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Cultura brasileira Gabriel Neiva [email protected] Cultura: conjunto de hábitos e práticas que definem o indivíduo ou o grupo / algo adquirido (como o hábito de fazer as necessidades na privada do banheiro) e dinâmico (os valores mudam, são dinâmicos) >>> dicotomia indivíduo/sociedade. >>> instituições. Cultura: alemão Norbert Elias >> a partir do século 18 França – civilização representa cultura, um gênero unificado, um todo. “universal”, progresso, as artes, a possibilidade de progredir. X Alemanha – Kultur, espírito nacional, estado nação. Caráter nacional: conjunto de características que definem o que é ser brasileiro. >>> identidade. >>> “essência”. 1) alemão Von Martius >> a tese das três racas: negros, índios e brancos, em 1843. Existe uma raça superior – normalmente, a raça europeia, a raça ocidental – e, a partir disso, podemos conceber o que é Brasil. De 1843 até o começo do século 20, isso foi muito forte no Brasil. 2) Euclides da Cunha, autor de Os Sertöes >> marcado pelo cientificismo, com outra visão de universo >> Canudos >> moderno versus tradição; sertão versus litoral. 3) Gilberto Freyre: >> culturalista. >> mestiçagem >> colonização. >> caráter >> diferenciado.

Cultura brasileira - Gabriel Neiva - PUC-Rio

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Cultura brasileira - Gabriel Neiva - PUC-Rio Caderno da G1 de 2013.2 da matéria "cultura brasileira".

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Page 1: Cultura brasileira - Gabriel Neiva - PUC-Rio

Cultura brasileiraGabriel [email protected]

Cultura: conjunto de hábitos e práticas que definem o indivíduo ou o grupo / algo adquirido (como o hábito de fazer as necessidades na privada do banheiro) e dinâmico (os valores mudam, são dinâmicos)>>> dicotomia indivíduo/sociedade.>>> instituições. Cultura: alemão Norbert Elias >> a partir do século 18

França – civilização representa cultura, um gênero unificado, um todo. “universal”, progresso, as artes, a possibilidade de progredir.

X

Alemanha – Kultur, espírito nacional, estado nação.

Caráter nacional: conjunto de características que definem o que é ser brasileiro. >>> identidade.>>> “essência”.

1) alemão Von Martius >> a tese das três racas: negros, índios e brancos, em 1843.

Existe uma raça superior – normalmente, a raça europeia, a raça ocidental – e, a partir disso, podemos conceber o que é Brasil. De 1843 até o começo do século 20, isso foi muito forte no Brasil.

2) Euclides da Cunha, autor de Os Sertöes >> marcado pelo cientificismo, com outra visão de universo >> Canudos >> moderno versus tradição; sertão versus litoral.

3) Gilberto Freyre:>> culturalista.>> mestiçagem >> colonização.>> caráter >> diferenciado.>> vida privada.“o brasileiro é único, é diferenciado por causa da mestiçagem, que é natural”.

4) Sérgio Buarque:>> Teoria WEBERiana >> ensaio / tipos ideais

5) Darcy Ribeiro >> matrizes do povo.

6) Raymundo Faoro >> Weberiano “ortodoxo”

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7) Marxista: >>> Caio Prado Junior. >>> Antônio Cândido.

8) Roberto DaMatta:>> Rituais que ajudam a definir o brasileiro, como o Carnaval, etc.

9) Gilberto Velho:>> antropologia urbana brasileira.

Rio, 15/08/2013

Interpretação:Caráter nacional (conjunto de características que definem o brasileiro. O que é ser brasileiro?)“Discurso inicial”

A tese de Von Martius é um discurso para chegar à indagação “quem somos nós?”. O Gilberto Freyre, por exemplo, refuta a tese de Von Martius. Discurso de Von Martius foi publicado em 1843.

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), 1838, História Oficial (Estado) >>> Modernidade do século XIX>>> Segundo Reinado; Pedro II; Monarquia forte; elitista; escravidão>>> Ciência, tecnologia, industrialismo na Europa

Von Martius: “Homem da ciência”“Doutrinas cientificistas”, como evolucionismo, determinismo, naturalismo, positivismo. >>>> etnocêntricas e europeias.

A raça é central para compreender o destino de um povo. Há a ideia de raça alemã, brasileira, etc. A ideia de miscigenação (mistura de etnias, mistura de raças) no Brasil: índios, brancos e negros. A nossa própria mistura nos diferencia deles, do povo da Alemanha, etc.

Meados do século 19, a miscigenação é vista como algo negativo. A mistura de raças não nos fez mais fortes, mas nos fez atrasado, periférico.

Existem certos tipos que pensam a ciência com o seu parâmetro de viver. “Homens da Sciencia” >>> Instituição de saber.

Faculdade do Direito do Recife: Silvio Romero. O Silvio Romero é o pioneiro e é o primeiro a analisar a literatura brasileira, de fato. O folclórico brasileiro. Ele diz que a literatura brasileira, o folclórico brasileiro é fetichista, uma fantasia. Se ela é fantasiosa, ela não é tão válida quanto a europeia.

Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro: Oswaldo Cruz. Tinha a ideia de higienizar o povo. Importante por criar métodos para lutar contra epidemias

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tropicais, como febre amarela, meningite. Sanitarizar, a higienização muitas vezes passa por um juízo de valor, por um julgamento de que muitas vezes aqueles que são impuros são classes mais baixos, negros, índios e mestiços. A gente vê isso muito na Revolta da Vacina, na época de Pereira Passos com a coordenação de Cruz. A população mais pobre, o principal alvo, reage. Há a imposição do Estado, a ideia de que o Estado sabe o que é melhor para as classes inferiores. O problema vital são esses traços genéticos impuros. O problema vital do país era os traços impuros, ou seja, negros, mestiços e índios. Monteiro Lobato era um entusiasta da eugenia, depois, mais velho, ele muda a ideia.

Faculdade de Medicina da Bahia: Nina Rodrigues. Tem gente que defende que ele foi um dos fundadores da antropologia no Brasil. Frenologia, craniologia. A crânio do africano era menor que o do europeu. Logo, o europeu seria superior ao africano. A raça era hierarquizada ao redor do mundo.

Von Martius pensa a miscigenação como aspecto negativo. No Brasil haveria três raças – brancos, negros e índios. Por isso, há a Tese das Três Raças. Houve o encontro dessas três raças, chamado de “mito inicial”. Daí começamos a nos entender como brasileiro; há o caráter nacional.

