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FACULDADES INTEGRADAS IPIRANGA MANOEL DE LIMA LUZ WALCIR ORTIZ COLÔNIA AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT: Uma História sobre a Imigração Espanhola no Pará (1892-1964). BELÉM 2013

Colônia agrícola benjamin constant uma história sobre a imigração espanhola no pará (1892 1964)

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FACULDADES INTEGRADAS IPIRANGA

MANOEL DE LIMA LUZ WALCIR ORTIZ

COLÔNIA AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT: Uma História sobre a Imigração Espanhola no Pará (1892-1964).

BELÉM

2013

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MANOEL DE LIMA LUZ WALCIR ORTIZ

COLÔNIA AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT: Uma História sobre a Imigração Espanhola no Pará (1892-1964).

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de graduação em Licenciatura em História apresentado a Faculdades Integradas Ipiranga Orientador (a): Professora Ma. Maria Raimunda Martins

BELÉM 2013

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MANOEL DE LIMA LUZ WALCIR ORTIZ

COLÔNIA AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT: Uma História sobre a Imigração Espanhola no Pará (1892-1964).

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de graduação em Licenciatura em História apresentado a Faculdades Integradas Ipiranga.

Avaliado em: ____/_____/_______. Banca Examinadora:

BELÉM 2013

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Aos meus pais Luiz Ortiz Asuha e

Deolinda Gonçalves Ortiz, minha

namorada Odara e a toda minha família

pelo incentivo, paciência e compreensão

ao longo de mais esta conquista.

Walcir Ortiz

A minha esposa Odacilete, as minhas

filhas Ana Cláudia e Vitória e todos meus

familiares pelo incentivo dedicado em prol

de mais uma conquista.

Manoel de Lima Luz

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter nos iluminado em todos as horas dessa jornada.

As nossas famílias pelo apoio.

Aos professores do Curso de Licenciatura em História, que colaboraram na

construção de nosso conhecimento, durante o percurso acadêmico.

Aos nossos amigos, que direta ou indiretamente contribuíram para essa vitória.

Aos descendentes, moradores do Núcleo Rural de Tijoca em Bragança pela

hospitalidade e por terem contribuído diretamente para a conclusão deste Trabalho.

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”O homem não vive somente de pão; a

História não tinha mesmo pão; ela não se

alimentava se não de esqueletos

agitados, por uma dança macabra de

autômatos. Era necessário descobrir na

História uma outra parte. Essa outra

coisa, essa outra parte, eram as

mentalidades"

(Jacques LeGoff)

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RESUMO Este trabalho tem como tema principal a política de imigração espanhola no Pará e foi realizado com intuito de refletir sobre a memória da Colônia Benjamim Constant no município de Bragança, criada para receber imigrantes de origem européia em especial o espanhol. Tendo como seu principal objetivo analisar como ocorreu a imigração espanhola no estado do Pará no século XIX, tendo como foco o município de Bragança. Relatando a saga do imigrante espanhol em prol de sua melhoria de vida, tendo em vista os graves problemas sociais vividos na Espanha e a política de imigração do Estado do Pará que necessitava de mão-de-obra para o abastecimento dos centros urbanos da Amazônia cada vez mais aquecidos em virtude do ciclo da borracha. Constatam-se também o choque cultural sofrido devido às diferenças encontradas, as dificuldades de adaptação durante sua permanência na referida Colônia. Verifica-se a deficiência das políticas públicas por parte do Governo do Estado do Pará em relação ao imigrante, proporcionando dificuldades de sua manutenção na colônia, fato que vem culminar com certo êxodo, onde diversas famílias deixam as suas propriedades migrando para os centros urbanos. O trabalho realizou-se primeiramente através de uma pesquisa qualitativa por meio de um levantamento teórico bibliográfico, fazendo-se uso posteriormente da história oral com entrevistas realizadas com os descendentes espanhóis, também foi utilizado um acervo de imagens antigas e atuais e documentos oficiais. Apesar das barreiras enfrentadas, a vinda do imigrante espanhol acabou sendo de grande importância na formação cultural e econômica da Região Bragantina. Palavras-chave: Imigração Espanhola. Colônia Agrícola Benjamin Constant. História da Amazônia.

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ABSTRACT

This work has as main theme of Spanish immigration policy in Pará and was performed in order to reflect on the memory of the Colony Benjamin Constant in the municipality of Bragança, created to welcome immigrants of European origin, especially Spanish. Having as its main objective was to analyze how the Spanish immigration in the state of Pará in the nineteenth century, focusing on the municipality of Bragança. Recounting the saga of the Spanish immigrant towards improving their life, in view of the serious social problems experienced in Spain and the immigration policy of the state of Pará in need of hand labor to supply the urban centers of Amazon ever hotter because of the rubber. Realize also suffered culture shock due to the differences found, the difficulties of adapting during their stay in the said Colony. There is a deficiency of public policy by the Government of the State of Pará in relation to immigrants, providing difficulties in maintaining the colony, a fact that has lead to certain exodus, where several families leave their properties migrating to urban centers. The work was carried out primarily through a qualitative research through a theoretical literature, subsequently making use of oral history interviews conducted with Spanish descendants, we used a collection of old and current pictures and official documents. Despite the barriers faced, the coming of the Spanish immigrant ended up being of great importance in shaping the region's economic and cultural Bragantina. Keywords: Immigration Spanish. Agricultural Colony Benjamin Constant. History of the Amazon.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9

1.1 A IMPORTÂNCIA DO PASSADO E DA MEMORIA SOCIAL.........................

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2 CAPÍTULO: A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL............................... 19

2.1 MOTIVAÇÕES DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA PARA A AMÉRICA............. 19

2.2 OS CONFLITOS SOCIAIS............................................................................. 22

2.3 A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ................................. 24

3 CAPÍTULO: A COLÔNIA BENJAMIM CONSTANT........................................ 30

3.1 A COLÔNIA.................................................................................................... 30

3.2 O CHOQUE CULTURAL................................................................................ 41

3.3 A CONVIVÊNCIA COM OS NORDESTINOS................................................ 45

3.4 O ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO.............................................................. 48

3.5 A DECADÊNCIA DA COLÔNIA..................................................................... 57

3.6 MUDANÇAS CULTURAIS............................................................................. 63

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 67

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 69

ANEXOS.............................................................................................................. 71

ANEXO I - RELAÇÃO DOS DESCENDENTES ENTREVISTADOS.................... 71

ANEXO II - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............. 73

ANEXO III - CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO................................... 75

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1 INTRODUÇÃO

O Estudo teve como objetivo principal refletir sobre a história do Núcleo

Agrícola Benjamim Constant, atualmente denominado de Tijoca1, localizado a

sudoeste de Bragança2, cerca de 25 km. A escolha do tema partiu primeiramente do

fato de que entre os membros do grupo de trabalho encontram-se um descendente

de espanhol e um nascido na Colônia Agrícola Benjamin Constant, foco principal da

pesquisa e principalmente da importância de se tentar resgatar o que pode ter

motivado a vinda de imigrantes espanhóis para o Pará no final do século XIX, tendo

em vista que a maioria das informações sobre a vinda desses imigrantes relata sua

fixação nas regiões Sul e Sudeste do País, e principalmente qual a contribuição dos

mesmos dentro da sociedade paraense em específico na região bragantina.

O referido núcleo foi à área que mais recebeu esses imigrantes, ele foi

dividido em lotes para serem repassados aos mesmos, desde então passou a ser o

Núcleo Agrícola que mais produzia suprimentos que eram enviados para Belém, a

importância do Núcleo foi tanta que uma extensão da estrada de Ferro Belém

Bragança foi levada até o mesmo, para que desse modo facilitasse a escoação de

sua produção.

O presente Trabalho tem como finalidade demonstrar como se deu a

colonização da Região Bragantina3 especificamente o Núcleo Agrícola Benjamin

Constant pelos imigrantes espanhóis, oriundos principalmente das regiões de

Sevilla4 e Salamanca5, que se deu em decorrência de problemas sociais, culturais,

epidemiológicos que assolavam a Europa no século XIX. Em virtude da carência de

produção agrícola no Estado do Pará o Governo Estadual passa a divulgar

propaganda na Europa com o intuito de colonizar diversas regiões do Estado com

imigrantes estrangeiro possuidores de habilidades no campo.

1 De acordo com o Decreto Lei Estadual nº4505 de 30/12/1943 o distrito de Benjamim Constant passou a denominar-se Tijoca. De Acordo com o site do IBGE: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/historicos_cidades/historico_conteudo.php?codmun=150170 2 Município paraense situado na Região Nordeste a 200 km da Capital Belém, em uma área

denominada Região Bragantina. 3 Região Nordeste do Pará com 200 km de extensão e 50 km de largura entre a Região do Salgado e

Região Guajarina, sua extensão corresponde a distancia entre as cidades de Belém e Bragança, esta denominação foi dada no período da construção a estrada de ferro e criação das Colônias Agrícolas 4 Sevilha: Cidade da Espanha, Capital da Andaluzia província situada na região meridional da

Espanha. 5 Salamanca: Província situada na região ocidental da Espanha.

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Atraídos por essa propaganda diversas famílias espanholas vieram a se

instalar na Região Bragantina, mais precisamente na Colônia Agrícola Benjamin

Constant, onde recebeu incentivos do Governo Estadual e Municipal como a doação

de terra para o cultivo. Podendo assim satisfazer a carência social do imigrante e a

necessidade do Governo do Estado do Pará da época. Portanto este trabalho foi

desenvolvido para tentar resgatar e preservar a memória de como foi promovida a

vinda dos imigrantes espanhóis, como eles se adaptaram a região e qual a

contribuição social e cultural que os mesmo deram para o desenvolvimento da

Região em específico do município de Bragança.

Considerando que este fato trouxe grandes mudanças nas áreas: cultural,

social e econômica da região, em virtude do objetivo pelos quais os mesmo foram

atraídos, que era o desenvolvimento da agricultura na região, o que na época foi

plenamente alcançado. O Trabalho tem o intuito de demonstrar a importância da

vinda do imigrante espanhol para a Região Bragantina, em especial na Colônia

Agrícola Benjamim Constant.

Consideramos também o tema importante dentro das áreas Acadêmica, em

História e Memória e para a Comunidade bragantina, onde os mesmos foram

inseridos. Acadêmica por que vêm fazer um levantamento teórico que pretende

demonstrar os “por quês” que levaram esses imigrantes a virem para o Pará e que

esses dados possam vir a serem utilizados futuramente por outras pessoas como

fonte de pesquisa. E também por fazer parte de requisito obrigatório para a

conclusão do Curso de Licenciatura em História da Faculdade Integrada Ipiranga.

Na área social temos que levar em consideração principalmente como se deu

esse “choque cultural”6, pois os imigrantes espanhóis possuíam hábitos bem

distintos e evidentemente diferentes das pessoas da região. Em relação à

Comunidade Bragantina, esperamos que o Trabalho possa refletir sobre esse

acontecimento que influenciou diretamente a vida de muitos que hoje vivem tanto na

cidade como na própria Colônia Benjamin Constant, pois alguns hábitos de hoje são

fruto desse encontro de culturas e muitas pessoas desconhecem, essa “mistura” de

costumes, os já existentes na região e os inserido pelos imigrantes espanhóis no

final do século XIX e início do século XX.

6 Termo dado quando há o convívio de pessoas de culturas diferentes em uma mesma região.

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O estudo realizou-se primeiramente através de uma pesquisa qualitativa,

onde se levantou como foi o processo de chegada dos primeiros imigrantes. Foi

executado um levantamento bibliográfico buscando-se obras que relatam fatos

inerentes ao assunto. Buscamos junto ao Arquivo Público Estadual documentos que

registram a presença do imigrante espanhol na região.

A nova história nos permite hoje utilizarmos a memória como fonte para

reconstituição do passado, pois a memória no sentido primeiro da expressão é a

presença do passado. Desta forma pode-se realizar um estudo mais amplo onde se

observa os dois lados da história, o lado da elite com documentos e monumentos e

o lado do povo registrado na memória e passado de geração para geração através

do censo comum, sobre o assunto Atlan relata,

A utilização da linguagem falada, depois escrita é de fato uma extensão fundamental das possibilidades de armazenamento da nossa memória, que, graças a isoo, pode sair dos limites físicos do nosso corpo para estar interposta quer nos outros quer nas bibliotecas (ATLAN, 1972, p. 46 in LE GOFF, 1994, p. 425).

Segundo Le Goff (1994, p.438), “foram os Gregos antigos que fizeram da

Memória uma Deusa, Mnemosine. Ela era a mãe das nove musas procriadas no

curso de nove noites com Zeus, entre elas Clio (história). Mnemosine lembrava aos

homens a recordação dos heróis e dos seus grandes feitos”, Le Goff, continua sua

análise sobre a memória,

Exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a montante enquanto reservatório (móvel) da história, rico em arquivos e em documentos/monumentos, e a aval, eco sonoro (e vivo) do trabalho histórico, a memória coletiva faz parte das grandes questões das sociedades desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas, lutando todas pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela promoção (LE GOFF, 1994 p. 476).

A memória coletiva foi o único registro histórico de alguns povos ao longo dos

séculos, o não aproveitamento e até a disseminação de alguns povos, destruiu não

só o material, mas também o imaterial, pois ao serem mortos levaram consigo toda a

história de sua existência. Segundo nos relata Rousso,

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Seu atributo mais imediato é garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à alteridade, ao “tempo que muda”, as rupturas que são o destino de toda a vida humana: em suma, ela constitui – eis uma banalidade – um elemento essencial da identidade da percepção de si e dos outros (ROUSSO, 1998, p. 94-95).

