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55 boletim Novembro 09 a Janeiro 10 O ensino da Arte dentro e fora do Brasil Mariana Spravkin, da equipe de Artes do Ministério de Educação da Cidade de Buenos Aires, fala sobre o cenário na capital argentina Currículos de Rio Grande do Sul, Goiás e Pernambuco propõem novas formas de ensinar Arte nas escolas CORREIOS IMPRESSO ESPECIAL 9912198952-DR/SPM Arte na Escola CORREIOS DEVOLUÇÃO GARANTIDA ISSN 1809-9254

Arte na Escola Boletim 55

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Page 1: Arte na Escola Boletim 55

55boletim

Novembro 09 a Janeiro 10

O ensino da Artedentro e fora do BrasilMariana Spravkin, da equipe de Artes do Ministério de Educaçãoda Cidade de Buenos Aires, fala sobre o cenário na capital argentina

Currículos de Rio Grande do Sul, Goiás e Pernambucopropõem novas formas de ensinar Arte nas escolas

CORREIOS

IMPRESSO ESPECIAL9912198952-DR/SPM

Arte na EscolaCORREIOS

DEVOLUÇÃOGARANTIDA

ISSN 1809-9254

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Que livro você leu e indicaria a outroprofessor de Arte?

> "O livro que indico é Desenvolvimento daCapacidade Criadora, de V.Lowenfeld e W. L. Brittain. Aobra traz à tona com competência a relevância da arte na estru-turação da personalidade humana. Este fato obteve o êxito de aeducação artística ser incorporada ao currículo das escolas públi-cas. Isto aconteceu não só por causa do seu considerável inte-resse e de sua influência na arte, mas também por sua preocu-pação e dedicação."Adna da Silva / Santa Catarina

> "Para Entender A Arte, de Robert Cumming é um livrode apreciação estética e contempla 45 quadros importantes nomundo. Em cada quadro, uma pequena biografia e comentáriosconcisos revelam significados e simbolismos ocultos nas obras.Com ilustração perfeita, permitindo uma boa apreciação, essaobra vale à pena fazer parte do nosso acervo."Adriana Borloth / São Paulo

> "Sugiro o livro Inteligência Aprisionada, de AlíciaFernandez, pelo fato de trazer contribuições para a compreen-são das dificuldades de aprendizagem. A arte pode libertar amente aprisionada e as colocações da autora nesse campo sãode grande importância."Adelzita Souza / Acre

> "O livro é A invenção da paisagem, de AnneCauquelin. Neste livro eu reconheci meu próprio trabalhoexpressivo, toda minha história e a conjugação deste com otrabalho pedagógico que venho desenvolvendo, que éInterdisciplinaridade via Estudo do Meio. Não posso deixar decitar dois outros livros que se relacionam com o assunto:FFaarrnneessee ddee AAnnddrraaddee, de Rodrigo Naves; e IInntteerrtteerrrriittoorriiaalliiddaaddee,de Ana Mae Barbosa e Lilian Amaral."Acácio Arouche / São Paulo

> "As Memórias do Livro, de Geraldine Brooks. O livro-objeto-enigma que conduz o fio da meada é mais que um livro,é um objeto de arte medieval. Além das viagens históricas egeográficas, esta obra também aborda, em meio ao enredo,outras manifestações artísticas. Uma leitura orientada pela perspectiva de onde podemos localizar e apreciar as diversasmanifestações artísticas neste livro pode ajudar a reforçar anecessária transversalidade que a leitura, o fazer e o aprendizado da arte exigem hoje."Abel Sidney / Rondônia

