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.~: -~ Gp,. 'fJaJLq.AJJl" ~ .... ~-R.-A~·.-6-9S-~9d,-·--·-·····'-----~-~'~==-===== I TEe N0C IE N C IA S/ ART ltios I. . . Goldim, J.R. "Bioetica e interdisciplinaridade", in Educac;ao, Subjetivi~ dade &Poder, nO4, pp.24'28. 1997. Knorr-Cetina, K. "Scientific communities .or transepistemicarenas~f reserch?A critique of quasieco'no~i~\nodels of science" Studies of Science, nO12,pp. 101-130,1982. Knorr-Cetiha, K. The manufacture,ot'knowledge; an essay on the cons- tructivist and contextual natureot sCience. Oxford, Perzam,m Press. 198;. '. . Latour, B. ':Give me a laboratory and I will raise the world", if\Knorr: Cetina, K.;~ulkay, M., Science Qbserv.ed. London, Sage~J9El3.c_ " Latour, B. & Woolg'ar,S. A vida de laborat6Tio; aprodw;ao dos fatos cien-: trficos. Rio, Relume Dumara:1997 .. Latour, B, Le metier dechercheur; regard d'un anthropologue. Paris: Ed.. Inra.1995. Latour, B."The force and the reason of experiment", in H. E.Le.Grand: Experiinentallnquiries. Netherland, KluwerAcademicpubiishers. 1990. Latour, B. CienCia em ac;ao. Sao Paulo, Unesp, 2000. Lehman, V, & Lorch, A. "The race for the human genome", in Biotechno- 'Iogyand Development Monitor, nO40, pp. 6-9. 1999. Lewontin, R."It ain't necessarily so. The dream of the human genome and other illusions". New York Review Books, NewYork. 2000. Nature Biotechnology, maio. 2001. Nicholas W."Analysis ofhuman genomediscovers far fewer genes", in The New York Times, feb. 12.2001. Porter, M. "Clusters and the new economics of competition". Harvard Business Review, pp. 77-90, nov./dez. 1998. Salles-Filho, S. "Disconnections betweenbiotecnology policies and mar- ketreality: comments on the brazilian experience", in Science and Public Policy, 22(3), pp. 208-209, jun.,1995. Yoxen, E."Life as a productive force:capitalising fhe sciense and techno- logy of molecular biology", in Levidow,L. & Young, B. Science, Tech- nology and the labour process. Marxist studies. Volume I. London, LSE Books. 1981. 11ft. .". . - -_ - ::: CIENCIA r lilOTECNOLOGUa' . NO.MATJV~IQADIi~'. ,.- .~- -;;--'-' partirdos novos conhecimenros tecnocienrificos no . dgwJIl.i6 vasto da genetic;a e da- tecnotogia medica . i;;.stauro\i:sena agerida m~dial a discussao e avalia- ·:.c. .<;:a.6dosinstrumenr6s normativos de prote<;:ao e de ,',' ... " res'Pfito avida. Autilizac;:ao das,novas biotecnolo- giassoDre·o§e;hum~A~.e, igl,lalinente, sobrea fauna eaflora, com- portarepe~c~sspes detod:i ordem:interesses de mercado, inreresses p6litlcose inreresses·sociais. ."" Nos pais¢s emdesenvolvimenro, notadamenre no Brasil, hia neces- sidade depromoc;:ao'Jabiotecnologiapor.meiode capacitac;:ao e por p'oliticas que orientem 0 aprendizado, 0 investimenro e 0 financia- menro, compartilhados por meio da organizac;:ao e manutenc;:ao de redes de inovac;:ao (1). Par sua vez, 0 debate publico relativo a elabora~ao de legislac;:ao, que regula as modalidades de intervenc;:ao da ciencia sobre a vida, tor- nou~se imprescindivel nas sociedades democra.ticas e pluralistas. 0 processo normativo revela-se como urn momenta complexo que se instaura desdeaapropriac;:ao da nova tecnologia, passando pela ela- bora.~ao de u'ma proposta de regulamenrac;:ao, ate a efetiva utilizac;:ao da tecnica, definind()-se na lei as responsabilidades e sanc;:6es pelo descumprimentodas_regras e principios garanridores de uma justa disuibuic;:ao dos beneficios da ciencia. BIQTECNOLOGIA E PRODU~AO DO DIREITO Aleiparece ser 0 instru- mento privilegiado para oriehtar 0 desenvolvimenro das ciencias da vida. At~cerite f()rmulac;:ao da disciplinadenominada de biodireito · repiesenra urn- ra"mo novo e revolucionario cujo inreresse repercure · e~todo 'o"lTIundo,e requer urn conhecimento transdisciplinar constantemenre 'atllalizadoe dinamico, de ac.ordo com a evoluc;:ao · dosavan<;:oscienrificos. 0 biodireito tern por objeto a vida ern aspec- tosmultiformes,com repercuss6es em variasareas do direito pu- blico, civil, penal,ambiental, dasaude, dapropriedade inrelectual, e da,familia. Alem'detransd'isciplinar, esse direiro tern como funda- mento varios textosinternacionais (2). Epreciso compreender que 0 processo deinovac;:6es biotecnologicas 'e caracterizado por muitasespeculaC;:6ese envolvem muitos inreres- ses, <:> que vem a difi~ultaro acessoainf~rmac;:ao segurada popula- c;:ao".Odesafio consiste em conceberuma visao comum e acessivel das.no<;:6es cienrificas,. que deve~iaser incorporada no direito para fundamenrar regras bastanreclaras e objetivas. As leis naci<:>nais devem estar estruturadas sob a base das regras e principio;'de ambltointernacional estabelecidos atraves de conven- c;:6es,abrindo-se urn caminho na esfera dos direitos humanos para a cria<;:aode urn direit9 internacional das ciencias da vida, inspirado na protec;:ao da dign.idade da pessoa humana.

