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1 A implantação do Marxismo- Leninismo na Rússia Por Raul Silva Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que fez do país o primeiro Estado socialista do mundo. Em Marx procuraram os revolucionários a inspiração. Em Lenine encontraram o líder incontestado e o grande responsável pela implementação dos princípios marxistas. As suas ideias e a sua ação deram corpo ao chamado marxismo-leninismo. Na Rússia construiu-se um novo modelo de organização económica, social e política que deixou profundas marcas na História do século XX. O marxismo-leninismo caraterizou-se por enfatizar o papel dos operários e camponeses, na conquista do poder, pela via revolucionária e jamais pela evolução política; a identificação do Estado com o Partido Comunista, considerado a vanguarda do proletariado; o recurso à força e à violência na concretização da ditadura do proletariado. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 9 http:// externatohistoria.blog spot.pt/ externatohistoria@gm ail.com 22 de Janeiro de 2014

Caderno diário marxismo leninismo

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A implantação do Marxismo-Leninismo na RússiaPor Raul Silva

Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que fez do país o primeiro Estado

socialista do mundo. Em Marx procuraram os revolucionários a inspiração. Em Lenine

encontraram o líder incontestado e o grande responsável pela implementação dos princípios

marxistas. As suas ideias e a sua ação deram corpo ao chamado marxismo-leninismo.

Na Rússia construiu-se um novo modelo de organização económica, social e política que

deixou profundas marcas na História do século XX.

O marxismo-leninismo caraterizou-se por enfatizar o papel dos operários e camponeses, na

conquista do poder, pela via revolucionária e jamais pela evolução política; a identificação do

Estado com o Partido Comunista, considerado a vanguarda do proletariado; o recurso à força

e à violência na concretização da ditadura do proletariado.

CADERNODIÁRIO

EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES

N.º 9

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1917: O ano das revoluçõesDa Revolução de Fevereiro à Revolução de Outubro

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Revolução de fevereiro de 1917

1. Tendo em conta os documentos 1 e 2, refira os fatores que contribuiram para a eclosão de fevereiro.

Revolução de Fevereiro

“A greve dos operários ontem ocorrida por motivo de falta de pão prosseguiu hoje, não tendo trabalhado durante o dia 131 empresas com 158583. (...) Entre os manifestantes observava-se um número considerável de jovens estudantes. (...) Hoje a agitação adquiriu ainda maiores dimensões e pode já assinalar-se um centro dirigente, de onde são recebidas as diretivas... Se não forem tomadas medidas decididas para reprimir as desordens, é possível que na segunda-feira sejam erguidas barricadas.De assinalar-se que entre as unidades militares chamadas para esmagar as desordens se observa simpatia pelos manifestantes, e algumas unidades, assumindo mesmo uma atitude protetora, encorajam a multidão dizendo: avancem com mais força. (...)”

Notas da polícia política, in A. Nenerókov, 1987 - História Ilustrada da Grande Revolução Socialista 

A Revolução de Outubro

“3) Nenhum apoio ao governo provisório. 4) Explicar às massas que os sovietes de deputados operários são a única forma possível de um governo revolucionário. 5) Não à república parlamentar, sim à república de camponeses operários, assalariados agrícolas e camponeses, no país inteiro, de baixo até cima (...). 6) Nacionalização de todas as terras no país; as terras serão postas à disposição dos sovietes locais de deputados dos assalariados agrícolas e camponeses . (...) 8) A nossa tarefa imediata não é a de introduzir o socialismo, mas unicamente de passar ao controlo da produção social e da repartição de produtos pelos sovietes de deputados operários.”

Lenine, As Tarefas do Proletariado na Nossa Revolução, abril de 1917

Lenine, 1917

2. Com base nos documentos 3 e 4, refira as razões da eclosão da Revolução de Outubro.

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Da democracia dos sovietes à ditadura de proletariadoGuerra civil e comunismo de guerra

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A democracia dos Sovietes

“1) A propriedade dos proprietários fundiários sobre a terra é abolida imediatamente sem qualquer indemnização. 2) Os domínios dos proprietários fundiários, assim como todas as terras dos mosteiros e da Igreja, com todos os seus animais mortos e vivos, todas as construções e dependências, são postos à disposição dos comités agrários do cantão e dos Sovietes de camponeses dos distrito, até à Assembleia Constituinte. 3) Todo o prejuízo causado à propriedade confiscada, que pertence doravante ao povo inteiro, é declarado crime grave passível do tribunal revolucionário.”

