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Mídias na Mídias na transição do transição do
século XIX para século XIX para o XX no Brasil o XX no Brasil
Prof. Ms. Fabio Prof. Ms. Fabio Augusto de Oliveira Augusto de Oliveira
SantosSantos
Contexto HistóricoContexto Histórico
A cidade do Rio de Janeiro, entre 1888 e 1930, aproveitou o seu papel privilegiado na
intermediação da economia cafeeira e de sua condição de centro político do país,
para acumular no seu interior vastos recursos enraizados principalmente no
comércio, nas finanças e nas aplicações industriais.
O Rio de Janeiro = Capital FederalO Rio de Janeiro = Capital Federal
Essas condições fizeram da cidade o maior centro cosmopolita do país,
constituindo um amplo mercado nacional de consumo e mão-de-obra, além de estar em contato
íntimo com a produção e o comércio europeu, absorvendo-os e irradiando para todo país.
Segundo Jeffrey Needell a população carioca já se aproximava de meio milhão de habitantes, o mercado
interno fortalecia-se com o aumento do número de trabalhadores assalariados,
houve o crescimento dos riscos de investimentos na agricultura, e a mão de obra barata afluía não apenas das áreas rurais, mas também de países
europeus.
No plano político, a Capital Federal conviveu com coalizão entre as elites
aristocráticas tradicionais e as emergentes, de características urbanas, ocorridas no governo Floriano Peixoto e fortalecidas
durante o de Prudente de Moraes.
Política do Política do “É dando que se recebe”“É dando que se recebe”
Foi durante o período de Campo Sales, que se constituiu os mecanismos básicos do sistema republicano. A ênfase dada à estabilidade econômica por meio do conservadorismo financeiro e da manutenção de relações com o crédito estrangeiro, vai garantir o apoio dos estados para a política financeira do governo, em troca de uma política federal de benefícios para as diversas elites locais estabelecidas.
No governo Rodrigues Alves, com a política de valorização do café, os lucros dos
cafeicultores não foram afetados, já que o Estado comprava toda a produção excedente. Tal situação teve como
conseqüência uma superprodução, e muitos desses fazendeiros, para não
perderem os lucros anteriores, passaram a investir parte de seus capitais na indústria.
Com isso, a elite cultural urbana se engrandece, e mesmo influenciada pela cultura política européia, fortalece-se à
sombra do posicionamento estratégico da oligarquia cafeeira, e respaldada no
aparelho estatal.
Na realidade, essa elite urbana vinha tecendo desde 1890 um modelo como
padrão vigente de prestígio social. Enfatizando como prioridade, a
necessidade de acabar com uma imagem de atraso que a cidade do Rio de Janeiro
apresentava, criou-se a idéia do progresso e da modernização.
A partir desse momento, a cidade vive um cosmopolitismo
agressivo, profundamente identificado com a vida européia. Ocorre a condenação dos hábitos e costumes ligados à sociedade tradicional, a negação de todo e
qualquer elemento de cultura popular que pudesse macular a imagem civilizada da sociedade
dominante.
A busca pelo moderno verificou-se primeiramente na paisagem carioca. A política do prefeito Pereira Passos determinou a demolição de grande parte do mundo proletário da cidade velha. Com a intenção de eliminar focos de malária, varíola e febre amarela, os velhos casarões foram derrubados e os seus moradores expulsos para as regiões que circundavam a cidade.
O Cortiço - Superlotação e péssimas condições sanitárias. Estalagem com entrada pelo número 47. Visconde do Rio Branco, c. 1906
Um cortiço visto por dentro. Barracão de madeira componente da estalagem existente nos fundos dos prédios nos 12 e 44 da rua do Senado, 27.3.1906
Augusto Malta.
Crianças brincando e trabalhando como ambulantes, 3.3.1914 - Augusto Malta
Tendo sempre o nome da modernização como um exemplo a ser seguido, o prefeito Pereira Passos também “pavimentou ruas, construiu calçadas, asfaltou estradas, abriu túneis, embelezou praças e locais públicos, proibiu a venda ambulante de alimentos, a perambulação de cães vadios e a proibição
de entrudos.” Não se pode esquecer também que foi ele o responsável pela
reforma do porto, o aumento da rede de esgoto e a construção de grandes edifícios
como a Biblioteca Nacional e o Teatro Municipal.