Livro ensina os caminhos da avaliaçãoformadora

Este é um dos principais objetivos do livro “Avaliação naEducação: questões, tendências e modelos” organizadopelas professoras e pesquisadoras Silvia Sell DuartePillotto, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Artena Educação da Universidade de Joinville(NUPAE–Univille) e Coordenadora da Casa da Cultura,unidade da Fundação Cultural de Joinville, e MariaPalmira Carlos Alves, docente do Instituto de Educação ePsicologia da Universidade do Minho (Uminho) eDoutora em Educação (Desenvolvimento Curricular) pelaUminho e pela Universidade Pièrre Mendès France deGrenoble (França). A obra foi lançada no XXIII EncontroNacional da Rede Arte na Escola, realizado de 13 a 16 deoutubro, na Universidade Federal de Pernambuco, noRecife. Durante o evento, Silvia doou para cada um dospolos da Rede o livro sob sua organização "Uma educa-ção pela Infância".Silvia Pillotto conta que escolheu o "complexo e neces-sário" tema avaliação porque ele "está atrelado às con-cepções filosóficas sobre processos de ensino e aprendi-zagem". Ela lembra que se interessou pela avaliação em2006, quando iniciou a pesquisa "Processos de avalia-ção em arte: da formação superior ao ensino básico",na Univille. E aprofundou sua pesquisa ao fazer o pós-doutorado na Universidade do Minho, na cidade deBraga, Portugal, em 2008.Nesta época, ela entrou em contato com a professoraMaria Palmira, que também realizava pesquisas sobreavaliação. "Unimos nossos conhecimentos, saberes eperspectivas no intuito de aprofundar o tema e organi-zamos o 1º Congresso Internacional de Avaliação emEducação: Questões, Tendências e Modelos", que ocor-reu na Univille, afirma.A coordenadora do NUPAE-Univille explica que o livroapresenta "pesquisas e debates em todo o contexto daeducação básica e aborda as tendências conceituais emetodológicas, com ênfase no portfólio e na auto-regu-lação". Na área específica de Artes Visuais, Silvia destacao método baseado nas "narrativas, em que estudantese professor constroem seus percursos pessoais, ancora-dos em seus contextos e vivências".Na opinião dela, é essencial na hora de avaliar saberdefinir critérios claros e objetivos coerentes aos conteú-dos. "O que se pretende é um amadurecimento dosestudantes sobre o seu processo de aprendizagem",

afirma, ao destacar que "o portfólio tem sido um dosinstrumentos mais adequados, pois propicia a visibilida-de das trajetórias de conhecimento, vivências e saberesdos estudantes".Silvia Pillotto acredita que o livro poderá ser útil na for-mação dos professores de Arte porque articula as pes-quisas realizadas no Brasil e em Portugal e materializaestes conhecimentos na comunidade universitária eescolar. "O livro poderá contribuir nos processos avalia-tivos de professores e estudantes, uma vez que nãopretende oferecer fórmulas mágicas mas, sobretudo, pro-porcionar a reflexão e caminhos possíveis para uma ava-liação formadora", diz.A professora e pesquisadora ressalta a importância dadireção da escola estar em sintonia com a comunidadeescolar no campo da avaliação. "É fundamental um ges-tor que prima por uma educação significativa, menosconteúdista e mais humanitária, e a avaliação precisaseguir a mesma linha de pensamento", recomenda.Silvia Pillotto sugere ainda "romper a avaliação controla-dora, punitiva e quantitativa" e transformá-la em "umaavaliação que se preocupa com os aspectos culturais,sociais, ambientais, econômicos, políticos, bem como aformação do pensamento crítico".Ela reconhece que o "maior drama" na avaliação hojeestá relacionado ao currículo. "É muito difícil ensinar eaprender de forma fragmentada, num sistema disciplinarcom enfoque ainda numérico e quantitativo", constata.Na visão dela, a arte na escola exige uma nova narrati-va, com um currículo mais flexível e maior disponibilida-de de tempo e espaço. Apesar de reconhecer que a ava-liação em Arte sempre é subjetiva, ela destaca que"quando o professor tem claro os indicadores de apren-dizagem, os objetivos e compartilha a definição de crité-rios de avaliação com os estudantes, os processos ten-dem a ser menos complexos".Silvia Pillotto revela que suas pesquisas indicam quemuitos professores adotam somente a avaliação somati-va, ou seja, buscam apenas os resultados finais das pro-duções dos estudantes. "Entendemos a avaliação comoprocesso integral e contínuo, pois fragmentar a avaliaçãoem etapas pode comprometer o processo como umtodo, especialmente se entendermos o sujeito e o meioem constante transformação", afirma.

FlaPaO Boletim Arte na Escola vem

mapeando a gestação de

Referenciais Curriculares Estaduais

e Municipais em Arte, através dos

quais é possível acompanhar o

sonho dos arte-educadores para a

sala de aula brasileira na próxima

década. Considerando que, na

prática, o professor de Arte conta

com 32 horas/aula ano com seus –

em média – 500 alunos, não seria

antes de pensar num CURRÍCULO

MÍNIMO para a disciplina de Arte?

As reflexões sobre AVALIAÇÃO

talvez possam nos conduzir a

esta objetividade.