Decreto sobre a terra, 8 de novembro de 1917

Revolta de Kronstat, 1921

3. Indique, tendo em conta os documentos 5 e 6, as primeiras iniciativas do governo revolucionário.

4. Com base nos documentos, explique os principais obstáculos à ação do governo.

A Ditadura do Proletariado

“A sociedade capitalista, considerada nas suas condições de desenvolvimento mais favoráveis, oferece-nos uma democracia mais ou menos completa. Mas esta democracia (...) permanece, no fundo, uma democracia para a maioria, unicamente para as classes possidentes, unicamente para os ricos.A ditadura do proletariado, isto é, a organização da vanguarda dos oprimidos em classe dominante para abater os opressores, não pode limitar-se a um simples alargamento da democracia. (...) Tornada, pela primeira vez, democracia para o povo e não para os ricos, a ditadura do proletariado traz uma série de restrições à liberdade dos opressores, os exploradores, os capitalistas. Estes devem ser abatidos a fim de libertar a humanidade da escravatura assalariada (...)”

Lenine, O Estado e a Revolução, 1917

Crianças russas, 1920

5. Tendo em conta o documento 7, explique de que forma se manifestou a ditadura do proletariado.

6. Com base no documento 8, explique o abandono do comunismo de guerra.

7. Indique as medidas tomadas na Nova Política Económica.

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1917: o ano das revoluçõesGuia de estudo

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Objetivo 1. Enunciar os principais fatores que levaram à revolução socialista soviética

Ao iniciar-se o século XX, o extenso império russo vivia ainda à maneira feudal, com 100 milhões de camponeses (85% da população) a trabalharem as terras dos nobres, pouco férteis e geladas, e com

instrumentos rudimentares, de cujo rendimento tinham de entregar 50% aos proprietários. O operariado era escasso (3 milhões) e sofria más condições de trabalho e de vida. A burguesia (advogados, médicos,

professores, inteletuais) e nobreza liberal ansiavam por modernizar o país, através de reformas. As vozes

descontentes faziam-se ouvir nos diversos partidos políticos (Sociais-Democratas, formado por inteletuais no exílio, como Lenine; Socialistas Revolucionários, constituído por operários e inteletuais defensores da

socialização dos meios de produção; Constitucionais Democratas, composto por burgueses apoiantes de um governo parlamentar) apesar da reduzida liberdade e perseguições à oposição.

Em 1903, devido a divergências de programa os Sociais-Democratas dividem-se em bolcheviques, adeptos

do Marxismo-Leninismo e Mencheviques, adeptos do socialismo reformista.Enquanto estes partidos vivam na clandestinidade, o czar Nicolau II governava autoritariamente rodeado de

uma corte faustosa e corrupta.Em 1905, o descontentamento era generalizado, agravado com a derrota russa frente ao Japão (1904), pela

posse da Manchúria. Após o episódio do “Domingo Sangrento”, o czar vê-se obrigado a acalmar os ânimos

com algumas medidas liberais, convocando eleições para o Parlamento para este elaborar uma Constituição e abolindo certos privilégios à nobreza.

Perante deputados “fantoches” ou a dissolução constante da Duma, a revolta cresce e acaba por se tornar imparável com a entrada da Rússia na Grande Guerra, como membro da Aliança Entente, ao lado da

França. Devido à má preparação do exército, as derrotas sucedem-se e custam milhares de mortos e

inválidos e desorganizam a já débil economia russa. Ao descrédito militar junta-se a agitação social com o desemprego, a falta de géneros, inflação e repressão.

Objetivo 2. Explicar as razões da eclosão da revolução de Outubro

Em 1917, estavam reunidos as condições para acontecer uma revolução, que estalaria em fevereiro/março,

onde a burguesia ascende ao poder, pondo fim ao czarismo e instaurando um regime republicano, na Rússia. Os revolucionários exigem abdicação de Nicolau II e formam um Governo Provisionário,

constituído por Kerensky e pelo princípe Lvov e mais nove membros.Paralelamente, formam-se Sovietes por todo o país, que serão liderados pelo Soviete de S. Petersburgo, onde

se destacará Lenine, logo que regressa do exílio. Verifica-se uma espécie de duplo poder a atuar em

pararelo: o governo provisório, de cariz burguês, liberal e reformista e os sovietes, operários e camponeses adeptos do marxismo. O governo esforça-se por impor uma democracia parlamentar e toma várias medidas

liberalizantes: libertação dos presos políticos e regresso dos exilados; promulga as liberdades civis; preparação de eleições para a Assembleia; separação da Igreja do Estado. Mas recusou retirar-se da guerra

mundial e a distribuir terras aos camponeses. A população descontente, integra-se nos sovietes, controlados

pelos bolcheviques, insurge-se e exige a retirada da guerra e a confiscação das terras ou então o derrube do governo burguês e a entrega do poder aos sovietes. Em outubro estala uma nova revolução, liderada pelos

bolcheviques, constituídos em Guardas Vermelhos, que assaltam o Palácio de Inverno, em S. Petersburgo, sede do governo provisório, para assumirem o poder.