Hierarquia de raças. No nosso encontro de três raças existem raças superiores e inferiores. Dentro da nossa miscigenação há uma hierarquia. Branco está no topo da hierarquia, mais civilizado, superior, com mais influências europeias, a chave para a superioridade. Ele é a chave para a superioridade porque ele traz características europeias. Ele é o que mais tem recursos para se pensar a ideia de civilização. Em segundo lugar na hierarquia vem o índio. O índio é decadente, atrasado. Segundo Von Martius, o índio é “o resíduo de uma muito antiga e perdida história”; algo decadente, anterior. Já foi superior, e hoje não é mais. Analogia ao positivismo. Os estágios teológicos: 1. Teológico; 2. Metafísico; 3. Positivo. O estágio final, glorioso é o estágio positivo. O estágio forte, etc, é o estágio ocidental. Ele acredita que os índios, porém, estavam no estágio teológico. O índio Guarani, da obra de José de Alencar, é esse índio idealizado, decadente, romântico, anterior, anacrônico. Uma visão de que talvez fosse possível observar uma população em diferentes estágios. Na Europa, você encontraria homens no estágio positivo, enquanto na África, você encontraria homens no estágio teológico. Já em terceiro lugar na hierarquia fica o negro. Uma raça que acaba contaminando os brancos. Na tese, há a ideia de que “o negro gosta de falar, seu modo africano de falar, seu fetichismo trazem pensamentos poéticos sobre acontecimentos milagrosos”. O candomblé, o repente, a capoeira, etc, são exemplos dessa fantasia do negro. Não houve nem momento em que os negros foram grandiosos, como os índios. Eles são fantasiosos! Eles são fetichistas! Não é a Igreja católica, não são os esportes europeus. Essa visão cientificista vai marcar a forma como a gente enxerga; vai ser um discurso predominante no Brasil. A visã cientificista perdura durante muito tempo no Brasil. A gente faz a junção de raça para cultura e vai sair da visão negativa com Gilberto Freyre.

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Rio, 20/08/2013

“Euclides da Cunha lembra o povo brasileiro que as conquistas da civilização industrial não são tão incontestáveis que ele devesse se esquecer, em vez de se orgulhar, daquelas fontes virgens de humanidade, nas quais, entre todas as nações, pode se fiar para a construção de um futuro melhor” (Claude Levi Strauss)

Os Sertões: publicado em 1902, monumento, clássico (universal); interpretação de caráter/identidade nacional, interpretação de um Brasil de verdade, autêntico, a essência do Brasil >> jeito de ser, algo intrínseco. Sertão >> interior, rural.

O brasileiro que não desiste nunca; que apesar da seca do nordeste; da miséria, ele não desiste nunca.

Euclides da Cunha: modernidade (está no litoral; é a civilização; é a ciência; é a República) versus tradição (está no rural; é o bárbaro; não é cientifico; é autêntico).

O processo de modernização século 19 para o século 20 reafirma esse processo autêntico. Nesse momento que o Brasil quer se modernizar; está mudando de Monarquia para República; o Euclides da Cunha mostra outro lado do país.

Muita gente vai interpretar que o Brasil de verdade é o Brasil moderno. Essa é uma sensibilidade que Euclides da Cunha ajuda a definir. Uma sensibilidade sertaneja. Um homem da ciência que faz um trabalho antropológico, sem saber que é antropológico, consegue desvendar essa realidade.

Contexto histórico:Transição de Monarquia para República [modernidade]Guerra de Canudos

Os Sertões é obra literária, geográfica, histórica, antropológica, científica. “Bíblia de autenticidade”. A autenticidade está ligada à constante contradição do texto. Homem que encontra contradição diante dos seus valores tão tradicionais.

Euclides da Cunha: estudou na Escola Militar, onde os positivistas (>> era do ouro; doutrinas cientificistas), que foi um dos setores mais ativos para a queda do Pedro II, estavam em peso. Euclides da Cunha se forma nesse ambiente e se torna um homem da ciência. Euclides era como muitos outros da sua época, como foi o Sylvio Romero, Von Martius, etc, um homem da ciência. A ciência como discurso chave da sociedade. Euclides, assim como os outros, também acumulava funções: era engenheiro, jornalista, militar e aspirante a escritor. Pensava a partir das doutrinas cientificistas - evolucionismo, etc -, que têm a ciência como chave. O encontro com outro gera uma contradição e dessa contradição a gente consegue se entender como a essência do Brasil vai se tornar comum. Best seller aclamado por todo o círculo brasileiro; vendo no país todo. No governo Vargas, eles colocam “Os Sertões” no currículo escolar.

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Segundo Euclides da Cunha, a mestiçagem torna o sertanejo geneticamente inferior, por causa dessa mestiçagem de branco e negros. Ele é lambido; com a postura ruim, fraco, sem força. Porém, de alguma forma, o sertanejo ainda é o forte. Isso é uma contradição. “Apesar de tudo, forte (uma força herculiana)”. O sertanejo é um Hercules Quasímodo. A construção física de um corcunda não segura essa resistência, essa força do nordestino; esse poder de desistir. Euclides desafia a própria crença. Ele tira essa força sei lá de onde para não desistir; luta contra a forma corcunda, contra a forma desajeitada de viver. Ele arranja força sei lá de onde.

Gaúcho é mimado. Tem a genética a favor dele por causa da emigração europeia. Tem o clima temperado. Tem melhores condições para a agricultura; a vegetação a favor. Euclides diz que é muito fácil ser herói com esses fatores a favor. Euclides lista as vantagens do gaúcho e o considera aventureiro, fanfarão, diversas dificuldades, etc. É o playboy, daí é fácil ser o herói e se dar bem. O nordestino tem a miséria, etc. Gaúcho tem tudo disponível para ele e não saber dar valor à dificuldade, não sabe o que é dificuldade. Fome, seca. O nordestino dribla essas dificuldades com muito louvor e criatividade.

Determinismo geográfico: o local onde você vive e mora determina quem você é. Então se você mora na favela, você é pobre e bandido. É muito forte para o Euclides da Cunha. Ele acredita que o sertão determina e enfraquece o sertanejo até o ponto de ele sair do sertão. Ele volta depois, mas volta porque ele é forte. Fim da página 144. Apesar de ele ser fadado por ter nascido e ter sido criado no sertão, o sertanejo resiste, não desiste. Novamente, Euclides da Cunha se contradiz com o que ele considera ser o sertanejo (alguém geneticamente inferior, fraco, sem força, etc). O positivismo acreditava que existia um estágio de humanidade inferior. E Euclides acreditava que o sertanejo estava nesse estágio de humanidade inferior. Religião mestiça, espécie de cristianismo que se mistura com as crenças pagãs. Também davam espaço para o repente, desafios de rimas, que depois vão entrar no folclore/cultura popular.

Constante embaque entre modernidade e tradição.

Rio, 22/08/2013

“Antônio Conselheiro reunia no misticismo doente todos os erros e superstições que formam o coeficiente da redução da nossa nacionalidade. Arrastava o povo sertanejo não porque o dominasse, mas porque o dominava as aberrações daquele. Favorecia-o o meio e ele realizava, às vezes, o absurdo de ser útil” (Euclides da Cunha, “Os Sertões”)

“Os Sertões” é obra polifônica (várias vozes; contradição), interdisciplinar (texto antropológico, literário, geográfico, histórico, é a “bíblia da nossa nacionalidade” = nosso discurso fundador etc).

