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Mouriane Bastos Oliveira Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

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Page 1: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Mouriane Bastos Oliveira

Candomblé e Imprensa

As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Jacobina – BA

26 de Maio 2016

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UNEB

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

Candomblé e Imprensa

As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Projeto apresentado como pré-requisito para o

componente curricular Elementos para

construção de um projeto de pesquisa sob

orientação de Jackson Ferreira e Valter de

Oliveira.

Jacobina - BA

26 de Maio 2016

Page 3: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

SUMÁRIO

Resumo e palavras-chave ............................................................................4

Introdução ....................................................................................................5

Justificativa ..................................................................................................8

Objetivos ....................................................................................................10

Aspectos teóricos e metodológicos ............................................................11

Cronograma ...............................................................................................15

Fontes .........................................................................................................16

Referências .................................................................................................17

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RESUMO

Este estudo analisa as concepções em relação à cultura do candomblé a partir do Jornal O Alabama: Periodico critico e chistoso no final do século XIX, mais especificamente entre 1963 e 1871, na cidade de Salvador, capital da Província da Bahia. Detém-se na análise das manifestações mágico-religiosas neste jornal, e na discussão sobre como o governo provincial e as elites letradas do período posicionaram-se em relação a cultura e religiosidade africana e afro-brasileira.

PALAVRAS-CHAVE

Elite letrada; O Alabama; Candomblé; Bahia.

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INTRODUÇÃO

A realidade étnica racial que vivemos hoje, já é por si só uma motivação para que

possamos está sempre buscando o porquê do preconceito contra a cultura afro-brasileira.

Vivemos em um mundo diversificado, formado por pretos, pardos e brancos

miscigenados, discutir essas relações étnica-raciais contribui tanto para produzir e

divulgar conhecimentos, como, também, viabiliza posturas e valores capazes de criar

uma consciência de que o respeito ao outro deve ser um preceito no convívio social,

evitando dessa maneira, futuros conflitos entre os diferentes valores morais existentes.

Assim, proponho investigar um tema que sempre foi alvo de preconceito e causador de

muita repercussão: A feitiçaria e o candomblé. Para isso, utilizarei a imprensa baiana do

século XIX como ferramenta principal para traçar o panorama social da época, e

analisar como e a partir de quais fundamentos o jornal O Alabama: periodico critico e

chistoso noticiou sobre a realização dos ritos religiosos do candomblé no período

oitocentista.

O Alabama foi um dos periódicos de maior duração desse período, estando em

circulação entre 1863 e 1890 na cidade de Salvador.1 Se autointitulava um “jornal

critico e chistoso”, no qual tratava de assuntos diversos, o que acabou disponibilizando

uma visão abrangente do cotidiano soteropolitano. Seus editores eram afro-baianos,2 os

quais denunciavam e criticavam qualquer ação que fosse moralmente repreensível,

principalmente ao que correspondesse as práticas do candomblé e seu suposto

barbarismo.

1 Há que diga, que O Alabama circulou na Bahia entre 1863 e 1883, e não até 1890 como está implícito da apresentação da coleção digitalizada pela Fundação Pedro Calmon e IGHB. De fato, existiram outros Alabamas, um de 1887 e outro de 1890, que não possuíam nenhuma semelhança com o original, o ultimo sendo monarquista anunciado em tempos de republica. Disponível em: http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/nelson-cadena-o-alabama-como-fonte-de-pesquisa-social acessado em 25 de abril de 2016, às 18:20

2 Assim como está descrito na capa criada para apresentação do acervo de periódicos digitalizados, utilizarei o termo “afro-baiano” para me referir aos editores do Jornal O Alabama. Disponível em: < http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=84 > acessado em 16 de maio de 2016, às 20:30.

