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1º ano: Apostila 01 / Aula 05 ARISTÓTELES E O MUNDO SENSÍVEL Professor Claudio Henrique Ramos Sales FILOSOFIA

Aula 05 - Aristóteles e o Mundo Sensível

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1. 1 ano: Apostila 01 / Aula 05 Professor Claudio Henrique Ramos Sales FILOSOFIA 2. ... mais inteligente aquele que sabe que no sabe... Scrates 3. A filosofia como o vo inaugural de um pssaro que ao sair do ninho pode experimentar suas asas. Ele agora est aberto para o mundo. 4. Voc est aberto ao conhecimento? Lembrem-se, por detrs da coisas mais simples h grandes enigmas! 5. Portanto, meus amigos, convido-os a reflexo; a observar a extenso de suas prprias asas. 6. A filosofia nos ajudar na montagem desse quebra-cabea! 7. Aula 5 Aristteles e o mundo sensvel 8. Ser que a razo pode nos enganar? 9. Paradoxo de Zeno: Aquiles e a tartaruga Um dos paradoxos de Zeno envolve Aquiles e a tartaruga: se Aquiles competir em uma corrida com uma tartaruga e sendo que a tartaruga comea na frente, Aquiles nunca alcanar a tartaruga, no importa quo rpido ele corra ou devagar que a tartaruga rasteje, uma vez que quando Aquiles chega na posio inicial da tartaruga, ela ter avanado um pouco; quando Aquiles cobrir esta distncia, a tartaruga ter ido um pouco mais adiante e assim indefinidamente, de tal forma que Aquiles nunca alcana a tartaruga (CARNIELLI; EPSTEIN, p. 25-26). Logo, o movimento impossvel se espao e tempo forem infinitamente divisveis (CARNIELLI; EPSTEIN, p. 26) 10. Voc tambm pode conceber o que esse paradoxo traz tona como o seguinte: Entre dois pontos, A e B, existe uma certa distncia. Digamos que esta fosse de 10 metros. Para voc alcanar os 10 metros, voc tem de passar pela metade dessa distncia, 5 metros. S que, para percorrer dos 5 metros para os 10 metros, voc tem de passar pela metade dessa distncia, 2 metros e 50 centmetros. Mas novamente, voc teria de percorrer metade Se voc quiser ir calculando de metade para metade da distncia, voc logo ver que existem infinitos pontos que iro se configurar como metade da distncia. Ento, por mais que ele se mova para cada vez mais perto de B, ele nunca atinge B. 11. Ningum duvida do fato de que Aquiles alcanaria a tartaruga, mas isso no representava para Zeno uma prova da falsidade do paradoxo, porque tal fato, sendo fenomnico*, no real, virtual. O argumento convenceu Plato, que, na elaborao de seu sistema filosfico, considerou que o movimento no faria parte da realidade do mundo inteligvel, ou mundo das Ideias, concebido por ele, ficando confinado ao mundo sensvel. * Fenomnico: o "nosso" mundo, aquilo que s existe em nossa mente e que pode ser "mentira" mas achamos que real porque "fantasiamos a realidade". 12. A Cascata de Maurits Cornelis Escher (1898-1972) Agora observe a gravura A Cascata de Escher. Na imagem a gua est descendo ou subindo? 13. Qual o truque desta iluso? 14. A sensao de estranhamento que experimentamos ao ler o paradoxo e ao observar a imagem certamente se deve ao fato de que ambos parecem nos enganar, constituindo-se em verdadeiros desafios razo e aos sentidos. Fugir do engano, do erro foi a principal meta dos filsofos gregos, que em geral valorizam muito o papel da razo para se conseguir isso. 15. Continuando nossos estudos sobre Teoria do Conhecimento falaremos agora sobre aquele que chamado por muitos de O Filsofo. Aquele cujas explicaes sobre a natureza durariam por sculos, at que os homens ganhassem olhos para ver alm do cu. o incansvel Aristteles (384 322 a.C)! Que foi, alis, professor de Alexandre, o Grande. Fonte para composio da aula: MUOZ, Alberto A. O Paradigma Aristotlico in: Curso de Filosofia Poltica. So Paulo: Atlas, 2010. 16. Natural da Macednia. Com 16 anos ingressa na Academia de Plato. Estudou durante 20 anos na Academia. Com a morte de seu mestre, funda sua escola: Liceu. 