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A tragédia é um baque entre modernidade e tradição. Ambos em contato fará com que a tradição seja extinta. Estamos fadados à civilização. Ou progredimos ou morremos. É tragédia uma tradição que não tem força diante à modernidade.Homem da Sciencia (objetivo >> moderno >> litoral) versus Literatura (subjetiva >> tradição >> sertão >> “Brasil autêntico”)

Miscigenação >> Tese das Três Raças: A ideia de que o Brasil é formado pelo encontro dessas três raças. As três raças acabam por nos fundar. A nossa miscigenação nos fez uma raça inferior. Nesse sentido, ele não discorda com o Von Martius. Nós somos impuros; inferiores por causa dessa mistura que nos tornou impuro. Ele chama o sertanejo de subraça, porque é a mistura do branco bandeirante com o índio. Por ser uma mistura, é subraça. Para ele, em razão da miscigenação, o brasileiro é um atrasado; está num estágio anterior de humanidade; anacrônico (pessoa com pensamentos atrasados). Por estar no sertão, eles padeciam de uma modernidade. Eram de uma época anterior, de um tempo anterior. O homem da tradição, atrasado em contato com a modernidade. É atrasado, mas é forte; é Hércules Quasímodo. O encontro é a tragédia.

O principal personagem desse encontro entre modernidade e tradição é Antônio Conselheiro. Ele é atrasado; está num estágio anterior, mas não é degenerado.

Antônio Conselheiro vivia num ambiente de documento atávico (algo que passa de avó/avô para neta/neto, por exemplo). Isso num contexto de luta de famílias. Se a família Conselheiro era inimiga da família Araújo, nenhuma dos descendentes poderia fazer algo relevante para mudar a situação. Você nasce fadado a seguir um destino já desenhado.

Antônio Conselheiro, então conhecido como Antônio Marciel, era casado, mas a mulher dele fugiu com um policial. Daí ele foge por dez anos e volta. Ele se reinventa. O Antônio Marciel agora é Antônio Conselheiro. Agora ele é profeta; ele traz a palavra de Deus, que não é a palavra de Igreja Católica ou da elite. Ele vai para o confronto a partir da religião.

Antônio Conselheiro não seguia todos os viés da Igreja. Por exemplo, ele acreditava no casamento religioso. A Igreja dizia que o casamento poderia ser religioso ou laico. Daí a Igreja não está ao lado de Conselheiro. A elite era uma grande opositora de Conselheiro. Canudos falha. A carta de expedição aniquila Canudos. Sobram quatro – dois idosos, um cachorro e uma criança – para contar a história de Canudos. Depois descobre-se que os bárbaros só queriam sobreviver naquela terra. Jornais e pessoas se retratam. Euclides vai para refletir e escrever sobre o material que ele tinha. A grande tragédia é estamos fadados à civilização; ou progredimos ou morremos.

A tragédia de uma modernidade que se valeu do progresso para aniquilar as tradições.

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Rio, 27/08/2013

“O pensamento científico dos nossos autores é fabricado a partir de motivações reais vividas no presente e se associam aos grupos dominantes que teriam um projeto ou a consciência de um dilema de construção nacional” (Renato Ortiz – “Cultura brasileira e identidade nacional”)

Ideia de caráter nacional e ideia de identidade nacional.

Caráter nacional: conjunto de características que definem o brasileiro; o que quer dizer ser brasileiro?; como o conjunto de autores pensam em como é ser brasileiro;

Cultura é dinâmica. Essas interpretações sobre o Brasil também têm o caráter dinâmico. Ou seja, existe significado histórico da obras Os Sertões diferente no começo do século e hoje. É uma disputa sobre interpretações; é uma disputa por tentar definir uma interpretação autêntica do que é ser brasileiro. Os autores disputam para definir uma interpretação autêntica do que é ser brasileiro. Uma disputa por autenticidade.

Euclides buscava um Brasil de verdade, um Brasil autêntico. Mas não existe um Brasil autêntico, uma interpretação de verdade. Não tem Brasil de verdade, de algo que seja melhor do que outro. São várias reinvindicações sobre a autenticidade. Disputa constante até hoje em dia, quando você acredita que o diretor Tarantino faz filme de verdade e aquilo sim deve ser apreciado por ter a essência, etc. De certa forma, há um “senso comum” que indica, por exemplo, que os autores da bibliografia de Cultura Brasileira foram importantes no contexto brasileiro.

O que é ser brasileiro? Teorias cientificistas tratam a miscigenação como aspecto negativo ou pessimista da nossa existência. Por um lado a tese é preconceituosa e por outro, inovadora. Pela primeira vez, ela é levada a sério.

José Alencar era ultrapassado; defendia o abolicionismo, etc. Os modernistas queriam enterrá-lo.

A partir das Teorias Cientificistas, o negro passa a ser estudado; eles vão começar a levar a sério o estudo sobre o negro, apesar de forma preconceituosa. Antes, nem isso; era ignorado. Sylvio Romero dizia que tinham de estudar as pessoas fetichistas. As teses cientificistas foram importantes na construção do caráter nacional brasileiro. Esses estudos começam com Von Martius e os homens da Sciencia. No Brasil, a partir da abolição em 1888, isso vai ser estudado.

Não é meramente cópia do brasileiro; são teses europeias que são importadas para cá. Escolher teses cientificistas remete a um projeto de Brasil. No fim do século 19, no momento em que os homens da Sciencia escrevem os seus trabalhos, já existia gente criticando o evolucionismo, o positivismo, as teses cientificistas, etc. Havia um antropólogo alemão que batia de frente com isso,

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mas no Brasil as teses cientificistas que foram escolhidas, porque remete a projeto de pensar Brasil; de legitimar Brasil; de embranquecer. Projeto de uma elite sancionar a ideia de uma miscigenação e, por causa dessa dificuldade de embranquecer o país, os autores têm muitas vezes um teor pessimista.

Monteiro Lobato depois aponta: o problema vital do Brasil é a miscigenação; devemos higienizar o Brasil; limpar os traços indesejados.

Renato Ortiz: a tese das três raças é o mito inicial da nossa identidade. O discurso inicial do brasileiro é o encontro do branco, do índio e do negro. Encontro que foi visto durante muito tempo como algo pessimista, como algo que nos põe para baixo.

Exemplo de obra “O Cortiço”, de Aluízio Azevedo, de 1880. Azevedo era abolicionista, baiano. No livro, o João Romão abandona a mulher para viver com uma mulher negra (“se contamina”) e “vira vagabundo”. Trocou a vida pela gastação de dinheiro. Ser não-europeu era um aspecto negativo. O brasileiro era fruto de uma contaminação. Estamos fadados à inferioridade por causa da nossa mistura, da nossa miscigenação.

Quando a gente sai da miscigenação, da raça e vai para cultura?

