CONHEÇA O PRIMEIRO LIVRO DA SOBES: “SOBES – A fundação e a regulamentação da Engenharia de Segurança no Brasil

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A FUNDAÇÃO DA SOBES E A REGULAMENTAÇÃO DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO BRASIL Uma visão histórica das origens da segurança do trabalho

Citation preview

  • 1. A FUNDAO DA SOBES E A REGULAMENTAODA ENGENHARIA DE SEGURANA NO BRASILUma viso histrica das origens da segurana do trabalho. VOLUME I .

2. Sociedade Brasileira de Engenharia de SeguranaDiretoria SOBES 2010/2012Marlise de Matosinhos Vasconcellos | PresidentaHarold Stoessel Sadalla | Vice-PresidenteMaria Christina Felix | 1 SecretriaSilvio Costa Santos | 2 SecretrioFernando Paulo Ribeiro Mostardeiro | TesoureiroConselho DiretorMembros EfetivosCarlos Soares QueirozGracio Paulo Pessoa SerraJos Francisco A. de Miranda RamalhoMaria Cristina Dias dos ReisMrio Hamilton VilelaSantelmo Xavier FMembros SuplentesAntnio Rodrigues JuniorGuilherme Emanuel Costa LauxJos Luiz de SouzaPaulo Roberto Sad da SilvaMauro Torres Ferreira GomesRicardo Alberto de JesusConselho ConsultivoAndr Lopes NettoCesar Vianna MoreiraJosevan Ursine FudoliReynaldo Rocha BarrosSrgio Costa DacorsoFICHA TCNICACoordenao do Projeto: Carmen Lucia Evangelho LopesOrganizao Documental e Pesquisa: Carmen Lucia Evangelho LopesTexto: Carmen Lucia Evangelho LopesReviso do texto: Aurea Donizete Alves dos SantosApoio Institucional: Daniela Bernardo de Figueiredo | Priscila Bernardo de Figueiredo | Selma Regina de MoraesCapa e Projeto Grfico: Mariana RodriguesFICHA CATALOGRFICAEvangelho Lopes, Carmen LuciaA Fundao da SOBES e a Regulamentao da Engenharia de Segurana no Brasil: uma visohistrica das origens da segurana do trabalho/ Carmen Lucia Evangelho Lopes - Rio de Janeiro,SOBES, 2012.177 pginas, 21x21cm1. SOBES Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurana Histria. 2. Histria.3. Tecnologia, cincias aplicadas. 4. Segurana do Trabalho.I. Carmen Lucia Evangelho LopesISBN 978-85-65536-00-4 3. A FUNDAO DA SOBES E A REGULAMENTAODA ENGENHARIA DE SEGURANA NO BRASILUma viso histrica das origens da segurana do trabalho. VOLUME I .Rio de Janeiro20121 EdioSOBESSociedade Brasileira de Engenharia de Segurana 4. Apresentao 9Captulo I | Como foi a Histria 17I.1. A Pr-Histria e a Antiguidade 19I.2. A Idade Mdia 27I.3. A Revoluo Industrial 37Captulo II | No Brasil 59II.1. Brasil Repblica 73II.2. A Revoluo de 30 89II.3. O Estado Novo 95II.4. O Fim da Guerra e a Constituio de 1946 107II.5. Os Profissionais da Segurana do Trabalho 127II.6. A Fundao da SOBES 135II.7. O Patrono da Engenharia de Segurana: Eng. AntonioCarlos Barbosa Teixeira161Bibliografia e Legislao 167ndice 5. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade8 6. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 9APRESENTAO Marlise de Matosinhos VasconcellosA preveno de acidentes no trabalho vem sendo negligenciada, ao longo dos sculos at os diasatuais. O primeiro captulo deste livro faz um resgate das condies de trabalho, nas diversas fasesda histria e da legislao trabalhista at o incio do sculo XIX. No primeiro captulo, verificamosque muitos dos ambientes de trabalho dos sculos passados so anlogos aos que algunstrabalhadores esto exercendo suas atividades, no momento atual. Ainda encontramos, no sculoXXI, trabalhadores explorados, exercendo suas atividades em condies subumanas, das formasmais degradantes possveis, como trabalho infantil e escravo, apesar dos avanos tecnolgicos.O crescente aumento nos acidentes, adoecimento e mortes no trabalho, no momento atual, nosremete aos anos 70, onde a forma de crescimento desordenado no Brasil trouxe, tambm, aumentodos acidentes, doenas e morte no trabalho, poca esta que a Sociedade Brasileira de Engenhariade Segurana - SOBES foi criada, em julho de 1971. No entanto, desde a dcada de 60, profissionaisinteressados na rea de segurana j se mobilizaram, e tendo frente o Eng Antnio Carlos BarbosaTeixeira, patrono da Engenharia de Segurana, no Brasil e na Amrica Latina.A SOBES, desde a sua fundao, participou da discusso da futura Portaria 3.227/72 do Ministriodo Trabalho, buscando, sempre, a melhoria das normas relativas Engenharia de Segurana.A Portaria 3.227 veio obedecer a Recomendao 112/1959 da OIT - Organizao Internacional doTrabalho, da qual o Brasil signatrio. Tornou-se, ento, obrigatria a existncia de Servios deSegurana e Medicina do Trabalho- SESMT nas empresas, de acordo com o nmero de empregadose o grau de risco em que se enquadram. Neste ano, faremos 40 anos da obrigatoriedade dosSESMT nas empresas.Cabe destacar que a SOBES participou ativamente na formulao da Portaria 3.214/78 do Ministriodo Trabalho e, posteriormente, a mais importante de todas as contribuies foi a de ter sido o berodo Projeto de Lei apresentado pelo Senador Saturnino Braga e do qual resultou a Lei 7.410/85,que foi regulamentada, em seguida, pelo Decreto n. 92.530, de 9 de abril de 1986, criandoa especializao da Engenharia de Segurana, no Sistema CONFEA/CREA. 7. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade10Com o patrocnio do CONFEA, tanto atravs do ex-presidente, Eng Civil Marco Tlio de Melo,quanto do atual presidente, Eng Civil Jos Tadeu da Silva, e do CDEN - Colgio de Presidente dasEntidades Regionais, atravs do coordenador, Eng Eletricista Ricardo do Nascimento, tornou-sevivel a publicao do livro A Fundao da Sobes e a Regulamentao da Engenharia no Brasil-Volume I, que contribuir para o fortalecimento da profisso e com a fiscalizao do exerccio daEngenharia de Segurana e, com certeza, auxiliar todos os profissionais da rea de Segurana doTrabalho, no desempenho de suas atribuies e na melhoria de condies de trabalho.Marlise de Matosinhos VasconcellosEng Civil e de Segurana do Trabalho.Presidenta da Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurana - SOBES 8. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 11APRESENTAO Jos Tadeu da SilvaComo a mais antiga entidade de profissionais da Engenharia de Segurana de nosso Pas, aSOBES teve papel destacado na formulao da Lei n 7.410, de 27/11/1985, que dispe sobrea especializao de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurana do Trabalho e a profissode Tcnico de Segurana do Trabalho.Vivemos um momento de notrio desenvolvimento, em que a engenharia cada vez mais seengrandece e, dentro deste contexto, devemos ter especial ateno para o aspecto da segurana,que deve ser prioritrio, visando proteo dos trabalhadores e da sociedade, que usufrui dasobras e produtos que a ela so ofertados e disponibilizados.Devemos intensificar esforos, no que tange fiscalizao do exerccio de nossa profisso, nosentido de que os trabalhos sejam desenvolvidos dentro das normas e especificaes exigidaspela engenharia e de que os responsveis pelos projetos e suas execues estejam devidamentehabilitados ao exerccio de suas funes e atividades.Hoje, ao editar esta importante obra, a SOBES novamente ratifica seu compromisso com a reatecnolgica brasileira, em busca de uma engenharia cada vez mais forte e respeitada por nossasociedade.Eng. Civil Jos Tadeu da SilvaPresidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA 9. APRESENTAO Marcos Tlio de MeloResgatar a histria das nossas entidades fundamental para o fortalecimento das nossasorganizaes. Por isso, em 2010, iniciamos o projeto de fortalecimento das 28 entidades integrantesdo Colgio de Entidades Nacionais (CDEN). Esse fortalecimento, sem dvida, passa pelo resgate damemria de cada uma delas!Para todos ns do Sistema Confea/Crea e Mtua, seja nos estados ou nacionalmente, terorganizaes atuantes, com participao nas discusses de interesse dos profissionais e dasociedade primordial para que cumpramos a nossa Misso: Atuar eficiente e eficazmente comoinstncia superior da verificao, da fiscalizao e do aperfeioamento do exerccio e das atividadesprofissionais, orientando seus esforos de agente pblico para a defesa da cidadania e a promoodo desenvolvimento sustentvel.A Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurana - SOBES, com suas lideranas que se mobilizamdesde a dcada de 60, continua o processo de construo de uma entidade forte e atuante e muitotem contribudo para a melhoria das condies de trabalho dos brasileiros. Uma articulao, emdefesa do bem-estar coletivo, que j rendeu grandes conquistas, como a regulamentao do exerccioprofissional do Engenheiro de Segurana, atravs da Lei n 7.410, de 27 de novembro de 1985.Essa conquista, resultado do trabalho de entidades fortes, com capilaridade e poder de articulao,confirma que devemos sempre aprimorar nossa legislao, fortalecer as nossas profisses,protegendo os trabalhadores e a sociedade brasileira.Outro exemplo importante para os profissionais do nosso Sistema a Resoluo n 1.010/2005, quepermitiu a aquisio de novas atribuies atravs dos cursos que os profissionais vo realizando.Para a Engenharia de Segurana do Trabalho, esta Resoluo relevante, pelo disciplinamentoespecifico da rea, que tem como principal caracterstica ser transversal a todas as modalidades,pela atribuio ocorrer em nvel de ps-graduao.Parabenizo a SOBES pelo livro A Fundao da SOBES e a Regulamentao da Engenhariade Segurana volume I. Uma publicao que vem fortalecer o papel das vrias instnciasorganizacionais do nosso Sistema.Marcos Tlio de MeloPresidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - ConfeaGesto 2006 - 2008 e 2009 - 2011 10. MEMRIA DA SOBESO termo memria nos remete a algumas anlises que merecem destaque.A palavra memria solta pode levar-nos a ter a ideia de pensamento e depois de esquecimento(o mal dos idosos).Podemos, ainda, analisar a memria RAM Random Access Memory, ou seja, memria de acessoaleatrio.A RAM a memria dos computadores. atravs dessa memria que podemos utilizaros programas multitarefas, fazer as nossas planilhas, digitar os textos, etc. Portanto, a memriaRAM de grande utilidade, mas tambm de muitos dissabores. Ao realizarmos as nossas tarefasna memria RAM, algumas vezes no as gravamos na memria permanente, que o winchester(HD - disco rgido), ento, tudo que digitamos ser perdido, pois RAM uma memria voltil (apagaquando desligamos).Ao assumirmos a coordenao do Colgio de Entidades Nacionais - CDEN, tivemos como plataformavalorizar as Entidades Nacionais e Regionais e essa valorizao passa tambm pelo resgate dahistria.A Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurana - SOBES, ao lanar o Livro: A Fundao daSobes e a Regulamentao da Engenharia de Segurana Volume I, com o apoio do CDEN,contribui com o nosso projeto, pois grava, no winchester, as aes, as histrias e os projetos, para queo Sistema CONFEA/CREA utilize os dados apresentados para valorizar as suas Entidades.Muito orgulho tero os seus dirigentes e associados, ao folhear este livro e ver que valeu a penarealizar um trabalho social como a Engenharia de Segurana Nacional, que tem o dever e a obrigaode preservar a vida.Parabns aos dirigentes da SOBES, pelo trabalho apresentado!Ricardo NascimentoCoordenador do Colgio de Entidades Nacionais - CDEN 11. Engenharia de Segurana o conjuntode conhecimentos tcnico-cientficos,dedicadospreservaodaintegridadefsica, da segurana e da sade dotrabalhador, realizando a prevenode acidentes, atravs da anlise dosriscos de trabalho e das operaes nelerealizadas. 12. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 17Captulo IComo foi a Histria 13. