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Bandeira Paulista

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Livro feito para o trabalho da disciplina Português II

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Trabalho de Língua Portuguesa II

Inspirado no livro “A contadora de Filmes” de Letelier

ESPM-SP

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Ruas congestionadas, edifícios margeando todas as avenidas, acidentes e assaltos.

Essa é a realidade de quem trafega por São Paulo.

Essa é a realidade de Tim Burton, Quentin Tarantino e Selton Mello na pele de taxistas da maior metrópole brasileira.

Metrópole que, à medida que viu suas ruas se alongando, seus prédios crescendo e seus habitantes tendo que se esconder em ambientes blindados, filmados e protegidos por

cercas elétricas, perdeu o ar cultural de outrora.

É aí que entram os grandes mestres do cinema e seu amor por contar histórias.

Tim Burton se espanta com a falta de imaginação dos paulistas, Tarantino banaliza a violência tão comum nos dias de hoje das ruas e Selton se orgulha de ser Brasileiro e,

mais que isso, se orgulha de morar em São Paulo.

No entanto, o que é comum para todos é o desejo de, ao mesmo tempo, absorver e modificar, através de histórias, a identidade dessa cidade que percorreu um grande

caminho cinematográfico e literário.

Prefácio

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Sumário

Imaginação Poluída

Taxímetro Vermelho

Corrida pelo Brasil

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......................................................................................................... 07

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Meu nome é Tim Bueno R. Tomás. Não me pergunte de onde veio esse R ai no meio porque, sinceramente, não tenho a menor ideia. Gosto de pensar que minha mãe quis esconder algum segredo no meu nome para eu descobrir quando fosse mais velho, só que, quanto mais eu envelheço, mais percebo que minha pobre mãezinha só gostou do nome e colocou-o em seu único filho. Uma pena.

Meu ganha pão é ser taxista, levar as pessoas para cima e para baixo no meio dessa grande metrópole. Porém minha profissão, meu oficio, é interferir de alguma maneira na vida de meus passageiros. É incrível pensar assim. Pesar que você muda, mesmo que seja muito pouco, a vida de cada uma das pessoas com quem você entra em contato. E esse é meu objetivo. Trabalho como taxista em São Paulo à 19 anos e, cada vez mais, vejo que o transito é o maior estresse dos habitantes dessa cidade. Gritam, xingam, buzinam e até se matam, literalmente. Meu papel, como gosto de pensar, é transformar esse momento em algo muito mais prazeroso e procuro fazer isso contando filmes. Sim, filmes. Porque esse é meu outro trabalho, entrar no universo dos filmes e imaginar um mundo completamente novo, um mundo onde posso ser o que eu quiser e fazer o que vier na cabeça.

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Ás vezes, contar filmes dentro do meu carro, para pessoas desconhecidas é a melhor coisa do mundo, no entanto, de vez em quando me chateia. O descaso dos paulistas é tanto que parece cutucar o fundo do meu peito. Semana passada, por exemplo, eu me lembro bem, um homem no seus 21 anos fez uma corrida comigo. Ele perguntou se eu podia leva-lo para o Campo Belo, entrou no Taxi e, como muitas pessoas fazem, se calou. Essa era minha deixa. Então comecei a contar uma história que eu havia visto num filme. A história era incrível, muitas explosões, perseguições e coisas que essa idade gosta, além de uma mensagem que deve ser guardada muito bem. No começo da minha fala, ele ainda comentava poucas coisas – quando eu o cutucava para tal – mas, aos poucos foi ficando quieto. Olhei pelo retrovisor e vi que o paulistano estava dormindo. Foi a minha vez de me calar. Ele deveria estar com sono, cansado ou, simplesmente, não tinha se interessado pela história contada. Aceitável. No entanto, quando o homem acordou – por causa de uma buzina qualquer – olhou para mim e disse:

“Desculpa moço, mil perdões. Mas é que ouvir histórias assim é um tanto quanto chato. Não tem a tela te mostrando como as coisas acontecem e também não tem páginas te explicando cada detalhe da situação. Então não tem como imaginar.”