Page 6: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

É importante ressaltar que no final do século XIX, a maior parte da população

soteropolitano não sabiam ler nem escrever, fator que não impediu a expansão dos

periódicos, já que a leitura destes passaram a serem feitas em voz alta pelos letrados da

época, o que contribuiu para que a elite letrada acabasse disseminando e influenciando

culturalmente a cidade com seus discursos e publicações em jornais. Assim, como é

exposto na dissertação de mestrado de Meire Lúcia dos Reis, “ o jornal não apenas

transmite informações, como dissemina novas e velhas ideias. Importante instrumento

de transmissão do pensamento da elite no período, os jornais impunham

respeitabilidade, por serem portadores de ponto de vista “verdadeiros” formando

opinião”.3

Dessa maneira, torna-se indispensável um estudo mais acurado desses discursos, já que

este nos disponibiliza uma visão de um período em que a imprensa estava repleta de

ideias liberais e civilizatórias, tentando, portanto, abolir qualquer ato que fosse

considerado como desordem social, principalmente no que condiz a práticas mágico-

religiosas. Questão essa, que fica bastante clara na análise do próprio jornal O Alabama,

que ao decorrer de suas publicações sempre vem abordando e denunciando as práticas

ligadas ao “candomblé e seu suposto barbarismo”.4 Diante disso, em um primeiro

momento caracterizarei o periódico O Alabama enfatizando como o governo provincial

e as elites letradas do período se manifestaram sobre a cultura e religiosidade africana e

afro-brasileira.

O segundo momento, abordará aspectos das práticas e praticantes ligados aos cultos de

origem africana ao longo do século XIX. Para ser mais sucinta, tentarei explanar um

pouco mais sobre a composição hierárquica social do candomblé, apresentando quais

tipos de pessoas estavam envolvidos nesses cultos, seja de forma direta ou indireta. Já

que neste período, os ritos praticados acabavam agradando diferentes grupos sociais,

variando desde negros, negociantes e até mesmo mulheres que não queria deixar seus

maridos falhar com os seus deveres conjugais.5 Ainda nesse capitulo, observarei como

3 Meire Lucia dos Reis, A cor da noticia: Discurso sobre o negro na imprensa baiana 1888-1937 , Salvador-Ba, [Dis. Mest.]. UFBA, 2000, p.8.

4 Disponível em: http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=84> acessado em 16 de maio de 2016 às 22:28.

5 Reis, João José. Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do século XIX – São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Page 7: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

eram noticiados os rituais mágico-religiosos do período, assim como também os

elementos que compunham a realização dos mesmos.

Por fim, mais não menos importante, analisarei o Candomblé quanto símbolo de

resistência negra. É valido ressaltar que a religião, assim como qualquer outra

manifestação cultural do ser humano, lhe emancipa ou lhe domina. Os negros apesar de

terem sido escravizados na pele, na alma nunca foram dominados, porque mantiveram a

religião que os emancipavam, o candomblé. A exemplo da conquista pelo espaço no

meio social, podemos citar a Lei Municipal do tombamento sancionada por ACM Neto

em Salvador – Ba, que decreta proteção a um centro de candomblé existente em seu

território, momento esse, que se tornou um marco histórico de reconhecimento da

religião de matriz africana na capital.6

6 LEI Nº 8550/2014: Art1; O Município de Salvador protegerá o Patrimônio Cultural existente em seu

território por meio dos seguintes institutos: I - Tombamento; II - Registro Especial do Patrimônio Imaterial.Parágrafo Único - O patrimônio cultural, para fins de preservação, é constituído pelos bens culturais cuja proteção seja de interesse público, pelo seu reconhecimento social no conjunto das tradições passadas e contemporâneas no Município de Salvador... Disponível em: < https://leismunicipais.com.br/a/ba/s/salvador/lei-ordinaria/2014/855/8550/lei-ordinaria-n-8550-2014-institui-normas-de-protecao-e-estimulo-a-preservacao-do-patrimonio-cultural-do-municipio-de-salvador-e-da-outras-providencias.html> acessado em 16 de maio de 2016, às 00:53.

Page 8: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

JUSTIFICATIVA

Sempre possui profundo interesse por tudo que correspondia ao ensino de história da

cultura Africana e afro-brasileira, mas o que sempre me fascinou nessa área foi a

religiosidade, em especial, o Candomblé.