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade18 14. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 19possveladmitirqueahistriadaengenhariaeahistriadaprpriahumanidadecaminharam juntas, ao longo desses milhes de anos. A necessidade dealimentao e de abrigo levou o homo habilis a desenvolver as ferramentasnecessrias, para que pudesse lograr xito em seus objetivos. Inicialmente,eram pedaos de pedra, osso e madeira que se tornavam pontiagudos ecortantes. Era a sobrevivncia incentivando o desenvolvimento tecnolgico.Esse processo se desenvolveu e se acelerou a partir do homo sapiens, quefoi aprimorando suas habilidades para o desenvolvimento de instrumentos,ferramentas e tcnicas que pudessem lhe proporcionar um modo de vida maisconfortvel. impossvel compreender a evoluo histrica do homem semrelacionar as questes do trabalho que ocorreram durante o processo decivilizao da humanidade.O Perodo Pr-Histrico abrange toda a poca anterior a 4000 a. C., desdeo aparecimento dos primeiros seres humanos, como resultado da evoluodos homindeos, na Era Cenozica. No Perodo Neoltico, so encontradosos primeiros vestgios do que definimos hoje como trabalho, nas chamadascomunidades tribais, consideradas como a ltima etapa das sociedadessem classes, dotadas de formas primitivas de economia (caa, pesca, criao,procedimentos rudimentares de agricultura).O trabalho sempre foi uma atividade prpria do ser humano e suas primeirasformas(1) apareceram milnios antes do Perodo Neoltico, com formas deexecuo diferenciadas. Autores sustentam que h milhes de anos, no comeodo Pleistoceno, viveram os australopitecos, os primeiros e mais antigos tiposde homo faber conhecidos. Foram os desenhos encontrados em grutas dafrica Austral, associados aos mais antigos utenslios e s mais antigas formasde trabalho, que embasaram essa teoria. Esses autores argumentam que atransio da fase de animalidade para a de homem ocorreu no momento emque o australopiteco atritou duas pedras entre si, para romper uma delas e afez mais afiada e cortante.Cada perodo da histria da humanidade corresponde a uma forma de trabalho,resultado da maneira como os homens se organizam pra viver em sociedade(1) Nougler, J. (1974): in Menegasso, M.Ester:O Resgate Histrico da Evoluo do Trabalho,Ocupao e Emprego in O Declnio doEmprego e a Ascenso da Empregabilidade,tese de doutoramento, no Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo daUniversidade Federal de Santa Catarina(UFSC), 1998.I.1. A Pr-Histria e a AntiguidadeI.1. A Pr-Histria e a Antiguidade 15. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade20e produzir sua subsistncia. E, embora os acidentes sejam inerentes condiohumana, o tipo de risco que o ser humano enfrenta foi evoluindo no decorrerde sua existncia e da transformao das condies de trabalho.A descoberta do fogo, h cerca de 800 mil anos, deu um salto de qualidadeno desenvolvimento da capacidade humana de proteger-se do frio e vencera escurido. Se nos perguntarmos os riscos que o homem pr-histricoenfrentava, a primeira coisa que pensamos nos ataques animais e nasintempries da natureza.O fogo, a pedra (100000 a.C.), o cobre (8000 a.C.), a roda (4000 a.C.),a escrita (3500 a.C.), o bronze (3300 a.C.), o ferro (1500 a.C.) foramsendo introduzidos no cotidiano da sociedade humana, medida queo homo sapiens foi abandonando o hbito de viver em cavernase passou a construir seus abrigos, deixou de ser nmade e passou a se fixar naterra, desenvolvendo a agricultura e a pecuria. A primeira grande revoluoeconmica ocorreu com a descoberta da agricultura e a domesticao deanimais. Logo aps, vieram a aragem da terra e as primeiras colheitas decereais. 16. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 21Fundaes de umaresidncia desenterradaem Tell es-Sultan (Jeric)O processo de domesticao dos animais e o uso dos produtos agrcolase animais para a sobrevivncia fixaram o homem terra, permitindo que sedesenvolvessem agrupamentos humanos com construes em pedra e tijolos.Considera-se Tell es-Sultan(2), no Oriente Prximo, como a mais antiga delas.A fabricao de objetos metlicos, fase seguinte descoberta do fogo, quandoocorreu a introduo ao uso dos metais, permitiu mais rapidez e maior qualidadena caa, pesca e agricultura. H referncias da utilizao de objetos em cobreque datam de 8000 anos a.C. Podemos pensar nos acidentes decorrentes douso do fogo, da extrao e utilizao dos metais e da construo de refgios,para servir de abrigo, a que o homem estava exposto nessa poca da histria.Dois fatores contriburam para facilitar a transmisso dos conhecimentos aolongo da histria. O primeiro deles ocorreu com os sumrios (3) e os egpcios:o surgimento da escrita (3500 a.C.). E o segundo foi o paulatino envelhecimentodas geraes, que permitiu o repasse do conhecimento e das experinciasatravs da histria oral, possibilitando que o acervo cultural e tcnico passassede gerao para gerao.(2) Tell es-Sultan (Jeric) considerada umadas mais antigas cidades continuamentehabitadas do mundo, com evidncia deassentamentos datados de antes de 9000a.C. O primeiro assentamento permanentefoi construdo prximo a Ein as-Sultan, entre8000 e 7000 a.C., por um povo desconhecido.Eram alguns muros, um santurio e uma torrede sete metros de altura com uma escadariainterna. Aps alguns sculos, foi abandonadopara um segundo assentamento, estabelecidoem 6800 a.C, talvez pela invaso de um povoque absorveu os habitantes originais pela suacultura dominante. Artefatos datados desseperodo incluem dez crnios, engessados epintados como para reconstituir as feiturasindividuais. Este foi seguido por uma sucessode assentamentos, a partir de 4500 a.C., tendoo maior destes sido construdoem 2600 a.C.(3) A Sumria considerada a civilizaomais antiga da humanidade. Localizava-sena parte sul da Mesopotmia, em terrenosconhecidos por sua fertilidade, entre os riosTigre e Eufrates. Evidncias arqueolgicasmarcam a civilizao sumria em meados doquarto milnio a.C. Entre 3500 e 3000 a.C.,houve um florescimento cultural e a Sumriaexerceu influncia sobre as reas circunvizinhas.Depois de 2000 a.C., a Sumria entrou emdeclnio, sendo absorvida pela Babilnia e pelaAssria. So atribudas aos sumrios: a escritacuneiforme, que provavelmente antecedetodas as outras formas de escrita, tendo sidooriginalmente usada por volta de 3500 a.C.; ascidades-estado, sendo a cidade de Ur a maisconhecida delas, e a cerveja. 17. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade22Registros interessantes de como a sociedade da poca alertava para osacidentes de trabalho e suas consequncias so o Papiro Anastacius V (4) , queassinalou a necessidade da preservao da sade e da vida do trabalhador,incitando os pedreiros para a proteo durante a execuo de tarefas: Setrabalhares sem vestimenta, teus braos se gastam e tu te devoras a ti mesmo,pois no tens outro po que no teus dedos... (sic) (5) . O outro o Cdigode Hamurabi (6) , que estabeleceu punies para os eventos da vida cotidiana.Entre essas punies estavam: Se um arquiteto constri para algum e no ofaz solidamente e a casa que ele construiu cai e fere de morte o proprietrio,esse arquiteto dever ser morto (Seo 229) e Se uma casa mal construdacausa a morte de um filho do dono da casa, ento o filho do construtor sercondenado morte (Seo 230). O terceiro data de 2360 a.c., e foi encontradonum papiro egpcio, o Papiro Seller II, que diz: Eu jamais vi ferreiros emembaixadas e fundidores em misses. O que vejo sempre o operrio emseu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. O pedreiro, expostoa todos os ventos, enquanto a doena o espreita, constri sem agasalho; seusdois braos se gastam no trabalho; seus alimentos vivem misturados com osdetritos; ele se come a si mesmo, porque s tem como po os seus dedos. Obarbeiro cansa os seus braos para encher o ventre. O tecelo vive encolhido- joelho ao estmago - ele no respira. As lavadeiras sobre as bordas do rio,so vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha de peixe, seus olhos soabatidos de fadiga, suas mos no param e suas vestes vivem em desalinho (7).Essas so as referncias mais antigas encontradas at agora.(4) Documento egpcio de cerca de 2550 A.C.(5) Enciclopdia Mirador Internacional Ed. EmSo Paulo - 1975.(6) O Cdigo de Hamurabi um conjunto de281 leis criadas pelo rei sumrio Hamurabi, naMesopotmia, por volta de 1789 A.C., baseadona lei de talio, olho por olho, dente pordente. Talhado numa rocha de diorito de corescura com escrita em caracteres cuneiformes,o monlito do Cdigo de Hamurabi, medindo2,25 m de altura, 1,50 m de circunferncia naparte superior e 1,90 na base, foi encontradono ano de 1901, na regio do atual Ir.Hamurabi foi o rei que uniu semitas e sumriose levou a Babilnia ao seu esplendor.(7) Citado em Alberton, Anete: UmaMetodologia para Auxiliar no Gerenciamentode Riscos e na Seleo de Alternativas deInvestimentos em Segurana, dissertao demestrado, Programa de Ps Graduao deEngenharia de Produo, Universidade Federalde Santa Catarina, 1996.(8) Hipcrates (Cs 460 a.C. Tesslia, 377a.C.) era um asclepade, isto , membro de umafamlia que durante vrias geraes praticara oscuidados em sade.(9) Estanhose: intoxicao pelo estanho,afeco rara produzida pelo contato com op do estanho ou pela inalao de vaporesde estanho.Cdigo de Hamurabi in:blog.travelpod.com 18. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 23(10) Plato (Atenas, 428/427 a.C Atenas,348/347 a.C.), filsofo e matemtico doperodo clssico da Grcia Antiga, fundadorda Academia, primeira instituio de educaosuperior do mundo ocidental.(11) Aristteles, (Macednia 384 Atenas322 a.C), filsofo grego, aluno de Plato econsiderado um dos fundadores da filosofiaocidental.(12) Plnio, o Velho, Caio Plnio Segundo(Como, 23 - Stabia, 79), naturalista romano,faleceu ao tentar observar, como estudioso, aerupo do vulco Vesvio, em 79, e tentandosalvar os habitantes de Stabia.(13) Naturalis Historia, um vasto compndiodas cincias antigas, distribudo em trinta esete volumes, dedicado a Tito Flvio, futuroimperador de Roma, veio a publico no ano77 d.C.(14) Cludio Galeno ou lio Galeno, em latimClaudius Galenus e grego (Prgamo, 129 d.C -provavelmente Siclia, 217 d.C), mais conhecidocomo Galeno de Prgamo. Seus relatos deanatomia mdica eram baseados em macacos,pois a disseco humana no era permitida, tambm um precursor da prtica da Vivissecoe experimentao com animais e o primeiroque conduziu pesquisas fisiolgicas. Saturnoem alquimia significa chumbo.(15) Conhecido no Ocidente como Avicena,Ibn Sina, Abu Ali al-Hussein ibn Abd-Allah ibnSina, (Bucara, 980 Hamad, 1037), filsofo emdico persa da Idade Mdia, era um polmata,com contribuies na astronomia, qumica,geologia, lgica, paleontologia.