34
Alunos: Andressa Carlos Alberto Marizil Uelma CASO: Para que serve um pai... freudiano

Clinica Psicanalitica

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Clinica Psicanalitica

Alunos:Andressa

Carlos AlbertoMarizilUelma

CASO: Para que serve um pai... freudiano

Page 2: Clinica Psicanalitica

A história • C.C. Zinha, como insiste em chamá-la no

âmbito familiar, uma mulher de mais de quarenta anos, alta, exuberante, psicóloga, estudiosa, inteligente, filha única, foi casada onde teve somente uma filha e sua mãe também filha única.

• Seu pai, jurista bem sucedido, concentrou em sua figura todos os poderes de gerenciamento e administração dos bens e das decisões, tanto de sua própria família como da família de sua mulher. Regulamentava e interditava qualquer possibilidade de usufruto da mulher, como também da filha, daquilo que sua posição econômica possibilitava.

• Ao negar a filha a satisfação de demanda mais que razoáveis, lhe dizia: “ tudo vai ser seu, quando eu morrer”.

Page 3: Clinica Psicanalitica

• Também disse em algumas ocasiões: “ quando eu morrer ,você terá que cuidar de sua mãe” (já que esta é bastante liberal e impulsiva no trato com o dinheiro).

• Acometido, há algum tempo, por um nítido declínio físico, mas também emocional, foi internado no segundo semestre de 2005, com uma doença, supostamente, não diagnosticada, mas, sem dúvida, não nomeada. C. não sabe, exatamente, do que se tratava.

• Diante da impossibilidade concreta do pai, ainda hospitalizado, C. passou a administrar, minimamente, a economia doméstica familiar, que incluía sua própria casa e a casa paterna. Continuava, porém, não tendo acesso a todo o patrimônio acumulado, e alimentava, sinceramente, a esperança da volta do pai à sua posição original.

Page 4: Clinica Psicanalitica

• A transgressão do pai aparecerá, de forma totalmente surpreendente para C., em seu leito de morte, ligada à sexualidade, numa alusão que este fez ao tipo de mulher que desejava. Contingência intrigante para C., tanto quanto a emergência de um pai amoroso, que ela jamais pode ver, a não ser próximo da morte e num estado por ela qualificado de confusão mental.

• Há quatro meses, esse pai morreu. De fato, com a morte do pai, se viu sozinha, às voltas com a tarefa de gerenciar um grande volume de dinheiro, como também de administrar a casa paterna e ordenar, minimamente, os gastos que sua mãe passou a fazer, sem medir muito as consequências, providenciou um motorista e comprou um apartamento cuja vista é esplêndida, dando razão para o que o pai sempre dizia sobre a mãe.

Page 5: Clinica Psicanalitica

• Sente-se sozinha nessa tarefa, pois, embora tenha parentes que são próximos, não recorre a eles, pelo perigo que pode representar saberem que ela tem, de agora em diante, tanto dinheiro. Prefere buscar ajuda profissional: advogados, administradores financeiros, amigos mais confiáveis, pagando sem discussão, o que é cobrado.

• Sabia, de alguma maneira , que a herança seria , para ela , pesada e penosa demais.

• De fato, um custo muito alto para ser ter acesso a um pai não só tirano. Só que, ainda, ao custo da culpa e de uma lógica fálica inexoráveis, em se tratando de um pai freudiano.

Page 6: Clinica Psicanalitica

Para que serve um pai... freudiano

A condução da analise

Page 7: Clinica Psicanalitica

A análise – primeiro tempo• A paciente “C” busca tratamento

para o mal estar no casamento.• Gravidez vista como recurso

possível para mobilizar o marido na vida a dois.

• Em viagem ao exterior “C” passa mal e fica literalmente passiva.

• A maternidade faz “C” vacilar, e convoca o marido para ocupar essa função.

Page 8: Clinica Psicanalitica

• A paciente desiste dessa demanda em relação ao ex-marido.

• No período de análise “C” perde o avô materno, um pai doador como relata na sessão, que sabia viver a vida.

• Consegue um ganho terapêutico.• Resta uma nostalgia ligado aos

meninos do colégio na adolescência.

Page 9: Clinica Psicanalitica

• Ao fazer a dissertação de mestrado é despertada pela questão da feminilidade, onde busca pelo paradigma da feminilidade cultural.

• Depois interrompe a análise.• De maneira esporádica mantinha

supervisões clínicas.

Page 10: Clinica Psicanalitica

A análise – segundo tempo• Passado aproximadamente 2 anos

volta a procurar sua analista.• Retoma sua análise de maneira

fluída, um tanto froucha, sessões quinzenais.