Talvez esse fascínio seja pelo fato de ter crescido em um ambiente de tradições, festas,

costumes e crenças ligada a essa religião. Desde criança, venho acompanhando o que o

peji, como é conhecido em minha região, simboliza na vida de minha avó, uma Ogan

Pejigan,7 que a todo ano, no dia 27 de outubro, tem que cumprir com suas

“obrigações”.8 Mantendo uma relação permuta, onde se oferece sacrifícios ou outros

rituais aos orixás em troca de proteção, prosperidade, saúde ou qualquer outra forma de

compensação destas divindades, onde, de acordo com o que foi dito por ela, o não

cumprimentos desse compromisso poderá causar consequências variadas.

Esse cenário acabou despertando um desejo incontestável de poder contribuir de alguma

maneira para desmitificar a ideia construída ao longo do tempo, de que o candomblé é

algo maligno e demoníaco. Já que presenciando esses costumes desde muito cedo, não

consigo de forma alguma liga-los a outra coisa a não ser a uma religião, que como

qualquer outra, seja ela católica, evangélica ou espirita, possuiu seus ritos e suas

próprias crenças.

O histórico do preconceito a cultura afro-brasileira é muito vasto, mais foi

principalmente durante o século XIX que a intolerância e perseguição policial a

qualquer postura e práticas mágico-religiosas estiveram ainda mais intensificadas, fato

que contribui para a escolha do tempo e espaço da minha pesquisa. Diante disso, a

escolha do meu tema foi feita após observar que, apesar d`O Alabama ser um dos

periódicos de maior duração nesse período, estando marcado por fortes críticas as

práticas de feitiçaria e Candomblé, até o presente momento não conseguir localizar

nenhum estudo que faça uma análise mais aprofundada sobre as concepções formadas

sobre o Candomblé entre 1863 a 1871, através das notícias publicadas n’O Alabama.

7 É uma função de cuidas do Axé, ou seja, ela cuida do Peji (Altar da casa). O/A Zelador (a) confiará o peji aos cuidados do Pejigan, ele assume junto ao axogun a primeira posição na hierarquia dos ogan e deve ser chamado de Pai ou mãe. Dísponível em: < https://meuorixa.wordpress.com/2012/05/06/cargos-do-candomble/> acessado em 18 de maio de 2016 às 23:23.

8 Nome dado aos sacrifícios, oferendas e festas realizadas em homenagem aos Orixás.

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Assim, uma pesquisa mais acurada d´O Alabama e seu discurso sobre o Candomblé,

proporcionará compreender melhor a política e a maneira como o governo provincial e

as elites letradas se manifestaram sobre a cultura e religiosidade africanas e afro-

brasileiras na segunda maior cidade do império.

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OBJETIVOS

Geral

Analisar as concepções sobre o candomblé no século XIX a partir do jornal O

Alabama.

Específicos

1 - Discutir como o governo provincial e as elites letradas se manifestaram sobre a cultura e religiosidade africanas e afro-brasileiras.

2 –Caracterizar as práticas e os praticantes ligados aos cultos de origem africana ao longo do século XIX.

3 – Analisar o Candomblé quanto símbolo de resistência negra a ordem escravocrata.

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ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

É sabido que nem sempre o jornal foi visto como objeto de pesquisa, sendo

desvalorizada e consideradas fontes duvidosas por historiadores e antropólogos. Isso

deve-se ao fato de que por muito tempo a imprensa ficou presa a um sistema

doutrinário, onde, antes de qualquer publicação, era realizada uma espécie de revista

sobre o documento, assim como é apontado por Roger Chartier, o qual diz que, o

revisor tinha a função de atuar como um censor, tendo por obrigação recusar a

impressão de qualquer texto em que tenha algo que a inquisição proibiu ou que estivesse

contraria a fé, ou a coisa pública.9

Fica claro, portanto, que além de informar o jornal também possuía a tarefa de

disseminar concepções civilizatórias, procurando abolir determinados hábitos existentes

na sociedade. Verifica-se conclusões semelhantes no trabalho de Maria Helena

Capelato, a qual faz uma análise sobre a imprensa paulista entre os anos 1920 a 1945,

caracterizando-a como interprete e formadora de opinião pública, e especialmente

enquanto a “elite bem pensante” do país.10 Capelato relata ainda que, “Assis

Chateaubriand caracterizou o jornalista como a incorporação mais completa do homem

público, o político militante, cuja tarefa consiste em opinar para multidão que aguarda

sua palavra acerca de cada uma das questões trazidas ao debate dos cidadãos”.11 Assim,

ao ser publicado a notícia, verifica-se que esta, passa a exercer um papel de instrumento

do poder, e que acaba representando os interesses do público a que se destina.

