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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARATAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA LEDA MARÍLIA FONSECA LUCINDA MECANISMOS DE INDUÇÃO DA APOPTOSE POR GLICOCORTICÓIDES E SEUS EFEITOS NO CÂNCER JUIZ DE FORA 2009

Apoptose monografia

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Page 1: Apoptose monografia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARATAMENTO DE PARASITOLOGIA,

MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA

LEDA MARÍLIA FONSECA LUCINDA

MECANISMOS DE INDUÇÃO DA APOPTOSE POR

GLICOCORTICÓIDES E SEUS EFEITOS NO CÂNCER

JUIZ DE FORA

2009

Page 2: Apoptose monografia

LEDA MARÍLIA FONSECA LUCINDA

MECANISMOS DE INDUÇÃO DA APOPTOSE POR

GLICOCORTICÓIDES E SEUS EFEITOS NO CÂNCER

Monografia de Conclusão de Curso de

Especialização em Parasitologia e

Microbiologia e Imunologia do ICB da

UFJF, para obtenção do Título de

Especialista em Parasitologia,

Microbiologia e Imunologia.

Orientador: Prof. Dr Henrique C. Teixeira

JUIZ DE FORA

2009

Page 3: Apoptose monografia

Lucinda, Leda Marília Fonseca.

Mecanismos de indução da apoptose por glicocorticóides e seus efeitos no câncer / Leda Marília Fonseca Lucinda -- 2009.

44 f.

Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Parasitologia, Microbiologia e Imunologia)-Universidade Federal de

Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2009.

1. Apoptose. 2. Neoplasias. CDU 576.3

Page 4: Apoptose monografia

Leda Marília Fonseca Lucinda

MECANISMOS DE INDUÇÃO DA APOPTOSE POR GLICOCORTICÓIDES E SEUS EFEITOS NO CÂNCER

Monografia do Curso de Especialização em Parasitologia, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista. Aprovada em: 23/10 /2009 Banca Examinadora: Prof.Dr. Henrique Couto Teixeira Profa. Ms. – Michele Fernandes Rodrigues

Juiz de Fora 2009

Page 5: Apoptose monografia

Aos meus pais, Odaléa e José Jader, meu tio José Henrique e meu irmão

Garrone por terem sido meus mais fiéis amigos me apoiando e fortalecendo em

todos os momentos, inclusive os mais difíceis.

Ao meu marido Maycon, pela sua amizade, amor e extrema compreensão.

Page 6: Apoptose monografia

AGRADECIMENTOS

À Deus, que me deu forças, meios e coragem nos momentos mais difíceis,

para que eu sempre prosseguisse em minha vida sem pensar em desistir, e que me

iluminou durante toda essa caminhada.

Agradeço ao meu orientador professor Dr. Henrique Teixeira, por ter me dado

a grande oportunidade de ser sua aluna, pela sua paciência, dedicação

compreensão e competência na orientação deste trabalho.

À minha professora de língua inglesa Cassiana Monteiro Boya pelo auxílio na

tradução da língua inglesa e por seus ensinamentos.

Á todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Parasitologia,

Microbiologia e Imunologia pelos ensinamentos importantes para a minha formação

acadêmica.

Aos meus grandes amigos da pós-graduação, Pollyanna, Matheus, Daniela e

Tatiane e aos demais colegas que caminharam junto comigo na busca de mais um

grande objetivo de nossas vidas.

Page 7: Apoptose monografia

RESUMO

A apoptose é um processo complexo que remove células danificadas ou

envelhecidas do corpo e ocorre em uma ampla variedade de organismos. A ativação

da apoptose é um importante mecanismo pelo qual drogas citotóxicas matam as

células tumorais. Defeitos ou problemas na sinalização da apoptose contribuem para

que as células tumorais se tornem resistentes. Esta revisão aborda o efeito do

tratamento com GCs na resistência de tumores sólidos ao tratamento convencional

(quimioterapia e radioterapia) e sua relação com a modulação da apoptose de

células tumorais. Os GCs são amplamente utilizados no tratamento de pacientes

com câncer devido a sua potente propriedade pró-apoptotica em células linfóides,

seu poder de redução de náuseas, e sua capacidade de diminuir a toxicidade do

tratamento quimioterápico. Entretanto, apesar dos GCs mediarem a proteção dos

tecidos normais, eles também podem proteger tumores sólidos da apoptose induzida

por agentes citotóxicos. Pouco se sabe sobre como os GCs afetam a resposta à

quimioterapia ou radioterapia em tumores sólidos não hematológicos. O aumento da

FOXO3A fosforilada em células cancerígenas pode explicar, em parte, a resistência

a apoptose nessas células. Foi descrito que células tumorais tratadas com diferentes

GCs, como a dexametasona, apresentaram alteraçóes morfológicas, como aumento

na expressão de CD38, CD44 e CD58 que podem implicar no aumento da

sobrevivência das células tumorais ao tratamento citotóxico. A dexametasona

também é responsável pela ativação dos receptores de GCs que aumentam a

expressão e a atividade de SGK-1 (proteína kinase1 induzida por glicocorticóide no

soro) e MKP-1 (MAPK fosfatase-1), que estão diretamente ligadas a redução da

apoptose. Portanto, é importante reconsiderar o amplo uso de GCs no tratamento de

pacientes com tumores sólidos, pois se por um lado podem apresentar um efeito

benéfico na redução da toxicidade de tecidos normais, podem, por outro lado,

aumentar a resistência a apoptose de células cancerígenas.

Palavras-Chave: Apopotose. Glicocorticóide. Câncer. Linfócitos.

Page 8: Apoptose monografia

ABSTRACT

Apoptosis is a complex process that removes injured or aging cells from the body

occurring in a wide variety of organisms. Activation of the apoptosis pathways is a

key mechanism by which cytotoxic drugs kill tumor cells. Defects or problems in

apoptosis signaling contribute to the resistance of tumors. This review explores the

effect of the treatment with glucocorticoids in the resistance of solid tumors to the

conventional treatment (chemotherapy and radiotherapy) as well as its relation with

the modulation of apoptosis in tumor cells. Glucocorticoids have been widely used in

the treatment of patients with cancer due to its potent pro-apoptotic property in

lymphoid cells, its reduction of nausea and capacity to diminish the toxicity of the

chemotherapy treatment. However, although glucocorticoids mediate the protection

of normal tissues, they also protect solid tumors from apoptosis induction by cytotoxic

agents. Little is known about how glucocorticoids affect the response to

chemotherapy or radiotherapy in solid, non-hematological tumors. Increased

phospho-FOXO3A level in cancer cells may explain in part the resistance to

apoptosis in these cells. It was described that tumor cells treated with different

glucocorticoids such as dexamethasone, showed morphological changes which

resulted in an increased expression of CD38, CD48 and CD58 prolonging the

survival of tumor cells during the cytotoxic therapy. The dexamethasone is also

responsible for the activation of the glucocorticoids receptors that increase the

expression and activity of SGK-1 (serum- and glucocorticoid-induced kinase-1) and

MKP-1 (MAPK phosphatase-1), which are directly connected to apoptosis reduction.

Thus, it is important to reconsider the widespread use of glucocorticoids in the

treatment of patients with solid tumors, as if on one hand they can present an

advantageous effect in the reduction of the toxicity in normal tissue, on the other

hand they can increase cancer cells resistance to apoptosis.

Key-Words: Apoptosis. Glucocorticoids. Cancer. Lynphocytes.

