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Apropriação Cultural Cultura: Cultura (do latim cultura) é um conceito de vários significados, sendo o mais corrente, especialmente na antropologia, a definição genérica formulada por Edward B. Tylor segundo a qual cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Clifford Geertz definiu cultura como sendo um "padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação a vida." Do ponto de vista das ciências sociais (isto é, da sociologia e da antropologia), sobretudo conforme a formulação de Tylor, a cultura é um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais artificiais (isto é, não naturais ou biológicos) aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade. Por ter sido fortemente associada ao conceito de civilização no século XVIII, a cultura, muitas vezes, se confunde com noções de: desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos de elite. Essa confusão entre cultura e civilização foi comum, sobretudo, na França e na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, onde cultura se referia a um ideal de elite. Ela possibilitou o surgimento da dicotomia (e, eventualmente, hierarquização) entre "cultura erudita" e "cultura popular". A cultura é um dos fatores constituintes dos homens. Assim, outros dois pensadores importantes para a discussão são Norbert Elias e Vigotsky. Há uma certa “sintonia” entre a visão de Elias e a visão de Vigotski a respeito da constituição humana do homem. Tanto no caso do processo civilizador de Elias quanto no do processo de constituição cultural do homem de Vigotski, a idéia é semelhante: “o homem é obra do próprio homem”, não efeito da natureza ou de qualquer outro fator externo. Mudança Cultural

Apropriação cultural

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Apropriação CulturalCultura:

Cultura (do latim cultura) é um conceito de vários significados, sendo o mais corrente, especialmente na antropologia, a definição genérica formulada por Edward B. Tylor segundo a qual cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade".

Clifford Geertz definiu cultura como sendo um "padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação a vida."

Do ponto de vista das ciências sociais (isto é, da sociologia e da antropologia), sobretudo conforme a formulação de Tylor, a cultura é um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais artificiais (isto é, não naturais ou biológicos) aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade.

Por ter sido fortemente associada ao conceito de civilização no século XVIII, a cultura, muitas vezes, se confunde com noções de: desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos de elite. Essa confusão entre cultura e civilização foi comum, sobretudo, na França e na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, onde cultura se referia a um ideal de elite. Ela possibilitou o surgimento da dicotomia (e, eventualmente, hierarquização) entre "cultura erudita" e "cultura popular".

A cultura é um dos fatores constituintes dos homens. Assim, outros dois pensadores importantes para a discussão são Norbert Elias e Vigotsky. Há uma certa “sintonia” entre a visão de Elias e a visão de Vigotski a respeito da constituição humana do homem. Tanto no caso do processo civilizador de Elias quanto no do processo de constituição cultural do homem de Vigotski, a idéia é semelhante: “o homem é obra do próprio homem”, não efeito da natureza ou de qualquer outro fator externo.

Mudança Cultural

A cultura é dinâmica. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades. Dois mecanismos básicos permitem a mudança cultural: a invenção ou introdução de novos conceitos, e a difusão de conceitos a partir de outras culturas. Há também a descoberta, que é um tipo de mudança cultural originado pela revelação de algo desconhecido pela própria sociedade e que ela decide adotar.

A mudança acarreta normalmente em resistência. Visto que os aspectos da vida cultural estão ligados entre si, a alteração mínima de somente um deles pode ocasionar efeitos em todos os outros. Modificações na maneira de produzir podem, por exemplo, interferir na escolha de membros para o governo ou na aplicação de leis. A resistência à mudança representa uma vantagem, no sentido de que somente modificações realmente proveitosas, e que sejam por isso inevitáveis, serão adotadas evitando o esforço da sociedade em adotar, e depois rejeitar um novo conceito. O ambiente exerce um papel fundamental sobre as mudanças culturais, embora não único: os homens mudam sua maneira de encarar o mundo tanto por contingências ambientais quanto por transformações da consciência social.

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Aculturação e Assimilação

O termo “aculturação” foi criado em 1880 por um antropólogo chamado J. W. Powell para designar as transformações dos modos de vida e pensamento dos imigrantes em contato com a sociedade norte-americana (CUCHE, 2002, p. 114).

A aculturação não significa “deculturação” simplesmente. Pois o “a” na frente não tem o sentido de “falta de” ou “privação”, como ocorre com outras palavras. Por exemplo: amorfo, sem forma, ou ainda amoral, como alguém que não tem moral. Não é esse o caso da palavra aculturação. O “a” no início da palavra vem etimologicamente do latim ad, que significa um movimento de aproximação.