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Da democracia dos sovietes à ditadura do proletariadoGuia de estudo

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Objetivo 3. Identificar as primeiras realizações do Governo revolucionário

Com o poder nas mãos dos Sovietes, são decretadas, de imediato, medidas revolucionárias que vão ao encontro das aspirações da população, sua base social de apoio: abolição, sem indemnizações, do direito de

propriedade privada sobre a terra que foi distribuída pelos camponeses, sem ter de pagar qualquer renda; controlo operário nas fábricas privadas pelas comissões de trabalhadores; nacionalização dos bancos e

comércio externo; promulgação da 1ª Constituição e instituição do regime de partido único; direito de todos

os povos do antigo império russo disporem da sua soberania, incluindo a independência; cisão dentro do movimento socialista; negociações para a Paz com a retirada imediata da guerra, através do tratado de

Brest-Litovky (março de 1918), assinado com a Alemanha, embora com inúmeras perdas: regiões bálticas (Estónia, Letónia, Lituânia e Finlândia), Polónia e Ucrânia.

Objetivo 4. Enunciar as principais dificuldades sentidas pelo Governo revolucionário

O arrastamento das negociações, a resistência dos proprietários e empresários aos novos decretos, o regresso

de 7 milhões de soldados, o desemprego e a persistência da agitação social não permitiram a adesão fácil ao

bolchevismo, tendo resultado numa guerra civil (1918-1920).A contra-revolução não se fizera esperar. Os Mencheviques, apoiados pela Igreja, latifundiários, burgueses e

potências ocidentais, reuniram-se à volta do Exército Branco para enfrentar o já existente Exército Vermelho, dos bolcheviques.

Os confrontos terminarão devido aos desentendimentos internos entre Mencheviques e ao receio da

população em regressar ao passado pelo que apoiaram o Exército Vermelho. Saldou-se em 10 milhões de mortos pelo frio, fome, epidemias e pelos ferimentos.

Objetivo 5. Explicar as razões de Lenine para aplicar a ditadura do proletariado e o comunismo de guerra

Embora seguindo os princípios do Marxismo, Lenine teve de fazer adaptações ao caso russo, nomeadamente incluir os camponeses no proletariado, e enfrentar a pouca adesão popular aos decretos

revolucionários. Teve, por isso, de atuar energeticamente perante a guerra civil através do comunismo de guerra. Nesta fase, Lenine vê-se obrigado a esquecer a democracia dos sovietes e a tornar medidas

excepcionais, no sentido de nacionalizar a economia (os bens na mãos do estado) para garantir o

abastecimento das populações e do exército vermelho: os excedentes agrícolas foram requisitados aos camponeses que os deviam vender obrigatoriamente ao estado a preços fixos e baixos; as indústrias com

mais de 100 operários foram retirados aos seus donos e entregues aos trabalhadores; o comércio externo e interno livres foram reduzidos e as embarcações nacionalizadas; as grandes propriedades que ainda

persistiam foram expropriadas, sem indemnizações, sendo entregues aos sovietes ou Comités agrícolas; o

trabalho passou a ser obrigatório dos 16 anos aos 50 anos e, muitas vezes, pago em géneros de 1ª necessidade; os salários eram atribuídos conforme o rendimento e a indisciplina laboral reprimida.

Foram proibidos todos os restantes partidos e os jornais ditos burgueses, os mencheviques afastados dos sovietes e dissolvida a Assembleia Constituinte. Instala-se um clima de Terror com a polícia política russa -

Tcheca - a atuar como arma do governo e substituindo-se aos tribunais.

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Do comunismo de guerra à nova política económicaGuia de estudo

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Objetivo 6. Indicar as consequências económicas, sociais e políticas da nova política económica

Entre 1920 e 1921, a Rússia encontrou-se num verdadeiramente no caos económico e as vítimas da fome ascenderam aos 6 milhões: os camponeses produziam apenas para consumo próprio, fazendo descer para

50% da produção agrícola verificada em 1913 (antes da guerra); a produção industrial diminuiu,

relativamente a 1913, e os caminhos de ferro e extração mineira estavam parados; a insatisfação e a miséria generalizaram-se.

Em 1921, Lenine opta por fazer um recuo estratégico. A nova política económica (NEP) consistiu num conjunto de medidas liberalizadoras da economia num misto de iniciativa estatal e privada. Na agricultura,

as requisições das collheitas foram substituídas por impostos em géneros; deu liberdade aos camponeses para

cultivarem o que desejassem e de vender os seus excedentes no mercado de modo a estimular as trocas e a produção. Na indústria, as empresas com menos operários foram entregues aos seus antigos donos; foi

permitida a entrada de capitais, técnicos e matérias-primas estrangeiras; criaram-se prémios de produtividade.

Os resultados desta abertura ao capitalismo, embora parcial, permitiram relançar a produção agrícola e as

relações campo-cidade. A produção industrial foi a que menos cresceu, mas mesmo assim, as empresas estatais triplicaram-na em 3 anos. A criação de uma nova classe média burguesa, de proprietários rurais

abastados e pequenos comerciantes irá por em causa o comunismo e chocar com os bolcheviques.