Artigo clonagem 1

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.~: -~ Gp,. 'fJaJLq.AJJl" ~ ....~-R.-A~·.-6-9S-~9d,-·--·-·····'-----~-~'~==-=====~---

I TEe N 0 C IE N C IA S / ART ltios I.. .

Goldim, J.R. "Bioetica e interdisciplinaridade", in Educac;ao, Subjetivi~dade &Poder, nO4, pp. 24'28. 1997.

Knorr-Cetina, K. "Scientific communities .or transepistemicarenas~freserch?A critique of quasieco'no~i~\nodels of science"Studies of Science, nO12,pp. 101-130,1982.

Knorr-Cetiha, K. The manufacture,ot'knowledge; an essay on the cons-tructivist and contextual natureot sCience. Oxford, Perzam,m Press.

198;. '. .Latour, B. ':Give me a laboratory and I will raise the world", if\Knorr:

Cetina, K.;~ulkay, M.,Science Qbserv.ed. London, Sage~J9El3.c_ "Latour, B. & Woolg'ar, S.A vida de laborat6Tio; aprodw;ao dos fatos cien-:

trficos. Rio, Relume Dumara:1997 ..Latour, B, Le metier de chercheur; regard d'un anthropologue. Paris: Ed..

Inra.1995.Latour, B. "The force and the reason of experiment", in H. E.Le.Grand:

Experiinentallnquiries. Netherland, Kluwer Academicpubiishers.

1990.Latour, B. CienCia em ac;ao. Sao Paulo, Unesp, 2000.Lehman, V, & Lorch, A. "The race for the human genome", in Biotechno-

'Iogyand Development Monitor, nO40, pp. 6-9. 1999.Lewontin, R."It ain't necessarily so. The dream of the human genome and

other illusions". New York Review Books, New York. 2000.Nature Biotechnology, maio. 2001.Nicholas W."Analysis of human genome discovers far fewer genes", in

The New York Times, feb. 12.2001.Porter, M. "Clusters and the new economics of competition". Harvard

Business Review, pp. 77-90, nov./dez. 1998.Salles-Filho, S. "Disconnections between biotecnology policies and mar-

ket reality: comments on the brazilian experience", in Science andPublic Policy, 22(3), pp. 208-209, jun.,1995.

Yoxen, E. "Life as a productive force: capitalising fhe sciense and techno-logy of molecular biology", in Levidow, L. & Young, B. Science, Tech-nology and the labour process. Marxist studies. Volume I. London,

LSE Books. 1981.