Para Roger Chartier, “longe de estarem presos a uma forma que lhe seria dada de uma

vez por todas, os textos são móveis, instáveis, maleáveis. Suas variantes resultam de

uma pluralidade de decisões ou de erros, distribuídos ao longo de seu processo de

publicação”12, portanto ao trabalhar com fontes jornalísticas, é necessário que o

9 Roger Chartier. Inscrever e apagar. Cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Tradução de Luzmara Curcino Ferreira, São Paulo: Editora da UNESP, 2007. p 89.

10 Maria Helena Capelato. “ O controle da opnião e os limites da liberdade: Imprensa paulista (1920-1945) In. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol.12, n°23/24, pp.55-75, set 1991/ago 1992.

11Nota da autora: Maria Helena Capelato, “ O controle da opnião e os limites da liberdade: Imprensa paulista (1920-1945), p.56.

12 Roger Chartier. Inscrever e apagar. Cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Tradução de Luzmara Curcino Ferreira, São Paulo: Editora da UNESP, 2007. p 97.

Page 12: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

pesquisador analise o documento, a fim de descobrir suas limitações, e explorar seu

potencial.

Sem dúvida, o jornal exerce um papel influenciável na construção de opinião da

sociedade. O que consequentemente acaba causando conflitos entre os diferentes

valores existente, já que, como se pode observar no artigo de Aline Maria Muller, esses

“textos de formato parcial são responsáveis pela perpetuação de representações sociais

pejorativas”13, fato que é claramente observado ao se trata de assuntos relativo a cultura

africana e afro-brasileira, principalmente quando relacionado as concepções sobre as

práticas de feitiçaria e Candomblé.

Segundo João José Reis, os principais objetos de pesquisa sobre rituais mágico-

religiosos no século XIX serão encontrados basicamente em dois tipos de fonte: nos

registros policias da época e nas notícias de jornais. Esses documentos eram inscritos

por pessoas que geralmente não possuíam vínculos com o Candomblé, e que estavam

perseguindo ou condenando estas práticas, por isso, de acordo com Reis, as informações

que neles aparecem “são quase sempre incompletas, distorcidas ou simplesmente

equivocadas”.14 Cabe ao pesquisador, portanto, desenvolver métodos para analisar

criticamente essas fontes, e assim extrair as informações necessárias para desenvolver

seu estudo, já que estas, apesar de conter um quadro pejorativo, ainda assim acabam

revelando muito sobre os cultos de origem africana no período.

De acordo com a escritora, Lilian Moritz Schwarcz, a afirmação de inferioridade negra

não se apresentava apenas nos grandes debates do final do século XIX, mas também nas

pequenas seções e nos vários discursos que compunham parte básica e cotidiana dos

jornais que circularam nesse período.15 É impossível falar sobre a inferioridade negra, e

não citar o estudo do escritor Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, no qual o autor

coloca o negro como um problema a ser enfrentado pela sociedade, mas que de fato é de

grande importância para compreensão da miscigenação da raça brasileira.

13 Aline Maria Muller. O jornal como fonte de pesquisa histórica e antropológica: entre monologismo e a polifonio. In. Biblos: Revista de letras da Universidade de Coimbra, n° 1, (2015) 3ª série, p.271

14 João José Reis. Bahia de todas as Áfricas. Disponível em: < http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/bahia-de-todas-as-africas> acessado em 03 de abril de 2016 às 15:30.

15 Lilian Moritz Schwarcz, Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo, Companhia da letras, 1987, p.40.

Page 13: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Nina Rodrigues ressalta ainda, no capítulo, Sobrevivências Religiosas, Religião,

Mitologias e Culto, dizendo que antes, durante a escravidão, os negros sofriam aos

graves maltrato de seus senhores, e que após ela, passaram a sofrer com a prepotência

da polícia e a contestação da opinião pública.16 Diante disso ele vai reunir uma série de

documento da imprensa baiana, os quais deixam claro que além das práticas religiosas

dos negros resistirem a toda perseguição do período, elas também acabaram se

alastrando por outros setores da sociedade entre a população de cor.