Com o passar do tempo, a palavra se transformou em conceito para explicar o contato entre diferentes povos. E a partir de então o termo passa a significar:

“A aculturação é o conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos.” CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p. 115.

A aculturação:

· não é necessariamente sinônimo de mudança cultural;

· não é apenas difusão de traços culturais;

· não pode ser confundida com assimilação.

A aculturação não é necessariamente sinônimo de mudança cultural. Toda cultura muda. Não há cultura que permaneça estática, que não se transforme, pois a cultura é um eterno processo. A mudança cultural é parte de toda cultura. Entretanto, algumas mudam mais rápido, outras mais devagar.

Por exemplo: muitos grupos indígenas que, segundo o senso comum, dão a impressão de não mudar, porém isso ocorre, pois nós não os conhecemos direito. As culturas mudam não só devido a causas externas, isto é, elas não mudam apenas pelo contato com outras culturas, mas também devido a fatores internos à própria cultura. E se a aculturação vem do contato com outros povos, confundi-la com mudança cultural é deixar de lado toda uma parte da mudança cultural que é a transformação por fatores internos à própria cultura.

A aculturação não é somente difusão de traços culturais. Pois ela é um processo maior e mais complexo do que a difusão de traços e características que pode ocorrer sem que povos entrem em contato direto entre si. Por exemplo, por meio de livros, revistas, filmes etc. Mas a aculturação pressupõe justamente o contato direto de pessoas de diferentes grupos.

A aculturação não pode ser confundida com assimilação. Ela não é sinônimo de assimilação. Povos aculturados não são necessariamente assimilados. Pois nem todo processo de aculturação resulta necessariamente na assimilação total de um grupo por outro:

“Por outro lado, não se pode confundir aculturação e ‘assimilação’. A assimilação deve ser compreendida como a última fase da aculturação, fase aliás raramente atingida. Ela implica o desaparecimento total da cultura de origem de um grupo e na interiorização completa da cultura do grupo dominante.” CUCHE, Dennys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002. p.116.

De fato, a assimilação seria a última etapa de todo o processo de aculturação devido ao contato de dois grupos, pois implica o fim da culturade um dos grupos, uma vez que a cultura do segundo grupo é

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totalmente assimilada pelo primeiro. Ora, a assimilação total de um grupo por outro é algo muito difícil de ocorrer. E, assim, a aculturação na grande maioria das vezes não provoca o fim de uma das culturas. Na verdade, na maioria das vezes ambos os grupos se modificam. É verdade que as modificações são em geral maiores em um grupo do que no outro. Dificilmente um dos grupos acaba. Os novos costumes, ou características, são sempre internalizados por ele de acordo com a sua lógica interna. Apesar das modificações, a lógica interna permanece muitas vezes. Com isso mantém-se a forma de raciocinar do grupo.

Por exemplo: o uso de roupas ocidentais por grande parte da humanidade não faz com que os grupos deixem de pensar como sempre pensaram. A incorporação do jeans e da camiseta como quase um uniforme por todos os jovens não faz com que eles pensem da mesma forma ou que deixem de ter seus valores de acordo com a cultura na qual estão inseridos. O que não significa que não sejam influenciados pelos valores de outra cultura.

É verdade também que às vezes as mudanças são tão intensas que pode ocorrer de o grupo realmente acabar.

De qualquer forma, é sempre bom destacar que praticamente não há cultura que não se modifique pelo contato com outra. Ou seja, que o processo de aculturação quase sempre se dá dos dois lados. É por isso também que há autores que vão criticar a ideia de aculturação, pois ela muitas vezes parece não dar conta de que o processo é recíproco, mesmo que raras vezes seja simétrico. Normalmente é um processo assimétrico. Uma cultura quase sempre se transforma mais do que a outra, pois as culturas não estão em pé de igualdade.

A Era Vargas durante a segunda Guerra Mundial pode ser um exemplo. Os estrangeiros dos países do Eixo aqui residentes foram proibidos de falar suas respectivas línguas, seus jornais foram fechados, e muitos locais tiveram que mudar seus nomes. Durante esse período, os estrangeiros que aqui viviam foram forçados a passar por um processo de assimilação da cultura brasileira.

Apropriação Cultural

Apropriação cultural é a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente.Ela descreve aculturação ou assimilação, mas pode implicar uma visão negativa em relação a aculturação de uma cultura minoritária por uma cultura dominante.