A memória reflete o que aconteceu na verdade e a história espelha a

memória. A história e a memória passaram a se revelar cada vez mais complexas.

Lembrar o passado e escrever sobre ele não se apresentam como coisas inocentes

como julgávamos. Tanto as histórias quanto as memórias não mais parecem ser

objetivas. Num caso como no outro os historiadores aprenderam a considerar

fenômenos com a seleção consciente ou inconsciente, a interpretação e a distorção.

Burke, afirma que,

Nos dois casos, passam a ver o processo de seleção, interpretação e distorção como condicionado, ou pelo menos influenciado, por grupos sociais. Não é apenas obra de indivíduos isolados (BURKE, 2000, p 69-70).

Os historiadores se interessam ou precisam se interessar pela memória,

considerando dois pontos de vista: como fonte histórica e como fenômeno histórico,

os historiadores devem elaborar uma crítica, nos moldes da operação de análise dos

documentos históricos. Burke e Le Goff dissertam sobre o assunto,

Mesmo os que trabalham com períodos anteriores têm alguma coisa a aprender com o movimento oral, pois precisam estar conscientes dos testemunhos e tradições embutidos em muitos registros históricos (BURKE, 2000, p. 72).

A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a liberação e não para a servidão dos homens (LE GOFF, 1994, p. 477).

Baseado nos conceitos da “nova história” foram realizadas entrevistas com os

descendentes dos imigrantes espanhóis que residem no município de Bragança e na

Colônia Agrícola Benjamin Constant. Pois de acordo com Pollak,

A metodologia da história oral, hoje bastante difundida na história e reconhecida como meio legítimo de estudar o passado, tanto quanto o uso de documentos escritos, não requer mais discursos de defesa. Ancorada na memória, a história oral, assim como as demais fontes, é socialmente construída, produzindo representações e não reconstituições do real (POLLAK, 1992 p. 207).

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As entrevistas realizaram-se através da captação áudio visual, onde ficaram

registradas as belezas da Região juntamente com as entrevistas realizadas. Durante

as entrevistas foi possível entender um pouco de como foi no passado a chegada

dos imigrantes espanhóis, as dificuldades e prosperidades e como estão hoje os

descendentes que ainda vivem na Colônia, que guardam na lembrança a imagem de

uma época que alguns também só conheceram através das histórias contadas pelos

seus pais e avós, consolidando o fato de que a oralidade é fato presente e marcante

na representação da história ao longo dos anos.

1.1 A IMPORTÂNCIA DO PASSADO E DA MEMORIA SOCIAL

O passado faz parte da vida de qualquer ser humano, como o presente e

talvez o futuro, mas a importância desse passado está atrelada ao conhecimento do

mesmo, sendo medíocre ou glorioso, pois ele tem a função de demonstrar seus

reflexos no presente e até no futuro. Neste sentido, a análise da memória social da

colônia agrícola Benjamim Constant, no final do século XIX, em pleno apogeu da

economia da Borracha na Amazônia, se faz de fundamental importância na

formação das identidades sociais contemporâneas da zona bragantina, local de

várias correntes migratórias forjadoras da sociedade atual, entre elas os migrantes

espanhóis. A história vive do passado, pois como seria estudar uma Comunidade

que tivesse passado para que registrasse suas mudanças, tais como avanços e

recuos, sem uma análise dos fatos.

Ser membro de uma comunidade humana é situar-se em relação ao seu passado. O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana (HOBSBAWN, 1998, p. 22).

Ora os descendestes de migrantes espanhóis e de outras nacionalidades que

vieram para a região no final do século XIX precisam se situar dentro do seu

passado-presente que engendra a realidade social do grupo e, configura as

sociabilidades amazônicas. O passado social molda uma sociedade com suas

práticas culturais estabelecendo leis baseados nos costumes, que caracterizam o

funcionamento desta sociedade, portanto, o passado é de primordial importância

dentro deste contexto cultural e histórico.

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Na, prática, a maior parte do que a história pode nos dizer sobre as sociedades contemporâneas baseia-se em uma combinação entre experiência histórica e perspectiva histórica. É tarefa dos historiadores saber consideravelmente mais sobre o passado do que outras pessoas, e não podem ser bons historiadores a menos que tenham aprendido, com ou sem teoria, a reconhecer semelhanças e diferenças (HOBSBAWN, 1998, p. 47).

O historiador tem a função de alimentar estes acervos para que a história

tenha uma menor fragmentação e perdas de partes necessárias para a

comprovação da história contemporânea. Sempre que se fala em história social,

pensa-se na história dos pobres e dos menos favorecidos, as camadas básicas da

sociedade de uma determinada comunidade, seus movimentos, sua relação de

trabalho e organização, pois, a pesquisa da história social sempre busca o que está

intrínseco, não muito claro, para valorizar o trabalho do pesquisador, mas a história

social é muito mais complexa.

Até onde avançou a pesquisa dos últimos anos rumo a uma história da sociedade? Gostaria de colocar as cartas na mesa. Não posso apontar para nenhum trabalho isolado que exemplifique a história da sociedade, que segundo acredito, devemos aspirar. [...] É um bom momento para ser historiador social. Mesmo aqueles de nós que nunca se dispuseram a chamar-se por esse nome hoje não se recusariam a adotá-lo (HOBSBAWN, 1998, p. 104-105).

A história social está em franco desenvolvimento, não é um capítulo fechado

ou pronto, há uma grande abertura para novos historiadores sociais, pois os

problemas sociais surgem a cada dia, de maneira diferente, de acordo com as

inovações dentro das revoluções tecnológicas e sociais.

O modelo de história positivista praticando a exaltação e glorificação de

Governantes ficou em um passado bem próximo, pois este modelo só interessava as

pessoas privilegiadas, pois a história de movimentos populares toma ema nova

ordem, na maneira de narrar a história com um viés contrário, fazendo com que os

fatos sempre mais coerentes com as narrativas, onde as ações das classes sociais

formadoras da base da pirâmide social demonstrem realmente a ação que gerou

uma reação dos governantes.

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Apesar de suas origens e dificuldades iniciais, a história dos movimentos populares agora decolou. E ao rememorar a história da gente comum, não estamos meramente tentando conferir-lhe um significado político retrospectivo que nem sempre teve; estamos tentando, mais genericamente, explorar uma dimensão desconhecida do passado. E isso me leva os problemas técnicos dessa exploração (HOBSBAWN, 1998, p. 219).

A contribuição do historiador como pesquisador é muito importante para o

registro da memória, mas é importante que este historiador tenha também

consciência de verificar a história contemporânea, da sua vivencia, dos

acontecimentos ao seu redor, pois certamente sua fonte para futuras pesquisas,

diminuindo as lacunas da história, pois o mesmo possui a sua própria história.

Porém, se deixamos de lado esse quadro da história contemporânea que é construído par nós e no qual encaixamos nossas próprias experiências, essas experiências continuam sendo nossas. Todo historiador tem seu próprio tempo de vida, um poleiro particular a partir do qual sondar o mundo (HOBSBAWN, 1998, p. 104-105).

A história de uma comunidade contemporânea está obrigatoriamente atrelada

ao passado, ainda que suas práticas sejam contrárias, mas tem o passado como

referencia, pois, sendo de ideias convergentes, podem ser aperfeiçoado para uma

melhor construção de seu presente, propício para esta comunidade, no caso do

Distrito de Tijoca. Rever seu passado histórico, como Colônia Benjamim Constant,

repensar as relações locais-globais que trouxeram centenas de milhares de famílias

para a região amazônica e as suas diversas formas de inserção na realidade local, é

entender as dinâmicas do processo histórico que fomentam a atual configuração da

realidade local, perceber as descontinuidades históricas que levaram a decadência

de tão dinâmica área para a economia e sociedade amazônica; observar as

permanências, as contribuições dos migrantes na formatação da cultura local,

revendo as práticas socioculturais herdeiras do processo de colonização.

Neste sentido, a comunidade se repensar, se perceber como um legado

histórico precioso de resiliência diante de períodos de diversidades e, se permite se

reinventar na busca de melhores dias no presente, criando e fortalecendo as

identidades sociais do grupo social. A história seria então como disciplina escolar

teria a função de lembrar aquilo que os outros esqueceram, o espaço da sala de

aula se torna fundamental nesse sentido. A busca do conhecimento histórico no

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passado para justificar e planejar o futuro é muito importante, como também explicar

o patriotismo ou nacionalismo de um indivíduo dentro de sua comunidade,

sentimento este que só pode ser legitimado através de respostas para sua busca.

Um dos objetivos centrais do ensino de História, na atualidade, relaciona-se à sua contribuição na constituição de identidades. A identidade nacional, nessa perspectiva, é uma das identidades a ser construídas pela História escolar, mas por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relações com o local e o mundial (BITTENCOURT, 2004, p. 121).

A escola em suas práticas curriculares tem a finalidade de aguçar a busca

pela importância do cidadão dentro da sociedade, com uma visão crítica do seu

universo, como também uma reflexão paralela em relação a outras comunidades.

Neste contexto as alterações feitas nos PCN’s na década de 1990 se realizaram

com intuito de se adequar o ensino da história com a diversidade de nosso país e

também como forma de adequação as normas internacionais dos órgãos

financiadores da educação.

As adaptações curriculares previstas nos níveis de concretização apontam a necessidade de adequar objetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a diversidade existente no País. Essas adaptações, porém, não dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma sala de aula. Para corresponder aos propósitos explicitados nestes parâmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem (BRASIL, 1997, p. 62).

A história do cotidiano está intrínseca na cultura de uma comunidade, que em

grande parte usa o empírico como fonte, fato que implicará fortemente na história

local. A importância do estudante em buscar a história do cotidiano de diferentes

lugares, fica mais atrativa se os estudos são voltados para a história local,

principalmente se esta for a história de sua localidade.

Tem sido comum em propostas curriculares e em algumas produções didáticas a história do cotidiano e a história local, opção esta que é recente. [...] A associação entre cotidiano e história de vida dos alunos possibilita contextualizar essa vivencia em uma vida em sociedade e articular a historia individual a uma história coletiva (BITTENCOURT, 2004, p. 164-165).

A história do cotidiano é uma visão morfológica do homem, pois suas

particularidades refletem a vida social e cultural do individuo, como também reflete o

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lugar ocupado pelo mesmo dentro do núcleo social em que vive. A história local de

um determinado lugar é importante dentro do contexto histórico, mas quando esta

história faz parte da vida do aluno, toma outra dimensão, pois passa a ser feita

associação dos fatos, dos lugares, como também suas transformações e seu

envolvimento através de seus antepassados, cria um interesse maior do aluno,

fatalmente o sentimento de pertencimento com a história torna-se muito

interessante.

A história do “lugar” como objeto de estudo ganha necessariamente, contornos temporais e espaciais. Não se trata, portanto, ao se proporem conteúdos escolares da história local, de entendê-los apenas na história do presente ou de determinado passado, mas de procurar identificar a dinâmica do lugar, as transformações do espaço, e articular esse processo às relações externas a outros “lugares” (BITTENCOURT, 2004, p. 172).

O aluno que toma conhecimento da sua história através da história local se

posiciona melhor na questão de espaço e tempo de sua vida. A escola usando

desse dispositivo poderá fazer um investimento em futuros preservadores desta

história e seus monumentos.Grande parte dos conteúdos de história está nos textos

que dependendo da maneira em que são escritos podem ser atrativos, produtivos ou

não. As introduções de documentos nos textos são de grande importância para uma

melhor aprendizagem.

Os documentos também são materiais mais atrativos e estimulantes para os alunos e estão associados aos métodos ativos ou ao construtivismo, conforme as justificativas de algumas das propostas curriculares (BITTENCOURT, 2004, p. 327).

Outro recurso importante no ensino de história são as imagens, porém

quando usadas na sala de aula devem ser cercadas de cuidados pelos professores,

pois as mesmas servem para ilustrar o fato histórico, a visão historiográfica contida

nelas não deve ser considerada de forma aprofundada, haja vista que os alunos não

são historiadores, fato que os levaria a confundir o conceito da imagem. A imagem é

uma fonte, mas não fala por si só, precisa de um prévio conhecimento para que sua

apresentação em sala de aula seja proveitosa, como também sua produção deve ser

levada em consideração, pois nem sempre tem natureza didática e histórica, às

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vezes foi produzida com outra finalidade, mas que pode ser aproveitada, desde que

se tenha a devida precaução.

O uso de documentos nas aulas de História justifica-se pelas contribuições que pode oferecer para o desenvolvimento do pensamento histórico. Uma delas é facilitar a compreensão do processo de produção do conhecimento histórico pelo entendimento de que os vestígios do passado se encontram em diferentes lugares, fazem parte da memória social e precisam ser preservados como patrimônio da sociedade (BITTENCOURT, 2004, p. 333).

Os documentos usados com finalidades didáticas são diversos como os

escritos, os visuais e audiovisuais, sendo de grande importância para a ilustração

em sala de aula, em especial neste trabalho a imagem é a fonte em específico.

Os historiadores que mais se interessam pelas imagens tecnológicas são, sem dúvida, os especialistas em história contemporânea. Filmes, fotografias e músicas gravadas têm servido de fontes importantes para o conhecimento das sociedades contemporâneas (BITTENCOURT, 2004, p. 363).

