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Aula 05 auxiliar de mineração (mineração e meio ambiente) l

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Efeitos da mineração no meio ambiente

Os minérios, tanto metálicos como não-metálicos, são uti-

lizados, como é sabido, em uma infinidade de produtos

humanos, da construção civil a bens industriais. No entan-

to, como a mineração em geral trabalha bem distante das

cidades, poucas pessoas se dão conta dos seus extraordi-

nários impactos ambientais. O máximo que a maioria das pessoas já viu foram as pe-dreiras urbanas, enquanto elas ainda eram toleradas em cidades como Rio de Janeiro, que deixaram enormes ci-catrizes na paisagem citadina. Essas pessoas não se dão conta do assustador volume de resíduos decorrente dessa atividade. A tabela seguinte revela o montante de explo-ração de três minerais metálicos: Como se vê, a produção mundial de ouro, em 2000, foi de

2,5 mil toneladas, mas os resíduos gerados (estéreis e

rejeitos) não foi inferior a 745 milhões toneladas. Uma ra-

zão de quase 300 mil quilos de resíduos para um quilo de

ouro. Isso significa que 99,99967% da mineração de ouro

era puro descarte, obrigatoriamente disposto em algum

lugar. Com o avanço tecnológico, já é possível o processa-

mento de minério com teores de ouro ainda mais baixos. Mesmo o minério de ferro, seguramente um dos que apresenta maior rendimento, tem o metal em menos da metade da sua massa. Embora 40% tenham sido aprovei-tados como matéria-prima, 2 bilhões e 113 milhões de toneladas foram descartados apenas no ano de 2000. Ou-tros metais, como alumínio, chumbo ou prata, oferecem igualmente pequenos percentuais de aproveitamento no minério. Em 1999, cerca de 9,6 bilhões de toneladas de minerais

foram retirados da terra, quase o dobro do total explora-do

em 1970. A céu aberto ou subterrânea, a mineração

modifica intensamente a paisagem, tanto na extração como

na deposição de seus estéreis e rejeitos. Aliás, esté-reis –

no sentido de inócuos – é o que esses resíduos não são para

o meio ambiente. Certo, se a humanidade quer manter um

nível elevado de conforto material, é inevitá-

e m M i n e r a ç ã o vel a atividade mineral. No entanto, essa é possivelmente a atividade econômica com menos cuidados com os pro-blemas ambientais. A distância dos centros urbanos e de pessoas conscientes favorece tal desleixo, embora algu-mas mineradoras, como seria de se esperar, tenham pro-gredido bastante nesse item. Um rastro de destruição A mineração consome volumes extraordinários de água: na

pesquisa mineral (sondas rotativas e amostragens), na lavra

(desmonte hidráulico, bombeamento de água de minas

subterrâneas etc), no beneficiamento (britagem, moagem,

flotação, lixiviação etc), no transporte por mi-neroduto e na

infra-estrutura (pessoal, laboratórios etc). Há casos em que

é necessário o rebaixamento do lençol freático para o

desenvolvimento da lavra, prejudicando outros possíveis

consumidores. Frente a tudo isso, uma série de impactos pode ocorrer: aumento da turbidez e consequente variação na qualida-de da água e na penetração da luz solar no interior do corpo hídrico; alteração do pH da água, tornando-a ge-ralmente mais ácida; derrame de óleos, graxas e metais pesados (altamente tóxicos, com sérios danos aos seres vivos do meio receptor); redução do oxigênio dissolvido dos ecossistemas aquáticos; assoreamento de rios; polui-ção do ar, principalmente por material particulado; per-das de grandes áreas de ecossistemas nativos ou de uso humano etc. Uma das piores ilustrações desse fato, mas não a única, é

dada por uma das maiores minas de cobre do mundo, lo-

calizada em montanhas florestadas de Papua Nova Guiné. A mina gigante, que pertence a um consórcio internacio-nal de companhias, despeja diariamente 80.000 tonela-das de refugos não tratados no rio de mesmo nome. Com solo e rocha carreados para a água, essa massa ultrapassa 200 mil toneladas diárias, destruindo boa parte da vida aquática, alterando a vazão do rio e prejudicando a sub-sistência do povo Wopkaimin, cerca de 50 mil pessoas vi-vendo rio abaixo. Alimentos básicos da população foram contaminadas e a oferta de peixes diminuiu no trecho mais próximo da mina. Mineração é, atualmente, a atividade econômica líder de

poluição tóxica nos Estados Unidos, responsável por quase

metade da poluição industrial relatada no país (Co-lapso,

Jared Diamond, 2005). No Brasil, a participação da

mineração na poluição total é possivelmente maior, em

função da posição relativa dessa atividade na produção

econômica nacional e de uma fiscalização mais frouxa.

Quem desejar mesmo ver o intenso grau de degradação

ambiental causado por minas de ferro, basta ir a cidades

como Itabirito, em Minas Gerais . A gipsita, mineral abun-

dante na natureza, quando parcialmente desidratada (calcinada), dá origem ao gesso, um produto muito usa-do na construção civil, entre outras aplicações. No Brasil, é explorada principalmente na Bacia do Rio Araripe, na

fronteira comum de Pernambuco com o Piauí e o Ceará.

Nessa região, a fonte energética usada no processo de cal-

cinação é a lenha da Caatinga. As calcinadoras de gesso são

as principais consumidoras de energéticos florestais da

região do Araripe, utilizando 56% da produção, segui-

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das da siderurgia, com 33%. Em 2007, somente em Pernambuco (de longe, o maior produtor), as calcinadoras queimaram 1.102.800 metros cúbicos de lenha. O tamanho dos sítios degradados pela mineração repre-senta também um dos itens graves do passivo ambiental dessa atividade. O rápido desenvolvimento, entre 1991 e 2004, da primeira 2 / 3 mina de diamantes do Canadá, permite que ela seja claramente vista do espaça. Uma ou-tra mina de cobre de Papua Nova Guiné, chamada Bou-gainville, foi fechada em 1989 por causa da reação popu-lar aos pesados danos ambientais. Outras minerações são motivo de polêmica, como a de minério de ferro em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O município, localizado em uma região particularmente sensível do ponto de vista ambiental, o Pantanal, é im-própria para siderúrgicas e mineração, apesar das minas que já operam no local. Estas e as siderúrgicas previstas estão no caminho de um importante corredor ecológico. O possível desmatamento decorrente da instalação do polo minero-siderúrgico de Corumbá é uma das maiores preocupações de quem trabalha com a conservação do Pantanal. Uma das siderúrgicas interessadas teria com-prado uma enorme área de mata na vizinha Bolívia para fornecer energia para suas operações. E não faltam exemplos no mundo. Outro é a descarga de cádmio no Rio Jinzu, no Japão, feita por uma mina de chumbo e zinco. Ela desencadeou uma onda de casos de doenças ósseas. Compromisso fraco Historicamente, a atividade de mineração é a que tem

mostrado o nível mais baixo de compromisso social e am-

biental em comparação, por exemplo, com a exploração de

petróleo. É um dos negócios onde os interesses de lucros

imediatos mais flagrantemente passam por cima dos

interesses públicos, como demonstram exemplos no mundo

inteiro. É um dos setores mais conservadores e mais

resistentes a ajustes ambientais. Esse comporta-mento está

causando a extinção da indústria minerária nos Estados

Unidos. Fatores econômicos tornam os custos de

recuperação ambiental menos suportáveis para essa

indústria do que para a de petróleo (e até a de carvão mi-

neral). São eles: margens de lucro mais baixas; resultados

econômicos mais imprevisíveis; custos mais altos para

restaurar o ambiente natural; poluição mais impactante e

mais duradoura; menos capital para enfrentar essas des-

pesas; e até mesmo qualidade inferior de mão-de-obra. Por tudo isso, é um dos setores onde mais frequentemen-te os custos ambientais costumam ser repassados para a sociedade. Os contribuintes norte-americanos estão en-frentando, nos últimos anos, uma despesa extra de US$ 12 bilhões para limpeza e restauração ambiental de suas minas (Diamond, 2005). Para se reduzir os grandes impactos da mineração, será necessário aumentar as exigências ambientais e a fisca-lização, obrigando a mudanças no comportamento das mineradoras. Os preços dos minerais devem igualmente refletir o enorme custo sócio-ambiental da sua explora-