11ft. .". . - -_ - :::

CIENCIArlilOTECNOLOGUa'•. NO.MATJV~IQADIi~'.

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partirdos novos conhecimenros tecnocienrificos no. dgwJIl.i6 vasto da genetic;a e da- tecnotogia medica. i;;.stauro\i:sena agerida m~dial a discussao e avalia-

·:.c..<;:a.6dosinstrumenr6s normativos de prote<;:ao e de,',' ..•. " res'Pfito avida. Autilizac;:ao das,novas biotecnolo-

c·giassoDre·o§e;hum~A~.e, igl,lalinente, sobrea fauna eaflora, com-portarepe~c~sspes detod:i ordem: interesses de mercado, inreressesp6litlcose inreresses·sociais. ." "Nos pais¢s emdesenvolvimenro, notadamenre no Brasil, hi a neces-sidade de promoc;:ao'Ja biotecnologiapor.meiode capacitac;:ao e porp'oliticas que orientem 0 aprendizado, 0 investimenro e 0 financia-menro, compartilhados por meio da organizac;:ao e manutenc;:ao deredes de inovac;:ao (1).Par sua vez, 0 debate publico relativo a elabora~ao de legislac;:ao, queregula as modalidades de intervenc;:ao da ciencia sobre a vida, tor-nou~se imprescindivel nas sociedades democra.ticas e pluralistas. 0processo normativo revela-se como urn momenta complexo que seinstaura desde a apropriac;:ao da nova tecnologia, passando pela ela-bora.~ao de u'ma proposta de regulamenrac;:ao, ate a efetiva utilizac;:aoda tecnica, definind()-se na lei as responsabilidades e sanc;:6es pelodescumprimentodas_regras e principios garanridores de uma justadisuibuic;:ao dos beneficios da ciencia.

BIQTECNOLOGIA E PRODU~AO DO DIREITO A lei parece ser 0 instru-mento privilegiado para oriehtar 0 desenvolvimenro das ciencias davida. At~cerite f()rmulac;:ao da disciplina denominada de biodireito·repiesenra urn- ra"mo novo e revolucionario cujo inreresse repercure· e~todo 'o"lTIundo,e requer urn conhecimento transdisciplinarconstantemenre 'atllalizadoe dinamico, de ac.ordo com a evoluc;:ao

· dosavan<;:oscienrificos. 0 biodireito tern por objeto a vida ern aspec-tosmultiformes,com repercuss6es em varias areas do direito pu-blico, civil, penal,ambiental, da saude, da propriedade inrelectual,e da,familia. Alem'de transd'isciplinar, esse direiro tern como funda-mento varios textosinternacionais (2).Epreciso compreender que 0 processo deinovac;:6es biotecnologicas'e caracterizado por muitasespeculaC;:6es e envolvem muitos inreres-ses, <:>que vem a difi~ultaro acesso a inf~rmac;:ao segura da popula-c;:ao".Odesafio consiste em conceber uma visao comum e acessiveldas.no<;:6es cienrificas,. que deve~ia ser incorporada no direito parafundamenrar regras bastanreclaras e objetivas.As leis naci<:>naisdevem estar estruturadas sob a base das regras eprincipio;' de ambltointernacional estabelecidos atraves de conven-c;:6es,abrindo-se urn caminho na esfera dos direitos humanos para acria<;:aode urn direit9 internacional das ciencias da vida, inspiradona protec;:ao da dign.idade da pessoa humana.

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IT E ( N 0 C I ENe I A S fA R T I G 0 5 I

, .A ••••AIORPREOCUPA~Ao

" ••••UMDIALE A":QUESTAo DA. SAUDEEDA_QUALIDADE DEVIDA DO HO••••E•••••

o debate que alicen;:a a formulac;:ao do biodireito assenta-se, por-tanto, sobre 0 principio dadignidade da pessoa huhlana. 0 reconhe-cimento e a afirmac;:ao da dignidade humana, conquanto seja estaurn direito fundamental,sofre constante impacto das contingenciasdos interesses economicos ou daHransformac;:6es culturais.Os poderes da biomedicina conferem a possibilidade de transforma-c;:aoprogramada da vida planedria sendo queLtodas as possibilida-des que estavam no plario teorico ou potenciais, neste momento