O século XX é marcado pela revolução tecnológica, e as fontes são as mais

diversas, através do rádio, da televisão, do cinema e fotografia fazem com que estas

fontes inseridas nos conteúdos curriculares, tornam-se importante para o estudo da

história da humanidade.

O uso da fotografia disseminou-se no século XX, servindo como um documento de identidade das pessoas, como prova para processos e investigações policiais e judiciais e como registro dos mais diversos acontecimentos (BITTENCOURT, 2004, p. 365).

O uso da iconografia é muito abrangente com uma grande diversificação de

imagens, cabe aos ministrantes das aulas de história selecionar as mais adequadas

para tal, como fazem os autores dos livros didáticos, que sem as imagens

dificilmente produziriam suas obras. Pois de acordo com Bittencourt (2004) “A

fotografia é uma representação do real”.

Nosso percurso metodológico e teórico do trabalho, uso da história oral, de

imagens e documentos oficiais, nos permitiu uma visão ampla da reconstituição da

experiência da imigração espanhola na Amazônia brasileira, em particular da região

bragantina.

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19

2 CAPITULO – A IMIGRAÇÃO ESPANHOLA NO BRASIL

2.1 MOTIVAÇÕES DA IMIGRAÇÃO ESPANHOLA PARA A AMÉRICA

Na segunda metade do século XIX e início do século XX a Europa passa por

um período de grandes turbulências sociais em decorrência de epidemias e

escassez de alimentos, associados por diversos fatores como: o crescimento

populacional, conflitos sociais, que se denominou “a grande depressão”, que

culminou com a decisão do europeu em especial o italiano, português e espanhol,

que a solução dos seus problemas seria fora da Europa, tendo o Continente

Americano como o alvo principal, onde diversos países como os EUA, Canadá,

Brasil, Argentina, Uruguai, etc. os receberam.

Ao longo do tempo a Península Ibérica7 é palco de diversos povos,

influenciando com suas culturas, tornando uma nação com diferenças, onde até

mesmo o relevo dificultava uma maior comunicação entre as regiões, tais como, a

Catalluña8, Galícia9 e Região Basca10 que tiveram idiomas e costumes próprios, a

Andaluzia11 e Valência12 podem ser consideradas com línguas diferentes, como

também a Castellana13 que se tornou língua oficial em 1978, todos esses fatores

dificultavam a implantação de políticas públicas, como também o momento de

dificuldade que assolava a Europa como um todo. Os motivos e as dificuldades

podem ser confirmadas por Martinez, que relata,

7 Região européia onde se localizam os países de Portugal e Espanha

8 Região situada no nordeste da Espanha, banhada pelo Mediterrâneo, dividida em quatro províncias:

Tarragona, Gerona, lérida e Barcelona, sendo a cidade de Barcelona sua Capital. 9 Região ao Noroeste da Espanha composta pelas Províncias de La Corunha, Lugo, Orense e

Pontevedra. 10

Região Situada a Nordeste da Espanha dividida em três Províncias: Álava, Biscaia e Guípuscoa. 11

uma região de Espanha e está localizada na parte meridional do país, é limitada, começando a Oeste, em direcção a Este, por Portugal pela Extremadura, pela região de Castilla-La Mancha e, finalmente, pela Região de Múrcia. A Sul a fronteira é o mar, o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo. 12

Província localizada a Sudeste da Espanha tendo como Capital a Cidade de mesmo nome Valência. 13

Era a Língua da Província de Castilla e em 1978 passou a ser a Língua Oficial da Espanha, hoje é o terceiro idioma mais falado no mundo ficando atrás apenas do Chinês e do Inglês.

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Os emigrantes vindos de Andaluzia eram, em geral, de recursos escassos, pois qualquer crise na agricultura, desde epidemias nas plantações de oliveiras

14 e videiras

15, até secas ou chuvas, provocavam a expulsão dessas

famílias (MARTÍNEZ, 1999, p. 244).

Segundo Hermida (1967), a Espanha do século XIX passou por grandes

problemas sociais e econômicos, devido às guerras promovidas por Napoleão

Bonaparte, a qual reduziu a Espanha em Reino Dependente, através de seu irmão

José Bonaparte, o qual era mais imbuído ao governo da França do que da própria

Espanha. Agrava-se ainda mais com as sucessivas emancipações das Colônias

Espanholas na América, a qual perde seu rico fornecimento de ouro e prata

proveniente das mesmas, ficando reduzida somente a Rio do Ouro (Marrocos), uma

campanha cara aos cofres espanhóis terminando em 1976 com a divisão de

Marrocos e Mauritânia independentes.

A decadente monarquia espanhola perdura até 1930 quando nesta década é

instalada a República e a Ditadura de Francisco Franco16. Durante o período entre o

final do século XIX e o início do século XX, o país caminha de acordo com seu

governo monárquico em decadência, é justamente nesse período que a imigração

se intensifica. Os problemas sociais espanhóis são seculares, ocasionados por

diversos fatores como religiosos e políticos, a Espanha sendo um país

extremamente Católico, onde a Igreja influencia e muito na estrutura estatal.

A imigração espanhola para o Brasil começou por volta de 1888, tendo como

foco a cafeicultura do estado de São Paulo, que recebe grande contingente de

imigrantes vindos em sua maioria da região da Galícia, como também de Andaluzia,

Sevilla e Salamanca e diversas outras regiões espanholas, tendo como porto

principal o de Gibraltar17, que depois de algumas restrições do governo passou a

usar portos clandestinos, na Espanha e Portugal. Martinez nos mostra qual eram os

caminhos percorridos pelos espanhóis até os Portos,

14

Plantações de azeitonas, utilizadas principalmente para a obtenção do azeite de oliva 15

Plantações de uvas 16

Período de 36 anos que corresponde de 1939 a 1975 17

É um território britânico ultramarino localizado no extremo sul da Península Ibérica. Corresponde a uma pequena península, com uma estreita fronteira terrestre a norte, é limitado, dos outros lados, pelo Mar Mediterrâneo, Estreito de Gibraltar e Baía de Gibraltar, já no Atlântico. A Espanha mantém a reivindicação sobre o Rochedo, o que é totalmente rejeitado pela população gibraltina.

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Chegava-se a Gibraltar por dois caminhos, aqueles que vinham das províncias e de Murcia iam de barco até o porto Mayorga, já os do interior da Península viajavam de trem até San Roque (MARTÍNEZ. 1999, p. 243).

Com o final da escravidão em 1888, os cafeicultores sentem a necessidade

de mão-de-obra para a agricultura, principal atividade econômica brasileira, recorrem

então ao Governo Republicano para a solução da carência no setor, fazendo com

que o governo brasileiro empreendesse campanha na Europa, com cartazes de

propagandas oferecidos pelo Brasil para quem decidisse “fazer a América”.18 Os

fazendeiros brasileiros necessitavam dessa mão-de-obra, faziam investimentos em

prol da contratação de imigrantes através de empresas e pessoas físicas como os

agentes de imigração chamados de “ganchos”, contratados pelas empresas de

navegação que percorriam as cidades e aldeias, onde assim pudesse encontrar

camponeses, para tentar persuadi-los a vir para a América, onde seria possível

tornar-se proprietário de terras e com isso a possibilidade de enriquecer em um lugar

de prosperidade e resolvendo assim seus problemas sociais.

Consta que estes agentes recebiam um percentual por cada pessoa

recrutada. Com isso o Brasil passa a receber grandes contingentes de italianos e

espanhóis, que nem sempre permanecem no campo, optando pela vida urbana. Pois

apesar da Espanha ter sua maioria populacional no campo, como nos mostra

Hermida, muito profissionais de outras áreas embarcaram para o Brasil.

Nesse período a Espanha possuía cerca de 18,5 milhões de habitantes uma sociedade agrária onde se estima que 65% da população vivessem o campo, sendo que esta sociedade convivia com um sério problema que era a falta de reforma agrária, distribuição de terras, onde grande parte da população de camponeses não possuía terra, submetendo-se a trabalhos com prestação de serviços obtendo baixa remuneração os chamados “jornaleros” (HERMIDA, 1967, p.292).

As terras se concentravam nas mãos de latifundiários (produtores de

agronegócios), pequenos produtores (agricultura de subsistência) e a Igreja Católica

que também possuía grande parte dessas terras, estas historicamente em posse de

ordens e congregações religiosa. Porém essas terras eram utilizadas pelos

18

Expressão usada pelos imigrantes expressava a idéia e a vontade de vir para a América onde ficariam ricos e voltariam depois para seus países de origem. Fundamentada também na obra que leva o mesmo nome escrita por Boris Fausto (1999)

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camponeses com a autorização da Igreja, o que garantia produzir algum alimento

para ajudar na subsistência de suas famílias.

Com as crises sociais e econômicas assolando o país o Governo decide

tomar as terras da Igreja e passá-las para as mãos de grandes latifundiários, com

intuito de aumentar a produção e arrecadar mais impostos, mas este fato fez com

que os camponeses que trabalhavam nestas terras ficassem sem ter onde se ocupar

e principalmente produzir algum tipo de alimento para subsistência, com isso

aumenta-se o número desocupados agravando os problemas sociais da Espanha. O

que realmente gerou-se pelo Governo, foi uma péssima distribuição de rendas e

terras, fazendo com que o espanhol não tivesse mais nenhuma perspectiva de

melhoria de vida fora dentro de seu país.

2.2 OS CONFLITOS SOCIAIS

Outro fator que influenciou as imigrações foi às constantes guerras nas

Colônias Americanas e em Marrocos, pois as famílias temiam que seus filhos

fossem mandados para as frentes de batalha. As revoltas Colônias representavam

um duro golpe para a Espanha, sendo que a participação da Inglaterra é

imprescindível, desejando o livre comércio com as colônias, até então, proibido pela

metrópole (Espanha), com isso apóia os movimentos separatistas das colônias e

aliando-se aos grandes heróis revolucionários como: Simon Bolívar, San Martin e

outros.

De acordo com Hermida (1967, p 290), “o Rei Carlos IV e seu filho futuro

Fernando VII, foram obrigados a abdicar em favor de José Bonaparte. Os espanhóis

das colônias não querendo obedecer ao novo rei formaram “juntas militares” com

participação de “criollos nativos”19, que mais tarde deixam de se submeterem ao

comando espanhol, tornando-se revolucionários defendendo as causas da

independência”. As colônias espanholas começam a se emanciparem em 1810 com

o México e tendo a Ilha de Cuba como a última em 1898. A Espanha em 1898

empreende guerra contra os EUA em decorrência da explosão de um navio norte

americano no porto de havana, possibilitando a independência de Cuba. A Espanha

19

brancos nascidos na América e descendentes dos espanhóis. Eram ricos, proprietários de terras mas, não tinham os mesmos privilégios dos Espanhóis. Conforme site: http://www.coladaweb.com/historia/america-espanhola

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sai derrotada e perde para os EUA as Ilhas de Porto Rico e Filipinas. Segundo

Mendoza muitas mães enfrentavam a Guarda Civil num ato desesperado, para

tentar impedir a partida de seus filhos para as guerras,

A guerra em Cuba e em Melilla (Marrocos). Todas as semanas partiam para a América e África centenas de moços, imberbes

20 muitos deles. Nas docas

do porto nas plataformas da estação podiam-se ver cenas dilaceradoras. A Guarda Civil tinha muitas vezes de abrir fogo contra as mães que tentavam impedir o transporte de tropas, retendo os braços nas amarras ou bloqueando a passagem das locomotivas. Daquelas centenas de milhares de jovens que partiam para a frente muito poucos haveriam de voltar, e ainda assim, mutilados ou gravemente doentes (MENDOZA, 1987, p.156).

Por outro lado as constantes deserções do ao serviço militar constituía em

uma das únicas barreiras contra o fluxo imigratório espanhol. De acordo com

Mendoza, essa fuga, se dava pelo fato de poucos retornarem para casa e os que

retornavam chegam a um estado lastimável, sendo rejeitados até mesmo pela

própria família.

Desse modo perdemos as últimas colônias (...) e agora nos encontramos com os portos transbordando de repatriados. Diariamente chegavam, com efeito, barcos que traziam para a Espanha os sobreviventes das guerras de Cuba e das Filipinas. Haviam combatido durante anos nas selvas apodrecidas e embora fossem muito jovens já pareciam velhos. Quase todos voltavam doentes de febres tersãs

21. Seus familiares não queriam

acolhê-los por medo do contágio e tampouco encontravam trabalho ou algum meio de subsistência. Eram tantos que até para pedir esmola tinham que fazer fila. As pessoas não lhes davam nem um centavo: vocês deixaram que pisoteassem a honra da pátria e ainda têm a desfaçatez de vir inspirar compaixão, diziam-lhes. Muitos se deixavam morrer de inanição pelas esquinas, já sem ânimo para nada (MENDOZA, 1987, p.187).

Com a desanexação das colônias a situação do governo espanhol se agrava

ainda mais, o país não tem como resolver seus problemas sociais, que são muitos

principalmente as desigualdades, a má distribuição de renda, e o crescente número

de desocupados no país. Estes fatos vêm a gerar um conflito interno a “Guerra Civil

Espanhola”, que tem início em 1931 com a queda da monarquia e a ascensão ao

poder do General Franco, ex-combatente dos conflitos em Marrocos, que se torna

General e líder dos rebeldes na Guerra Civil, com a tomada do poder pelos rebeldes

dá-se início a Ditadura de Franco que dura até 1975. 20 Sem barba, muito jovem 21

Malária: por causar febre em intervalos regulares as mesmas recebem denominações: a cada 48 horas febres tersãs e a cada 72 horas febres quartãs.