Quanto a esse ponto de resistência e de expansão da cultura mágico religiosa do

candomblé podemos citar ainda um livro que se tornou um clássico da historiografia,

Negociação e conflito, no qual no terceiro capitulo deste, será abordado respectivamente

às formas de resistência e luta pelo direito a prática do candomblé, sem que fosse

preciso se preocupar tanto com os ataques físicos quando os ideológicos. 17

No que se refere a importância negra para formação cultural, o livro Sincretismo

Religioso Afro-Brasileiro, do escritor Waldemar Valente, vem reforçar e ampliar a ideia

já explorada por Nina Rodrigues. Valente faz uso das concepções da teoria culturalista e

define o sincretismo como: “um processo que se propõe resolver uma situação de

conflito cultural”. Para ele sincretismo, se diferencia de aculturação, amalgamação e

assimilação, pois além de sofrer com a interfusão dos componentes culturais há também

uma junção biológica, caracterizando-se assim, como uma intermistura dos elementos

culturais existentes.18

Segundo o autor, o sincretismo abrange em duas fases: a de acomodação, em que há

uma redução dos conflitos culturais, e o indivíduo continua mantendo relações com os

valores da cultura de que se origina; e a de assimilação, onde vai haver uma

interpenetração de outros indivíduos ou de um grupo, os quais partilharão experiências

transformando-se em uma mesma vida social, caracterizando-se por um processo lento e

inconsciente. Diante disso, percebe-se o cuidado de Valente em ampliar o conceito de

sincretismo, diferenciando-o do processo de aculturação e evidenciando suas vertentes.

16 Nina Rodrigues. Os Africanos no Brasil. 4 ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1976, p.238.

17 REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociações e Conflito; a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.9.

18 Waldemar Valente. Sincretismo Religioso afro-brasileira. 3 ed, Vol. 280. São Paulo: Editora Nacional, 1977, pp.10-11.

Page 14: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

Roger Bastide é outro nome que tem grande referência nos estudos da área de religião

africanas. Em seu estudo, O candomblé da Bahia: o rito nagô, o autor, não prioriza a

busca da origem africana ou de nenhum outro traço, nem a possibilidade de sincretismo

deles com os da civilização luso-brasileira, como já se tem conhecimento sobres outras

obras existentes, entre elas as que já foram citadas aqui (Os africanos no Brasil e o

Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro), mas sim o candomblé quanto realidade

autônoma, sem nenhum referencial histórico ou qualquer transferência de uma cultura

para outra. Seu estudo destaca-se principalmente por ser uma discrição do

funcionamento e realização dos cultos do candomblé iorubá, frequentemente praticados

na Bahia.19

É digno de nota uma ressalva feita por Bastide em seu trabalho, o qual diz:

“Mas tornava-se necessário reagir imediatamente contra o preconceito

pejorativo que ameaçava desnaturar a descrição dos fatos

etnográficos; que impedia, na realidade, a compreensão do significado

das cerimonias e dos gestos, apresentando-os antes como uma espécie

de criatura e de degradação”. (2001; p.25).

Nota-se, portanto, na citação acima, a preocupação de Bastides em desconstruir as

ideias pejorativas criadas ao longo do tempo em torno das práticas mágico-religiosas,

procurando desconstruir o preconceito e a ideia de que a religião do candomblé é uma

pratica de negros, já que esta, se encontra fundamentalmente integrada tanto por

mulatos, como também por brancos e até mesmo estrangeiros.

19 Roger Bastide. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução de Le candomblé de Bahia, de 1958. 3ª edição. São Paulo: Nacional, 1978. Nova Edição: São Paulo, Cia. das Letras, 2001. p. 24.