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Não tem como imaginar! Imaginar! Foi nesse dia que eu percebi o quão crítico era o estado da cidade de São Paulo. Cheguei no destino pedido pelo rapaz, recebi meu dinheiro e fiquei alguns minutos parado no carro, pensando no que acabara de ouvir. As pessoas estão tão presas na correria de seu dia a dia, que nem se dão ao trabalho de tentar imaginar. Acordam, comem, trabalham ou estudam, comem, trabalham ou estudam mais, comem e dormem. Todo dia movimentam essa grande metrópole. E, mesmo quando leem livros e veem filmes, querem tudo pronto, ali, mastigado na mão delas. A tv, o computador, os livros e o cinema perderam seu propósito para algumas pessoas. Um único motivo: esses indivíduos perderam sua capacidade de imaginar. Isso é lamentável.

Seria fácil acreditar que a partir desse dia desisti de contar histórias. Muito pelo contrario. Eu acredito nas pessoas que ainda trabalham sua imaginação (que não são poucas) e, mais que isso, acredito nas pessoas que estão presas em seus casulos de problemas. Eu sei que, um dia, vão ver a importância que tem a criatividade, vão ver o quanto perderam por deixa-la de lado. Meu trabalho é abrir os olhos e a mente dessas pessoas.

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Olho meu crachá, que balança de um lado para outro, pendurado no retrovisor. Lá, leio o meu nome, Albertino, que, naturalmente, virou Tino entre os amigos. Se aquela foto 3x4 que parece olhar para cada passageiro que entra em meu taxi tivesse visto as mesmas coisas que eu, ah, com certeza teria muita história para contar.

Histórias das boas, sabe, da capital, das ruas truculentas de São Paulo, sem respeito e de egoísmo maior que prédio da Paulista ou da Berrini. Mas, vou te contar, já são 30 anos de taxímetro ligado, que o vermelho do sangue das ruas paulistanas já não me surpreende. É tanto trânsito por causa de acidentes que um corpo ao chão não me tira o apetite.

Sabe essas histórias que disse que sei? Então, eu sei e não guardo comigo: divido com cada ser que me faz companhia neste carro. Ser taxista é um trabalho um tanto solitário e o passageiro, poxa, devia compreender isso. Sem contar que seria muito egoísmo da minha parte guardar apenas para mim o que meus olhos têm privilégio de presenciar.

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Certo dia um rapaz barbudo, de pouco cabelo, social, jovem, entrou no taxi, já pedindo seu rumo: Augusta, na altura da Paulista. Isso me fez lembrar uma história das boas daquela esquina, imaginei que ele gostaria de saber.

O causo envolvia uma briga, um assalto, não sei ao certo. Mas o que vi, de um lugar próximo, praticamente um camarote, é que um indivíduo havia esfaqueado uma garota de uma forma cruel, em que se enfia a faca e, não estando satisfeito, ainda a movimenta, aumentando o corte e o sangue esparramado. A calçada estava cheia, parecia pouco se importar, e, assim que desferiu o golpe, o assassino pôs-se a correr.

O indivíduo, chegando na esquina que meu querido passageiro se destinava, tentou atravessar sem olhar e foi pego em cheio por um ônibus, que fez seu corpo cair desfalecido ao chão. Cruel e brincalhão que é o destino, não satisfeito em esfarelar os ossos do moço, um outro carro que vinha ao lado passou por cima de sua cabeça.

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Fui começar a contar os detalhes dos restos da cabeça que se espalharam pelo chão, mas o rapaz disse que onde estávamos, na Brigadeiro, já estava bom. Deu-me uma nota de cinquenta e disse que podia ficar com o troco. Teria visto algum conhecido na rua? Não sei, mas aceitei o dinheiro e apenas fiquei pensando como ele aguentaria de curiosidade, sem saber o final de história que eu contava.