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A Guerra Civil Espanhola foi principalmente um conflito local, uma tentativa

brutal de resolver por meios militares um grande número de questões sociais e

políticas que dividiam os espanhóis por várias gerações. Em meio a todos esses

problemas está à maioria do povo espanhol, com pouca perspectiva de vida dentro

de seu país, enfrentava a fome e as guerras internas e externas. Diante dessa

situação milhares de espanhóis atendem e acreditam nas propagandas feitas pelos

governos de diversos países americanos, entre eles o Brasil, de uma nova vida, em

um novo continente, onde seria possível em pouco tempo poderiam tornar-se donos

de terras e assim dar melhores condições de vida a seus familiares. Mediante a esse

fatos deixam a Espanha para “Fazerem a América”.

Dessa forma acreditaram nas propagandas impostas por alguns países

Americanos e vieram mesmo sem saber direito o que iriam encontrar. Para os que

foram para o Sul e Sudeste encontraram um clima mais ameno e parecido com o da

Espanha, porém os que vieram para o Pará se depararam com um clima quente e

úmido e uma região cheia de florestas. Mas o que realmente importava no momento

era estar com a família e ter a possibilidade de dar uma vida melhor à mesma.

A corrida desenfreada por melhores condições sociais é uma atitude

individual de cada chefe de família, haja vista que o Governo Espanhol não

impunha, a princípio, nenhuma barreira no sentido de controlar a saída do país,

levando-se em consideração a decadência do governo monárquico e as condições

políticas e sociais vividas pelo país na época.

A situação dos imigrantes que vieram para o Pará, apesar das dificuldades de

adaptação com a região, já chegaram como donos de terras, enquanto a maioria dos

que foram para o Sul e Sudeste tiveram que trabalhar nas plantações,

principalmente de café, num sistema de participação dos lucros, mas na maioria das

vezes eram enganados pelos donos das fazendas e recebiam menos do que lhes

era de direito. Entretanto mesmo diante de todas as dificuldades muitos se

encontravam em melhor situação do que em seu país de origem.

2.3 A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ

O Governo do Pará tendo seu estado imbuído na extração da borracha, com

grande crescimento demográfico, passa a sentir a falta de abastecimentos na capital

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de produtos agrícolas. Tomando como exemplo Rio Grande do Sul e São Paulo,

passa a investir na política de imigração européia, pois sentia a necessidade de se

formar núcleos coloniais, que deveriam ser habitados por imigrantes na Região

nordeste do Estado, sendo feita com estrangeiros de diversos países europeus.

A imigração espanhola direcionada à Amazônia está relacionada com o

projeto de colonização agrícola implantado no Pará no início do período

Republicano, de modo particular ao longo da estrada de ferro Belém - Bragança. Os

primeiros imigrantes chegaram ao Pará em várias levas vindas principalmente da

Galícia, províncias de Pontevedra, Ourense e Lugo. O fluxo imigratório espanhol era

formado por grupos familiares que subsidiados pelo governo paraense vieram

povoar os núcleos coloniais Benjamim Constant, Jambuassu, Marapanim, José de

Alencar, Santa Rosa, Ferreira Pena e Couto de Magalhães. Novos grupos chegaram

em decorrência da Guerra Civil (1936-1939). Além da agricultura, dedicaram-se ao

setor de serviços nas cidades.

Com o intuito de oficializar e intensificar a Imigração o Governo Estadual cria

núcleos Coloniais e prepara acomodações para garantir as necessidades básicas

dos imigrantes assim que desembarcassem no Estado. Para isso constrói em

Outeiro uma Hospedagem para que dali os mesmos fossem encaminhados para

suas respectivas colônias. Fato este incluído no Relatório da Administração do Dr.

Lauro Sodré,

A Lei n. 233 de 30 de junho de 1894, auctorisou a introducção de extrangeiros validos e de boa conduta que quizessem estabelecer-se no Estado como industriaes, garantindo a estes transportes, hospedagem e comedorias até o ponto de sua localisação, terrenos, ferramentas e outros auxílios e vantagens, auctorisando egualmente a acquisição de um edifício para a recepção e alojamento dos imigrantes; e a de n. 284 de 4 de junho de 1895 creou dez núcleos coloniales em diversos pontos do Estado (Relatório da Administração do Dr. Lauro Sodré, 1897 p.34).

São designados contratantes para efetuarem o trabalho de introdução de

Imigrantes no Brasil, esses contratantes divulgavam a propagando do Estado na

Europa, mostrando as vantagens oferecidas pelo Estado do Pará, aos que

quisessem nele fixar residência. Os principais contratantes, segundo Relatório da

Administração do Dr. Lauro Sodré (1897, p. 35), eram: “o Sr. Francisco Cedela,

Helliodoro Jaramilho e Emílio Martins”.

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26

Ao assumir o Governo do Estado em 1897, Paes de Carvalho da continuidade

ao processo de imigração iniciado por Lauro Sodré. Em 02 de fevereiro de 1897, ao

assumir o governo, dirigiu a seguinte mensagem ao Congresso Estadual,

Precisamos de braços, mesmo porque braços representam capital, mas com a introducção de braços é preciso introduzir, tanto quanto possível, a capacidade technica do operário intelligente, que anime e estimule a formação e desenvolvimento da aptidão profissional entre os nossos compatriotas, a esse respeito quase completamente desprovidos do que existe de elementar. Grande proveito auferirão elles do contacto quotidiano com os que lhe possam dar a dequem entra habilmente esclarecido por conhecimentos especiaes na lucta pela vida (Relatório do Governo do Estado, 1901 p. 70).

As medidas tomadas pelo Governo para atrair os imigrantes estrangeiros dão

resultados. Segundo o Relatório do Governo do Estado (1901, p. 73), “no ano de

1896 o Núcleo Colonial Benjamim Constant já contava com a presença de 527

imigrantes vindo da Espanha e em 1901 sua população tinha aumentado para 5.655

colonos entre espanhóis e nordestinos e era um dos mais prósperos dentre os

Imagem 1: Documento de Embarque de Imigrantes no Porto de Vigo na Espanha

Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará – Imigração (caixa 08)

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Núcleos Coloniais criados”. Os imigrantes ao chegarem ao Pará eram

desembarcados na Ilha Caratateua, onde passavam por uma espécie de triagem

para depois serem enviados para a Colônia determinada. Segundo Ferreira,

Existiu no século passado, na Ilha de Caratateua, uma olaria com a denominação de Outeiro que foi incorporada ao patrimônio do Estado pela Lei n223 de 30 de junho de 1894, sancionada pelo Governador Lauro Sodré. Com a aquisição da aludida propriedade visava o governador instalar uma hospedaria para imigrantes nacionais e estrangeiros dando cumprimento ao que estabelecia o seu grande programa de povoamento da Região Bragantina que oferecia melhores condições aos seus novos colonos (FERREIRA, 1984, p. 238).

Ao longo de seis anos o Estado recebeu um grande número de imigrantes

estrangeiros. No Governo de Lauro Sodré entraram 2.906 imigrantes estrangeiros,

sendo que 1664 foram para os núcleos coloniais e 1.242 tiveram destinos diversos

como demonstrado no relatório do governo da época apresentado abaixo.

Em 1895........................................................ 137

“ 1896........................................................ 2.365

“ 1897........................................................ 404

Total........................................................ 2.906

Fonte: Relatório do Governo do Estado do Pará de 1901, p.79

Já no Governo de Paes de Carvalho o fluxo de entrada foi ainda maior, sendo

registrada a imigração de 27.652 imigrantes, destes 18.406 instalados nos diversos

núcleos coloniais e 9.246 para destinos diversos.

Em 1897........................................................ 2.364

“ 1898........................................................ 5.280

“ 1899........................................................ 6.612

“ 1900........................................................ 12.713

“ 1901........................................................ 683

Total........................................................ 27.652

Fonte: Relatório do Governo do Estado do Pará de 1901, p.80

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Ao embarcarem nos portos espanhóis os imigrantes eram relacionados,

contendo dados informativos por família, tendo um controle sobre não só a

quantidade de imigrantes que estavam embarcando como também seus nomes e

suas idades. Como podemos ver no documento abaixo os passaportes também

eram numerados por família, tendo um controle de quantas pessoas deixava a

Espanha em cada viagem.

Imagem 2: Relação de nomes de alguns espanhóis que

embarcaram para o Pará.

Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará – Imigração Caixa 08

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Com isso o Governo do Estado cumpria parte de sua meta de Colonização do

Estado e consequentemente aumentava a produção de alimentos que eram

destinados principalmente ao abastecimento da Capital Belém. Durante o Governo

de Augusto Montenegro as Colônias recebem inúmeras melhorias, apesar de grande

parte já serem emancipadas, em virtude do Governo Estadual gozar de situação

econômica bastante confortável, devido à grande arrecadação ocasionada pelo

primeiro ciclo da borracha.

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30

3 CAPÍTULO – A COLÔNIA BENJAMIM CONSTANT

3.1 A COLÔNIA

O Governo paraense em meados do século XIX observa a carência no

abastecimento de Belém, a carne torna-se monopólio dos fazendeiros Marajoaras,

como também, a produção de outros gêneros alimentícios não era das melhores,

então a necessidade de chegar a Bragança. De acordo com Bordallo (1981, p. 14),

“onde possuía uma forte agricultura voltada para a produção de farinha de

mandioca, como também de tabaco, na região que denominada de “os campos”,

parte litorânea com terras férteis para esse cultivo”. O autor relata também que na

região era desenvolvida a pecuária ostensiva de bovinos em campos naturais, como

também um entreposto de ligação de São Luiz do Maranhão com Belém, com uma

forte produção de peixes salgados e crustáceos.

Impulsionado pela necessidade de receber esta grande produção e

verificando a carência de vias para o escoamento pela Vila de Bragança, haja vista

ser por via marítima o único meio existente, que poderia durar até oito dias de

viagem, o Governo cria então um Projeto de acordo com a Resolução 218 de 11 de

setembro de 1854 do Governador Sebastião Rego Barros, onde iniciam um projeto

de uma estrada para Bragança com os fins outros mencionados.

A realização deste projeto é o primeiro passo para que posteriormente fosse

criada a Estrada de Ferro Belém - Bragança, haja vista que o intuito do Governo era

abastecer o mercado de carnes da capital. O interesse fica explicito no documento

que regulariza a construção da estrada, pois nele o Governo estipula uma quantia

em dinheiro como pagamento ao empresário que primeiro se comprometer a fazer o

transporte do gado de Bragança até a Capital Belém. Décadas mais tarde todo o

transporte de cargas e passageiros foi realizado através da Estrada de Ferro

impulsionando o desenvolvimento da Região Bragantina e o surgimento de diversas

colônias, que mais tarde se tornaram cidades.

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Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 59).

As Colônias foram criadas ao longo desta área de terra entre Belém e

Bragança, sendo cortadas pela ferrovia, que tinha por finalidade escoar a produção

e tornar possível a permanência dos assentados nas colônias, que receberam

diversas denominações, começando por Nossa Senhora do Carmo de Benevides e

terminando Benjamim Constant, em torno de 25 km a sudoeste do centro da cidade

de Bragança.

Imagem 3: Documento que autoriza a construção da Estrada de Belém a Bragança

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Imagem 4: Mapa da evolução da Zona Bragantina de 1875 a 1914

Fonte: PENTEADO (1967, p. 112)

De todas as colônias criadas a de Benjamim Constant era segundo Penteado,

a mais isolada de todas,

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Na extremidade oriental da Região Bragantina, a SE da cidade de Bragança nos vales dos Rios Tijoca e Urumajó, foi instalada, em 1894, o núcleo “Benjamim Constant, numa espécie de realização pioneira, em virtude do isolamento em que ficava colocado, distante de Bragança cerca de 25 km e completamente isolado dos demais núcleos coloniais (PENTEADO, 1967, p.163).

A referida colônia ficava além do término do projeto da estrada de ferro, pois

traspunha o Rio Caeté sendo assim a ultima Colônia em caráter Geográfico, pois em

ordem cronológica a ultima Colônia criada foi a de Tracuateua.

Cada colônia era orientada ao cultivo específico de determinado produto. A

Colônia Benjamin Constant, tinha por finalidade a produção de farinha, arroz,

algodão e fumo, como também cachaça e açúcar. Segundo Penteado (1967, p.

165), a princípio foi projetado para receber colonos oriundos da imigração européia,

e foi povoada pela quase sua totalidade por espanhóis (956), compreendendo uma

grande área localizada entre os Rios Tijoca e Urumajó, terras férteis, cortados por

Imagem 5: Planta da Colônia Benjamim Constant –

1897

Fonte: PENTEADO (1967, p. 164)

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diversos igarapés, afluentes dos Rios Caeté e Urumajó, sendo complementado seu

assentamento a partir de 1900, por nordestinos, em grande parte oriundos do Ceará.

A colônia se estruturou para receber os imigrantes, formando um Núcleo onde

despachava o administrador, foram construídos: um cemitério; um posto de

isolamento para portadores de varíola; como também um local para quarentena, no

caso de suspeita de doenças infectas contagiosas. Neste mesmo Núcleo foi

construída a Estação Ferroviária de Benjamim Constant. Penteado relata que a

Colônia Benjamim Constant foi preparada para que não tivessem problemas com a

chegada dos imigrantes espanhóis,

Como a colônia se destinasse, inicialmente, a receber apenas imigrantes europeus, sobretudo espanhóis, muitos cuidados foram tomados pelas autoridades competentes, que não queriam mais ver os incidentes ocorridos em Apeú com os imigrantes açorianos. Pela planta, vê-se que havia na colônia até um pequeno isolamento para variolosos e uma guarita para desinfecções, instalações para a administração e 85 lotes preparados, inclusive com as casa já construídas (PENTEADO. 1967, p. 164).