Que competências e quais

habilidades o professor de Arte se

sente responsável por desenvolver

em seus alunos? Qual o imaginá-

rio que se está construindo para o

brasileiro do século XXI?

Evelyn Berg IoschpePresidente do Instituto Arte na [email protected]

editorial

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rofessor

O Boletim Arte na Escolaé uma publicação darede Arte na Escola, produzido com o patrocínio da Fundação Iochpe.

Conselho EditorialEvelyn Berg Ioschpe,Sebastião GomesPedrosa, Sandra Suelydos Santos Francisco eAna Lúcia S. de O.NunesEditoraMônica KondziolkováSubeditoraSilvana ClaudioColaboraçãoRoseli AlvesJornalista responsávelFábio Galvão MTB20.168/SP

RedaçãoFábio Galvão, Cecília Galvão e Raquel Zardetto (CGC Educação)Projeto Gráfico Zozi

ISSN 1809-9254Artigos, comentários eopiniões para este informativo devem serenviadas para: Instituto Arte na Escola;Alameda Tietê, 618 –casa 3 CEP 01417-020,São Paulo, SP Fone (11)[email protected]

expedei nte

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Cleidi AlbuquerqueILUSTRADORA CONVIDADA

Graduada em Belas Artes pela Universidade Federal deMinas Gerais, Mestre em Antropologia Social pela

Universidade Federal de Santa Catarina e professora efetivada Universidade do Estado de Santa Catarina.

Proporcionar a reflexão e os caminhos para uma avaliaçãoformadora, que prima pela autonomia, compartilhando ideiase decisões, compreendendo a avaliação como forma deaprendizagem e crescimento humano.

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Entrevista

No Brasil, além dos referenciais curriculares nacionais,vários municípios e Estados brasileiros têm elaboradoos seus referenciais curriculares de Arte. Isso pode sig-nificar uma mudança de status da Arte nas escolas? A presença da Arte nos documentos curriculares nacio-nais, estaduais ou municipais, sempre contribui positi-vamente para assegurar o seu lugar dentro da escola. Isso ao menos indica uma intencionalidade das políti-cas educativas, algo que é necessário, mas que não ésuficiente para que esses princípios se convertam empráticas de aula, que encontrem o seu lugar na escola. Para tornar efetivas as práticas da arte na escola énecessário que o Estado faça um acompanhamentodos documentos por meio de diversas ações, comocriar modalidades de capacitação e atualização paraos docentes; assegurar espaços físicos e horários naescola, além de formalizar convênios com instituiçõesimportantes de cultura (museus, teatros, centros cultu-rais, entre outros) para que os estudantes possamassistir aos espetáculos, etc. Uma vez na escola, a implementação real dos conceitosdesenvolvidos nesses documentos seguirá caminhosmuito diversos que têm a ver com as próprias concep-ções pedagógicas dos docentes, com suas ideias sobrearte e com suas próprias experiências culturais. Mas o professor não é uma ilha e a questão tambémtem a ver com o quadro institucional em que o docen-te está inserido. Afinal, as instituições têm suas hierar-quias, seus modos de questionar o saber e de estabe-lecer prioridades. Tendo em vista a sua experiência na elaboração dodocumento referencial de Artes Visuais da cidade deBuenos Aires, bem como em formação de professores,você poderia comentar a implementação deste documen-to na escola? Em sua opinião, o que deu certo? O quedeu errado? Qual o papel do professor neste processo?As escolas de Ensino Fundamental da cidade deBuenos Aires dispõem de professores especializadosem Música e Artes Plásticas já há muitas décadas. Sãoeles que se encarregam dos preceitos dessas maté-rias. Logo, os desenhos curriculares foram criados