A partir dos anos 20, a miscigenação passa a ser vista pelo lado positivo. Começa a observar o processo em curso. Um exemplo maior disso são os intelectuais modernistas. O modernismo é um importante momento dessa virada. Principalmente as obras de Mario e Oswald de Andrade. O segundo fez o Manifesto Antropofágico. A capacidade criativa brasileira de misturar a cultura própria e a do estrangeiro. Hamlet com Brasil: Tupi or not tupi, that’s the question. Freud e cultura brasileira. A Tropicália é isso, de certa forma, mistura tudo.

Gilberto Freyre é muito mais de modernista do que a gente pode imaginar. Ele é fundado a partir dessa sensibilidade modernista. Para ele, miscigenação é o que nos torna forte, único, diferenciado, melhor do que os outros até. Nossa miscigenação é positiva. Com isso, ele abandona a explicação racionalista para usar a ideia de cultura. Não mais o encontro de raças, mas o encontro de culturas; entre três culturas num país. Isso nos torna diferentes da Espanha, dos EUA; somos melhores, únicos, criativos, etc, por causa dessa mistura. Nossa culinária é diferente; a forma de pensar é diferente; nossa sexualidade é diferente. Escravos e senhores se encontro nesse lugar que é o Brasil. Primeiro livro de Freyre é lançado em 1933, momento em que era discutida a identidade nacional. Em Vargas, a gente começa a redefinir a identidade. Apesar disso, Vargas e Freyre se odiavam. Freyre privilegia o privado, a casa, o cotidiano. Ele vai pela primeira vez algo positivo e usar a tese culturalista.

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Rio, 29/08/2013

“A História social da casa grande é a história íntima de quase todo brasileiro. Da sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo escravocrata e polígamo, da sua vida de menino, do seu cristianismo reduzido à religião da família e influenciado pelas crendices da senzala” (Gilberto Freyre – “Casa grande e senzala”)

Gilberto Freyre pensa a miscigenação como algo positivo, encontro cultural. Com Freyre, as teses cientificistas se tornam nota de rodapé da História brasileira. Os caras, como Sylvio Romero, se tornam nota de rodapé. Em “Os Sertões”, há contradição.

Freyre traz fator culturalista; cultura explicativa da nossa existência. Ele olha para o passado para tentar entender o presente. Ele vai para o começo da colonização brasileira. Voltar ao passado remete a uma identidade nacional. Vai olhar para as ciências sociais.

A colonização brasileira é latifundiária, hierárquica, escravocrata e monocultura.

Apesar disso, somos híbridos e plásticos. Híbridos por causa da mistura dessas culturas. Plásticos por causa da flexibilidade (maleável) e da beleza; é flexível e belo.

Senhores/escravos eram contribuidores culturais. As pessoas não tinham o receio de se misturar. Vivemos numa democracia racial por isso. Não temos racionalismo a la Estados Unidos, América espanhola.

Ideia de equilíbrio dos antagonismos explica a nossa hibridez; apesar da hierarquia, da rigidez, culturalmente eles se equilibram. Seja na cama seja na etc etc. Equilibramos os nossos antagonismos. Ser brasileiro se funda no equilibro dos antagonismos.

Para ele, a rotina, a vida privada é o que desvenda a nossa identidade e, por isso, ele vai se desborcar na vida privada. É na vida privada que a gente descobre o que é ser brasileiro.

Era abordagem pouco comum. Freyre influencia outros autores. Essa abordagem da vida privada pode ser descrita como uma abordagem microhistórica ou microsociológica.

A macrohistórica e a macrosociológica lidam com as grandes estruturas, grandes eventos. Para ele, importam a rotina e a vida privada do brasileira. É a história íntima de quase todo brasileiro. Na sua vida doméstica, conjugal, etc. É em casa que tudo ocorre; é o que ocorre em casa que importa.

Tetralogia: 1) Casa grande da senzala, 1933;2) Sobrados e mocambos, 1936;

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3) Ordem e progresso, 1943;4) Mortos e jazigos rasos, ?;

Franz Boas: antropologia cultural moderna, um dos intelectuais mais importantes do século 20. Diz que culturas diferentes têm valores distintos. Culturas não podem ser superiores ou inferiores a outras. >> Relativismo cultural.

Somos de alguma forma parte dessa ideia do Boas. Gilberto Freyre foi convertido pelo Boas. Freyre tinha ideia parecida com a dos cientificistas. Depois de se encontrar com Boas, Freyre é despido pelo Boas. Vê a luz, consegue passar das teses cientificistas para cultura. Encontra outra forma de ver.

O encontro dos dois fez com que aquele homem influenciado pelas teses cientificistas fosse convertido para cultura. É uma história de conversão.

A vida privada, a casa, vai vencer as instituições. A vida institucional não tem tanta repercussão quanto a casa. A vida privada é a casa grande e a senzala. Por isso, ele vai privilegiar a arquitetura (híbrida). Existe uma mistura entre o que é luso e o que é brasileiro. Também vai privilegiar a religião.

1) Arquitetura (híbrido);2) Religião (“personalizar” a religião; a gente chama o santo pelo nome,

dá três pulinhos, etc);3) Gastronomia;4) Fofoca / vida sexual (aspecto fértil na vida do brasileiro).

Rio, 03/09/2013

Características gerais da colonização brasileira

“A família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado, nem nenhuma companhia de comércio, é desde o século 16 o grande fator colonizador. No Brasil, o capital que desbrava o solo, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América” (Gilberto Freyre – “Casa grande e senzala”)

Casa grande e senzala: antropológico (combate ao racismo; trabalho de campo), sociológico (usa conceitos sociológicos para entender o brasileiro; o caráter brasileiro), histórico (rotina privada; casa; passado para entender o presente; colonização), literário. É um romance sobre o que ele considera o ponto inicial da nossa sociedade; é o encontro entre dois grupos principais – portugueses (senhores de engenho) e negros (escravos) – que nos funda. Fundam sociedade hierárquica, escravista, híbrida e plástica. Sociedade economicamente e politicamente hierárquica e escravista, mas culturalmente híbrida e plástica. Há equilíbrio de antagonismo no âmbito cultural, porque o encontro negros e portugueses cria equilíbrio entre grupos diferentes.

Apesar da economia e do social, apesar de haver hierarquia muito forte, no âmbito cultural, o escravo negro é tão importante quanto o português. O

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português é o protagonista do Brasil e é um cara diferenciado. O português é o herói, o bonitão, o destemido, o aventureiro, voltado para atividades náuticas, o português nômade (“navegar é preciso” Camões). Português ao mesmo tempo europeu e africano, por causa da proximidade da península ibérica ao mar e por causa das aventuras. Ele não é o branquela, o português puro, é o português destemido que está mais próximo à costa africana, próximo aos muçulmanos.

O brasileiro é ao mesmo tempo acomodado e destemido. Não gosta de trabalhar, mas trabalha que nem um louco. Que brasileiro vagabundo é esse?

Freyre dizia que o português é negro; é misturado; é plástico; não nasce como um europeu qualquer. Freyre positiva o que muitas vezes foi visto como negativo, a mistura.