Vale a pena ressaltar que todas essas construções eram feitas de madeiras

rústicas que se agrava, quando a família era enviada para seu respectivo lote, onde

as residências eram verdadeiros barracos feitos com material disponível na floresta.

Em relato obtido por Penteado o imigrante conta o que encontrou ao chegar em seu

lote dentro da Colônia,

Conta o Sr. Turiel que sua família lá chegou no dia 10 de outubro de 1898 e que no dia 14 do mesmo, foi levado com os seus para o lote 10 da Estrada da Tijoca, onde disse-nos ele, tudo era mato, salvo onde havia uma casa já feita, de achas

22 amarradas com cipós e cobertas com cavacos

23, esta casa

estava localizada no centro de uma pequenina clareira, na qual só havia sol ao meio-dia (PENTEADO, 1967, p. 164).

As residências mais tarde passam a ser construída com modelo português, a

construção de taipa, uma estrutura de madeira em forma de grade cheia com barro

amassado, como uma argamassa. Fato esse que se comprova até os dias de hoje,

onde grande parte das casas continua sendo construídas no referido processo. Dos

imigrantes estrangeiros enviados ao Núcleo nem todos permaneceram, tendo em

vista alguns não serem lavradores, e passaram a residir em Bragança, na vida

22

Termo utilizado em Bragança para referir-se a estacas de madeira tiradas rusticamente 23

Termo utilizado em Bragança para referir-se a telhas de madeira

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35

urbana como: operários, sapateiros, comerciários, ferreiros, costureiros, como nos

relata a descendente Dona Odete Risuenho24,

É não sabiam trabalhar com mandioca..., não sabiam mesmo nada de lavoura. Eles entendiam muito, a minha vó sempre dizia que Costureiros era um dos melhores que tinham vindo, eram Barbeiros, sabe era gente assim, Farmacêutica.

Esses profissionais representavam uma minoria, haja vista que a sua saída

da colônia não interferiu no desenvolvimento agrícola executado pelo restante, que

representava a maioria, que com seu trabalho fizeram da Colônia Benjamin Constant

uma das mais produtivas.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

24

Entrevista realizada em sua residência na Comunidade de Tijoca (antiga Benjamin Constant) em 16/04/2011

Imagem 6: Dona Odete Risuenho Alves

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36

Alguns imigrantes espanhóis permaneceram na colônia mesmo não sendo

agricultores, mas não foram trabalhar na lavoura, como o Sr. Antonio Alvares

Rodrigues que ocupou cargos de zelador do cemitério, mestre de construção na

estrada de ferro, maquinista e mais tarde mecânico em eletricidade na Usina de

Bragança. Parte desta historia é relatada por Oliveira,

Antonio Alvares Rodrigues, natural da Espanha, chegou ao Pará em 1896, com 25 anos de idade, vindo diretamente para a Colônia Benjamim Constant, onde ocupou o cargo de zelador do cemitério. Durante a construção da Estrada de Ferro Benjamim Constant, ocupou o cargo de mestre da construção; em 1902 montou a primeira locomotiva vindo a trafegar como maquinista. Em 1903, chegou a segunda locomotiva que também montou e em 1904 ao ser inaugurada a dita estrada, foi nomeado maquinista efetivo da mesma. Também montou a terceira locomotiva em 1906. Em 1908 quando a Estrada de Bragança passou a administrar o ramal de Benjamim Constant, também passou para o quadro de maquinistas daquela estrada. Em 1912, passou para a Usina de Eletricidade de Bragança, exatamente aos três meses de inaugurada, ocupando o cargo de mecânico em eletricidade (OLIVEIRA. 2008, p. 283).

A princípio a ferrovia foi construída, no sistema Deconville, com uma bitola de

60 cm, com locomotivas a vapor, que posteriormente foram trocadas por bitola de 80

cm, com locomotivas a vapor e a óleo.

Imagem 7: Uma das locomotivas da Estrada de Ferro de Bragança (Locomotiva a Vapor)

Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 277)

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37

Outro exemplo de imigrante espanhol que não permaneceu na colônia, mas

prosperou na sociedade Bragantina é o Sr. Manoel Lhamas Veiga, que de acordo

com Oliveira (2008, p. 189), nasceu em Zamora, na Espanha, chegando ao

Bragança em 1904, passando direto para colônia onde permaneceu somente por

alguns meses retornando para Bragança onde abriu um restaurante.

Manoel Lhamas com poder econômico razoável, todo ano financiava plantios de fumo aos agricultores da região para ser preferente na compra da produção esta, por sua vez exportada para o Acre, Manaus e Porto Velho-RO (OLIVEIRA, 2008, p. 189).

Mesmo residindo em Bragança não perde contato com a Colônia e passa a

financiar plantações de fumo dos agricultores, com a certeza que compraria sua

produção, porém caso houvesse algum contratempo como, pragas, ou fenômenos

naturais que viesse a comprometer a lavoura, o financiador também sofria com os

prejuízos causados, pois teria que aguardar a próxima safra para receber.

Imagem 8: Residência do Sr. Lhamas, espanhol e grande

atacadista de Bragança

Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 189)

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38

Em 1902, o Governador Augusto Montenegro dava conhecimento ao

Congresso Legislativo que havia emancipado todas as Colônias. No núcleo de

Benjamin Constant foram assentados 2.551 imigrantes em 527 lotes, sendo:

1.143 – sexo masculino

1.408 – sexo feminino

1.779 – nacionais

748 – estrangeiros

Fonte: PENTEADO 1968

Imagem 9: Registro da chegada dos imigrantes no final do século XIX

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 45)

Ao serem enviados para a Colônia os imigrantes recebiam suprimentos para

se manterem até começarem a produzir, isto era chamado na época de “ração”.

Page 40: Colônia agrícola benjamin constant  uma história sobre a imigração espanhola no pará (1892   1964)

39

A seguir, contou-nos que no dia 15 comeram o ultimo pedaço de carne que tinha trazido da Espanha, e passaram a consumir carne verde

25, recebida

todas as segundas feiras: eram sete quilos para a família Turiel, composta por cinco pessoas, que a comiam, acompanhada de pão, distribuído duas vezes por semana (PENTEADO 1967, p. 164).

A “ração” era estipulada para cada família a qual era repassado pelo

administrador, benefício esse que à medida que os assentados começassem a

produzir e a gerar renda, com a venda da produção a “ração” era reduzida ou até

cortada na sua totalidade, e quando a colônia passava a ter uma produção

relevante.

25

Expressão para se referir a carne fresca e não salgada.

Imagem 10: Circular emitida pela Administração da Colônia Benjamim Constant, com informações referentes a distribuição da “ração”

Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará - Núcleo Benjamin Constant –

Caixa 04

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40

Com todos os colonos produzindo elas eram “emancipadas”26, como também

os engenhos produtores de cachaça e açúcar, e os fornos de cobre para a produção

de farinha eram negociados com quem tivesse interesse de propriedade e

administração, dando preferência aos colonos assentados e emancipados, segundo

Penteado (1968). De Acordo com Cruz (1955, p. 922) os administradores da colônia

desde sua fundação foram respectivamente: o engenheiro João Arnoso, Ângelo

Cesário Valente Dôce, João Régis de Lima Valverde e engenheiro Guilherme Von

Linde e José Pereira de Brito Leite de Berredo. Os administradores prestavam

contas trimestralmente como consta no documento abaixo.

26

Neste caso o termo era utilizado quando os colonos já estavam produzindo e não necessitavam mais de receber a “ração”

Imagem 11: Documento de prestação de contas referente ao dinheiro arrecadado e gasto pela administração da Colônia Benjamim Constant

Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará - Núcleo

Benjamin Constant – Caixa 04

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41

No decorrer da pesquisa foi possível constatar inúmeros nomes de

descendentes dos imigrantes espanhóis que residiram e residem, tanto no Núcleo

Benjamim Constant quanto na cidade de Bragança. São eles: Monteiro; Gonçalez;

Risuenho; Garcia; Sanches; Grande; Tameron; Massias; Gardunho; Castanho;

Peinado; Areas; Dias; Alonso: Alfonso; Rodrigues; Vasques; Ramalho; Hernandez;

Lhamas; Veiga; Turiel; Valadares; Rodilha; Espinosa e Fernandez.

3.2 O CHOQUE CULTURAL

O Imigrante ao chegar à Colônia sofre certo choque cultural, tendo em vista

ser de grande parte camponesa, que poderiam desenvolver a técnica agrícola e o

manejo de cultura já conhecido por eles na Europa. Mas são orientados através das

políticas do Governo a cultivar produtos que viesse a satisfazer a necessidade de

abastecimento da região, em especial Belém, como também o manejo com a terra,

partindo da derrubada de florestas tropicais com o uso do fogo para a limpeza do

terreno, técnicas não usadas em sua terra de origem, mas esses costumes são logo

absolvidos, fazendo com que sua permanência na região torne-se uma realidade.

Penteado (1967, p.164), relata que a dieta também passa por uma grande

mudança, o trigo era um produto ausente na colônia, e fazia parte da dieta básica do

imigrante no seu país de origem, que passou a consumir a farinha de mandioca

juntamente com outros cereais e legumes. Os costumes do imigrante influenciam na

região em especial na culinária, onde a pecuária para consumo familiar torna-se

bastante desenvolvida, em especial a suinocultura, até então pouco difundida na

região, tornando o povo bragantino um grande consumidor da carne suína, tendo

algumas iguarias com os nomes alterados, como por exemplo: a “Morsilha”, iguaria

feita com o sangue do porco que após ser temperado com ervas e condimentos e

colocado no interior da própria tripa do animal, em seguida é cozido e defumado,

que é chamada de “Murussela” e o “Thicharro” de Torresmo.

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42

Imagem 12: linguiça curada, feita de carne de porco, receita trazida pelos espanhóis e comercializada até os dias de hoje.

Fonte: Arquivo pessoal dos autores (2011).

Veio também com o imigrante uma revolução no transporte de cargas, a

carroça com rodas raiadas e com ferragem, puxada por uma “junta de bois”27,

podendo transportar até 600 kg, ou 10 sacos de cereais, haja vista que as práticas

de transportes usadas pelos nativos da região eram nas próprias costas, em cavalos

ou até mesmo em carro de boi todo de madeira puxado por um só animal, com

menos capacidade de carga.

27

Bois utilizados como tração para carroças, neste caso eram dois bois, mas elas podem variar de quantidade de acordo com a necessidade. Obs.: duas juntas correspondem a quatro bois e sucessivamente.

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43

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

Atualmente a carroça encontra-se em extinção, com a chegada da tecnologia

o uso dos carros e tratores, sendo a maior dificuldade a confecção das rodas

raiadas, onde a parte central artesanalmente não mais é construída por falta de

Imagens 13 e 14 : carroça com rodas raiadas, utilizada até hoje, inserida na Colônia pelo imigrante espanhol para o transporte de cargas.

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44

pessoas com esta prática. Como nos relata o Senhor Antonio Jorge Monteiro de

Lima28,

Quem fazia era o Zé Calixto e o Sabarana, agora ninguém sabe mais, a roda de madeira era feita com duas polegadas

29 (mostrando a medida com

os dedos) maior que o aro de metal, que após ir pro fogo ficava do mesmo tamanho, depois de encaixada tinha que levá pra dentro do rio senão queimava tudo.

Ainda segundo o Sr. Antonio Jorge, outro fator que dificulta a confecção das

carroças é a falta de ferragens e acessórios, não mais oferecidos no mercado.

Imagem 15: Sr. Antônio Jorge Monteiro de Lima

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

28

Entrevista realizada em sua residência na Comunidade de Tijoca, Antiga Benjamim Constant, no dia 16/04/2011 29

Medida aproximadamente igual ao comprimento da segunda falange do polegar. Medida inglesa de comprimento equivalente a 2,54 cm

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45

Outras tecnologias também foram usadas como, o arado de tração animal e

os engenhos de moagem de cana de açúcar, até então desconhecidos na região.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

3.3 A CONVIVÊNCIA COM OS NORDESTINOS

Durante os primeiros anos a Colônia recebeu apenas colonos espanhóis, mas

alguns não se adaptaram a nova vida o Governo então resolve incluir imigrantes do

Nordeste Brasileiro, principalmente das áreas atingidas pela estiagem, tentando

assim resolver não só os problemas sociais vividos pelos mesmos, como também o

de manter o objetivo de produzir alimentos nas colônias.

Imagem 16: Antigo Engenho que funcionava com tração animal, utilizado na Colônia para fabricação de cachaça e açúcar.

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46

A Colônia até 1900 era povoada na sua quase totalidade por espanhóis, mas com a política de colonização do Governo do Estado o núcleo Benjamin Constant passa a receber nordestinos, mas que são assentados em lotes mais distantes do núcleo da colônia formando certa periferia, naturalmente os primeiros lotes já tinham sido ocupados pelos espanhóis (PENTEADO, 1967, p. 138).