17. Aristteles (384-322 a.C.), foi um pensador originrio de Estagira. Antes dos 20 anos, mudou- se para Atenas e ingressou na Academia de Plato. Seu pai era mdico, e isso influenciou Aristteles principalmente no diz respeito a sua capacidade de observao e de tentar obter informaes ou desenvolver modelos tericos a partir dos sintomas que se apresentam diante dos sentidos. 18. Por ser estrangeiro vivendo na cidade de Atenas, no possua os direitos polticos dos cidados atenienses. Dessa forma sua relao com a democracia ateniense se limitou especulao terica. Mas isso no diminuiu sua importncia poltica, j que devido sua origem e proximidade entre sua famlia e os governantes da Macednia, Aristteles foi escolhido para ser professor do jovem Alexandre, que mais tarde iria conquistar um vasto imprio e o governaria com o nome de Alexandre, o grande. 19. Em Atenas, fundou uma escola chamada Liceu, que rivalizaria com a Academia de Plato. Nessa poca, seus discpulos eram chamados de peripatticos (que significa os que passeiam), devido ao hbito de realizar debates enquanto caminhavam. 20. O pensamento de Aristteles notvel por ter produzido uma vasta sistematizao do conhecimento. Na busca por organizar os conhecimentos sobre o mundo, o filsofo acabou por diferenciar as reas do saber de acordo com seus objetos de estudo particulares (essas classificaes influenciam at hoje nossa diviso das cincias). 21. Classificao Aristotlica das Cincias Principais Contribuies tericas Poiticas (ou produtivas) Finalidade exterior ao conhecimento: visam a produo de um objecto (ex. Arquitectura; Medicina) Cincias Prticas Finalidade distinta do conhecimento: visam a ao (exs: tica; Poltica) Tericas Finalidade o prprio conhecimento (Metafsica; Fsica; Matemtica) 22. Classificao Aristotlica das Cincias Principais Contribuies tericas Metafsica Tericas Fsica Matemtica Poltica Cincias Prticas Economia tica Potica Poiticas Arquitectura Medicina 23. Principais Contribuies tericas Metafsica: Busca o conhecimento das causas mais especificamente das causas primeiras, a mais elevada das cincias; Quatro causas (material, eficiente, formal e final) no aprisionam a realidade, mas nos ajudam a compreend-la; a finitude das causas que torna possvel o conhecimento; Fsica: Estudo da natureza, do vir-a-ser, transformao da matria. Analisa o movimento considerando espao e tempo. Esttica: A arte no se ocupa da natureza nem da histria, mas da beleza (um bem que agrada). Belo: ordem simetria e determinao. 24. Principais Contribuies tericas Psicologia: Investiga sobre a alma, seus atos, sua natureza e suas propriedades. Princpio vital do corpo unida a ele naturalmente como forma sua matria, de maneira substancial, constituindo um composto nico e natural, que a pessoa humana. tica: Virtudes (do intelecto e morais) a maior de todas a amizade, sem ela no h felicidade completa. Poltica: Origem do Estado natural e no convencional. Os homens se unem instintivamente e no por contrato. 25. Segundo Aristteles, as substncias apresentam certas peculiaridades. Uma substncia no apenas certa quantidade de matria; ela tambm apresenta uma forma. A matria um suporte passivo que precisa de uma forma para tornar-se uma coisa; j a forma algo que pode ser percebido pela razo a partir da observao. A substncia touro s percebida como tal porque conhecemos a forma touro. 