ela, seria necessário aprender todos os
dias a realizar as mesmas tarefas, como por exemplo, andar, falar, ler, reconhecer
pessoas e objetos etc.
Na verdade é porque temos uma memória motora que não precisamos pensar
em todos os passos e movimentos necessários para piscarmos os olhos ou levantarmos
as mãos e isto possibilita que tenhamos condições de aprender sempre algo novo,
usando inclusive, os conhecimentos já anteriormente adquiridos e que estão na
chamada memória de longo prazo.
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A sua importância na vida dos seres vivos e, principalmente, na vida humana é
inquestionável. Um homem sem memória é um homem sem identidade, pois tudo que
somos nada mais é do que o acúmulo de nossas experiências que são ampliadas e
ressignificadas ao longo do tempo e nos constituem enquanto sujeito.
Izquierdo (2006), fala que somos aquilo que recordarmos, literalmente, e
também somos o que resolvemos esquecer, já que esse esquecimento se constitui em
um processo ativo, uma prática da memória, que atende a alguma demanda psico-
afetiva.
Lúria (1998), fala que a memória comporta a nossa história intrapsíquica que é
formada por milhões de experiências de prazer, dor, tristeza, medo, tranqüilidade,
inquietação, angústia, raiva, desde a vida intra-uterina, e que vão se acumulando ao
longo dos anos.
De acordo com a definição apresentada, observamos que a memória está
presente na nossa construção enquanto seres humanos, inserida em todas as
atividades, quer sejam mentais, motoras e afetivas, evidenciando assim, a sua
relevância na consolidação dos conhecimentos necessários a sobrevivência da nossa
espécie.
Aspectos evolutivos
Quando falamos em memória estamos nos referindo a um mecanismo
complexo baseado em um tripé composto pelos seguintes elementos: aquisição,
armazenamento e evocação.
Durante muito tempo debateu-se a idéia da memória ser considerada como
uma função unitária. Hoje se concebe a idéia de que existem várias formas ou tipos de
memória, e cada uma relaciona-se a mecanismos específicos.
O estudo científico da memória ganhou impulso no séc. XX. No início a ênfase
era dada aos aspectos observáveis do comportamento (Behaviorismo), onde a
aprendizagem era determinada pela associação entre E/R (estímulo-resposta).
Com o tempo, percebeu-se que esta memória “automática” não respondia a
todas as demandas e novos problemas que surgiam, sendo necessário acrescentar a
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memória “cognitiva” que possibilitava respostas mais adaptadas e inteligentes,
compatíveis na solução destes novos problemas.
Segundo Luria (2006), os trabalhos mais recentes sobre a memória estão
relacionados aos progressos na área das neurociências e às teorias sobre o cérebro e
sua estrutura fisiológica e bioquímica, bem como aos avanços dos exames de
neuroimagem.
Alguns teóricos preferem reservar o termo memória para referirem-se à
capacidade geral do cérebro para adquirir, guardar lembrar fatos e utilizar memórias
para cada um tipo delas, ou seja, memória para uma função mais global e memórias
que com funções mais delimitadas.
A lembrança ou recordação de uma informação ou experiência não é igual à
realidade.
Ao converter a realidade em um complexo código de sinais elétricos e bioquímicos, os neurônios traduzem. Na evocação, ao reverter essa informação para o meio que nos rodeia, os neurônios reconvertem sinais bioquímicos ou estruturais em elétricos, de maneira que novamente nossos sentidos e nossa consciência possam interpretá-los como pertencentes a um mundo real. (IZQUIERDO, 2006, p.17)
Os tipos e as formas de memória
A memória ou memórias podem ser classificadas segundo a sua função, o
tempo e o seu conteúdo. Quanto à sua função podemos observar dois tipos de
memória a de curto prazo e a de longa duração.
A memória de curto prazo é breve e funciona como centro gerenciador no
sentido de verificar se determinado tipo de informação vale a pena ser armazenado e
ser retido para possível transformação em memória de longo prazo ou se a mesma já
faz parte dos arquivos.
A memória de trabalho mantém durante alguns segundos e no máximo
minutos a informação que está sendo processada no momento. Após a utilização dessa
informação, acabamos esquecendo-a. Esse tipo de memória é processado
fundamentalmente pelo córtex pré-frontal, porém há conexões dessa região, via
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córtex entorrinol, com o hipocampo e com as demais áreas envolvidas nos processos
de memória.