Page 9: Apoptose monografia

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Duas maiores vias de apoptose em células de mamíferos........................17

Page 10: Apoptose monografia

LISTA DE ABREVIATURAS

AIF - “Apoptosis-inducing factor”/ fator indutor de apoptose

APAF1 - “Apoptotic protease activating factor 1”/ fator de ativação de proteases pró-

apoptóticos 1

ATP - Adenosina trifosfato

CED - “Cell death abnormal” / morte celular anormal

c-FLIPP - “FLICE-inhibitory protein”/ proteína inibidora de FLICE

DD- “Death domain”/ Domínio de morte

DED – “Death effector domain”/Efetor de domínio de morte

DISC - “Death-inducing signaling complex”/ complexo de sinalização indutor de

morte

DNA - Ácido desoxirribonucléico

FADD - “Fas-associated protein with death domain”/ domínio de morte associado ao

Fas

FasL - “Fas ligand”/Fas ligante

GCs - Glicocorticóides

IAPs - “ Inhibitor of apoptosis proteins”/ proteínas inibidoras da apoptose.

IқK - “Inhibitory kappa B kinase”/ inibidor de kappa B quinase

IL-2 - Interleucina -2

IL-6 - Interleucina - 6

IL-10 - Interleucina -10

mdm-2 - “murine double minute-2”/murina duplo minuto-2

MHC- “Major histocompability complex”/ Complexo de histocompatibilidade principal

MKP-1 - “MAPK phosphatase-1”/ MAPK fosfatase-1

NFk-B - “nuclear factor kappa B”/ fator de transcrição nuclear kappa B

SGK-1 - “Serum/ glucocorticoid regulated kinase 1”/ soro e quinase-1 dependente de

glicocorticóide

Smac/DIABLO - “Second mitochondria-derived activator of caspase/direct inhibitor of

apoptosis-binding protein with low pl” - segundo ativador mitocôndrial de caspase/

proteína de ligação-IAP direta com baixo pl.

TCR - “T cell receptor”/ receptor de células T

Page 11: Apoptose monografia

TGF-beta 1 - “Transforming growth factor beta 1”/ fator transformador de crescimento

beta 1

TNF - “Tumor necrosis factor”/ fator de necrose tumoral

TNFR - “Tumor necrosis factor receptor”/ receptor de fator de necrose tumoral

Treg – Células T regulatórias

UPR - “Unfolded Protein Response” / resposta as proteínas não dobradas

Page 12: Apoptose monografia

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 12

2 OBJETIVO ............................................................................................................. 15

3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 16

3.1 APOPTOSE......................................................................................................... 16

3,1,1 Características morfológicas e bioquímicas......................................................19

3.1.2 Alteração da forma e estrutura celular..............................................................20

3.1.3 Controle genético da apoptose......................................................................... 21

3.1.4 Bcl-2................................................................................................................. 22

3.1.5 C-myc............................................................................................................... 23

3.1.6 p53.................................................................................................................... 24

3.1.7 Caspases como iniciadoras e executoras da apoptose................................... 24

3.1.8 Proteínas inibidoras da apoptose..................................................................... 25

3.2 APOPTOSE E CÂNCER..................................................................................... 26

3.3 GLICOCORTICÓIDES (GCs).............................................................................. 28

3.4 ATUAÇÃO DOS GLICOCORTICÓIDES (GCS) NA INDUÇÃO DA APOPTOSE

LINFÓCITOS E EM CÂNCERES.............................................................................. 29

4 DISCUSSÃO.......................................................................................................... 34

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 36

6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 37

Page 13: Apoptose monografia

1 INTRODUÇÃO

Os glicocorticóides (GCs) são uma classe de hormônios esteróides que

exercem um amplo papel na atividade antiinflamatória, imunossupressora e

antineoplásica e têm habilidade de induzir a apoptose em uma variedade de células,

incluindo linfócitos T e B (TUCKERMANN et al., 2005).

O efeito imunossupressor dos GCs se deve em parte a sua ação no bloqueio

da maturação de linfócito T maduros através da inibição da produção de IL-2 e da

inibição de expressão do receptor para interleucina-2 (IL-2). A morte dos timócitos

corticais após o tratamento com GCs é precedida por mudanças morfológicas

características da apoptose como condensação da cromatina nuclear, fragmentação

do DNA (ácido desoxirribonucléico) e outras (NIETO et al., 1991)

A apoptose é definida como uma série de eventos moleculares, envolvendo a

perda da integridade da membrana mitocondrial, condensação de cromatina,

fragmentação do DNA e geração de vesículas apoptóticas. Mediada por caspases,

esse processo culmina em um desarranjo orquestrado da célula e fagocitose da

célula morta (HENGARGTNER, 2000).

Para o desenvolvimento das células T, muitos dos rearranjos dos receptores

para antígenos (TCR - “T cell receptor”/receptor de células T) são inúteis, porque

estes receptores não podem se ligar aos alelos do MHC (“Major Histocompability

Complex”/ Complexo de Histocompatibilidade Principal) que estão presentes no

indivíduo, portanto a seleção positiva é um passo crucial que caracteriza a

diferenciação das células T restritas ao MHC, permitindo que somente células que

expressam TCR capazes de interagir com o complexo peptídeo-MHC próprio com

baixa afinidade continuem no processo de diferenciação, escapando da morte por

apoptose. Em seguida, as células T que interagem fortemente com o complexo

peptídio-MHC no timo também entram em apoptose, e somente células que

reconhecem com baixa avidez o complexo peptídeo-MHC são capazes de deixar o

timo, processo denominado seleção negativa, que direciona a resposta imune

especialmente contra antígenos microbianos estranhos (ABBAS, LICHTMAN e

POBER, 2003).

12

Page 14: Apoptose monografia

Os progenitores fracamente reativos que irão se tornam maduros, podem ser

encontrados nos órgãos linfóides secundários e participam da resposta imune a

antígenos estranhos (HOGQUIST et al., 2005). Entretanto, células T potencialmente

reativas podem escapar do processo de seleção negativa tornando inerente o perigo

de auto-imunidade. Felizmente, as células T potencialmente auto-reativas estão

sobre um forte controle na periferia (vasos e órgão periféricos). A característica da

tolerância central das células T é a deleção clonal; mecanismo que envolve a

apoptose dos progenitores de células T, que têm alta afinidade por antígenos

próprios, durante o processo de seleção positiva e negativa, no timo (PALMER,

2003). Desta forma, a apoptose é importante na regulação da resposta imune, uma

vez que na seleção das células T, apenas células que não reajam fortemente com

antígenos próprios podem completar o processo de maturação, e as células que

apresentarem alta afinidade a antígenos peptídicos próprios em associação com

moléculas do MHC irão sofrer apoptose e serão deletadas (ABBAS, LICHTMAN e

POBER, 2003).

Foi descrito que a diminuição da sinalização do GCs resulta em aumento da

sensibilidade da sinalização via TCR, causando a apoptose de timócitos que

normalmente seriam selecionados positivamente. Portanto os timócitos que são

selecionados positivamente nesta situação podem ter uma baixa avidez por

antígenos próprios/MHC, isto pode ser facilmente testável, uma vez que a alteração

na resposta ao GCs pode afetar a média e a variedade de TCR. Entretanto existem

evidência que altos níveis de GCs podem resgatar alguns timócitos com alta avidez

por antígenos próprios/MHC que normalmente deveriam ser deletados, ainda não se

tem certeza do mecanismo pelo qual estes timócitos sobrevivem (VACCHIO e

ASHWELL, 2000). Existem evidências de camundongos com autoimunidade

espontânea apresentarem elevados níveis de cortisol endógeno (WICH e

KROEMER,1993).

A apoptose de linfócitos induzida por GCs sintéticos é um importante

componente para protocolos terapêuticos usados no tratamento de várias formas de

linfomas e leucemias (WANG et al., 2006), e ainda a dexametasona é rotineiramente

dada as mulheres com câncer de mama antes que elas recebam quimioterapia

(REDONDO et al., 2007). Entretanto dados recentes demonstraram efeitos anti-

apoptóticos dos GCs nas células de carcinoma, prevenindo a citoxicidade induzida

por radiação e quimioterápicos que conduziriam a morte celular (RUTZ e HERR,

13

Page 15: Apoptose monografia

2004). Portanto os GCs conferem resistência a apoptose em pacientes com câncer

sólidos (não hematológicos), este efeito pode prejudicar a resposta ao tratamento

em pacientes com câncer.

