14
FICHAMENTO Santaella, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. O Que é Cultura “A cultura é como a vida. Sua tendência é crescer, desenvolver-se, proliferar” (p. 29). “[...] ela tende a se expandir como um gás para ocupar todo o espaço disponível; ela se adapta às exigências do espaço que se tornou disponível; ela se desenvolve continuamente em níveis de maior complexidade; quanto mais complexo o nível de sua organização, mais rapidamente a vida cresce” (p. 29). “[...] Sua disposição para o crescimento é natural. Também como a vida, quando encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a cultura se alastra, floresce, aparece, faz-se ostensivamente presente” (p. 29). “[...] a cultura é aprendida, que ela permite a adaptação humana ao seu ambiente natural, que ela é grandemente variável e que se manifesta em instituições, padrões de pensamento e objetos matérias” (p. 30). “[...] a cultura é a parte do ambiente que é feito pelo homem. Implícito nisto está o reconhecimento de que a vida humana é vivida num contexto duplo, o habitar natural e seu ambiente social” (p. 31).

Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Visão da autora sobre a cibercultura, artes e cultura no pós-humano.

Citation preview

Page 1: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

FICHAMENTO

Santaella, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à

cibercultura.

O Que é Cultura

“A cultura é como a vida. Sua tendência é crescer, desenvolver-se, proliferar” (p. 29).

“[...] ela tende a se expandir como um gás para ocupar todo o espaço disponível; ela se

adapta às exigências do espaço que se tornou disponível; ela se desenvolve

continuamente em níveis de maior complexidade; quanto mais complexo o nível de

sua organização, mais rapidamente a vida cresce” (p. 29).

“[...] Sua disposição para o crescimento é natural. Também como a vida, quando

encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a cultura se alastra, floresce,

aparece, faz-se ostensivamente presente” (p. 29).

“[...] a cultura é aprendida, que ela permite a adaptação humana ao seu ambiente

natural, que ela é grandemente variável e que se manifesta em instituições, padrões

de pensamento e objetos matérias” (p. 30).

“[...] a cultura é a parte do ambiente que é feito pelo homem. Implícito nisto está o

reconhecimento de que a vida humana é vivida num contexto duplo, o habitar natural

e seu ambiente social” (p. 31).

“[...] a cultura é mais do que um fenômeno biológico. Ela inclui todos os elementos do

legado humano maduro que foi adquirido através do seu grupo pela aprendizagem

consciente [...] por processo de condicionamento - técnicas de várias espécies, sociais

ou institucionais, crenças, modos padronizados de conduta” (p. 31).

“[...] Barnard (1973: 613) nos informa que, embora tenha tido sua origem no mundo

latino, a apalavra cultura só foi se tornar corrente na Europa na segunda metade do

século XVIII, quando o termo começou a ser aplicado às sociedades humanas” (p. 31).

Page 2: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

“[...] Aos significados herdados, logo se juntaram tantos outros que, antes da última

década do século XVIII, a proliferação dos seus sentidos levou o filósofo alemão J. G.

von Herder a afirmar que nada poderia ser mais indeterminado do que a palavra

cultura. Dessa época em diante, os sentidos se estenderam até ao ponto de levar o

escritor A. Lawrence Lowell a dizer, em 1934, que nada no mundo é mais elusivo do

que cultura” (p. 31).

A Concepção Humanista e a Antropológica

“[...] Enquanto que na concepção antropológica a cultura é, por natureza, plural e

relativista, quer dizer, o mundo está dividido em diferentes culturas, cada uma delas

valiosa em si mesma, para os humanistas, algumas pessoas tem mais cultura do que

outras e alguns produtos humanos, tais como artes visuais, música, literatura, são mais

culturais do que outros (Barnard e Spencer 1996: 136)” (p. 33).

