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3 Figura 1. Plântula de soja. O crescimento e o desenvolvimento da soja são medidos pela quantidade de massa seca (matéria seca) acumulada na planta. Com exceção da água, a massa seca consiste em tudo que se encontra na plan- ta, incluindo carboidratos, proteínas, lipí- deos e nutrientes minerais. A planta de soja produz a maior parte da sua massa seca por meio de um processo único, denominado fotossíntese. Durante a fotossíntese, a ener- gia luminosa gerada pelo sol promove um processo no interior da planta, onde o dióxido de carbono proveniente do ar jun- to com a água proveniente do solo combi- nam-se para produzir açúcares (compostos carbonados longos). Esses açúcares produ- zidos pela fotossíntese, junto com os nu- trientes minerais obtidos do solo, são os in- gredientes básicos necessários para a ela- boração dos carboidratos, proteínas e lipí- deos da matéria seca. Na prática, o crescimento, desenvol- vimento e rendimento da soja resultam da interação entre o potencial genético de um determinado cultivar com o ambiente. Exis- te interação perfeita entre a planta de soja e o ambiente, de maneira que, quando ocor- rem mudanças no ambiente, também ocor- rem no desenvolvimento da planta. Todos os cultivares têm um poten- cial máximo de rendimento que é geneti- camente determinado. Esse potencial de rendimento genético somente é obtido quando as condições ambientais são per- feitas, sendo que estas não existem natu- ralmente. Em condições de campo, a natu- reza proporciona a maior parte das influên- cias ambientais sobre o desenvolvimento e rendimento da soja. Entretanto, os produ- tores, através de práticas de manejo já com- provadas, podem manipular o ambiente de produção. Logo, é tarefa do produtor provi- denciar o melhor ambiente possível para o crescimento da soja, usando práticas de ma- nejo tais como cultivo e adubação criteriosa do solo, seleção dos cultivares e densidade de plantas mais adequada, controle das plantas daninhas e das pragas, além de mui- tas outras. As combinações dessas práticas va- riam em diferentes situações de produção e níveis de manejo. Entretanto, independen- te de uma situação específica, o produtor precisa saber como a soja cresce e se de- senvolve. O produtor que conhece a planta de soja pode usar de maneira mais eficien- te as práticas de manejo para obter maio- res rendimentos e lucros. Como a Planta de Soja se Desenvolve

Arquivo do agrônomo como a soja desenvolve

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aparato geral da soja.

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Figura 1. Plântula de soja.

O crescimento e o desenvolvimentoda soja são medidos pela quantidade demassa seca (matéria seca) acumulada naplanta. Com exceção da água, a massa secaconsiste em tudo que se encontra na plan-ta, incluindo carboidratos, proteínas, lipí-deos e nutrientes minerais. A planta de sojaproduz a maior parte da sua massa seca pormeio de um processo único, denominadofotossíntese. Durante a fotossíntese, a ener-gia luminosa gerada pelo sol promove umprocesso no interior da planta, onde odióxido de carbono proveniente do ar jun-to com a água proveniente do solo combi-nam-se para produzir açúcares (compostoscarbonados longos). Esses açúcares produ-zidos pela fotossíntese, junto com os nu-trientes minerais obtidos do solo, são os in-gredientes básicos necessários para a ela-boração dos carboidratos, proteínas e lipí-deos da matéria seca.

Na prática, o crescimento, desenvol-vimento e rendimento da soja resultam dainteração entre o potencial genético de umdeterminado cultivar com o ambiente. Exis-te interação perfeita entre a planta de sojae o ambiente, de maneira que, quando ocor-rem mudanças no ambiente, também ocor-rem no desenvolvimento da planta.

Todos os cultivares têm um poten-cial máximo de rendimento que é geneti-camente determinado. Esse potencial derendimento genético somente é obtidoquando as condições ambientais são per-feitas, sendo que estas não existem natu-ralmente. Em condições de campo, a natu-reza proporciona a maior parte das influên-cias ambientais sobre o desenvolvimento erendimento da soja. Entretanto, os produ-tores, através de práticas de manejo já com-provadas, podem manipular o ambiente deprodução.

Logo, é tarefa do produtor provi-denciar o melhor ambiente possível para ocrescimento da soja, usando práticas de ma-nejo tais como cultivo e adubação criteriosado solo, seleção dos cultivares e densidadede plantas mais adequada, controle dasplantas daninhas e das pragas, além de mui-tas outras.

As combinações dessas práticas va-riam em diferentes situações de produção eníveis de manejo. Entretanto, independen-te de uma situação específica, o produtorprecisa saber como a soja cresce e se de-senvolve. O produtor que conhece a plantade soja pode usar de maneira mais eficien-te as práticas de manejo para obter maio-res rendimentos e lucros.

Como a Planta de Soja se Desenvolve

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1 Nota do tradutor: As principais características da planta com hábito de crescimento indeterminado são: a) não apresenta o rácemo terminal na haste principal;b) a gema terminal continua sua atividade vegetativa simultaneamente à fase reprodutiva da planta; c) o florescimento inicia-se no 4º ou 5º nó da haste principale progride para baixo e para cima; d) no início do florescimento apresenta apenas 50% a 60% da sua altura final; e) para as condições brasileiras, esse tipo é maisadaptado a solos de baixa a média fertilidade em virtude de apresentar maiores tempo de vegetação, crescimento radicular e altura da planta, não sendorecomendável o seu uso em solos de alta fertilidade devido a maior tendência ao acamamento.

2 Nota do tradutor: As principais características da planta com hábito de crescimento determinado são: a) a haste principal termina com rácemo terminal; b) agema apical termina a sua atividade vegetativa com o início do florescimento; c) o florescimento inicia-se no 4º ou 5º nó da haste principal e progride em direçãoao seu ápice; d) na floração a planta já atingiu cerca de 87% a 90% de sua altura e matéria seca finais; e) para as condições brasileiras, esse tipo é mais adaptadoa solos de melhor fertilidade.

3 Nota do tradutor: No Brasil, ainda não existe uma classificação quanto à duração do ciclo de maturação fundamentada na adaptabilidade dos cultivares àsdiferentes latitudes das regiões produtoras de soja, como a existente nos EUA.

Os cultivares de soja são classifica-dos quanto ao seu hábito de crescimento(forma e estrutura morfológica) e pelos seusrequerimentos em comprimento de dia etemperatura, necessários para iniciar o de-senvolvimento floral ou reprodutivo. Ohábito de crescimento indeterminado1 é tí-pico na maioria dos cultivares de soja uti-lizados no Cinturão do Milho nos EUA,sendo caracterizado pela continuação docrescimento vegetativo após o início doflorescimento. O hábito de crescimentodeterminado2 caracteriza-se pela finaliza-ção do crescimento vegetativo a partir doinício do florescimento, sendo típico dasvariedades cultivadas no Sul dos EUA.

A classificação quanto à maturida-de ou ciclo de maturação é baseada na adap-tabilidade de um cultivar de soja em utili-zar efetivamente a estação de crescimentode uma determinada região. Nos EUA, asregiões de adaptação dos diferentes culti-vares são delimitadas por longos cinturões(faixas) no sentido Leste-Oeste, porém, re-lativamente curtos no sentido Norte-Sul(160 a 240 quilômetros de distância). Oscultivares de soja norte-americanos sãoclassificados em diferentes grupos dematuração, os quais recebem como identi-ficação a numeração de 00 a VIII, confor-me a sua região de adaptação. Assim, oscultivares de soja mais adaptados às re-giões mais ao Norte dos EUA (Norte dosEstados de Minnesota e Dakota do Norte)pertencem ao grupo de maturação 00, en-quanto os cultivares mais adaptados às re-giões mais ao Sul (incluindo a Flórida e osEstados da Costa do Golfo) pertencem aogrupo de maturação VIII. A maioria doscultivares pertencentes aos grupos de ma-turação 00 a IV possui hábito de crescimen-to indeterminado, enquanto a maioria per-tencente aos grupos de maturação V a VIIIapresenta, principalmente, hábito de cres-cimento determinado3.

As figuras, tabelas, gráficos e dis-cussões apresentados neste artigo represen-

tam um cultivar de soja com hábito de cres-cimento indeterminado pertencente ao gru-po II de adaptação, cultivado na região cen-tral do Estado de Iowa. Plantas típicas desoja cultivadas no Cinturão do Milho se-guiram o mesmo padrão geral de desen-volvimento mostrado e descrito nesta pu-blicação. Porém, o tempo específico de du-ração entre os estádios de desenvolvimen-to, o número de folhas formadas e a alturada planta podem variar de acordo com osdiferentes cultivares, estações de crescimen-to (clima), regiões de cultivo, datas (épo-cas) e padrões de semeadura. Por exemplo:

1. Um cultivar de maturação precoce podeformar menos folhas ou evoluir atravésdas diferentes fases de desenvolvimentoa uma taxa mais rápida que a indicadaaqui, principalmente quando semeadoem época tardia. Um cultivar de matura-ção tardia pode formar mais folhas oudesenvolver-se mais lentamente que o in-dicado aqui.