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Má que diabos é apropriação cultural?E porque xingar o famosinho no Instagram não tem nada a ver com isso.

Desde que comecei a escrever por aí, sempre aparecem pessoas me perguntando qual a minha opinião sobre apropriação cultural. Normal não saberem qual é minha opinião, principalmente porque considero essa uma das questões mais banalmente discutidas nas redes sociais e dos modos mais lesados possíveis, então tenho: preguiça.

Mas uma coisa que me intriga é a pergunta feita: “qual sua opinião sobre apropriação cultural?” Ué, isso é questão de opinião? O termo “apropriação” já tem conotação negativa por si só. Dialoga com “roubo” e “invasão”.Existem diversos termos e conceitos usados para falar do assunto de um modo positivo: “empréstimo cultural”, “assimilação cultural”, “aculturação”, “sincretismo”, etc. Todos esses termos existem para falar das mudanças que acontecem em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais externos. São conceitos para se pensar esses processos de globalização, de cruzamento de culturas e até mesmo de dominação de uma cultura por outra quanto ao lugar que a cultura dominada ganha na sociedade dominadora por meio da assimilação de costumes.Essa troca é considerada uma parte integrante das dinâmicas sociais e o resultado óbvio do contato entre diferentes tradições e culturas, sendo muitas vezes benéfica e cheirosa. Se o caso é de “apropriação” não tem muito como emitir opinião do tipo NOSSA, ACHO DAORA, APROPRIA MESMO, ACHO DEZ, MELHOR QUE LASANHA.

Mas enfim APROPRIAÇÃO cultural tem a ver com hegemonia cultural, dominação, poder, etnocentrismo e capitalismo. As sociedades modernas, essas onde povos de origens diferentes convivem, são formadas por uma cultura maioritária (aquela que dita as regras gerais — a língua, o padrão socialmente aceito de vestir, de comer, de falar, de se relacionar etc) e por culturas minoritárias (aquelas que tem que se submeter às práticas da cultura maioritária pra viver na paz). (...) Não tem a ver com número de membros pertencentes, mas sim com qual dessas culturas é mais valorizada e bem vista no meio em que vivemos. Entre essas culturas que convivem em um estado não segregado, existem trocas e assimilações porque seria impossível não o ser.

O que é alvo de críticas quando falamos de apropriação cultural é justamente a ignorância e desconhecimento ao tratar uma cultura diferente e a colocação de seus ícones como elementos e produtos postos à venda de um modo que perpetue as relações desiguais de poder entre a cultura dominada e a cultura dominante.Isso basicamente acontece quando rolam esses passos aqui ó:1- a cultura maioritária desdenha de elementos de uma cultura minoritária dando a eles ares de exotismo, criminalizando-os, destratando e ligando-os ao indesejado porque só a cultura deles é pra ser daora, tesuda e civilizada;2 — aí todo mundo que está inserido nessa sociedade passa a ver esses elementos minoritários como nocivos e inferiores;3 — a cultura minoritária passa a abandonar seus elementos para se adaptar aos elementos dados pela cultura maioritária e, os que permanecem resistindo, são excluídos ou destratados por essa sociedade;*4 — aí, quando esses elementos ligados àquela cultura minoritária já estão com carga negativa suficiente e quando a sociedade toda tá curtindo a onda posta pela cultura maioritária BOOOOOOM! resolvem resignificar elementos minoritários para serem consumidos pela maioria entediada;5 — então aqueles elementos antes destratados são colocados como objetos que deveriam ser desejados pelos que vivem a cultura maioritária em sua plenitude — são capitalizados, comercializados e propagandeados para que a cultura maioritária os achem interessante, veja ali beleza pela primeira vez e os consuma.

*Por isso esse argumento de “aim, as negras alisam e pintam o cabelo de loiro mas ninguém diz que é apropriação” é um argumento burro porque, olha só: imposição estética não é apropriação, seja bem vindo ao mundo real.

Basicamente toda criação cultural é boa pro capital porque ele pode ter a chance de lucrar em cima, simples. MAS ele só vai lucrar de fato com isso de um modo pleno se convencer a parte da sociedade que consome que aquilo é dez, ao mesmo tempo que consegue manter uma outra parte na subalternidade — porque né, sem desigualdade não existe capitalismo.