1. Mobilidade: capacidade do português de ir de um lugar para outro sem receios. Ele é extremamente móvel, plástico, flexível. É aquele que vai de um lado para outro sem dificuldade, sem questão que o prenda. O português é nômade. Isso faz com que ele viva.

2. Aclimatação: norte europeu. Apesar do clima inóspito, ele consegue se adaptar ao Brasil. Freyre diz que o português que não é branco puro consegue se adaptar porque já é constituído da sua mistura. O que era negativo agora é positivado. O português se adapta de forma diferenciada por causa da sua mistura.

O português já é miscigenado. Mistura cultural/sexual. Por causa da pouca densidade demográfica não houve pudor para transar com pessoas de culturais, etnias diferentes. Mouros = sarracenos – muçulmanos: não houve receio no encontro sexual, não tinha pudor. As relações sexuais ainda escondem uma hierarquia, um preconceito. Os preconceitos sexuais ainda existem no Brasil. A iniciativa particular é quem tem mais força no país e por isso a unidade social chave é a família. É uma sociedade iminentemente patriarcal. São os senhores de engenho que são os protagonistas nos âmbitos social e econômico do país. O pai que vai comandar aquela unidade chave em que tudo acontece que é a casa, o privado; o pai é a figura privada, política, econômica, social.

Rio, 05/09/2013

“A formação brasileira tem sido na verdade um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura a cultura europeia e a indígena; europeia e a africana. Mas predominando sobre todos os antagonismos e o mais profundo: o senhor e o escravo”. (Gilberto Freyre – “Casa grande e senzala”)

Gilberto >> Identidade nacional >> singular >> mistura versus hierarquia >> escravidão >> cultural

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O brasileiro acomodou aquele que era diferente, aquele que vinha de fora. Somos flexíveis, plásticos. O brasileiro tem mania de mandar; a hierarquia brasileira é mandonista.

Hierarquia: cana de açúcar; monocultura, latifúndio (privado >> cultura flexível/plástica >> negro), escravista.

Democracia racial

O colonizador branco tinha a intenção de apagar os índios; e o brasileiro, por outro lado, não fez isso, apesar da força hierárquica muito forte. No campo de cultura, restam dois grupos: escravos e brancos senhores de escravos.

Teses de que o brasileiro era mal alimentado, subnutrido.

A imposição da cana de açúcar na agricultura faz com que a alimentação do brasileiro seja ruim. Falta arroz, feijão. Tinha obsessão com o açúcar, que foi o produto delimitador da nossa economia.

Como ele consegue resistir, perdurar apesar disso tudo.

Hierarquia: pai é o cara do mando; sociedade patriarcal; hierarquia mandonista; parte de uma oligarquia (grupo de poucos); vontade grande impor o seu mando; imposição e direito do mando; masculinidade. Imposição quase sádica da masculinidade brasileira. Prazer pelo mando.

Rio, 10/09/2013“A casa, no século 19, continuou a influir sobre a formação social do brasileiro. O sobrado era mais europeu e o mocambos, mais africano ou indígena. E a rua, a praça, as festas, facilidades de comunicação entre classes e raças atenuaram os antagonismos e formaram um estilo de vida tipicamente brasileiro” (Gilberto Freyre – “Sobrados e mocambos”)

De que forma o que acontece no dia a dia nos revela quem nós somos. O livro trata sobre o século 18 e 19 no Brasil. De que forma o cotidiano nos revela uma identidade ou um caráter nacional; o que acontece e como o brasileiro pode ser definido. Ela aborda da própria forma a transição de campo para a cidade, como em “Casa grande e senzala”. Ou da casa para a rua.

Ele tenta entender a transição de uma tradição para uma modernidade. É a dicotomia chave do Gilberto. De que forma o Brasil faz transição de país agrário para urbano? O Brasil que se quer moderno, do século 18 e 19 começa a se urbanizar. As pessoas começam a ir para as cidades. Como isso afeta a vida social do brasileiro? O Brasil é um país que se quer moderno. A gente pode pensar modernidade como igualdade de direitos, igualitário, iluminista. O Brasil ainda é sociedade hierárquica, porém se pretende moderna.

Como o Brasil faz essa tradição? No livro anterior, Freyre descobriu que tudo acontecia na casa. Era um espécie de núcleo aglutinador; tudo ocorria ali. O

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Gilberto vai abrir nesse texto para a rua. A rua é um polo que se abre na transição para um Brasil urbano e que se quer moderno.

Todo mundo é, supostamente, igual na rua. Na casa, todo mundo é igual. A casa é um lugar onde todo mundo se conhece e tem o seu nome próprio; as pessoas têm papel diferenciado e não é impessoal, como é na rua. A rua abre polo impessoal de modernidade.

O Brasil é agora um país que se quer urbano, mas mantém, porém, as hierarquias. Freyre aprofunda metáfora que já começou no Casa grande e senzala. Um estilo social de habitação, a nossa casa, vai fazer nos entender quem nós somos. É uma metáfora para entendermos a sociedade brasileira. A dualidade entre sobrados (a casa da elite; ampla) e mocambos nos fazer entender as diferenças entre o campo e a cidade.

Você tem uma casa para os empregados. A casa de frente é o sobrado, e a casa de trás é a dos funcionários. É a senzala redimensionada para um momento urbano. Ocupação espaçosa do universo. A elite que não respeita a regra da rua. Mucambo ali é a habitação popular, que cada vez mais está distante da casa da elite. Nesse processo de modernização, o pobre e o risco se separam geograficamente e não habitam mais o mesmo lugar. A população pobre vai se afastar geograficamente e socialmente da elite.

A rua que não era vista por parte dos brasileiros vai começar a ser vislumbrada como resistência e polo de salubridade. A rua é um lugar onde todo, supostamente é igual. Como num lugar tão hierárquico quanto o Brasil, como a elite brasileira vai lidar com isso. A princípio, a elite fez da rua a extensão de sua casa. As pessoas surravam os escravos na rua. Isso acontecia direto só que numa hierarquia social diferente. As pessoas faziam xixi na rua. Não só isso, mas como às vezes pegavam o xixi e jogavam na rua. Não tinha saneamento básico. Caíam na porrada no meio da rua. Os escravos não podiam a princípio habitar a rua sem a autorização do senhor. Mulher não podia andar sozinha na rua. Quem habitava na rua era elite. A princípio, os donos do poder eram aqueles que poderiam tomar conta da rua. No momento em que o Brasil está mudando, ele começa a se tornar um lugar impessoal. Não pode mais jogar xixi no chão; construir sobrado até o fim da rua, etc. Passam a existir delimitações. A rua passa a ser uma zona de confraternização. A rua é o lugar de encontro entre os diferentes. A rua faz agora um papel de intermediário. É nesse momento em que criaremos formas culturais de encontro. É o carnaval de rua, a pracinha.

No século 19, o escravo vira cidadão e ex-escravo. Mestiço tem ascensão; mulato bacharel >> diploma; Professor liberal. Vivemos numa democracia racial.