2. Para qualquer cultivar, a taxa de desen-volvimento da planta está diretamente re-lacionada à temperatura. Assim, a dura-ção de tempo entre os diferentes está-dios será variável conforme as variaçõesde temperatura entre e dentro da estaçãode crescimento.

3. Deficiências de nutrientes, de umidadee outras condições estressantes à plantapodem prolongar o tempo de duração en-tre os estádios vegetativos, porém, encur-tam o tempo entre as fases reprodutivas.

4. A soja cultivada em altas densidades ten-de a crescer mais em altura, ramificarmenos e produzir menores quantidadesde vagens e sementes por planta queaquela cultivada em baixas densidades.Em altas densidades a soja também terámaior altura de inserção das primeirasvagens e maior tendência a acamar.

As figuras a seguir mostram plan-tas e partes da planta em diferentes está-dios de desenvolvimento morfológico. To-

das as plantas cresceram no campo, comexceção dos estádios relativos à germina-ção e emergência das plântulas, que ocor-reram em condições de casa de vegetação,porém, foram fotografadas em laboratório.As partes de uma planta jovem de soja erespectivos nomes científicos são apresen-tados na Figura 1.

Ilustrando o Desenvolvimento de uma Planta de Soja

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O sistema de representação empre-gado aqui divide o desenvolvimento daplanta em duas fases4: vegetativa (V) ereprodutiva (R) (Tabela 1). Subdivisões dafase vegetativa são designadas numerica-mente como V1, V2, V3, até Vn, menos osdois primeiros estádios que são designadoscomo VE (emergência) e VC (estádio decotilédone). O último estádio vegetativo édesignado como Vn, onde “n” representa onúmero do último nó vegetativo formadopor um cultivar específico. O valor de “n”varia em função das diferenças varietais eambientais. A fase reprodutiva apresentaoito subdivisões ou estádios, cujas repre-sentações numéricas e respectivos nomessão apresentados na Tabela 1.

A partir do estádio VC, os estádiosvegetativos (V) são definidos e numeradosà medida que as folhas dos nós superioresse apresentam completamente desenvolvi-das. Um nó vegetativo com folha comple-tamente desenvolvida é identificado quan-

Identificando os Estádios de Desenvolvimento

4 Nota do tradutor: A descrição apresentada neste artigo fundamenta-se na Escala Fenológica de Fehr & Caviness (1977), elaborada para a identificação dossucessivos estádios de desenvolvimento da planta de soja.

Figura 2. Folha do topo da haste com margensdos folíolos se tocando.

do no nó vegetativo acima os folíolos nãoestão enrolados e nem dobrados. Em ou-tras palavras, quando as extremidades dosfolíolos não mais se tocam, em oposição aoilustrado na Figura 2. O estádio V3, porexemplo, é definido quando os folíolos do1º nó vegetativo (unifoliolado) ao 4º nófoliar estão desenrolados. Semelhantemen-te, o estádio VC ocorre quando as folhasunifolioladas desenrolaram-se.

O nó da folha unifoliolada é o pri-meiro nó ou ponto de referência a partir doqual começa-se a contagem para identifi-car o número de nós foliares superiores.Nesse único nó, as folhas unifolioladas(simples) são produzidas em lados opostosda haste e com pecíolos pequenos. Todasas outras folhas verdadeiras formadas pelaplanta são trifolioladas (compostas), compecíolos longos, e são produzidas unica-mente (em nós diferentes) e alternadamente(de lado a lado) no caule.

Tabela 1. Estádios vegetativos e reprodutivos da soja1.

Estádios vegetativos Estádios reprodutivos

VE - Emergência R1 - Início do florescimento

VC - Cotilédone R2 - Pleno florescimento

V1 - Primeiro nó R

3 - Início da formação das vagens

V2 - Segundo nó R

4 - Plena formação das vagens

V3 - Terceiro nó R

5 - Início do enchimento das sementes

* R6 - Pleno enchimento das vagens

* R7 - Início da maturação

V(n) - enésimo nó R8 - Maturação plena

1 Este sistema identifica exatamente os estádios da planta de soja. Porém, nemtodas as plantas em um dado campo estarão no mesmo estádio ao mesmo tempo.Quando se divide em estádios um campo de soja, cada estádio específico V ou Ré definido somente quando 50% ou mais das plantas no campo estão nele ouentre aquele estádio.

Os cotilédones, que são considera-dos como órgãos de armazenamento na for-ma de folhas modificadas, também surgemde maneira oposta na haste, abaixo do nóunifoliolado. Quando as folhas unifolio-ladas são perdidas por dano ou envelheci-mento natural, a posição do nó unifolioladoainda pode ser determinada, localizando-se as duas cicatrizes dessas folhas na re-gião mais baixa do caule, que permanente-mente marcam o local onde as folhas unifo-lioladas cresceram. Essas cicatrizes das fo-lhas unifolioladas estão localizadas exata-mente sobre as duas cicatrizes opostas quemarcam a posição do nó cotiledonar. Qual-quer cicatriz de folha acima das cicatrizesdas folhas unifolioladas opostas aparece demaneira única e alternada na haste princi-pal, e marca as posições dos nós onde asfolhas trifolioladas cresceram.

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Germinação e Emergência

A semente de soja inicia a germi-nação por meio da absorção de água emquantidades equivalentes a 50% de seu pe-so. Uma vez embebida a semente, eviden-cia-se a sua germinação com o crescimen-to da radícula, ou raiz primária, que se pro-longa para baixo, fixando-se sozinha nosolo (Figura 3)5. Logo após o crescimentoinicial da raiz primária, o hipocótilo, istoé, a pequena seção do caule situada entre onó cotiledonar e a raiz primária (Figura 1),inicia a elongação para a superfície do solo,levando consigo os cotilédones6. A fixaçãoda raiz primária no solo junto com a elon-gação do hipocótilo estabelecem uma ala-vanca que ergue os cotilédones à superfí-cie do solo, caracterizando-se o estádio deemergência, ou VE (Figura 3). O estádioVE ocorre uma a duas semanas após a se-meadura, dependendo das condições deumidade e temperatura do solo e da pro-fundidade de semeadura7. As raízes late-rais iniciam o seu crescimento a partir daraiz primária antes da emergência.

Logo após a emergência (VE), o hi-pocótilo em forma de gancho endireita-see cessa seu crescimento, enquanto os coti-lédones dobram-se para baixo. O desdobra-mento dos cotilédones expõe o epicótilo emcrescimento (folhas jovens, haste e gemaapical de crescimento localizada acima donó cotiledonar). A posterior expansão edesdobramento das folhas unifolioladasmarcam o início do estádio de abertura doscotilédones (VC), que é seguido pelos de-mais estádios vegetativos numerados (V).

As reservas nutritivas armazenadasnos cotilédones suprem as necessidades daplanta jovem durante os primeiros 7 a 10dias depois de VE, ou até próximo ao está-dio V1. Durante esse período, os cotilédones

perdem 70% do seu peso seco. A perda deum cotilédone tem pequeno efeito na taxade crescimento da planta jovem, mas a per-da de ambos os cotilédones no estádio VE,ou próximo dele, reduzirá os rendimentosem 8% a 9%. A partir de V1, a fotossíntesedas folhas em desenvolvimento é suficien-te para a planta se sustentar. Entre a aber-tura dos cotilédones (VC) e o quinto nóvegetativo formado (V5) uma nova folhase forma a cada 5 dias, e a partir do estádioV5, a cada 3 dias até logo após o início dagranação das vagens (R5), quando o núme-ro máximo de nós vegetativos é atingido.

Guias de Manejo parGuias de Manejo parGuias de Manejo parGuias de Manejo parGuias de Manejo par a a a a a V EV EV EV EV E

Na maioria dos casos, a soja deve-ria ser semeada a uma profundidade de 2,5a 4,0 cm e nunca em profundidade acimade 5,0 cm8. A habilidade da plântula de sojaem romper a crosta do solo durante a emer-gência diminui com semeaduras mais pro-fundas9. Alguns cultivares são especial-mente sensíveis a semeaduras profundas.Além disso, as temperaturas mais amenasdo solo, em maiores profundidades, cau-sam crescimento mais lento e diminuiçãona disponibilidade de nutrientes.

Estádios Vegetativos e Desenvolvimento

5 Nota do tradutor: O processo de germinação da semente de soja sob o solo inicia-se pela saída da radícula através da micrópila da semente e constitui-se emfenômeno irreversível, isto é, uma vez disparado não é possível revertê-lo. Nos dois a três primeiros dias após a semeadura é esperado o crescimento da radícula.Caso o solo não apresente umidade suficiente para garantir a elongação do hipocótilo, haverá falhas de emergência, comprometendo o estande inicial e orendimento da cultura.