(16) Saturnismo: intoxicao por chumbo.Na Antiguidade greco-romana, o trabalho j era visto como geradore modificador das condies de viver, adoecer e morrer dos homens. Na GrciaAntiga, o mdico Hipcrates (8), considerado o Pai da Medicina, revelou aorigem das doenas profissionais que acometiam aqueles que trabalhavam nasminas de estanho (9) e aconselhou o banho aps as atividades, como maneirade minimizar os problemas.Algumas escavaes arqueolgicas localizaram fsseis de esqueletos humanosem galerias de minas com dimenses muito reduzidas: 1m de altura por 0,80mde largura e o filsofo e matemtico grego Plato (10) chegou a expor ideiassobre a deformao dos esqueletos humanos, provocadas pelo exerccio dedeterminadas profisses.O filsofo Aristteles (11) estudou o atendimento e a preveno das enfermidadesdos trabalhadores nos ambientes das minas.Caio Plnio Segundo (12), naturalista romano, conhecido tambm como Plnio,o Velho, escreveu um vasto compndio das cincias antigas, chamado NaturalisHistoria (13), onde relatou todo o conhecimento cientfico existente ato inicio do cristianismo. A sua obra considerada a primeira referncia sobresegurana do trabalho, pois ele, tendo visitado galerias de minas, descreveuo aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, mercrio, cobre, zincoe poeiras, mencionando que os escravos, por livre iniciativa, usavam no rostopanos ou membranas de bexiga de carneiro, como se fossem mscaras, como objetivo de diminuir a ao das poeiras minerais.Cludio Galeno (14), mdico e filsofo romano de origem grega, e o filsofoe mdico persa, Avicena(15) , em seus estudos, alertaram sobre o saturnismo (16),proveniente do trabalho de pinturas com tintas base de chumbo.Os trabalhos de Hipcrates, Plato, Plnio, Galeno, Avicena, entre outros,apontavam para a importncia do ambiente, da sazonalidade, do tipode trabalho e da posio social como fatores determinantes na produo dedoenas. 19. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade24Hipcrates mdico grego (460 a. C 377 a. C.) AristtelesPlato Galeno 20. Captulo I | 1. A Pr-Histria e a Antiguidade 25Plnio, o Velho Avicena 21. Captulo I | 2. A Idade Mdia 27A Idade Mdia (17) um perodo de fortes transformaes, em relao spocas anteriores, notadamente no que se refere ao predomnio da vida rural.O modo de produo feudal sucedeu ao modo de produo escravagista daAntiguidade. Os servos passaram a ser os trabalhadores tpicos desse perodo.No detinham a posse da terra, estabeleciam uma relao servil de trabalho,recebiam um pedao de terra (gleba), que arrendavam e onde produziam parasi e para os senhores do feudo.No incio do feudalismo, as relaes econmicas eram simples, praticamentede troca. A aldeia era autossuficiente. Os servos e suas famlias cultivavam seusalimentos, fabricavam com as prprias mos tudo o que lhes era necessrio sobrevivncia. Os servos mais habilidosos eram chamados casa do senhor,para fabricarem os objetos necessrios. No havia incentivo produo deexcedentes. A troca era feita pela necessidade de consumo de um determinadoproduto, no mercado semanal que acontecia, geralmente, ao redor dosmosteiros e castelo. Os mercadores estavam sob o controle do senhor feudal oudo bispo. Esses tambm trocavam suas mercadorias produzidas por seus servose artesos. Dentro dessa realidade, os acidentes e as doenas profissionaiseram ainda muito similares aos dos sculos anteriores.A partir do sculo X, registrou-se um significativo aumento da populaoque, com o movimento religioso das Cruzadas, contribuiu para incentivara prtica do comrcio. As dezenas de milhares de europeus, que atravessaramo continente para conquistar a Terra Prometida, foram acompanhadas pormercadores, com o objetivo de fornecer as provises necessrias para a viagem.No regresso, os cruzados procuravam pelas mercadorias que conheceram naviagem, criando novos hbitos de consumo e exigindo novos produtos.I.2. A Idade MdiaI.2. A Idade Mdia(17) A Idade Mdia um perodo da histriada humanidade que comea em torno doSec.V e que tem como modo de produopredominante o feudalismo. 22. Captulo I | 2. A Idade Mdia28 23. Captulo I | 2. A Idade Mdia 29Nos sculos XI e XII, ocorreu a chamada revoluo tcnica, que se estendeuat o sculo XV. A humanidade passou do reino da ferramenta para o reino damquina, e gradativamente ocorreu uma evoluo tecnolgica do trabalho,onde o homem foi sendo substitudo pela mquina . Sem dvida, foi osurgimento e aprimoramento das mquinas, nos sculos XI e XII, queproporcionaramarevoluotcnica:aexpansodomoinho,oaperfeioamentodo torno, o aparecimento da roda dgua e das prensas e parafusos, isto , todoo automatismo mecnico que se desenvolveu gradualmente, permitindosubstituir o homem pela mquina.A nova relao do homem com a instrumentao lanou razes durantea revoluo industrial, tal como, por sua vez, o capitalismo, no sculo XVI,reclamou novas fontes de energia. A mquina a vapor mais um efeito destasede de energia do que uma causa da revoluo industrial (18).Paulatinamente, a populao das cidades que surgiam comeou a percebere questionar os costumes feudais. A atividade comercial precisava superaras barreiras da sociedade feudal para se desenvolver e crescer. E, como desenvolvimento do comrcio e das cidades, paralelamente, novoshbitos e costumes iam se proliferando, resultado da forma como oscomerciantes organizavam seu trabalho. Um exemplo relevante dessaorganizao, para superar as limitaes feudais e proporcionar a expansocontinua do comrcio, foram as corporaes ou ligas, criadas como objetivo de controlar os mercados.A nova relao do homem com a instrumentao lanourazes durante a revoluo industrial, tal como, por sua vez,o capitalismo, no sculo XVI, reclamou novas fontes deenergia. A mquina a vapor mais um efeito desta sedede energia do que uma causa da revoluo industrial.(18) Gilles, 1981 in http://www.eps.ufsc.br/teses98/ester/cap2.html 24. Captulo I | 2. A Idade Mdia30As dificuldades existentes no processo de troca simples, que restringiama circulao das mercadorias a pequenos espaos geogrficos, acabaramsendo superadas pelo processo de transao dupla, com a incluso da moedapara agilizar a troca de mercadorias.O progresso das cidades e o incremento da circulao e do uso do dinheiroincentivaram os artesos a abandonar o trabalho servil na agricultura parapassar a viver de suas habilidades e do seu ofcio. No se tratava mais desatisfazer apenas suas necessidades, mas de atender a crescente demanda.A partir desse momento, estabeleceu-se a relao entre trabalho e comrcio,estreitamente ligada ao excedente de produo.Por outro lado, o aumento do fluxo comercial permitiu aglutinar produtos eprodutores em locais onde as cidades haviam crescido. As feiras peridicas naInglaterra, Frana, Blgica, Alemanha e Itlia foram o primeiro passo na direode um comrcio estvel e permanente. As feiras, ao contrrio dos pequenosmercados do incio da Idade Mdia, eram centros distribuidores, onde osgrandes mercadores e artesos locais compravam e vendiam as mercadoriasestrangeiras, procedentes do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul (19).(19) Huberman, Leo: A Histria da Riqueza doHomem, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1974. 25. Captulo I | 2. A Idade Mdia 31Aos poucos, os artesos foram organizando o trabalho urbano: eram sapateiros,ferreiros, ourives, padeiros, teceles, etc. E passaram, tambm, a se organizarem corporaes de ofcios ou guildas, associaes profissionais de defesamtua, destinadas a proteger seus interesses e lutar contra a aristocracia,preservando o monoplio do mercado de trabalho de cada ofcio. Alm deproteger o mercado de trabalho, as corporaes se destinavam a garantira ajuda mtua a seus membros, em caso de doenas, acidentes, invalidezou morte.(20) Havia dois tipos de ajudantes: o aprendize o jornaleiro. O aprendiz era o que vivia etrabalhava com o arteso principal, duranteo processo de aprendizagem, que podialevar de 2 a 7 anos. Os jornaleiros eramos aprendizes que no haviam passadono exame final do processo de aprendizageme continuavam a trabalhar em troca deum salrio.Embora a unidade produtora tpica do final da Idade Mdia fosse apequena oficina, tendo um mestre como empregador em pequena escala,trabalhando lado a lado com seus ajudantes (20), havia algumas atividades querecorriam diviso tcnica do trabalho. A forjaria era uma delas e dividia oprocesso produtivo em vrias etapas, realizadas por trabalhadores distintose especializados. A Idade Mdia enfatizou o papel da mquina no processoprodutivo, ao mesmo tempo em que valorizou a habilidade tcnica. Isso criouas condies necessrias para o florescimento da cincia e da tcnica noperodo seguinte, o Renascimento.GuildaArtesanato 26. Captulo I | 2. A Idade Mdia32A descoberta e o uso de novas fontes de energia e tcnicas de fabricaomodificaram o trabalho na Idade Mdia. Assim, a cincia, a tecnologia e aindstria, que davam os primeiros passos, tinham ainda um papel atrelado agricultura. A partir do Sculo XVI, com um forte desenvolvimento da cinciae da tcnica e as manufaturas se espalharam, aparecendo novos ofcios,trazendo fortes alteraes na vida cotidiana e constituindo novos modos deorganizao do trabalho. Entre os sculos XVI e XVIII, h um declnio dosartesos independentes tpicos da Idade Mdia e, em seu lugar, surgiramos assalariados, cada vez mais dependentes do capitalista mercador intermedirio - empreendedor (21).Os artesos da Idade Mdia, no Sculo XV, j realizavam tarefas, reunidos sobum mesmo teto, para trabalharem para o comerciante que trazia especiariasdo Oriente para a Europa Ocidental e controlava os burgos. Assim, pode-seafirmar que a cooperao simples com o capitalismo foi a primeira relao dotrabalho.O advento da manufatura, no Sculo XVII, impulsionou a adoo da divisodo trabalho em vrios ofcios. A unidade tcnica de produo era a mesmaproveniente da cooperao simples: vrios artesos reunidos sob o mesmoteto e, era ainda o arteso que dominava o processo de confeco.Essa nova maneira de organizar o trabalho provocou novos problemas desade nos trabalhadores, fomentando estudos que vieram a embasar o quehoje chamamos de medicina do trabalho e que serviu de parmetro parafuturos estudos sobre segurana e higiene do trabalho.A Europa vivenciou, durante o perodo do Renascimento (sculos XVe XVI), vrios avanos no campo tcnico-cientfico. Foi o momento em queCoprnico (22) chegou Teoria Heliocntrica; Leonardo da Vinci (23) criou vriosprojetos que s se tornaram possveis mais tarde com o desenvolvimentotecnolgico; Kepler (24) demonstrou que os astros se movimentam em elipseno espao; Galileu (25), com suas observaes do espao celeste, ratificou atese heliocntrica de Coprnico e, Newton (26) trouxe a teoria da gravitaouniversal.(21) Huberman, Leo;apud.(22) Nicolau Coprnico (1473 1543),astrnomo e matemtico polaco, desenvolveua teoria heliocntrica do Sistema Solar,contrariando a ento vigente teoriageocntrica (que tratava a Terra como ocentro), considerada como uma das maisimportantes hipteses cientficas de todos ostempos, tendo constitudo o ponto de partidada astronomia moderna.(23) Leonardo di Ser Piero da Vinci, Leonardoda Vinci, ( 1452 - 1519), polmata italiano,foi uma das figuras mais importantes do AltoRenascimento, se destacou como cientista,matemtico, engenheiro, inventor, anatomista,pintor, escultor, arquiteto, botnico, poetae msico. ainda conhecido como oprecursor da aviao e da balstica. Leonardofrequentemente foi descrito como o arqutipodo homem do Renascimento, algum cujacuriosidade insacivel era igualada apenas pelasua capacidade de inveno.(24) Johannes Kepler (1571 1630), astrnomoe matemtico alemo, formulou as trs leisfundamentais da mecnica celeste, conhecidascomo Leis de Kepler: Astronomia Nova,Harmonices Mundi e Eptome da Astronomiade Coprnico, que forneceram uma das basespara a teoria da gravitao universal de IsaacNewton.(25) Sir Isaac Newton (Woolsthorpe-by-Colsterworth, 4 de janeiro de 1643 Londres,31 de maro de 1727), cientista ingls, fsico,matemtico, astrnomo, alquimista, filsofonatural e telogo. Sua obra, PhilosophiaeNaturalis Principia Mathematica (1687),descreve a lei da gravitao universal e astrs leis de Newton, que fundamentaram amecnica clssica. 