Tem uma simetria que rola na internet que eu particularmente acho boa: é quando você, sendo minoria cultural, faz um trabalho, tira um F e seu professor e a banca avaliadora dizem pra você mandar currículo pro McDonalds porque tu nunca vai ter futuro na área. MAS AÍ tu empresta seu trabalho pra alguém da cultura maioritária, ele cópia teu trabalho inteiro, tira A e ainda ganha convite pra ir no Faustão falar pro Brasil inteiro sobre como ele é foda e original.

O problema é que, o professor, a banca que julga teu trabalho e os produtores do Faustão nessa simetria são o sistema, sabe? São eles que dão peso diferente pras duas produções. Não é como se o maluco que copiou teu trabalho fosse um cara malvadão que tá lá rindo dizendo que vai foder você porque sim. Então é meio babaca tu ir

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na página do Facebook desse maluco postar meme e fazer campanha pra ridicularizar o parça, sendo que é todo o sistema que tá errado em julgar os dois de modo diferente e de não ter reprovado o sujeito também — afinal, não pode copiar trabalho, né? Então…

Ok, vocês provavelmente dirão que eu tô fazendo “defesa de apropriador”, “passando pano” ou sei lá o que.Mas porra, o cara não vai sozinho “””””se apropriar e destratar toda uma cultura””””” o desgramado precisa sim de todo um aval sistêmico pra isso. Sem esse aval ele seria expulso por copiar trabalho do amiguinho, caspita!*vemos aqui eu me apropriar de um termo da cultura italiana, risos *

(...)Eu vejo gente indo perguntar em grupo se pode dar um turbante de presente pra mãe branca idosa que

entrou em depressão após perder o cabelo por causa de quimioterapia — e a galera caí em cima como se a senhorinha com câncer fosse o problema.

O problema não tá no fulano do Jardim Europa comendo acarajé, velho, segura ae(...)Recentemente alunos de um curso de extensão em publicidade — todos comunicadores e publicitários

formados — me perguntaram sobre isso durante uma aula que dei por lá. E eu respondi que a publicidade também é culpada sim. Ela tem papel nisso. Ela também é um braço do sistema e um dos maiores meios de divulgação dos ideais do capitalismo. Ela que ajuda a vender o negro de dread como drogado sujo e o branco de dread como o alternativo amigo da natureza. Ela que divulga o trabalho da pichadora de porcelana como inovador, mas continua colaborando com o discurso que criminaliza os que inspiraram a idéia. Por que ela resolve colocar uma mulher loira padrão europeu usando turbante em uma capa de revista, comercial ou propaganda, mas jamais usaria uma mulher negra ou uma mulher de origem árabe de turbante para a mesma peça? Fazendo isso, a publicidade está sim colaborando pra que certos elementos só sejam bem vistos e valorizados se antes passarem por uma “limpeza étnica” e está sim colaborando também para que os que não passaram por essa “limpeza” continuem sofrendo preconceito por aí, se mantendo a margem do sistema.

Em sociedades que passaram por segregação isso é ainda pior e mais descarado. Por isso que a Iggy sei lá o que azaléia lá causa tanto questionamento quando ganha prêmio cantando rap. Então, minha opinião é que vocês focam no inimigo errado, insistem em colocar uma questão sistêmica como problema individual e em pôr as coisas na linha do “quem pode” e do “quem não pode”. A permissão a sociedade já deu. Capitalizados e com seu significado cultural original alterado ou esquecido os elementos já estão. A gente tem é que aprender a atacar quando vemos os discursos oficiais endossando isso, a reclamar quando a banalização disso permanece sendo vendida nos bailes da Vogue.Ou continuem aí postando meme e xingando em foto de perfil de branco com trança. Ceis que sabem.Não sou mãe de vocês também — e muito menos dos brancos que querem fazer dread, então por favor, encaminhem seus formulários de permissão para mudança de penteado para outro setor.Agradecida.

Suzane Jardim

Apropriação Cultural é Um Problema do Sistema, Não de Indivíduos

Ultimamente tem se falado muito sobre apropriação cultural nas redes sociais. Textos e mais textos sobre o tema, discussões, muitas vezes infrutíferas, e esvaziamento de conceitos. (...)

Precisamos entender como o sistema funciona. Por exemplo: durante muito tempo, o samba foi criminalizado, tido como coisa de “preto favelado”, mas, a partir do momento que se percebe a possibilidade de lucro do samba, a imagem muda. E a imagem mudar significa que se embranquece seus símbolos e atores para com o objetivo de mercantilização. Para ganhar dinheiro, o capitalista coloca o branco como a nova cara do samba.