ção, embora isso vá implicar no aumento do preço final dos

produtos. Isso seria uma vantagem, ao contrário do que

supõem os economistas, pois aumentaria a eficiência e

diminuiria o desperdício no uso dessas matérias-primas. Mas, assim, voltamos a um assunto recorrente: o atual nível de consumo da sociedade global é insustentável. Se desejarmos diminuir as profundas consequências da mineração, a par das medidas citadas e de muitas ou-tras, precisamos controlar nossa síndrome consumista. Pode-se considerar que o início da consciência sobre a proteção do meio ambiente surgiu no começo dos anos setentas. Naquela época aflorou com nitidez, nos países tecnologicamente mais avançados, a percepção de que o bem-estar social, fruto do desenvolvimento econômico, estava relacionado, em geral, a impactos não desejados sobre os vários ecossistemas. Desde então, os agentes responsáveis por tais impactos começaram a ser discrimi-nados, quando não condenados por um segmento pen-sante e emergente dessas sociedades, denominado am-bientalista. O agravamento de tais impactos, muitas vezes com resul-

tados deletérios diretos sobre o organismo humano, teve

como conseqüência o envolvimento de outros segmentos

da sociedade. Preocupados com o problema, no final da

década de 80, cientistas, políticos e empresários do se-tor

industrial, dentre outros, adotam a causa. Todos eles

convergiam para a mesma conclusão: a necessidade de uma

política global de gestão ambiental que promovesse a

sustentabilidade dos ecossistemas, como única solução.

Dados recentes(1) sobre o desempenho ambiental de em-

presas líderes de dez setores industriais, no Brasil, apon-

tam as indústrias químicas, de papel, celulose e automo-

tivas como as de melhor performance, embora, como

conclusão da própria fonte, os resultados não sejam os

melhores. Essa avaliação, efetuada com base em questio-

nário proposto por especialistas dos setores envolvidos,

indica que o desenvolvimento sustentável vem se tornan-do

realidade no contexto de cada segmento da indústria, e isso

pode ser observado mediante somatório dos esco-res

obtidos para cada item avaliado. Dos vinte itens avalia-dos,

em escala crescente de 1 a 5, com o respectivo total de

pontos: 1. Papel e celulose (82), 2. Automotivo (76), 3.

Químico (74), 4. Siderúrgico (68), 5. Fumo (58), 6. Mineração e Cerâmica (47), 7. Têxtil (45), 8. Alimentação (38) e 9. Metalurgia (33). No contexto, a indústria da mineração atinge um grau pre-ocupante, o que demonstra a necessidade de séria avalia-ção de suas relações ambientais. De maneira geral, o efeito da mineração, considerado aqui desde a lavra até o tratamento do minério, faz-se sentir especialmente(2): a) sobre o meio físico ou sobre a fisiografia da região. São efeitos visíveis, detectados a curto prazo, denomina-dos de agudos e afetam:

1) a paisagem (desaparecimento de morros; aterros de depressões; transformações, inclusive por assore-amento de drenagem);

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2) o solo (remoção, decapagem e aterro);

3) a vegetação (desflorestamento). b) sobre a qualidade do meio. Efeitos não-visíveis, de-tectados a longo prazo. Esses efeitos são considerados crônicos e sentidos principalmente por:

1) modificação na qualidade da água (efeito na

quali-dade de recursos hídricos);

2) absorção ou assimilação (cutânea, respiratória ou digestiva) por animais: podem afetar organismos su-periores (inclusive o homem);

3) modificações da qualidade do ar (emissão de par-

ticulados); 4) modificação do meio físico, inclusive trazendo efeitos a curto, médio e longo prazos sobre o clima local. No caso da Bahia, essa tendência é de favorecer a desertificação. Dentro desse contexto, a recuperação das área mineradas e seu monitoramento aparecem como ferramenta im-portante para a minimização dos impactos citados e, em alguns casos, podem melhorar a qualidade do ambiente em relação as condições anteriores ao empreendimento mineiro. A recuperação de determinada área degradada por um

determinado empreendimento, neste caso a mineração,

pode ser definida como o conjunto de ações necessárias

para que a área volte a estar apta para algum uso pro-

dutivo em condições de equilíbrio ambiental. Para que seja

possível obter-se novo uso da área, é necessário que ela

apresente condições de estabilidade física (processos

erosivos, movimentos de terrenos) e estabilidade química

(a área não deve estar sujeita a reações químicas que pos-

sam gerar compostos nocivos à saúde humana e ao ecos-

sistema, drenagens ácidas de pilhas de estéril ou rejeitos

contendo sulfetos). Dependendo do uso pós-mineração,

pode-se adicionar os requisitos de estabilidade geológica (áreas utilizadas com a finalidade de conservação ambien-

tal). No caso do empreendimento mineiro, a participação

do homem deve iniciar ao se planejar a mina e finalizar

quando as relações fauna, flora e solo estiverem em equi-

líbrio e em condições de sustentabilidade. Segundo Oliveira Jr.(3), minerar é assegurar, economica-mente, com mínima perturbação ambiental, justa remu-neração e segurança, a máxima observância do princípio da conservação mineral a serviço do social. Negligenciada ao longo do tempo, embora seja uma exi-

gência inerente a todo o plano de instalação de um em-

preendimento mineiro, a questão ambiental, com relação à mínima perturbação ambiental, vem sendo imposta, de forma gradativa e irreversível, como elemento preponde-rante nas modernas concepções de projetos de minera-ção. Neste sentido, tem-se observado, nos atuais projetos mi-neiros, planos de minimização de impactos ambientais, assim como a adoção de medidas mitigadoras desses impactos. As medidas podem incluir desde simples alte-rações operacionais para melhoria dos ambientes de tra-balhos, como controle de poeira, ruídos e até mesmo al-terações de processos visando atividades e/ou operações menos agressivas.

Com relação à recuperação de áreas degradadas pela mi-

neração, muitos estudos passaram da teoria à prática e, nos

últimos vinte anos, muitos trabalhos têm atingido alto grau

de especificidade visando à redução destes (4-8). De modo geral, as áreas degradadas pela mineração de-vem ser objetos de trabalhos de recuperação envolvendo os seguintes pontos:

I áreas lavradas: incluem cavas (secas e inundadas), frentes de lavras (bancadas e taludes), trincheiras, ga-lerias em lavra subterrânea etc;

II áreas de deposição de resíduos sólidos: incluem pilhas ou corpos de bota-fora, solos superficiais, esté-reis, bacias de decantação e sedimentação de rejeitos de beneficiamento etc;

III áreas de infra-estrutura: incluem áreas de funcio-namento de unidades de beneficiamento, áreas de estocagem e expedição de minérios, vias de circula-ção, escritórios, oficinas etc.