.• estao em fase de plena possibilidade de realizac;:ao.A maior preocupac;:ao mundial e a questao da saude e da qualidade devida do homem. Adiscussao ecologica e a preocupac;:ao com 0 meioambiente e a protec;:aodos recurs os ecologicos vinculam-se direta-mente asobrevivencia do ser humano e aos direitos humanos. Se a pes-quisa genetica avanc;:oude forma incomparavel nesses ultimos anos e,justameri.te, porque objetiva encontrar soluc;:6espara por um fim a umnumero impressionante de doenc;:as heredidrias raras e de doenc;:ascomuns e avassaladoras como diabetes, doenc;:ascardioyasculares,doenc;:asneuropsiq uiatricas, cancer eAids. Porranto, 0 avanc;:oda cien-cia nao podeser contido por simples tabus ou preconceitos tendo emvista os grandes interesses sociais envolvidos. Entretanto, deve-se ado-tar urn criteriode prudencia e de responsabilidadepara a aceitac;:ao das novas intervenc;:6es sobre 0 serhumano e sua descendencia.A base de sustentac;:ao que ofere cera condic;:6es paraque 0 Estado intervenha naspesquisas e descober-tas cientificas, sera aconsagrac;:ao do principio da'dignidade.da pessoa hum aria, que fundamenta'invariavelmente 0 debate filosofico, tendo sido'incorporado pelo cliscurso juridico e presente nasmiis variadas legislic;:6es.Embora seja diffcil elaborar urn conceito juridicode dignidade da pesso~ hUInana, Sarlet apresent;-nos uina bo~ definic;:ao: " ... a qualidade intrinsecae,distintiva de cada serhumano que 0 faz mere~edot domesmo res-peito e.considerac;:ao por parte do Estadoe da c01l}unidade, impli-cand6, neste sentido;um complexo de direitos e de;-:eresfundamen-raiseque assegursm a pessoa tanto contra tado equalquer atode:

.cunho ~egradante e desumano, comovenham a: lhegarantii: as con-, dic;:6esexistenciais minimas parauma vida saudavel,alem de prop i-ciif e promover sua participac;:ao iuiva e co-responsayel nos d~stinosdapropria existendae david~em comunhaocolllos demais seresh'Umanbs" (3).·

- ",.- _ c: ~~"'_ ':;~': .." , --:-'-

A RELEVANCIADOS~RI~cfpIOS CONS'IHUCIONAIS' A quesrao quereveste 0 debate'sabre a biomedicina e os limites juridicos aseremeXigidosnaSpesquisilS gen.ericas deve ser traraCia aluz dos compro-missosjudaico~ fU~~aineIitais,prindpaim:ent~; oprincipio da pro-~~c;:ioadignidadedapesso2ahumana, queatribui iiriidade e sentidoa:ofdem-"cotistithclonal. - - :,i.:.N:~sta perspecthia,~~ite'ra-se a im portanciad~ ftindam~ntai- as dis-c~ss6esdo .biod!'reitc{s·ob p'prisma dos prinCipios'_~oristitucionais

-~ que assegur-am prote?aoao ser humano, a biodiversidade, e que'prOlb~ina c~hierc.ializa~go de orgaos e fJn~6es.doco'rpo humano, ,

--'--~

garantindo a protec;:ao a vida e a liberdade de cada cidadao. 0compromisso do Estado brasileiro para com a vida e a liberdadede cada urn esd assegurado pelo artigo 50 do texeo constirucional.o dispositivo garante 0 direito a igualdade; 0 direito a vida; 0direito a liberdade; 0 direito a seguranc;:a, que envolve 0 direito aintegridade fisica e moral.Mais adiante, 0 artigo 196 reconhece asaude como urn direito de todos e dever do Estado, sendo que,para possibilitar a realizac;:ao deste direito, deve 0 Estado criarpoliticas publicas para reduzir 0 risco de doenc;:a e de agravos eoporrunizar 0 aces so universal igualidrio as ac;:6ese servic;:os paraa sua promoc;:ao, protec;:ao e recuperac;:ao. A protec;:ao do direito avida esd assegurada pela Constiruic;:ao Federal de 1988, de modoque, alem de resguardar a dignidade da pessoa humana, protege-se 0 bem j uridico fundamental que e a vida, compreendida em seusenti do biologico, 0 direito de viver humanamente, e, num senti-do transcendente, de desenvolver livremente sua personalidade.o texto constirucional nao faz referencia ao esdgio da vida hu-mana, definindo tutela ao embriao ou nasciruro, por outro lado,a previsao' da protec;:ao a maternidade e a priorizac;:ao dos direitosda infancia sao previstos pela Constiruic;:ao.

