1247

Damásio de Jesus-Código Penal-antonio inacio ferraz Técnico em eletronica/agropecuária e estudante de direito na Unip Assis SP

Embed Size (px)

Citation preview

  1. 1. OBRAS DO AUTOR Cdigo de Processo Penal anotado, Saraiva. Cdigo Penal anotado, Saraiva. Comentrios ao Cdigo Penal (2 v.), Saraiva. Crimes de corrupo ativa e trfico de influncia nas transaes comerciais internacionais, Saraiva. Crimes de porte de arma de fogo e assemelhados, Saraiva. Crimes de trnsito, Saraiva. Decises anotadas do Supremo Tribunal Federal em matria criminal, Saraiva. Direito penal, 1 volume, Saraiva. Direito penal, 2 volume, Saraiva. Direito penal, 3 volume, Saraiva. Direito penal, 4 volume, Saraiva. Direito Penal do Desarmamento; anotaes parte criminal da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento), Saraiva. Imputao objetiva, Saraiva. Lei Antidrogas anotada, Saraiva. Lei das Contravenes Penais anotada, Saraiva. Lei dos Juizados Especiais Criminais anotada, Saraiva. Novas questes criminais, Saraiva. Novssimas questes criminais, Saraiva. O novo sistema penal, Saraiva. Penas alternativas, Saraiva. Prescrio penal, Saraiva. Questes criminais, Saraiva. Temas de direito criminal, 1 srie, Saraiva. Temas de direito criminal, 2 srie, Saraiva. Temas de direito criminal, 3 srie, Saraiva. Teoria do domnio do fato no concurso de pessoas, Saraiva. Trfico internacional de mulheres e crianas Brasil, Saraiva. Violncia contra a mulher, Saraiva.
  2. 2. ISBN 978-85-02-22335-6 Jesus, Damsio de Cdigo Penal anotado / Damsio de Jesus. 22. ed. So Paulo : Saraiva, 2014. Bibliografia. 1. Direito penal - Legislao - Brasil I. Ttulo. CDU-343 (81) (094.46) ndices para catlogo sistemtico: 1. Brasil : Cdigo Penal anotado 343 (81) (094.46) 2. Cdigo Penal anotado : Brasil 343 (81) (094.46) Diretor editorial Luiz Roberto Curia Gerente editorial Thas de Camargo Rodrigues Assistente editorial Sarah Raquel Silva Santos Produtora editorial Clarissa Boraschi Maria Produtor multimdia William Paiva Preparao de originais Ana Cristina Garcia e Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan Arte e diagramao Ldia Pereira de Morais Reviso de provas Amlia Kassis Ward e Ivani A. M. Cazarim Servios editoriais Camila Artioli Loureiro, Elaine Cristina da Silva, Guilherme Henrique Martins Salvador, Kelli Priscila Pinto e Surane Vellenich Capa Andrea Vilela de Almeida Produo eletrnica Know-how Editorial Data de fechamento da edio: 25-11-2013 Dvidas? Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.
  3. 3. NATHLIA, nossa primeira neta.