6 Nota do tradutor: Isto caracteriza a emergência do tipo epígea.7 Nota do tradutor: Para as condições brasileiras de clima, solo e manejo espera-se a emergência da cultura de soja entre 5 a 8 dias após a semeadura.8 Nota do tradutor: Nas condições brasileiras, a soja é semeada desde 3 cm de profundidade (solos mais argilosos) a até 7 cm (solos mais arenosos).9 Nota do tradutor: O problema de formação de crosta superficial nos solos brasileiros é comum nas áreas preparadas convencionalmente (uso abusivo de

grades), levando o produtor a gastar mais sementes para tentar contornar as falhas de estande que ocorrerão e resultarão em perdas de rendimento. Neste caso,a semeadura mais superficial (apenas a 2 cm) não resolve, pois as temperaturas mais elevadas na superfície do solo podem deteriorar as sementes, além de mataras bactérias fixadoras de N

2. Já em áreas de soja cultivada no sistema de plantio direto, não é comum a ocorrência de formação de crosta superficial, com

deterioração das sementes e morte das bactérias, devido às altas temperaturas. Porém, falhas de estande podem ocorrer, se a semeadura for profunda.10 Nota do tradutor: Mesmo em solos com histórico de cultivo de soja é recomendável a inoculação anual das sementes pelos seguintes motivos: a) ocorre

competição entre as espécies de bactérias fixadoras de N2 com outros microrganismos (bactérias e fungos) pelos fatores de crescimento (energia + nutrientes)

presentes no solo da área de produção, entre safras sucessivas de soja; b) entre os períodos de cultivo da soja (maio a outubro de cada ano) o solo agrícola passapor diferentes regimes térmicos e hídricos, aos quais os microrganismos nativos estão muito mais adaptados que as bactérias fixadoras de N

2, fazendo com que

a população destas diminua face à competição descrita no item anterior; c) o custo de inoculação perante os benefícios da mesma é insignificante, correspondendoa menos de 0,5% do custo de produção da cultura, que é totalmente compensado por acréscimos no rendimento advindos dessa prática.

Doses pequenas de fertilizantes, co-locadas em uma faixa de 2,5 a 5,0 cm deprofundidade ao lado e ligeiramente abai-xo da semente, podem estimular o cresci-mento inicial da planta, caso as tempera-turas do solo ainda estejam baixas. Asraízes não são atraídas para essa faixa decolocação dos fertilizantes. Assim, o adu-bo de semeadura deve ser colocado onde asraízes estarão. A colocação do fertilizantemuito próximo ou junto à semente podecausar injúrias na planta jovem.

As plantas daninhas competem coma soja por luz, água e nutrientes. Opera-ções de cultivo, uso de herbicidas, obten-ção de estandes uniformes e rotação de cul-turas são métodos úteis para controlar asplantas daninhas. O cultivador rotativo éuma ferramenta excelente para o controleinicial da planta daninha antes e logo apósa emergência da soja.

A inoculação das sementes com abactéria Bradyrhizobium japonicum geral-mente não é recomendada nos EUA, a me-nos que o solo nunca tenha sido cultivadocom soja ou quando o último cultivo de sojatenha ocorrido há 5 anos ou mais10.

Figura 3. Germinação e emergência.

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ESTÁDIO V2 (segundo nó)

No estádio V2 as plantas estão com15 a 20 cm de altura e três nós apresentan-do folhas com folíolos desdobrados, isto é,o nó unifoliolado e os dois primeiros nóstrifoliolados (Figura 4).

As raízes de soja são naturalmenteinfectadas com bactérias de Bradyrhizo-bium japonicum que desenvolvem estrutu-ras nas raízes com formas circulares ouovais, chamadas nódulos (Figuras 1 e 5).Milhões dessas bactérias localizam-se den-tro de cada nódulo e fornecem boa parte donitrogênio requerido pela planta de soja,por meio de um processo natural conheci-do como fixação de nitrogênio. Através dafixação do nitrogênio as bactérias transfor-mam o N

2 gasoso presente na atmosfera do

solo e indisponível à planta em produtosnitrogenados que a planta de soja pode usar.Em troca, a planta fornece o suprimentode carboidratos para as bactérias. Uma re-lação como essa, onde as bactérias e a plantalucram uma com a outra, é denominadarelação simbiótica. Os nódulos que fixamnitrogênio ativamente para a planta mos-tram-se internamente com coloração rosaou vermelha, porém, são brancos, marronsou verdes se a fixação de N

2 não estiver

ocorrendo (Figura 6).

Em condições de campo, a forma-ção de nódulos pode ser vista logo após aemergência (VE), porém, a fixação de ni-trogênio de maneira mais ativa começa pró-ximo aos estádios V2 a V3. Depois disso, onúmero de nódulos formados e a quantida-de de nitrogênio fixada aumenta até apro-ximadamente R5.5 (no meio de R5 e R6),quando diminui bruscamente.

Guias de Manejo para V2

A adubação nitrogenada da soja nãoé recomendada porque geralmente não au-menta o rendimento de grãos. O númerototal de nódulos radiculares que se formadiminui proporcionalmente com as quan-tidades crescentes de N aplicado. Além dis-so, o adubo nitrogenado aplicado a umaplanta de soja com nódulos ativos os tor-

nará inativos ou ineficientes, proporcional-mente à quantidade de N aplicada. Assim,a planta de soja pode utilizar tanto o N fi-xado pelas bactérias quanto o N existenteno solo (mineralizado e N do fertilizante),porém, o N do solo é mais utilizado que oN fixado, se disponível em grandes quan-tidades.

Figura 4. Planta de soja no estádio V2.

Figura 6. Nódulos radiculares em uma plantade soja no estádio V2; no detalhe,um nódulo ativo fatiado, com colo-ração vermelha típica.

Figura 5. Raízes com nódulos de uma planta de soja no estádio V2.

No estádio V2 as raízes lateraisproliferam-se rapidamente nos primeiros15 cm de solo entre as linhas de plantas.No estádio V5 já ocupam completamente osolo situado entre as linhas. Em razão des-sas raízes estarem crescendo perto da su-perfície do solo, o cultivo para controlarplantas daninhas deve ser raso.

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ESTÁDIOS V3 E V5 (terceiro equinto nós)

As plantas em V3 possuem 18 a23 cm de altura e quatro nós, cujas folhasapresentam folíolos desdobrados (Figura 7).

As plantas em V5 apresentam-secom aproximadamente 25 a 30 cm de altu-ra e possuem seis nós, nos quais as folhasestão com folíolos desdobrados (Figura 8).

O ângulo de inserção formado en-tre a haste principal e um pecíolo foliar échamado axila. Em cada axila foliar existeuma gema axilar (Figura 1) que é seme-lhante ao ponto de crescimento (gema api-cal) da haste principal. Porém, essa gemapode se transformar em um ramo vegeta-tivo, permanecer dormente (inativa) ou de-senvolver um agrupamento de flores e, pos-teriormente, vagens.

O número de ramos que se desen-volve a partir da haste principal aumentacom os espaçamentos mais largos entre aslinhas da cultura e com densidades maisbaixas de plantas na linha, dependendotambém do cultivar em crescimento. Emcondições de campo, a planta de soja podedesenvolver nenhum ou até seis ramos.Geralmente, o ramo maior é o de inserçãomais baixa na haste principal e, progressi-

vamente, os ramos menores se desenvol-vem mais acima. Cada ramo desenvolvefolhas trifolioladas, nós, axilas, gemas axi-lares, flores e vagens, da mesma forma quea haste principal. A Figura 7 mostra o pri-meiro ramo começando a se desenvolverna axila do primeiro nó da folha trifolio-lada.

Cerca de uma semana antes do iní-cio do florescimento (estádio V5 no pre-sente artigo), as gemas axilares na partesuperior da haste aparecem fechadas e co-meçam a desenvolver agrupamentos de flo-res chamados rácemos. Um rácemo é umaestrutura pequena semelhante à haste, queproduz flores e finalmente vagens ao lon-go de sua extensão (Figura 21).

O número total de nós que a plantapode produzir é definido em V5. Em umaplanta de soja com hábito de crescimentoindeterminado, o potencial de formação denós sobre a haste principal é sempre maiorque o número total de nós observado nofim do seu ciclo.

Guias de Manejo para V3-V5

As gemas axilares das folhas unifo-lioladas e trifolioladas e dos cotilédonespermite à planta de soja uma grande capa-cidade para se recuperar de danos, tais como

Figura 7. Planta de soja no estádio V3.