o corpo humano nao pode ser objeto de atividademercantil, pelo principio da indisponibilidade docorpo humano, conforme preve 0 artigo 199, para-grafo 40 da Constiruic;:ao, A extra-comercialidadeseria a garantia da realizac;:ao do principio da inte-gridade e da dignidade da pessoa humana. Dessemodo, a doac;:aode orgaos, de sangue, tecidos, leitematerno, deve ser estimulada, mas a pratica remu-nerada de qualquer desses elementos do corpohumano deve ser considerada como urn caso gravede ilicitude pen;l e civil, do mesmo modo que aremunerac;:ao pela c~ssao de utero, nos casos dematernidade por substiruic;:ao. Com relac;:aoa doa-

c;:aoqe orgaos em vida, so e cogiravelaautorizac;:ao, no caso deorgaos duplos ou tecidos regeneraveis, parcial ou totalmente, quenao comprometem as func;:6es vitais, as aptid6es fisicas e que naoprovoquem deformac;:ao do corpo do doador.(4)Apreocupa<;:ao com 0 direito a urn meio-ambiente ecologicamenteequilibrado justificou a inser<;:a~do direito a biodiversidade e a inte-gridade do patrimonio genetico da humanidade na Constituic;:aobrasileira, em seu arrigo 225, oferecendo urn conjunto de principiosnorteadores para a ac;:~ogovernamental.A p'rotec;:ao do patrimonio 'genetico da humanidade representa agarantia de que nao ocorrerao alterac;:6es que possam vir acarretarpossibilidades de transferencia a outras gerac;:6es das alterac;:6esimplementadas nos genes, tendo em vista a impossibilidade de pre-~er os riscos futuros destas intervetic;:6es. A possibilidade de mellio-,riados genes nao justifica, neste momento, 0 risco nao calculavel deque tai~ intervenc;:6es nao acarretemprejufzos as gerac;:6es fururas.Essedireito esta diretatnentevincula.doa ideia de protec;:ao a biodi-

.versidade e ao ambiente ecologicamente equilibrado, devendo dis-por a humanidade de uma naiurez~inte'gra e preservada das ingeren-eras'inconscientes do mundo cientifico.

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IT EC NO C I EN C I A S / ART I G>O 5 I

••.A DISCUssAoQUESE·,

. . ESTABELECE ..EQUANTO_~ODIREITO DO~'

CLONE A SUAIDENTIDADE·"

ES~ECiFICA ••.;

,;LONAGEM HUMANA E DIREITO A IDENTIDADE A utiliza~ao da tec-nica que possibilitara a clonagem humana consiste em urn dostemas. ~lemaior discussao dos Ultimos meses. Ela comportadiversosentenrumentos e merece urn maior aprofundament6 do ponto devista cientifico para estabelecimemo de urn consenso sobre a perti-

, nencia em proibi-la, aceira-la com condi<;:6esou liberar as pesquisassem constrangimentos. Na segunda hip6tese, autorizando-se a clo-nagem para fins terapeuticos, a partir da utiliza<;:ao de celulas

,trorico-embrionarias pretende-se tratar doen~as graves, produ-zindo-se, ate mesmo, 6rgaos para aqueles que necessitem de trans-plantes. Se a clonagem terapeurica parece possivel de ser aceita pelaspromissoras perspectivas que se apresentam, entretanto, a donaegem humana sob 0 prisma reprodutivo, comporta urn grandedilema, tendo em vista que aviabilidade da realiza<;:aoda'duplica-<;:aodo ser humano implica na possibilidade de se programar 0 nas-cimemo de uma crian<;:asob medida, negando-se a sua idemidade,o que acarretaria serios problemas na ordem das rela<;:6esfamiliarescom reflexos no imbito psicol6gico.Nesse sentido, a inquieta<;:aosobre a condi<;:aohumana a partir daspossibilidades de clonagem, representa uma indaga<;:aonecessaria,sendo que nenhuma resposta deve ser definitiva,evitando-se 0 dominio ou a hegemonia de qualquer