  4. 4. INDICADOR GERAL Abreviaturas ndice Sistemtico do Cdigo Penal Nota do Autor Cdigo Penal NDICE ALFABTICO-REMISSIVO DO CDIGO PENAL
  5. 5. ABREVIATURAS AC Apelao Cvel ACrim Apelao Criminal AE Agravo em Execuo AF Arquivo Forense AFEMT Anais Forenses do Estado de Mato Grosso Ag. Agravo AgAgI Agravo em Agravo de Instrumento AgI Agravo de Instrumento Ajuris Revista da Associao dos Juzes do Rio Grande do Sul AMJ Arquivos do Ministrio da Justia APMP Associao Paulista do Ministrio Pblico APn Ao Penal AR Agravo Regimental ARED Agravo Regimental nos Embargos Declaratrios BMJ Boletim Mensal de Jurisprudncia BMJTACrimSP Boletim Mensal de Jurisprudncia do TACrimSP BMTACrimSP Boletim Mensal do TACrimSP CA Conflito de Atribuies Cm. Crim. Cmara Criminal Cm. de Frias Cmara de Frias CBA Cdigo Brasileiro de Aeronutica CC Cdigo Civil CCom Cdigo Comercial CComp Conflito de Competncia CE Constituio Estadual CEleit. Cdigo Eleitoral CF Constituio Federal CJ Conflito de Jurisdio CLT Consolidao das Leis do Trabalho CorEsp Corte Especial CP Cdigo Penal CPar Correio Parcial CPC Cdigo de Processo Civil CPI Cdigo da Propriedade Industrial CPM Cdigo Penal Militar CPP Cdigo de Processo Penal CPPM Cdigo de Processo Penal Militar CT Cdigo de Trnsito CTest Carta Testemunhvel CTN Cdigo Tributrio Nacional Den Denncia Desaf. Desaforamento DF Direito Federal, Revista da Associao dos Juzes Federais do Brasil DJE Dirio da Justia do Estado DJU Dirio da Justia da Unio DOU Dirio Oficial da Unio EAOAB Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil EC Emenda Constitucional ECA Estatuto da Criana e do Adolescente ED Embargos de Declarao EI Embargos Infringentes EJTFR Ementrio de Jurisprudncia do Tribunal Federal de Recursos EJTJRJ Ementrio de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro EJTRF Ementrio de Jurisprudncia do Tribunal Regional Federal (1 Reg.) ERCrim Embargos em Recurso Criminal EREsp Embargos no Recurso Especial ES Exceo de Suspeio ETJMS Ementrio do Tribunal de Justia de Mato Grosso do Sul
  6. 6. ETJMT Ementrio do Tribunal de Justia de Mato Grosso EV Exceo da Verdade Exc. Incomp. Exceo de Incompetncia FMU Direito Revista da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas Gr. Cms. Grupo de Cmaras HC Habeas Corpus IBCCrim Instituto Brasileiro de Cincias Criminais (SP) Inq. Inqurito IP Inqurito Policial JAL Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado de Alagoas JB Jurisprudncia Brasileira JC Jurisprudncia Catarinense JM Jurisprudncia Mineira JSTF Jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal JSTJ Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia JTACrimSP Julgados do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo JTACSP Julgados do Tribunal de Alada Civil de So Paulo JTAMG Julgados do Tribunal de Alada de Minas Gerais JTARS Julgados do Tribunal de Alada do Rio Grande do Sul JTASP Julgados do Tribunal de Alada de So Paulo JTFR Julgados do Tribunal Federal de Recursos JTJ Jurisprudncia do Tribunal de Justia (SP) Julgados Julgados do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo Jurdica Revista do Ministrio da Indstria e do Comrcio LCP Lei das Contravenes Penais Lemi Legislao Mineira LEP Lei de Execuo Penal LICC Lei de Introduo ao Cdigo Civil LICPP Lei de Introduo ao Cdigo de Processo Penal LOMN Lei Orgnica da Magistratura Nacional LONMP Lei Orgnica Nacional do Ministrio Pblico LOPS Lei Orgnica da Previdncia Social LSN Lei de Segurana Nacional MP Ministrio Pblico MS Mandado de Segurana m.v. maioria de votos OAB Ordem dos Advogados do Brasil Pet. Petio Pet. RHC Petio em Recurso de Habeas Corpus PJ Paran Judicirio QC Queixa-Crime QO Questo de Ordem RA Recurso Administrativo RAJRS Revista da Associao dos Juzes do Rio Grande do Sul RAMPR Revista da Associao dos Magistrados do Paran