O que ocorre é que para cumprir este papel de gerenciador, a memória de
trabalho precisa fazer uma “varredura” em outras áreas do cérebro para certificar-se
de se a informação é nova ou se merece ser aprendida (formar uma nova memória).
Caso seja útil para o individuo esta nova informação, passa-se à etapa de
armazenamento, configurando a formação de um outro tipo de memória – a memória
de longa duração.
De acordo com o seu conteúdo classificamos a memória em memórias
declarativas e memórias procedurais. As declarativas por sua vez são divididas em
episódicas ou semânticas. As memórias episódicas são também chamadas de
autobiográficas. As episódicas referem-se a fatos dos quais participamos e as
semânticas nos remetem a conhecimentos gerais.
Já as memórias procedurais estão relacionadas como memórias de habilidades
e capacidades, como por exemplo – andar de patins. De acordo com uma classificação
mais moderna podemos dividir as memórias declarativas e procedurais em explicitas e
implícitas, respectivamente.
É importante evidenciar que as memórias declarativas requerem para o seu
bom funcionamento uma boa memória de trabalho. Existe um tipo de memória que
muitos autores consideram-na como diferente dos demais tipos de memória
existentes o priming (memória adquirida e evocada por meio de dicas).
Quanto ao tempo a memória pode ser de curta duração, de longa duração ou
memória remota. As memórias explícitas podem durar minutos, horas, dias, meses ou
anos. Já as memórias implícitas geralmente duram toda a vida.
No início do armazenamento e da consolidação as memórias declarativas de
longa duração são mais instáveis e são mais vulneráveis à influência de vários fatores.
“A exposição a um ambiente novo dentro da primeira hora após a aquisição, por
exemplo, pode deturpar seriamente ou até cancelar a formação definitiva de uma
memória de longa duração”. (IZQUIERDO et al, 1999 apud IZQUIERDO, 2006 p. 25)
Alguns autores discutem o fato da memória de curta duração ser apenas uma
das etapas da memória de longa duração ou se ela envolve mecanismos distintos de
funcionamento. A posição mais aceitável é que apesar da memória de curta duração
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utilizar as mesmas estruturas nervosas, que a memória de longa duração, elas se
diferenciam pelos processos que as envolvem. As memórias de longa duração que
duram meses ou anos podem ser chamadas de memórias remotas.
Cury (2002) classifica a memória em duas grandes áreas: uma área central que
ele denomina de MUC - memória de uso contínuo e uma grande área periférica e
inconsciente denominada de ME - memória existencial. A MUC representa a memória
de acesso mais livre, enquanto a ME representa a memória que contém os nossos
segredos.
Estas duas áreas são interligadas multifocalmente e o trânsito entre o mundo
consciente e inconsciente é enorme e contínuo, onde estamos sempre resgatando
informações da ME para a MUC e deslocando informações do MUC para a ME.
Os mecanismos de formação das memórias
O processo de consolidação das memórias compreende a atuação metabólica
de várias estruturas cerebrais, e dura entre 3 a 8 horas. Durante este período as
memórias sofrem influências de outras memórias, de outros fatores internos e
externos.
Dois acontecimentos científicos impulsionaram o estudo detalhado dos
mecanismos de aquisição, consolidação, evocação e extinção das memórias e são eles:
o processo fisiológico chamado de potenciação de longa duração e, posteriormente,
depressão de longa duração e as modernas técnicas de imagens, com destaque para a
ressonância magnética nuclear. Essas técnicas mensuram a ativação metabólica de
determinadas regiões de cérebro quando o individuo está formando ou recordando
memórias.
Segundo Lent (2005), todas as funções nervosas podem ser moduladas. Quer
dizer, todas estas funções podem ser fortalecidas ou enfraquecidas dependendo da
atuação de fatores internos e / ou externos. Dentro do processo de formação da
memória observa-se o papel fundamental da modulação, principalmente, nas
primeiras horas que seguem à aquisição. Esta modulação pode ser produzida pelo nível
de alerta, grau de ansiedade e estado de ânimo.