“É dessas duas concepções que derivam os sentidos de cultura que se tornaram

correntes: o sentido lato e o sentido escrito [...]. O sentido lato descreve todos os

aspectos característicos de uma forma particar de vida humana. O sentido escrito é

uma província das humanidades, cujo objetivo é e interpretar e transmitir as gerações

futuras o sistema de valores em função dos quais os participantes em uma forma de

vida encontram significado e propósito” (p. 34).

“[...] acultura pode ser pensada como um agente causal que afeta o processo evolutivo

através de meios exclusivamente humanos, na medida em que permite a avaliação

autoconsciente das possibilidades humanas à luz de um sistema de valores que reflete

as idéias prevalecentes sobre o que a vida humana deveria ser” (p. 34).

Cultura e Civilização

“De acordo com Barnard, para escritores como Kant, Coleridge e Matthew Arnaold, a

cultura representa essencialmente as condições morais do indivíduo, enquanto a

Page 3: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

civilização significa as convenções da sociedade. Invariavelmente a primeira está

associada a valores espirituais, a segunda a valores materiais” (p. 35).

A Cultura na Antropologia

“[...] tudo aquilo que pode ser entendido como uma organização, como uma regulação

simbólica da vida social pertence a cultura, sendo esta a maneira pela qual se

agenciam num mesmo todo elementos tão diversos [...]” (p. 37).

“Todos esses traços culturais formam um conjunto de modelos diferentes de

organização da vida social, de acordo com a sociedade que a etnologia descreve ou

mesmo de acordo com os grupos estudados dentro de uma mesma sociedade” (p. 37).

“[...] a história antropológica da cultura começa quando se insiste no uso da palavra

cultura no plural, ‘culturas’, pois nesta pluralidade esta a chave do sentido moderno de

cultura na antropologia” (p. 38).

Os Traços da Cultura

“[...] a cultura está relacionada com ações, idéias e artefatos que os indivíduos numa

dada tradição aprendem, compartilham e avaliam” (p. 43).

“Via de regra, as ações, idéias e artefatos são englobados sob uma rubrica mais geral

denominada comportamento e costumes” (p. 43).

A Cultura Como Fenômeno Histórico

“[...] Costumes, crenças, ferramentas, técnicas difundem-se de uma região para outra,

de um povo para outro. Os elementos culturais tem assim uma história cronológica.

Isso envolve questões tais como origem, crescimento e diferenciação cultural através

da história” (p. 43).

Page 4: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

A Cultura Como Fenômeno Regional

“[...] Esse caráter geográfico define certos costumes, artes, religiões etc. Como

pertencentes às regiões em que eles existem. Assim, um certo hábito social de uma

região pode ser absorvido por outras regiões” (p. 44).

Os Padrões Culturais

“[...] A cultura tende a ser padronizada. Ela envolve a repetição de comportamentos

similares aprovados pelo grupo, de modo que ela tem uma forma estruturada e

reconhecível. Se os indivíduos ajustam seu comportamento através do tempo de

acordo com o padrão aprovado, a cultura permanece estável” (p. 44).

“[...] há padrões gerais ou universais que se expressam em categorias tais como

atividade econômica. Religião, arte e língua” (p. 44).

As Configurações da Cultura

“[...] uma cultura tende a ser integrada. Ela apresenta configurações, quer dizer,

premissas, valores e objetivos mais ou menos consistentes que lhe dão unidade” (p.

44).

Estabilidades e Mudanças na Cultura

“[...] O ritmo das mudanças culturais varia muito, dependendo das possibilidades que

se apresentam para que o crescimento e o desenvolvimento possam se realizar” (p.

45).

“[...] Sistemas culturais sobrevivem porque seus membros estão adaptados a tradição

que é reproduzida através de sua tradução em ações. Por outro lado, contudo, sem a

mudança, a cultura estagnaria” (p. 45).

Page 5: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

Os Sistemas Culturais

“As condições de diversidade e dinamicidade tornam qualquer cultura um fenômeno

sempre complexo” (p. 45).