26. Mas a forma tambm um princpio de funcionamento, que faz com que as coisas estejam sempre mudando e se aperfeioando. Assim, a forma rvore est contida na semente, o adulto est contido na criana. Nesses exemplos, a rvore e o adulto representam a essncia de uma forma. Todas as coisas existem em potncia e em ato: enquanto uma coisa em potncia uma coisa que tende a ser outra (semente), a coisa em ato algo que j est realizado (a rvore). Nesse sentido, cada forma especfica contm uma dinmica interior, um movimento que faz com que ela passe da potencialidade realidade 27. Mas de onde viria essa dinmica interior ou movimento? Cada potencialidade surgiu necessariamente de uma causa externa, ou seja, de uma forma j desenvolvida: a semente surgiu de uma rvore. A causa tudo aquilo que contribui para que um ser se torne real. Aristteles distinguiu: 28. - Aristteles um atento observador da natureza. Para ele, o uso dos nossos sentidos parte vital neste processo e devemos confiar neles para tal. - Nesta busca por conhecer o funcionamento do mundo o filsofo dir que explicar alguma coisa dizer quais as suas causas. Como assim causas? Que causas so essas e o que elas querem dizer? Vejamos ento a teoria das quatro causas. causa material explicao pela matria que compe o objeto Ex: a mesa feita de madeira, que , feita de terra. Pode ser tambm de pedra. causa formal explicao pela forma do objeto Ex: A mesa um objeto com tampo e pernas que o sustentam 29. causa eficiente explicao pelo fator ou processo que desencadeou a existncia do objeto Mas a causa mais importante de todas a: causa final: Explicao pela finalidade do objeto. a causa final que diz o propsito para o qual um objeto foi feito, o que ele tem de fazer. Para Aristteles todas as coisas na natureza tem um propsito, que sua causa final. S realizando esta causa que algo se torna aquilo que de verdade. 30. Causa material: o material de que algo feito (madeira, mrmore, carne e osso). Causa formal: referente forma (rvore, homem, touro). Causa eficiente: responsvel por realizar a potencialidade de uma matria. Causa final: objeto ou finalidade do desenvolvimento da forma. 31. Essa diviso ficou conhecida como teoria das quatro causas. Aristteles ilustra isso com o exemplo de um escultor (causa eficiente) de uma esttua de mrmore (causa material), que representa o deus Hrmes (causa formal) com a inteno de criar uma forma bela (causa final). No que se refere a natureza, surge a questo de qual seria a causa eficiente e qual seria a causa final dos movimentos observados no universo. 32. nesse ponto que se chega ao conceito de Deus a Causa Primeira de tudo o que existe. 33. A natureza nada faz em vo Aristteles entende que tudo que existe precisa realizar sua causa final. Esta finalidade (do grego tlos) esta impressa ou inscrita em todas as coisas da natureza. Realizar a causa final , em outros termos, tornar ato (tornar efetivo no mundo) o que existe em potncia (aquilo que algo pode ser). Uma pergunta interessante a se fazer : quais condies permitem potncia de algo tornar-se ato? A semente de macieira tem em potncia a macieira. A rvore germinada e que d mas uma macieira em ato. 34. Para Aristteles, no s as causas explicam algo. antes de tudo a forma aquilo que define o que uma coisa , ou seja, que diz qual a essncia desta coisa. Este conceito de forma no quer dizer simplesmente o formato de algo, mas algo mais. Forma para Aristteles tem os seguintes sentidos: o que expressa a estrutura de algo. o que lhe confere identidade. aquilo que permite agrupar algo em uma espcie. o que define o estado final de desenvolvimento de algo e que determina o caminho at ele. o que limita as possibilidades de algo. Pela forma de um objeto sabemos que ele poder ser uma coisa e no outra. A forma do co impede que ele seja um gato, e explica como um co deve ser. 35. Perceba como essa noo tem diferenas importantes em relao a Plato: FORMA = IDEIA (mundo das ideias) As formas existem num mundo diferente daquele que acessamos pelos sentidos FORMA Algo que est nos objetos e no num mundo fora deles. acessvel aos sentidos Plato Aristteles 36. Crtica de Aristteles Plato 37. Plato e seu discpulo Aristteles na escola de filosofia Academia 38. A