Por que isso é um problema? Porque esvazia de sentido uma cultura com o propósito de mercantilização ao mesmo tempo em que exclui e invisibiliza quem produz. Essa apropriação cultural cínica não se transforma em respeito e em direitos na prática do dia-a-dia. Mulheres negras não passaram a ser tratadas com dignidade, por exemplo, porque o samba ganhou o status de símbolo nacional. E é extremamente importante apontar isso: falar sobre apropriação cultural significa apontar uma questão que envolve um apagamento de quem sempre foi inferiorizado e vê sua cultura ganhando proporções maiores, mas com outro protagonista. Uma frase do poeta americano B. Easy, compartilhada no Twitter, e bastante compartilhadas nas redes sociais faz todo o sentido nessa discussão:

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“A cultura negra é popular, mas as pessoas negras, não”.Uma coisa é a troca, o intercâmbio de culturas, o que é muito positivo. Outra coisa é a apropriação. No nosso

país, as culturas foram hierarquizadas, sendo a negra colocada como inferior, exótica. Dentro desse contexto é possível falar em troca? A troca só é possível quando não existem hierarquias. Enquanto terreiros são invadidos, há marcas que acham cult colocar modelos brancas representando Iemanjá. Esse discurso de que a cultura é humana só é válida quando querem apropriá-la. No momento de considerar a humanidade daqueles que produzem essa cultura, a história é bem diferente. No momento de perceber a necessidade histórica de ser representado e ter posse de sua história, é ignorado. E esse é ponto nevrálgico da nossa crítica em relação à apropriação cultural.Porém, isso não significa culpabilizar os indivíduos que estão inseridos dentro dessa lógica. Não julgo certo apontar dedos para pessoas brancas que fazem uso da cultura negra por alguns motivos. Primeiro, muitas dessas pessoas desconhecem a discussão sobre apropriação cultural, segundo, não se pode responsabilizar somente os sujeitos e, por fim, estamos falando de um problema estrutural.

A crítica deve ser feitas às indústrias que lucram com isso. Achei correta a crítica feita à marca Farm quando colocou várias modelos brancas usando turbantes e nenhuma negra. A marca estava lucrando com um símbolo sem dar protagonismo aos sujeitos que os produzem. Agora, criticar uma pessoa somente por fazer o mesmo, acho energia gasta com o alvo errado.

É necessário, sim, se problematizar essas questões, mas tendo em mente que vivemos numa sociedade capitalista e nesta, tudo vira mercadoria.

Djamila Ribeiro

Resistência, política e elegância: O empoderamento através do turbante

Resistência, sabedoria, política e elegância. O turbante surge para o movimento negro como um resgate da cultura dos ancestrais e da estética. Simboliza, politicamente, a resistência cultural dos descendentes dos africanos escravizados em seus costumes originais. Como forma de valorização da história, cultura e estética africana e afro-brasileira, o uso do turbante é uma maneira de empoderar as mulheres negras e apresentar outras belezas que não as que a moda impõe como ideal e torna por vitimizar.

Para os seguidores das religiões de matriz africana, o turbante é usado para proteger o “ori”, que significa cabeça, na língua yorubá. Além do significado religioso, o ornamento ganha cada vez mais espaço nas ruas como forma de reconhecimento da cultura negra ou como um simples acessório – quando usado sem conhecimento de causa – , apresentando-se em diferentes tipos de tecidos, estampas e amarrações.

(...) “O turbante trata-se de um símbolo de resistência do povo negro [luta, empoderamento, identidade e especialmente ancestralidade], sobretudo para as mulheres negras e a medida em que esse sujeitx conhece sua história e o real significado desse símbolo, o mesmo transforma-se em algo para além de um pano florido e ou mais um item da moda, que a mídia e o sistema capitalista tentam pregar, mas não é isso. Inclusive essas concepções equivocadas, servem para demonstrar o racismo e a falta de compreensão sobre as religiões afro presente na sociedade, no qual o turbante sempre foi associado à coisas negativas e olhares atravessados, �escuramente � visível no momento em que uma mulher negra usa-o, sendo imediatamente tida como �macumbeira � e ou também �exótica �, enquanto a mulher branca ao usar essa ferramenta de empoderamento negro, é elogiada tida como �cool �, �trend �, �style �. Percebemos ai a seletividade nas percepções acerca do turbante, usá-lo nessa sociedade padrão e eurocêntrica, e logo racista, é uma forma de lutar e resistir todos os dias, para uma conscientização racial e ancestral de um povo que tanto influenciou e influencia todos os espaços da sociedade, mais é muito invisibilizada e criminalizada, sofrendo preconceitos de várias formas”.