RBCC Revista Brasileira de Cincias Criminais RBCDP Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal RBDP Revista Brasileira de Direito Penal RBP Revista Brasileira de Processo RCNPCP Revista do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria RCPDF Revista do Conselho Penitencirio do Distrito Federal RCrim Recurso Criminal RDA Revista de Direito Administrativo RDDP Revista de Direito da Defensoria Pblica (RJ) RDDPRJ Revista de Direito da Defensoria Pblica do Rio de Janeiro RDJTJDFT Revista de Doutrina e Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios RDJTJMT Revista de Doutrina e Jurisprudncia do Tribunal de Justia de Mato Grosso RDM Revista de Direito Mercantil RDMPG Revista de Direito do Ministrio Pblico da Guanabara RDP Revista de Direito Penal RDPC Revista de Direito Penal e Criminologia
  7. 7. RDPGJRJ Revista de Direito da Procuradoria-Geral de Justia do Rio de Janeiro RDPGRJ Revista de Direito da Procuradoria-Geral do Rio de Janeiro RDTJRJ Revista de Direito do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro RECrim Recurso Extraordinrio Criminal REPM Revista da Escola Paulista da Magistratura REsp Recurso Especial RESP Revista da Escola do Servio Penitencirio (Porto Alegre) Revista CEJ Revista do Centro de Estudos Judicirios do Conselho da Justia Federal Revista da AJUFE Revista da Associao dos Juzes Federais do Brasil RF Revista Forense RFDUFPE Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco RFDUFPR Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paran RFDUSP Revista da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo RFESMPDFT Revista da Fundao Escola Superior do Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios RFTJPB Revista do Foro do Tribunal de Justia da Paraba RG Registro Geral RGJ Revista Goiana de Jurisprudncia RHC Recurso de Habeas Corpus RI Regimento Interno RJ Revista Jurdica (Porto Alegre) RJATARJ Revista de Jurisprudncia, Arquivos do Tribunal de Alada do Rio de Janeiro RJDTACrimSP Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo RJM Revista Jurdica Mineira RJTACrimSP Revista de Julgados do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo RJTAMG Revista de Julgados do Tribunal de Alada de Minas Gerais RJTJGB Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia da Guanabara RJTJMS Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Mato Grosso do Sul RJTJPA Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Par RJTJRJ Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro RJTJRS Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul RJTJSP Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia de So Paulo RMPES Revista do Ministrio Pblico do Estado de Sergipe RMPRS Revista do Ministrio Pblico do Rio Grande do Sul RMS Recurso em Mandado de Segurana RO Recurso Oficial ROHC Recurso Ordinrio em Habeas Corpus ROMS Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana RPCP Revista de Poltica Criminal e Penitenciria RPGEC Revista da Procuradoria-Geral do Estado do Cear RPGESP Revista da Procuradoria-Geral do Estado de So Paulo RSE Recurso em Sentido Estrito RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justia RT Revista dos Tribunais RTFR Revista do Tribunal Federal de Recursos RTJ Revista Trimestral de Jurisprudncia RTJE Revista Trimestral de Jurisprudncia dos Estados RTRF 4 Reg. Revista do Tribunal Regional Federal da 4 Regio (Porto Alegre) RvCrim Reviso Criminal STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justia STM Superior Tribunal Militar TA Tribunal de Alada TACrimMG Tribunal de Alada Criminal de Minas Gerais TACrimSP Tribunal de Alada Criminal de So Paulo TACSP Tribunal de Alada Civil de So Paulo TAMG Tribunal de Alada de Minas Gerais TAPR Tribunal de Alada do Paran TARS Tribunal de Alada do Rio Grande do Sul (extinto) TASC Tribunal de Alada de Santa Catarina (extinto) TASP Tribunal de Alada de So Paulo (primitivo)