27. Captulo I | 2. A Idade Mdia 33Em 1556, Georgius Agricola(27), escreveu De Re Metallica, onde fezreferncias s doenas pulmonares nos mineiros, com uma descrio desintomas que hoje atribumos silicose, e que Agrcola denominou asma dosmineiros. Em 1567, Paracelso (28) , tambm descreveu doenas de mineiros daregio da Bomia e a intoxicao pelo mercrio.(26) Galileu Galilei, em italiano: GalileoGalilei (Pisa, 1564 - Florena, 1642), fsico,matemtico, astrnomo e filsofo italiano.Desenvolveu a lei dos corpos, enunciou oprincpio da inrcia e o conceito de referencialinercial, ideias precursoras da mecnicanewtoniana. considerado opai da cincia moderna.Leonardo da VinciGalileu GalileiUsina de slfur (De Re Metallica) 28. Captulo I | 2. A Idade Mdia34Georgius Agricola ParacelsoRamazzini Morbis Artificum 29. Captulo I | 2. A Idade Mdia 35O trabalho De Morbis Artificum Diatriba (Doenas do Trabalho) do mdicoitaliano Bernardino Ramazzini (29), escrito em 1700 e que relacionou os riscos eos danos sade ocasionados por produtos qumicos, poeira, metais e outrosagentes encontrados em 52 ocupaes, estabeleceu as bases para a definiodas doenas ocupacionais. Foi o primeiro a estudar profundadamente asdoenas profissionais, descrevendo os riscos especficos de cada uma delas.Realizou valiosas pesquisas sobre os danos sade do trabalhador, causadospela falta de ventilao e desconforto trmico. Alertou sobre a importncia daspausas e dos exerccios e postura correta para preveno de fadiga. Defendeu,tambm, a realizao do ensino de Medicina do Trabalho no prprio ambientedo trabalhador.Ramazzini associou o estado de sade de uma determinada populao comas condies de vida decorrentes da situao social em que se encontravaessa populao. A partir de seu enfoque, o ambiente de trabalho comeoua ser estudado, a fim de permitir modificaes que objetivavam proteger aintegridade fsica do trabalhador, abrindo as condies para a construo dabase da engenharia de segurana do trabalho. O mdico italiano inseriu umaimportante pergunta nos exames mdicos: Qual a sua ocupao?(27) Georgius Agricola ou Georg Bauer (1494-1555), gelogo, alquimista e metalurgistaalemo, dedicou-se ao estudo dos mineraise das doenas adquiridas pelos mineradores.Sua principal obra, considerada o primeirotratado de mineralogia, foi De Re Metallica(1555), publicada quatro meses aps suamorte, na Basilia.(28) Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastusvon Hohenheim, Paracelso (1493 - 1541),mdico, alquimista, fsico e astrlogo suo.(29) Bernardino Ramazzini, (1633 - 1714),mdico da regio da Modena (Itlia), foio precursor da Medicina do Trabalho. 30. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial36 31. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 37No sculo XVI, j havia na Europa alguma familiaridade com as mquinas e coma arte de constru-las. No entanto, apenas no final do sculo XVIII, quandoa Revoluo Industrial se consolidou na maioria dos pases, que as mudanaseconmicas permitiram as transformaes sociais e polticas. E a Europa haviase preparado para receber as novas tecnologias que permitiriam a RevoluoIndustrial, no sculo XVIII.Em 1779, foi registrado, nos Anais da Academia de Medicina da Frana, umtrabalho sobre as causas e preveno de acidentes. No mesmo ano, em Milo,Pietro Verri fundou a primeira sociedade filantrpica, visando o bem-estar dotrabalhador (30).Charles Thackrah (31), mdico de Leeds, publicou a primeira obra original, emingls, sobre as doenas relacionadas com o trabalho, em 1830. Seu livro, TheEffects of the Principal Arts, Trades and Professions, and of Civic States andHabits of Living, on Health and Longevity with Suggestions for the Removalof Many of The Agents which Produce Disease and Shorten the Duration ofLife (Os Efeitos das Principais Artes, Ofcios e Profisses, bem como doEstado Civil e dos Hbitos de Vida, na Sade e Longevidade, com Sugestespara a Eliminao de Muitas das Causas que Produzem Doena e Reduzema Esperana de Vida) continha importantes observaes clnicas, propostas demelhoria do ambiente laboral e fore dele promovendo estilos de vida maissaudveis.(30) In http://www.fundec.edu.br/cipa/seguranca_trabalho.php.(31) Charles Turner Thackrah (Leeds 1795 -1833), mdico ingls, muito contribuiu paradefinir a idade mnima do trabalho no FactoryAct de 1833.I.3. A Revoluo IndustrialI.3. A Revoluo Industrial 32. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial38 importante relembrar que todo o desenvolvimento tcnico-cientficosempre est relacionado com outros aspectos da histria da humanidade.O desenvolvimento de novas tecnologias que permitiram a RevoluoIndustrial foi acompanhado das rpidas e importantes transformaes polticase econmicas na Europa. A Declarao de Independncia dos EUA (1776) ea Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado (Revoluo Francesa-1789)tiveram enorme influncia na mentalidade e no comportamento dos homensdaquela poca.Em toda a Europa, principalmente na Alemanha, Frana e Inglaterra, passoua existir a preocupao com a crescente urbanizao, com as questes dealimentao para a populao em expanso e com as grandes epidemias queexigiam saneamento. Naquele momento, a Inglaterra ainda vivia um modelofeudal da Idade Mdia, mas j com um significativo movimento populacionalem direo s cidades iniciando um processo de inovao tecnolgica, cujaaplicao iria mudar as relaes sociais de produo at ento existentes.A introduo das mquinas para substituir o esforo humano e a trao animal;a substituio de fontes animadas de energia por fontes inanimadas, emespecial a converso do calor em trabalho; a substituio de substnciasvegetais ou animais por substncias minerais muito mais abundantes (carvo,ferro e hulha) caracterizam as inovaes tecnolgicas ocorridas.A introduo da roda dgua, como principal fonte geradora de energiaprimria para a automao de um processo de produo, viria abolir o trabalhoartesanal, herana da primeira revoluo industrial, onde o detinha todo oprocesso da manufatura.A Revoluo Industrial foi uma das maiores transformaes da histria humanae provocou grandes mudanas: o sistema produtivo se organizou para produzirexcedentes e oferec-los sociedade; a mquina-ferramenta substituiuo trabalho manual; a fbrica substituiu a manufatura; a atividade industrialsubstituiu a atividade agrcola como centro da vida econmica; o capital foiempregado para formar grandes empresas industriais; o trabalho assalariadopassou a predominar; surgiram novos ofcios e profisses. E a mentalidadedas pessoas, a cultura, a maneira de se viver em sociedade, enfim, todaa organizao scio-econmica se transformou.A combinao de princpios mecnicos bsicos (alavancas, catracas, polias,engrenagens e roldanas), com a introduo de novos equipamentos e processosprodutivos, resultou em incrementos na produo. Ocorreu a introduoCharles Turner Thackrah 33. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 39da mquina, da diviso do trabalho e da economia de tempo. A principalmola propulsora das inovaes foi a acelerao do processo produtivo paraeconomizar tempo. E a substituio dos teares manuais por mecnicos permitiuo declnio dos preos.A organizao industrial, que pouco a pouco superar o sistema familiarcooperativo, assumiu as caractersticas do sistema domstico(32), consideradoo primeiro momento da acumulao capitalista. Na produo domstica, oarteso e seus ajudantes produziam em casa, detinham o conhecimento decomo produzir, eram na maioria das vezes proprietrios das mquinas, recebiama matria-prima para trabalhar e no se apropriavam do excedente produzido,entregando ao negociante ou ao intermedirio o fruto de seu trabalho.A mquina a vapor foi o divisor de guas entre a manufatura e a maquinofatura.As primeiras mquinas a vapor (33) foram construdas na Inglaterra, duranteo sculo XVIII. Ao retirar a gua acumulada nas minas de ferro e de carvoe aproveit-la na fabricao de tecidos, a mquina a vapor provocou umsignificativo incremento na produo de mercadorias, proporcionandoconsidervel aumento nos lucros dos donos das fbricas.(32) Entre os sculos XVI a XVIII.(33) James Watt, (Esccia,1736 - Inglaterra,1819), matemtico e engenheiro escocs,construtor de instrumentos cientficos,destacou-se pelos melhoramentos queintroduziu no motor a vapor, que seconstituram num passo fundamental paraa Revoluo Industrial. 34. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial40A sociedade foi profundamente afetada por um forte xodo rural, pormudanas demogrficas com grande crescimento populacional e inchao dascidades, ocorrendo a transformao da fora de trabalho agrcola em fora detrabalho industrial.Adaptar uma sociedade agrria para a produo industrial foi um processodifcil e, na sociedade rural da poca, significou romper o tecido tradicional queservia de pano de fundo para a organizao social. O trabalho precisou deixarde ser domstico para ser industrial; os velhos armazns, os antigos galpese estbulos foram transformados em fbricas com um grande nmero demquinas de fiao e tecelagem; no existia horrio de trabalho e as jornadaseram longas; a escassez de mo de obra levava a utilizao do trabalho demulheres e de menores, normalmente egressos de orfanatos e que recebiammenores salrios; o volume de acidentes de trabalho era grande, decorrnciado funcionamento das mquinas sem proteo, improvisadas para atender forte demanda industrial, de uma organizao precria do processo produtivoe da pouca qualificao dos trabalhadores empregados.As sucessivas leis de assistncia aos pobres reduziam os salrios, em muitoscasos, abaixo do nvel de subsistncia, limitavam demasiadamente a mobilidadedos trabalhadores e a crise agrcola impunha a fome nas cidades.Na vida poltica, ocorreu a queda do Estado Absolutista; a disputa entrepases europeus pelo domnio das colnias na frica e na sia, com o objetivode obter matrias-primas para a indstria e consumidores para os produtosmanufaturados; comearam a aparecer ideias polticas, sociais e econmicas,tentando explicar a nova situao e solucionar os novos problemas. O ritmodas mudanas sociais e econmicas acelerou-se visvel e rapidamente.O surgimento da grande indstria na Inglaterra, nas ltimas trs dcadas doSculo XVIII, exigiu uma jornada de trabalho que excedia os limites do dianatural de 12 horas, sendo comum a jornada diria de 14 ou mais horas,durante 6 dias por semana. Isso significava um retrocesso em relao jornadados antigos arteses e a regulamentao determinada pelas corporaesde ofcios. Na Frana, durante o Antigo Regime, as leis da Igreja garantiamao trabalhador 90 dias de descanso, por ano (52 domingos e 38 feriados)durante os quais era estritamente proibido trabalhar (34) . 35. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 41At aquele momento, as manufaturas se estabeleciam junto s fontes degua, espalhadas por montes e colinas, ou junto s margens dos rios (35) eabsorviam abundante mo de obra infantil, que era recrutada majoritariamentenas workhouses (36).A grande aplicao da mquina a vapor e do tear mecnico permitiu que aindstria, em especial, a tecelagem, se instalasse nas proximidades dos centrosmais povoados, facilitando absorver a mo de obra infantil das free children,assim chamadas por oposio s pauper children, que viviam nas imediaesdas fbricas, em bairros mais populares, e que passaram a ser duplamenteexploradas, pelos pais e pelos empregadores.Esse quadro trouxe grandes dificuldades para a populao inglesa.As fbricas eram ambientes fechados, na maior parte adaptados do meiorural, sem ventilao, com pouca iluminao, muitas vezes quase confinados,(34) Lafargue, Paul: O Direito a Preguia, SoPaulo, Editora Kairs, 1977.