11 Nota do tradutor: Nas últimas safras brasileiras de soja, esse tipo de problema tem ocorrido em estádios vegetativos mais precoces. Os produtores têm sedeparado com o problema do ataque de pombas durante ou logo após a emergência das plântulas. Ao se alimentar, essa ave corta a haste abaixo do ponto deinserção dos cotilédones, causando a morte das plântulas e resultando em significativas falhas de estande.

12 Nota do tradutor: Devido às caraterísticas da planta com hábito de crescimento indeterminado, e por tradição trazida pela cultura do milho, nos EUA osprodutores trabalham com maiores espaçamentos. No Brasil, os espaçamentos entre linhas variam de 40 a 60 cm.

os causados pelo granizo. O ápice da hasteprincipal, ou gema apical de crescimento,normalmente exibe dominância sobre as ge-mas axilares laterais durante o crescimen-to vegetativo da planta. Se o ápice da hasteé cortado ou quebrado, as gemas axilaresrestantes ficam livres dessa dominânciaapical e os ramos crescem profusamente.Portanto, a planta possui a habilidade deproduzir novos ramos e folhas após a des-truição pelo granizo, recuperando pratica-mente toda folhagem. Cortando-se a plan-ta abaixo do nó cotiledonar ela morrerá,isto porque não há nenhum broto axilarabaixo desse nó11.

ESTÁDIO V6 (sexto nó)

Plantas no estádio V6 têm 30 a35 cm de altura (Figura 9). Nesse estádio,sete nós têm folhas com folíolos desdobra-dos e as folhas unifolioladas e os cotilédonesjá podem ter senescido e caído. Novos es-tádios de V aparecem agora a cada 3 dias.

As raízes laterais estão completa-mente presentes no solo entre as linhas deplantas espaçadas a 75 cm12.

Se 50% de folhas forem perdidas noestádio V6, o rendimento será reduzido emaproximadamente 3%.

Figura 9. Planta de soja no estádio V6 apre-sentando ramificação.

Figura 8. Planta de soja no estádio V5.

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Os oito estádios R (reprodutivos) sãodivididos em quatro partes: R1 e R2 des-crevem o florescimento; R3 e R4 o desen-volvimento da vagem; R5 e R6 o desenvol-vimento da semente e R7 e R8 a maturaçãoda planta. O crescimento vegetativo e aprodução de novos nós continuam durantealguns estádios reprodutivos, de modo que,nestes, os estádios de R1 a R6 descrevemmelhor o desenvolvimento da planta. Nes-te artigo, a descrição para cada estádio Rrefere-se apenas ao início do respectivo es-tádio.

O desenvolvimento geral e a dura-ção dos períodos de crescimento vegetativo,florescimento, desenvolvimento da vageme enchimento da semente, durante os está-dios reprodutivos, estão esquematizados naFigura 10.

ESTÁDIO R1 (início do floresci-mento)R1 - uma flor aberta em qualquer nó so-bre a haste principal (Figura 11)

As plantas em R1 estão com 38 a46 cm de altura e apresentam-se nos está-dios vegetativo V7 a V10 (7 a 10 nós com-pletamente desenvolvidos)13. O floresci-mento começa entre o terceiro e o sexto nóda haste principal, dependendo do estádioV no momento do florescimento, progre-dindo para cima e para baixo. Os ramoscomeçam a florescer alguns dias depois dahaste principal. O florescimento em umrácemo ocorre da base para o topo (Figura12). Dessa forma, as vagens da base dorácemo são sempre mais maduras que asvagens do ápice (Figura 21). O floresci-mento e a frutificação ocorrem principal-mente em rácemos primários, mas os ráce-mos secundários podem se desenvolver aolado do rácemo primário na mesma axila.O florescimento atinge o auge entre os es-tádios R2.5 e R3, completando-se ao redordo estádio R5.

Em R1, as taxas de crescimento ver-tical da raiz aumentam incisivamente epermanecem relativamente altas nos está-dios R4 a R5. A proliferação de raízes se-

cundárias e pêlos radiculares até a profun-didade de 23 cm no solo também é grandedurante esse período, porém, as raízes nes-sa zona geralmente começam a se degene-rar depois disso.

Estádios Reprodutivos e Desenvolvimento

Figura 10. Desenvolvimento e duração dos períodos de crescimento vegetativo, florescimento,desenvolvimento da vagem e enchimento da semente.

* Desenvolvimento da altura da planta e dos nós.

Figura 12. Início do florescimento nos rácemos.Figura 11. Planta de soja no estádio R1.

13 Nota do tradutor: Nas condições brasileiras, a cultura da soja é manejada para que no início do florescimento as plantas apresentem, pelo menos, 60 cm dealtura, considerada como mínima para viabilizar a colheita mecânica com o mínimo possível de perdas. O número de nós vegetativos formados até esse estádioé variável em função do cultivar, do ambiente e das práticas culturais adotadas.

Est. R R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 R8

Dias 0 10 20 30 40 50 60 70

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ESTÁDIO R2 (pleno florescimen-to)R2 - flores abertas em um dos dois nóssuperiores da haste principal com folhacompletamente desenvolvida (Figura 13)

As plantas em R2 têm 43 a 56 cmde altura e estão nos estádios V8 a V12.Nessa fase, a planta acumulou somente cer-ca de 25% de sua matéria seca final e nu-trientes, atingiu aproximadamente 50% desua altura final e desenvolveu cerca de me-tade do número total de nós14. Esse estádiomarca o início de um período de rápido econstante acúmulo diário das taxas de ma-téria seca e de nutrientes pela planta, quecontinuará até logo após o estádio R6 (Fi-guras 38 a 41). Essa rápida acumulação dematéria seca e nutrientes pela planta intei-ra inicia-se nas partes vegetativas (folhas,hastes, pecíolos e raízes), deslocando-segradualmente para as vagens e sementesem formação, enquanto as partes vege-tativas finalizam o seu desenvolvimento.Além disso, a taxa de fixação de nitrogê-nio pelos nódulos radiculares também au-menta rapidamente no estádio R2. A Figu-ra 14 mostra que um grande número denódulos radiculares pode se desenvolver emuma única planta.

Nesse estádio, o sistema radicularapresenta-se completamente desenvolvidono espaço entre linhas de 102 cm (40 pole-gadas), com várias raízes laterais direcio-nando o seu crescimento para baixo. Essasraízes, junto com a principal, continuamse aprofundando no perfil do solo até logoapós o estádio R6.5.

Se 50% de folhas forem perdidas noestádio R2, o rendimento será reduzido emaproximadamente 6%.

Figura 13. Planta de soja no estádio R2.

Figura 14. Elevado número de nódulos radi-culares formados numa única plan-ta de soja .

14 Nota do tradutor: O comportamento descrito pelos autores é válido somente para os cultivares com hábito de crescimento indeterminado, tais como IACFoscarim 31, IAC-16 e Ocepar 3, cuja altura de planta e número de nós vegetativos no estádio R2 podem ser maiores que os apresentados neste artigo. No Brasil,predominam os cultivares com hábito de crescimento determinado, que no estádio R2 acumulam cerca de 87% a 90% de sua altura e matéria seca finais.

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ESTÁDIO R3 (início da formaçãoda vagem)R3 – vagem com 5 mm de tamanho emum dos quatro nós superiores da hasteprincipal com folha completamente de-senvolvida (Figuras 15 e 16)15

As plantas em R3 apresentam-secom 58 a 81 cm de altura e estão no estádioV11 a V17. Nesse período é comum en-contrar vagens em desenvolvimento, flo-res murchas, flores abertas e botões floraisna mesma planta16. As vagens em desen-volvimento localizam-se nos nós mais bai-xos da haste principal, onde o florescimentose iniciou primeiro.

Se as densidades de plantas foremadequadas, o rendimento (peso total de se-mentes) pode ser dividido em três compo-nentes: o número total de vagens produzi-das por planta, o número de sementes pro-duzidas por vagem e o peso por semente(tamanho da semente). Aumentos ou de-créscimos de rendimento podem ser justi-ficados pelo aumento ou diminuição de umou mais desses três componentes.

Geralmente, a maioria dos ganhosna produção resulta de aumentos no númerototal de vagens por planta, principalmentequando se obtêm maiores rendimentos. Oslimites superiores para o número de semen-tes por vagem e tamanho da semente sãodefinidos geneticamente, porém, esses doiscomponentes ainda podem variar o sufi-ciente para produzir aumentos considerá-veis de rendimento.

Condições estressantes, como tem-peratura alta ou deficiência de umidade,reduzem o rendimento devido à redução emum ou mais dos componentes. As reduçõesem um dos componentes de produção daplanta, porém, podem ser compensadas poroutro componente. Assim, as produções nãosão alteradas significativamente. O com-ponente do rendimento da planta que seráreduzido ou aumentado depende do está-dio reprodutivo em que a soja se encontraquando ocorre o estresse. Conforme a plan-ta de soja se desenvolve do estádio R1 aoR5.5 diminui a sua habilidade para com-pensar as perdas decorrentes de uma con-dição de estresse, aumentando assim o po-tencial de redução da produção causada peloestresse.