  8. 8. TFR Tribunal Federal de Recursos (observao: foi extinto pela CF de 1988) TJ Tribunal de Justia TJBA Tribunal de Justia da Bahia TJDF Tribunal de Justia do Distrito Federal TJGO Tribunal de Justia de Gois TJMG Tribunal de Justia de Minas Gerais TJMT Tribunal de Justia de Mato Grosso TJPB Tribunal de Justia da Paraba TJPE Tribunal de Justia de Pernambuco TJPR Tribunal de Justia do Paran TJRJ Tribunal de Justia do Rio de Janeiro TJRS Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul TJSC Tribunal de Justia de Santa Catarina TJSP Tribunal de Justia de So Paulo TP Tribunal Pleno TRF Tribunal Regional Federal v.un. votao unnime v.v. voto vencido
  9. 9. NDICE SISTEMTICO DO CDIGO PENAL (Decreto-lei n. 2.848, de 7-12-1940) PARTE GERAL Ttulo I Da aplicao da lei penal arts. 1 a 12 Ttulo II Do crime arts. 13 a 25 TTULO III Da imputabilidade penal arts. 26 a 28 TTULO IV Do concurso de pessoas arts. 29 a 31 TTULO V Das penas arts. 32 a 95 CAPTULO I Das espcies de pena arts. 32 a 52 Seo I Das penas privativas de liberdade arts. 33 a 42 Seo II Das penas restritivas de direitos arts. 43 a 48. Seo III Da pena de multa arts. 49 a 52. CAPTULO II Da cominao das penas arts. 53 a 58 CAPTULO III Da aplicao da pena arts. 59 a 76 CAPTULO IV Da suspenso condicional da pena arts. 77 a 82 CAPTULO V Do livramento condicional arts. 83 a 90 CAPTULO VI Dos efeitos da condenao arts. 91 e 92 CAPTULO VII Da reabilitao arts. 93 a 95 TTULO VI Das medidas de segurana arts. 96 a 99 TTULO VII Da ao penal arts. 100 a 106 TTULO VIII Da extino da punibilidade arts. 107 a 120 PARTE ESPECIAL
  10. 10. TTULO I Dos crimes contra a pessoa arts. 121 a 154 CAPTULO I Dos crimes contra a vida arts. 121 a 128 CAPTULO II Das leses corporais art. 129 CAPTULO III Da periclitao da vida e da sade arts. 130 a 136 CAPTULO IV Da rixa art. 137 CAPTULO V Dos crimes contra a honra arts. 138 a 145 CAPTULO VI Dos crimes contra a liberdade individual arts. 146 a 154 SEO I Dos crimes contra a liberdade pessoal arts. 146 a 149 Seo II Dos crimes contra a inviolabilidade do domiclio art. 150 SEO III Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondncia arts. 151 e 152 Seo IV Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos arts. 153 e 154 TTULO II Dos crimes contra o patrimnio arts. 155 a 183 CAPTULO I Do furto arts. 155 e 156 CAPTULO II Do roubo e da extorso arts. 157 a 160 CAPTULO III Da usurpao arts. 161 e 162 CAPTULO IV Do dano arts. 163 a 167 CAPTULO V Da apropriao indbita arts. 168 a 170 CAPTULO VI Do estelionato e outras fraudes arts. 171 a 179 CAPTULO VII Da receptao art. 180 Captulo VIII Disposies gerais arts. 181 a 183 TTULO III Dos crimes contra a propriedade imaterial arts. 184 a 196 CAPTULO I Dos crimes contra a propriedade intelectual arts. 184 a 186 CAPTULO II Dos crimes contra o privilgio de inveno arts. 187 a 191 CAPTULO III Dos crimes contra as marcas de indstria e comrcio arts. 192 a 195
  11. 11. CAPTULO IV Dos crimes de concorrncia desleal art. 196 TTULO IV Dos crimes contra a organizao do trabalho arts. 197 a 207 TTULO V Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos arts. 208 a 212 CAPTULO I Dos crimes contra o sentimento religioso art. 208 CAPTULO II Dos crimes contra o respeito aos mortos arts. 209 a 212 TTULO VI Dos crimes contra a dignidade sexual arts. 213 a 234-C CAPTULO I Dos crimes contra a liberdade sexual arts. 213 a 216-A CAPTULO II Dos crimes sexuais contra vulnervel arts. 217 a 218-B CAPTULO III Do rapto arts. 219 a 222 CAPTULO IV Disposies gerais arts. 223 a 226 CAPTULO V Do lenocnio e do trfico de pessoa para fim de prostituio ou outra forma de explorao sexual arts. 227 a 232 CAPTULO VI Do ultraje pblico ao