Há séculos a cultura europeia e seu padrão estético ocidental e branco é dominante e imposto no mundo em que vivemos. Isso faz com que haja um eterno processo de embranquecimento, elitização e exclusão dos costumes originais de uma sociedade. A amarração de um pano na cabeça que sua empregada fazia não parecia interessante até sair – na cabeça de uma branca – numa revista. Essa mesma exclusão vem quando a tradição se torna uma tendência da moda, ou seja, um bem de consumo caro e de acesso restrito.

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Não é o ato de usar um turbante que ofende x negrx, mas sim usar sem ter consciência de seu valor para as comunidades tradicionais. Tente perceber a diferença entre um branco e um negro usar turbante. Os olhares são outros porque quando usado pelo protagonista daquela tradição, o símbolo ganha outro significado: se torna político, de resistência e empoderamento.

Na internet, hastags como #meuturbanteminhaacoroa vem tomando espaços importantes para o empoderamento através dessa representatividade. O objetivo é mostrar principalmente para as mulheres o poder e a política através do uso do turbante, afastando qualquer possibilidade de opressão e inviabilização.(...) “O empoderamento é um processo individual, coletivo, longo e também doloroso. Não encerra em uma �transição �, ou em usar turbante, ou ouvir rap, por exemplo. É mais profundo, vai na raiz da nossa história enquanto mulheres negras, enquanto povo preto. É um processo de re(ex)istência e resiliência e requer sim ajuda em seu processo de libertação. É a partir daí que compreendemos o nosso papel enquanto sujeitx político na história, pois �nossos passos vêm de longe”, a luta é nossa constante e o empoderamento sem conhecimento é vazio”.(...)É� assim que a apropriação acontece, tornando uma cultura combativa em algo que não incomode o status quo �. E essa apropriação tem sido feita a séculos, desde o samba até os dias de hoje com turbantes, tirando a visibilidade e protagonismo dxs pretxs e quando temos poder sobre esse protagonismo, somos chamadas de �metidas”� .

Camila Fortes

Bibliografia

http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais9/artigos/mesa_redonda/art3.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura

https://medium.com/@suzanejardim/m%C3%A1-que-diabos-%C3%A9-apropria%C3%A7%C3%A3o-cultural-b0920fda1ad0#.9o8vrm7aw

http://nabuska.blogspot.com.br/2012/12/aculturacao-e-assimilacao.html

http://colunastortas.com.br/2013/11/04/o-processo-civilizador-norbert-elias-uma-resenha/

http://entrecultura.com.br/2016/08/11/resistencia-politica-e-elegancia-o-empoderamento-atraves-do-turbante/

http://azmina.com.br/2016/04/apropriacao-cultural-e-um-problema-do-sistema-nao-de-individuos/

Video:

https://www.youtube.com/watch?v=bFwJkIO-CwU

Leituras complementares:

http://www.geledes.org.br/hoje-em-dia-tudo-e-apropriacao-cultural/#gs.jb8Wqvc

http://esquerdaonline.com.br/2017/02/13/para-alem-da-aparencia-apropriacao-cultural-no-capitalismo/

http://www.diariodaregiao.com.br/cultura/turbante-%C3%A9-s%C3%ADmbolo-de-resist%C3%AAncia-da-mulher-negra-1.359598

http://blogueirasnegras.org/2017/01/17/pessoas-brancas-nem-tudo-e-sobre-voces/

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Contraponto

https://www.youtube.com/watch?v=iRfzwpQiVRU

https://www.youtube.com/watch?v=Z6Hktho5PCI

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2631

https://www.youtube.com/watch?annotation_id=annotation_750189109&feature=iv&src_vid=iRfzwpQiVRU&v=j2coKbrjCCg

O mais novo delírio totalitário dos progressistas: a “apropriação cultural”