Portanto o conhecimento dos mecanismos de indução de apoptose por GCs

deve ser investigado mais amplamente visto que sua utilização pode modular a

resposta de linfócitos T e interferir na indução da morte celular por apoptose em

pacientes em uso de radioterapia e quimioterápicos.

14

Page 16: Apoptose monografia

2 OBJETIVO

Este trabalho se propõe, através de uma revisão bibliográfica, avaliar os

mecanismos pelos quais os GCs interferem no tratamento com antineoplásicos,

considerando sua capacidade de induzir resistência a apoptose em alguns cânceres.

15

Page 17: Apoptose monografia

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 APOPTOSE

A apoptose é uma forma de morte celular na qual uma seqüência de eventos

leva a eliminação de células sem a liberação de substâncias nocivas na área

circundante. É caracterizado pela formação de bolhas na membrana plasmática (os

“blebs”), pela condensação de cromatina, pelas alterações do citoplasma bem como

pela clivagem internucleossomal do DNA, ocorrida devido à ação de uma

endonuclease endógena (LEE et al., 1999). A apoptose desempenha um importante

papel na manutenção da homeostasia pela eliminação das células desnecessárias,

danificadas ou velhas (GALLUZI et al., 2007).

O termo “apoptose” vem do grego, onde o prefixo “apo” significa separação e

o sufixo “ptose” pode ser traduzido como queda, sendo associado com a queda das

folhas de uma árvore ou pétalas de flores. Esse termo é uma alusão à liberação de

pequenos corpos revestidos por membrana, resultantes da fragmentação da célula

apoptótica, denominados corpos apóptoticos (DUQUE-PARRA, 2005).

A ativação de morte celular programada pode ocorrer através de duas vias

principais. A via extrínseca, mediada pela ativação de receptores de morte celular

localizados na membrana citoplasmática. O FasL (“Fas ligand”/Fas ligante) e o TNF

(“tumor necrosis factor”/ fator de necrose tumoral) se ligam ao Fas e ao TNFR

(“tumor necrosis factor receptor”/ receptor de fator de necrose tumoral)

respectivamente, induzindo a formação do DISC (“death-inducing signaling

complex”/ complexo de sinalização indutor de morte), o DISC recruta a Caspase-8 e

ativa a cascata de ativação das procaspases (BUDIHARDJO et al., 1999). A via

intrínseca é ativada por estresse extracelular e/ou intracelular, como fatores de

privação de crescimento, hipóxia, dano ao DNA e indução de oncongene. Sinais que

são transferidos em resposta a este estresse convergem diretamente para a

mitocôndria, uma série de eventos bioquímicos é induzida e resulta na

permeabilização da membrana mitocondrial, onde há liberação de fatores

apoptogênicos como citorocromo c, AIF (“apoptosis-inducing factor”/ fator indutor de

16

Page 18: Apoptose monografia

apoptose), ATP (adenosina trifosfato) e proteínas de choque térmico. Ocorre a

formação do apoptossoma, uma proteína complexa que contém o citocromo c,

APAF1 (“apoptotic protease activating factor 1”/ fator de ativação de proteases pró-

apoptóticos 1) e caspase-9. Uma vez que a citocromo c é liberada, a cascata de

ativação da caspase é irreversível (GESKE e GERSCHENSON, 2001;

BUDIHARDJO et al., 1999). Portanto como resultado final de ambas as vias, ocorre

a ativação das caspases, proteases, que quebram proteínas celulares específicas e

estão associadas à degradação do DNA (figura 1) (FISHER, 2001).

Figura 1: Duas maiores vias de apoptose em células de mamíferos adaptado de

HENGARTNER MO. The biochemistry of apoptosis. Nature, v.407, n.1, p. 685-687, 2000. A ligação do CD95 L ao CD95 induz a formação do complexo de sinalização indutor de morte

DISC, o complexo recruta via FADD, moléculas múltiplas de procaspases-8, induzindo a ativação da caspase-8, que pode ser bloqueada pelo recrutamento de c-FLIP. O mecanismo mitocondrial ocorre através da ativação de membros pró-apoptóticos da família Bcl-2. Proteínas pró-apoptóticas e anti-apoptóticas competem para regular a saída de citocromo c. se as pró-apoptóticas vencem, ocorre a

CD95L

Substrato apoptótico

Dano ao DNA

CD95

Citocromo C

Apoptossomo

Caspase-8

17

Page 19: Apoptose monografia

liberação de uma série de moléculas do compartimento mitocondrial, principalmente citocromo c, que se associa ao APAF-1 e a procaspase-9 para formar o apoptossomo.

O mecanismo de receptor de morte e o mecanismo mitocondrial convergem para a ativação da caspase-3. A ativação da caspase-3 é antagonizada pelas IAPs, que são antagonizadas pela proteína Smac/DIABLO liberada pela mitocôndria. A ativação da caspase-3 leva a apoptose da célula e sua eliminação.

A sinalização e integração entre o receptor de morte e a via mitocondrial é feita através do Bid, um membro da família de moléculas pró-apoptóticas Bcl-2, a caspase-8 faz a mediação da clivagem da Bid, aumentando a atividade de morte celular, resultando na sua translocação para a mitocôndria, onde irá promover a liberação do citocromo c. Na maior parte das vezes, esta integração é mínima, e os dois mecanismos ocorrem independentemente um do outro.

As células que sofrem apoptose morrem de uma forma ordenada, sem

prejudicar as células vizinhas. A célula encolhe e condensa. O citoesqueleto sofre

colapso, o envelope nuclear é desmontado, e o DNA nuclear quebra-se em

fragmentos. A superfície celular é alterada, exibindo propriedades que levam a célula

moribunda a ser rapidamente fagocitada tanto pelas suas células vizinhas como por

fagócitos, em especial macrófagos, antes de ocorrer qualquer liberação do seu

conteúdo. Isso não somente evita danos conseqüentes da necrose celular, mas

permite que os componentes orgânicos da célula morta possam ser reciclados para

a célula que a ingeriu. A ocorrência da apoptose depende de uma família de

proteases que apresenta uma cisteína no sítio ativo e cliva suas proteínas alvo em

ácido aspártico específico. Sendo denominadas caspases. As caspases são

sintetizadas nas células na sua forma inativa, as quais são ativadas pela clivagem do

ácido aspártico por outras caspases. Uma vez ativada, as caspases clivam e então

ativam outras procaspases, resultando em uma cascata de amplificação proteolítica.

Algumas caspases ativadas clivam outras proteínas-chave na célula. Algumas

clivam a lâmina nuclear, por exemplo, causando a quebra irreversível da lâmina

nuclear, outras clivam uma proteína que normalmente mantém a enzima

degradadora do DNA na forma inativa, liberando a DNAse para digerir o DNA no

núcleo da célula. Assim, a célula desmancha-se rápida e ordenadamente e os

corpos apoptóticos são rapidamente fagocitados e digeridos por outras células

(BRASILEIRO-FILHO, 2004).

As procaspases são ativadas por proteínas adaptadoras que fazem com que

múltiplas cópias de procaspases específicas, chamadas iniciadoras, se unam e

formem um complexo. São dotadas de uma pequena atividade de protease e,

quando são forçadas a entrar no complexo, sua proximidade faz com que uma clive

a outra, desencadeando sua mútua ativação. Em outros casos a formação do

18

Page 20: Apoptose monografia

complexo causa uma mudança conformacional que ativa as procaspases. A caspase

no topo da cascata é ativada dentro de momentos, clivando a próxima procaspase

para estimular o sinal da morte, que se estende por toda a célula. A ativação da

procaspase pode ser desencadeada de fora da célula por uma ativação de

receptores da morte na superfície da célula. Quando as células estão danificadas,

podem também matar a si próprias desencadeando a agregação de procaspases e a

ativação de dentro da célula (ALBERTS et al., 2004).