pensando em professores especializados, docentesgraduados por uma Escola de Artes Visuais ou por umConservatório Musical. Entretanto, essa formação que os professores de Arterecebem tende a enfatizar muito mais os aspectosligados à formação artística do que os aspectos liga-dos è formação pedagógica. Há carências nesse senti-do e isso enfraquece a implementação dos desenhoscurriculares e as mudanças conceituais e metodológi-cas que ali se propõem. Há um acompanhamento para checar se houve trans-formação concreta na sala de aula a partir da imple-mentação do referencial de Artes Visuais da cidade deBuenos Aires?A cidade de Buenos Aires está dividida em 21 distritosescolares. Cada um deles conta com uma equipe desupervisores e dentro dessas equipes há supervisorespara as Artes Visuais. Esses cargos são pedagógicos eas pessoas que os ocupam já foram docentes deArtes, ou seja, provêm de uma trajetória escolar. Uma das funções é supervisionar os docentes de ArtesVisuais, fazendo um acompanhamento de suas práti-cas em sala de aula. A dificuldade é que esse cargoabrange muitas funções e a cidade é muito grande,possui muitas escolas. Isso quer dizer que as visitasaos professores e as observações em classe são espo-rádicas. Existem políticas públicas de formação contínua deprofessores para a cidade de Buenos Aires? Em suaopinião, até que ponto e como a educação continuadapode colaborar com o professor na apropriação dosreferenciais para a sua prática em sala de aula?Na cidade de Buenos Aires existe uma instituição quese dedica à formação contínua ou capacitação dosdocentes por meio de cursos, pós-graduações, assimcomo capacitação na escola. Essa instituição funcionahá 25 anos, é gratuita e de participação voluntária. Em minha opinião, nenhuma formação pode abrangertodo o conceito de ensino e grande parte da formaçãodos docentes em Artes Visuais se desenvolve dentrodo ambiente de trabalho.

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Além disso, as ideias pedagógicas se transformam àmedida que aparecem novos conceitos de ensino.Assim, até mesmo os docentes experientes têm de seatualizar. As mudanças não acontecem sozinhas ou pela palavraescrita. Creio que há muito mais envolvido e por isso épreciso acompanhar o docente na formação e atualiza-ção profissional. Isso vai se refletir nas práticas de aula,para citar um exemplo, atualmente se vê muito maisgrupos escolares em museus de Artes Visuais e muitosmuseus da cidade dispõem de guias para atender tantoas crianças pequenas quanto os adolescentes. Há umaresposta social a uma demanda escolar. A presença da escola nos museus é algo que semprefoi preservado nos desenhos curriculares e em outrosdocumentos de trabalho e que se manteve atualizado. Creio que as mudanças na educação são processoslentos, que levam tempo e demandam esforços a par-tir de diferentes perspectivas do sistema educacional. O que você sugere aos professores que têm acessoaos referenciais curriculares, mas não contam comoportunidades de formação contínua? De que maneiraeles podem se apropriar destes documentos? Creio que a leitura e o debate “com outros”, comseus pares, o intercâmbio de ideias, a análise de prá-ticas entre docentes da escola são maneiras de rom-per o isolamento dos docentes e de socializar as prá-ticas de ensino. Segundo dados do último censo do INEP (InstitutoNacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnísioTeixeira), realizado em 2003, no Brasil há cerca de4.466 professores de Arte em exercício sem licenciatu-ra. Como você pode orientar estes professores a ini-ciar um bom plano de curso?Penso que antes de poder ensinar a arte, é precisoaprender sobre ela. Não se pode ensinar o que nãose conhece. Os professores têm de ir aos museus,inteirar-se dos eventos culturais de sua cidade, devemaproximar-se da arte contemporânea, etc. Enfim, preci-sam ampliar seus horizontes culturais. Do ponto de vista didático, vale o que foi dito ante-riormente quanto aos espaços para o encontro e paracompartilhar problemáticas do ensino da arte, para lere discutir textos específicos da didática das ArtesVisuais e relacionar a teoria à prática. As escolas também podem convidar conferencistas oucriar ateliês para os próprios docentes. Creio que osdiretores das escolas podem ser um motor, podemincentivar a realização desse tipo de encontro. Os professores brasileiros têm, em média, 35 alunosnuma sala de aula. Você considera que o número dealunos impacta na qualidade do ensino?Não há dúvida que sim. Um docente deve conhecerseus alunos e ser capaz de atender as necessidadesdeles em termos de aprendizado. Se aceitarmos queas crianças são diferentes umas das outras, que têm