Utilização de fontes diversas:Jornal, inventário, testamentos, atos jurídicos, livros históricos >> vias privadas

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Rio, 12/09/2013Autor que vai criticar Freyre. Estudo comparativo entre o preconceito no Brasil e o preconceito nos Estados Unidos. O preconceito de marca e o preconceito de origem.

“O brasileiro tem preconceito de ter preconceito” (Florestan Fernandes) “Ação afirmativa e participação democrática”

Oracy Nogueira: não existe democracia racial no país. Existe um racismo velado no Brasil. Tentaram esconder a ideia de que somos misturados. A partir de comparação do preconceito no Brasil e nos EUA, ele chega à conclusão que há preconceito de marca no Brasil e preconceito de origem nos EUA.

Relações raciais >> Projeto Unesco, cujos antropólogos eram:Charles Hagley – AmazôniaMarvin Harris – Minas GeraisThales de Azevedo - BahiaFlorestan Fernandes e Roger Bastide – São PauloOracy Nogueira – Itapetininga (1957) >> preconceito de marca

Preconceito de marca (> aparência) (Brasil) > democracia racial versus Preconceito de origem (EUA) > segregação > herança genética

1. Modo de atuarEntrada > Clube (recreativos) > exceções

2. AfetividadeCasamento >> embranquecimento;Interracional >> claro;Mestiços >> “status de branco” versus origem >> herança étnicaSegregação – “passing” – Phillip Roth

3. AmizadeMarca: brancos/negrosPessoas são amigos de negros, mas ao mesmo tempo são, sim, preconceituosos, racistas. O preconceito muitas vezes aparece por eufemismos, brincadeiras. Por exemplo, página 32 do texto.

Rio, 17/09/2013Sem aula

Rio, 19/09/2013“Trabalho e aventura” Sergio Buarque

“Sérgio Buarque aproveita o conceito tipológico de Max Weber; mas modificando-o, na medida em que focaliza em pares, não pluralidades de tipos, o que lhe permite tratá-los de maneira dinâmica, ressaltando a sua interação no processo histórico” (Antônio Cândido – “O significado de raízes do Brasil”)

O que existe no passado que pode ajudar a entender o presente? Buarque vai usar a metodologia weberiana para explicar Brasil.

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O Estado Novo representa a tentativa de um projeto para levar o Brasil para uma modernidade. Vargas tinha projeto de modernidade.

Será que Vargas rompe com práticas tradicionais? Será que Vargas quer romper práticas personalistas?

Segundo Buarque, no Brasil persistiram práticas personalistas; indicação para cargos de pessoas com as quais você tem relações próximas. Para ele, o Brasil dos anos 30 ainda é um país marcado pelas práticas tradicionalistas. Quer analisar essas práticas e descobrir como mudá-las. Buarque opta pelo método weberiano.

Método weberiano: heterodoxo (diferente do senso comum; elástico. oposto ao ortodoxo, que significa algo ao pé da letra, etc). Para Weber, a criação do tipo ideal é a criação de um personagem, de um estereótipo. No tipo ideal não existe estereótipo. Não existe ideal concreto. É impossível conhecer a realidade por completo.

É impossível fazer ciência e chegar a uma análise concreta da realidade de fato. Não dá. É impossível. Pode construir um método, construir uma tipologia. Construção de tipos que vão ser um auxílio para a gente. Tipo ideal, social para poder compreender por quê; compreender as motivações do outro. Quer saber as ações sociais desse personagem ou a ideia de conduta, que são motivados ou orientados por uma filosofia de vida, visão de mundo, ethos. Segundo Weber, tudo que a gente faz é motivado por um ethos/visão de mundo.

Essas motivações com um fim específico são chamadas de conexões causais. Qual é o tipo social chave que o Weber vai criar? O protestante, o calvinista. Qual é a visão de mundo desse calvinista? É ascético (controle racional das coisas. contrário de uma pessoa descontrolado, gastadora, etc). Esses calvinistas readaptam a ideia para o cotidiano deles. Assim, começam a acumular dinheiro, capital. O fim desse universo é uma Europa moderna, capitalista e nacional. Ele quer entender, compreender aquele universo.

Resumo: Sérgio Buarque cria tipologias para entender o que é Brasil. Influenciado pelo Weber, ele cria diversas tipologias para entender quem nós somos. Na realidade, o tipo ideal não existe; é o estereótipo exagerado para construir o personagem.

Também há um protestantismo motivado pela filosofia do controle racional. Quer ao menos entender como as coisas se conectam. A entrada do português no Brasil, o começo da colonização é uma das tipologias para Buarque entender o Brasil.

Trabalhador (calmo, comedido, trabalho a longo prazo, manual) versus aventureiro (vida fácil, benefícios sem esforço, visão folgada)

O tipo principal é o aventureiro, aquele que quer crescer sem se esforçar, aquele que deriva do português, nosso colonizador. Achar, enriquecer e pronto. Quero

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me esforçar o mínimo possível e prosperar. O repúdio ao trabalho manual? Quem quer lavar a louça, varrer a casa?

Não existe, porém, tipo ideal; é a construção do personagem exagerado para poder aprender, compreender o universo.

Para que eu vou inventar? Já existem as redes de dormir (dos índios), o tabaco, etc. Por que eu vou mudar esse modelo, fazer esse esforço se já existe um? Eu vou trabalhar, sujar minhas mãos? Quem exerce o trabalho manual na colônia? O escravo faz com que o português enriqueça mais rapidamente sem ter o esforço de colocar a mão na massa.

Vamos criar práticas que fazem com que continuemos a repudiar o trabalho manual. O trabalho manual é um trabalho impessoal. As pessoas passam a desprezar o trabalho manual. No Brasil, o caminho rápido para crescer sem esforço é conhecer alguém; é a prática personalista. Um trampolim para o sucesso será a minha ascensão. Quem eu conheço? Quem eu tenho afeto? Quem eu tenho QI? Busca trabalho não-manual que te dê prestígio. Interesse, troca.

Rio, 24/09/2013

“O homem cordial não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva, inclusive suas manifestações externas, não necessariamente sinceras nem polidas. O homem cordial é visceralmente inadequado às relações impessoais que decorrem da porção do indivíduo” (Antônio Cândido – “O significado de raízes do Brasil”)

O que havia acerca do pensamento no Brasil que podia se conectar ao pensamento ocidental?

Teses para entender as mudanças no mundo ocidental. Você vai lá para o passado para compreender o presente. Como fez Freyre, etc, e daí tratar de temáticas que são chaves da sociologia moderna e que faziam parte do programa lá no século 20 e no fim do século 19. Mudanças que ocorreram na Europa e começaram a afetar a América Latina. A passagem do meio rural para o meio urbano. Durkheim, Weber trataram sobre essa passagem (meio rural para meio urbano; meio rupestre para meio industrial; da tradição para a modernidade).

Mundo em que cada vez mais as instituições começam a ganhar força. Por isso um dos objetos clássicos da sociologia são as instituições. Como elas se constroem? Como os indivíduos se relacionam diante das instituições? Esferas da sociedade que ajudam a organizar, como família, Igreja, escola.