A recuperação de áreas degradadas pela mineração deve ser planejada antes da implantação do empreendimento a fim de prever a desativação das atividades mineiras e a reabilitação dos terrenos remanescente. É possível, entretanto, observar que em diversas situ-ações esta parece não ser a prática adotada, particular-mente em empreendimentos de médio e pequeno por-te. Não raramente, essas áreas correspondem a terrenos manejados como estoque especulativo para fins diversos (imobiliários, no caso de áreas próximas a centros urba-nos ou reflorestamento , no caso de áreas rurais). Nesses casos, em que a intenção dos proprietários dos terrenos parece ser a de aguardar algum tempo antes de empre-ender a reabilitação da área, o princípio da recuperação provisória torna-se recomendável, não apenas para evitar a intensificação ou aceleração dos processos de degrada-ção dos solos e as conseqüências ambientais decorrentes, mas, também, para garantir sua própria proteção e viabi-lização posterior. Dois aspectos são destacados, sob o ponto de vista tec-nológico, como desafios a serem incorporados ao pla-nejamento das atividades de recuperação, a saber(9): recuperação executada simultaneamente à mineração, agregando a recuperação ao cotidiano e não a restringin-do ao final da empreendimento. recuperação orientada de acordo com um plano prévio: execução com base em decisões expressas em documento previamente discutido e definido entre minerador, poder público e comunidade envolvida, apontando para o aproveitamento das áreas degradadas – PRAD. Utilizando o amplo conceito de recuperação, o planeja-mento das atividades que objetivam a estabilidade das áreas degradadas deverá ter como primeira tarefa a defi-nição de uma das seguintes metas:

l recuperação provisória: quando o uso final ainda

não estiver definido;

2 recuperação definitiva: quando o uso final do solo já estiver definido.

As técnicas utilizadas para assegurar o uso adequado do

solo são numerosas, mas no geral todas compreendem as

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seguintes etapas: desmatamento, remoção e estocagem do capeamento do solo,remodelagem final da área e re-vegetação. A figura 1 mostra as principais opções para a recupera-ção de áreas ocupadas por atividades de mineração.Este trabalho, dentro do contexto descrito e pela relevância observada com relação às preocupações ambientais, tem por objetivo global estudar a recuperação de áreas degradadas pelas atividades relacionadas à extração mi-neral, com ênfase na pequena e média empresa. O es-tudo está orientado `aotimização de operações nos pro-cessos de lavra, processamento mineral e disposição de resíduos,buscando, durante a vida útil do empreendimen-to, minimizar ou mesmo reverter os impactos causados pelas atividades características. Estudar a recuperação de áreas a fim de evitar a duplici-dade de operações e prepará-las para uso futuro é o obje-tivo específico deste trabalho. Serão avaliados os efeitos operacionais de preparação de terreno, remoção de fauna e flora durante o decapea-mento; assim como problemas gerados pela extração do bem mineral e situação de cavas exauridas. Também se-rão avaliados os problemas gerados com a concentração dos minerais de valor e as condições de disposição dos resíduos gerados. 2.1 Mineração e Meio Ambiente 1.1 Objetivos Recuperação de áreas degradadas pela mineração 2.2 Impactos ambientais causados pela mineração 2.3 Métodos de controle de poluição na mineração A mineração, representada pelos produtos por ela gera-dos, está presente no cotidiano da sociedade de forma relevante e praticamente indispensável. Segundo James McDivitt, citado por Alves (11), o ser humano depende, por ano, de 400 a 500kg de insumos do reino animal e, de acordo com o nível de desenvolvimento do país onde vive, consome entre 2 000 e 20 000kg de insumos de origem mineral. Nos Estados Unidos,considerado um dos países com melhor padrão de vida, o consumo anual per capita é de 4 145 kg de brita, 3 890kg de areia e cascalho, 363kg de cimento, 222kg de argila, 199,5kg de sal, 140,6kg de rocha fosfática, 485,3kg de outros minerais não metálicos, 546,6kg de ferro e aço, 24,9kg de alumínio, 10,4kg de co-bre, 6,3kg de chumbo, 5,4kg de zinco, 6,3kg de manganês e 8,6kg de outros metais. No Brasil, em menor escala, por conta de menor nível de

desenvolvimento, a mineração aparece de forma constan-te

no dia a dia dos brasileiros. De simples artigos em vidro

(areia) e cerâmica (argila) a insumos para computadores e

satélites, assim como na fabricação de remédios. Atuando como base de sustentação para a maioria dos segmentos industriais, a extração mineral, hoje, desem-penha papel fundamental na economia brasileira, não só como geradoras de empregos (cerca um milhão de em-pregos diretos e indiretos) e impostos, como também re-presenta fator determinante para o desenvolvimento de

elevado número de cidades e microregiões. A atividade de extração em si é responsável por apenas 3% do Pro-duto Interno Bruto brasileiro, porém, se considerarmos as etapas de transformação de bens minerais (fases onde o produto é beneficiado para posterior aproveitamento industrial), esse valor sobe para aproximadamente 26%. Como referência do potencial mineral do Brasil, o país possui: as maiores reservas mundiais de nióbio, com 85% das jazidas existentes; a terceira maior reserva de cassi-terita do mundo, com 12,2% das jazidas; a terceira maior reserva de bauxita, com 11,1% das jazidas; a quarta maior reserva de caulim, com 9,3% e a quinta maior reserva de minério de ferro, com 8% do total. Embora o Nordeste tenha sido pouco influenciado pela

atividade mineral, o Estado da Bahia tem várias cidades

onde a mineração trouxe grandes contribuições para o

desenvolvimento sócio-econômico. Em Jaguarari, em plena

zona da seca, as instalações da Mineração Caraí-ba foram

determinantes para a alavancagem regional. O município de

Teofilândia é outro exemplo: as atividades de extração de

ouro, movimentadas pela Companhia Vale do Rio Doce,

serviram como base para o desenvolvimento local. Ainda na

Bahia, a cidade de Jacobina teve grande impulso a partir das

operações das minas da Mineração Morro Velho. No global,

o setor de mineração baiano ab-sorve cerca de 20 000

pessoas em empregos diretos. Acrescenta-se ainda a existência, também na Bahia, de razoável quantidade de projetos em fase de préviabilida-de e implantação ou a espera de melhores condições de mercado. Dentre estes podemos destacar: Vanádio, em Maracás; Calcário, em Jacobina; Ouro, em Rio do Pires; Fosfato e Titânio, em Campo Alegre de Lourdes; Zinco e Fosfato, em Irecê; Gipsita, em Camamu; Urânio, em Lagoa Real; Caulim, em Alagoinhas e Prado; Ilmenita, Rutilo e Zirconita, em Valença; Rochas Ornamentais em diversas localidades. Com relação às demais unidades da Federação, sem a in-clusão dos produtos energéticos, a Bahia ocupa o sexto lugar no universo da mineração brasileira MT, GO e BA) representa 76% da produção mineral brasileira. Com a in-clusão dos produtos energéticos, a Bahia passa a ocupar o quarto lugar; Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará, nessa ordem, ocupam os três primeiros lugares. Um empreendimento mineiro pode envolver, em parte ou no todo, serviços compreendidos nas seguintes fases: prospecção, exploração, desenvolvimento, lavra, proces-samento mineral e descomissionamento do empreendi-mento mineiro. As fases de prospecção e exploração objetivam a desco-berta, caracterização e avaliação de uma ocorrência geo-lógica e distinguem-se como procedimentos de pesquisa mineral. O objetivo básico da pesquisa mineral é procurar, encon-

trar e assegurar uma reserva mineral economicamente

viável. Compreende a realização de estudos e análises im-

prescindíveis às decisões sobre porte de projetos, fluxo-

gramas, planos de extração de minérios, processamento

mineral, remoção de estéril e reabilitação ambiental. Esta

fase envolve os serviços necessários à preparação da ja-zida

para a lavra, com preparação de vias de acesso, son-

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podem ocorrer, simultaneamente, todas as fase citadas. Entende-se por lavra o conjunto de operações para o

aproveitamento econômico de uma jazida. Ë também a fase

de extração dos bens minerais (minério) de seus lo-cais de

origem. Compreende operações de grande, média ou

pequena escala realizadas na superfície e/ou no subso-lo. O

conceito de pequena, média ou grande mina depen-de do

referencial adotado e varia conforme a região ou país.