As normas civilizatórias, impostas pela idéia de embelezamento e saneamento da cidade por Pereira Passos, não se restringiu apenas às mudanças do aspecto físico. Houve a preocupação de inserir em toda a sociedade a substituição do antigo desejo de ser brasileiro, percebido durante a independência, pela vontade de ser estrangeiro, principalmente europeu.
“A moda masculina valorizava a barbicha em ponta, um cravo vermelho esparramado à boutonnière, mostrando um colete fraise
ecrasée e polainas cor de pérola. A moda feminina não fugia dos padrões europeus,
valorizando além das vestimentas francesas, também as inglesas: saias compridas, cheias de subsaias, cabelos longos enrodilhados no alto
da cabeça, chapéu preso e sem grampo, usando como fazendas o surrah, o faille, o
chamalote e o tafetá, completando o conjunto com botinas de cano alto, leque de seda e
luvas."
(Jornal Correio da Manhã- 1910)
Vestimentas utilizadas pela burguesia carioca durante a
belle époque
As casas comerciais, para fazer sucesso entre os consumidores de maior poder aquisitivo, copiavam nomes franceses em suas faixadas: Madame Dupeyrat, Madame Estoueight, Douvizi, Coubon, Dreyfus, Garnier, Tour Eiffel, Palais Royal, L'Opera. Os restaurantes não fugiam à regra, e também traziam em seus cardápios rótulos estrangeiros. Acostumada ao vinho, à cerveja, e o conhaque, a sociedade é atraída agora para o punch à la romaine e outras bebidas servidas na Maison Internationale: American drinks, lunch room.
A cidade também assiste neste período ao aparecimento de revistas, confeitarias, café-cantantes e teatros. As primeiras salas de cinema tornaram-se as novidades elegantes da rua do Ouvidor. Surgem também os clubes fechados, onde a elite reunia-se para realizar o rowing (regatas), o tênis, o rugby e o foot-ball, comportamentos que vão indicar significativas alterações nos hábitos e nas percepções dos que passaram a conviver com tais artefatos e modalidades.
Cinema Odeon
O cotidiano passou a ser povoado pelo novo: tinha-se a máquina de escrever, podia-se ir aos teatros de variedades, ter uma grande quantidade de jornais à disposição, tomar o chá das cinco, acender a luz em casa e andar de bonde. Também era novo lanchar na Confeitaria Colombo, ter banheiro em casa e caminhar pelas avenidas ao entardecer. Os moradores pouco a pouco foram habituando-se ao conceito de progresso, e aceitando a idéia de que o Rio de Janeiro necessitava realmente civilizar-se.
A Confeitaria Colombo no Rio de Janeiro, com seus espelhos Austríacos é
símbolo da Belle Époque no Brasil.
A imprensa inserida nessa A imprensa inserida nessa transição...transição...
A Capital Federal do final do século XIX, vive o processo de introdução aos valores do capitalismo mundial. É o momento de estabelecimento do Estado burguês, que para Jurgen Habermas, vai facilitar a legalização da imprensa crítica como formadora de opinião, sendo que ela, agora "abandona sua antiga posição polêmica e assumi as chances de lucro de uma empresa comercial.”
A última década do século XIX no Rio de Janeiro, foi justamente, marcada pela transformação do jornal de iniciativa individual em empresa próspera. Nesse momento, consolidou-se “a fase da aventura industrial, onde o jornal tomou característica de empreendimento mercantil”, constituindo um aspecto modernizador e capitalista à imprensa.
A tipografia que até então tinha um conteúdo artesanal, conquistou a
posição de indústria gráfica de definida capacidade econômica. A
transformação da tipografia em indústria originou a qualificação do
jornalismo como profissão, a necessidade de um mercado
consumidor, a propaganda como fonte de renda específica, e o
espírito de competição na busca dos leitores.