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CRONOGRAMA

ATIVIDADE JUN-JUL AGO-SET OUT-NOV DEZ-JAN FEV-MAR ABR-MAI JUN

Pesquisa, seleção e coleta

de fontes

Análise das Fontes

Leitura bibliográfica

Fichamento das pesquisas

escritas

Redação da Monografia

Revisão de texto

Entrega da Monografia

Defesa da Monografia

PERIÓDO 2016-2017

Page 16: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

FONTES

Para realização de meu estudo, farei uso do jornal O Alabama: Periodico critico e

chistoso, que circulou na cidade de Salvador, capital da província da Bahia, no final do

século XIX, mais especificamente entre os anos de 1863 a 1890. 20

A coleção foi disponibilizada para pesquisa, pela Fundação Pedro Calmon em parceria

com o IBGH21, através do projeto Biblioteca Virtual Consuelo Pondé. Embora não

esteja completa, estando disponíveis apenas os números entre o período de 1863 a

1871.22 Os periódicos além de nos oferecem uma visão privilegiada do passado

soteropolitano, se tornado uma importante fonte de reconhecimento dos terreiros de

candomblé do período, já que as notícias, movidas por um caráter de denúncia, eram

escritas de forma minuciosa e detalhada.

Na capa de apresentação, diz-se que os editores do Jornal eram afro-baianos com ideias

liberais e civilizatórios, e que “criticavam tanto a violência física e moral da escravidão

quanto o candomblé com seu suposto barbarismo”.23

20 Segundo o jornalista Nelson Cadena - jornal Correio da Bahia 26/02/2016 versão online-, existiu mais de um jornal com o nome Alabama; o primeiro circulou entre 1863 a 1883, o segundo em 1887 e outro em 1890.

21 Instituto Geográfico e História da Bahia.

22 Faltam alguns número do mês de abril de 1864 (42 a 44 e 48 a 54) e do mês de Junho de 1865.

23 Disponivel em: http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=84 acessado em: 19 de abril de 2016 às 17:25.

Page 17: Candomblé e Imprensa As concepções sobre candomblé no século XIX a partir do jornal O Alabama

REFERÊNCIAS

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução de Le candomblé de

Bahia, de 1958. 3ª edição. São Paulo: Nacional, 1978. Nova Edição: São Paulo, Cia. das

Letras, 2001.

CAPELATO, Maria Helena. ” O controle da opinião e os limites da liberdade:

Imprensa paulista (1920-1945) In. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol.12,

n°23/24, pp.55-75, set 1991/ago 1992.

CHARTIER, Roger. Inscrever e apagar: Cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII).

Tradução de Luzmara Curcino Ferreira, São Paulo: Editora da UNESP, 2007.

MULLER, Aline Maria. “O jornal como fonte de pesquisa histórica e antropológica:

entre monologismo e a polifonio”. In. Biblos: Revista de letras da Universidade de

Coimbra, n° 1, (2015) 3ª série.

REIS, Meire Lucia dos. A cor da notícia: Discurso sobre o negro na imprensa baiana

1888-1937, Salvador-Ba, Dissertação de Mestrado em História. UFBA, 2000.

REIS, João José. Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e

candomblé na Bahia do século XIX – São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociações e Conflito; a resistência negra no

Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

RODRIGUES, Nina Os Africanos no Brasil. 4 ed.. São Paulo: Cia. Editora Nacional,

1976.

SCHWARCZ, Lilian Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e

cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo, Companhia das letras,

1987.

Sites:

http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/nelson-cadena-o-alabama-como-fonte-de-pesquisa-social acessado em 25 de abril de 2016, às 18:20

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http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=84 > acessado em 16 de maio de 2016, às 20:30.

http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=84> acessado em 16 de maio de 2016 às 22:28.

https://leismunicipais.com.br/a/ba/s/salvador/lei-ordinaria/2014/855/8550/lei-ordinaria-n-8550-2014-institui-normas-de-protecao-e-estimulo-a-preservacao-do-patrimonio-cultural-do-municipio-de-salvador-e-da-outras-providencias.html> acessado em 16 de maio de 2016, às 00:53.

< https://meuorixa.wordpress.com/2012/05/06/cargos-do-candomble/> acessado em 18 de maio de 2016 às 23:23.

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/bahia-de-todas-as-africas> acessado em 03 de abril

de 2016 às 15:30.