O nordestino em grande parte oriundo do Ceará, mas também do Rio Grande

do Norte e Paraíba tem muita afinidade com o espanhol, ambos eram católicos,

lavradores, língua de fácil entendimento (português/espanhol), com baixo teor de

cultura formal, pouco letrado e oriundo de sufrágios sociais, mas mesmo assim

tinham divergências, a visão de mundo do europeu não deixava de ser diferente do

brasileiro nordestino, onde apareciam diferenças e pseudônimos, como: todo

espanhol era “galego” e todo nordestino “arigó”30, às vezes com pequenos embates

sem maiores conseqüências. Segundo Ferreira (1984, P.235), em outras partes da

região bragantina, os nordestinos eram também chamados de “ceará-ceroulas”. O

vestuário dos imigrantes europeu difere, pois em qualquer evento social mesmo no

interior da Colônia, o uso do terno e gravata era comum, como também as mulheres

com longas saias, que podiam ser registradas mesmo depois de algumas décadas.

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 49)

30

Termo atribuído aos nordestinos devido às roupas que trajavam, geralmente simples.

Imagem 17: Exemplo de como se vestiam os Espanhóis da Colônia

no final do século XIX

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47

“Usavam entre eles um forte sistema de escambo doméstico31, trocando

porcos por farinha, bois por cavalos ou qualquer outro produto gerado na colônia”,

como nos relata o Sr. Manoel Luz. O que também é notado e relatado por Penteado,

A idéia de colonizar a Região Bragantina com imigrantes europeus estava abandonada; a região se acaboclava, ou melhor dizendo, se “nordestinava”. Os 10.122 colonos existentes nos diferentes núcleos coloniais, no ano de 1902, eram compostos por 8.936 nacionais e 1726 estrangeiros (PENTEADO, 1967, p. 138).

Os costumes do imigrante europeu e do nordestino se fundiam como também

a influência paraense, que em pequena quantidade adentravam na colônia, fazendo

uma mescla, observada até os dias atuais. A religiosidade dos imigrantes espanhóis

é similar ao do nordestino, como também a do paraense, fato que se comprova com

a fundação de diversas comunidades religiosas com seus respectivos padroeiros

dentro da Colônia: Benjamim Constant –Tijoca – São Raimundo; Travessa 29 –

Santa Luzia; Jejuí – São Sebastião; Travessa Santo Antonio – Nossa Senhora da

Conceição. Uma particularidade observada na Colônia era que quando as pessoas

eram convidadas para as festas de casamento, as mesmas não se preocupavam em

comprar presentes e sim em escolher um animal que seria enviado aos noivos para

serem servidos durante o banquete.

As festas eram muito frequentes na colônia, onde antes da década de 1950

estes eventos eram animados por sanfoneiros e pequenas orquestras, formadas

pelos próprios colonos, denominados de “Jazo”, termo utilizado para se comparar

com as bandas de Jazz, mas sem nenhuma relação com o ritmo norte americano,

onde as musicas dançadas, eram: valsas; mazurcas32; xotes33; rancheiras34 e o

retumbão35 (oriundo da marujada).

31

Sistema de troca, no caso específico, de animais e produtos produzidos na Colônia. 32

Dança popular polonesa, originariamente cantada e dançada, em compasso tenário, com uma acentuação característica no segundo tempo, e que, no Brasil do século XIX, foi utilizada como dança de salão, na colônia foi introduzida pelo imigrante espanhol. 33

Antiga dança de salão difundida em várias regiões do Brasil, introduzida na Colônia pelos imigrantes nordestinos. 34

Dança popular de compasso tenário original da Argentina, comum no RS, mais tarde divulgada nos salões. 35

Ritmo que surgiu durante os preparativos para a festividade em homenagem a São Sebastião, em Bragança-PA. Os tambores eram ouvidos de muito longe e segundo a crônica da época, "retumbavam". Daí porque a primeira e mais importante dança da Marujada tem o nome de Retumbão.

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48

3.4 O ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO

Após o assentamento a produção agrícola começa tímida, mas logo o

trabalho se transforma em produtividade, as dificuldades para leva - lá até Bragança

são enormes principalmente para os colonos que estavam assentados nas áreas

mais distantes do núcleo.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

As cargas eram transportadas em carroças e comboios de mulas e cavalos

até a margem do Rio Caeté, onde eram embarcadas em grande “Batelões”36

36

Barca grande para carga pesada, feita de um tronco de madeira.

Imagens 18 e 19: Local onde ficava localizado o antigo Porto do

Araçateua

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49

movidos a remo, assim chegavam ao Porto de Bragança, tendo como principais

Portos de Araçateua e Chaú situados as margens direita do rio que levava a

Bragança.

Ainda no Governo de Paes de Carvalho, a Colônia recebe inúmeras

melhorias, doações de fornos de cobre para confecção de farinha, que eram cedidos

pela Administração da Colônia e podia ser usado por mai de uma família, pois tinha

seu posicionamento às margens de um igarapé37, onde a mandioca passava por um

processo de maturação dentro d’água “de molho” para depois ser processada, como

também instalações de engenhos, para produção de cachaça açúcar e rapadura,

dois desses engenhos eram a vapor, e foram denominados de Paes de Carvalho e

Lauro Sodré. Os demais engenhos eram de pequeno porte com tração animal, que

foram instalados em algumas propriedades, como consta na relação abaixo:

José Tameron (Zé Galego) – Localidade de Jejuí;

José Ramalho (Zé Ramalho) – Tv. São Francisco;

Cornélio Hernandes – Tv. São Francisco;

José Maria Monteiro – Tv. Santo Antonio;

João Manim – Tauarí; (movido por roda d’água)

Lourenço Quadros (Paraense casado com espanhola, a Sr.ª Felipa Alonso) –

Alto Urumajó.

Informação esta, confirmada pelo Sr. Domingos Moreira Monteiro38, que nos

relata,

Aqui era nos três, Quadros, Monteiro e Galego, aqui na ponta. Ali acolá (apontado em certa direção) em cima finado João Manim, Zé Ramalho e o Cornélio, seis Engenhos. Mas é né, que a gente lembra é só esses os engenhos, fazendo cachaça, açúcar, rapadura, a força mesmo era cachaça e açúcar, nós nunca fomos muito chegado a rapadura. E rapadura eu é que vim fazer depois que o papai morre. Eu fiz muita rapadura. Mas não tem comércio, o mel não tem comércio, o povo daqui não gosta dessas coisas. Cachaça era até bom de venda, mas ficou muito enjoado, mas eu me enjoei, eu to com 63 anos e não me uno com bebo, me criei fazendo cachaça e tabaco, e nunca fumei um cigarro e nunca bebi cachaça.

37

Nome dado a pequenos rios. 38 Entrevista realizada em sua residência na Comunidade de Tijoca, Antiga Benjamim Constant, no

dia 16/04/2011

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Durante a entrevista com o Sr. Domingos, foi por ele também

mencionado a existência de outros engenhos, porém sem observar os locais e os

respectivos proprietários.

Imagem 20: Sr. Domingos Moreira Monteiro

Fonte: Arquivo Pessoal dos Autores (2011)

Os engenhos de pequeno porte com tração animal tiveram um papel

importante na economia da Colônia, suas atividades regimentavam um grande

contingente de pessoas e mão-de-obra, como também faziam um aproveitamento

das terras às margens dos igarapés, dentro dos grandes roçados39 chamados

“alagados”40, sendo seu ambiente propício para a cana-de-açúcar. O pessoal

envolvido na atividade do engenho era na sua maioria da própria família, mas com a

ajuda de contratados, sem nenhum direito social ou participação nos lucros da

produção, que iniciavam com as grandes derrubadas e formação de roçados com

manutenção e colheita até a confecção dos derivados da cana.

Outro produto difundido dentro da Colônia foi o Tabaco, que apesar de difícil

manejo foi logo incorporado pelos Colonos. As plantações de tabaco não tinham

tanto segredo da preparação da terra até atingirem um tamanho específico, cerca de

39

Terrenos que foram roçados ou queimados e que estão prontos para a agricultura. 40

Terrenos úmidos próximo as margens dos rios e igarapés.

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51

60 cm, porém depois dessa fase os trabalhos tinham que ser realizados de

madrugada como nos relata o Sr. Domingos Moreira Monteiro,

Plantava 20 mil pés de tabaco, inté planta não tinha dificuldade, mas na hora que tava deste tamaninho (mostra a altura do chão com as mão, cerca de 60 cm), já tinha chegado a terra, ai chego a terra tem que “capa ai eu capava”

41 e começava tira os brotos, três hora da madrugada e ganha o

escuro pro meio das folhas, todo molhado naquele tabaco, sete hora da manhã não prestava mais, melava, grudava e quebrava tudo, então tinha que ir de madrugada.

Nesse período em virtude do aumento da produção deu-se também o início

da construção da estrada de ferro de Benjamim Constant, haja vista que a ferrovia

Belém Bragança ainda não tinha chegado a Bragança, fato que vem confirmar a

importância da colônia agrícola para o abastecimento do Estado.

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 51)

Segundo Siqueira (2008 p.173), no dia 27 de abril de 1900, o Governador

Paes de Carvalho, autorizou a construção da Estrada de Ferro de Benjamim

41 Processo de retirada do brotos da planta, neste caso específico, dos pés de fumo

Imagem 21: Colonos aguardando o trem na Plataforma de Benjamim

Constant

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Constant, no Sistema Decauville42 de 60 cm de bitola, construída com trilhos de aço

de nove quilos por metro linear, assentados no lado direito do Rio Caeté, num total

de 24 km. Porém devido a algumas divergências entre o Governo e o Engenheiro

responsável pela obra a mesma é paralisada e o contrato rescindido, fato este

confirmado por Oliveira,

Autores do decreto 1º 1.960 de 06 de dezembro de 1902, O Governador Augusto Montenegro rescinde o contrato firmado com o Engenheiro Guilherme Von Linde, em decorrência do não cumprimento das principais cláusulas contratuais, tais como: a falta de estudos definitivos dos respectivos trabalhos no prazo determinado (Ato dos Governadores Vol. I, 1895 a 1930, in OLIVEIRA, p. 224).

De acordo com Siqueira (2008 p. 176) “a obra só vem a ser concluída no

Governo de Augusto Montenegro, de acordo com o art. 3º do Decreto nº 1551 de 29

de fevereiro de 1908, entregue em 09 de maio do mesmo ano”.

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 53)

42 Ferrovias de bitola estreita são utilizadas para transporte de mercadorias como madeira, âmbar, turfa, argila e areia, conhecida comoa as estradas de ferro da floresta. O engenheiro Paul Decauville (1846-1922) introduziu seu sistema de ferrovias portátil.

Imagem 22: Antiga Estação do Sapucaia do Núcleo Benjamim Constant

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53

A Estrada de Ferro de Benjamim Constant desde sua conclusão em 1908

passa por transformações, sendo de suma importância seu prolongamento em 1931,

no Governo de Magalhães Barata, até a altura do lote 29 com extensão de 07 km,

transpondo o rio Tijoca, dando mais oportunidade para os colonos assentados mais

próximos do Rio Urumajó, que antes tinham grandes dificuldades para escoar sua

produção até o município de Bragança. De acordo com Siqueira,

O Trenzinho do 29”, “trem da colônia”, como era carinhosamente chamado e transportava diariamente toda a produção e colonos daquela vasta região formada pela colônia Benjamim Constant, Tijoca, Patal, Caratateua, Campinho. Cacoal, Imboraí e Aturiaí (SIQUEIRA, 2008, P. 47).

Uma das deficiências do transporte realizado pelo “Trenzinho” era com

relação aos seus horários, pois o mesmo partia da Colônia no início da manhã

retornando a tarde, e a próxima viagem só seria realizada no dia seguinte.

Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 281)

Existem diversas histórias jocosas contadas pelos colonos em relação ao

trenzinho, pois se torna um elemento emblemático da colônia, fato que durante a

Imagem 23: “Trenzinho do 29” conduzindo agricultores e suas respectivas cargas para Bragança

(Sistema de Ferrovia Decauville) - 1943

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54

viagem tinham suas roupas queimadas pelos resíduos abrasivos liberados pela

chaminé da locomotiva. A Dona Adalgiza Quadros Risuenho43 relata como era a

viagem no trenzinho,

Andei muito naquele trenzinho, aquela maquinazinha que passava o dia todo pra chegar de Benjamim a Bragança (risos) ainda queimava a roupa, a roupa era só buraquinho porque as faíscas caiam em cima da gente e queimava tudo.

Mesmo sendo de vital importância para os moradores, transpondo um

pequeno trajeto da Colônia até Bragança, o mesmo não oferecia muito conforto aos

seus passageiros, pois também transportava além de pessoas as cargas.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores

43

Entrevista realizada em sua residência no Município de Bragança no dia 16/04/2011

Imagem 24: Professora Adalgiza Quadros Risuenho

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55

A velocidade desenvolvida não era muito grande que durante as subidas

quando o chapéu de algum passageiro voava o mesmo descia do trem para apanhá-

lo e retornava para o vagão, como também de acordo com o tamanho da

composição44 e a quantidade de carga durante uma subida era necessária a

presença de uma pessoa derramando areia sobre os trilhos para que a locomotiva

melhorasse a tração, sem contar às vezes em que a garotada passava sabão ou

sebo45 nos trilhos fazendo com que a locomotiva ficasse sem tração que seria

motivo de risos para os “malfeitores”.

A Estrada de Ferro Benjamim Constant possuía diversas pessoas em seu

quadro de funcionários que eram conhecidos por todos dentro da colônia, como o

senhor João Olímpio, o “chefe do trem”, que com energia administrava as viagens, e

o Sr Bibiano que exercia a função de maquinista, Oliveira faz um breve relato sobre

o mesmo,

Bibiano Cardoso da Silva nasceu no município de Maracanã no dia 07 de outubro de 1920, ingressou na Estrada de Ferro de Bragança como foguista

46 e posteriormente maquinista no ano de 1965.