Minas consideradas de médio porte, em países de-

senvolvidos, podem ser consideradas de grande porte em

países subdesenvolvidos. O valor da substância lavrada, as

reservas, o grau de mecanização da mina, a tonelagem

produzida, o número de empregados, o capital da empre-

sa, dentre outros parâmetros, podem sem considerados

nesta avaliação. Sobre esse aspecto, vale ressaltar o fato de

que pequenas minerações tendem a impactar menos,

viabilizam o aproveitamento de pequenas jazidas, além de

servirem para fixar a mão de obra própria da região. Além disso, contribuem para a desconcentração de cen-tros urbanos e favorecem o desenvolvimento da região em que estiver inserida. Como principias métodos de lavra a céu aberto, podem ser citados:

a. Lavra a céu aberto. Se por um lado esse tipo de lavra

permite maior aproveitamento do corpo de mi-nério,

por outro produz maior quantidade de estéril, poeiras,

ruídos e poluição das águas. O fato desses fatores

serem melhor observados pode ser um ponto positivo

para o seu controle. Porém este impacto vi-sual pode

acarretar conflitos com populações vizinhas ao

empreendimento e com órgãos de fiscalização;

b. lavra subterrânea. A lavra subterrânea, quando bem executada, causa menor impacto ambiental, sendo que o material estéril e/ou os rejeitos da con-centração podem ser utilizados como enchimento de galerias e escavações, minimizando possível passivo ambiental. Os efluentes líquidos, assim como ruídos, poeiras e vibrações provenientes da mineração estão, geralmente, confinados, o que torna o controle am-biental mais fácil;

c. dragagem. Remoção de minérios do leito de rios, com a utilização de dragas. Nesse tipo de lavra, os principais impactos são a geração de sólidos suspen-sos, turbidez e presença de óleos na água; d. mine-ração marinha. Extração de minerais por meio de plataforma continental, com utilização de explosivos, com posterior sucção através de bombas e/ou equi-pamentos especiais.

O minério extraído pode ser qualificado como: conjunto de minerais, dentre os quais um ou mais destes possuirá valor econômico, enquanto o restante será considerado mineral de ganga e será descartado após adequados pro-cessos de separação.

Alguns autores definem o processamento mineral como a capacidade de se fornecer diferente velocidade de res-posta para as espécies presentes em um determinado sis-tema e consequentemente poder separá-las. Em geral, um fluxograma de concentração inclui etapas de cominuição (britagem e moagem), classificação, a con-centração propriamente dita e a etapa fina de desagua-mento. Os processos de concentração buscam diferenças nas espécies presentes para aplicação de determinados princípios. Os principais processos são:

a. gravimétricos/densitários: baseados nas diferenças de densidade;

b. eletro-estático/dinâmico: baseados na proprieda-de de escoamento de cargas;

c. magnéticos: baseados na susceptibilidade magné-

tica da espécies;

d. físico-químicos: baseados em características inter-

faciais das partículas minerais;

e. hidrometalúrgicos: baseados na solubilidade das espécies.

As etapas de beneficiamentos tendem a ser realizadas em sistemas fechados, com recirculação de água de processo e confinamento de rejeitos. Entretanto, a falta de controle de poeira, de ruídos, de reagentes, de águas de processo e estabilidade de barragens podem levar a sérios impac-tos ambientais. A reabilitação ambiental, sem prestígio há pouco tempo, é

uma das ferramentas da desativação de um empreen-

dimento e começa a fazer parte de todos os projetos mi-

neiros tecnicamente bem elaborados, especialmente em

função de exigências legais rigorosas e, por vezes, fora da

realidade. Atualmente qualquer empreendimento minei-ro

é precedido de Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) e Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMAs), os

quais são estudos envolvendo equipes multidisciplinares. Na mineração, o descomissionamento é parte das ope-rações de lavra e beneficiamento e representa a mini-mização de resíduos sólidos e efluentes nocivos ao meio ambiente. Essa fase é identificada como o cessar das ope-rações de lavra e a conseqüente paralisação das demais atividades, seguida da transformação do sítio mineiro em área útil à comunidade que a cerca.Tais atividades de de-sativação programada têm a função de colocar as obras e instalações resultantes em condições tais que possam ser removidas, vendidas ou, caso permaneçam na localidade, não ponham em risco a saúde e a segurança do público e do meio ambiente. A área recomposta não será como a de antes das ativida-

des mineiras; mas pode, em certos casos, ser melhorada,

conforme o referencial adotado e os interesses das comu-

nidades da região. Os impactos advindos da mineração tem

sido classificados da seguinte forma(14,15): Geralmente, em virtude da extração do minério e disposi-

ção de estéril há um impacto visual que pode ser suaviza-do

com adoção de certas técnicas disponíveis, tais como:

a. cortina arbórea: sistema de vegetação que, se

plantado adequadamente, confina a região minerada

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e protege o meio ambiente dos fatores poluentes re-lativos a poeiras e ruídos;

b. bancos: anteparos artificiais. Na sua construção, são utilizados materiais provenientes da mina, como o próprio estéril que, disposto adequadamente, ate-nua a agressividade da paisagem da área em mine-ração;

c. perfil topográfico: adequação da linha do horizonte

da cumeada da terra de onde foi extraído o minério a

fim de harmonizá-la com a parte não minerada. A atividade de mineração é potencialmente poluidora e contribui para a poluição dos seguintes parâmetros de qualidade das águas:

a. orgânico: proveniente dos esgotos do sistema de apoio das atividades, tais como vilas, residências, es-critórios etc;

b. óleos/detergentes: proveniente das oficinas, má-quinas, caminhões etc;

c. cianeto/mercúrio: provindos do beneficiamento dos minérios de ouro;

d. águas ácidas e/ou alcalinas: os efluentes ácidos são comuns em certos tipos de minerações, como no caso dos minerais sulfetados e é possível encontrá--los nas redes de drenagem água com pH variando de 2 a 6,5. Quanto aos efluentes alcalinos, mais ra-ros, são encontrados nas minas de calcário, fábricas de cimentos, usinas de concreto; e. metais pesados: essa categoria abrange cobre, chumbo, zinco, cád-mio, cromo, arsênio, mercúrio, vanádio, berilo, bário, manganês etc. As águas que contêm esses elementos são provenientes, quase sempre, de sistemas de be-neficiamento e concentração de minerais metálicos e apresentam um agravante quando contaminadas com efluentes de drenagem ácida, como as águas das minas de carvão;

f. sólidos dissolvidos: é comum os efluentes das mi-nerações conterem altos níveis de sólidos dissolvidos, tais como cloretos, nitratos, fosfatos ou sulfatos de sódio, calcário, magnésio, ferro e manganês. As maio-res fontes de dissolução são as próprias rochas; mas os nitratos podem ser provenientes de explosivos ina-tivos;

g. reagentes orgânicos: encontrados nos efluentes do beneficiamento, quando a concentração emprega processos como a flotação, que utiliza coletores, mo-dificadores e espumantes;

h. cor: certos elementos têm a característica de alte-rar a cor da água, o hidróxido de ferro, por exemplo, que empresta coloração vermelha aos efluentes das minerações de ferro;

i. sólidos em suspensão: material inerte proveniente das minerações, e sólidos orgânicos provenientes, por exemplo, das minerações de carvão;

j. turbidez: sstá diretamente relacionada à quantida-de de sólidos em suspensão, colóides e partículas fi-nas em suspensão na água;

k. radioatividade: a ocorrência de radioatividade é ve-

rificada principalmente nas barragens de rejeitos das minas de urânio;

l. eutrofisação: é o processo de enriquecimento arti-ficial de nutrientes, contidos nos efluentes, fosfatos e nitratos, provenientes de determinadas minas. Es-ses efluentes permitem a reprodução de certos or-ganismos que podem se tornar nocivos, as algas, por exemplo;

m. desoxigenação: os organismos vivos e aquáticos requerem oxigênio, dissolvido na água, para sua res-piração e sobrevivência. São eles:

Þ OD - Oxigênio dissolvido na água.

Þ DBO - Demanda bioquímica de oxigênio, isto é, res-tos orgânicos consomem o oxigênio dissolvido (OD) durante sua decomposição.

Þ DQO - Demanda química de oxigênio, é outro pro-cesso de consumo de oxigênio por causa daoxidação química, ocorrência comum quando envolve minerais sulfetados.