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Várias estruturas cerebrais estão envolvidas no processo de formação das
memórias e cada etapa dos múltiplos sistemas de memória é ativada pela atuação de
algumas estruturas cerebrais especificas. Assim sendo, a codificação ou aquisição
refere-se à elaboração da informação a ser armazenada e as estruturas da região
límbica são as mais envolvidas.
A etapa da consolidação ou armazenamento é responsável pela retenção da
informação a ser armazenada e envolve principalmente as vias neuronais da região
temporal média, denominada hipocampo, que age em comunicação com, o córtex,
possibilitando a reverberação da informação a ser armazenada e isto é imprescindível
para o processo de consolidação, pois o ato de reverberar traz uma contribuição
significativa para a retenção do material na memória.
Segundo Cury (2002) as informações são arquivadas no córtex cerebral sob a
forma de códigos. Neste processo elas perdem o conteúdo da energia psíquica da
alegria, tristeza, solidão, hesitação, medo, ansiedade e se armazenam em forma de
sistema de códigos “ frios ”.
Estes códigos constituem a RPS (representação psicossemântica) que são
experiências e informações psíquicas arquivadas como sofisticados sistemas de
códigos físico-químicos na memória. Já Izquierdo (2002) fala sobre o sistema de
codificação através dos engramas de memória.
A evocação é a etapa de acesso ao material armazenado e a região cerebral
responsável pela mesma é a fronto-temporal. Nesta etapa, ao resgatarmos o código
das experiências do passado, elas deixam de ser códigos e tornam-se novamente
energia psíquica. Porém, o conteúdo emocional desta retomada será diferente do
original, ainda que tenha relação com o mesmo.
De acordo com a teoria da inteligência multifocal de Cury (1998), assim como
ocorre o fenômeno RAM (registro automático da memória), do mesmo modo, a leitura
da memória diante de um estímulo também não é opcional, mas inevitável.
O fenômeno da auto-checagem inicia as primeiras leituras da memória e por
isso é também denominado de fenômeno do gatilho da memória. Este fenômeno
desencadeia em frações de segundos o gatilho das primeiras reações da inteligência.
Ele checa o estimulo na memória e produz os primeiros pensamentos, mas cumpri ao
eu refletir sobre eles e criticá-los depois de produzidos.
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A leitura da memória é a maior ferramenta no processo de construção do
pensamento que serve de base para o processo de aprendizagem, ou seja, a varredura
que o fenômeno da autochecagem faz, ao se deparar com algum estimulo, buscando
verificar se o mesmo é totalmente novo ou quais elementos contidos na memória de
longa duração podem servir de auxílio para a compreensão, assimilação e acomodação
do mesmo, usando uma linguagem piagetiana, é fundamental para a construção do
pensamento e do conhecimento.
Extinção, Amnésias ou perda de memória
I) Extinção
Como observou James, “a única forma de avaliar as memórias é medindo a sua
evocação” (JAMES, 1890 apud IZQUIERDO, 2006 p. 57). Às vezes percebemos que há
uma inibição transitória da evocação, como por exemplo: olhamos para uma pessoa,
sabemos de fato quem ela é, porém não conseguimos lembrar o seu nome.
Com o tempo esta inibição transitória é superada e a pessoa recorda o fato com
riquezas de detalhe. Há uma relação bem estreita entre a evocação e a extinção, e
como observou Izquierdo, (2006, p. 59), “a evocação planta as sementes da própria
extinção”.
Vale ressaltar aqui que há uma diferença entre perda parcial ou total de
memória e o fenômeno de extinção. Na relação específica entre evocação e extinção, o
autor citado referencia-se em Pavlov para explicar o processo de extinção de uma
resposta condicionada, quando da eliminação do estímulo incondicionado.
Quando numa situação de treino da esquiva inibitória, o rato é colocado na
mesma caixa, na mesma plataforma, com a mesma intensidade de luz, etc. e não se dá
o choque, ele vai perceber este fenômeno ao realizar a resposta condicionada. Após
algumas explorações e tentativas em que a resposta condicionada não ocorre,
observa-se que o animal chegará um momento em que não permanecerá mais na
plataforma, tornando aquela resposta extinta.
