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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1294 Setembro/2013 Casa de Sementes: caminhos para a autonomia A comunidade Cacimba Velha, fica localizada a 12 km da sede do município de Massapê, região norte do Ceará. As famílias exibem, com orgulho, cisternas, cuidadosamente, pintadas, branquinhas. “Aqui a gente pinta as cisternas todos os anos”, nos conta Francisco de Assis Teixeira, conhecido como Di Assis, agricultor, presidente da Associação da comunidade e integrante da coordenação da Casa de Sementes, que funciona em um dos cômodos de sua casa. Mesmo funcionado nesse espaço ela é comunitária e contribui para a auto-suficiência dos agricultores e agricultoras da comunidade e no abastecimento de sementes importantes para a agricultura local. Atualmente são 24 sócios, 14 homens e 10 mulheres. Seu Di Assis mora com dona Maria do Rosário, sua esposa e com os dois filhos Adalberto, de 19 anos e Antônio, de 15. Dona Rosário conta que mesmo antes de organizarem na Casa, a família sempre guardou sementes. Hoje, a variedade impressiona. Além de diversas espécies de milho e feijão, as mais comuns na região a Casa abriga uma diversidade enorme de outras sementes: feijão gandu, sorgo, café preto, pau d'arco, xixá, umburana, jatobá estão entre eles. São tantas garrafas e potes com sementes que Seu Di Assis confessa que as vezes até mistura duas espécies diferentes. E ainda lamenta: “Ah, se o inverno tivesse sido bom, aqui não ia caber de tantas sementes”. A reunião da Casa acontecesse uma vez por mês junto com a reunião da Associação de Moradores. As Casas de Sementes surgiram no Brasil na década de 1970, por iniciativa da Igreja Católica junto a diversas comunidades de vários estados do nordeste brasileiro. No início, o principal objetivo era garantir às famílias sementes armazenadas para o plantio quando caíssem as primeiras chuvas e, assim, deixar de depender do patrão, trocando dias de serviço por sementes para o plantio de seus roçados. Massapê As sementes produzidas são exibidas com orgulho Na estante diversas espécies de semente

Casa de Sementes: caminhos para a autonomia

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O Candeeiro - Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas, nº 1294

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Page 1: Casa de Sementes: caminhos para a autonomia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1294

Setembro/2013

Casa de Sementes: caminhos para a autonomia

A comunidade Cacimba Velha, fica localizada a 12 km da sede do

município de Massapê, região norte do Ceará. As famílias exibem, com

orgulho, cisternas, cuidadosamente, pintadas, branquinhas. “Aqui a

gente pinta as cisternas todos os anos”, nos conta Francisco de Assis

Teixeira, conhecido como Di Assis, agricultor, presidente da Associação

da comunidade e integrante da coordenação da Casa de Sementes, que

funciona em um dos cômodos de sua casa. Mesmo funcionado nesse

espaço ela é comunitária e contribui para a auto-suficiência dos

agricultores e agricultoras da comunidade e no abastecimento de

sementes importantes para a agricultura local. Atualmente são 24

sócios, 14 homens e 10 mulheres.

Seu Di Assis mora com dona Maria do Rosário, sua esposa e com os dois filhos Adalberto, de

19 anos e Antônio, de 15. Dona Rosário conta que mesmo antes de organizarem na Casa, a família

sempre guardou sementes. Hoje, a variedade impressiona. Além de diversas espécies de milho e

feijão, as mais comuns na região a Casa abriga uma diversidade enorme de outras sementes: feijão

gandu, sorgo, café preto, pau d'arco, xixá, umburana, jatobá estão entre eles. São tantas garrafas e

potes com sementes que Seu Di Assis confessa que as vezes até

mistura duas espécies diferentes. E ainda lamenta: “Ah, se o

inverno tivesse sido bom, aqui não ia caber de tantas sementes”. A

reunião da Casa acontecesse uma vez por mês junto com a reunião

da Associação de Moradores.

As Casas de Sementes surgiram no Brasil na década de 1970,

por iniciativa da Igreja Católica junto a diversas comunidades de

vários estados do nordeste brasileiro. No início, o principal objetivo

era garantir às famílias sementes armazenadas para o plantio

quando caíssem as primeiras chuvas e, assim, deixar de depender

do patrão, trocando dias de serviço por sementes para o plantio de

seus roçados.

Massapê

As sementes produzidas são exibidas com orgulho

Na estante diversas espécies de semente

Page 2: Casa de Sementes: caminhos para a autonomia

Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

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Além da possibilidade de autonomia, as Casa de

Sementes tornaram-se um importante espaço para

realização de reuniões, conversas e debates sobre os

problemas da comunidade. Qualquer pessoa, homem ou

mulher, ainda que seja da mesma família pode ser sócia

da Casa de Sementes. Basta que tenha identificação com

a proposta defendida e compromisso com o trabalho

coletivo.

Adalberto e Antônio, filhos do casal, também

mostram-se empolgados com a Casa de Sementes,

ajudam a organizar as Sementes que chegam trazidas pelas mãos calejadas de agricultores e

agricultoras da região, e muitas vezes, acompanham os pais em reuniões da Rede de Intercâmbio

de Sementes (RIS) da microrregião de Sobral. Rede que agrega Casas de Sementes de diversos

municípios. Adalberto conta que trabalha na cidade de Sobral, em uma grande fábrica de sapatos,

mas não gosta de lá, o trabalho é passado. O que ele queria mesmo era continuar estudando,

tentou vestibular esse ano para o curso de História. Ainda não foi dessa vez, mas diz que continuará

tentando até conseguir.

A Casa de Sementes da comunidade Cacimba Velha ainda tem o desafio de agregar mais

mulheres em sua organização. “Muitas vezes os maridos vem e as mulheres acham que não podem

vim, mas elas têm que vir sim é importante. Aqui em Casa eu e o Di Assis somos sócios e eu também

sou da coordenação”, afirma dona Rosário, com empolgação. No sertão do Ceará esses espaços

carinhosamente identificados como

Casa, que logo nos remete a um lugar

de acolhida, vão mudando algumas

realidades, fortalecendo a autonomia

das famílias e também contribuindo

com a comprovação de sua profissão

de agricultores e agricultoras, graças

aos recibos de empréstimo e

devolução. São iniciativas simples que

vão, dia a dia, construindo um

semiárido mais digno e bom de se

viver!

Realização Patrocínio

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Utilização do espaço para realização de reuniões

Presença firme das mulheres na organização das sementes