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O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA (Cultura, Memória, Identidade e Desenvolvimento) Profº Viegas Fernandes da Costa

Cultura, Memória, Identidade e Desenvolvimento

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O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA(Cultura, Memória, Identidade e Desenvolvimento)

Profº Viegas Fernandes da Costa

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O QUE É CULTURA?

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 Segundo Marcel Mauss (1872-1950), podemos admitir com certeza que se uma criança senta-se  à  mesa  com  os  cotovelos  junto  ao  corpo  e  permanece  com  as  mãos  nos joelhos, quando não esta comendo, ela é  inglesa. Um jovem francês não sabe mais se dominar: ele abre os cotovelos em leque e apoia-os sobre a mesa.

Todos os Homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo,  ao  invés  de  ser  determinada  geneticamente  depende  de  um  aprendizado  e este consiste na copia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo.

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  Todo  comportamento  aprendido,  tudo  aquilo  que  independe  de  uma transmissão genética. (Edward Tylor).

  A  cultura  é  um  processo  acumulativo,  resultante  de  toda  experiência histórica  das  gerações  anteriores. O  ser  humano  resulta  do meio  cultural  em que é criado. (Alfred Kroeber).

Conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções que governam o comportamento. (Clifford Geertz).

  O  ser  humano  cria  normas,  o  que  permite  a  organização  social.  (Lévi-Strauss).

 O ser humano cria símbolos, o que permite interpretar o meio e perpetuar a cultura. (Leslie White).

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“A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas

das coisas” (Ruth Benedict)

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 Os Indivíduos participam diferentemente de sua cultura.

 A participação do  indivíduo em sua  cultura é  sempre  limitada, nenhuma pessoa é capaz  de  participar  de  todos  os  elementos  de  sua  cultura.  Todos  necessitam  saber como agir em determinadas situações e, também, como prever o comportamento dos outros. Em nenhuma sociedade todas as condições são previsíveis e controladas.

 Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo.

 As culturas são dinâmicas.

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O EUROCENTRISMO

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Carta de “achamento”, escrita por Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal:

“ali andavam entre eles três ou quatro moças, muito novas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos, caídos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.”

“Os pelos do corpo são um signo de virilidade para os europeus. Ao se depararem com os 

índios imberbes, alguns filósofos acharam que isso era mais uma demonstração da suposta 

inferioridade dos habitantes da América. Homens sem pelos, segundo esses pensadores 

europeus, seriam incapazes de dominar a natureza e de construir cidades modernas e 

prósperas como as europeias”

(Kury, Lorelai, Hargreaves, Lourdes & Valença, Máslova. Ritos do corpo, 2000)

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HANS-STADEN, séc. XVI

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Terra Brasilis, Lopo Homem, 1519.

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Mapa da América do Sul, Pierre Descelliers, 1550.

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IDENTIDADE

Stuart Hall: é sempre uma representação sobre si mesmo, é a posição que assumimos na sociedade e para nós mesmos a partir da relação que estabelecemos com o “outro”.

Édouard Glissant: “(...) é disso que se trata: de uma concepção sublime e mortal que os povos da Europa e as culturas ocidentais veicularam no mundo; ou seja, toda identidade é uma identidade de raiz única e exclui o outro.   Essa visão da identidade se opõe à noção hoje  ‘real’,  nas  culturas  compósitas,  da  identidade  como  fator  e  como  resultado de uma crioulização, ou seja, da identidade como rizoma, da identidade não mais como raiz única mas como raiz indo ao encontro de outras raízes.”

  Jane  Tulkian:  “(...)  o  impacto  global  reflete  sobre  a  tradição,  relegando-a  a  um  outro plano diante da quantidade de informação, do dinamismo, da alteridade, obrigando a uma espécie de identidade relacional, onde o ‘mesmo’ define a própria historicidade e o ‘outro’ representa o código de diferenciação.”

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O EUROCENTRISMO E O RECONHECIMENTO DO PATRIMÔNIO NACIONAL

 Etnocentrismo: perspectiva da catequização, da “transferência de civilização”, de território “vazio”.

 Povos nativos tradicionalmente considerados como inimigos ferozes que atrapalhavam o progresso.

 “A gente comum sente-se alienada tanto em relação ao patrimônio erudito quanto aos “humildes” vestígios arqueológicos, já que são ensinados a desprezar índios, negros, mestiços, pobres, em outras palavras, a si próprios e a seus antepassados.” (FUNARI, FERREIRA, 2015)

 Valorização do patrimônio luso-brasileiro enquanto representativo da identidade nacional.

 Influência do Positivismo na construção da República brasileira contribuiu para a rejeição do antigo em benefício do novo (modernidade).

 1937: criação do Serviço do Patrimônio  Histórico e Artístico Nacional (Mário de Andrade).