Os corpos apoptóticos podem ser identificados ao microscópio óptico pela

coloração de hematoxilina e eosina, como massas redondas ovais com o citoplasma

intensamente eosinofílico e a cromatina condensada, e são comumente observados

dentro de fagolisossomos (GESKE e GERSCHENSON, 2001). Quantificação de

apoptose pela microscopia óptica é possível, entretanto a visualização das células

apoptóticas torna-se muito difícil pelo processo acontecer em poucas horas e as

células serem rapidamente fagocitadas (GAVRIELI, SHERMAN e BEM-SASSON,

1992). A microscopia eletrônica permite a análise estrutural de todos os estágios da

apoptose mas não é prático para análise de grandes áreas teciduais. Outros

métodos de detecção da apoptose vêm sendo amplamente utilizados, como a

técnica TUNEL para a identificação da fragmentação de DNA (KRAVTSOV, DANIEL

e KOURI,1999), as marcações imuno-histoquímicas para os diferentes tipos de

caspases e para fita simples de DNA (ssDNA), hibridização in situ, que é uma

técnica pela qual se identificam seqüências específicas de nucleotídeos em cortes

histológicos (LORO et al., 2003) e a citometria de fluxo através da marcação dupla

com Anexina V e iodeto de propídio (RODRIGUES et al, 2009).

3.1.1 Características morfológicas e bioquímicas

A morte celular programada ou apoptose pode ocorrer em células individuais

ou em grupos de células em áreas maiores e contínuas (como ocorre após lesões).

As células apoptóticas apresentam um padrão de alterações morfológicas muito

semelhante independente da situação investigada ou do agente utilizado para

induzi-la experimentalmente (KUMAR, ABBAS e FAUSTO, 2004). Porém a apoptose

não é o único tipo de morte celular, a necrose também é uma importante forma de

morte celular. A necrose resulta da ruptura da membrana celular e lise celular,

liberando moléculas que ativam a resposta inflamatória. A necrose é sempre

19

Page 21: Apoptose monografia

patológica, enquanto a apoptose é um processo fisiológico importante, mas que

pode ser ativado em situações patológicas (ALLEN, HUNTER e AGRAWAL,1997).

3.1.2 Alterações de forma e estrutura celular

Na apoptose as células se tornam mais arredondadas, perdem as junções de

adesão com as células vizinhas e com a matriz extracelular, podendo apresentar

bolhas ou vacúolos em seu citoplasma. No estágio mais avançado a célula se

condensa e se desintegra em corpos apoptóticos. A base para esta alteração

provavelmente envolve a reorganização de proteínas do citoesqueleto.

a) Alterações nucleares

Condensação da cromatina (picnose), ocorre marginação ao longo do

envoltório nuclear e mais tardiamente fragmentação do núcleo em várias partículas.

O DNA se fragmenta em fragmentos grandes de 50-300 kilobases, seguidos de

novas clivagens específicas entre nucleossomos por endonucleases dependentes

de Ca2+ e Mg2+, gerando fragmentos múltiplos de 180 a 200 pares de bases. Com a

desintegração da célula, estas partículas são empacotadas nos chamados corpos

apoptóticos, os quais são fagocitados por outras células (KUMAR, ABBAS e

FAUSTO, 2004).

b) Alterações das organelas

Maior parte das organelas se mantém morfologicamente intactas durante o

processo de apoptose. O retículo endoplasmático se torna dilatado, os ribossomos

são liberados do retículo endoplasmático rugoso se agregando uns aos outros. As

mitocôndrias inicialmente se mantêm intactas e posteriormente se condensam ou se

dilatam (KUMAR, ABBAS e FAUSTO, 2004).

Apesar da ausência de alterações estruturais significativas, atualmente sabe-

se que a maioria das organelas nas células apoptóticas sofrem alterações

bioquímicas sutis, particularmente proteólise parcial e permeabilização das

membranas. Ainda mais importante é que cada organela possui sensores que

detectam alterações específicas e ativam vias de transdução de sinais locais, estas

emitem sinais para comunicação entre organelas e finalmente podem ativar a

cascata apoptótica (FERRI e KROEMER, 2001).

O retículo endoplasmático participa da iniciação da apoptose através de pelo

menos dois mecanismos, a UPR (“Unfolded Protein Response” / resposta as

20

Page 22: Apoptose monografia

proteínas não dobradas) e pela sinalização de cálcio. Condições que comprometem

o dobramento protéico no retículo endoplasmático ativam a UPR, a qual pode corrigir

a falha no dobramento das proteínas ou ativar a apoptose. Perturbações nos níveis

de cálcio no retículo endoplasmático, assim como sua liberação rápida e intensa,

podem ser apoptogênicas (FERRI e KROEMER, 2001). O processo de apoptose no

retículo é regulado principalmente por proteínas da família Bcl-2 que serão descritas

mais à frente (FERRARI et al., 2002).

c) Alterações da membrana plasmática

A maioria das alterações da membrana é de natureza bioquímica e não

parecem envolver alterações morfológicas. Uma exceção é a perda de

microvilosidades, que parece ser decorrente da desfoforilização de proteínas que

normalmente estabilizam a ligação de microvilos da superfície celular às moléculas

de actina do citoesqueleto. Há ainda mudanças na fluidez da membrana devido a

modificações na síntese e degradação de lipídeos em conseqüência da ativação de

fosfolipases e esfingomielases (BRASILEIRO-FILHO, 2004).

A remoção dos restos celulares apoptóticos é feita por fagócitos profissionais,

e consiste no reconhecimento e subseqüente engolfamento destas estruturas. Para

que haja o reconhecimento pelo fagócito, as células apoptóticas expressam

diferentes moléculas na superfície sendo a principal o fosfolipídeo fosfatildilserina,

que reside normalmente no folheto interno da membrana citoplasmática e é

translocado para o folheto externo durante o processo de apoptose. Essa

translocação permite o reconhecimento destas células por macrófagos, resultando

na fagocitose sem que haja a liberação de componentes celulares pró-inflamatórios.

Assim as células apoptóticas são destruídas com um mínimo de comprometimento

do tecido adjacente e sem ativar os macrófagos a produzirem uma resposta

inflamatória (LAUBER et al., 2004).

3.1.3 Controle genético da apoptose

Estudos recentes têm contribuído significativamente para a compreensão dos

mecanismos moleculares controladores da morte celular por apoptose. Sua iniciação

e as inúmeras alterações celulares que fazem parte do processo de apoptose, bem

como sua inibição é dependente da atividade de genes determinados, embora os

mecanismos pelos quais estes genes atuam não estejam totalmente elucidados, já

21

Page 23: Apoptose monografia

se conhece parcialmente o mecanismo de controle genético da apoptose em

diferentes sistemas orgânicos e tecidos.

Os estudos envolvendo a participação de genes no controle de apoptose

iniciaram-se com nematódio Caenorhabditis elegans. A morte fisiológica nesses

organismos é controlada, principalmente, por 3 genes da família CED (“cell death

abnormal” / morte celular anormal): CED-3, CED-4 e CED-9, além de outras

proteínas (LIU e HENGARTNER, 1999). Nesses organismos o gene supressor da

apoptose CED-9 (homólogo ao gene humano Bcl-2) sempre está associado ao gene

CED-4 (homólogo à proteína APAF-1), o que impede a ativação de CED-3 (pró-

apoptótica). Quando a apoptose é iniciada, a proteína Bcl-1 (homóloga à proteína

humana Bax) se associa ao CED-9, liberando o CED-4 e levando a ativação do

CED-3. Em humanos, o processo é muito semelhante ao que ocorre com

Caenorhabditis elegans, ou seja, a proteína Bax se associa ao Bcl-2 induzindo a

liberação da APAF-1, ativando a caspase 9, induzindo a apoptose (HENGARTNER,

2000).