Guias de Manejo para R1-R3

Nas condições do Cinturão do Mi-lho, nos EUA, aproximadamente 60% a75% de todas as flores de soja produzidasabortam e, portanto, não contribuem paraa produção. Cerca de metade desse abortoocorre antes das flores se desenvolveremem vagens jovens e a outra metade é devi-do ao aborto da vagem. A produção exce-dente de flores e vagens e o longo períodode florescimento (de R1 a R5) é desejável,pois permite um certo grau de escape a pe-quenos períodos de estresse. As condiçõesde estresse (que causam altas taxas de abor-to) de R1 a R3 geralmente não reduzemmuito o rendimento porque, para compen-

Figura 15. Planta de soja no estádio R3 (deta-lhe do 4º nó superior da haste prin-cipal com três vagens jovens).

Figura 16. Planta de soja no estádio R3.

15 Nota do tradutor: No Brasil, os produtores de soja identificam esse estádio como a fase de formação de “canivetes” ou “canivetinhos”.16 Nota do tradutor: Comportamento típico de plantas de soja com hábito de crescimento indeterminado.

sar, algumas flores (e suas respectivas va-gens) ainda podem ser produzidas até o es-tádio R5. Além disso, o estresse nesses es-tádios pode resultar em um aumento nonúmero de sementes por vagem e no pesopor semente, que também ajuda a compen-sar o abortamento das flores e das vagensjovens.

Os pesquisadores e os agricultoresainda não conseguiram aproveitar todo opotencial da planta de soja. Práticas comoadubação, espaçamento reduzido, estandeadequado, irrigação e controle das plantasdaninhas são tentativas para reduzir a taxade abortamento de flores e de vagens e au-mentar, assim, a produtividade.

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ESTÁDIO R4 (vagem formada)R4 – vagem com 2 cm de comprimentoem um dos quatro nós superiores da has-te principal com folha completamente de-senvolvida (Figuras 17 e 18)

As plantas em R4 apresentam-secom 70 a 100 cm de altura e estão nos está-dios V13 a V20. Este período é caracteri-zado pelo rápido crescimento da vagem epelo início do desenvolvimento da semen-te.

O período compreendido entre R4 elogo após R5.5 é um período de rápida econstante acumulação de matéria seca pe-las vagens. Algumas vagens localizadas nosnós mais inferiores da haste principal já seencontram com o seu tamanho final ou pró-ximo dele, porém, a maioria atingirá essetamanho no estádio R5 (Figuras 18 e 25)17.Normalmente, as vagens atingem o maiorcomprimento e largura antes das sementescomeçarem a fase de rápido desenvolvi-mento (Figura 27). Assim, próximo ao fi-nal desse período, algumas sementes den-tro das vagens localizadas nos nós inferio-res iniciam rápido crescimento.

As últimas flores que ocorrem naplanta localizam-se na extremidade da has-te principal, onde surge um rácemo floral(Figura 20)18. Esse rácemo consiste de flo-res axilares agrupadas na extremidade dahaste. O florescimento nos nós superioresdos ramos também ocorre por último naplanta.

Guias de Manejo para R4

O estádio R4 marca o início do pe-ríodo mais crítico de desenvolvimento daplanta quanto à determinação do rendimen-to em sementes. Estresse (umidade, luz, de-ficiências nutricionais, geada, acamamen-to ou desfolha), ocorrendo a qualquer mo-mento entre os períodos de R4 a logo apósR6 reduzirá mais a produção do que a ocor-rência do mesmo estresse em qualquer ou-tro período de desenvolvimento. O períodode R4.5 (formação das últimas vagens) aaproximadamente R5.5 é muito crítico por-que o florescimento completa-se e não podeser compensado, uma vez que as vagens e

17 Nota do tradutor: Pelo fato de ser uma planta com hábito de crescimento indeterminado, é evidente o desenvolvimento total das primeiras vagens localizadasno terço inferior da haste principal, onde iniciou-se o florescimento.

18 Nota do tradutor: Provavelmente, o cultivar de soja utilizado pelos autores deste artigo apresenta hábito de crescimento semi-determinado, isto é, característicade planta intermediária entre os hábitos de crescimento determinado e indeterminado.

Figura 19. Corte longitudinal de uma vagem jovem de soja.

Figura 17. Planta de soja no estádio R4. Figura 18. Haste principal da soja com vagensno estádio R4.

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sementes novas são mais propensas a abor-tar sob estresse que as vagens e sementesmais velhas19. As perdas de produção ocor-ridas nesse período devem-se principalmen-te à redução no número total de vagens porplanta do que à redução no número de se-mentes por vagem ou no tamanho da se-mente. De fato, o tamanho da semente podecompensar um pouco se as condições decrescimento forem favoráveis após R5.5.Porém, a compensação através do tamanhoda semente é limitada geneticamente. As-sim, a planta possui limitadas habilidadesem compensar o aborto de flores e vagenscausado por estresses ocorridos nos está-dios de R4.5 a R5.5.

Quando possível, deve-se irrigar alavoura nesses períodos cruciais para ga-rantir umidade adequada.

Figura 20. Rácemo floral de soja na extremidade apical da haste principal.

Figura 21. Rácemo floral com vagens em for-mação.

Figura 22. Seqüência do desenvolvimento das vagens de soja.

19 Nota do tradutor: A ocorrência de veranicos nessa fase reprodutiva é que tem causado as maiores quebras de safra de soja em muitas regiões brasileiras.

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ESTÁDIO R5 (início da formaçãoda semente)R5 – semente com 3 mm de tamanho emum dos quatro nós superiores da hasteprincipal com folha completamente de-senvolvida (Figuras 23, 24, 25 e 26)

Plantas em R5 têm 75 a 110 cm dealtura e encontram-se nos estádios V15 aV23. Esse período é caracterizado pelo rá-pido crescimento ou início do enchimentodas sementes (Figuras 27 e 28) e redistri-buição da matéria seca e nutrientes das par-tes vegetativas para as sementes em forma-ção (Figuras 38, 39 e 40).

No início de R5, o desenvolvimentoreprodutivo apresenta desde flores quaseabertas até vagens contendo sementes com11 mm de comprimento (Figura 27). Entreos estádios R5 e R6, vários eventos aconte-cem quase ao mesmo tempo. Perto de R5.5tem-se: (1) a planta atinge seus máximosem altura, número de nós e área foliar; (2)as altas taxas de fixação de nitrogênio atin-gem o seu auge e em seguida começam adiminuir rapidamente; (3) as sementes ini-ciam um período de rápido e constanteacúmulo de matéria seca e nutrientes. Logoapós R5.5 ocorre o máximo acúmulo de ma-téria seca e de nutrientes nas folhas, pecío-los e ramos, iniciando a seguir a sua redis-tribuição (translocação) dessas partes daplanta para as sementes em desenvolvimen-to. O período de rápida e constante acumu-lação de matéria seca na semente continuaaté logo após R6.5, no qual a semente estácom aproximadamente 80% da sua maté-ria seca total.

O rendimento em grãos depende dataxa e da duração do tempo de acúmulo dematéria seca nas sementes. Entre os culti-vares adaptados existem pequenas diferen-ças quanto à taxa de acúmulo de matériaseca, porém, com relação à duração de tem-po de acúmulo de matéria seca nas semen-tes as diferenças são maiores20. Estressespodem influenciar tanto a taxa como a du-ração do tempo de acúmulo de matéria secanas sementes.

Guias de Manejo para R5

A demanda por água e nutrientes éalta ao longo do período de enchimento dassementes. Durante todo esse período, as

Figura 23. Planta de soja no estádio R5. Figura 24. Colmos no estádio R5.

Figura 25. Colmos nos estádios R4 (imagem àdireita) e R5 (imagem à esquerda).

Figura 26. Vagem de soja no estádio R5 retira-da do 4º nó da haste principal.

20 Nota do tradutor: De todos os nutrientes requeridos pela planta de soja, apenas o N é fixado pelas bactérias nos nódulos radiculares.

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sementes adquirem aproximadamente me-tade do seu N, P e K através da redistri-buição pelas partes vegetativas da planta, eaproximadamente metade pela absorção dosolo e atividade do nódulo (no caso do N).Esta redistribuição de nutrientes pelas par-tes vegetativas da planta ocorre de manei-ra independente da disponibilidade dosnutrientes no solo. As deficiências hídricaspodem reduzir a disponibilidade dos nu-trientes porque as raízes não podem absor-vê-los e nem crescer nas camadas superfi-ciais e mais secas do solo. Dessa forma, par-te do P e do K deve ser colocada mais emprofundidade, onde o solo estará úmido eos nutrientes disponíveis à planta21.