O episódio a seguir aconteceu no início de fevereiro e fez muito burburinho nas redes sociais.A jovem Thauane Cordeiro estava em uma estação de ônibus em Curitiba. Ela usava um turbante,

pois estava com a cabeça raspada por sofrer de leucemia mieloide aguda. Thauane é branca caucasiana. Thauane percebeu que estava sendo encarada, com ares de desaprovação, por duas jovens negras. Ambas finalmente se aproximaram de Thauane e lhe deram uma reprimenda: sendo Thauane branca, ela não tinha o direito de usar um turbante, pois tal adereço é típico da "cultura afro", podendo ser usado apenas por negros. Ao usar um turbante, Thauane, que é branca, estava praticando uma violenta "apropriação cultural". Thauane, indignada, apenas respondeu: "Tá vendo essa careca? Isso se chama câncer, então eu uso o que eu quero! Adeus." Ato contínuo, Thauane foi relatar sua experiência em sua página no Facebook. Aí todo o inferno progressista se insurgiu. Mesmo tendo usado o turbante por causa de uma doença, os "justiceiros sociais" repreenderam Thauane, dizendo que "câncer não é desculpa para se apropriar da cultura negra".

Antes de prosseguirmos, uma palavra sobre turbantes.Os turbantes foram criados muito provavelmente pelos mesopotâmicos e foram utilizados por

diversos povos diferentes pelos séculos. Persas, árabes, judeus, hindus, indianos, gregos, povos das Américas, todos usaram turbantes de várias maneiras e bem antes da era cristã. O turbante, inclusive, já foi símbolo de status social e poder econômico e político em alguns povos, inclusive africanos. Aliás, esse também é o caso das tranças e dreadlocks.

Turbantes também já foram utilizados por pintores e artistas para proteger os cabelos das tintas e pó de mármore, fizeram parte da indumentária de homens e mulheres europeus durante o período medieval, foram utilizados por Maria Antonieta como peça de moda, e, finalmente, renasceram quando Paris já era considerada a capital mundial da moda no século XX com o estilista francês Paul Poiret na década de 1920.Turbantes também foram muito utilizados pelas mulheres europeias durante a Segunda Guerra Mundial para esconder os cabelos mal cuidados devido às condições de vida precárias da época.

No Brasil, ao contrário do que se possa pensar, o turbante chegou com os primeiros europeus que vieram desbravar o território, não com os negros africanos. Há relatos de que viraram moda no país com a chegada da família real, em 1808, visto que a rainha Carlota Joaquina e outras damas da corte desembarcaram usando turbantes para disfarçar a peste de piolhos que acometeu os tripulantes durante a viagem.

Ou seja, essa postura não mascara apenas o racismo dos progressistas (quem diria?), mas também sua enorme ignorância.A definição de apropriação cultural

Segundo o politicamente correto, 'apropriação cultural' é a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente. Quando brancos utilizam adereços ou emulam comportamentos que são "típicos da cultura afro", isso representa uma intolerável forma de aculturação de "uma cultura minoritária por uma cultura dominante".

E isso é "extremamente ofensivo".

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Consequentemente, quando a cantora Anitta apareceu no programa Altas Horas utilizando um simples dreadlocks no cabelo, ela foi acusada de "apropriação cultural". Na edição de 2016 do Baile da Vogue, a África foi o tema. Sabrina Sato, Adriane Galisteu, Eliana, Mariana Weickert, Luiza Possi e outras celebridades compareceram ao evento vestidas a caráter, com trajes inspirados na cultura negra. Os justiceiros sociais prontamente as acusaram de uma insensível "apropriação cultural". O estilista Marc Jacobs colocou duas modelos brancas desfilando com dreadlocks coloridos. Foi trucidado na internet por sua "ofensa".

Os justiceiros sociais já até criaram um manual do tipo "pode e não pode", definindo ao mundo o que eles toleram e o que eles consideram ofensivo. Confira aqui.

Por último, este trecho diz tudo o que você precisa saber sobre o ideário deste movimento:O sistema global hoje só existe e se sustenta porque fazemos parte de um mundo em que exclusão,

segregação, racismo e elitismo são características mantidas e propagadas. Não se pode ver a apropriação de culturas marginalizadas com bons olhos, porque quem marginaliza é o mesmo que se apropria, é algo muito mais amplo que mera globalização, é um processo para manutenção das mazelas. Apropriação cultural é, na realidade, um elogio

O interessante é que, quando as paixões e cegueiras ideológicas são deixadas de lado e a realidade é abracada, a apropriação cultural passa a ser vista como uma forma de elogio e, por que não?, até mesmo de amor.