Os genes envolvidos no processo apoptótico podem agir inibindo ou

estimulando a apoptose, de acordo com a situação em que a célula ou tecido se

encontram, em decorrência disto eles são denominados anti-apoptóticos e pró-

apoptóticos respectivamente (LEE et al.,1999).

Entre os genes que apresentam ação anti-apoptótica está o Bcl-2, em

experimentos onde foram utilizados camundongos com expressão exarcebada

desse gene demonstraram um índice de morte celular diminuído no epitélio

seminífero (RODRÍGUEZ et al., 1997). Porém o gene Bcl-2 mesmo tendo essa

conhecida ação anti-apoptótica, sabe-se que ele não é capaz de inibir a apoptose

em quaisquer circunstâncias e parece não ter atividade em todos os tipos celulares

(COHEN et al., 1992). Em contrapartida, genes como c-myc, Bax, p53, e Fas fazem

parte dos genes pró-apoptóticos, que exercem importante função não só nas células

normais como também em células neoplásicas.

3.1.4 Bcl-2

Bcl-2 é uma família de proteínas de membrana mitocondrial, inicialmente

descrita em translocações cromossômicas de linfomas de células B foliculares

humanos (GESKE e GERSCHENSON, 2001). Os membros da família Bcl-2 são

22

Page 24: Apoptose monografia

fatores cruciais na regulação da apoptose. De acordo com critérios funcionais e

estruturais, são divididos em dois grupos, os membros antIAPsoptótico e os

membros pró-apoptóticos.

a)Grupos antipoptóticos: Bcl-2, Bcl-w, Bcl-xL.

b)Grupos pró-apoptóticos: Bad, Bak, Bax, Bid, Bim, Bcl-xS.

A proteína Bcl-2 bloqueia a liberação de citocromo C pela mitocôndria após

estímulo apoptogênico, impedindo a ativação de caspases. Mas o principal

mecanismo de ação destas moléculas é através da ligação e inibição das proteínas

pró-apoptóticas da família Bcl-2. Um dos mecanismos pelos quais estas proteínas

pró-apoptóticas controlam a apoptose é através da formação de poros na membrana

mitocondrial, permitindo a interação de várias proteínas envolvidas na regulação da

apoptose (REED et al., 1998).

Bax e Balk, originalmente localizadas no citoplasma, são translocadas para a

membrana mitocondrial externa após o início do processo apoptótico. Na membrana

elas sofrem alterações conformacionais que elevam a permeabilidade do poro

mitocondrial, levando a liberação de moléculas pró-apoptóticas, tais como citocromo

C, AIF e Smac/DIABLO (“second mitochondria-derived activator of caspase/direct

inhibitor of apoptosis-binding protein with low pl” - segundo ativador mitocôndrial de

caspase/ proteína de ligação-IAPS direta com baixo pl) (FAN et al., 2005).

As proteínas do grupo antIAPsoptótico podem se ligar seletivamente à

conformação ativa de Bax e prevenir sua inserção na membrana mitocondrial

externa, mantendo a permeabilidade normal do poro, e prevenindo assim, a

liberação dos fatores pró-apoptóticos (ANTONSSON e MARTINOU, 2000).

3.1.5 C-myc

O C-myc é um proto-oncongene que determina se a célula irá proliferar ou

entrar em processo de apoptose. Parece, que normalmente este gene programa a

célula para se desenvolver. No entanto, diante da ausência de fatores de

crescimento ou de um outro gene necessário para que este desenvolvimento ocorra,

a célula comete “suicídio”. Células que expressam esse gene e que, por algum

motivo, apresentam deficiência de algum outro fator estimulador de mitose,

interrompem seu desenvolvimento normal e entram em apoptose (COHEN et al.,

1992; FANIDI et al., 1992).

23

Page 25: Apoptose monografia

3.1.6 p53

O gene p53, um supressor de tumores que também regula a proliferação e a

morte celular, a expressão exarcebada da p53 pode tornar as células mais

susceptíveis a morte celular quando tratadas, por exemplo, com agentes

antineoplásicos (LANE, 1992; FANIDI et al., 1992).

Quando o DNA é danificado, a proteína p53 se acumula e sua função é parar

o ciclo celular na fase G1, dando mais tempo para o reparo da lesão antes que

ocorra a replicação do DNA. Porém, se este processo de reparo do DNA falhar, a

p53 ativa o processo de apoptose, prevenindo assim a replicação do DNA danificado

e o gradual acúmulo de lesões genéticas que poderia resultar em carcinogênese

(YU e ZHANG, 2005).

Depois que ocorre o reparo DNA, a p53 aumenta a transcrição da proteína

mdm-2 (“murine double minute-2”/murina duplo minuto-2) que age como inibidora da

p53. A mdm-2 se associa à p53, revertendo o bloqueio do ciclo celular promovendo

o avanço para a fase S (SHERR, 2000).

Quando os danos ao DNA não são passíveis de reparo, ocorre a ativação da

apoptose. Mutações no gene p53 resultam em um descontrole do ponto de

checagem de G1, possibilitando que células danificadas progridam para a fase S

sem reparar as lesões, ou entrar em apoptose (AGARWAL et al., 1998).

3.1.7 Caspases como iniciadores e executores da apo ptose

O reconhecimento de que os mecanismos de morte celular do nematódeo

Caenhorhbditis elegans são regulados da mesma maneira que ocorre na morte

celular da células humanas, foi extremamente importante para o entendimento da

apoptose (ELLIS et al., 1991)

O gene ced-3 é essencial para o desenvolvimento da morte celular em C.

elegans. O descobrimento que o ced-3 é uma cisteína protease, juntamente com a

clonagem e caracterização funcional do número dos homólogos ced-3 nos

mamíferos, teve um enorme impacto na ciência da apoptose. Estas proteínas, agora

chamadas de caspases, são reconhecidas como uma classe comum de proteínas

encontradas em diferentes organismos. É um consenso que em algumas situações

in vivo as células morrem por outros mecanismos além da ativação das caspases,

24

Page 26: Apoptose monografia

mas há dúvidas se as caspases são requeridas pelo menos nas mudanças

morfológicas mais proeminentes durante a apoptose (HACKER, 2000)

Estas importantes proteínas requeridas no processo de apoptose pertencem

à família da cisteínas proteases que têm a capacidade de reconhecer e clivar

substratos que possuam resíduos de aspartato (NICHOLSON e THORNBERRY,

1997). As caspases sinalizam para a apoptose e clivam estes substratos levando a

condensação e fragmentação nuclear, externalização de fosfolipídeos de membrana

que irão sinalizar para estas células serem fagocitadas por macrófagos

(NICHOLSON e THORNBERRY, 1997; BOATRIGHT e SALVASEN, 2003). São

conhecidas 14 caspases humanas, sendo que seis (caspases -3, -6, -7, -8, -9, -10)

participam da apoptose (BOATRIGHT e SALVASEN, 2003).

As enzimas podem interagir com receptores de membrana ou moléculas

adaptadoras que contenham domínios de morte, pois estes domínios também

existem nas caspases e a presença deles permite essa interação (NICHOLSON e

THORNBERRY, 1997). As caspases podem ser classificados de acordo com seu

pró-domínio e seu papel na apoptose. Caspases iniciadoras (Caspases -2, -8, -9, -10

e -12). possuem pró-domínios longos e estão envolvidas na iniciação da cascata

proteolítica. Caspases efetoras (Caspases-3 e -7). apresentam pró-domínios curtos

ou inexistentes, responsáveis pela clivagem de substratos (RUPNARAIN et al.,

2004). Entre os diversos substratos das caspases pode-se citar a mdm-2, uma

proteína que se liga à p53, mantendo-a no citoplasma. Ao ser clivada pelas

caspases, essa proteína libera a p53 que se transloca para o núcleo, ativando a

transcrição de genes pró-apoptóticos como o Bax (SCHULER, MAURER e

GOLDSTEIN, 2003).