Na mineração, existem duas fontes principais de poluição do ar: São elas:

a. poluição por particulados: produzidos em virtu-de da detonação de rochas, movimentação de ca-minhões e máquinas, ação de ventos nas frentes de lavra, britagem e moagem por ocasião da etapa de beneficiamento dos minérios;

b. poluentes gasosos: os principais poluentes gasosos são: CO, NOx, SOx, geralmente provenientes da com-bustão de óleos combustíveis.

As fontes de ruídos existentes nas minerações são vá-rias:

detonações, compressores, britadores, moinhos, bombas,

locomotivas, tratores, caminhões, ventiladores, exaustores

etc. As principais fontes de vibração são as detonações para

desmonte de rochas. Outras fontes de menor intensidade

são os britadores, máquinas pesadas de terraplanagem,

peneiras vibratórias etc. Os métodos a serem utilizados

relacionam-se com a escolha do proces-so de mineração.

Drenagem, desvio de águas da frente de lavra, controle de

erosão (compactação, drenagem, replantio), controle de

infiltrações, recuperação de áreas mineradas, selagem das

minas subterrâneas exauridas e sistemas de disposição

controlada das pilhas de rejeito e estéril. Tratamento da

água: sempre que possível a água deve ser recirculada

dentro do sistema. Deve-se buscar a neutralização de

efluentes, decantação e filtragem com a utilização de

barragens:

a. O enclausuramento da fonte poluidora: no caso de sistemas de britagem, este poderá ser confinado em prédio fechado, no sentido de impossibilitar a disse-minação de pó na atmosfera exterior;

b. Aspersão de água: no sentido de prevenir a forma-

ção de poeiras. Geralmente a água é utilizada nos sis-

temas de britagem e transporte (correias) e pode ser

sob a forma de “spray”, usando agentes que facilitem o molhamento para reduzir a formação de poeiras. No caso das vias de transporte, promovese a pavi-mentação, imprimação, irrigação etc;

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c. Coletores: implementação de sistemas para coletar as partículas. Os métodos que podem ser utilizados são:

¡ gravidade (câmaras fechadas);

¡ força centrífuga (ciclones);

¡ intersepção (filtragem);

¡ eletricidade (atração eletrostática).

d. Controle de Gases: a principal fonte de poluição gasosa, na mineração convencional e não-pontual, é a combustão espontânea do carvão em pilhas de rejeitos. O melhor sistema de controle é dispor o material em camadas compactadas em bancadas. Às vezes promove-se uma cobertura com uma camada não-combustível.

Existem alguns métodos para remediar ou atenuar os efeitos danosos causados pelos ruídos e vibrações. Os principais são:

L, redução do consumo de energia;

2. isolamento da fonte de ruído e/ou vibração; 3. promoção de anteparo no sentido de absorver os ruí-dos, como acontece com o sistema de cortinas arbóreas; 4. adoção de um plano de controle adequado contra fogo. O monitoramento deve anteceder o início da lavra, continuar durante os trabalhos na fase de exploração do empreendimento. Além de controlar a qualidade dos efluentes também visa medir e conhecer as modificações produzidas nos meio ambiente. Geralmente a necessidade de recuperação de uma área minerada está diretamente relacionada à desativação, to-tal ou parcial, de um empreendimento mineiro .As princi-pais razões para essa desativação podem ser:

1. exaustão: pode estar relacionada aos custos de produção e sua ligação negativa com o lucro obtido pela venda do minério e/ou concentrado;

2. obsolecência: relação com perda de competitivi-dade e/ou por falta de investimentos em pesquisa mineral;

3. mercado: flutuação de preços, negativa ao inves-timento, que pode ocasionar o fechamento tempo-rário;

4. impactos ambientais: ligado a fatores de ordem ambiental e relações com as comunidades próximas aos empreendimentos.

3.1 Medidas de recuperação e reabilitação ambiental 3.2 Estratégias de desativação 3.3 procedimentos para a desativação de

empreendimen-tos mineiros 3.4 Custos associados à recuperação de áreas degradadas As medidas de recuperação visam corrigir impactos am-bientais negativos, verificados em determinada atividade mineira, e exigem soluções especiais adaptadas às con-dições já estabelecidas. Essas soluções, geralmente uti-

lizadas em mineração, respaldam-se em observações de campo e literatura técnica e não raramente envolvem as-pectos do meio físico. Segundo Oliveira Jr.(3), as principais áreas de um empreendimento mineiro onde medidas de recuperação podem ser aplicadas são:

a. áreas lavradas. Algumas das medidas usualmente

empregadas são: retaludamento, revegetação (co-

mespécies arbóreas nas bermas e herbáceas nos

taludes) e instalação de sistemas de drenagem (com

canaletas de pé de talude, além de murundus - mor-

rotes feitos manualmente na crista dos taludes) em

frentes de lavra desativadas. A camada de solo su-

perficial orgânico pode ser retirada, estocada e reu-

tilizada para as superfícies lavradas ou de depósitos de

estéreis e/ou rejeitos. A camada de solo de alte-ração

pode ser retirada, estocada e reutilizada na construção

de diques, aterros, murundus ou leiras de isolamento e

barragens de terra, remodelamento de superfícies

topográficas e paisagens, contenção ou retenção de

blocos rochosos instáveis, redimensiona-mento de

cargas de detonação em rochas e outras.

b. áreas de disposição de resíduos sólidos. As me-didas usualmente empregadas são: revegetação dos taludes de barragens (neste caso somente com herbáceas) e depósitos de estéreis ou rejeitos, redi-mensionamento e reforço de barragens de rejeito (com a compactação e sistemas de drenagens no

topo);instalação, à jusante do sistema de drenagem da

área, de caixas de sedimentação e/ou novas bacias de

decantação de rejeitos; redimensionamento ou

construção de extravazores ou vertedouros em barra-

gens de rejeito; tratamento de efluentes (por exem-

plo: líquidos ou sólidos em suspensão) das bacias de

decantação de rejeitos; tratamento de águas lixivia-das

em pilhas de rejeitos ou estéreis; tratamento de águas

subterrâneas contaminadas.

c. áreas de infra-estrutura e circunvizinhas. Algumas

medidas possíveis são: captação e desvio de águas

pluviais; captação e reutilização das águas utilizadas no

processo produtivo, com sistemas adicionais de

proteção dos cursos de água naturais por meio de ca-

naletas, valetas, murundus ou leiras de isolamento;

coleta (filtros, caixas de brita, etc.) e tratamento de

resíduos (esgotos, óleos, graxas); dragagem de sedi-

mentos em depósitos de assoreamento; implantação

de barreiras vegetais; execução de reparos em áreas

circunvizinhas afetadas pelas atividades de minera-ção,

entre outras. As estratégias de desativação de uma mineração são

clas-sificadas em:

a. estratégia corretiva: visa remediar um problema após sua identificação e diagnóstico. É um reconhe-cimento do problema, caracterizando ou formulando o mesmo em termos claros e compreensíveis, pelos interessados. Ação planejada e sistematizada preven-do intervenções necessárias para identificar os locais potencialmente poluídos antes que sejam descober-tos pela população ou causem danos ambientais sig-nificativos.

b. estratégia preventiva objetiva: eliminar passivos

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ambientais quando da desativação de um empre-endimento industrial; evitar que problemas, como a contaminação de solos e de aqüíferos se repitam quando do encerramento das atividades atualmente existentes. Apesar do acúmulo de passivos durante a vida útil da mina, estes devem ser reduzidos ou elimi-nados quando da desativação do empreendimento. Essa estratégia depende de um plano de desativação, um plano de recuperação de áreas degradadas e des-comissionamento das instalações com as respectivas estimativas de custos.