Se ocorrer 100% de desfolha (devi-do a granizo, por exemplo) entre os está-dios R5 e R5.5, o rendimento pode ser re-duzido em aproximadamente 75%. Condi-ções de estresse podem causar grandes re-duções no rendimento se ocorrerem entreos estádios R5.5 e R6. Reduções de rendi-mento nesse período acontecem principal-mente devido ao menor número de vagensformadas por planta e ao menor número desementes por vagem e, em menor grau, de-vido ao menor peso por semente.

21 Nota do tradutor: Tais diferenças se devem às variações na duração dos ciclos de maturação dos diferentes cultivares.

Figura 27. Rápido desenvolvimento de vagens e de sementes durante o estádio R5, com grãosde 3, 5, 7, 8, 10 e 11 mm de tamanho.

Figura 28. Vista lateral de vagens e sementes em desenvolvimento durante R5. Grãos com 5, 7, 8,10 e 11 mm de tamanho.

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ESTÁDIO R6 (semente cheia)R6 – vagem contendo sementes verdesque preenchem totalmente a cavidade davagem localizada em um dos quatro nóssuperiores da haste principal com folhacompletamente desenvolvida (Figuras 29e 30)

Plantas em R6 têm 80 a 120 cm dealtura e encontram-se nos estádios V16 aV25. Devido à altura da planta e ao núme-ro de nós atingirem os valores máximos emR5.5, pequenos acréscimos nessas caracte-rísticas são evidentes entre R5 e R6.

A semente em R6 ou “semente ver-de” é caracterizada por apresentar larguraigual à da cavidade da vagem, porém, se-mentes de todos os tamanhos podem serobservadas na planta, nesse momento (Fi-guras 27, 28 e 31). Nesse estádio o pesototal das vagens da planta é máximo22.

A taxa de crescimento dos grãos eda planta nessa fase ainda é muito rápida.Na planta, a rápida taxa de acúmulo dematéria seca e de nutrientes começa a di-minuir logo após o estádio R6, e nas se-mentes, logo após R6.5. O acúmulo de ma-téria seca e de nutrientes na planta é máxi-mo logo após R6.5, e nas sementes, próxi-mo a R7 (Figuras 38, 39 e 40).

O rápido amarelecimento das folhas(senescência visual) começa logo após R6e continua acentuadamente até R8, ou atéque todas as folhas caiam. A senescência equeda foliar inicia-se nos nós inferiores daplanta (região mais velha) e subseqüente-mente estende-se para cima até as folhasmais jovens. Três a seis folhas trifolioladaspodem ter caído dos nós mais inferioresantes do início do rápido amarelecimentofoliar.

O crescimento da raiz completa-selogo após R6.5.

Figura 29. Planta de soja no estádio R6. Figura 30. Colmos da soja com vagens no es-tádio R6.

Figura 31. Vagem de soja no estádio R6 retirada do 4º nó superior da haste principal.

22 Nota do tradutor: No Brasil predomina o uso de cultivares precoces e semi-precoces com hábito de crescimento determinado, que são mais exigentes emambiente. Para esses tipos de cultivares, quando ocorre veranico e/ou deficiência nutricional entre os estádios R5 e R6, as reduções no rendimento serão devidasao abortamento das vagens em início de granação ou ao abortamento das sementes, caracterizando a formação de vagens chochas. Quando esses estressesocorrem entre R6 e R7, também ocorrerão quedas de produção, devido às menores taxas de acúmulo de matéria seca nas sementes, determinando a formação desementes mais leves.

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ESTÁDIO R7 (início da maturi-dade)R7 – uma vagem normal na haste prin-cipal que tenha atingido a cor de vagemmadura, normalmente marrom ou palha,dependendo do cultivar (Figuras 32 e 33)

A maturidade fisiológica de umasemente de soja acontece quando cessa oacúmulo de matéria seca. Isso ocorre quan-do a semente (e geralmente a vagem) tor-na-se amarela ou tenha perdido completa-mente a cor verde. Embora nem todas asvagens numa planta em R7 tenham perdi-do a sua cor verde, a planta essencialmentese encontra na maturidade fisiológica por-que muito pouca matéria seca adicional seráacumulada (Figuras 32 e 33). A sementede soja na maturidade fisiológica possuiaproximadamente 60% de umidade e con-tém todas as partes da planta necessáriaspara começar sua próxima geração.

A Figura 34 mostra uma vagem egrãos verdes no estádio R6, uma vagem egrãos completamente amarelos na maturi-dade fisiológica e uma vagem e grãos comcor característica para a colheita.

Guias de Manejo para R6-R7

À medida que vagens e sementesamadurecem, elas ficam menos propensasa abortar. Assim, o número total de vagenspor planta e o número de grãos por vagem

são fixados gradualmente com a maturida-de da planta. Embora uma semente maisvelha não possa abortar (cair da planta) sobcondições de forte estresse, a duração doperíodo de rápido acúmulo de matéria secana semente pode ser encurtada, resultandona formação de sementes menores e na re-dução do rendimento.

Como após R6 a planta de soja jáamadurece, o potencial de redução de ren-dimento por estresse declina gradualmen-te. De R6 a R6.5 o estresse pode causargrandes reduções de rendimento, a maio-ria das vezes pela redução no tamanho dasemente, mas também pela redução de va-gens formadas por planta e de grãos porvagem. Reduções de rendimento motiva-das por estresse ocorrido entre R6.5 e R7são menores pelo fato das sementes já te-rem acumulado quantidades consideráveisde matéria seca. Estresse a partir de R7 nãoafeta o rendimento.

A Figura 35 mostra o redireciona-mento do crescimento das folhas em dire-ção ao sol de uma planta de soja parcial-mente acamada. A tendência para acama-mento aumenta com o crescimento em al-tura das plantas. Altas populações de plan-tas, irrigação e ocorrência de chuvas tor-renciais aumentam a altura da planta e oacamamento. O acamamento reduz o ren-dimento devido a um aumento nas perdasde colheita a ao uso ineficiente da luz solarpela planta23.

Figura 35. Planta de soja acamada no estádio R6.Figura 34. Vagens de soja nos estádios R6 (ver-de), R7 (amarela) e R8 (marrom).

Figura 32. Planta de soja no estádio R7.

Figura 33. Colmos da soja com vagens no es-tádio R7.

23 Nota do tradutor: O acamamento é uma característica genética com expressão variável conforme o cultivar, que pode ser modificada por práticas de manejoadotadas e/ou fatores do ambiente, tais como: densidade de plantas na linha da cultura, espaçamento entre as linhas, fertilidade do solo e/ou adubações, umidadee temperatura, entre outras. Lavouras acamadas tendem a apresentar maiores índices de perdas na colheita.

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ESTÁDIO R8 (maturidade com-pleta)R8 – 95% das vagens apresentam-se ma-duras (Figura 36). São necessários de 5 a10 dias de clima seco após R8 para que asoja atinja menos de 15% de umidade

A Figura 37 ilustra as mudanças decor e de tamanho das vagens e grãos desoja a partir do estádio R6, com vagens esementes verdes até grãos maduros pron-tos para a colheita. Na mesma figura, a se-gunda vagem e respectivos grãos, a partirda direita, apresentam cor característicapara colheita, porém não atingiram a for-ma e o grau de umidade para a realizaçãodesta. Assim, cor de vagem madura nemsempre indica ponto de colheita para osgrãos em seu interior. Com ambiente secofavorável a soja perderá umidade rapida-mente.

Guias de Manejo para R8

Erros de baixas densidades de se-meadura, com os vazios no campo, tornam-se visíveis por ocasião da colheita. Já, altasdensidades de plantio causam acamamentoda lavoura, dificultando a colheita, redu-zindo, assim, o potencial de rendimento nocampo. Menores estandes promovem maisramificações, porém com menor altura deinserção de vagem. Ramificações muitocarregadas de vagens tornam-se pesadas epodem quebrar facilmente, caindo ao chão.Da mesma forma, vagens muito próximasao solo são difíceis ou, às vezes, impossí-veis de serem colhidas mecanicamente.

O momento certo de colheita é muitocrucial para a soja. A umidade ideal nosgrãos para colheita e armazenamento é13%. Embora a colheita possa ser iniciadacom maiores porcentagens de umidade, al-guns custos com secagem serão necessá-

Figura 36. Planta de soja no estádio R8.

Figura 37. Seqüência de maturação de vagens e grãos de soja. Da esquerda para a direita, evolu-ção da cor verde (estádio R6) para a cor marrom (ponto de colheita).

rios para um armazenamento seguro. Poroutro lado, o atraso na colheita, com umi-dade abaixo de 13%, causa aumento nasperdas durante a colheita e no número degrãos danificados, e diminui o peso dosgrãos para comercialização.