(35) Da a designao de mills ou moinhos.(36) Tambm conhecidas como pauperchildren, local onde as crianas pobres iamviver e trabalhar, comum na histria inglesa,desde 1631. 36. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial42proporcionando pssimos ambientes de trabalho que, aliados as precriascondies fsicas dos trabalhadores, decorrentes da m alimentao, da falta deorientaes bsicas de higiene para viver nas cidades e a agresso de diversosagentes, oriundos do processo e/ou ambiente de trabalho, provocavam novasdoenas e epidemias. O tifo se proliferou nas cidades inglesas industriais e erachamado de febre das fbricas.Essa realidade levantou a preocupao governamental com a situao dasepidemias que assolavam a fora de trabalho e que provocavam perdas 37. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 43econmicas, resultando na interveno dos governos na regulamentao darealidade fabril. Em 1802, o Parlamento Britnico aprovou a primeira lei deproteo dos trabalhadores(37): a Lei de Sade e Moral dos Aprendizes,estabelecendo o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibindo o trabalhonoturno, obrigando empregadores a lavar as paredes das fbricas duas vezespor ano e tornando obrigatria a ventilao do ambiente produtivo e dosdormitrios. Foi a primeira medida legal, depois do advento da indstria, demelhoria das condies de trabalho que se tem notcia.A interveno do poder legislativo da Gr-Bretanha na realidade fabril e,em particular, no que afetava a proteo social dos trabalhadores (incluindoa segurana, higiene e sade no trabalho, abreviadamente, SH&ST), foiresultado, sobretudo, da influncia de reformadores sociais, empregadoresfilantrpicos, mdicos humanistas, escritores e polticos liberais, segmentosda opinio pblica mais esclarecidos e socialmente influentes, preocupadoscom as condies de trabalho, em especial das mulheres e das crianas nasmills (38) do nordeste da Inglaterra e nas minas de carvo dos Pas de Gales echocados com os eventuais riscos de epidemia e de propagao de doenasque a proximidade das fbricas e dos alojamentos operrios poderiam trazers comunidades locais.A Lei de 1802 pouco afetou os empregadores, proprietrios de terras(landlords), minas ou mills, pois ela se referia apenas aos aprendizes (39), doseu mbito ficavam de fora as chamadas free children. No entanto, ela traziaembutida, a figura do inspetor do trabalho, prevendo a criao de um sistemalocal de inspeo voluntria das fbricas e oficinas, integrado por magistradose clrigos (the visitors).Embora esse sistema nunca tenha verdadeiramente funcionado, por falta deinstrumentos que viabilizassem sua aplicao efetiva, foi a primeira tentativa deinterveno do Estado no domnio da proteo dos trabalhadores, quebrandoo tabu do laissez faire, laissez passer e questionando o mito do livre contratode trabalho, num perodo em que era negado aos trabalhadores assalariados odireito de associao (40).Cresciam as reclamaes contra as mquinas que poupavam trabalho, quandoum grupo indignado com as pssimas condies de trabalho e, acreditandoque as mquinas eram as responsveis pelas precrias condies de vida dos(37) Nesse caso, a lei se referia aostrabalhadores aprendizes e no ao conjuntodos trabalhadores que continuaram semregulamentao.(38) Estabelecimentos fabris da indstria txtilalgodoeira com as primeiras mquinas movidas energia hidrulica.(39) Herana do sistema das corporaesde ofcios medievais, abolido pela RevoluoFrancesa, mas ainda em vigor na Gr-Bretanha.(40) Combinations Acts, 1780, 1799, 1825. 38. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial44trabalhadores, liderados por Ned Ludd, em 1811, adotou uma maneira maisradical de protesto: invadiram as fbricas e destruram as mquinas (41).Trs dcadas depois, em 1833, o Parlamento Britnico aprovou o FactoryAct, considerado a primeira legislao realmente eficiente no campo daproteo ao trabalhador: proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos,restringindo a jornada destes a, no mximo, 12 horas dirias e a 69 horassemanais; determinava que as fbricas mantivessem escolas para menores de13 anos; estipulava a idade mnima para o trabalho em 9 anos e um mdicodeveria atestar que o desenvolvimento mental e fsico da criana correspondia sua idade cronolgica.Entre 1802 e 1833, o Parlamento ingls promulgou nada menos do que cincoLudismoNed Ludd(41) Esse grupo ficou conhecido comoludistas. Os manifestantes sofreram umaviolenta represso, foram condenados priso, deportao e at forca. Os luditasficaram lembrados como os quebradores demquinas. 39. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 45leis sobre o trabalho fabril, que no foram respeitadas. O Factory Act of 1819 foiuma tmida tentativa de regulamentar o trabalho infantil, estipulando a idademnima de admisso ao trabalho teoricamente em 9 anos e determinandoque a jornada de trabalho de crianas e adolescentes, entre 9 e 16 anos, nopoderia exceder as 9 horas dirias, com meia hora de intervalo para umarefeio. Essa Lei s era aplicvel ao setor algodoeiro (42).Alm das mquinas existentes serem bastante rudimentares, perigosas e fceisde provocar acidentes, deve-se considerar ainda a inexistncia de uma legislaodisciplinadora da jornada de trabalho, das condies de periculosidadee insalubridade e do trabalho do menor e da mulher, a pouca formao dostrabalhadores e as dificuldades de se transformar os trabalhadores agrcolas e/ou infantis em um contingente de trabalhadores industriais.Oanode1819umadataimportantenahistriadomovimentooperrioingls,comas Manifestaes populares em Manchester que reivindicavam direitos polticose sociais aos trabalhadores e provocaram a criao das primeiras associaesde defesa dos direitos dos operrios ingleses, ainda sob a influncia dopensamento cooperativista de Robert Owen (43) (Report to the Country ofLanark, 1820): Grand Union of Spiners (1829); National Association for theProtection of Labour (1830);Grand National Consolidated Trades Union1834) (44).Decorrncia ainda dessas primeiras associaes de trabalhadores, surgiuo Movimento Cartista (45), organizado pela Associao dos Operrios, cujaprincipal bandeira era a defesa de melhores condies de trabalho: a limitao de oito horas para a jornada de trabalho a regulamentao do trabalho feminino a extino do trabalho infantil a folga semanal o salrio mnimo(42) Aos Cotton Mills.(43) Robert Owen (1771 1858), empresriodo setor txtil, reformista social gals,considerado um dos fundadores do socialismoe do cooperativismo. Diretor de importantesindstrias escocesas de fiao. Em New Lanark,reduziu a jornada de trabalho para 10,5 horasdirias, quando a jornada de trabalho de umtpico operrio txtil era de 14 a 16 horasdirias. Preocupou-se ainda com a qualidade devida dos seus empregados, construindo casaspara as famlias dos operrios, o primeiro jardimde infncia e a primeira cooperativa.(44) O direito de livre associao era impedidona Inglaterra pelos Combinations Acts, 1780,1799 e 1825.(45) Movimento Cartista (Peoples Charter ),(1837-1848). 40. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial46O Cartismo, movimento dos liberais radicais, defendia a ampliao dosdireitos polticos, o sufrgio universal masculino, a extino da exignciade propriedade para integrar o parlamento e o fim do voto censitrio. Essemovimento se destacou por sua organizao e por sua forma de atuao,chegando a conquistar diversos direitos polticos para os trabalhadores. Noentanto, o cartismo no era apenas a defesa dos direitos polticos, nas palavrasdo pastor metodista Stephens: ... o cartismo uma questo de garfo e faca,a carta significa boa moradia, comer bem e beber bem, bons salrios e umajornada de trabalho curta. (46)O Factory Act of 1833 regulamentou a jornada de trabalho, inicialmentevisando s manufaturas de algodo, l, linho e seda. Os itens mais importantesconstantes deste Factory Act, que ficou conhecido como a Lei das Fbricas,foram: O dia normal de trabalho nas fbricas devia comear s cinco e meia damanh e acabar oito e meia da tarde; Dentro dos limites deste perodo de quinze horas, estava autorizadoo emprego de adolescentes (isto , indivduos entre os 13 e os 18 anos),durante o dia; Exceto em certos casos especiais e previstos na lei, os adolescentes nopoderiam trabalhar mais de 12 horas por dia; O emprego de menores abaixo dos 9 anos ficou proibido; O trabalho de menores entre 9 e 13 anos ficou limitado a oito horas pordia; O trabalho noturno (ou seja, entre as oito e meia da noite e s cinco e meiada manh) ficou proibido a todos os menores, entre os 13 e 18 anos; Cada adolescente passou a ter, diariamente, pelo menos, hora e meia paraas refeies.A Lei das Fbricas previa a criao do Factory Inspectorate (Inspetor deFbrica), com a atribuio de controlar a idade de admisso de crianas nasfbricas no ano seguinte (1834), o governo ingls nomeou o primeiro inspetorde fbricas para certificar a idade das crianas empregadas.(47)(46) Engels, Fredecick: F.: A Situao dasClasses trabalhadoras na Inglaterra, GlobalEditora, So Paulo, 1986, pg , 258.(47) Foi nomeado o mdico ingls mdicoRobert Baker, que recomendou, a vriasindstrias, a contratao de um mdico paravisitar os locais de trabalho diariamente. 41. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 47A legislao inglesa de regulamentao do trabalho, de 1833, no se aplicavas minas de carvo, onde era bastante frequente o emprego de crianas commenos de sete anos. O Childrens Employment Commission, First Report, 1842,teve um grande impacto na sociedade inglesa. O Mines Act of 1842 marcou oincio de uma legislao para regulamentar o trabalho em um setor econmicofundamental para o processo de industrializao ingls. O trabalho nas minasera altamente danoso para a sade e a segurana dos trabalhadores, desde aAntiguidade, como demonstram os trabalhos mencionados anteriormente e,depois da Revoluo Industrial, passou a empregar mulheres e crianas. Como Mines Act, o trabalho de mulheres foi legalmente proibido e a idade mnimaexigida para crianas passou a ser de 10 anos.Curiosamente, foi a obrigao legal de certificao da idade mnima para otrabalho fabril que abriu, mais tarde, as portas das fbricas aos mdicos. NaEsccia, em 1842, a tecelagem administrada por James Smith contratou ummdico que, antes da admisso, deveria examinar os trabalhadores menores,alm de realizar exames peridicos, visitar o local de trabalho diariamente efornecer orientaes sobre problemas de sade. Iniciava-se a o que viria a serconhecido posteriormente como as funes do mdico do trabalho.A partir de 1830, a produo industrial se expandiu muito rapidamente eultrapassou as fronteiras inglesas. Entretanto, em cada pas, o desenvolvimentoindustrial adquiriu uma feio diferenciada, de acordo com as condieseconmicas, sociais e culturais de cada regio. Essas diferenas provocavam,contudo, conflitos similares, em todas as regies, entre trabalhadores eempresrios, forando o aprimoramento e a melhoria das relaes de trabalhoe das condies nas quais o mesmo era realizado. Com o objetivo de diminuiros danos provocados pelas atividades fabris, comearam a surgir, nos pasesmais industrializados, legislaes para prevenir e/ou indenizar os acidentes detrabalho.Esse movimento s ocorreu por presses econmicas e sociais. Pelo enfoqueeconmico, as presses visavam garantir maior competitividade entre asempresas, interessadas em diminuir o afastamento dos trabalhadores, poracidentes ou doenas de trabalho. As maiores preocupaes se referiam aeventuais riscos de doenas infecto-contagiosas (tifo, tuberculose e clera); explorao do trabalho infantil e feminino e frequncia, gravidade e letalidade dos acidentes de trabalho nas minas e nos estabelecimentos fabris.Sob o ponto de vista social, existiam as aspiraes dos trabalhadores no sentidode obter em uma legislao mais protetora, seja no que se refere s relaes detrabalho, s de segurana e previdncia social. 42. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial48O Factory Act de 1844 limitou a 12 horas a jornada de trabalho das mulherescom menos de 18 anos e proibiu o trabalho feminino noturno at essa faixaetria. E, para evitar abusos, introduziu o relgio nas fbricas (48) e regulamentoua jornada diria de trabalho dos menores de 13 anos a 6 horas e meia.Neste perodo, intensificaram-se as reivindicaes dos trabalhadores nosterrenos ideolgicos e poltico-sociais, culminando com a conquista do votosecreto e do sufrgio universal, permitindo a eleio de representantes dostrabalhadores nas casas legislativas, assim como as votaes de atos queinterferiam direta ou indiretamente no cotidiano fabril. A Associao Geraldos Operrios de Londres (London Working Mens Association) publicou, em1838, a Carta do Povo, contendo entre seus seis pontos principais: o sufrgiouniversal para todos os homens adultos, sos de esprito e no condenadospor crime, e o voto secreto(49). So desta fase: a anlise dos acidentes detrabalho e os exames de admisso (50); o primeiro contrato coletivo de trabalhodos operrios ingleses, assinado em 1862; a Lei de Acidentes do Trabalho; aregulamentao da jornada mxima; o descanso semanal; a assistncia mdicade urgncia; a obrigatoriedade da higiene nos estabelecimentos industriais ecriao de jurisdio especial para resolver os conflitos individuais do trabalho.Aps uma longa luta encabeada pelo Ten Hour Mouvement, para reduo dajornada de trabalho, a Rainha Vitria (51) promulgou, em 1847, o Ten Hour Act,adotando a jornada de 10 horas na Inglaterra.A Alemanha enfrentava um processo de industrializao similar ao da Inglaterra,porm com menor intensidade do desenvolvimento tecnolgico. Nessa poca,a Alemanha no havia sido unificada (52) e era constituda por 39 pequenosreinos, ducados e cidades livres, dentre esses a Prssia, que liderava a RevoluoIndustrial. As regies mineradoras alems dos vales de Ruhr e Wupper j erambastante desenvolvidas. Colnia e Frankfurt am Main eram centros urbanosimportantes; Hamburgo, Bremen e Roterd j eram portos com grandesmovimentos comerciais e a Regio do Ruhr e Barmen-Elberfeld (Wuppertal),plos txteis significativos. As condies de trabalho(53) eram bastanteparecidas s da Inglaterra e os acidentes de trabalho corriqueiros. Este quadroeconmico convivia com importantes movimentos de trabalhadores . Em1865, no meio de turbulentas manifestaes contra as condies de trabalho,o governo da Alemanha (Prssia) aprova a Lei de Indenizao Obrigatriados Trabalhadores, definindo a responsabilidade dos empregadores pelopagamento dos acidentes, ocorridos durante a jornada de trabalho. A Franaj havia regulamentado, desde 1862, as questes de higiene e a segurana dotrabalho.(48) Os relgios da fbrica deveriam serregulados pela hora de um relgio pblico(por exemplo, o da estao ferroviria maisprxima).(49) Engels,F.: A Situao das Classestrabalhadoras na Inglaterra, Global Editora,So Paulo, 1986, pg 27.(50) Atribudas ao industrial medical officers,a partir de 1855.(51) Rainha Vitria, coroada em 1837 e reinouat 1901.(52) A Alemanha se unificou em 1871, quandoa Prssia venceu a Guerra Franco-Prussiana, porOtto Bismarck.(53) Frederick Engels, publica em 1844, otrabalho Die Lage der Arbeitenden Klasse inEngland (A Situao das Classes trabalhadorasna Inglaterra) e Karl Marx, em 1848, publica,tambm em alemo, Das KommunistischeManifest (O Manifesto Comunista). 43. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 49A conquista dos direitos civis, a liberdade de livre associao e as manifestaesrepresentativas contra as pssimas condies de trabalho provocaram umasrie de iniciativas governamentais e empresariais, para diminuir os problemasenfrentados nas fbricas. Em 1873, na Alemanha (Molhause), foi criada aprimeira Associao de Higiene e Preveno de Acidentes, cujo objetivoprincipal era evitar o acidente e amparar o trabalhador acidentado. Dez anosdepois, em 1883, Emlio Muller fundou em Paris a Associao de Industriaiscontra os Acidentes de Trabalho. E, na Inglaterra, em 1897, foi fundado oComit Britnico de Preveno, que iniciou uma srie de pesquisas relativas amateriais aplicados em construes. inegvel o papel dos estudos sobre as condies de trabalho em diferentessetores, especialmente no setor txtil, para sensibilizar a opinio pblica quantos reivindicaes sobre melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.Em 1840, teve grande impacto o estudo do mdico fancs Louis RenVillerm: Tableau de ltat physique et moral des ouvriers employs dans lesmanufactures de coton, de laine et de soie (54), cuja apresentao na AcademiaFrancesa das Cincias Morais e Polticas sensibilizou a opinio pblica e levou promulgao da primeira lei francesa, limitando a 8 anos a idade mnima parao trabalho nas fbricas francesas (1841), mas somente naquelas com mais de20 empregados. Embasou, ainda, a primeira lei de urbanismo francesa queproibiu, em 1859, a locao de imveis insalubres.(54) Louis .Ren.Villerm (Paris 1782 Paris1863), mdico francs que escreveu: Quadrodo Estado Fsico e Moral dos OperriosEmpregados nas Indstrias de Algodo, Le Seda, um estudo sobre as condies detrabalho . Foi um dos fundadores dos AnnalesdHygine Publique , em 1829. 44. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial50Na segunda metade do sculo XIX, as questes de sade pblica ocuparamlugar de destaque. Os governos passaram a preconizar e a implantar, demaneira mais sistemtica, medidas para garantir a queda das doenas infecto-contagiosas. Edwin Chadwick (55) produziu importantes relatrios sobre ascondies sanitrias da classe trabalhadora na Inglaterra. No seu RelatrioEnquiry into the Sanitary Condition of the Labouring Population of GreatBritain (1842), chamou a ateno sobre a total ausncia de hbitos dehigiene pessoal e de saneamento bsico na nova famlia operria, alertandoa necessidade premente de controle e preveno das frequentes epidemiasde tifo, varola e clera, assim como da adoo de medidas para melhoriadas condies sanitrias da populao em geral, sugerindo medidas comoo abastecimento de gua potvel, a rede de saneamento bsico, a utilizaode desinfetantes, a coleta do lixo nas grandes aglomeraes urbanas,a vacinao, a criao da inspeo do trabalho e da autoridade de sade a nvellocal, a proteo da sade materno-infantil, a educao sanitria, a luta contraa tuberculose, etc.A obrigatoriedade da notificao das doenas profissionais foi instituda pelaprimeira vez, na Inglaterra, atravs da Factory and Workshop Act of 1895,que determinava exames mdicos peridicos aos trabalhadores expostosao chumbo, ao fsforo e outras substncias perigosas. Dois anos depois, oWorkmens Compensation Act (56) institucionalizou a indenizao ao trabalhadorem caso de incapacidade por acidente de trabalho, embora s mencionasseum conjunto reduzido de ocupaes. Essa Lei foi ampliada em 1906, passandoa considerar, tambm, algumas doenas profissionais como passveis deindenizao, embora fossem bastante reduzidos os fatores de risco aceitoscomo agentes das doenas: antraz, chumbo, mercrio, fsforo e arsnio.A Alemanha de Bismarck foi o primeiro pas a adotar uma proteo social maisampla para seus trabalhadores, promulgando os primeiros seguros sociaisobrigatrios, para doena (1883), acidentes de trabalho (1884), invalidez evelhice (1889), e uma legislao mais especfica sobre condies de trabalho(1889-91).As medidas de legislao de proteo social dos trabalhadores, adotadas pelosdiferentes pases europeus, foram claramente motivadas por razes tantoideolgicas quanto polticas e econmicas: presso da organizao operria esindical de um lado e da ao autorreguladora do sistema econmico, polticoe ideolgico vigente, preocupada em assegurar uma certa estabilidade social,face s brutais transformaes operadas pela industrializao - decadnciada aristocracia e emergncia da burguesia financeira, comercial e industrial;(55) Louis .Ren.Villerm (Paris 1782 Paris1863), mdico francs que escreveu: Quadrodo Estado Fsico e Moral dos OperriosEmpregados nas Indstrias de Algodo, Le Seda, um estudo sobre as condies detrabalho . Foi um dos fundadores dos AnnalesdHygine Publique , em 1829.(56) 1897. 45. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 51urbanizao crescente e exploso demogrfica; misria, ausncia de condiesde higiene, saneamento bsico e habitao; incidncia de doenas infecto-contagiosas e riscos ligados ao trabalho fabril; conflitos sociais e polticos; criseseconmicas; competio internacional, criao do Estado-Nao, expansocolonial e imperialismo.Nos demais pases europeus, as disposies legais sobre inspeo do trabalhocomeamaseradotadas,nasegundametadedosculoXIXounoinciodosculoXX: Dinamarca (1873), Frana (1874), Alemanha (1878), Sua (1878), ustria(1887), Blgica (1888), Holanda (1888), Sucia (1889), Portugal (1895/1897),Rssia Sovitica (1918). A workmens compensation Law dos Estados Unidos de 1908, embora a sua aplicao fosse limitada aos trabalhadores do governofederal e, somente paulatinamente, os diferentes estados tenham aprovadolegislao nesta rea (57). importante ressaltar que, durante vrias dcadas, tanto a legislaoquanto a inspeo do trabalho e a prpria organizao dos trabalhadoresencaravam a preveno dos acidentes de trabalho e as indenizaes dasdoenas profissionais, como uma reparao (mdico-legal) dos riscos a que ostrabalhadores estavam sujeitos durante o trabalho fabril dirio.O desenvolvimento da rea cientfica e profissional que conhecemos,atualmente, por Segurana e Sade do Trabalho, est diretamente ligado tanto criao da inspeo do trabalho quanto regulamentao das indenizaesdos acidentes e das doenas profissionais (58).Nesse perodo, a chamada Segunda Revoluo Industrial, baseada naeletricidade, na qumica, no automvel, na refinao do petrleo e na produoem srie, colocou a Inglaterra em desvantagem industrial em relao a pasescomo Frana, Alemanha e Estados Unidos.Os estudos sobre o campo magntico e a corrente eltrica, no incio do SculoXIX, permitiram, a partir de 1840, as descobertas do telgrafo eltrico, dodnamo, do motor eltrico, e da lmpada incandescente. Foi necessrio quaseum sculo para que a eletricidade fosse empregada como a principal fonte deenergia industrial, pois sua utilizao exigia um sistema de gerao, transmissoe distribuio com custos de implantao bastante elevados. A difuso daeletricidade contribuiu para a concentrao industrial, tanto permitindoa ampla explorao da economia de escala, quanto a criao de grandesempresas inovadoras que monopolizaram o recente setor de equipamentospara gerao, transmisso e distribuio da energia eltrica.(57) O estado de New Jersey foi o primeiro aaprovar em 1911.(58) Alemanha (1884); Inglaterra (1897 - 1898);Sucia (1901); Estados Unidos(1911); Portugal(1913). 46. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial52O avio, o automvel, o caminho e o trator tiveram origem a partir do motor combusto interna. O grande sucesso do motor gasolina colocou em cenaas empresas petrolferas, com atividades integradas de explorao, transporte,refino e distribuio. O motor de combusto interna que trabalha com osprincpios da termodinmica e com os conceitos de compresso e expanso defludos gasosos, para gerar fora e movimento rotativo, foi criado e patenteadopor Nikolau August Otto, em 1866.A Itlia desempenhou um importante papel na formulao de conceitos e nasaes prticas que permitiriam o desenvolvimento da segurana e medicina eda segurana do trabalho. O mdico genovs Luigi Devoto (59) criou, em 1901,a primeira revista dedicada segurana e sade no trabalho: Il Lavoro - Revistadi fisiologia, clnica ed igiene del lavoro (Hoje, La Medicina del Lavoro). Foi,tambm, a Itlia que sediou, em 1906, o primeiro Congresso Internacional dasDoenas do Trabalho, que fundou a Commissione Internazionale per le MalattieProfessionali, embrio da atual International Commission on OccupationalHealth (ICOH) e a Clinica del Lavoro, em Milo (1910), ambas fruto do trabalhode Luigi Devoto. Em 1920, foi fundada a Societ tragli Amici della Clinica delLavoro, com o objetivo principal de promover o estudo e a prtica da medicinado trabalho. Durante um longo perodo, a preocupao mdica em relaoaos trabalhadores era muito mais direcionada para os problemas de reparaode leses ou doenas especficas do que para a preveno dos riscos e fatoresde risco no local de trabalho e da fadiga, devido s longas horas de trabalhodirio (60).(59) Mdico italiano (Genova 1894 Milo1936). Dedicou seus estudos e sua prticaprofissional higiene e medicina do trabalho,tendo fundado a primeira revista e o primeiroinstituto dedicados sade e segurana dostrabalhadores.(60) In Graa, Luiz: Europa: UmaTradio Histrica de Proteco Social dosTrabalhadores. II Parte: O Nascimento daMedicina do Trabalho, 2000, SociedadePortuguesa de Medicina do Trabalho, Lisboa.Luigi Devoto 47. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 53Com a expanso da indstria para toda a Europa e para os Estados Unidos,cresceram os movimentos para a adoo de Convenes Internacionaisque regulamentassem o trabalho. No incio do sculo 19, Robert Owen, naInglaterra, Louis Auguste Blanqui (61) e Louis Ren Villerm, na Frana, edouard Antoine Ducptiaux (62) , na Blgica, foram os precursores da defesada regulamentao internacional do trabalho. A defesa da adoo dasConvenes Internacionais est diretamente relacionada ao perodo histricoem que prevalecia a tese de que o Estado tinha por finalidade assegurar ummnimo de direitos irrenunciveis.A Revoluo Francesa de 1789 implantou o princpio da igualdade jurdicopoltica de todos os cidados, valorizando a liberdade de contratar. Essarealidade facilitou a defesa de uma interveno efetiva do Estado nas relaesde trabalho, como uma tentativa de garantir direitos bsicos aos cidados. Osentimento de que, na prtica, o trabalhador era a parte menos favorecidano contrato de trabalho, muitas vezes sem qualquer direito, provocou ummovimento de juristas e filsofos da poca, conhecido como a QuestoSocial, que procurava implantar solues para os problemas decorrentes dasrelaes de trabalho.Nesse contexto, a partir da segunda metade do sculo XIX, ganharam ecoas propostas de internacionalizao dos direitos trabalhistas. Surgidas atravsde Robert Owen e dos precursores franceses e belgas, repercutiram at aInternacional Comunista. Iniciativas de defesa da regulamentao internacional,entre as quais se inclui a do Papa Leo XIII (Encclica Rerum Novarum)(63),ganharam fora com a proposta do governo da Sua para a convocao deuma Conferncia sobre o assunto. Essa Conferncia foi realizada em Berna,em 1890, e acabou culminando na criao da Associao Internacional paraa Proteo Legal dos Trabalhadores(64), com sede em Basilia (Sua), quefoi responsvel pelo primeiro tratado bilateral entre a Frana e a Itlia (1909),pela realizao das Conferncias de Berna, a partir de 1905, e pelas primeirasConvenes Internacionais (1906) (65).A Conferncia (66) seguinte, tambm realizada em Berna, aprovou dois projetosde convenes internacionais: um, proibindo o trabalho noturno aos menores eo segundo, limitando em 10 horas a jornada diria das mulheres e dos menores.Estas Convenes deveriam ser assinadas no ano seguinte, o que no ocorreu,por ter eclodido a I Guerra Mundial.(61) Louis Auguste Blanqui (Nice 1805 Paris1881), terico, republicano, socialista francs.(62) douard Antoine Ducptiaux, (Bruxelas1804 Bruxelas 1868), journalista belga, autordo trabalho De la Peine de Mort (1827).(63) Rerum Novarum : sobre a condio dosoperrios (Reum Novarum - Das CoisasNovas), encclica do Papa Leo XIII, de1891, debatendo as condies das classestrabalhadoras. Trata de questes da revoluoindustrial e das sociedades democrticas nofinal do sculo XIX. Apoiava o direito dostrabalhadores organizarem sindicatos, rejeitavao socialismo e defendia o direito propriedadeprivada. Discutia, ainda, as relaes entre ogoverno, os negcios, o trabalho e a Igreja.(64) Essa Associao seria o embrio da futuraOrganizao Internacional do Trabalho, fundadaem 1919.(65) As duas primeiras convenesinternacionais de trabalho regulavam o trabalhonoturno feminino e proibiam o fsforo brancona indstria de fabrico de mquinas.(66) A Conferncia foi realizada em 1913. 48. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial54A chegada do sculo XX alterou o cenrio da produoe do comrcio mundial, com a crescente industrializaoamericana, refletindo-se na importncia internacional dospases.Em 1913, Henry Ford inaugurou sua linha de montagemde automveis, nos Estados Unidos. Os carros eramtodos do mesmo modelo e cor (preta). A padronizaoadotada tinha o objetivo de facilitar a montagem e limitara diversidade de estoque dos componentes. A linha demontagem implantada, segundo os princpios tayloristas,reduziu de 12 horas para 93 min a montagem de umchassi pelo trabalhador.Estava instalado o fordismo e o taylorismo(67), formasde organizao da produo em srie, que dominaramdurante dcadas o sistema produtivo mundial. O controledo tempo e as tarefas repetitivas foram objeto de stirado grande Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos.Foram, tambm, responsveis por novos fatores de riscoe doenas profissionais. O avano tecnolgico no foiseguido por formas de organizao e gesto da produo,capazes de preservar com mais intensidade a integridadehumana.Os Estados Unidos integraram as negociaes parao estabelecimento da paz, aps a 1a Guerra. Dentreos temas relevantes, estava a universalizao do trabalho.A Conferncia de Paz criou a Comisso de LegislaoInternacional do Trabalho, com o objetivo de iniciarestudos para viabilizar essa proposta. Esta Comisso foiintegrada por representantes dos Estados Unidos, Frana,Inglaterra, Japo, Blgica, Itlia, Checoslovquia, Polniae Cuba, tendo sido presidida por Samuel Gompers, dosEstados Unidos.mscara morturia de Blanqui 49. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 55(67) Fordismo/taylorismo: forma de organizaoe controle da produo adotada por Henri Forde Frederick Taylor.Inglaterra, Frana, Itlia, e Estados Unidos apresentaram diferentes projetospara o funcionamento da organizao. As diferenas tinham como base aviso do papel do Estado nas relaes de trabalho: Frana e Itlia ressaltaramo papel dos Governos no funcionamento do organismo e na conseqenteevoluo das leis de proteo ao trabalho; Estados Unidos defenderama livre negociao entre patres e empregados, na soluo dos problemas e namelhoria das condies de trabalho; a Inglaterra apresentou o projeto adotado 50. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial56pela Comisso, de um organismo tripartite, composto por representantesgovernamentais, patronais e dos trabalhadores, que votariam individual eindependentemente.O Tratado de Versalhes, nos artigos 387 a 399 da Parte XIII, adotou a propostae determinou a criao da Organizao Internacional do Trabalho, autorizadaa elaborar Convenes e Recomendaes na rea do trabalho. Em outubro de1919, foi realizada a 1a Conferncia Internacional do Trabalho, em Washington,que adotou as primeiras Convenes e Recomendaes, que deveriam serratificadas pelos pases membros da Sociedade das Naes.O prembulo da Parte XIII do Tratado de Versalhes afirmava: Considerandoque a Sociedade das Naes tem por objetivo estabelecer a paz universal e quetal paz no pode ser fundada seno sobre a base da justia social; em atenoa que existem condies de trabalho que implicam para um grande nmero depessoas em injustia, misria e privaes, e que origina tal descontentamentoque a paz e a harmonia universais correm perigo; em vista de que urgentemelhorar essas condies (por exemplo, no que concerne regulamentaodas horas de trabalho, fixao de uma durao mxima da jornada e dasemana de trabalho, ao aproveitamento da mo-de-obra, luta contra odesemprego, garantia de um salrio que assegure condies convenientesde existncia, proteo dos trabalhadores contra as enfermidades gerais ouprofissionais e os acidentes resultantes do trabalho, proteo das crianas,dos adolescentes e das mulheres, s penses de velhice e de invalidez, defesados interesses dos trabalhadores ocupados no estrangeiro, afirmao doprincpio da liberdade sindical, organizao do ensino profissional e tcnicoe outras medidas anlogas); tendo presente que a no adoo por uma naoqualquer de um regime de trabalho realmente humanitrio um obstculoaos esforos das demais desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nosseus prprios pases; as Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos dejustia e humanidade, assim como pelo desejo de assegurar uma paz duradourae mundial, convencionaram o que segue ... e, em seguida, apresentava acomposio, a estrutura e as finalidades Organizao. 51. Captulo I | 3. A Revoluo Industrial 57Com o advento da indstria, surgiram problemas humanos e sociais que noencontravam solues nas cincias, nem na tecnologia, nem na medicina. Foium momento de criao do arcabouo terico do Direito Trabalho, da Medicinado Trabalho e da Engenharia de Segurana. Cada conjunto de conhecimentoscontribuiu e contribui, sua maneira, para melhorar as condies de trabalhoe de vida da sociedade.Assinatura do Tratado de Versalhes, na Sala dos Espelhos do Palcio de Versalhes. 