c. estratégia proativa: evita a acumulação de passivos

ambientais durante a operação da mina e minimiza os

impactos durante o ciclo de vida desta. Prevê a utiliza-

ção temporária do solo pensando em novos usos para

ele. Considera o planejamento do fechamento e cria a

concepção de ciclo de vida de um empreendimen-to o

qual começa na concepção do empreendimento - Avaliação do Impacto Ambiental - aliado a progra-mas

de gestão ambiental. Planeja medidas gestoras durante

a fase de operação e medidas que deverão ser tomadas

quando da desativação. Também planeja a desativação

no período que antecede a fase de im-plantação e os

revisa periodicamente ou a cada vez que o

empreendimento é modificado ou ampliado. Esses

procedimentos visam caracterizar a situação em que se

encontra o empreendimento mineiro as-sim como

definir o melhor caminho para a desativa-ção deste,

considerando a necessidade de medidas de

recuperação ambiental e monitoramento. De forma genérica, esses procedimentos podem ser clas-

sificados da seguinte forma:

a. objetivos da reutilização da área minerada:

estudos de viabilidade econômica e ambiental.

b. caracterização preliminar do sítio minerado: loca-lização dos sítios com problemas potenciais e veri-ficação do entorno do sítio minerado para detectar potenciais fontes externas de poluição.

c. caracterização detalhada do sítio minerado: obje-tiva caracterizar os tipos, quantidades de resíduos e eventuais contaminações presentes. Inventariar ins-talações, equipamentos e resíduos. Investigar solos e águas e estabelecer quantitativos para estimativas dos custos de recuperação ambiental.

d. plano de desmontagem e recuperação ambiental: desmontar sistemas elétricos e hidráulicos; instalar sistemas mecânicos; remover resíduos sólidos; des-montar ou demolir edificações, preencher escava-ções; aterrar; nivelar e terraplenar e triar resíduos.

e. obtenção de aprovação legal e consulta pública: li-cença e autorização governamental. Consulta pública caso as obras causem impactos negativos às comuni-dades circunvizinhas.

f. licitação e contratação – trabalho realizado por ter-

ceiros: contrato escrito com a intenção de responsa-

bilizar empreiteiras no caso de não cumprimento do

plano de desmontagem e recuperação ambiental.

g. execução, acompanhamento e fiscalização: manter

estrito controle das atividades durante as fases de

desmontagem e recuperação ambiental.

h. ensaios comprobatórios: análise de águas e solos para comprovação de descontaminação. Manuten-ção de adequado monitoramento.

i. Relatório final e documentação: relato dos traba-lhos

executados e histórico do uso da área. Em rela-ção à

recuperação de áreas degradadas, Gama (7) in-forma

que a identificação, a avaliação da importância relativa

e o monitoramento dos impactos ambientais, no

sentido de minimizá-los, eliminá-los ou adminis-trá-los

de modo a proteger efetivamente o meio am-biente,

devem ter seus custos incorporados aos estu-dos de

viabilidade econômica do projeto. Por outro ângulo,

Carter (16) enfatiza a necessidade de pensar em meio

ambiente e suas correlações econômicas no início dos

projetos mineiros, pois nesse momento as empresas

estão capitalizadas e o meio ainda não foi degradado;

além de possíbilitar a execução de estu-dos ambientais

simultâneos a outros relativos a ativi-dade em si e suas

operações. Esse trabalho se justifica pelo fato da

maioria das empresas, especialmente as de pequeno e

médio porte, se preocuparem com a recuperação das

áreas degradadas somente ao final do

empreendimento. Essa prática resulta inevitavel-mente

na duplicidade de operações dos trabalhos de

recuperação ambiental. Esses trabalhos poderiam ser

realizados durante o período produtivo da mina, me-

diante um plano de recuperação simultâneo à lavra. Exemplos desse fato são alguns trabalhos realizados por Oliveira Jr. (17) em minerações, no Estado da Bahia. Nes-ses estudos ficou comprovado que, durante a recupera-ção, o maior montante recai sobre operações típicas de lavra (desmonte, limpeza, terraplenagem e drenagem de cavas e pilhas de estéreis). Esses custos chegam a 30% dos custos totais. Os 70% res-

tantes estão relacionados à revegetação, fechamento de

áreas (cavas), sinalização e monitoramento (pilhas de mi-

nérios, bacias de sedimentação e águas da região). O mesmo autor conclui que no caso de terceirização das

operações de recuperação de áreas, os custos poderiam ser

triplicados. Com esses trabalhos simultaneamente às

operações da mina, a maioria das áreas já estariam recu-

peradas, e os custos com a recuperação já estariam amor-

tizados ao longo da vida produtiva do empreendimento.

Nesse caso, restaria computar os custos das últimas áreas

lavradas, áreas de beneficiamento e de estocagem de re-

síduos; acrescentado de custos de sinalização e monitora-

mento das últimas áreas. As areias consumidas hoje na Região Metropolitana de

Salvador são originárias, quase que totalmente, da For-

mação São Sebastião e da Formação Marizal, localizadas no

município de Camaçari, somente pequena parcela provém

da Formação Barreiras, localizada ao longo das estradas CIA

- Aeroporto e Aeroporto/Arembepe e de du-nas litorâneas.

Cabe ressaltar que as jazidas de areia da formação Barreiras

encontram-se em fase esgotamento. A exaustão dos depósitos de areia grossa nas proximida-des

de Salvador têm viabilizado a exploração de jazidas de areia

de Camaçari, apesar de problemas com a granu-lometria e a

distância entre os centros consumidores. Atu-

Page 10: Aula 05 auxiliar de mineração (mineração e meio ambiente) l

A u x i l i a r t é c n i c o e m M i n e r a ç ã o almente, o parque produtor é composto por vinte e sete

unidades produtoras de areia, distribuídas da seguinte

forma: duas unidades, no município de Simões Filho; qua-

tro, em Lauro de Freitas; quatro, em Salvador; dezessete,

em Camaçari. Dentre as empresas localizadas em Cama- çari a Mineração Ottomar Ltda. se destaca como a maior

produtora de areia da região metropolitana de Salvador. 4.1 Ottomar Mineração S/A - Caracterização do empreen-dimento A Ottomar Mineração se destaca como uma das maiores

produtoras de areia da Região Metropolitana de Salvador e

está em atividade, na cidade de Camaçari, desde 1980. Sua

produção é de cerca de 600 000m3 de areia por ano, e o

material extraído por ela é composto essencialmente de

areia de granulometria fina a grossa e coloração branca. O

principal composto mineral dessa areia é SiO2 e utilizada

“in natura” na construção civil. Grande parte produção de

areias se destina à Indústria da Construção Civil da Região

Metropolitana de Salvador e pequena parte é comercia-

lizada em Feira de Santana. Atualmente, as reservas de

areia da Ottomar Mineração estão estimadas em cerca de 9

000 000m3(19). O método de lavra utilizado pela Otto-mar

Mineração é extração a céu aberto, em meia encosta. As

operações de lavra são:

a. desmatamento: remoção da cobertura vegetal das

áreas a serem lavradas. De forma geral, a vegetação da

região é composta de espécies de pequeno porte.

Nesta etapa, o plano de lavra buscou a remoção ape-nas na área necessária para o desenvolvimento dos trabalhos de extração e circulação de veículos.

b. decapeamento: retirada do material estéril e do solo orgânico. O solo orgânico, basicamente areia com resíduos vegetais, é armazenado em separado para posterior utilização na fase de revegetação.

c. extração: a extração de areia é realizada em proces-so de meia encosta, com a utilização de tratores de esteira e de pás-carregadeiras.

d. carregamento: realizado pelas mesmas pás-carre-

gadeiras.

e. transporte: realizados por caminhões que trans-portam a areia da frente de lavra até o mercado con-sumidor.

Nesta última década, a Ottomar Mineração tem dedicado esforços no sentido de cumprir a legislação ambiental vi-gente. Segue as normas exigidas pelo CRA, no intuito de manter seu empreendimento regularizado no sentido de controle e recuperação ambiental. Com relação a esse as-pecto, a atual política da empresa tem colaborado para melhor sua imagem junto à comunidade e demonstrar que é viável a exploração responsável e consciente do meio ambiente. Nos últimos anos, a Ottomar Mineração tem realizado, por intermédio de especialistas, uma série de trabalhos de avaliação de impacto ambiental de sua atividade mi-neira e recuperação de áreas degradadas mantendo seus trabalhos dentro das solicitação do CRA (20).