, cultura sobre uma outra. As solu~6es devem serconstruidas provisoriamente e a partir de concep-<;:6esdiferentes acerca da vidae do papel das inter-ven<;:6esdaciencia na natureza.o direito it identidade faz parte integrante dosdireitos personalissimos, ou seja, tern importinciaintrfnseca e pertence a todo ser humano, indistin-tamente. No que consiste especificameme it clo-nagem com fins reprodutivos, p6e-se em discus-sac a afronta direta ao direito it identidade doindividuo

oem conhecer sua origem, de reconhe-

cercse com ser unico e "irrepetivel". Se, pelo olhar da genetica, 0

individuo clonado e identico ao seu clone, do ponto 'de vista dasubjetividade, da personalidade, cada ser humano e unico. Entre-tanto, a discussao que se estabelece e quamo ao direito do clone asua identidade espedfica e 0 acesso a suas origens e a idemifica~aodo paremesco.Decorre do prindpio da igualdade entre todos os homens nao rece-ber tratamento discriminat6rio e, no caso da clonagem reprodutiva,esse prindpio e voluntariamente atingido por meio da instrumenta-liza~ao do ser humano, concebido pela tecnica da clonagem e que,pelos motivos acima descritos, nao dispori dos direitos fundamen-tais assegurados a toda pessoa humana.Na tecnica da clonagem reprodutiva, conforme Junges: "0 perigodeste tipo de procedimento e empobrecer a diversidade genetica,pois atr:ives da mixagem doscaracteres, introduzem-se novidadesnas combina~6es possiveis entre os genes. Diminuir estas possibili-dades significaria perder urn patrimonio de hiodiversid~de quelevou milh6es de anos para se constituir e nao se tern as condi~6es deaferir as conseqiiencias, no futuro, desta nivela~ao e, aprender a con-troIa-1as em poucos anos" (5).

Apreocupa~aocom a formula~ao normativa evasta levando a per-ceher que as discuss6es sobre os temas do biodireito perpassam anecessida~e de cumprimento das leis ja existentes e a realiza~ao dosdireitos fundameni:aisdocidadao, que estao inseridos na CartaConstirucional de 1988. A grande preocupa~ao e a necessidade deelaborar-se um.juizocdtlco com rela~ao aos efeitos sobre 0

homem, a sua desceride:I1~iae 0 meio ambiente, quando da ado~aode novas biotecnologi~s. ,.

. Para garantir a prote~io dos direitos fundamentais do homem e damullier, 0 direito;4ev~ il1tervir para reprimir abusos, como as expe-riencias comseres hu·~anos; para e~tabelecer regras de conduta acertas categoriasprofjssionais, a partir dos c6digos de etica medica;para garantiro direito'doS individuos 'e a perenidade da especiehumana 77 patrimo~io'genetico indisponivel e a biodiversidade. 0direito deve assegurarb respeito e a prote~ao aos Direitos doHomem, as regras das Na~6es Unidas, as resolu~6es da Organiza~aoMundial da Saude. ~,Reconhece-seo eSfor~o dispens?-do para a elabora~ao e discussao dediversos instrumemos ini:ernacionais de prote~ao itvida, itdignidadehumana,'ao' mei() ambiente e it diversidade biol6gica. A Declara~ao

Ibero-l~tino-americana sobre etica e genetica ela-borada em Manzanillo, em 1996, e revisada emBuenosAires, em 1998, revel a a importincia daDe'clara~aoUniversaldaUnesco sobre 0 genomahumano e os direitos humanosdi: 1997, do Conve-nio do Conselho da Europa sobre direitos humanos

, e.Biomedicina enfatizaridoa necessidade em garan-tir-se 0 respeito it dignidade, itidentidade e it ime-gridade humanas e aos direitos human os reafirma-dos em documemos juridicos internacionais. Alegisla~ao internacional, para ser respeitada, condi-ciona a que a incidencia imerna esteja assegurada

.em cad a urn dos paises signatarios. Contraria-meme, podecse preyer novas maneiras, extremamente aviltantes,por certo, de se fomentar aespolia~ao das na~6es desenvolvidassobre as subdesenvolvidas, nas complexas rela~6es norte-suI.