3.1.8 Proteínas inibidoras da apoptose

As IAPs (“Inhibitor of apoptosis proteins”/ proteínas inibidoras da apoptose

são moléculas que exercem seu papel antiapoptótico através da capacidade de inibir

a atividade das caspases efetoras -3 e -7, da caspase iniciadora -9 e de modularem

o NF-ḳB (“nuclear factor kappa B”/ fator de transcrição nuclear kappa B)

(DEVERAUX e REED, 1999; SHI, 2002). Durante a apoptose, as IAPs são

removidas por uma proteína liberada da mitocôndria denominada Smac/DIABLO

(VERHAGEN et al., 2000; DU, FANG e WANG, 2000). Após o dano mitocôndrial

25

Page 27: Apoptose monografia

essa proteína é liberada para o citoplasma juntamente com o citocromo c, enquanto

o citocromo c liga-se a APAF-1 e ativa diretamente a caspase-9, Smac/DIABLO

remove as IAPs de sua ligação inibitória com as caspase (CHAI et al., 2000).

A c-FLIP (“FLICE-inhibitory protein”/ proteína inibidora de FLICE) também

inibe a apoptose através da sua ligação ao FADD (“Fas-associated protein with

death domain”/ domínio de morte associado ao Fas), que é uma proteína adaptadora

ligado ao Fas, prevenindo a ativação da caspase-8/Flice. Cinco diferentes membros

das IAPs já foram descritos: NAIP, XIAP, c-IAP-1, c-IAP-2 e suvivina (FERREIRA et

al., 2002).

3.2 APOPTOSE E CÂNCER

Embora o câncer exiba características muito heterogêneas, todos os tumores

malignos adquiriram a propriedade de crescer além dos limites impostos às células

normais. A expansão clonal de uma célula transformada depende de um descontrole

de sua capacidade proliferativa e de uma crescente incapacidade de morrer por

apoptose. Portanto, apesar de enorme variabilidade do câncer, evidências

demonstram que a resistência a apoptose é uma das características mais marcantes

da maioria dos tumores malignos (OKADA e MAK, 2004; GRIVICICH, REGNER e

ROCHA, 2007).

É de grande interesse científico e clínico a influência da apoptose na

sensibilidade de tumores ao tratamento contra o câncer, a maior razão para este

interesse é influenciada positivamente ou negativamente por uma variedade de

genes muitos deles sofrem mutações ou não estão funcionantes no câncer humano.

Entre os mais importantes estão o gene supressor p53 e os genes da família Bcl-2

(BROWN e WOUTERS, 1999). Algumas mutações permitem que célula resista ao

estímulo de morte, as células em um tumor em desenvolvimento precisam evitar a

morte celular que é induzida não somente pela expressão não regulada de

oncogenes, mas também pela limitação de fatores de crescimento, oxigênio ou

nutrientes. Somente superando estas ameaças as células cancerígenas podem

sobreviver e se tornarem invasivas e metastáticas. Os genes anti-apoptóticos Bcl-2 e

p53 têm demonstrado a importância das células cancerígenas de superar a

apoptose. A ativação da Bcl-2 pode levar a sobrevivência dos linfomas, uma vez que

26

Page 28: Apoptose monografia

a atividade oncogênica pode depender da atividade anti-apoptose do gene Bcl-2

(OKADA e MAK, 2004).

O gene de supressão tumoral p53 é importante na regulação da apoptose, a

deficiência da p53 acelera a tumorigênese (VOUSDEN e LU, 2002).

Além desses genes citados anteriormente, o gene Fas regula o sistema imune

através de sua função pró-apoptótica (NAGATA, 1999), a interrupção deste

mecanismo leva a linfoproliferação e cânceres hematopoiéticos (STRAUS et al.,

2001). Portanto, existem diferentes rotas para a inativação dos mecanismos de

sinalização pró-apoptótica no processo de tumorigênese.

A resistência a apoptose é um importante mecanismo no processo de

tumorigênese assim como no desenvolvimento de resistência de drogas anti-

tumorais. Muitas pesquisas sobre terapias para o câncer têm se focalizado em

desenvolver mecanismos para superar a resistência a apoptose pelas células

tumorais (RONINSON, BROUDE e CHANG, 2001). A análise da tumorigênese

revela que a capacidade de resistir à morte pode ser adquirida por diferentes

mecanismos e acontecer em vários momentos do desenvolvimento tumoral. Entre

estes, a resistência à morte por apoptose em células que escaparam do controle do

crescimento e da diferenciação normais exercidos por fatores solúveis ou por

contatos célula-célula ou célula-matriz extracelular até aquelas induzida por lesões

do DNA, por hipóxia ou por espécies reativas do oxigênio (ZÖRNIG et al., 2001).

A maioria dos tumores retêm a habilidade de sustentar seu crescimento

permanente ou sofrer tipos de morte celular não apoptóticas como necrose,

autofagia, senescência celular e outros (BROWN e WOUTERS, 1999). Esta

propriedade pode ser explorada para induzir a morte celular por mecanismos não

apoptóticos e confundir a sobrevivência dos clones resistentes às drogas. Importante

que a fração de células tumorais que respondem aos mecanismos de morte celular

não apoptóticos aumenta se a apoptose é inibida em resposta a agentes anti-

tumorais ou radiação. Portanto uma estratégia que deliberadamente induza a morte

celular não apoptótica pode ser tornar uma terapia padrão que pode contribuir

favoravelmente no desenlace do tratamentode tumores (RONINSON, BROUDE e

CHANG, 2001).

A elucidação de alguns mecanismos moleculares da apoptose abriram

perspectivas da modulação desses processos. As estratégias se baseiam em induzir

a morte nas células tumorais através do bloqueio de genes olligonucleotídeos

27

Page 29: Apoptose monografia

antisense e drogas convencionais, ou ainda a substituição de função desses genes

com o uso de moléculas recombinantes (NICHOLSON, 2000).

O oblimersen (G3139, Genasense, Genta, Berkeley, Heights, Nj) é um

oligonucleotídeo antisense anti Bcl-2 que está sendo testado em estudos clínicos da

fase III, tendo demonstrado alguns resultados positivos (KIM et al., 2006;

PAPADOPOULOS, 2006) Outro agente promissor é o ABT737, uma pequena

molécula que inibe as proteína Bcl-2, Bcl-XL, Bcl-w. Em estudo pré-clínico, o

ABT737 levou a completa regressão de tumor de pulmão de pequenas células

(OLTERSDORF et al., 2005).

3.3 GLICOCORTICÓIDES (GCs)

Os GCs são de grande valor no tratamento de desordens inflamatórias, como

reumatismo, artrite reumatóide, asma e dermatites, doenças auto-imunes, doença de

Chron. Suas propriedades antiinflamatórias e imunosupressoras têm feito deste

medicamento uma das drogas mais prescritas mundialmente, além de ser usado

como co-medicação em terapia contra o câncer. Os GCs possuem habilidade de

matar células linfóides o que levou a sua inclusão em todos protocolos de

quimioterapia para linfomas, sendo também utilizados como co-terapia em cânceres

sólidos. O GCs são eficientes para tratar os efeitos colaterais dos antineoplásicos

pois estimulam o apetite, reduzem os distúrbios eletrolíticos, previnem náusea,

êmese e reações tóxicas causadas pela citotoxicidade (RUTZ, 2004; MATTERN,

BUCHLER e HERR, 2007).

Os GCs são drogas com propriedades antiinflamatórias e imunossupressoras,

que induzem a apoptose de monócitos, macrófagos e linfócitos T que estão

envolvidos na resposta inflamatória e imunológica. A maioria dos seus efeitos são

mediadas pelos receptores de GCs. A sensibilidade aos GCs depende amplamente

de sua quantidade, ou da sua habilidade de se ligar ao seu receptor, causando a

modulação dos sítios genéticos para GCs. Condições clínicas de resistência tecido-

específica aos GCs ou de hipersensibilidade têm sido descritos em várias doenças

como, condições inflamatórias crônicas e auto-imunes e na síndrome metabólica

(LOGUI e FARIA, 2009).