Estado-nação: instituição chave da modernidade. Qual é o papel do cidadão brasileiro? Debate sobre as instituições: a esfera pública (impessoal) e a esfera privada (pessoal). Qual deve ser o papel dessas instituições?

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Antígona versus Creonte. Disputa entre dois irmãos. Disputa entre a utilização da instituição. Antígona dizia que o Estado poderia servir a interesses individuais. Creonte, seu irmão, acredita que o Estado deveria servir a interesses impessoais. Remetendo a esse dilema, ele está pensando em esferas públicas e privadas. Podemos ter interesses privados numa instituição que é o Estado? Como a gente observa isso no dia a dia?

Weber fez tipologia para entender a gênese do Estado moderno europeu. Os tipos ideais existem para fazer com que a gente compreenda. Funcionário burocrata puro vai atrás de interesses impessoais. Já o funcionário patrimonial vai atrás de interesses personalistas. Burocrata puro é aquele que não usa do Estado para seus interesses pessoais. Já o patrimonial é aquele que vai aumentar o seu patrimônio, vai usar do Estado para as suas questões patrimoniais. É aquele cara que vai se valer do poder da instituição para se dar bem. O brasileiro confunde as esferas público e privada. Não é quem é mais competente é quem é mais próximo.

Homem cordial: Rural-urbano para chegar à modernidade. O tal do homem cordial, aquele que confunde as esferas público e privada. É aquele que atua com o coração, com afeto. Seja como político seja no seu cotidiano, ele é um homem que age com coração. Horror que brasileiro tem à frieza, ao impessoal. Vai chamar de Ethos personalista a visão de mundo.

Não há burocratas puros, mas há pessoas que agem como burocratas puros. O político que entra correto, segundo dizem, eles falam que não vai durar nada e que terá de se corromper em algum momento. Porque você deve, para sobreviver ao jogo, jogar de forma personalista.

Instituição que é moderna para nós, brasileiros, as ONGS. Quão é frequente denúncias de desvio de dinheiro de organizações não governamentais? Filme: “quanto vale ou é por quilo?”. Se você tiver numa concorrência de um estágio de uma grande rede de televisão ou agência ou produtora e você não tiver alguém que te indique, quais são as suas chances? É nosso horror à esfera impessoal. Mostram como a nossa emoção, o nosso afeto norteiam as nossas práticas. Buarque diz que o brasileiro tem horror à frieza e cria mecanismos para se aproximar das hierarquias impessoais e frias.

O uso de diminuitivos É o cafezinho, Bernardinho. O uso de nomes próprios. Gabriel e não senhor mestre Gabriel. Herr Nehls, Frau Hellmann e não o primeiro nome.

Religião do brasileiro é religião personalista, de proximidade pessoal, proximidade com santos, com tudo. Cida era a Aparecida; Santa Aparecida para a avó do Gabriel. Não só ela, mas outras pessoas também a chamam de Cida. Santa Terezinha, por exemplo, uso o diminuitivo. Essas mudanças remetem a essa cordialidade do brasileiro que é transmitida em diversos momentos do cotidiano. Seja em diversos múltiplos lados e partes da vida social.

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Rio, 26/09/2013

“O trabalho mental que não suja as mãos e não fatiga o corpo pode constituir ocupação em todos os sentidos digno de antigos senhores de engenho e seus herdeiros. Não significa forçosamente amor ao pensamento especulativo, mas amor à frase sonora, ao verbo abundante, à erudição ostentosa” (Sérgio Buarque – Herança rural)

O projeto de Buarque é identificar o nosso caráter nacional, o que podemos chamar de raízes, e dessas raízes aniquilar, alterar, mudar com esses vícios, características, práticas anteriores. As raízes dos brasileiros são extremamente conservadores. Governos passam, políticas se alteram, e as características continuam. Nós continuam as personalistas. A personalista permanece. O maior símbolo do país é o da família, não aquela família de sangue, mas quem eu conheço, o padrinho. O brasileiro quer ter prestígio ascendendo da forma mais rápida possível. Tentativa de ascender sem esforço. Caio Castro acredita, por exemplo, que tem prestígio suficiente para furar a fila do brinquedo no Rock in Rio.

Weber é o grande parâmetro intelectual de Buarque. Weber tem o método da tipologia. O tipo ideal não existe; é uma construção, é o exagero, é uma generalização. O ethos personalista continua hoje em dia ou não? Conclusão: o ethos personalista se mantém. O tipo ideal aventureiro, aquele cara que funda o país, tem horror a trabalho manual, usa da agricultura, do universo rural e está criando horror a trabalho livre. Consolida o ethos que é personalista e patriarcal. Homem cordial, que traz transição da colônia para a cidade. O terceiro é o bacharel que vai dar conta do universo do século 19 para o século 20. É o tipo principal do Buarque no texto. Tipo ideal de homem do Brasil que está se modernizando. Os “Homens da Sciência” são bacharéis e têm prática personalista. Esses caras são profissionais liberais (médico, professor, jornalista, profissional público). Qual é a particularidade do bacharel no Brasil? É aquela ideia que persegue de que eu posso ascender, devo ascender o mais rápido possível mesmo se eu fizer algo que eu não gosto. Queriam estabilidade, grana. Hoje em dia, por exemplo, deseja-se ser funcionário público pelo dinheiro e pelo prestígio. Não escolha profissões que não vão te dar retorno imediato.

Palavras rebuscadas: teorias, científicas e europeias. Juridiquês usado por muita gente ainda é dominado por poucos e, de qualquer forma, você embeleza, torna difícil. No poema, na arte, no juridiquês, etc. É o intelectual brasileiro, o Homem da Sciência. Buarque repudia essa prática socialista. Palavras difíceis muitas vezes escondem a nossa ignorância, esconder o horror pelo trabalho manual, etc. Ele está falando de outro universo que, de certa forma, mantém o ethos desta vez já num universo urbano com homens da letra que tinham inclinação para usar palavras difíceis sem necessidade.

Homem da SciênciaNão dá conta da realidade. Os Homens da Sciência se afastam da realidade concreta, porque não entendem, são preguiçosos, são pessimistas. Tentam usar

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as palavras rebuscadas para falar sobre o que não entendem, para mascarar a preguiça intelectual.

Machado de Assis escreve sobre Quincas Borba. Borba cria uma tese científica. Às vezes são muitas palavras rebuscadas que não querem dizer nada; tese super-rebuscada que, na verdade, não quer dizer nada.

Ideia de que uma revolução no longo prazo para mudar o comportamento da sociedade. Revolução vertical, de baixo para cima, com o objetivo de exterminar o ethos personalista.

Rio, 01/10/2013

“Não se iluda comigo, leitor. Além de antropólogo, sou homem de pé e partido. Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por um fundo patriotismo. Não procure, aqui, análises isentas. Este é um livro que quer se participante, aspira a ajudar o Brasil a se encontrar” (Darcy Ribeiro, “Prefácio”, O povo brasileiro)

Darcy Ribeiro: caráter nacional >> contexto histórico 1940-90. Caráter nacional >> O povo brasileiro (1995).