Quando uma bela mulher branca, de origem bávara, se veste como uma dançarina de salsa, ou quando um grupo de estudantes asiáticos se veste como os Jackson Five, há apenas coisas positivas acontecendo. A dançarina de salsa se vestiu assim porque ela vê a beleza da cultura, das vestes e das pessoas a elas associadas. Ela adora e admira essa cultura a tal ponto que ela está disposta a gastar seu próprio dinheiro para incorporá-la, nem que seja por apenas uma noite. Já os garotos asiáticos claramente não apenas conhecem o famoso grupo negro americano, como também foram impactados pelo seu talento, estilo e cultura.

Igualmente, quando mulheres brancas utilizam dreads ou turbantes, isso nada mais é que uma demonstração de admiração e respeito por estes itens. Quem iria utilizá-los caso os considerassem feios ou mesmo ridículos?

É por isso que a apropriação cultural, longe de ser uma violência, é um gesto de amor da própria humanidade. É o exato oposto da discriminação, do racismo e do isolacionismo.Só que, infelizmente, à medida que nossa cultura vai se tornando cada vez mais politicamente correta e censora de demonstrações "ofensivas" de imitações culturais, a diversidade deixou de ser vista como expressões de cooperação humanística e passou a ser visa como uma forma de opressão direta.

No linguajar do politicamente correto, aquela vestimenta da dançarina de salsa é insensível aos sofrimentos das mulheres hispânicas que tiveram de se submeter ao patriarcado. Já a imitação dos Jackson Five supostamente ignoraria a "exploração capitalista", feita pela indústria musical, dos artistas negros durante o movimento dos direitos civis dos negros na década de 1950. Essa é a narrativa mais comum que você vai ouvir dos progressistas nas universidades e nos blogs.

Muitos consideram essa censura politicamente correta apenas algo irritante, e dão de ombros. Mas não. É muito pior que irritante: é ultrajante. Afinal, quem os progressistas pensam que são para estipular quem pode e quem não pode expressar sua admiração por outra cultura? Quem eles pensam que são ao alegarem possuir um direito exclusivo sobre uma determinada cultura? Em suma, quem eles pensam que são para fazer um microgerenciamento das identidades e estipular quais tipos de comportamentos pacíficos são toleráveis e quais não são?

Não deixa de ser irônico notar que, ao agirem assim, os progressistas estão na prática defendendo o segregacionismo e a intolerância. Em sua tentativa de abolir aquilo que eles estipularam ser uma problemática apropriação cultural, o efeito prático é o de retroceder as interações humanas, fazendo com que as relações étnicas se tornem menos harmoniosas.

Os progressistas, em suma, defendem o retrocesso.Aquilo que nos separa

Houve uma época em que um homem branco vestido de sheik árabe ou um homem negro vestido de irlandês tocador de gaita era visto com entusiasmo e interesse. Ali estava um exemplo de interação étnica pacífica. Hoje, no entanto, há uma turba pronta para ameaçá-los, xingá-los de fanáticos racistas e exigir reparações. Basicamente, a turba está dizendo: "Vocês são diferentes e deveriam se manter assim. Cada um na sua tribo!"

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Quem realmente é o racista?Mais ainda: como exatamente esse comportamento ajuda no avanço das igualdades raciais e das

relações pacíficas?A verdade é que esses progressistas desprezam a hipótese de haver um mercado livre e natural de

associações e inclusões voluntárias. Eles querem ditatorialmente estar no comando das relações humanas. Já era assim na economia; agora querem interferir também nas relações humanas espontâneas e voluntárias.

ConclusãoUm mundo sem apropriação cultural é um mundo sem aprendizado, emulação, aspiração, celebração

e progresso. É um mundo congelado e sombrio, marcado pelo isolamento, pelo ressentimento e pela desconfiança. É o genuíno retrocesso.

A cultura é espontânea, e a expressão dela também deve ser. Garotas brancas que quiserem usar um "cabelo afro" devem ser livres para tal. Garotas negras que quiserem tingir os cabelos de louro não devem se sentir intimidadas e molestadas. Qual é exatamente o problema de celebridades negras se vestirem de cowboys e celebridades brancas se vestirem de índio em uma festa?

Sua vida não tem de estar nas mãos de planejadores sociais. Sua vida não tem de estar à disposição de causas políticas e politicamente corretas. Sua vida não existe para ser manipulada nem por planejadores centrais, nem por governos, nem por justiceiros sociais. Sua vida existe para que você busque seus próprios interesses, descobrindo aquilo que o faz mais feliz. Eventuais acusações de racismo ou degeneração que se danem.