No final das contas, tive sorte em dobro, pois, onde o deixei, uma moça, executiva talvez, já fez sinal para mim. Tinha duas maletas, parecia alguém importante, e pediu para levar até a Henrique Schaumann.

Engraçado, pois foi nessa mesma avenida que, dias atrás, ocorreu um acidente que envolveu dois carros e uma pedestre entre eles, que, quem diria, tinha o mesmo jeito da moça ao meu lado. Aquela, certeza, seria uma história que ela gostaria de ouvir.

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Meu nome é Ton Mello. Num desses dias começaram a me chamar de Johnny. Não sei de onde tiraram esse trem. Meu nome não é Jonnhy. Aliás, odeio essa história de brasileiro querer americanizar tudo. Eu gosto mesmo é da nossa terrinha.

Por falar em terra me lembro de onde nasci e cresci: minha Minas Gerais. Você pode estar se perguntando como um mineiro veio passar a ser taxista na cidade de São Paulo. Acontece que é assim que eu consigo fazer aquilo que eu mais gosto, parece até que eu nasci para fazer isso: contar filmes... pois é, mais que taxista, sou um contador de filmes.

Gosto de pensar que todo esse nosso Brasil é um grande filme e é dessa maneira, contando esse filme, que eu consigo alertar meus passageiros que eles também são personagens dessa história. Isso tudo pode parecer loucura, mas como diria meu falecido pai: o rato come queijo, o gato bebe leite... e eu, eu sou um taxista contador de filmes.

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Eu sei, ainda não respondi aquela pergunta. Você ainda deve estar se perguntando porque estou nessa terra que, dizia-se, tanto garoava. Olha... não vejo essa tal de garoa tanto hoje em dia, não. Ah! Então, estou aqui porque estando em São Paulo estou em cada canto do Brasil: aqui tem de tudo, sô! Desde caiçara a mineiro. Você pode até dizer que com tanto cinza e tanto prédio esse meu papo do Brasil em São Paulo é loucura, ou sintoma de saudade. Pois eu já te digo que nesses espaços geométricos formados pelas construções, enquanto eu vejo o quadro, você vê só a moldura. Já te explico: eu vejo as pessoas, os sentimentos, os risos, as manias e as pressas que se passam dentro dessa moldura, que é a cidade. Enquanto você tá olhando, mas não tá vendo. Que nem agora. Ei! Para de mexer nesse iPim!

Ô trem! Hoje as cenas desse filme não estão desenrolando... também no trânsito que estamos! Mas, calma, eu sei que um dia a gente chega lá. Aliás, para o seu destino final, a Avenida Paulista, é um tirinho de espingarda.

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Para passar o tempo, vou te contar um filme... ou uma história, já não lembro bem qual dos dois ela é. Certo dia, aqui em São Paulo mesmo, tinha um moreno de pai paulista, avô pernambucano, bisavô mineiro, e tataravô baiano. E ele tava aqui, olha só!, pra ver o jogo do São Paulo contra o Bahia. E aí ele entrou no meu taxi... ah! lembrei! Isso é uma história e não um filme, mas bem que podia ser um. Ele entrou agitado e com o coração apertado, já que não sabia se preferia ver o São Paulo perder ou ganhar. Com tanto Brasil dentro dele era difícil escolher um dos lados. Que azar o dele! De todas as pessoas, veio falar justamente comigo! Só consegui piorar a dúvida do rapaz. Falei que ele devia mesmo era torcer pro Brasil. Afinal, pra que torcer pra um pedaço se o bonito mesmo é a união de todos eles...

- Chegamos no meu destino, senhor!

Opa! Até me perdi, sempre perco a noção do tempo quando conto esses filmes. Bem, já que estamos aqui, a sessão ficou R$ 45,00.

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Ana Paula Ishizaki Alves dos Anjos Anna Paula Pereira Menezes

Beatriz Furlani Adriano Caroline Boaventura Moreira

Leonardo Uono

CSOS2D

Outubro de 2012

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