ritmos e modos de aprender diversos, então é precisoque a escola tenha as condições que permitam aoprofessor interagir efetivamente desse modo. E umadas condições é a quantidade de alunos por sala. Quando se trata de Artes Visuais, soma-se a diversida-de que se manifesta nos modos distintos em quecada criança trabalha. Não há fórmulas em massa,nem há respostas padronizadas. O docente deve, porisso, poder acompanhar a diversidade e também dedi-car tempo aos alunos que mostrarem dificuldades.Tudo isso é muito difícil em grupos muito numerosos. QQuuee ddiiccaass vvooccêê ppooddee ddaarr aaooss pprrooffeessssoorreess aaoo aavvaalliiaarr sseeuuss aalluunnooss eemm AArrttee?? HHáá pprroocceeddiimmeennttoossmmaaiiss iinnddiiccaaddooss??Em primeiro lugar, eu diria, o professor tem de estarconvencido de que a avaliação é valiosa para simesmo e para os alunos, que é uma oportunidadepara o diálogo, para o intercâmbio e a reflexão. Seo caso se resume a "dar notas", perde-se essaoportunidade. A avaliação é uma parte vital da criação artística, osartistas avaliam o seu trabalho. Fazem-no para si mes-mos e por que precisam fazê-lo, não por obrigação.Seria fantástico se algo assim pudesse ocorrer emuma sala de aula. Em relação a formatos de avaliação não vejo por quereplicar os clássicos formatos escolares, e nem deve-mos nos restringir a observar os trabalhos. Pode-sefazer muito mais. É importante que as crianças tomema palavra: que falem de seus trabalhos, de seus pro-cessos; que analisem, relacionem, que observem eque consigam encontrar semelhanças e diferenças. Esses processos de socialização da experiência sãoverdadeiras avaliações formativas que devem seraproveitadas.

Mariana Spravkin integra a equipe de Artes doMinistério de Educação do Governo da Cidade de Buenos

Aires, onde desenvolve atividades na Direção de currículo e

ensino. Encarregada da disciplina de Didática da Educação

Plástica em instituições de formação superior, trabalha na

capacitação de docentes no Centro de Pedagogias de

Antecipação (CePA), ligado ao governo da cidade de Buenos

Aires. É co-autora do Desenho Curricular para a Educação

Primária da Cidade de Buenos Aires e autora do Desenho

Curricular de Plástica para o Nível Inicial da província de

Córdoba, assim como de outros documentos de desenvolvi-

mento curricular destinados a docentes de Artes Plásticas

da cidade de Buenos Aires. É Licenciada em Artes com

orientação no ensino, graduada pela Universidad Nacional

de San Martín (UNSAM), República Argentina. Professora de

Artes Visuais na especialidade de pintura. Graduada pela

Escuela Nacional de Bellas Artes “Prilidiano Pueyrredón” da

cidade de Buenos Aires. Especialista em Didática das Artes

Visuais em Educação Primária e de Nível Inicial.

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Mariana Spravkin

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Escolas que há décadas dispõem de professores especializados em Música e

Artes Plásticas. Uma instituição que há 25 anos se dedica a oferecer

gratuitamente formação contínua dos docentes por meio de cursos,

pós-graduações e capacitação na própria escola. Este é um recorte que

compõe o cenário do ensino da Arte em Buenos Aires, Argentina.

Nossa entrevistada, que participou da elaboração do documento referencial de

Artes Visuais da capital argentina, comenta a importância destes e de outros

aspectos para a qualidade da Arte que se ensina nas escolas em qualquer país.

HELEN

A PINHEIRO

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Avaliação progressista

A avaliação também é tratada de forma diferenciadaem cada linguagens da Arte. De modo geral, o docu-mento fala em um "contrato" entre o professor e oaluno, no qual "ambos devem definir juntos aquiloque se deseja avaliar e o método e os critérios queserão utilizados". Neste ponto, o texto enfatiza queeste "procedimento contrasta com uma perspectivatradicional de avaliação (classificatória, estática,mecanicista, autoritária e com o foco exclusivo noaluno)" e propõe uma avaliação "progressista, queé diagnóstica, dinâmica, coletiva, reflexiva, dialógi-ca, com foco no aluno, no professor e no processode ensino aprendizagem".Na opinião de Isabel Petry, "a avaliação é entendidacomo processo contínuo e integrante da aprendiza-gem". Segundo ela, além dos instrumentos sugeridos,como portfólio, diários de trabalho, vídeos, exposi-ções e textos, o professor poderá adotar outros, masé fundamental que ele avalie "o que, o quanto ecomo o aluno compreendeu e construiu seus conheci-mentos". Para a coordenadora do Polo do Arte naEscola, os referenciais vão transformar a educação deArte no Estado. "Pela primeira vez o Rio Grande doSul disponibiliza um material desse tipo à rede esco-lar", comemora.