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Entretanto se, em alguma outra situação, ele for submetido a contingências
semelhantes, (o choque elétrico) ele recuperará instantaneamente a memória da
esquiva inibitória e recuperará a resposta condicionada de permanecer na plataforma.
Segundo este raciocínio, extinção não é sinônimo de esquecimento. Memórias
extintas podem ser rememoradas de diversas maneiras. No conjunto das informações
e acontecimentos cognitivos o número de memórias esquecidas, ou seja, fatos que
foram rapidamente retidos pela memória de trabalho e longo foram perdidos, é
significativamente maior do que informações extintas.
Há muitas memórias que parecem ter sido esquecidas, mas que foram na
verdade extintas, estando armazenadas de forma latente, podendo ser evocadas, a
qualquer momento, na presença de estímulos adequados, e isto ocorre com maior
freqüência do que se imagina.
APRENDIZAGEM
Para que houvesse o desenvolvimento da raça humana, o indivíduo precisou
interferir no mundo a sua volta, buscando adaptá-lo às suas necessidades. Nesse
processo, o homem precisou investigar, observar, mudar, aprender. E em
conseqüência desse aprender, ele se desenvolveu, ampliou as suas possibilidades de
viver e de interagir no mundo.
Esse processo não foi fácil, demorou muito para ser conquistado e ao longo da
sua história foi lançando mão de todas as suas possibilidades, desenvolvendo o seu
cérebro para que pudesse dá respostas cada vez mais elaboradas diante dos desafios
da vida.
Diferente do animal o homem é um ser de projeto, sua aprendizagem para
Fonseca (1995, p. 129), “é o reflexo da assimilação e conservação do conhecimento,
controle e transformação do meio, que foi acumulado pela experiência da humanidade
através dos séculos”.
No animal, o comportamento adquirido não demonstra qualquer planejamento
prévio ou seleção de ações é repetitivo e além disso, qualquer que seja o animal, ele
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não pode transmitir seus conhecimentos, nem novos comportamentos a gerações
futuras.
Para compreender esse homem, esse ser tão complexo, vários autores voltaram
seu olhar para investigá-lo e com isso, buscar conhecer como o homem aprende? O
que está envolvido nesse processo? Para responder a esses questionamentos, várias
teorias foram criadas com o objetivo de desvendar a complexidade da aprendizagem
humana.
Fazendo um recorte nesse processo histórico, citamos Piaget sua teoria é
classificada como construtivista.
[...] Para ele. “O homem, dotado de estruturas biológica, herda uma forma de funcionamento intelectual ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva à construção de um conjunto de significados. A interação deste sujeito com o ambiente permitirá a organização desses significados em estruturas cognitivas. Durante a vida, serão vários os modos de organização dos significados, marcando, assim diferentes estágios de desenvolvimento. A cada estágio corresponderá um tipo de estrutura cognitiva que permitirá formas diferentes de interação com o meio. São as diferentes estruturas cognitivas que permitem prever o que se pode conhecer naquele momento da evolução”. (BOCK, et al, 2001, p. 127)
As crianças, nesse processo, constroem o conhecimento explorando o meio em
que vivem. Essa exploração pode ser física (manipulando objetos) ou metais (como
pensar sobre algo). Se esta exploração provocar uma desequilibração no individuo,
este continua e busca atribuir sentido ao que é investigado, promovendo assim, uma
assimilação do que foi explorado. Dessa forma, se dá a construção de conhecimento
para Piaget.
Outro autor que trouxe grandes contribuições para ampliar a concepção de
aprendizagem foi Vygotsky.
A aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre medicada pelo outro. Não há como aprender e apreender o mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. Vygosky defende a idéia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou recebemos influência externa. O desenvolvimento não é pensado como algo natural nem mesmo como produto exclusivo da maturação do organismo, mas como um processo em que estão presentes a maturação do organismo,
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o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem. (VYGOTSKY apud, BOCK, et al, 2001. p. 124)
A criança começa seu aprendizado desde cedo, antes mesmo de entrar na
escola, isto acontece, porque ela já interage com a cultura do seu povo, adquirindo e
desenvolvendo a linguagem, valores etc., transmitidas pelos diversos mediadores com
quem convivem no seu dia-a-dia.