Destruição do Sambaqui de Congonhas, em Tubarão  (SC)  para  exploração  econômica. (Foto: Castro Faria em 23/11/1964).

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  Estado  Novo  (Ditadura  Vargas):  Monumentos  e  cidades  coloniais  portugueses  são transformados  em patrimônio cultural nacional.

 Meados do século XX: Paulo Duarte e Darcy Ribeiro defendem a inclusão do patrimônio pré-colonial e as culturas indígenas como patrimônio cultural brasileiro.

  Ditadura  Militar:  investimento  turístico  nas  cidades  coloniais.  Política desenvolvimentista,  priorizando  grandes  obras  de  infraestrutura  (perspectiva  ideológica autoritária  e  homogenizadora),  que  se  refletiu  na  centralização  do  próprio  IPHAN  e  na atuação  dos  profissionais  técnicos  (arqueólogos,  historiadores,  arquitetos  etc),  também autoritária .

“No  es  inusual  que  uma  comunidad  local,  indígena  o  cimarrona, perciba  um  sitio  arqueológico  de  su  territorio de manera diferente  a como lo hacen los arqueólogos y turistas, distantes de los costumbres locales. (...) És así como los arqueólogos deben superar suas proprios prejuicios  y  la  tentación  de  ridicularizar  tanto  las  interpretaciones indígenas como las de los turistas”

(FUNARI, MANZATO, ALFONSO, 2013, p. 44)

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“Em Garopaba a destruição foi feita pela prefeitura em 1975, que mandou quebrar a

marretadas os amoladores do Costão da Casqueira, para aproveitar as pedrinhas negras

no calçamento da praça central.”

Keler Lucas, 1996, p. 109

“Na Praia do Santinho, em Florianópolis, até o ano de 1946 os pescadores locais faziam oferendas e rezavam, pedindo proteção e boa pescaria, em frente a uma arte rupestre com o formato de um pequeno santo, que era a figura de um antropomorfo com a cabeça constituída por um círculo concêntrico. Tal “Santinho”, que deu nome à praia, foi arrancado do lugar pelos padres que achavam que aquilo era um sacrilégio e nunca mais foi encontrado. É um caso raro em que um símbolo sagrado pré-histórico continuo sendo sagrado até os dias de hoje.” (Keler Lucas, 1996, p.16)

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COMO VALORAR O PATRIMÔNIO?

Fragmento de cerâmica encontrado nas Dunas da Ribanceira, Imbituba (09/2015) – Foto: Rossano Lopes Bastos.

Extração de areia nas Dunas da Ribanceira. Boa parte da areia utilizada na construção da ponte Anita Garibaldi (Laguna) foi extraída desta localidade. (Foto: Polícia Federal, 2011).

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O QUE COMPREENDEMOS POR DESENVOLVIMENTO

?

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 Desenvolvimento enquanto uma invenção da modernidade.

Teleológico, que indica um sentido, uma evolução.

Discurso do progresso.

 Confusão entre desenvolvimento e crescimento.

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Meados do Século XX

Emergência do conceito de desenvolvimento sustentável.

Guerra Fria, crises ambientais.

Marcos

Conferência das Nações Unidas em Estocolmo (1972).Relatório Brundtland (1987).Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (1992).

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 Dentre os princípios da sustentabilidade do Relatório Brundtland está  a proteção da herança cultural humana.

O que é, entretanto, esta herança cultural humana?

Como definir a própria cultura humana?

Como determinar aquilo que se constitui como patrimônio cultural de uma comunidade?

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Segundo Ignacy Sachs, os discursos ancorados no crescimento econômico  não  promoveram,  durante  a  década  de  1980, equidade  social,  pelo  contrário,  aprofundaram  índices  de pobreza e perpetuaram a dicotomia Norte – Sul. 

Assim,  insistiu  na  necessidade  da  dimensão  ecológica  como garantia para a sobrevivência humana.

Alertou para os riscos de se superestimar o desenvolvimento tecnológico.

Para Sachs, o ecodesenvolvimento possui cinco dimensões: 

sustentabilidade socialsustentabilidade econômicasustentabilidade ecológicasustentabilidade espacial (equilíbrio rural – urbano)sustentabilidade cultural. 

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Como forma de ação, Sachs defendeu que uma estratégia de desenvolvimento só tem sucesso se contar

com a participação dos grupos e comunidades locais.

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E O PATRIMÔNIO CULTURAL?

 Patrimônio enquanto lugar de memória.

  Memória  enquanto  campo  de  disputas  políticas  e simbólicas.

  Memória  e  sua  relação  com  o  território,  o  lugar,  a paisagem. Mudanças na paisagem promovem alterações na memória.

 Patrimônio enquanto discurso identitário.