Para reduzir perdas de colheita de-ve-se: dirigir em velocidade apropriada,conferir a abertura do côncavo, a velocida-de do cilindro, as peneiras e a velocidadedo ar da ventilação. Estar certo de que asvelocidades do molinete e do deslocamen-to da máquina estejam sincronizadas paradiminuir as perdas por quebra na platafor-ma de corte. Regular a altura de corte paraminimizar perdas. A 9 cm de altura perde-se 5% da produção, e a 16,5 cm de alturaperde-se 12%.

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Como a Planta de Soja Cresce

A taxa de incremento de matériaseca na planta de soja é pequena no início,porém aumenta gradativamente durante osestádios vegetativos de desenvolvimento atéo R1, quando aumentam o desenvolvimen-to das folhas e a cobertura do solo. Em tor-no de R2, a taxa diária de acúmulo de ma-téria seca pela planta é essencialmenteconstante até o gradativo decréscimo du-rante o período de enchimento das semen-tes (logo após R6), terminando após R6.5(Figura 38). O acúmulo de matéria seca ini-cia-se nas partes vegetativas da planta, po-rém, entre R3 e R5.5 transloca-se gradati-vamente para as vagens e grãos em forma-ção (Figuras 10 e 38).

A taxa de crescimento das folhas,pecíolos e hastes segue o mesmo padrão daplanta como um todo até o início de forma-ção das vagens e grãos, ou seja, até aproxi-madamente R4. Logo após R5.5 a matériaseca é máxima nessas partes vegetativas,quando então inicia-se rapidamente a suatranslocação para os grãos em formação.A perda de folhas e pecíolos começa entreos estádios V4 e V5, nos nós vegetativos epecíolos mais baixos, e progride muito len-tamente para o ápice da planta até logo apóso estádio R6 (Figura 38). A partir dessemomento, a perda de matéria seca torna-serápida e contínua até o estádio R8, quandonormalmente todas as folhas e pecíoloscaem (Figura 36).

O crescimento radicular começacom a emergência da raiz primária a partirda germinação da semente. Sob condiçõesfavoráveis, a raiz primária e várias raízeslaterais crescem rapidamente e podem al-cançar profundidades de 0,8 a 1,0 m noestádio V6. Durante os estádios vegetativosmais adiantados e próximo ao florescimento(de V6 a R2) o sistema radicular se expan-de na sua maior velocidade. A maior partedesse crescimento ocorre nos primeiros30 cm de solo, desde que haja umidade ade-quada. Algumas raízes podem estar nos2,5 cm superficiais do solo. Em R6, sob con-dições favoráveis, as raízes de soja podematingir profundidades maiores que 1,8 m ese estender lateralmente de 25 a 50 cm.Nesse estádio, as raízes crescem muito len-tamente, porém, algumas continuam o seucrescimento até a maturidade fisiológica(R7).

Parte do nitrogênio utilizado pelaplanta de soja é proveniente da fixação donitrogênio do ar, realizada pela bactériaBradyrhizobium japonicum presente nosnódulos radiculares. Essa bactéria infectaas raízes causando a produção de nóduloslogo no estádio V1 (Figura 1).

Ao longo dos estádios vegetativosde desenvolvimento, o número de nódulosaumenta junto com a taxa de fixação do N

2

(Figura 14).Por volta do estádio R2, a taxa de

fixação do N2 aumenta significativamente,

atingindo o seu pico no estádio R5.5, e cairapidamente a seguir.

O florescimento inicia-se no estádioR1 com a abertura da primeira flor entre oterceiro e sexto nó vegetativo da haste prin-cipal, progredindo daí para cima e para bai-xo. As primeiras flores geralmente apare-cem na base de um rácemo (Figura 13).Com o tempo, o rácemo se alonga, enquantonovas flores aparecem progressivamente emdireção ao seu ápice (Figura 21). No está-dio R5 a planta completou a maior partedo seu florescimento, porém, um pouco deflores ainda pode abrir nos ramos e nos nóssuperiores da haste principal. A maioria dasflores de soja se autofecunda no momentoou um pouco antes da sua abertura.

RESUMO

Figura 38. Acúmulo total de matéria seca em diferentes partes da planta de soja.

Mat

éria

sec

a (1

.000

kg/

ha)

10

9

8

7

6

5

4

3

2

1

V E 1 3 5 8 11 14 17 20

R 1 2 3 4 5 6 7 8

Dias após a 0 20 40 60 80 100 120emergência

Data Maio Junho Julho Agosto Setembro

Estádio

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20

Três a quatro dias após a aberturada flor, suas pétalas murcham e a vagem(fruto) começa a alongar-se. Entre 2 e 2,5semanas após a abertura de uma flor, a va-gem formada apresenta-se com o seu com-primento máximo. O desenvolvimento dasvagens na planta é rápido entre R4 e R5,pois apenas poucas vagens totalmente for-madas estão presentes nos nós vegetativosmais baixos na haste principal durante oestádio R4 (Figura 18). Muitas vagens atin-gem o tamanho final em R5 (Figuras 24 e25) e quase todas estão completamente de-senvolvidas no estádio R6 (Figura 30).

Os grãos (sementes) no interior deuma vagem não iniciam o seu rápido de-senvolvimento enquanto a vagem não te-nha atingido o seu comprimento final e osgrãos se apresentem com 7 a 8 mm de com-primento. Numa planta em R5, a partir domomento em que um grão apresenta-se com8 mm de comprimento, o mesmo inicia ra-pidamente o acúmulo de matéria seca (Fi-gura 27). Em torno de R5.5 a taxa deacúmulo de matéria seca por todas as va-gens em uma planta de soja é rápida e cons-tante. Esse rápido crescimento de todas asvagens de uma planta começa a diminuirlogo após o estádio R6.5 e não é mais pos-sível de ser mensurado no estádio R7.

Figura 39. Acúmulo total de nitrogênio em diferentes partes da planta de soja.

Figura 40. Acúmulo total de potássio em diferentes partes da planta de soja.

Grãos Pecíolos

Vagens Folhas

Colmos Folhas epecíolos caídos

N (%

do

tota

l acu

mul

ado)

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

K (%

do

tota

l acu

mul

ado)

V E 1 3 5 8 11 14 17 20

R 1 2 3 4 5 6 7 8

Dias após a 0 20 40 60 80 100 120emergência

Data Maio Junho Julho Agosto Setembro

Estádio

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

V E 1 3 5 8 11 14 17 20

R 1 2 3 4 5 6 7 8

Dias após a 0 20 40 60 80 100 120emergência

Data Maio Junho Julho Agosto Setembro

Estádio

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21

O rendimento de soja, ou seja, o pesototal das sementes, pode ser descrito pelaseguinte equação:

Rendimento = número médio de plantas porhectare x número médio de vagens porplanta x número médio de grãos por va-gem x peso médio de um grão.

Uma planta de soja crescendo semcompetição com outras plantas irá ramifi-car intensamente, formando uma plantacom arquitetura mais aberta. Aumentando-se o número de plantas na área (densidadede plantas) aumenta-se a altura destas e atendência ao acamamento, reduzindo-se aramificação e o número de vagens por plan-ta. Porém, admite-se um valor ótimo paradensidade de plantas visando-se mais va-gens e grãos por unidade de área. Essa den-sidade ótima de plantas difere com os cul-tivares e ambientes de crescimento.

O ambiente no qual um determina-do cultivar de soja cresce influencia extre-mamente o desenvolvimento e o rendimen-to da planta. A ocorrência de estresse am-biental em qualquer estádio de desenvolvi-mento da soja irá reduzir o seu rendimen-to. Estresses tais como: deficiências nutri-cionais, umidade inadequada, danos porgeada, granizo, pragas ou acamamento,causam enormes reduções de rendimentoquando ocorrem entre os estádios R4 e logoapós o R6. Dentro dessa faixa fenológica,o período entre os estádios R4.5 e R5.5 éespecialmente sensível ao estresse. Comoa planta de soja amadurece depois do R6, aquantidade potencial de redução de produ-ção causada por estresse diminui gradual-mente até o estádio R7, quando o rendi-mento não é mais afetado por este. Altosrendimentos somente são obtidos quandoas condições ambientais são favoráveis emtodos os estádios de crescimento da soja.

Figura 41. Acúmulo total de cálcio em diferentes partes da planta de soja.

Requerimentos e Absorção deNutrientes pela Soja

A planta de soja (bem como a bac-téria simbiótica associada a ela) requer osseguintes nutrientes minerais: nitrogênio(N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S),cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), boro(B), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu)e molibdênio (Mo). A maior parte dessesnutrientes é absorvida do solo, porém, par-te do nitrogênio é obtida por meio da fixa-ção realizada pelas bactérias no interior dosnódulos e um pouco do enxofre é absorvi-do do ar (como SO

2 e H

2S). Os nutrientes

são absorvidos junto com a água pelasraízes da planta e movem-se no interior des-ta até as folhas e outros órgãos vegetati-vos.