5.1 Localização 5.2 Análise da situação pós-lavra 5.3 Correção de irregularidade do terreno (correção

topo-gráfica) e regularização das inclinações (taludes) 5.4 Correção das drenagens naturais 5.5 Descompactação do solo 5.6 Revegetação 5.7 Monitoramento 5.8 Controle da área 5.9 avaliação de custos As áreas alvo de recuperação, que ainda apresentam tra-balhos de lavra, estão localizadas na BA 512, km 14 (es-trada Camaçari/Monte Gordo), em uma área denominada Biribeira, na Fazenda República Mangueira. As áreas possuem os seguintes Processos no DNPM:

87092191 e 87092291 e ainda apresentam vida útil de cinco

anos. O início dos trabalhos de recuperação ficarão

concentrados em uma área piloto de cerca de 5ha. Após

encerrados os trabalhos de lavra, deverão ser avaliadas as

condições da área. Nesse sentido, devem ser analisa-das

mudanças na cobertura vegetal (recuo da flora), afas-

tamento da fauna da região, alterações significativas na

topografia da região, formação de taludes acima de uma

altura estável, alteração e/ou assoreamento das drena-gens

naturais, possíveis pontos de poluição pelos equipa-mentos

utilizados na fase de extração e seu impacto no meio

ambiente, situação das construções que possam es-tar

localizadas na área. Com relação a estes últimos deve ser

considerada a remoção dos mesmos, uma vez que na área

apenas existem construções de pequeno porte, ou mesmo

a manutenção dos mesmos pelo tempo que pos-sam ser

úteis. Com o auxílio dos tratores de esteiras, as áreas com

grandes irregularidades das áreas lavradas de-verão ser

suavizadas. Caso, ao final das atividades, sejam observados

taludes com grandes inclinações e/ou alturas, haverá

deslocamentos de material com utilização dos tra-tores

para a diminuição de inclinações e/ou alturas. As drenagens

da região podem sofrer algumas modificação de curso e/ou

assoreamento de determinados cursos. A princípio, a

regularização dos terrenos deve restaurar as drenagens

locais. Havendo necessidade, pequenas va-letas poderão

ser providenciadas para regularização de drenagens. As

drenagens de áreas vizinhas deverão servir de guia para

esses trabalhos. Tendo em vista experiências anteriores

(20), pode-se esperar que não seja necessária a

descompactação do solo na região uma vez que do local foi

retirado material não consolidado e ficou apenas areia de

coloração amarela (areia misturada a solo argiloso de-

composto) e poucas intrusões de argila. Existindo o inte-

resse em recuperar velhas vias de acesso, poderá haver a

necessidade da utilização de tratores com escarificadores

para descompactação do solo. Para a revegetação da área lavrada, deverá ser observada

experiência anterior da empresa. Atualmente a Ottomar

Mineração recebe consultoria de um Engenheiro Florestal e

mantém um viveiro de mudas na própria empresa. Assim sendo, o processo de revegetação deverá propor-

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cionar a recuperação de funções do ecossistema por meio

do plantio de mudas. O processo de plantio engloba apro-

ximadamente quinze diferentes espécies com preferência

para os grupos ecológicos da pioneiras e secundárias de

rápido crescimento: leguminosas florestais, frutíferas e até

exóticas, como o eucalipto Associado a esse sistema,

realiza-se a semeadura direta (a lanço) da leguminosa fei-

jão de porco, como forma de adubação verde e elemento

restaurador do solo. A escolha das espécies a serem uti-

lizadas na revegetação está relacionada à disponibilidade de

obtenção de sementes e mudas; e a utilização de espé-cies

nativas será reduzida por uma questão de oferta de

mercado. As mudas a serem utilizadas deverão ser produ-

zidas em viveiros próprios. As espécies a serem utilizadas,

em maior ou menor número, serão: acácias (cássia sp),

jangelim (Jaboranda obovata), embauba (cecropia sp), pau

pombo (Tapiura guionensis), aroeira preta, caju (Ana-

cordium ocidentale), jamelão (Jambosa sp), mangueira

(Mangifera indica), flamboyant (Delanix regia), amendo-eira

(Catappa sp), leucena (Leucoema leucocephala), bro-mélias

(Hahenbergia sp), feijão de porco (Conavalia ensi-formes),

eucalipto (Eucalyptus soligma) e Pinus elyoti. O plantio deve

ser conduzido de forma a expor certa hetero-geneidade

entre as espécies selecionadas ou disponíveis para a época

do plantio. Como espaçamento básico será utilizado o

mesmo que foi empregado em outras áreas já revegetadas

e que apresentou bons resultados. Deverá ser utilizado um

espaçamento regular, variando entre 4m x 3m (12m2) e

3,5m x 2,5m (8,8m2). Espera-se, ao final dessa operação,

atingir cerca de 1 000 mudas/ha. Cuidados especiais devem ser dispensados à qualidade do solo, já que estudos anteriores (20) demonstraram a necessidade de calagem e adubação orgânica e mineral. O preparo do solo deverá levar em consideração o tempo necessário para a efetivação do processo de fertilização do solo e o período adequado para o plantio das espécies escolhidas. Experiências anteriores mostram a necessidade de mo-nitoramento contínuo para controle de problemas como formigas, roubo de mudas, pastoreio e a própria qualida-de do plantio. Vários autores (21-24) analisam a etapa de monitoramento como crítica para a finalização dos traba-lhos de recuperação de áreas degradadas. A adequada condução desta etapa deve significar o controle e manu-tenção de todos os objetivos traçados até o momento. De forma geral, deverão ser monitorados inícios de proces-sos erosivos, estabilidade de inclinações e taludes, asso-reamento da drenagem. Especial cuidado deve ser dado ao monitoramento das áreas revegetadas, pois após a fase de plantio serão ne-cessárias observações periódicas da área recuperada a fim de evitar, se for o caso, que haja retrocesso no pro-cesso. Os fatores mais importantes a serem monitorados são os seguintes:

a. condições dos terrenos: monitorar processos ero-sivos nas áreas recuperadas e/ou revegetadas bus-cando corrigir essas situações no início do processo observado, até que esteja estabilizado o processo erosivo.

b. germinação das sementes: Se ocorrerem falhas na germinação, providenciar a ressemeadura da área

dentro do menor período possível e atentar para a época mais adequada para o plantio.

c. cobertura: nos pontos onde houver falhas de co-bertura, identificar a causa e refazer a semeadura ou o plantio de mudas.

d. estado nutricional da vegetação: esse controle visa

detectar qualquer carência nutricional junto espécies

selecionadas e corrigir o problema com adubação

adequada, se necessário e controle de pragas e do-

enças: importante etapa do monitoramento. O con-

trole pode evitar prejuízo para toda a área. A etapa de

monitoramento deve perdurar pelo tempo neces-sário

para que seja observada situação de equilíbrio e

sustentabilidade na área recuperada. Um problema

observado nas visitas realizadas a Ottomar Minera-ção,

em Camaçari, foi a presença de lixo doméstico na área

de extração mineral. Segundo explicações obtidas na

região, o lixo vinha junto com os cami-nhões destinados

ao transporte de areia ao mercado consumidor. Ainda

que a quantidade lixo encontrada fosse pequena, se

propõe maior controle na entrada da mina a fim de

evitar o transporte indesejável de resíduos para a área

de extração. Cabe ressaltar que a falta de controle

sobre essa disposição pode acarretar problemas

comuns a aterros clandestinos (poluição e doenças), assim como problemas para a empresa, junto ao órgão ambiental do estado.