52. Captulo IINo Brasil 53. Captulo II | No Brasil 61Enquanto, na Europa e nos Estados Unidos, avanavam as aplicaes dodesenvolvimento tecnolgico e a Revoluo Industrial se consolidava, no Brasil,as relaes de trabalho ainda eram majoritariamente baseadas no trabalhoescravo.Com uma economia colonial, agrria exportadora, monocultora e produobaseada em latifndios, o Brasil colonial e imperial pouca ou quase nenhumapreocupao dedicou s condies de trabalho e de vida daqueles que nointegravam a Corte.A principal atividade econmica durante os primeiros sculos era agrcola-extrativa, seguida da minerao, utilizando a mo de obra escrava. Os escravosviviam nas senzalas, amontoados em bandos, em pssimas condies dehigiene e salubridade. Trabalhando principalmente em canaviais e engenhos,realizavam o trabalho fsico pesado e no exigiam de seus proprietriosnenhuma iniciativa que lhes assegurasse melhores condies de trabalho.A preocupao com a sade dos escravos s surgia em pocas de epidemiasde febre amarela que costumava assolar os estados produtores de acar.A seleo dos escravos era feita pelos prprios interessados nos entrepostosde recebimento de negros capturados na frica. As condies de transporteeram extremamente rudimentares, objetivando apenas transportar o maiornmero de escravos possvel dentro dos navios.Quando os negros chegavam ao Brasil, o exame fsico mais detalhado erao dentrio, seguido de uma inspeo para detectar eventuais possibilidadesde doenas contagiosas ou no. O tratamento dispensado aos escravos estavacondicionado a trs variveis: o preo pago por ele; a capacidade individual de trabalho de cada escravo; a rentabilidade da produo escravista no mercado.II. No BrasilII. No Brasil 54. Captulo II | No Brasil62O trabalho escravo tinha a durao de at 18 horas por dia e estava relacionado capacidade de produo no menor perodo de tempo. Os donos de escravostinham o direito de lhes aplicar castigo fsico, com o objetivo de caracterizarsua submisso ao trabalho e aos proprietrios, no havendo interferncia dopoder pblico.As atividades de controle sanitrio no Brasil iniciaram-se no sculo XVI, deacordo com o modelo adotado em Portugal, que priorizava o controle dosofcios de fsico, cirurgio e boticrio e a arrecadao de emolumentos(1).A limpeza das cidades, controle da gua e do esgoto, comrcio de alimentos,abate de animais e controle das regies porturias eram de atribuio dasCmaras Municipais.Quando se iniciaram as restries ao trfico negreiro, o Prncipe RegenteD.Joo VI, assinou em 24 de novembro de 1813, o Alvar com fora de lei peloqual Vossa Alteza Real ha por bem regular a arqueao dos navios, empregadosna conduco dos negros que dos portos de Africa se exportam para os doBrazil; dando Vossa Alteza Real, por effeito dos seus incomparaveis sentimentosde humanidade e beneficncia as mais saudveis e benignas providencias embeneficio daquelles indivduos ... (..) ... tendo-me sido presente o tratamentoduro e inhumano, que no transito dos portos africanos para os do Brazil soffremos negros que delles se extrahem; chegando a tal extremo a barbaridade esordida avareza de muitos dos Mestres das embarcaes que os conduzem,que, seduzidos pela fatal ambio de adquirir fretes e de fazer maiores ganhos,sobregarregam os navios, admittindo nelles muito maior nmero de negros doque podem convenientemente conter; faltando-lhes com alimentos necessariospara a subsistencia delles, no s na quantidade, mas at na qualidade, porlhes fornecerem generos avariados e corruptos, que podem haver mais emconta; resultando de um to abominavel trafico, que se no pode encarar semhorror e indignaao, manifestarem-se enfermidades, que, por falta de curativo econveniente tratamento, no tardam a fazerem-se epidemicas e mortaes, comoa experiencia infelizmente tem mostrado: no podendo os meus constantese naturaes sentimentos de humanidade e beneficencia tolerar a continuaode taes actos de barbaridade, commettidos com manifesta transgresso dosdireitos divino e natural, e rgias disposies dos Senhores Reis meus AugustosProgenitores, transcriptas nos Alvars de 18 de Maro de 1684 e na Carta de Leido 1 de Julho de 1730, que mando observar em todas aquellas partes que poreste meu alvar no forem derogadas ou substituidas por outras disposiesmais conformes ao presente estado das cousas, e ao adiantamento e perfeioa que tem chegado os conhecimentos physicos e novas descobertas chimicas,(1) Gomes, M.F dos Santos e all:O Planejamento do Processo deDescentralizao das Aes da VigilnciaSanitria de Medicamentos no Estado do Riode Janeiro in http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2004/especializacao/MonografiaMicheleRamos.pdf 55. Captulo II | No Brasil 63maiormente na parte que respeita ao importante objecto da saude publica: souservido determinar e prescrever as seguintes providencias, que inviolavelmentese devero observar e cumprir.I. Convindo para a saude e vida dos negros que dos portos de Africa seconduzem para os deste Estado do Brazil, que elles tenham, durante apassagem, logar sufficiente em que possam recostar, e gozar daquelle descaoindispensavel para a consevao delles, no devendo as dimenses do espaonecessrio para aquelle fim depender do arbitrio ou capricho dos Mestresdas embarcaes, supppostos os motivos que j ficam referidos: hei por bemdeterminar, conformando-me s propores que outros Estados illuminadosestabeleceram relativamente a este objecto, e que a experiencia constantemanifestou corresponder aos fins que tenho em vista; que os navios que seempregarem no transporte dos negros, no hajam de receber maior nmerodelles, do que aquelle que corresponder proporo de cinco negros por cadaduas toneladas; e esta proporo s ter logar at a quantia de 201 toneladas;porque a respeito das toneladas addicionaes, alm das 201 que acima ficammencionadas, permitto que smente se admitta um negro por cada toneladaaddicional. E para prevenir fraudes que se poderiam praticar conduzindo maiornmero de individuos do que os que ficam regulados pelas estabelecidasdisposies, e acautelar semelhantemente os extravios dos meus reaes direitos,e enganos que commettem alguns Mestres de embarcaes que conduzindonegros por sua conta e por conta de particulares, costumam supprir a falta dosseus proprios negros, quando esta acontece por molestia ou outro qualquerinfortunio, apropriando-se dos negros de outros proprietarios, e fazendo iniquae dolosamente soffrer a estes a perda, quando s devia recahir sobre mesmoMestre: determino que cada embarcao haja de ter um livro carga, distribuidoda mesma forma dos que servem as fazendas: que na margem esquerda destelivro de carregue o nmero dos Africanos que embarcaram, com a distincodo sexo; declarando-se se so adultos ou crianas; a quem veem consignados,e indicando-se a marca distinctiva que o denote; devendo ser na columna oumargem do lado direito que se faa em frente a descarga do individuo quefallecer, declarando-se a sua qualidade, marca e o consignatario a quem eraremettido.E repugnando altamente aos sentimentos de humanidade que se permitta quetaes marcas se imprimam com ferro quente: determino que to barbaro inventomais se no pratique, devendo substituir-se por uma manilha ou colleira, emque se grave a marca que haja de servir de distinctivo; ficando sujeitos os queo contrario praticarem pena da Ordenao do liv. 5, tit.36, 1 in principio. 56. Captulo II | No Brasil64Para a devida legalidade da escripturao acima indicada, mando que o livroem que ella se fizer, seja rubricado pelo Juiz da Alfndega ou quem seu logarfizer no porto de que sahir a embarcao; devendo os Mestres, logo que derementrada nos portos deste Estado do Bazil, apresentar este livro s inspecese autoridades, que eu para isso houver de estabelecer: e succedendo, que, emtransgresso do que tenho determinado, se introduza maior nmero de negrosa bordo do que aquelle que fica estabelecido, incorrero os transgressores naspenas declaradas pela Carta de Lei do 1 de julho de 1730, que nesta partemando que se observe como nellas se contm: e para que possa legalmenteconstar se observa esta minha real determinao, mando que as embarcaesempregadas nesta conduco e transporte sejam visitadas ao tempo da sahidado porto em que carregaram, e o da chegada quelle a que se destinam, pelosrespectivos Juizes da Alfandega, Intendencia ou daquella autoridade que seuhouver de destinar para aquelle effeito.II. Importando semelhantemente para a consevao da saude, e paraa precauo e curativo das molestias a assistencia de um hbil Cirurgio: ordenoque todas as embarcaes destinadas para a conduo dos negros, levemum Cirurgio perito; e faltando este, se lhes permittir a sahida. E convindopremiar aquelles que pela sua percia, desvelo e humanidade contribuirempara a conservao da saude, e para o curativo e restabelecimento dos negrosque se conduzirem para estes portos do Brazil: sou servido determinar, quesuccedendo no excedes de dous por cento o nmero dos que morrerem napassagem dos portos de frica para os do Brazil, haja de se premiar o Mestreda embarcao com a gratificao de 240$000, e de 120$000 o Cirurgio;e no excedendo o nmeros de mortos de trs por cento, se conceder assimao mestre como ao Cirurgio metadade da gratificao qe acima fica indicada,a qual ser paga pelo Cofre da Sade: e quando succeda que o nmero dosmortos seja tal que faa suspeitar descuido, ou na execuo das providenciasdestinadas para a salubridade dos passageiros, ou no curativo dos enfermos:determino que o Ouvidor do Crime, a quem mando se apresentem os mappasnecroogicos de cada embarcao, haja e proceder a uma rigorosa devassa,afim de serem punidos severamenre, na conformidade das leis, aquelles quese provar terem deicaxo de executar as minhas reaes ordens relativas aocumprimento das obrigaes que lhes so impostas sobre um to importanteobjecto.III. Para melhor e mais regular tratamento dos enfermos, e para acautelara communicao das molstias, que por falta de convenientes precaues,e podem constituir epidemicas, ou tornarem-se mais graves por se prescindir 57. Captulo II | No Brasil 65do preciso trato, aceio e fornecimento de alimentos proprios: determino queno castello de pra, ou em outra qualquer parte do navio que se julgar maisprpria, se estabelea uma enfermaria, para onde hajam de ser conduzidosos doentes para nella serem tratados, na forma que tenho mandado praticara bordo dos navios de guerra; e no sendo possivel que o cuidado e tratamentodos enfermos se entreguem a pessoas que, incumbidas de outros servios, nopem assistir na enfermaria com aquella assiduidade que convm: determino,ampliando o capitulo 10 da lei de 18 de maro de 1684, que se destinem duas,trs ou mais pessoas, segundo o nmero dos doentes, para que hajam de seoccupar do tratamento delles, e que para isso sejam dispensadas de todoe qualquer outro servio.IV. Para acautelar semelhantemente a introduo de molestias a bordo:determino que se no admitta a embarque pessoa alguma que padecermolestia contagiosa, para cujo effeito se devero fazer os competentes examespelo Delegado do Physico-Mr do Reino, quando o haja, e seja da profissopelo Cirurgio do navio.V. Concorrendo essencialmente para a conservao e existncia dos indivduosque se exportam dos portos de Africa, que os comestiveis que os Mestres dasembarcaes devem fornecer guarnio e passageiros sejam de boa qualidade,e que na distribuio delles se fornea a cada uma a sufficiente quantidade:ordeno que os mantimentos que os Mestres se propuzerem a embarcar, hajamde ser primeiro approvados e examinados em terra na presena do Delegadodo Physico-Mr do Reino, havendo-o, do Medico ou Cirurgio que houver nologar do porto de embarque, e do Cirurgio do navio; e sendo approvadosos mantimentos, assim pelo que respeita qualidade como quantidade,se requerer ao Governador a competente licena para os embarcar; e portaes exames, visitas e licenas no pagaro os Mestres emolumentos algns.E repugnando aos sentimentos de humanidade que se tolere, emquanto aesta parte, o mais leve desvio e negligencia, e mais ainda que fiquem impunestaes condescendencias na approvao dos comestiveis, que de ordinarioprocede de principios de venalidade, peitas e ganhos illicitos, approvando-seos que deveriam se rejeitados como nocivos; ordeno mui positivamente aosGovernadores e Capites Generaes, Governadores, ou aos que suas vezesfizerem, no concedam licenas para