• Apresenta leve depressão, alguns sintomas físicos.

• Na época que esteve em análise teve um namorado e um romance com um amigo.

Page 11: Clinica Psicanalitica

• Preocupa-se com envelhecimento dos pais em especial do pai, vislumbrando futuras responsabilidades.

• Mas nada a toca em demasia, está um pouco entorpecida.

• Pai adoece e C não sabe exatamente o motivo da doença.

• Passa a administrar as duas casas, porém sem acesso a todo patrimônio acumulado.

• A esperança que o pai volte a posição original.

Page 12: Clinica Psicanalitica

• O pai morre após 4 meses e ela traz para análise, toda angústia aí implicada.

• Se vê sozinha para administrar casa paterna e ordenar minimamente os gastos da mãe.

• Não recorre aos parentes, para que não saibam que ela tem de agora em diante, tanto dinheiro.

• Numa sessão fala sobre o advogado, mencionando parecer ter que dividir a herança com ele.

• Sempre considerou o pai muito honesto, encarnação da lei.

Page 13: Clinica Psicanalitica

• A transgressão do pai aparecerá, de forma totalmente surpreendente para “C”.

• Contingência intrigante, tanto quanto a emergência de um pai amoroso que ela jamais pode ver, a não ser próximo da morte e num estado qualificado por ela de confusão mental.

• Considera que o pai só abre mão do controle, quando perde o controle de si mesmo.

• Um custo alto para ter acesso a um pai não só tirano.

Page 14: Clinica Psicanalitica

• Pode providenciar assim que o pai morreu, regalias e confortos.

• Mas ao custo da culpa e de uma lógica fálica inexoráveis, em se tratando de um pai freudiano

• Passou a ir semanalmente à sessão e disse que agora poderia pagar devidamente.

• Um aumento pequeno frente à aquele de seus recursos.

Page 15: Clinica Psicanalitica

• Apareceu na transferência algo da angústia fundamental, que se revelou em um dos sonhos trazidos em sua última sessão.

• Sonhava com o pai como estando vivo procurando tranquilizá-la.

• “C” mostrava nas sessões não estar nada bem, sentia que era muita responsabilidade.

• A última sessão “C” chega dizendo de suas reflexões, que teve várias idéias e associações, além de 3 sonhos.

Page 16: Clinica Psicanalitica

• O 1º sonho, que seu pai não havia morrido e voltava, angustiada não saberia explicar ao pai como gastou o dinheiro que ele poupara.

• O 2º sonho, aparece um primo, alcoólista, depreciado numa família de mulheres muito poderosas “fálicas” que morreu a pouco tempo.

• Antes do 3º sonho ocorre uma reunião familiar na casa da prima poderosa e os homens começam um conflito quase chegando as vias de fato.

Page 17: Clinica Psicanalitica

• “C” fica espantada e questiona se todos os homens são assim, algo fundamental.

• Não há jeito de estar com eles, a não ser à custa do sacrifício de uma particularidade ou pagando com a morte a falência fálica.

• O ICS lhe dá uma resposta o terceiro sonho, sonha com casal de amigos onde a mulher enganava o marido e este “se deixava” enganar.

Page 18: Clinica Psicanalitica

• Lembra que seu amigo tampouco é como os homens que protagonizaram a disputa pela razão única.

• A prima poderosa faz a seguinte observação: “vocês não pensam como homem”.

• A analista diz: “pois é, não pensam como homem. Mas “C” nao se satisfaz, repete o que a prima disse. A analista diz: “ainda bem, vocês não pensam como homem”.

• “C” retruca ela sabe e as outras não.

Page 19: Clinica Psicanalitica

Para que serve um pai... freudiano

O Mito ilustrativo do caso

Page 20: Clinica Psicanalitica

O Mito ilustrativo do caso

Para Freud, o pai sempre teve um importância fundamental. Na tentativa de apreendê-lo, Freud elaborou três mitos: Édipo, Totem e Tabu e Moisés. Em todos acontece o parricídio.

Page 21: Clinica Psicanalitica

O Mito ilustrativo do caso• Freud coloca o mito do pai no centro de sua

doutrina. Ao escrever Totem e Tabu em 1912, pretendia explicar porque os aborígenes australianos evitavam o incesto utilizando um sistema exôgamico de relações numa organização social onde severas regras éticas eram observadas. A mulher e o desejo eram as grandes ameaças. Ele associou esses aborígenes com os neuróticos que, para evitar as relações incestuosas fazem severas restrições a sua vida anímica. Definiu o Tabu, tal como o sintoma, como uma formação de compromisso, ou seja, é uma solução possível de viabilização das pulsões incompatíveis.