Ainda com relação ao controle da área, está sendo pro-

posto um sistema de sinalização das área já recuperadas e

em fase de recuperação. Também deverão ser melhor

sinalizadas as áreas de extração e vias de acesso. Estas

últimas medidas objetivam maior segurança nas áreas su-

pracitadas. Persistindo o problema de disposição de lixo

doméstico, a empresa poderia optar por cursos de edu-

cação ambiental para seus funcionários, com o objetivo de

conscientizá-los para o problema em questão. Com o

objetivo de controle dos custos de recuperação das áreas

mineradas, é sugerido a Ottomar Mineração a confecção de

uma análise de custos para avaliar cada objeto de recu-

peração (regularização de taludes, revegetação etc.) e seu

impacto e/ou relação com a quantidade de areia extraída/

vendida, assim como o custo por ha recuperado. Nos custos referentes a equipamentos, devem ser inclu-ídos a hora/máquina dos tratores, assim como o custo com os operadores das máquinas. Nos custos com mão de obra, devem estar incluídos os

gastos com salários e encargos com engenheiros, técnicos

agrícolas, ajudantes e outros profissionais envolvidos. Os custos com materiais devem incluir elementos como:

corretivos de solos, adubos, mudas, sementes, gastos com

material para o viveiro e outros. Custos operacionais com a

recuperação de áreas degradadas pela mineração de areia.

A necessidade de cuidados ambientais, nas mais diversas

atividades industriais é, nos dias de hoje, uma re-alidade

irreversível, e desta realidade pode depender o futuro do

homem e de todas as formas de vida na terra. Entretanto, nem sempre a consciência do empreendedor

está direcionada para este cuidado. Além disso, o desapa-

relhamento dos órgãos de fiscalização demonstra nítido

desinteresse de autoridades governamentais, com os pro-

Page 12: Aula 05 auxiliar de mineração (mineração e meio ambiente) l

A u x i l i a r t é c n i c o e m M i n e r a ç ã o blemas ambientais. Neste panorama, a mineração apare-ce

como atividade imprescindível para o desenvolvimento e

bem-estar dos seres humanos, ainda que sua imagem

esteja, quase que exclusivamente, relacionada com des-

truição e impactos ambientais. Sem dúvida, é impossível

minerar sem causar impacto ambiental, seja ele de maior

ou menor extensão. Mas, atividades como construção ci-vil

e agricultura, também necessárias à humanidade, são tão

ou mais impactantes que a mineração. Entretanto, seus

benefícios são mais facilmente perceptíveis, o que faz com

que essas atividades sejam melhor aceitas pela sociedade e

até mesmo ignorados os impactos ambien-tais gerados. A

mineração, com o objetivo de melhorar sua imagem e

desenvolver uma consciência de prote-ção ambiental, vem

procurando, nas últimas décadas, promover sistemas mais

limpos e recuperar situações e passivos ambientais.

Mentalidade essas evidenciadas nos congressos da área.

Nesses eventos, o setor empresarial, universidades e

centros de pesquisas apresentam inúme-ros trabalhos

relacionados ao tema. Dentre os temas mais abordados, a

recuperação de áreas degradadas ganha importância pelo

impacto visual de uma área minerada e de como este fator

pode influenciar a opinião pública. Em Salvador/BA, não

raro a mineração em pedreiras e areais tem sido acusada

de danosa ao meio ambiente e muitas vezes com razão. Em

outros momentos as acusa-ções tornam-se paradoxais

porque a legislação ambiental, muitas vezes, não é clara

com relação à mineração, pois apresenta excesso de

legislação quase que totalmente desconhecida da

sociedade. Nesse sentido, deve-se destacar o trabalho de controle e

recuperação de áreas da Ottomar Mineração, suas áreas

lavradas. A manutenção de consultoria de um Engenheiro

Florestal, viveiros na própria empresa, atividades de mo-

nitoramento, entre outras, têm garantido bom resultado

ambiental. Esse trabalho buscou seguir determinada fi-

losofia de recuperação de áreas mineradas. Não propôs

atividades fora da realidade relacionada com a mineração -

problema muitas vezes enfrentado pela atividade minei-ra

em relação a órgãos de fiscalização mal aparelhados. Limitou-se a apresentar algumas propostas que pudessem ser implementadas de forma viável, como o controle do lixo doméstico nas áreas lavradas. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MINERAÇÃO NO BRASIL E O MEIO AMBIENTE A mineração é um dos setores básicos da economia do país, contribuindo de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade equânime, desde que seja operada com responsabilidade social, estando sempre presentes os preceitos do desenvolvimento sustentável. Na Conferência Rio + 10, realizada de 26 de maio a 29 de

agosto de 2002, em Johannnesburgo, em várias partes de

seu documento final, assinado por todos os países pre-

sentes, a mineração foi considerada como uma atividade

fundamental para o desenvolvimento econômico e social

de muitos países, tendo em vista que os minerais são es-

senciais para a vida moderna. A História do Brasil tem ín-

tima relação com a busca e o aproveitamento dos seus re-

cursos minerais, que sempre contribuíram com importan-

tes insumos para a economia nacional, fazendo parte da

ocupação territorial e da história nacional. Segundo WAG- NER et. ali, (2002), o setor mineral, em 2000, representou

8,5% do PIB, ou seja US$ 50,5 bilhões de dólares, gerou

500.000 empregos diretos e um saldo na balança comer-cial

de US$ 7,7 bilhões de dólares, além de ter tido um

crescimento médio anual de 8,2% no período 1995/2000. O subsolo brasileiro possui importantes depósitos mine-

rais. Parte dessas reservas, são consideradas expressi-vas

quando relacionadas mundialmente. O Brasil produz cerca

de 70 substâncias, sendo 21 dos grupo de minerais

metálicos, 45 dos não-metálicos e quatro dos energéticos.

Em termos de participação no mercado mundial em 2000,

ressalta-se a posição do nióbio (92%), minério de ferro

(20%, segundo maior produtor mundial), tantalita (22%),

manganês (19%), alumínio e amianto (11%), grafita (19%),

magnesita (9%), caulim (8%) e, ainda, rochas ornamen-tais,

talco e vermiculita, com cerca de 5% (Barreto, 2001). O perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de pequenas e médias minerações. Segundo a Revista Mi-nérios & Minerales, 1999, os dados obtidos nas conces-sões de lavra demonstram que as minas no Brasil estão distribuídas regionalmente com 4% no norte, 8% no cen-tro-oeste, 13% no nordeste, 21% no sul e 54% no sudes-te. Estima-se que em 1992 existiam em torno de 16.528 pequenas empresas, com produção mineral de US$ 1,98 bilhões, em geral atuando em regiões metropolitanas na extração de material para construção civil. (Barreto, op. cit.). Entretanto, o cálculo do número de empreendimentos de

pequeno porte é uma empreitada complexa devido ao

grande número de empresas que produzem na informali-

dade, aliada a paralisações freqüentes das atividades, que

distorcem as estatísticas. Várias atividades antrópicas vêm

criando problemas ambientais, no uso do solo e subsolo,

além das atividades de mineração, entre as quais se des-

tacam: a urbanização desordenada, agricultura, pecuária,

construção de barragens visando a geração de hidroeletri-

cidade, uso não controlado de água subterrânea, dentre

outras1. No Brasil, a mineração, de um modo geral, está submetida

a um conjunto de regulamentações, onde os três níveis de

poder estatal possuem atribuições com relação à mi-

neração e o meio ambiente. Em nível federal, os órgãos que

têm a responsabilidade de definir as diretrizes e regu-

lamentações, bem como atuar na concessão, fiscalização e

cumprimento da legislação mineral e ambiental para o

aproveitamento dos recursos minerais são os seguintes: Ministério do Meio Ambiente – MMA: responsável por

formular e coordenar as políticas ambientais, assim como acompanhar e supe-

rintender sua execução; Ministério de Minas e Energia – MME: responsável por formular e coordenar as políticas dos setores mineral, elé-trico e de petróleo/gás; Secretaria de Minas e Metalurgia – SMM/MME: respon-

sável por formular e coordenar a implementação das polí-

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