As quantidades de nutrientes dispo-níveis variam com o tipo de solo, profun-didade de amostragem e práticas de culti-vo, e são influenciadas pelas condições de

temperatura e umidade no solo. As raízesnão crescem em solo seco e a umidade deveser adequada para que o sistema radicularpossa absorver os nutrientes. Por outro lado,o excesso de umidade no solo limita aaeração das raízes, as quais necessitam deoxigênio para crescer.

Os padrões de sazonalidade de acú-mulo dos diferentes nutrientes pelas dife-rentes partes da planta são apresentadosnas Figuras 39, 40 e 41. As quantidades denutrientes absorvidas pelas plantas no iní-cio da estação de crescimento são peque-nas porque as plantas são pequenas. Entre-tanto, a concentração de nutrientes em umafolha individual de plantas bem nutridas éalta durante esse período como nas folhasindividuais em períodos mais adiantados.A absorção e o acúmulo de alguns nutrien-tes é contínua ao longo da estação de cres-cimento até a maturidade da planta (Figu-ra 41), enquanto a absorção de outros écompletada no estádio R6 (Figura 39).

Grãos Pecíolos

Vagens Folhas

Colmos Folhas epecíolos caídos

Ca

(% d

o to

tal a

cum

ulad

o)

V E 1 3 5 8 11 14 17 20

R 1 2 3 4 5 6 7 8

Dias após a 0 20 40 60 80 100 120emergência

Data Maio Junho Julho Agosto Setembro

Estádio

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

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A redistribuição dos nutrientes mi-nerais a partir de partes mais velhas daplanta para as mais novas em crescimentoé a fonte primária de alguns nutrientes.Alguns nutrientes são muito móveis naplanta e são prontamente translocados deum órgão velho para um mais novo. Aredistribuição de N (Figura 39), P e S cons-titui-se na fonte primária desses nutrientespara os grãos em formação e resulta em sig-nificativa diminuição desses elementos nasfolhas, pecíolos, hastes e vagens, durante operíodo mais avançado de enchimento dassementes. Entretanto, alguns nutrientescomo o Ca são muito imóveis nas plantas,existindo pequena redistribuição dos mes-mos das partes mais velhas para as maisnovas em crescimento. A translocação dosnutrientes móveis das folhas para as semen-tes em formação, exceto a do cálcio, fazcom que este nutriente apresente-se commaior concentração nas folhas ao final dociclo de maturação (Figura 41).

A redistribuição de outros nutrien-tes na planta geralmente segue um padrãointermediário entre os extremos de altamobilidade do N e imobilidade do Ca. P eS são muito semelhantes ao N. O K éredistribuído das partes vegetativas para assementes em formação, porém, não éredistribuído a partir das vagens. Zn e Cusão redistribuídos, mas não na mesma in-tensidade do N. Mn, Mg, Fe, B e Mo sãorelativamente imóveis, mas não tanto quan-to o Ca. Diferenças marcantes quanto à mo-bilidade do Fe têm sido verificadas entreos diferentes cultivares.

Uso de Fertilizantes e Manejo daFertilidade

Quando o solo não pode suprir asnecessidades em nutrientes da planta, fer-tilizantes e/ou esterco podem ser adiciona-dos para atender a nutrição das plantas. Aabsorção de nutrientes adicionados ao solonem sempre é um processo eficiente. Emboas condições, a recuperação do fósforo epotássio adicionados varia de 5 a 20% e de30 a 60%, respectivamente, no mesmo anode adubação. Entretanto, os nutrientes adi-cionados são recuperados nos anos poste-riores.

Nutrientes Normalmente Deficientes

1. Nitrogênio: é fixado e prontamen-te disponível à soja pelas bactérias presen-tes no interior dos nódulos radiculares. Emáreas onde a soja nunca foi cultivada hánecessidade de inoculação das sementespara suprir a planta com bactérias. A cala-gem de solos ácidos é benéfica. Em condi-ções favoráveis à fixação do N

2, a necessi-

dade de adubação mineral nitrogenada é re-duzida ou eliminada.

2. Fósforo e Potássio: a disponibili-dade desses nutrientes para altos rendimen-tos de soja não é adequada em muitos so-los, de maneira que a adição de fertilizan-tes contendo esses nutrientes deve ser fei-ta. Dependendo do pH do solo a calagempode ser necessária24.

3. Em solos onde existam condiçõesde deficiência nutricional, a aplicação deoutros nutrientes pode ser necessária paraatender os requerimentos da planta. S, Fe,B, Mn ou Zn são os elementos que ocasio-nalmente se apresentam deficientes25.

Considerações para AltosRendimentos de Soja

As figuras apresentadas neste arti-go indicam que o rendimento produzidopela planta de soja depende da taxa e dotempo de acúmulo de matéria seca. Entre-tanto, para se obter altos rendimentos, énecessário conhecer todas as práticas cul-turais compatíveis com uma produção eco-nômica, aplicadas para maximizar a taxade acúmulo de matéria seca no grão.

Considerar as seguintes práticas demanejo:

1. Calagem e adubação fundamen-tadas em amostragem e análise de solo con-fiáveis.

2. Não cultivar ou plantar em solosmuito úmidos.

3. Semear em épocas recomendadaspara sua região.

4. Escolher os cultivares melhoradaptados à sua região.

5. As máximas produtividades sãoobtidas em espaçamentos entre linhas me-nores (20-40 cm) que os ainda utilizadosnos EUA, isto é, 75 a 100 cm.

6. Ajustar o estande em função doespaçamento de entre-linhas adotado.

7. Não semear muito profundo: 2 a4 cm de profundidade é o ótimo na maioriados solos.

8. Monitorar e controlar plantas da-ninhas, pragas e doenças sempre que pre-ciso.

9. Reduzir ao mínimo possível asperdas de colheita.

24 Nota do tradutor: Com relação aos solos brasileiros, principalmente aqueles localizados no Brasil Central (cerrado), fósforo, potássio e enxofre têm sido osmacronutrientes com maior necessidade de correção via adubação, e cálcio e magnésio, via calagem, e manutenção, visando a busca de altas produtividades.

25 Nota do tradutor: Além das necessidades de correção e manutenção da fertilidade com macronutrientes nos solos brasileiros, ultimamente vem merecendodestaque a necessidade de aplicação de alguns micronutrientes, tais como B, Co, Cu, Mn, Mo e Zn. Estes podem ser fornecidos à cultura no momento dasemeadura, através de fórmulas fertilizantes completas. No caso de Co e Mo, pode-se fornecê-los via semente, por ocasião do tratamento destas com fungicidas.Uma vez instalada a cultura, preventivamente os micronutrientes B, Co, Cu, Mn e Mo podem ser adicionamente fornecidos por meio da adubação foliar, quandoa soja se encontra nos estádios V4 a V5.

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A HISTÓRIA DO POTASH & PHOSPHATE INSTITUTE

HÁ MAIS DE 63 ANOS, o Instituto Ame-ricano de Potassa iniciava uma importan-te e única experiência de cooperação.

A data era julho de 1935. O local, Washington,D.C., cerca de três blocos da Casa Branca. A pessoafalando era Dr. J.W. Turrentine, o primeiro presidentedo novo Instituto e químico de grande reputação. Eraautoridade mundial na produção e uso de potássio.

Na ocasião falava não para grande platéia decientistas, mas para grupo de apenas oito pessoas, oprimeiro Conselho de Diretores do Instituto que se for-mava. Era grupo do alto gerenciamento das maioresempresas produtoras de potássio da época, homensde negócios realistas, com o objetivo de vender po-tássio.

A mensagem do Dr. Turrentine foi curta e direta:“Cavalheiros, o uso de potássio depende do seu reco-

nhecimento como nutriente de planta, que é fator agro-nômico, e da possibilidade do agricultor em comprá-lo, que é fator econômico. Assim, o uso agrícola depotássio deve ser aumentado apenas quando for re-querido pela cultura e lucrativo para o agricultor”.

A indústria americana de potássio aceitou estafilosofia e, através do Instituto, por mais de 63 anosaplicou o conceito da integridade científica na direçãode seus negócios. Em 1977, com a inclusão de P noprograma, o nome foi mudado para Potash &Phosphate Institute... mas o enfoque científico paradesenvolvimento de mercado permaneceu o mesmo.

Cooperação tem sido a base fundamental. Coo-peração de milhares de pesquisadores, professores,extensionsistas, consultores e autoridades governa-mentais ligados à agricultura – com vendedores,dealers e agricultores lá no campo – na dedicada esincera busca da verdade.