oposio a Plato O pensamento de Aristteles se ope ao de Plato em diversos aspectos. O principal deles certamente a importncia dada aos sentidos para se alcanar o conhecimento. Plato afirmava a superioridade do mundo das ideias em relao ao mundo dos sentidos: o que vemos a nossa volta o reflexo das formas eternas e imutveis que podem ser conhecidas porque tambm existe em nossa alma. 39. Para Aristteles, d-se exatamente ao contrrio: as imagens que formamos em nosso pensamento surgem a partir de um contato prvio com as coisas materiais, que so captadas pelos sentidos. Alm disso, Plato dizia que as idias eram inatas. Para Aristteles, a razo era inata: todos os homens nascem com a razo, que lhes d a capacidade de ordenar e classificar todas as coisas do mundo conforme so percebidas pelos sentidos. 40. Plato x AristtelesAristteles chegou a declarar que amava seu mestre, porm amava mais a verdade. Plato: construes sociais imaginrias, utpicas, por projees sobre qual o melhor futuro da humanidade(inspirou revolucionrios e doutrinrios da sociedade perfeita). Aristteles: coisas reais, dos sistema polticos existentes na sua poca, classific-los, definindo suas caractersticas mais proeminentes, separando-os em puros ou pervertidos (mentor dos grandes juristas e dos pensadores polticos mais inclinados cincia e ao realismo). O professor e o pupilo Vocao Matemtica Vocao naturalista, observao do concreto 41. Plato x Aristteles tica: Sistematizao aristotlica est muito acima dos sentimentalismos lamentveis platnicos e marca um avano muito mais positivo para a verdadeira soluo, salva o Direito Privado, a Propriedade Particular e a Famlia. possvel termos certezas tericas e errarmos no campo da prtica. No reconhece a cada um o direito de constituir seus valores. Conhecimento: Para Plato, so inatos, Aristteles os considera fruto da experincia. Razo: Para Plato ela aniquila, para Aristteles ela governa e domina as paixes. O professor e o pupilo 42. As diferenas entre Plato e Aristteles Plato: Interessado nas formas eternas, no mundo das ideias. Desvalorizao dos sentidos. Poeta e criador de alegorias: A alegoria da caverna. Aristteles: Interessado nas mudanas das coisas na natureza. Valorizao dos sentidos (observao) Estilo enciclopdico: classificao da natureza. 43. Plato buscava encontrar algo de eterno e imutvel nas coisas da natureza que esto em constante transformao. Foi assim que ele chegou s ideias ou formas perfeitas, algo acima do mundo sensorial, o mundo captado por nossos sentidos. Para ele, essas ideias ou formas perfeitas nascem com as pessoas, so inatas. 44. As ideias ou formas eram mais reais do que os prprios fenmenos da natureza. Exemplo: Todos os cavalos do mundo so como sombras da ideia inata de cavalo que temos em ns. 45. Aristteles concorda que a forma (cavalo) eterna e imutvel. Mas discorda de seu mestre Plato: A forma ou ideia de cavalo no existiam antes da experincia vivida. A forma aquilo que todos os cavalos tem em comum. A razo inata (nasce com as pessoas, uma caracterstica comum aos seres humanos) mas permanece vazia. Com a experincia da observao a preenchemos. 46. Aristteles classifica, categoriza, as coisas da natureza atravs das suas formas e substncias. 47. Exemplo: A forma o que a galinha tem em comum com todas as outras. Forma galinha: cacarejar, bater asas, pr ovos etc. 48. Toda mudana observada na natureza a transformao ocorrida na substncia, de uma possibilidade para uma realidade. 49. Para Aristteles todas as coisas da natureza possuem a possibilidade de concretizar determinada forma. Assim, a lagarta de uma borboleta encerra em si a possibilidade de se transformar em uma borboleta 50. A matria um suporte passivo que precisa de uma forma para tornar-se uma coisa; j a forma algo que pode ser percebido pela razo a partir da observao.