“[...] não podemos identificar uma cultura no sentido de continuidade de uma mesma

tradição amplamente comum. Ao contrario, falamos sempre de padrões não muito

bem definidos e consistentes com variações internas múltiplas” (p. 45).

“[...] Entre os sistemas culturais tema-se tipos altamente estruturados de

comportamentos aprendidos (sistemas de sinais como a língua), afiliações políticas

(cidadania, nacionalidade), religião (envolvendo crenças e valores focais)” (p. 45).

A Aculturação

“Quando dois grupos culturais são postos em contato, eles absorvem elementos

culturais um do outro” (p. 46).

“Quando o contato e a difusão ocorrem com alguma continuidade, o processo de

transferência é chamado de aculturação” (p. 46).

A Continuidade da Cultura

“[...] Elementos culturais uma vez inventados, passam de um individuo para o outro

através do aprendizado. Eles são compartilhados de uma geração a outra. Qualquer

ruptura no seu aprendizado levaria ao seu desaparecimento” (p. 46).

“O continuum cultural se estende do começo da existência humana até o presente. As

culturas se cruzam e recruzam, fundem-se e dividem-se; elementos são adicionados

aqui ou perdidos ali. Uma cultura vista como um ponto no continuum é o resultado de

todas as mudanças e vicissitudes do passado, tendo dentro de si o potencial para a

mudança contínua (Keesing 1964: 25-29)” (p. 46).

Page 6: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

A Simbolicidade da Cultura

“Os artefatos ou objetos feitos pelo homem, as motivações e ações, a fala humana tem

significados” (p. 46).

“Sem o conhecimento de seus significados, esses elementos culturais são

incompreensíveis. Sob o ponto de vista dos signos e seus significados, as culturas

costumam ser chamadas de sistemas de símbolos” (p. 46).

Uma Visão Heterotópica das Mídias Digitais

“[...] No sentido mais restrito, mídia se refere especificamente aos meios de

comunicação de massa, especialmente aos meios de transmissão de notícias e

informação” (p. 62).

“[...] As instabilidades, interstícios, deslizamentos e reorganizações constantes dos

cenários culturais, a circulação mais fluida e as articulações mais complexas, as

interações e reintegrações dos níveis, gêneros e formas de cultura, o cruzamento de

suas identidades, a transnacionalização da cultura, o crescimento acelerado das

tecnologias e das mídias comunicacionais, a ampliação dos mercados culturais, a

expansão e os novos hábitos no consumo de cultura estão nos desafiando para

encontrar novas estratégias e perspectivas de entendimento capazes de acompanhar

os deslocamentos e contradições, os desenhos moveis da heterogeneidade

pluritemporal e espacial que caracteriza as sociedades pós-modernas, muito

acentuadamente as latino-americanas” (p. 65).

“[...] hoje todas as culturas são fronteiriças, fluidas, desterritorializadas” (p. 65).

Page 7: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

Os Dispositivos de Análise da Cultura e da Comunicação

“A seqüência de mudanças nos dispositivos de analise da comunicação e cultura no

século XX funciona como um indicador das impressionantes transformações por que os

fenômenos culturais vem passando, transformações essas primeiramente devidas à

exploração dos meios de comunicação de massa que prevaleceu até os anos 80, e

atualmente devidas à onipresença da realidade midiática” (p. 66).

“O advento da cultura massiva a partir dos meios de reprodução técnico-industriais

[...] seguida do gigantismo dos meios eletrônicos de difusão - rádio e televisão-,

produziu um impacto até hoje atordoante na tradicional divisão da cultura em erudita,

culta, de elite, de um lado, e popular, de outro” (p. 66).

“Desta divisão se alimentaram as concepções sóciopolíticos da cultura de extração

marxista, segundo as quais a cultura é um campo de tensões do interior de sociedades

concebidas como arenas de classes em luta” (p. 66).