NOTAS CONCLUSIVAS 0 estudo sobre as implica~6es jurfdicas dautiliza<;:aodas modernas biotecnologias .sobre 0 ser humano e 0

meio ambiente insere-se na preocupa~ao sobre a maneira com aqual os paisesdetentores dessas tecnicas buscam enfrentar os riscosde se estabelecer urn dominio tecnico~cientifico, em oposi<;:aoaosvalores que alicer<;:ama forma~ao de uma sociedade livre, que dis-tribua com justi~a, os beneffcios oferecidos pelos avan~os na medi-cina. Para coibir abusos nautiliza~ao das novas descobertas damedicina, havera necessidad<: de se elaborarem leis, a partir de urnamplo conhecimento dos riscos e dos beneficios de cada nova tera-pia, que nao venham a impedir os avan~os da ciencia, necessariositvida planetaria.Alem de maior transparencia dos procedimentos cientfficos, 0

grande dilema parece ser 0 de romper a no~ao competitiva e indivi-dualista da ciencia na distribui~ao de seus beneffcios (6). Uma refle-xao, que permita levar em considera~ao as diferen~as culturais e se

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IT ECN 0 C I E N C I A S fA R T I G 051ajuste as realidades locais, devera permearas escolhas normativasem nosso pais.a Brasil vive um,momento importirite no imbito legislativo pro-movendo 0 debate sobre diversas quest6es de grande relevancia pararoda a sociedade. A profusao de projetos de lei destinados a regula-mentarem diversos temas - notadamenie, a proposta de uma novalei sobre a biosseguranya (240112003); urrialei para reproduyaohumana assistida, uma lei disporidosobre 0 acesso e utilizayao dedados geneticos, sobre 0 patrimonio genetico, sobre a pesquisa emseres humanos-,demonstram que hao interesse em legislar. Variosoutros projeros de lei enfrentam temas.de grande interesse social'esanitario, dentre eles, os que visam dar uma nova configurayao j uri-dica ao aborto,do recurso aosexamescde DNA e da investigayao depaternidade, da proteyao aos direitos dotransexual, da pesquisa emseres humanos. A dificuldade na aprovayao desses projetos se encon-tra nas quest6es de ordem poVtica 6ureligiosa que permeiam 0

debate e que, invariavelmente, dificultam a aprovayao dos prbjetosque melhor respondem aos interesses da inaioria da sociedade.As escolhas normativas nao devell1 ter pretensao de serem definiti- .vas e completas,deverido estimular 0 avan<;:oda pesquisa e da inova-yao tecnol6gica etentar conciliar com os principios juridicos referi-dos anteriormente. a debate deve ser amplo, envolver os diversossetores e demonstrar a necessidade deconsensos act rea de temaspolemicos, urn equilibrio de vontades baseado em urna soluyao decompromisso. Enfim, a produyao de uma ordem normativa que res-ponda,aos desafios de nosso tempo.

Maria Claudia Crespo Brauner edoutora em dirtito pela Universidade de Rennes (Fran,a); pro-fessora ~pesquisadorddedirtito,. bioetica e biodireitodo Programa de P6s,Gradua,iio em Dirtitodo Unisinos; niembro do Sociedade Rio-Grandeme de Bidetica (Sorbi), doSociedode Brasileira deBioetica (SBB), e dolnititut International de Recherche'i!nJthique Biomedicale (IIREE).

1. Bonacelli, M.B.M e Salles-Filho, S.L. Me"Estrategiasde inova~~o'nodesenvolvimentoda moderha biotecnologia';,ln Biotecno/ogia emdiscussao. Cadernos Adenauer. nO8. p21,2000.