Page 22: Clinica Psicanalitica

O Mito ilustrativo do caso• Que pai é este de Totem e Tabu? É o pai

todo-poderoso, não castrado, que tem todas as mulheres para si e por isso foi alvo da hostilidade dos filhos que o mataram. Após o ato, os filhos descobrem que também amavam esse pai; o amor é então, transformado em sentimento de culpa e a palavra do pai se converteu em lei simbólica. Este pai morto foi a condição de retorno da ordem e do estabelecimento de um laço social com a renúncia dos filhos ao gozo da mãe.

Page 23: Clinica Psicanalitica

O Mito ilustrativo do caso• A partir do pai primitivo, déspota, tirano,

obsessivo tem-se a exceção à regra da castração como universal. A onipotência deste “ao menos um” suscita a ambivalência nos filhos. Eles têm ódio e inveja pelos atributos que permitem ao pai ter todas as mulheres. Matam o pai tirano e em seguida o consomem num banquete canibalesco para se apropriar das marcas de sua onipotência e assumir o seu lugar. Com a culpa e o arrependimento fazem o asseguramento de um culto através do qual a dívida será honrada pela rendição à instituição simbólica da proibição do incesto.

Page 24: Clinica Psicanalitica

A interpretação do caso

Para que serve um pai... freudiano

Page 25: Clinica Psicanalitica

• C. no primeiro momento, apresenta uma neurose de angustia por estar recalcando sentimentos de hostilidade para com o pai, em razão da demanda de “viver a vida e dela usufruir” interditada pelo pai tirano e regulador.

• Havia, portanto uma relação ambivalente em relação ao pai, fruto da castração (simbólica na interdição).

Page 26: Clinica Psicanalitica

• O sentimento de hostilidade recalcado se transformou em seu oposto quando C. desposou um marido que se revelou negligente, omisso, tanto como esposo e como pai, sobrecarregando-a com as decisões e ações da vida da família, fazendo-a assumir a posição fálica no casamento e na vida pratica, causando-lhe grande mal estar, o que motivou o fim do seu casamento.

Page 27: Clinica Psicanalitica

Ganho terapêutico no primeiro tempo de analise:

• Relaxamento da posição fálica, ativa e executiva, se permitindo pequenos prazeres (leituras, jogos, trabalhos artesanais) realizados, quase sempre, na solidão e de madrugada.

Page 28: Clinica Psicanalitica

• C., no segundo tempo da analise, continua angustiada, agora de uma forma mais intensa, já que desistiu do marido e agora se vê a procura de outro companheiro, mas descobre que isto está na ordem do impossível para ela.

• O adoecimento do pai, a faz preocupar-se com as futuras responsabilidades, não desejadas.

• O inevitável acontece, o pai tirano morre. Surge, então, o pai Freudiano.

Page 29: Clinica Psicanalitica

• C. Assume as responsabilidades gerenciais dos bens da família, mesmo a contra gosto.

• Descobre que os valores acumulados pelo pai iam muito além do que imaginava, e que não justificava as necessidades que ela e sua mãe passaram.

• Então, providencia para si algumas regalias e confortos que o pai nunca permitira.

Page 30: Clinica Psicanalitica

• C., Sempre considerou seu pai muito correto, “a encarnação da lei, que sempre fez questão de ser”.

• Em sonhos, o seu pai não tinha morrido e voltava. A angústia de C., era com explicar para o pai que estava usufruindo de sua herança.

Page 31: Clinica Psicanalitica

• A presença do pai freudiano passa a tortura-la não permitindo o gozo, a semelhança do mito do pai primitivo. “A lei promulgada pelo pai, uma vez este morto, retorna na forma de culpa pelo usufruto do gozo”.

• A lei instaurada – “não gozarás” – uma vez transgredida demonstra sua validade na forma da culpa pelo gozo.

Page 32: Clinica Psicanalitica

• C., ainda face a um episódio familiar e a interpretação de um terceiro sonho, parece ter aceitado a lógica fálica como modo de presença no mundo.

• A psicanálise indica que a identificação sexual e uma questão lógica, ou lógico-discursiva. À ela interessam as consequências psíquicas dessa questão.

• Nessa operação lógica, o operador teórico é o falo.

Page 33: Clinica Psicanalitica

• Em Lacan, o falo é afirmado como função significante.

• Ele é dito como o significante da falta, o significante do desejo do Outro.

• Lacan esclarece: “uma vez que se trata de um significante, é no lugar do Outro que o sujeito tem acesso a ele”.

• Assim, parece que C. compreende que é ficando no lugar do pai que ela teria acesso ao falo (pensar como homem).