pudor arts. 233 e 234 CAPTULO VII Disposies gerais arts. 234-A a 234-C TTULO VII Dos crimes contra a famlia arts. 235 a 249 CAPTULO I Dos crimes contra o casamento arts. 235 a 240 CAPTULO II Dos crimes contra o estado de filiao arts. 241 a 243 CAPTULO III Dos crimes contra a assistncia familiar arts. 244 a 247 CAPTULO IV Dos crimes contra o ptrio poder, tutela ou curatela arts. 248 e 249 TTULO VIII Dos crimes contra a incolumidade pblica arts. 250 a 285 CAPTULO I Dos crimes de perigo comum arts. 250 a 259 CAPTULO II Dos crimes contra a segurana dos meios de comunicao e transporte e outros servios pblicos arts. 260 a 266 CAPTULO III Dos crimes contra a sade pblica arts. 267 a 285 TTULO IX Dos crimes contra a paz pblica arts. 286 a 288
  12. 12. TTULO X Dos crimes contra a f pblica arts. 289 a 311-A CAPTULO I Da moeda falsa arts. 289 a 292 CAPTULO II Da falsidade de ttulos e outros papis pblicos arts. 293 a 295 CAPTULO III Da falsidade documental arts. 296 a 305 CAPTULO IV De outras falsidades arts. 306 a 311 CAPTULO V Das fraudes em certames de interesse pblico art. 311-A TTULO XI Dos crimes contra a administrao pblica arts. 312 a 359-H CAPTULO I Dos crimes praticados por funcionrio pblico contra a administrao em geral arts. 312 a 327 CAPTULO II Dos crimes praticados por particular contra a administrao em geral arts. 328 a 337-A CAPTULO II-A Dos crimes praticados por particular contra a administrao pblica estrangeira arts. 337-B a 337-D CAPTULO III Dos crimes contra a administrao da Justia arts. 338 a 359 CAPTULO IV Dos crimes contra as finanas pblicas arts. 359-A a 359-H DISPOSIES FINAIS arts. 360 e 361
  13. 13. NOTA DO AUTOR Quando ingressamos no Ministrio Pblico do Estado de So Paulo demos incio formao de dois lbuns de doutrina e jurisprudncia: um de processo penal e outro de Direito Penal. Deles originaram-se o Cdigo de Processo Penal anotado e este Cdigo Penal anotado. o resultado de longos anos de pesquisas, estudos, anotaes e constante preocupao com as tendncias dos autores e tribunais a respeito dos temas de Direito Penal. As referncias doutrinrias contidas nos verbetes correspondem s nossas posies. So breves e objetivas, alongando-se somente em poucos assuntos em que nos parecem necessrios maiores esclarecimentos. Esto apontadas as orientaes tranquilas e as divergncias jurisprudenciais (algumas j extintas), estas na maioria das vezes acompanhadas da nossa posio. Pesquisamos dezenas de publicaes, entre revistas especializadas de doutrina e jurisprudncia, alm de dirios oficiais, fichrios, peridicos, arquivos de tribunais e do Ministrio Pblico, obras doutrinrias etc. Os dispositivos do Cdigo, sempre que necessrio, esto acompanhados de um verbete sobre doutrina, em que inserimos milhares de indicaes de obras, teses, artigos etc., que constituem farto material para o leitor que pretenda aprofundar-se em seus estudos. Um ndice alfabtico e remissivo completa o trabalho, facilitando a consulta. Nosso profundo agradecimento queles que colaboraram na realizao desta obra: aos tribunais, principalmente o extinto Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, que nos permitiu conhecer seus fichrios e nos abriu a porta de seus primeiros computadores, muitas vezes nos concedendo acesso a acrdos ainda no publicados nas revistas especializadas; Procuradoria-Geral de Justia de So Paulo, que nos franqueou seus arquivos de pareceres e do setor de recursos especiais e extraordinrios criminais; aos ilustres Desembargadores, Procuradores de Justia, Juzes, Promotores de Justia, Delegados de Polcia e Advogados, que, em tantos temas controvertidos, conosco discutiram qual a posio mais acertada; por fim, aos funcionrios das bibliotecas, que sempre nos atenderam com carinho e presteza. DAMSIO DE JESUS