2. Lenoir, N. ';Respect I avie et droit du'vivaIJt,,:'in (eds) Noble, D; Vincent,·J.D.:L:ethique du vivant. Paris. Edi<;5es,Unesco.1998

3: Sarlet. I. W: Dignidade da pessoa hurri~~hae direitos fundamentais.Porto Alegre; Livraria do Advogado ..p.62.2002.

4. Previsao doartigo 99 §3 da lei9.434197-sobrea'remo<;ao de 6rgaos:teci-'

cjosepartes.doC0rpo hUr(1aIJOpara fiIJ~detra;;sprantes e tratar(1~nto.5.:JUng~S,J.R. Bioetica -perspectivase.desafio~.·sao Leopolda: Unisi-. -nos,p.254.1999:<:, .

.6.~raiJne;-. M.C.'C.Direito, sexualidade~repropu<;a6humana. Co~quis-

.' ias medicase 0 debate bioetico. Rio.de Janeiro: Renovar. 2003

PESQUI5A EM SA-UOEE REFORMASAN~TAR~~

om a possivel exceyao da pesquisa militar, a saude e 0

setor que despende a maior quantidade de recursosem termos mundiais. Em 1998, estimava-se teremsido algo como US$ 73,5 bilh6es (1), dos quais maisde 90% nos paises ricos e visando resolver os seus pr6-

prios problemas.Em contrapartida, 0 esforyo realizado pelo Brasil no terreno da pes-quisa em saude e admiravel. No plano hist6rico, ela e a mais antigae a que acumula as maiores contribuiy6es em nivel mundial. Hojeem dia, em termos setoriais, e a que detem 0 maior numero de pes-quisadores, linhas e grupos de pesquisa ativos. Ate julho de 2002,eram quase5 mil grupos com pelo menos uma linha de pesquisa emsaude e cerca de 18 mil pesquisadores (11 mil doutores) envolvidosnas mesmas. Dependendo da forma de medir, isso representa entre25% e 30% do esforyo total de pesquisa no pais.Mas quando se formula a pergunta - "Qual 0 grau de interayao dapesquisa em saude com a Politica Nacional de Saude no Brasil dehoje?" - hi motivos para preocupayao, pois ela parece estar aquemdo desejivel. Se pudessemos contar quantos dentre os pesquisadoresmencionados acima definem suas prioridades de pesquisa em con-sonancia com prioridades explicitas de pesquisa oriundas da PoliticaNacional de Saude, provavelmente chegariamos a urn resultadopouco animador. Apesar de evoluir desde os anos 1950, essa dificul-dade foi enunciada com clareza apenas em 1994, na 1a ConferenciaNacional de Ciencia eTecnologia em Saudecuja resoluyao final esta-beleceu que "apolitica de pesquisa em saude e urn componenre daPolitica Nacional de Saude". Na simplicidade da frase se escondeuma tarefa de dificil execuyao e, de fato, passados quase dez anos da1a Conferencia, ela ainda nao foi realizada.Mas, no plano hist6rico, houve t~mpo em que essa interayao foimuito maior. Portanto, talvez nao s,errate apenas de introduzir urnpadrao original de pratica de pesquisa, mas de recuperar urna tradi-yao centenaria emnosso pais, posto que ela esti na raiz cia pesquisaem saude no Brasil, no Instituto Bacterio16gico de Sao Paulo (comAdolfo Lutz), no InstitutCldeManguinhos (com OswaldoCruz), noInstituto Butantan (com Viral Brasil) e no Instituto Biol6gico de SaoPaulo (comArrur Neiva e Rocha Lima). Essasinstiruiy6es, desde 0

final do seculo XIX e are os anos 30do seculo XX, nada mais fizeramdo que praticar uma pesquisa com intensos vinculos com as politi-cas de saude, inspiradas no modelo de Pasteur. Urn pouco maistarde, podemos citar tambem 0 Instituto EvandrQ Chagas de Belem,tendo a frente 0 'seu patrono. Nelas, cada uma.a seu modo, fez-seuma pesquisa experimental, muitas vezes de fronteira, que nuncateve dificuldad~ ,em manter seus compromissos com 0 atendimentoas necessidadesde saude da populayao. Que foi capaz de amalgamar