Diversidade no Centro Oeste

Em Goiás, a Secretaria Estadual de Educação vemrealizando desde 2004 um amplo debate entre osprofessores, diretores e coordenadores para construiras novas matrizes curriculares. O resultado é um tra-balho bem estruturado, mas ainda muito centrado nateoria, reconhece Henrique Lima, um dos autores doprojeto e membro do Centro de Estudos e PesquisaCiranda das Artes, unidade da secretaria que faz aformação continuada dos docentes nas quatro lin-guagens artísticas.Segundo ele, a reorientação curricular do 1° ao 9° anodo Ensino Fundamental começará a ser executada naprática em 2010, com a realização de semináriossemanais e diversos cursos para toda a rede estadual."Haverá também, a partir de agora, uma interaçãomaior com o Polo do Arte na Escola de Goiás para aformação continuada dos professores, com a discus-são de mais conteúdos e práticas pedagógicas emsala de aula", explica o professor Henrique Lima.Ele conta que a ideia é focar o ensino em uma artemais contemporânea e que o primeiro passo do traba-lho de reorientação curricular foi perguntar aos profes-sores: o que você gostaria de ter no currículo? "Osprofessores responderam que queriam indicações denovos artistas, mais arte popular e indígena. Eles que-rem sair da visão eurocêntrica e machista e contem-plar mais a diversidades no currículo", afirma.Com o título "Um currículo voltado para a diversida-de cultural e formação de identidades", o documen-to goiano é composto por reflexões comuns às qua-tro linguagens da Arte, suas questões específicas,

eixos temáticos para cada série e as expectativas deaprendizagem. Um dos objetivos, diz a secretaria, é"minimizar as assimetrias conceituais, metodológi-cas e práticas que caracterizam as diferentes locali-dades do Estado".Um dos aspectos enfatizados no texto é "a centralida-de dos sujeitos" (professores e alunos) e o envolvi-mento deles com a cultura, a arte e a imagem. Odocumento pressupõe "levar os sujeitos a experimen-tarem manifestações culturais de segmentos sociaisminoritários, como o universo feminino, homossexual,afro-brasileiro, indígena, da classe trabalhadora e dossujeitos com necessidades especiais, extrapolando asaprendizagens para além do universo branco, masculi-no e europeu, de classe alta, que tradicionalmentedominaram os temas de focos de estudo da arte."A abordagem metodológica da proposta é funda-mentada na compreensão crítica, contextualização eprodução, com as três instâncias sem "uma hierar-quia na qual uma deve se sobrepor a outra". A reo-rientação curricular indica aos professores trabalha-rem eixos temáticos que "podem ser estudados emqualquer ano letivo, mediante escolha de professo-res e estudantes". Neste sentido, destaca o texto,"pode-se afirmar que não é quantidade de modali-dades artísticas que determina a qualidade do pro-cesso educativo, mas a profundidade e consistênciacom que são desenvolvidas".

Seis maneiras de avaliar

Quanto às questões relacionadas à avaliação, a matrizcurricular entende seu caráter processual e contínuo,autêntico e formativo e enfatiza a sintonia entre o tra-balho pedagógico e as expectativas de aprendizagem.O documento sugere seis instrumentos de avaliação:1) prova escrita para averiguar a apropriação dos con-ceitos; 2) auto-avaliação oral ou escrita, individual ouem grupo; 3) diários de bordo, com registros e anota-ções sobre o que aprendeu e como aprendeu; 4) por-tifólio, para analisar tanto o processo quando o pro-duto final; 5) ensaios, onde os alunos manifestam suaopinião crítica; e 6) mostras que possibilitem avaliar oresultado final as produções.O texto frisa também que o processo de avaliaçãodeve verificar, além do aprendizado do aluno, "aforma como se deu a mediação do professor no pro-cesso ensino-aprendizagem". A matriz ressalta aimportância de o estudante participar da "definiçãoprévia dos resultados a serem atingidos e do modocomo serão avaliados", um procedimento que contri-bui para que eles "se sintam co-autores do processoe responsáveis por sua própria aprendizagem".Segundo o professor Henrique Lima, a matriz foi pen-sada para formar alunos "produtores de sentidos e dacultura local e que compreendam e interpretem o ima-ginário". Lima ressalta que o debate curricular não seesgota e lembra que novos cadernos estão previstospara 2010. "O importante é que o documento gerademandas, tanto por formação de espaços, quantopor mais formação intelectual", afirma.