  14. 14. DECRETO-LEI N. 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940* CDIGO PENAL O Presidente da Repblica, usando da atribuio que lhe confere o art. 180 da Constituio, decreta a seguinte Lei: CDIGO PENAL PARTE GERAL TTULO I DA APLICAO DA LEI PENAL ANTERIORIDADE DALEI Art. 1 No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal. PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DE DIREITO PENAL Princpio da legalidade ou da reserva legal CF, art. 5, XXXIX; CP, art. 1: no h crime sem lei que o defina; no h pena sem cominao legal. Vide notas especficas a respeito do tema neste artigo. Princpio da proibio da analogia in malam partem Corolrio da legalidade, probe a adequao tpica por semelhana entre fatos. Princpio da anterioridade da lei CF, art. 5, XXXIX; CP, art. 1: no h crime sem lei anterior que o defina; no h pena sem prvia cominao legal. Para que haja crime e seja imposta pena preciso que o fato tenha sido cometido depois de a lei entrar em vigor. Vide art. 2 deste Cdigo. Princpio da irretroatividade da lei penal mais severa CF, art. 5, XL; CP, art. 2 e pargrafo nico: a lei posterior mais severa irretroativa; a posterior mais benfica retroativa; a anterior mais benfica ultra-ativa. Princpio da fragmentariedade consequncia dos princpios da reserva legal e da interveno necessria (mnima). O Direito Penal no protege todos os bens jurdicos de violaes: s os mais importantes. E, dentre estes, no os tutela de todas as leses: intervm somente nos casos de maior gravidade, protegendo um fragmento dos interesses jurdicos. Por isso fragmentrio. Princpio da alteridade ou transcendentalidade O Direito Penal somente pune leses a interesses jurdicos alheios. O fato tpico pressupe um comportamento que transcenda a esfera individual do autor e seja capaz de atingir o interesse do outro (altero) (EDILSON MOUGENOT BONFIM e FERNANDO CAPEZ, Direito penal; Parte Geral, So Paulo, 2004). Princpio da interveno mnima
  15. 15. Procurando restringir ou impedir o arbtrio do legislador, no sentido de evitar a definio desnecessria de crimes e a imposio de penas injustas, desumanas ou cruis, a criao de tipos delituosos deve obedecer imprescindibilidade, s devendo intervir o Estado, por intermdio do Direito Penal, quando os outros ramos do direito no conseguem prevenir a conduta ilcita. Princpio da lesividade O Direito Penal s deve ser aplicado quando a conduta lesiona um bem jurdico, no sendo suficiente que seja imoral ou pecaminosa. Entre ns, esse princpio pode ser extrado do art. 98, I, da CF, ao disciplinar as infraes penais de menor potencial ofensivo. Princpio da insignificncia Ligado aos chamados crimes de bagatela (ou delitos de leso mnima), recomenda que o Direito Penal, pela adequao tpica, somente intervenha nos casos de leso jurdica de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipteses de perturbaes jurdicas mais leves (pequenssima relevncia material). Esse princpio tem sido adotado pela nossa jurisprudncia nos casos de furto de objeto material insignificante (subtrao de um pano de cho, sapatos usados de pouco valor, uma passagem de nibus etc.); leso insignificante ao Fisco; maus-tratos de importncia mnima; descaminho e dano de pequena monta; leso corporal de extrema singeleza etc. Contratao de mo de obra em perodo diminuto: STF, HC 77.003, 2 Turma, rel. Min. Marco Aurlio, j. 16-6-1998, DJU, 1 set. 1998, p. 5. No sentido de que o fato, nessas hipteses, atpico: CZAR ROBERTO BITENCOURT, Lies de direito penal, Porto Alegre, Livr. do Advogado Ed., 1995, p. 40; STJ, RHC 4.311, 6 Turma, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU, 19 jun. 1995, p. 18751; STJ, REsp 112.600, 6 Turma, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU, 17 ago. 1998, p. 96. No sentido, sem razo, de que a folha de antecedentes positiva impede o