28

Page 30: Apoptose monografia

Portanto a resposta clínica aos GCs varia muito em relação ao tipo de GCs,

dose e terapêutica, da doença e do tipo de célula alvo, e ainda depende da

sensibilidade de cada indivíduo aos GCs (LAMBERTS et al., 1996). Torna-se claro

que o reconhecimento das variações individuais e os aspectos da sensibilidade

órgão-tecido específico aos GCs são fundamentais para o sucesso de tratamentos

que envolvem o seu uso.

Foi demonstrado que drogas antiinflamatórias como os GCs são capazes de

suprimir a proliferação celular e induzir a apoptose em diferentes tipos de células,

afetando principalmente o ciclo celular e os fatores pró-apoptóticos (WEINSTEIN et

al., 1998; ZHANG et al., 2000; CORROYER et al., 2002). Na inflamação é importante

que os GCs possam induzir a apoptose nas células inflamatórias, enquanto

protegem as células dos tecidos circunjacentes. Entretanto, em pacientes com

câncer, especialmente aqueles com altos níveis de GCs, a habilidade dos GCs de

proteger as células cancerosas da apoptose se torna um fator prejudicial (MA et al.,

2008).

Além de influenciar negativamente no tratamento de alguns cânceres, os GCs

podem causar um impacto negativo sobre o tecido ósseo, uma vez que, diminuem a

formação óssea podendo levar a osteoporose. Um dos mecanismos responsáveis

pela indução de osteoporose pelos GCs seria a indução prematura de apoptose das

células osteoblásticas e de osteócitos (WEINSTEIN, 1998).

3.4 ATUAÇÃO DOS GLICOCORTICÓIDES (GCs) NA INDUÇÃO D E APOPTOSE

EM LINFÓCITOS E EM CÂNCERES

A maioria dos linfócitos no timo são sensíveis à indução de apoptose por GCs

in vivo. Entretanto uma pequena população de linfócitos tímicos maduros

permanecem não afetados mesmo com altas doses de GCs. Os receptores de GCs

nos linfócitos têm a mesma afinidade de ligação nos linfócitos sensíveis e

resistentes. A resistência aos GCs não é devido a alteração nestes receptores ou a

expressão de Bcl-2, mas sim a fatores tímicos exógenos e ou ao contato célula-

célula que provavelmente pode alterar a sinalização para o receptor de

glicocorticóide (OLDENBURG, EVANS-STORMS e CIDLOWSKI, 1997).

29

Page 31: Apoptose monografia

Os GCs têm efeitos profundos no tecidos linfóides, são capazes de alterar

muitas funções metabólicas celulares (transporte transmembrana de glicose,

aminoácidos, nucleosídeos, atividade RNA polimerase, produção de ATP) e

também ativam o processo de degradação do DNA causando a linfocitólise

(QUAGLINO e RONCHETTI, 2001). Aparentemente os GCs regulam uma

endonuclease que especificamente clivam o DNA do timócito. A indução de

apoptose pelos GCs não ocorre espontaneamente, a perda de viabilidade é

dependente da regulação genética, síntese de macromoléculas e atividade de

caspases. Os timócitos sofrem apoptose por outros mecanismos independentes de

caspase quando expostos aos GCs, diferentemente do que ocorre na morte celular

espontânea de timócitos, a morte destas células induzida por GCs parece ser

dependente de expressão gênica e das síntese de macromoléculas, uma vez que a

inibição de caspase não inibe a apoptose em timócitos expostos aos GCs (MANN.

HUGGES e CIDLOWSKI, 2000).

Tem sido descrito que os GCs induzem apoptose em linfócitos, enquanto

protegem algumas células cancerígenas da apoptose, por um mecanismo ainda

pouco conhecido (MA et al.,2008 ). Os GCs exercem um efeito dramático sobre

células de mamíferos. Esta classe de hormônios esteroidais tem efeito citotóxico

sobre certos tipos de células, como os linfócitos, células de mieolomas e células de

linfomas (FRANKFURT e ROSEN, 2004). Entretanto, recentemente, aumentaram as

evidências de que os GCs podem proteger uma variedade de células da apoptose,

como as células epiteliais das glândulas mamárias e células do folículo ovariano,

assim como células do câncer gástrico (MORAN et al., 2000). Os mecanismos pelos

quais os GCs afetam a apoptose ainda são pouco claros. Por exemplo, a atividade

mitocondrial dependente de proteosoma tem um importante papel regulador na

morte celular induzida pelo glicocorticóide dexametasona (MCLAUGHLIN et al.,

2003).

A inibição desta atividade afeta somente parcialmente a indução de apoptose

por GCs. Portanto, o mecanismo mitocondrial dependente de proteosoma não é o

único envolvido na apoptose induzida pelos GCs (MA et al.,2008).

As proteínas FOX são uma família de fatores de transcrição que

desempenham um importante papel na regulação da expressão de genes envolvidos

no crescimento celular, na proliferação, diferenciação e longevidade celular (GREER

e BRUNET, 2005).

30

Page 32: Apoptose monografia

O Foxp3 é um fator de transcrição expresso em células T regulatórias (Treg),

sendo necessário para o seu desenvolvimento e função (MARSON et al., 2007).

Além de ser expressa em células Treg, o Foxp3 é revelado também em células

tumorais. Sua localização nuclear desempenha um importante papel na formação de

complexos nucleares com fatores nucleares de ativação de células T, regulando,

dessa forma, a transcrição de vários genes como o da IL-10 (interleucina-10) que

conferem às Treg sua função supressora (KARANIKAS et al., 2008).

Corticoesteróides aumentam a expressão de Foxp3 assim como de IL-10 em células

T CD4. Porém o mesmo não foi observado em relação as células tumorais cultivadas

na presença de hidrocortisona. Neste estudo a expressão de Foxp3 foi a mesma na

presença e na ausência de hidrocortisona nas células tumorais. Esta diferença na

expressão de Foxp3 entre células tumorais e células TCD4 pode representar o

mecanismo pelo qual as células tumorais escapam da morte regulada pelos GCs

mediada pelos receptores de glicocorticóides, assim como ocorre nas células T

(RICARDI, CIFONE, MIGLIORATI, 1999).

A expressão de Foxp3 por células de carcinoma pancreático resultou na

inibição da proliferação e possivelmente na não ativação de células T CD4+ e CD25-

, podendo representar um mecanismo de escape do tumor (HINZ et al., 2007).

Nas células de mamíferos foram relatadas a presença da família de fatores de

transcrição forkhead incluindo FOXO1, FOXO3A e FOXO4. O FOXO3A,

especialmente regula genes que mediam sinais pró-apoptóticos que seguem

diferentes estímulos (GREER e BRUNET, 2005).

O FOXO3A não fosforilado é a forma ativa de FOXO3A, ele pode ser

translocado para o núcleo e induzir a transcrição de genes que codificam fatores pró-

apoptóticos e anti-proliferativos como FasL e devido a isso induzem a morte celular

através de mecanismos apoptóticos mediados pelo Fas (KOPS et al., 2002). Quando

o FOXO3A é fosforilado em múltiplos resíduos pelas proteínas quinases AKT e IқK

(“inhibitory kappa B kinase”/ inibidor de kappa B quinase), ela é excluída do núcleo,

o que pode proteger a célula da apoptose. A inativação do FOXO3A pela

fosforilização previne sua translocação para o núcleo reduzindo, então, a expressão

dos sítios genéticos pró-apoptóticos. Wu et al. (2006) observaram que a ativação

dos receptores de glicocorticóides é responsável pela fosforilização e inativação da

FOXO3A.