No período em que prestou serviço a Estrada de Ferro dirigiu a máquina Augusto Montenegro, sendo esta a primeira a fazer o percurso travessa do 29 – Bragança – Belém (OLIVEIRA, 2008, p. 283).

Os colonos residentes em áreas mais distantes da Estação do 29 usavam

animais de montaria e transporte de cargas para sua locomoção, ao chegarem a

Estação, onde tinham que deixá-los, usavam os serviços do Sr. Araujo, como

guardador e tratador dos animais, que ao retornarem os recebiam, efetuando um

pequeno pagamento pelo serviço prestado.

44

Termo usado para definir a quantidade de vagões dos trens, pois a mesma variava de acordo com a necessidade, podendo o trem aumentar ou diminuir o número de vagões 45

Espécie de graxa originária da gordura de bois, após ser derretida e esfriada ganhava consistência, podendo ser facilmente manuseada. 46

Funcionário responsável em colocar lenha na caldeira para manter a velocidade do trem de ferro.

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56

Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 281)

Com a chegada da Estrada de Ferro até o Núcleo da Colônia o escoamento

da produção foi facilitado, fazendo com que o comércio atacadista, com as

instalações de Armazéns, crescesse na cidade de Bragança, o que pode ser

confirmado por Siqueira, quando relata,

Instala-se em Bragança grandes armazenistas, como: M. Dias e Cia; Turiel; Martins Pinheiro, administrado por Bernardino Antunes da Silva; Custódio Costa de Malaquias Vasconcelos, que precisavam às vezes alugar embarcações para transportar os produtos pra Belém (SIQUEIRA, 2008 p.49).

O financiamento das lavouras por comerciantes tornou-se uma prática comum

na região, os comerciantes custeavam as despesas diversas como víveres,

ferramentas e utensílios, ficando assim o produto na responsabilidade da venda

exclusiva para o respectivo fornecedor, atitude essa utilizada em diversas Colônias

do Pará, como também até mesmos nos seringais da Amazônia, onde o Sistema de

Aviamento oferecia grandes margens de lucros para os comerciantes.

Imagem 25: Estrada do 29 – Produtores agrícolas aguardando a passagem do “trenzinho” – 1950

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Este sistema de comércio para o produtor, por um lado era bom, pois tinha a

venda de sua produção garantida, tendo em vista que não tinha muita opção de

diversificar sua venda por falta de transporte. Por outro lado se submetia a política

de preços estabelecida pelo respectivo armazenista, que após concentrar grande

parte de produtos, envia para os grandes centros consumidores da Região Norte,

aquecidos pelo auge da extração da borracha.

3.5 A DECADÊNCIA DA COLÔNIA

Vários fatores contribuíram para a decadência da colônia, observa-se logo de

início do processo de imigração, onde o Governo do Estado do Pará lança

campanha no sentido de regimentar colonos europeus e para isso contrata

empresas que recebem por cada imigrante enviado, desta forma não é levado muito

em consideração se eram lavradores ou não, pois o mais interessante era a

quantidade. De acordo com Oliveira (p. 189 e 283), “grande parte de comerciantes e

profissionais liberais que vieram da Espanha deixaram a colônia e foram se

estabelecer na cidade de Bragança”.

O transporte do núcleo para Bragança sempre foi difícil, a princípio pelos rios,

depois pela ferrovia, a partir de 1909 pela ferrovia, que já no início da década de

1930 apresentava problemas causados pela falta de manutenção, principalmente a

ponte metálica sobre o Rio Caeté, que fica intransitável pelas composições, sendo o

transporte feito por “baldeação”47 com risco de acidentes que podiam levar a morte e

a perda de produtos, este problema só foi solucionado em 1950 com a construção

da nova ponte de cimento armado. De acordo com o relato de Siqueira, este fato

pode trazer grandes prejuízos para os colonos,

Totalmente intransitável, o trem era obrigado a parar do lado oposto do rio, provocando, além dos prejuízos materiais e financeiros, um sério risco de morte, àqueles que se arriscavam a caminhar sobre seus dormentes apodrecidos, tamanho o estado de abandono que a foi relegada até o ponto de ser substituída (SIQUEIRA, 2008 p.47).

47

Fato quando pessoas se deslocam até certo ponto em um transporte, descem e embarcam em outro, no caso específico tinham de atravessar a ponte andando e carregando suas mercadorias para pegar outro transporte no lado seguinte.

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Um dos fatores responsável pela deteriorização da ponte metálica era o fato

de Bragança estar somente a 20 km do mar, onde o rio sofre influência de

enchentes e vazantes, com isto trazendo componentes de sal altamente corrosivo.

Imagem 26: Restos da antiga ponte de ferro, ao lado da nova ponte em concreto

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 48)

Fato também relevante era a educação dos filhos e já netos dos imigrantes,

sem escola em nível mais avançado, fazendo com que grande parte dos colonos

mantivesse duas residências: na colônia e em Bragança, ficando mais fácil para

satisfazer a necessidade de mandar os filhos para a cidade a fim de estudar e se

profissionalizar.

Encontrando na cidade de Bragança uma carência de serviços, a maioria

destes descendentes ingressou no ramo da Educação fato que se constata até os

dias atuais, muitos descendentes de espanhóis professores dando uma forte

contribuição na educação do povo bragantino.

Já na década de 1960, era comum em Bragança a existência de várias

empresas prósperas de propriedade de descendentes espanhóis, como, Casa

Madri, Santos & Castanho e CIA e outros que não ostentaram o nome espanhol,

mas tendo como respectivo proprietário o descendente de espanhol.

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Imagem 27: Casa Madri, antigo comércio pertencente à família de espanhóis

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

Naturalmente o imigrante não se identificava com a Colônia, fato comprovado

por pequenos êxodos em épocas diferentes. No início, vários se mudaram para

Bragança, mas voltaram para a Colônia com a eclosão da Primeira Guerra Mundial,

com medo de sofrer alguma represália por parte do Governo do Estado, mas quando

se sentiam seguros migravam para Bragança. Quando surgia um fato político

voltavam para a Colônia, o que aconteceu novamente no início da Era Vargas, com

o Intendente Magalhães Barata e novamente no início da Segunda Guerra Mundial.

O último e definitivo fato foi à desativação da estrada de ferro em 1964, fato

este que foi feito através de Decreto de Lei.

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A superintendência da ESTRADA DE FERRO DE BRAGANÇA em obediência a decisão da Diretoria 187/64, de 18 de dezembro de 1964, da REDE FERROVIÁRIA NACIONAL S/A, avisa aos seus usuários que suspenderá o tráfego de seus trens de carga e passageiros a partir de janeiro de 1965. Belém 26 de dezembro de 1964 Louriwal Rei de Magalhães – Superintendente substituto em exercício (SIQUEIRA, 2008, p. 202).

É de censo comum que vários motivos levaram a extinção da Ferrovia, como

o déficit na contabilidade do Órgão Administrador, onde alegavam que a entrava

operava com suas contas sempre negativadas. Ainda por conta do Presidente da

Rede Ferroviária Federal na época Juarez Távora ter se candidatado a Senador pelo

Estado do Pará não se elegendo, fato que gerou represália por parte do mesmo.

Como também o as Empresas Empreiteiras, contratadas pelo Governo do

Presidente JK para colocar em prática seu Plano de Metas, onde utilizaram a prática

do “lobismo”, para a substituição das Ferrovias por ferrovias.

Imagem 28: Prédio da Antiga Estação Ferroviária de Bragança, demolida após a extinção da Estrada de Ferro Belém – Bragança

Fonte: SIQUEIRA (2008, p. 28)

Com a desativação da estrada de ferro uma rodovia de terra em condições

medíocres e sem frota de veículos, pois para o transporte da produção seria

necessário o uso de caminhões o que na época era muito difícil e relativamente

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caro, culminou com imensas dificuldades, tornando a permanência na Colônia muito

difícil.

A Colônia ao longo de sua existência de mais ou menos 110 anos, passa por

diversas transformações econômicas, sociais e ecológicas, que ecologicamente

pode ser comprovada através de sua paisagem, onde as matas nativas

desapareceram quase na sua totalidade. De acordo com Siqueira,

Com o extrativismo desenfreado e as queimadas, as roças de mandioca e milho, assim como plantações de cana, que se destinavam à produção de cachaça, passaram a substituir as primitivas matas da Região Bragantina, transormando-a naquilo que hoje apresenta de mais repelente, como paisagens transformadas pelo homem: uma zona de capoeiras raquíticas e de macegas (SIQUEIRA, 2008, p. 232).

Atualmente a colônia trabalha com monocultura de mandioca para a produção

de farinha, grande parte dos lotes foram vendidos formando fazendas de pecuária

bovina, que utilizam o solo como pastagem, acelerando o processo de degradação

da floresta tropical encontrada no início do século XX.

O assoreamento dos rios também é uma realidade, parte dos Rios Tijoca,

Urumajó, Jejuí que eram navegáveis, hoje se vê como meros igarapés cercados de

pastagens.

Imagem 29: Ponte sobre o Rio Urumajó

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

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Todas as colônias da Região Bragantina têm seu desenvolvimento atrelado a

existência da estrada de ferro, mas a Colônia Benjamim Constant em especial, tem

esta ligação mais enraizada, em virtude de ser o final da linha e possuir um ramal

ferroviário próprio, tornando sua existência sem a Estrada de Ferro quase que

impossível. Fato esse comprovado com a dificuldade enfrentada pelos colonos ao

final do transporte ferroviário.

A saída de grande parte do imigrante espanhol proporcionou à Colônia uma

situação de abandono, fato certificado pela falta de manutenção e até mesmo

destruição de alguns bens construídos e utilizados pelos colonos no passado como:

A Estação Ferroviária do Núcleo Benjamim Constant e Ponte do Rio Tijoca, por onde

passava o trem, readaptada para rodovia.

Imagem 30: Antiga Estação de Trem do Núcleo Colonial Benjamim Constant

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores

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63

A ponte sobre o Rio Tijoca entre o núcleo da Colônia e a parada do lote 29,

encontra-se quase invisível, por estar aterrada a uma altura de mais ou menos 5 m.,

construída na década de 1930 pelo Governo de Magalhães Barata.

Imagem 31: Parte inferior da antiga ponte sobre o rio Tijoca, por onde passava o trem, hoje adaptada para passagem de veículos.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores

3.6 MUDANÇAS CULTURAIS

Diversos fatores contribuíram para que os descendentes reformulassem parte

de sua cultura, na língua o fato de ser muito parecidas a Espanhola e a Portuguesa,

e o convívio com os brasileiros fez com que somente os imigrantes propriamente

ditos guardassem a língua espanhola, fato que nos dias atuais não se tem registros

de alguém que fale espanhol dentro da Colônia, pois não lhes foram repassados

pelos seus antepassados.

Page 65: Colônia agrícola benjamin constant  uma história sobre a imigração espanhola no pará (1892   1964)

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Os nomes de Famílias, em alguns casos ao chegarem eram “abrasileirados”,

ou até alguns nomes próprios foram traduzidos, exemplo disso são os nomes

Gonzales que passou a ser chamado de Gonçalves e Tameron de Tamerão.

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

A saída dos espanhóis para as cidades faz com que os que permaneceram

fiquem em minoria em relação aos nordestinos e aos paraenses que também

ingressaram na colônia. Fato que se observa na cultura local, pois os traços culturais

espanhóis são imperceptíveis por grande parte dos descendentes, até mesmo a

Imagem 32: Lápide do túmulo do Sr José Rodrigues Tameron, que teve seu nome abrasileirado pra Tamerão

Page 66: Colônia agrícola benjamin constant  uma história sobre a imigração espanhola no pará (1892   1964)

65

culinária no interior da colônia é utilizada sem que se tenha real noção da sua

origem. Em seu relato a Dona Marita Souza48 nos diz,

A minha mãe nasceu na Espanha, mas foi criada no Brasil então falava muita coisa espanhola, da Espanha ela falava, ela não usava. Muitas coisa ela falava, as comidas ela fazia, agora a gente não pegou nada”.

Dona Marita representa um fato comum na Colônia, pois mesmo sendo neta

de Espanhóis, pertencente à família Fernandez, não traz o mesmo em seu nome,

sendo um exemplo das mudanças culturais aos quais os descendentes perpassam.

Imagem 33: Dona Marita da Silva Souza

Fonte: Arquivo pessoal dos Autores (2011)

48

Entrevista realizada em sua residência na Comunidade de Tijoca, Antiga Benjamim Constant, no dia 16/04/2011

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66

Já na cidade de Bragança a cultura espanhola pode ser mais bem observada,

principalmente nos Mercados com a venda de produtos inerentes a Cultura

Espanhola. Outro costume muito usado até hoje é a prática de se tomar sopa com

pão no jantar hábito introduzindo na Região pelos imigrantes espanhóis.

Outro fato que contribui para que a cultura espanhola acabasse por cair no

esquecimento dentro da Colônia foi que antes da implantação da Colônia Benjamim

Constant já existia nas proximidades Comunidades formada por agricultores e

pescadores e outras somente de pescadores, situadas mais ao litoral como

Caratateua, Urumajó, hoje Augusto Corrêa, e outras que de certa forma se

comunicavam com os imigrantes estrangeiros em pequenas operações comerciais,

onde, por exemplo, trocavam farinha de mandioca por pescado salgado e crustáceo.