Não se pode conceber a aprendizagem sem a inter-relação do corpo que
aprende como as funções neurológicas superiores já citadas (percepção, linguagem,
atenção, memória, raciocínio lógico). Sem essa contribuição, o homem não conseguiria
preservar toda a sua produção cultural e passá-la adiante.
Na medida em que a concepção do homem evoluía, pensadores de diversas
áreas, deram sua contribuição para a compreensão desse intrincado ser,
principalmente quando se deparavam com o cérebro humano, cheio de possibilidade
ainda não totalmente investigadas.
Até aqui, falamos de aprendizagem como se fosse um processo contínuo e sem
obstáculos, é importante ressaltar que muito dos esforços para entender a
aprendizagem humana é justamente para compreender porque algumas crianças,
mesmo sendo devidamente mediadas, não conseguem aprender.
Esse é um dos focos da autora e psicopedagoga Alicia Fernandez, que combate a
visão fragmentada do indivíduo e busca entender e contribuir para com aqueles que
não conseguem desenvolver plenamente esse processo de aquisição do
conhecimento.
Assim como em todo processo de aprendizagem estão implicados os quatro níveis (organismo, corpo, inteligência, desejo), e não se poderia falar de aprendizagem excluindo algum deles, também no problema de aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis em diferentes graus de compromisso. (FERNANDEZ, 1991, p 57)
Entendemos com isso, que o corpo também é um grande mediador da sua
própria aprendizagem desprezá-lo é ignorar um grande colaborador que facilita e
permeia o saber; essa concepção parece está distante em algumas escolas, que
prioriza apenas o cérebro. Como se o mesmo tivesse dissociado de um corpo que
interage não só de forma biológica, genética, mas também social.
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Outro autor que contribuirá de maneira significativa com o nosso trabalho é
Vitor da Fonseca, quando diz:
Aprendizagem é, portanto, uma função do cérebro. Não há uma região específica do cérebro que seja exclusivamente responsável pela aprendizagem. O cérebro é no seu todo funcional e estrutural responsável pela aprendizagem. A aprendizagem é um resultado de complexas operações neurofisiológicas. Tais operações associam, combinam e organizam estímulos com respostas. [...] (FONSECA, 1995, p. 128)
Aprendizagem e memória
A aquisição da memória está diretamente relacionada ao complexo processo de
aprendizagem que para ocorrer lança mão de toda uma estrutura biológica, mental e
emocional. Envolve todas as funções psicológicas superiores, como: percepção,
atenção, sensação, memória, raciocínio-lógico, noções temporal, espacial e
julgamento.
Para que este conhecimento seja construído, tomando como base a teoria
piagetiana, é crucial que haja um “conflito cognitivo”, ou seja, algo novo precisa ser
incorporado aos conhecimentos pré-existentes. Este desequilíbrio cognitivo, irá se
resolver mediante os mecanismos de assimilação e acomodação.
O “conflito cognitivo” só é possível existir, através do ativo papel da memória
que, ao fazer uma varredura em todos os seus arquivos, irá definir se o conteúdo é
totalmente ou parcialmente novo e quais os elementos que podem ser associados aos
já existentes a fim de se construir um conceito, um pensamento ou um procedimento,
restabelecendo assim o equilíbrio. Esse processo é constante entre equilíbrio e
desequilíbrio cognitivo.
Daí a importância dos conteúdos escolares serem seqüenciados, numa ordem
crescente de complexidade e formarem encadeamento natural, que haja por parte do
professor um esforço maior para estabelecer algum nível de relação entre os mesmos,
contextualizando-os sempre que possível.
Outro aspecto importante dentro do processo de aprendizagem é a íntima
relação entre o reforço do conteúdo a ser aprendido e a qualidade da retenção ou
consolidação do mesmo. Aproveitando ao máximo o processo de construção da
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memória que envolve todas as suas etapas (aquisição, retenção e evocação) que dura
cerca de 3 a 8 horas.
Portanto é importante que as cadeias neuronais sejam fortalecidas através da
exposição de formas variadas a este conteúdo, utilizando todos os recursos possíveis
(visuais, cinestésicos e auditivos) a fim de que através destes reforços a informação
seja devidamente adquirida e eficientemente arquivada na memória. Porém, só a
exposição a estes recursos variados não garante uma real aquisição de conhecimento.