31

Page 33: Apoptose monografia

Ma et al. (2008) observaram que a redução da expressão de FOXO3A,

reduziu a apoptose de linfócitos pela metade, demonstrando como este fator de

transcrição é importante na indução de apoptose por GCs em células linfóides.

Várias linhagens de cânceres examinadas apresentaram aumento dos níveis de

fosfo-FOXO3A após tratamento com dexametasona. Estes dados revelam que a

dexametasona promove a fosforilização do FOXO3A, reduzindo a apoptose das

células linfóides. Em células cancerosas, a dexametasona não induz a apoptose,

como esperado, estas células resistentes a apoptose após o tratamento passam a

ter um alto poder de fosforilização da FOXO3A. A partir do exposto torna-se claro

que os mecanismos de apoptose são uma importante via pela qual as drogas

citotóxicas matam as células tumorais (DEBATIN, 2004). Em cânceres linfóides a

dexametasona induz uma resposta de apoptose rápida in vitro, que é antagonizada

pela interleucina-6 (IL-6) e outras citocinas.

Os benefícios da terapia com GCs em cânceres hematológicos são limitados

devido ao surgimento de resistência aos GCs principalmente na leucemia mielóide

aguda ou leucemia mielóide crônica (LOWENBERG, DOWNING, BURNETT, 1999)

Células de mieloma da linhagem RPMI8226 foram utilizados para testar a efetividade

citotóxica de diferentes GCs (dexametasona, prednisolona, metil-1prednisolona). As

células RPMI8226 têm alta expressão de CD38, que tem participação na adesão

celular. Foi observado redução na expressão de CD38 em células RPMI8226

resistentes a metil1-prednisolona e dexametasona (GENTY, DINE e DUFER, 2004).

A expressão de CD38 pode predizer o prognóstico e a progressão da doença

em pacientes com linfomas de células B (IBRAHIM et al., 2001). Além das alterações

na expressão de CD38 as células resistentes apresentaram aumento na expressão

de CD44 (GENTY, DINE e DUFER, 2004). O CD44 promove a adesão celular e

também pode aumentar a sobrevivência de células plasmáticas através da

aglomeração focal (MEDINA et al., 2002), um mecanismo que pode estar envolvido

no crescimento e alterações morfológicas observadas nas células RPMI8226. Ainda

ocorreu aumento da expressão de CD58 nas células resistentes que pode marcar os

estado de resistência aos GCs. O CD58 pode estimular as citocinas inflamatórias e

exercer uma importante influência sobre as interações inflamatórias que são alvos

do tratamento dos corticóides (KIRBY et al., 2000). Portanto a resistência aos GCs

nas células RPMI8226 é acompanhada por uma significante alteração fenotípica que

32

Page 34: Apoptose monografia

podem implicar no aumento da sobrevivência das células tumorais ao tratamento.

(GENTY, DINE e DUFER, 2004).

33

Page 35: Apoptose monografia

4 DISCUSSÃO

A partir desta revisão de literatura ficou evidente que a apoptose desempenha

um importante papel na manutenção e desenvolvimento dos seres vivos eliminando

células supérfluas ou defeituosas. A compreensão dos mecanismos apoptóticos

permitiu o desenvolvimento científico em vários aspectos, inclusive o

desenvolvimento de novas terapias contra o câncer. Medicamentos anti-neoplásicos

têm como estratégia a indução da morte das células tumorais e maior resposta ao

tratamento radioterápico (GRIVICICH, REGNER e ROCHA, 2007).

Os GCs são amplamente utilizados em combinação com quimioterápicos e

radioterapia em pacientes com tumores sólidos, pois os GCs reduzem náusea,

êmese, e protegem os tecidos contra os efeitos citótoxicos da terapia anti-neoplásica

(CHEN et al., 2009). Estes hormônios ainda são utilizados nos protocolos

terapêuticos para tratamento de várias formas de linfomas e leucemias. Agentes

quimioterápicos e irradiação-y induzem a sinalização apoptótica, que converge na

ativação das caspases iniciadoras (HERR et al., 2003), entretanto, já foi relatado que

os GCs apresentam efeitos anti-apoptóticos em células de tumores sólidos,

prevenindo a citotoxicidade de terapias convencionais (radioterapia, quimioterapia)

que induzem a morte celular (HERR e PIFTZENMAIER, 2006).

A inibição de moléculas chave para o receptor de morte em células de

carcinoma e da apoptose via mitocôndrial pela dexametasona, resulta no bloqueio

da atividade das caspases. A transferência direta de caspases restaurou a

sensibilidade a dexametasona em carcinomas in vitro e in vivo (HERR et al., 2003).

A dexametasona inibiu a apoptose induzida por 5-fluorouracil e cisplatina que

são agentes antineoplásicos e promoveu o crescimento de células de tumores

sólidos. Em contraste, nas células linfóides, induziu a apoptose e permitiu o efeito

citotóxico dos quimioterápicos (ZHANG et al., 2006). Herr et al. (2003) também

relataram que mesmo uma pequena exposição a dexametasona foi capaz de

reprimir a despolarização da membrana mitocondrial, inibindo a expressão e

atividade da caspase-9, levando a um decréscimo da atividade da caspase-3 efetora

34

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em células de carcinomas expostas a cisplatina (agente antineoplásico) in vitro,

entretanto esta inibição não foi observada nas células linfóides

Ainda em relação ao tratamento combinado de GCs e quimioterápicos, Zhang

et al (2007) observou resistência ao tratamento com quimioterápico em 94% de

células de linhagem tumoral, 100% de células de transplante xenogênico de

carcinoma de próstata e 85% de células originadas de tumores sólidos ressecados.

A resistência pode ser devido à inibição de apoptose, promoção da viabilidade e

progressão celular. Apesar da resistência ter uma longa duração, ela se mostrou

reversível com a cessação da terapia com glicocorticóide.

A dexametasona ativa os receptores de GCs que aumentam a expressão e a

atividade de SGK-1 (“serum/glucocorticoid regulated kinase 1”/ soro e quinase-1

dependente de glicocorticóide) e MKP-1 (“MAPK phosphatase-1”/ MAPK fosfatase-

1). A super expressão de MKP-1 e SGK-1 está diretamente ligada a redução da

apoptose (WU et al., 2005).

Portanto, apesar de serem efetivos na indução de apoptose em linfócitos os

GCs podem proteger algumas células cancerígenas da apoptose por um mecanismo

ainda pouco conhecido. A resistência pode ser devido a alterações fenotípicas das

células tumorais (GENTY, DINE e DUFER, 2004). Chen et al (2009) relataram que

os GCs causam aumento da adesão da matriz extracelular que proporciona um

aumento na sinalização de integrina beta 1 e TGF-beta 1 (“transforming growth

factor beta 1”/ fator transformador de crescimento beta 1) que representam um

importante papel na indução de quimioresistência pelos GCs em células cancerígena

do ovário.

Além do efeito de quimioresistência dos GCs principalmente diminuindo a

apoptose de células tumorais eles são potentes imunossupressores. A

imunossupressão pode exacerbar o processo de metástase e acelerar o crescimento

tumoral. Juntos, o efeito imunossupressor e a indução de resistência a apoptose em

tumores sólidos, podem contribuir no aumento do potencial de metástase em

pacientes que recebem combinação de quimioterapia/radioterapia e uso de GCs

(ZHANG et al., 2006)

35

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5 CONCLUSÃO

Em conclusão os GCs são amplamente usadas em altas doses na terapia de

leucemias e linfomas e são usados concomitantemente aos quimioterápicos. Porém,

estes medicamentos estão envolvidos na indução de resistência a apoptose na

maioria dos tumores sólidos submetidos ao tratamento com drogas anti-

cancerígenas e/ou radioterapia. Dessa forma, é importante se reconsiderar a ampla

utilização dos GCs no tratamento de pacientes com tumores sólidos.

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