A imprensa a partir dos primeiros anos de 1900, influenciada e influenciando os meios de comunicação, juntamente com a produção literária, viu-se convertida aos artefatos modernos dos novos meios de locomoção e comunicação, e ao “se apropriar de procedimentos característicos à fotografia, ao cinema, ao cartaz, entrou em sintonia com as mudanças nas formas de percepção e na sensibilidade dos habitantes das grandes cidades brasileiras”
REVISTAS
“A entrada de diversos aparelhos (cinematógrafo, gramofone, fonógrafo) e transformações técnicas (como a litografia, por exemplo), indicou significativa alterações nos comportamentos e na percepção dos que passaram a conviver cotidianamente com tais artefatos”
Segundo Delso Renault, que realizou um estudo sobre o dia a dia da cidade do Rio de Janeiro, tendo como fonte a imprensa do contexto, lia-se nos jornais, com freqüência, a notícia da aquisição de maquinaria encomendada da Europa. Para ele, ao deixar a fase artesanal e ingressar no campo da indústria gráfica, as folhas evoluíram e o noticiário tornou-se mais vivo e atual. "Muitas mantiveram representantes no exterior e nas províncias e o repórter já é, a esse tempo, o profissional."
Para Jurgen Habermas, assim que a imprensa evoluiu tecnicamente e mentalmente, ela deixou de ser uma imprensa de informação e evoluiu para uma imprensa de opinião. Os jornais, passaram de meras instituições publicadoras de notícia, para transformarem-se em porta-vozes, condutores da opinião pública.
O riso e a mídia no Brasil do século XIX-XX
Angelo Agostini (1843-1910)
• É considerado o maior cartunista da segunda metade do século 19. Abolicionista e republicano, tinha dom Pedro II como principal alvo de suas piadas. Foi o criador de dois semanários, Diabo Coxo e O Cabrião, que sacudia a então pequena cidade de São Paulo, de apenas 20 mil habitantes, com hilariantes críticas ao poder instituído do imperador. Em 1876, funda a Revista Illustrada, considerada a publicação humorística de maior sucesso da época.
Caricatura de José Bonifácio por Ângelo
Agostini, com a legenda: "Festejos da Independência. Grande sarilho no
Largo de São Francisco na noite
de 8 de setembro. O Patriarca Bonifácio,
perdendo a paciência, esteve quase disposto a reagir contra os
turbulentos".
Revista Ilustrada, Coleção do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São
Paulo (USP)
Os bichos em defesa dos escravos
Revista Ilustrada
“Comovidos diante das desgraças
dos pobres escravos, os bichos fazem
uma representação à
Sociedade Protetora dos
Animais, pedindo que esta os
considere, ao menos, como
animais dignos da sua proteção” (Ângelo Agostini).
J. Carlos (1884-1950)
• O escritor José Lins do Rego costumava dizer que J. Carlos estava para a caricatura brasileira assim como Villa-Lobos para a música e Machado de Assis para a literatura. Ao todo, publicou mais de 150 mil desenhos na imprensa carioca, sendo a maior parte nas revistas Careta e O Malho. Costumava criticar os costumes da época e seus principais alvos eram os ditos “almofadinha” e “melindrosa” – espécie de avôs das “patricinhas” e dos “mauricinhos” de hoje. Na década de 30 trabalhou nas revistas Fon Fon e O Cruzeiro.
Caricatura de J. Carlos sobre a
campanha sucessória, 1937.
(Herman Lima. História da
Caricatura no Brasil, v.1)
Bastos Tigre (1882-1957)
• Colaborou com as revistas Tagarela, Careta e O Malho. Manteve durante mais de 50 anos a coluna Pingos e Respingos, uma das mais conhecidas seções da imprensa carioca, em que satirizava os fatos que eram notícia no Rio. A criatividade lhe serviu também para fundar a primeira agência de publicidade do Brasil, então – início do século 20 – apenas um pequeno escritório. É dele o famoso slogan repetido até hoje, “Se é Bayer, é bom”.
Ilustração da capa do livro Arlequim, 1922, de Dom Xiquote, pseudônimo de
Bastos Tigre.
Belmonte (1897-1940)
• Considerado o caricaturista mais importante de São Paulo no início do século 20. Criou o Juca Pato, personagem famoso em todo Brasil que retratava um burguês paulista sempre surpreendido com os abusos dos poderosos. Um de seus trabalhos mais famosos foi a série contra o nazifascismo publicada na Folha da Manhã.