É preciso que este seja devidamente mediatizado pelo professor.
Bock (2001, p. 124) traz uma fala de Vygotsky que diz: “O desenvolvimento é
um processo que se dá de fora para dentro. É no processo de ensino-aprendizagem
que ocorre a apropriação da cultura e o conseqüente desenvolvimento do indivíduo”.
Quando ocorre uma mediação com qualidade o aprendiz pode lançar mão dos
conhecimentos prévios através da ativação da memória e estes conhecimentos irão
auxiliá-lo na compreensão e apropriação do novo conhecimento.
Na ausência de uma mediação eficiente o aluno utilizará apenas a memória de
curto prazo, em que as informações serão armazenadas superficialmente sem o
adequado processo de seleção, associação e integração do novo ao já existente
conhecimento.
Somado a isso, a falta de uma seqüência na apresentação dos conteúdos
escolares e a falta de reutilização dos mesmos podem resultar numa extinção, extinção
esta fundamentada no exemplo de Pavlov, em que, a resposta condicionada que não
foi reforçada pelo estímulo incondicionado, teve como conseqüência a extinção. No
entanto, ao retornarem as condições originais, a resposta tendeu a reaparecer.
Outro processo que pode ocorrer é o “famoso branco” que tem outros
mecanismos envolvidos. Seria como uma falha no processo de evocação que pode ter
várias causas: problemas emocionais (stress, ansiedade), problemas físicos (fadiga,
diminuição do aporte sanguíneo para o cérebro) ou pode estar ligado a uma retenção
de baixa qualidade devido à baixa concentração no momento do registro, onde os
dados foram retidos apenas na memória de trabalho, sendo logo perdidos.
Ao estudarmos um pouco sobre neuropsicologia ampliamos a concepção de
homem, percebendo-o como um ser integrado que pensa, sente e age. Para atender a
essa visão holográfica do homem, acreditamos que ele necessite de uma percepção
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mais ampla de aprendizagem, que acredita e desenvolva as diversas possibilidades que
se abrem com os estudos das neurociências.
A aprendizagem constitui uma mudança de comportamento resultante da experiência. Trata-se de uma mudança de comportamento ou de conduta, que assume várias características. É uma resposta modificada, estável e durável, interiorizada e consolidada no próprio cérebro do indivíduo. (FONSECA, 1995, p. 127).
A partir dessa e de outras concepções de aprendizagem, o professor precisa
ampliar seus conhecimentos e fazer uso de todo o potencial do cérebro humano,
resgatando não só a importância da memória na construção de um saber mais
competente, como também rever a sua postura enquanto educador que precisa
compreender que o homem é um complexo sistema de possibilidades que precisa ser
investigado com o objetivo de desenvolver todas as suas habilidades.
“Cada ser possui uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e
para conformar seu saber” (FERNANDEZ, 1991, p. 107). É preciso que nós, educadores,
estejamos atentos a tudo isso, a todas as possibilidades que cada ser traz dentro de si
mesmo e a escola não pode ficar alheia a estas considerações científicas:
A escola precisa trabalhar cada vez mais no sucesso da aprendizagem, qualquer que seja o potencial da criança. Quando alguma criança aprende, ela jamais está isolada, ao contrário, ganha reconhecimento social, maturidade, respeito, amor e identidade positiva (FONSECA, 1995, p. 367).
O aprender transforma o ser, mostra novas possibilidades e situa a pessoa em
seu contexto histórico. São essas e outras contribuições que gostaríamos de ressaltar,
para confirmar que o ser humano é muito mais do que se apresenta. Com os estudos
da neuropsicologia, vários paradigmas foram quebrados e hoje se percebe o quanto
somos capazes de aprender.
Considerações Finais
Compreendemos que a memória perpassa por todas as atividades mentais
envolvidas no complexo ato de aprender. Quando o indivíduo percebe, seleciona,
discrimina, intui, particulariza, generaliza, deduz ou infere, ele, inevitavelmente, usa a
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memória como uma ferramenta indispensável na tarefa de organizar todas as
informações oriundas do meio exterior e interior.
Apesar de muitas descobertas acerca dos mecanismos bioquímicos e físicos
presentes na memória, ainda não temos fundamentação suficiente para compreender
todos os processos que ocorrem na formação das memórias e o quanto esses
processos estão diretamente ligados à aprendizagem.