Esta proximidade acaba por unir os laços culturais e afetivos, no lado cultural

há uma troca de experiências onde mesmo sem se perceber um vai aprendendo e

se acostumando com a cultura ora específico do outro. Já do lado afetivo registra-se

grande número de casamentos de paraenses com filhos de espanhóis e nordestinos,

confirmando a mesclagem da Cultura Brasileira. Hoje os moradores da Colônia

praticamente, todos os filhos e netos dessa mistura.

Nos dias de hoje é difícil até se encontrar fotos dos primeiros moradores, haja

vista a distância que a Colônia tinha da cidade, fato esse que pôde ser comprovado

quando perguntamos ao Sr. Domingos Moreira Monteiro, filho de imigrante, sobre a

existência de alguma foto de seu pai e ele nos respondeu: “Não tem, naquela época

que papai morreu 59,60 que papai morreu não se falava em retrato, era muito difícil”.

Diante de todos esses acontecimentos e o descaso dos Governos Paraense e

Espanhol, a história da imigração espanhola no Núcleo Benjamim Constant aos

poucos vai se perdendo, e se nada for feito corre o risco de desaparecer. As famílias

que hoje residem na Colônia, não mais possuem uma identidade específica, são na

sua maioria fruto da mistura entre os imigrantes espanhóis, nordestinos e os

paraenses que adentraram posteriormente. Nesse sentido, a importância social do

passado da imigração espanhola na região bragantina, nos levar a repensar a

formação social do povo paraense, e reescrever as páginas da história social da

região.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa deste trabalho teve uma visão voltada para a imigração

espanhola, fato que pode se comprovar a grande participação e influência desta

Colônia na cidade de Bragança como um todo, observado no grande orgulho dos

descendentes em afirmar serem oriundos dos espanhóis e com uma receptividade

muito grande e principalmente a vontade de registrar os fatos históricos pertinentes.

A política de imigração exercida pelos Governos Provinciais e estaduais no

Pará foi de suma importância para o desenvolvimento da Região Bragantina e do

Pará como um todo. O aquecimento da economia na Região Amazônica em virtude

da exportação da borracha aumenta o consumo tornando uma necessidade a

produção de alimentos devido também ao crescimento demográfico registrado no

final do século XIX.

O imigrante estrangeiro teve um papel muito importante, embora não tenha

sido o ideal desejado para ambas as partes, mas de maneira geral foi muito

proveitoso, onde modifica a Cultura e a Economia de diversas regiões do Brasil. A

Colônia Benjamim Constant, hoje Tijoca, dentro do processo de imigração no Pará,

foi exemplo, sendo vista por alguns pesquisadores como o maior Núcleo em número

de permanência de estrangeiros, fazendo com que o Governo Estadual e Federal

em várias épocas do Século XX, tenha voltado sua visão para esta região,

proporcionando um avanço no desenvolvimento, com a ideia de transformar a

Região Bragantina o grande celeiro do Pará e a Colônia Benjamin Constant a mais

promissora, tornando em obras para a cidade de Bragança.

Pode-se observar com a pesquisa que o processo de decadência e o

abandono da Colônia são constatados pelos descendentes, quando são abordados

sobe o assunto, uma mistura de saudosismo de seus antepassados e da própria

colônia, como também a falta de reconhecimento dos imigrantes pioneiros que

desbravaram a região no início do século XX, com sacrifício e privações, em busca

de uma vida melhor.

Entendemos que a pesquisa foi feita com limitações diversas, mas com muita

dedicação, com o intuito de refletir sobre a história da região em especial a Colônia

Benjamim Constant. Onde um dos membros da equipe nasceu e cresceu, ouvindo e

vivenciando suas peculiaridades, fazendo com que o sentimento nato através deste

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68

trabalho tenha colaborado para a história de Bragança, da Região Bragantina e da

Amazônia como um todo, face somente há poucas décadas os Estudos Amazônicos

fora inserido no contexto da História do Brasil pelo Ministério da Educação.

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69

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997 BURKE, Peter. “História como memória social”. In: Variedades de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000, p. 67-89. Disponível em: http://www.fja.edu.br/proj_acad/praxis/praxis_02/documentos/ensaio_2.pdf acessado em 10/02/2011 as 07h04min . CRUZ, Ernesto. Estrada de Ferro de Bragança. Belém: SPEVEA, 1955

____________. História do Pará. Departamento de Imprensa Nacional, 1963.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Diconário Aurélio Básico da Lingua Porutguesa. 1ª edição, Rio de Janeiro: Eitora Nova Fronteira, 1988. FERREIRA, Nestor Herculano. História do município de Santa Izabel do Pará. Belém-PA: Falangola Editora, 1984. HERMIDA, Antônio José Borges. Compêndio de História Geral. São Paulo-SP:

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Disponível em: http://www.anpuhsp.org.br/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/Autores%20e%20Artigos/Vanessa%20Martins%20Dias.pdf, acessado em 05/04/2011 as 14h00min. OLIVEIRA, José Ribamar Gomes de – De Vila Cuera a Bragança – Editora Gráfica Amazônica; Belém, 2008. PENTEADO, Antônio Rocha. Problemas de Colonização e uso de terra na Região Bragantina. Rio de Janeiro: Gráfica Lux, 1967.

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70

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Revista Estudos Históricos. RJ.

vol. 5 nº 10, 1992. p. 200-212. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br. p. 207. Acessado em 13/11/2010 as 09h00min. ROUSSO, Henry. “A memória não é mais o que era”. In: AMADO, Janaína & FERREIRA, Marieta. (Coords.). Usos e abusos de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 93-101. Disponível em: http://www.fja.edu.br/proj_acad/praxis/praxis_02/documentos/ensaio_2.pdf acessado em 10/02/2011 as 07h04min. Relatório do Governo do Dr. Lauro Sodré. Impresso no Diário Oficial do Pará,

1897. Relatório do Governo do Dr. José Paes de Carvalho. Impresso no Diário Oficial do Pará, 1901. SIQUEIRA, José Leôncio Ferreira de – Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança) – Marques Editora; Bragança 2008. http://www.dicionarioinformal.com.br

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ANEXOS

ANEXO I - RELAÇÃO DOS DESCENDENTES ENTREVISTADOS

Dona Marita da Silva Souza, Do lar, 65 anos moradora da Colônia Tijoca

Filiação: João Paula da Silva e Luzia Fernandez da Silva

Dona Adalgiza Quadros Risuenho, Professora Aposentada, 73 anos,

Filiação: Henirique Risuenho Sanhes e Antonia Risuenho Quadros.

Avos paternos: Angelo Risuenho Grande e Eulalia Campos Sanches.

Avos maternos: Lourenço Antonio de Quadros e Felita Alonso Quadros.

Sr. Antonio Jorge Monteiro de Lima, Agricultor, 49 anos.

Filiação: Pedro Nolasco de Lima e Carmem Monteiro de Lima

Avos paternos: Antonio Manoel de Lima e Maria Luiza Paula de Lima

Avos maternos: José Maria Monteiro Areas e Maria Moreira Monteiro.

Dona Odete Risuenho Alves, Do lar, 64 anos, residente na Vila Tijóca.

Filiação: Manoel Risuenho Grande e Honorina Risuenho Alencar

Avos paternos: Angelo Risuenho Grande e Eulália Risuenho Sanches.

Avos maternos: Carlos Alberto Alencar e Maria do Carmo Fernandez Alencar.

Sr. Domingos Moreira Monteiro, Agricultor, 63 anos residente na Travessa Santo

Antonio.

Filiação: José Maria Monteiro Areas e Adelaide Moreira de Souza

Avos paternos: Manoel Monteiro Areas e Carmem Areas Veigas.

Avos maternos: Jose Moreira de Souza e Adelaide Moreira de Souza

Vanda Maria da Silva Lima, Professora, 45 anos, residente em Bragança.

Filiação: Francisco Paulo de Lima e Olgarina da Silva Risuenho.

Avos paternos: Antonio Manoel de Lima e Maria Luiza Paula de Lima.

Avos maternos: Antonio José da Silva e Encarnação Risuenho da Silva.

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72

Maria Vandithelma da Silva Lima, Professora, 48 anos, residente em Bragança.

Filiação: Francisco Paulo de Lima e Olgarina da Silva Risuenho.

Avos paternos: Antonio Manoel de Lima e Maria Luiza Paula de Lima.

Avos maternos: Antonio José da Silva e Encarnação Risuenho da Silva.

Dona Luzia Rodrigues de Lima, Agricultora, 48 anos, residente na Travessa

Urumajó.

Filiação: Pedro da Silva e Maria Emília da Silva

Avos paternos: Manoel Correa da Silva e Generosa Tameron da Silva.

Avos maternos: Manoel Domingos Matos e Joaquina da Silva Matos.

Dona Iraci Maria Peinado do Rosário, Comerciante, 73 anos, residente em

Bragança.

Filiação: João Antonio Castanho Peinado e Margarida Quadros Peinado.

Avos paternos: Izídia Castanho Peinado (não se recorda do nome do avô)

Avos maternos: Lourenço Antonio de Quadros e Felipa Alonso de Quadros.

Sr. Antonio Maria Monteiro de Lima, Agricultor, 51 anos, residente na Travessa

Urumajó

Filiação: Pedro Nolasco de Lima e Carmem Monteiro de Lima

Avos paternos: Antonio Manoel de Lima e Maria Luiza Paula de Lima

Avos maternos: José Maria Monteiro Areas e Maria Moreira Monteiro.

Sr. Abel Moreira Monteiro, Agricultor, 61 anos residente na Travessa Santo

Antonio.

Filiação: José Maria Monteiro Areas e Adelaide Moreira de Souza

Avos paternos: Manoel Monteiro Areas e Carmem Areas Veigas.

Avos maternos: Jose Moreira de Souza e Adelaide Moreira de Souza

Sr. Raimundo Moreira Monteiro, Agricultor, 65 anos residente na Travessa Santo

Antonio.

Filiação: José Maria Monteiro Areas e Adelaide Moreira de Souza

Avos paternos: Manoel Monteiro Areas e Carmem Areas Veigas.

Avos maternos: Jose Moreira de Souza e Adelaide Moreira de Souza

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ANEXO II - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Título da pesquisa: COLÔNIA AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT: Uma História

sobre a Imigração Espanhola no Pará (1892-1964).

ESCLARECIMENTO DA PESQUISA

A pesquisa citada é um estudo de TCC do tipo qualitativo e observacional

desenvolvido como pré-requisito do título de Graduação no Curso de Licenciatura

Plena em História das Faculdades Integradas Ipiranga e tem como finalidade buscar

informações sobre como se deu a imigração espanhola no Estado do Pará tendo

como foco a Colônia Agrícola Benjamin Constant no município de Bragança. Para se

incluir na pesquisa o sujeito deverá ter nascido na Colônia Agrícola Benjamin

Constant e ser descendente de espanhóis. A estimativa dos benefícios da pesquisa

é relevante para a comunidade do Município de Bragança - PA, e para a sociedade

como um todo, no sentido de tentar esclarecer como se deu essa imigração e como

foi à relação social entre imigrantes e moradores locais. O voluntário que colaborar

com este estudo participará de entrevistas acerca de como se deu essa imigração,

quais os motivos que levaram seus pais e avós a virem para o Brasil e como foi à

adaptação em um novo país com cultura e hábitos tão distintos, que ficarão

registradas de forma escrita e áudio-visual em uma câmera digital. Um registro

fotográfico será realizado no local de análise com fins científicos e com autorização

dos sujeitos moradores da Comunidade Benjamin Constant. Os dados serão

utilizados apenas para a finalidade da pesquisa e os resultados serão apresentados

na referida Faculdade e outros possíveis eventos científicos e/ou publicados. Na

transcrição do material será retirada toda e qualquer menção a nomes de pessoas

que possam levar a identificação salvo os mesmos venham a autorizar a divulgação.

O participando terá acesso à transcrição do material bem como ao resultado da

análise beneficiando-se deste resultado como fonte de reflexão de suas ações e das

ações de todos na Comunidade. Neste estudo não há possibilidade de danos a

dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser

humano, em qualquer fase desta pesquisa, bem como não há risco processo, visto

que se garante o total sigilo dos dados obtidos e o repasse a sociedade preservando

a fidedignidade desta pesquisa. As entrevistas e as observações serão realizadas de

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forma simples, apenas para relatar como se deu a vinda e a adaptação dos

imigrantes espanhóis na Comunidade Benjamin Constant. A pesquisa esclarece

ainda que os sujeitos tenham liberdade para participar ou para se retirar da pesquisa

a qualquer momento, sem nenhum pagamento financeiro e com esse ato não

sofrerá nenhuma penalidade e que poderá procurar os pesquisadores para tirar

dúvidas ou outros esclarecimentos sobre a pesquisa.

Os pesquisadores são os alunos Manoel de Lima Luz e Walcir Ortiz – orientados -

que podem ser encontradas na...............

Caso não sejam os pesquisadores, poderão ainda ser contatados

por......................................

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ANEXO III - CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Eu__________________________________________________ portador (a) da

Carteira de Identidade nº___________________expedida pelo Órgão_________,

por me considerar devidamente informado (a) e esclarecido (a) sobre o conteúdo

deste termo e da pesquisa a ser desenvolvida, livremente expresso meu

consentimento para inclusão.

Bragança - PA,____ de_________________ de 2011.

Assinatura do Voluntário

Assinatura do Responsável pelo Estudo.