“[...] esse diagnóstico do social serviu como meio de analise dos diferentes níveis e

estratos culturais, populares ou de elite, funcionando como representações de

conflitos de classes” (p. 66).

“[...] surgiu na escola de Frakfurt, a teoria da indústria cultural que veio encontrar solo

fértil de divulgação na América latina, especialmente no Brasil. Embora até hoje

inquestionável na sua constatação de que qualquer produto cultural, por mais

espiritual que possa parecer, é produzido e consumido de acordo com as leis do

mercado capitalista, essa teoria ajudou a acentuar ainda mais o pretenso fosso que

separa a chamada cultura erudita das outras formas de reprodução de cultura, popular

ou de massa” (p. 66).

“As dificuldades para definir com precisão o perfil popular e o erudito nos produtos

culturais foram acompanhadas pelas teimosas ilusões de autonomia desses campos e

pelos preconceitos contra os meios de comunicação de massa” (p. 67).

“Não foram necessárias argumentos para enfraquecer as lutas pela defesa dessas

fronteiras. Elas caíram naturalmente no vazio ao serem atropeladas, nos anos 80, pelo

Page 8: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

advento de novas formas de consumo cultural propiciadas pelas tecnologias

comunicacionais do disponível e do descartável” (p. 67).

“[...] foi crescendo a olhos vistos a tendência para os trânsitos e intercâmbios dos

meios de comunicação entre si, criando redes de complementaridades q eu chamei de

cultura das mídias (Santaella 1992), uma dinâmica cultural que ia se distinguindo da

cultura de massa, devido justamente ao aparecimento das novas tecnologias

segmentadoras, diversificadoras, capazes de uma maior adequação a um público mais

individualizado” (p. 68).

“[...] a cultura das mídias não se caracteriza mais como mídia massiva, pois ia

rompendo com os traços fundamentais da cultura de massas, a saber, a

simultaneidade e uniformidade da mensagem emitida e recebida. O crescimento da

multiplicidade de mídias, a multiplicação de suas mensagens e fontes foi dando

margem ao surgimento de receptores mais seletivos, individualizados, o que foi sem

dúvida, preparando o terreno para emergência da cultura digital, na medida em que

esta exige receptores atuantes, caçadores em busca de presas informacionais de sua

própria escolha”. (p. 68).

Da Cultura de Massas à Cultura das Mídias

“[...] A cultura de massas originou-se no jornal com seus coadjuvantes, o telegrafo e a

fotografia. Acentuou-se com o surgimento do cinema, uma mídia feita para recepção

coletiva. Mas foi só com a TV que se solidificou a ideia do homem de massa” (p. 79).

“[...] Não fazíamos ideia de que existiam coisas como consumo de massa e psicologia

de massa até a televisão fazer delas seu próprio conteúdo. A lógica da televisão é a de

uma audiência recebendo informações sem responder [...]. Disso decorre a natureza

fundamental de um meio de difusão: o padrão de energia viaja num só sentido, na

direção do receptor, para ser consumido com uma resistência mínima, o que cria

condições favoráveis para a promoção e distribuição de produtos com ênfase na

persuasão e na embalagem” (p. 79).

Page 9: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)

“Não obstantes as críticas à passividade e alienação do homem de massa, a indiscutível

adesão que, desde seu aparecimento, a televisão produziu no espectador não vem do

acaso” (p. 80).

“[...] Conforme foi evidenciado por Tichi (1991 apud Castells 2000: 361) [...] O poder

rela da televisão ‘é que ela arma o palco para todos os processos que se pretendem

comunicar à sociedade em geral, de política a negócios, inclusive esportes e artes. A

televisão modela a linguagem de comunicação societal’” (p. 80).

Page 10: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)
Page 11: Culturas e artes do pós-humano; Da cultura das mídias à cibercultura. (LUCIA SANTAELLA)