Temos obtido algumas luzes que tem nos ajudado a clarear e ampliar nossa
visão sobre quão estreita é a conexão entre memória e aprendizagem, porém estamos
ainda distantes de um conhecimento tal que nos proporcione devido entendimento de
como ocorre esta interligação.
Apesar deste insuficiente conhecimento as informações existentes sobre a
relação entre memória e aprendizagem podem colaborar muito para que o professor
tenha maiores subsídios na elaboração de um planejamento; na escolha de estratégias
que facilitem ao aluno uma melhor aquisição e retenção das informações; na seleção e
organização dos conteúdos a serem ensinado, no estabelecimento de um ambiente
mais tranqüilo, reduzindo a agitação e o stress; na retomada intencional e programada
dos conteúdos com vistas a uma melhor consolidação da memória. Medidas
aparentemente simples, como estas, podem trazer contribuições significativas para o
processo de aprendizagem.
Entender o funcionamento cerebral e a sua relação com a construção do
pensamento nos auxiliará na percepção de quais aspectos estão interatuando no
processo de aprendizagem e qual ou quais, no momento, estão sendo determinantes
num quadro de dificuldades ou de baixo rendimento. Amplia também, a nossa
percepção sobre aprendizagem, compreendendo melhor as várias dimensões como
cognitiva, afetiva, psicomotora e as suas alterações, dificuldades ou transtornos que
podem estar associados a qualquer uma destas dimensões ou à interação das mesmas.
Os conhecimentos neurocientíficos têm se constituído em um grande aporte teórico
para a área de ensino-aprendizagem.
Mediante a revisão bibliográfica realizada no decorrer desse artigo,
percebemos que para que haja uma aprendizagem significativa é necessário uma boa
consolidação da memória. Na verdade é essencial nesse processo que o indivíduo
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compreenda o conteúdo estudado de forma tal que venha promover uma
consolidação com qualidade.
Esta compreensão certamente levará a uma evocação mais rápida e dinâmica,
onde o conteúdo armazenado terá uma aplicabilidade e um alcance bem maior,
podendo ser utilizado em situações diversas.
Percebemos também, ao fazer a revisão bibliográfica, que a utilização dos
conhecimentos sobre a memória ao longo dos anos foi negligenciada pela educação. A
interpretação equivocada de algumas teorias de ensino-aprendizagem colocou a
memória numa posição reducionista, simplificando o seu papel dentro do processo de
aprendizagem, tornando-a sinônimo apenas de “decorar”.
A neurociência vem retomar através de diversos estudos a importância da
memória na construção sólida do saber. Faz-se necessário e urgente que os
conhecimentos neuropsicológicos de uma forma geral e de forma específica, os
conhecimentos sobre a memória, adentrem as escolas, habilitando o professor a
promover um ensino de maior qualidade. Do diálogo maduro entre a neurociência e a
educação surgirá maior possibilidade de uma prática pedagógica que busque acima de
tudo desafiar o aluno a utilizar melhor o seu potencial.
Para que a interface entre neurociências e educação seja cada vez mais efetiva,
faz-se necessário que as pesquisas sobre memória e aprendizagem tenham um
enfoque sobre os mecanismos de funcionamento da memória relacionados à aquisição
de informações e posterior produção de conhecimento e sejam ampliados por
estudiosos e socializados na comunidade escolar. Entendemos que a memória e outras
funções neuropsicológicas são como ferramentas que, se devidamente utilizadas,
possibilitam um melhor desempenho cognitivo.
Outro tópico que precisa ser aprofundado nas pesquisas sobre memória e
aprendizagem é o grau de utilização e de apropriação de aportes teóricos
neurocientíficos por parte dos educadores, já que estes conhecimentos ampliariam
sobremaneira a compreensão sobre o complexo ato de aprender e permitiriam a
implementação de metodologias mais eficientes e que facilitassem a organização
mental do aprendiz. Associado a este tópico, acreditamos que pesquisas sobre a
reforma da grade curricular dos cursos de formação de professores, também seriam
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essenciais, no sentido de acrescentar conhecimentos sobre o desenvolvimento
cognitivo dentro de uma perspectiva neurocientífica.
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