Os três Estados acabam de publicar novas orienta-ções curriculares, com estruturas teóricas e, o maisimportante, sugestões de práticas em sala de aula.Em comum entre as novas referências, a ideia demostrar a infinita diversidade cultural e artística domundo atual.Uma outra visão da relação professor-aluno tambémé proposta, principalmente na abordagem da avalia-ção. O Rio Grande do Sul, por exemplo, sugere umnovo "contrato" para avançar rumo a uma "avalia-ção progressista". Em Goiás, o aluno é convidado aser um co-autor do processo avaliativo. Já emPernambuco, o debate curricular é direcionado paraa superação de uma visão antiga e preconceituosa,para uma prática contemporânea e democrática.

Lições do Rio Grande

Lançado no final de setembro, o novo referencial cur-ricular elaborado pela Secretaria de Educação do RioGrande do Sul ganhou o nome de Lições do RioGrande e tem como base o tripé ler, escrever e resol-ver problemas. Direcionado para os alunos das sériesfinais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, eledescreve em detalhes os fundamentos teóricos e assugestões de práticas pedagógicas que o professorpode adotar na sala de aula.Na apresentação do documento, a secretaria diz queserá a partir do referencial que cada escola organizaráo seu currículo e ressalta que o objetivo central égarantir o direito de o aluno aprender. "A autonomiapedagógica da escola consiste na liberdade de esco-lher o método de ensino, em sua livre opção didático-metodológica, mas não no direito de não ensinar, denão levar os alunos ao desenvolvimento daquelashabilidades e competências cognitivas ou de nãoabordar aqueles conteúdos curriculares", diz. O referencial curricular reconhece que a formaçãodos professores em Arte ainda "não atende à diver-sidade da demanda de trabalho em todas as esco-las". Para tentar suprir esta carência, a secretariaestá fazendo várias parcerias, entre elas com a Rede

Arte na Escola. A coordenadora do Polo naFundarte/Montenegro, Isabel Petry, que tambémcoordenou o grupo das Artes dos referenciais, infor-ma que as novas diretrizes serão implantadas gra-dativamente. "Inicialmente, haverá um seminário deimplantação dos referenciais para professores deuniversidades inscritas no projeto de capacitação",diz. Depois serão ministrados cursos de capacitaçãopara os multiplicadores e estes estarão encarrega-dos de disseminar os referenciais para toda a redeatravés de cursos e oficinas.Na opinião de Isabel Petry, esta união será fundamen-tal para assegurar uma formação continuada e consis-tente dos professores, contribuindo assim para melho-rar a qualidade do ensino de Arte no Rio Grande doSul. "Acredito que a expectativa seja a utilização dosreferenciais como suporte pedagógico e de estudopara melhoria da prática, já que os referenciais pode-rão servir de elemento de estudo e reflexão do pro-fessor", afirma.Lições do Rio Grande prega "outro modo de alfabe-tização" em Artes, ultrapassando os limites doconhecimento histórico ou a aquisição de repertóriopara habilitar uma interação cultural que se vinculaà reflexão, à crítica e a um fazer comprometido comdiferentes linguagens. O novo referencial curricularpropõe também que os professores sempre conside-rem "a interdisciplinaridade e as abordagens inte-gradas ao sistema de ensino com outras áreas doconhecimento".As quatro linguagens artísticas são desenvolvidas emtemas estruturantes e suas respectivas estratégias deação. Apresentados em formato circular para "eviden-ciar a inter-relação e a ausência hierarquia", os temasestruturantes são definidos por áreas temáticas e com-postos por competências/habilidades; blocos de con-teúdos e sugestões/estratégias/operacionalização. Oreferencial chama a atenção para o fato de que "o tra-balho em sala de aula não se resume a exercícios comestes elementos" e observa que tantos os conteúdosquanto suas práticas são sugestões "não se restringin-do o trabalho somente ao que está proposto".

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Arte contemporânea e diversidade cultural se unem nos novos currículos estaduais

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Uma nova maneira de ensinar Arte nas escolas públicas está em construçãono Rio Grande do Sul, Goiás e Pernambuco.