A pergunta dele em 1945 é por que o Brasil não deu certo; por que o Brasil não dá certo; o que nos falta.

Para Darcy, o brasileiro tem múltiplas matrizes que formam a identidade única.

Os Brasis: criolo (litoral); sertanejo (nordeste); gaúcho (sul); caipira (centro oeste/interior paulista); caboclo (Amazônia).

Apesar de tudo, temos semelhanças, diferenças, mas nos vemos como brasileiros.

Há processo violento das classes dirigentes (elites, classe superior) esmagando a classe inferior. Tanto na época em que ia ocorrer as Reformas de Base, na época do João Goulart, quanto depois. Darcy era pedetista, foi candidato a governador e perdeu, foi vice e estava sempre de mãos dadas com Brizola.

Rio, 03/10/2013Filme

Rio, 08/10/2013Revisão

Cai na prova, dia 17/10: Von Martius, Gilberto Freyre e Sergio Buarque. São quatro questões para escolher duas.

Von Martius é o primeiro intérprete da ideia de caráter nacional, conjunto de características que definem o brasileiro. Ele tem a tese primordial de que o Brasil começa, inicia a partir da Tese das Três Raças – branco, índio e negro. Essa tese diz que a mistura de raças, ou seja, a miscigenação é negativa. Von Martius se

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baseia na teoria cientificista – determinismo geográfico, biológico, determinismo, positivismo. A ideia de que a ciência norteia a explicação do homem. Von Martius se inspiras nessas doutrinas que eram em 1843 vanguarda na Europa. Tese das Três Raças ganha muita força no Brasil do século 19 e influencia intelectuais que vão começar a pensar no Brasil, os homens da Sciência. Esses homens da Sciência também são influenciados pelas teorias cientificistas. Raça indígena e raça negra inferiorizavam e tornavam o Brasil inferior, impuro em relação às raças europeias. O Brasil estava fadado à inferioridade, por causa dessas teorias cientificistas.

Gilberto Freyre diz que a miscigenação aqui no Brasil foi positiva. Ele faz transição entre o fator raça para o fator cultura. Sai das explicações racialistas, cientificistas que perduraram durante muito tempo no país para o país ser explicado a partir dos seus fatos, dos seus valores, a partir de práticas sociais. Franz Boas é o pai da antropologia cultural; fala que não é possível dizer que uma cultura é melhor do que a cultura, mas sim que o valor é relativo em relação ao outro; e nasce a tese, a forma de ver o mundo, o relativismo cultural, a ideia de que os valores entre culturas não podem ser hierarquizados, que nos ajuda a aceitar a diferença entre povos. O Brasil é um encontro de cultura, e não mais um encontro de raças. A nossa cultura deveria ser explicada pelo fator cotidiano, que define quem é esse brasileiro. Ele refuta interpretações macrossociológicas, macro-históricas das estruturas. Para ele, isso não importante, pois cultura passa pela rotina, pelo cotidiano no brasileiro, pelo universo da casa.

O Brasil se vale desse encontro de culturas. O Brasil é uma hierarquia monocultora, escravista, latifundiária e patriarcal, que se vale de uma figura principal, que é o pai. Nesse encontro cultural, principalmente com escravo negro, o Brasil se tornou um país híbrido e plástico. Vê a miscigenação brasileira de forma positiva. A copeira, o samba, o futebol, o carnaval, etc. Nossa capacidade de misturar as coisas. Isso nos tornou único. Apesar de termos uma hierarquia racial, escravista, conseguimos ter equilíbrio dos antagonismos. Esses antagonismos se equilibram. Nossa capacidade de ter hierarquia e fazer com que o outro possa contribuir. Em outros lugares, aquele que está no topo da hierarquia aniquilou os extratos mais baixos. No Brasil, esses caras, os estratos mais baixos, podem contribuir para a cultura brasileira. O brasileiro tornou muitas vezes a rua parte de sua casa.

Para Sergio Buarque, você também olha o passado para analisar o presente, mas ele opta pela teoria weberiana. A teoria do Weber se baseia na construção de tipos ideais. Você não consegue entender o passado por completo; não tem como refletir a realidade do passado por completo; a ciência não dá conta disso; é impossível. Para dar conta disso, precisamos criar modelos de conduta. Buarque foi o pioneiro ao trazer tese weberiana para a construção do pensamento brasileiro. A construção de tipos ideais; a criação de estereótipos entre certas características. Já que é tão difícil entender a realidade, vamos exagerar e criar um modelo estereotipado de comparações. Quais são as ações sociais e as motivações? Weber constrói modelo para pensar como as pessoas agem. Para ele, as pessoas são influenciadas por um ethos, uma visão de mundo. Isso gera um fim. Toda ação social é motivada por uma filosofia de visa, por uma visão de

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mundo. Buarque aplica isso à realidade brasileira para tentar entender o que é ser brasileiro, quais são as raízes do Brasil. Ação social é construção de uma nação brasileira, e o ethos que permeia o brasileiro é o ethos que tem uma extrema aversão ao impessoal e ao trabalho manual. Também podemos definir como o ethos personalista, visão de mundo personalista, laços pessoais, afetivos. Aversão ao trabalho manual no longo prazo. O que importa é quem eu conheço, aquele que vai me ajudar a ascender, ascender sem trabalho de esforço, sem trabalho manual.

O primeiro tipo ideal que ele define é o aventureiro. Caracterizado por ter horror ao trabalho manual, ao esforço, quer vida fácil. O que eu posso fazer para ascender o mais rápido possível sem me esforçar? Para que eu vou me esforçar? O que importava era quem você era, e não o que você tinha feito para chegar lá.

O segundo tipo ideal é o homem cordial, aquele que intermedia a transição de homem rural para urbano. O cara que confunde o público e o privado. É mais rápido pelo lado pessoal da coisa. Cordialidade. É do coração, é do afeto. O brasileiro tem dificuldade de separar o pessoal do impessoal. O que importa é o afetivo, e não o racional. Confunde a esfera pública com a privada.

O terceiro tipo ideal é o bacharel, o homem da Sciencia, um intelectual que quer ascender a qualquer custo. O homem da Sciencia se vale das doutrinas cientificistas que parecem complexas, mas que, na verdade, são toscas. Crítica ao cientificismo. Por mais que pareçam difíceis, elas são toscam e demonstram a preguiça do intelectual brasileiro. Tem relação direta com a geração que Von Martius influenciou. São formas de eles serem beatificados por teses que são toscas. Acredita que o positivismo, por exemplo, é tosco. Intelectual brasileiro quer o reconhecimento rápido. Parecem mega-elaboradas, complexas, mas são toscas. Querem impressionar pelas palavras difíceis.... Aversão a se expressar claramente e de buscar maneiras rebuscadas.

É preciso arrancar essas condutas, essas raízes do brasileiro, e construir um novo Brasil com uma revolução vertical.