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Os endereços e dados para contato com os Pólos e parceiros daRede Arte na Escola estão no site www.artenaescola.org.br

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Patrocínio

Sem preconceito em Pernambuco

Em Pernambuco, a Secretaria de Educação apresentaas "orientações teórico-metodológicas para as lin-guagens da Arte" com o "intuito de contribuir parauma práxis pedagógica que democratize o universoda arte, possibilitando aos estudantes que elabora-rem e re-elaborem leituras de mundo mais amplas ecomplexas".O texto sugere aos professores romper com a con-cepção de uma educação artística na qual o educa-dor tinha um papel de "organizar e decorar festasescolares que obedecia ao calendário folclórico, cívi-co e religioso, não necessitando buscar ser umconhecedor de arte".De acordo com as orientações curriculares, o ensinode Arte nas escolas sofre até hoje um preconceitoinstituído pelos europeus. "A Europa universalizou aideia de que o artista pertencia à etnia branca e aogênero masculino, instituindo no Brasil um precon-ceito artístico que reverbera até hoje, traduzindo-senas expressões arte erudita e arte popular". Parasuperar tais preconceitos, diz o documento, é preci-so adotar a Arte/Educação contemporânea, "permea-da do princípio da interculturalidade que apontapara a interação/inter-relação entre diversas cultu-ras". Na visão dos autores do texto, o "papel doarte-educador configura-se como o problematizadordo universo da arte" e deve se abrir para as mani-festações culturais do cotidiano.Do ponto de vista metodológico, as orientações cur-riculares de Pernambuco citam o livro “A Imagem noEnsino da Arte”, da professora Ana Mae Barbosa, aoregistrar que a Arte/Educação contemporânea traba-lha com "a abordagem triangular, compreendidacomo um sistema que inter-relaciona três ações: acontextualização, a leitura interpretativa e o fazerartístico". O documento destaca que "por ser umsistema aberto", a abordagem triangular propõe a"superação do processo adivinhatório" e "possibilitaa articulação das ações, pelo professor, de acordocom seus conhecimentos em arte, considerando ossaberes culturais dos estudantes". O professor Fernando Antônio Gonçalves de Azevedo,da equipe de ensino em Arte/Educação da Secretariade Educação, explica que a abordagem triangularcoloca "em xeque a concepção de que arte não seensina, com ênfase no fazer desvinculado do acessoao universo da arte". De acordo com ele, a proposta

é colocar a "leitura da imagem (da obra de arte e daestética do cotidiano) como ênfase do ensino e daaprendizagem em arte".O texto elaborado pela Secretaria de Educação dePernambuco ressalta que a obra de arte é compreen-dida hoje como texto e suas quatro linguagens pos-suem uma gramática própria. "As Artes Visuais têmcomo seus atributos a linha, a cor, textura, a forma;o teatro: a palavra, a mímica facial, o gestual, ocenário, a maquiagem; a música: a melodia, a har-monia, o ritmo; a dança: o ritmo, o espaço, o movi-mento", relata o documento. Ele enfatiza que "nãohá fronteiras definidas entre essas linguagens" econstata a importância de "uma arte híbrida", naqual, por exemplo, "o cinema, o vídeo-arte, o vídeoclipe se compõem de elementos visuais, teatrais esonoros".

Avaliação nebulosa

Na opinião do professor Sebastião Pedrosa, coorde-nador do Polo Arte na Escola da UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPE), as orientações teóri-co-metodológicas ainda são muitos "gerais e teóri-cas" e ainda há algumas lacunas, principalmente nosprocessos avaliativos. "A questão de avaliação aindaé muito nebulosa no documento do Estado. Ainda hámuita confusão entre avaliação e nota", afirma.Pedrosa defende uma "avaliação permanente, reflexi-va, individual e coletiva" e acredita que ela constituihoje um dos principais ingredientes para "mudar oconceito de qualidade" da educação em Arte.Para melhorar a prática na sala de aula, ele ressaltaque a parceria entre a Secretaria de Educação e oInstituto Arte na Escola vem ajudando no desenvolvi-mento profissional dos professores. "A parceria ofe-rece mais instrumentos para o professor na sala deaula. Os DVDs do Arte na Escola aprofundam ostemas. Os professores estão muito entusiasmados; égratificante", afirma.Fernando Azevedo, da Secretaria de Educação, lem-bra também que estão em funcionamento para osprofessores três cursos de especialização emArte/Educação na Universidade Católica dePernambuco (UNICAP) e no Centro de Artes da UFPE,além da articulação com o Arte na Escola, que aten-de um grupo de 160 professores. "Nossa meta émultiplicar os conhecimentos construídos emArte/Educação", afirma.

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