reconhecimento do princpio da insignificncia: STJ, REsp 159.995, 5 Turma, j. 8-9-1998, DJU, 5 out. 1998, p. 120. Vide nota aos arts. 23 e 155 deste Cdigo. Vide, ainda, CSSIO VINICIUS D.C.V. LAZZARI PRESTES, O princpio da insignificncia como causa excludente da tipicidade no direito penal, So Paulo, Memria Jurdica, 2003. Princpio da culpabilidade Nullum crimen sine culpa. A pena s pode ser imposta a quem, agindo com dolo ou culpa, e merecendo juzo de reprovao, cometeu um fato tpico e antijurdico. um fenmeno individual: o juzo de reprovabilidade (culpabilidade), elaborado pelo juiz, recai sobre o sujeito imputvel que, podendo agir de maneira diversa, tinha condies de alcanar o conhecimento da ilicitude do fato (potencial conscincia da antijuridicidade). tambm um fenmeno social: a correlao de foras sociais de um determinado momento histrico que determina quem deve ser considerado culpado ou inocente, i. e., os limites do culpvel e do no culpvel, da liberdade e da no liberdade (MUOZ CONDE, Derecho penal y control social, Jerez, Fundacin Universitria de Jerez, 1985, p. 63; CZAR ROBERTO BITENCOURT, Lies de direito penal, Porto Alegre, Livr. do Advogado Ed., 1995, p. 34). O juzo de culpabilidade, que serve de fundamento e
  16. 16. medida da pena, repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicao de pena sem dolo, culpa e culpabilidade). Vide arts. 13 e 59 deste Cdigo. Princpio de humanidade O ru deve ser tratado como pessoa humana. A CF brasileira reconhece esse princpio em vrios dispositivos (arts. 1, III, 5, III, XLVI e XLVII). Deve ser observado: antes do processo (art. 5, LXI, LXII, LXIII e LXIV); durante o processo (art. 5, LIII, LIV, LV, LVI e LVII) e na execuo da pena (proibio de penas degradantes, cruis, de trabalhos forados, de banimento e da sano capital art. 5, XLVII, XLVIII, XLIX e L). Princpio da proporcionalidade da pena Chamado tambm princpio da proibio de excesso, determina que a pena no pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prtica do fato. Significa que a pena deve ser medida pela culpabilidade do autor. Da dizer-se que a culpabilidade a medida da pena. Vide arts. 13, 59 (funo da culpabilidade na medida da pena) e 180, 1, deste Cdigo (estudo do sabe e deve saber). Princpio do estado de inocncia Geralmente denominado princpio da presuno de inocncia, est previsto em nossa CF: Ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria (art. 5, LVII). Dele decorre a exigncia de que a pena no pode ser executada enquanto no transitar em julgado a sentena condenatria. Somente depois de a condenao tornar-se irrecorrvel que podem ser impostas medidas prprias da fase da execuo. Princpio da igualdade Todos so iguais perante a lei penal (CF, art. 1 , caput), no podendo o delinquente ser discriminado em razo de cor, sexo, religio, raa, procedncia, etnia etc. Princpio do ne bis in idem Ningum pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Possui duplo significado: 1) penal material: ningum pode sofrer duas penas em face do mesmo crime; 2) processual: ningum pode ser processado e julgado duas vezes pelo mesmo fato (RAUL PEA CABRERA, Tratado de derecho penal, Lima, Grijley, 1995, v. 1, p. 135). Art. 1 do Cdigo Penal Princpios da legalidade e da anterioridade 1) da legalidade (ou de reserva legal): no h crime sem lei que o defina; no h pena sem cominao legal (CF, art. 5, XXXIX); 2) da anterioridade: no h crime sem lei anterior que o defina; no h pena sem prvia imposio legal (CF, art. 5, XXXIX). No h crime sem que, antes de sua prtica, haja uma lei descrevendo-o como fato punvel. Por outro lado, a pena no pode ser aplicada sem lei anterior que a contenha. lcita, pois, qualquer conduta que no se encontre definida em lei penal incriminadora. Com o advento da teoria da tipicidade, o princpio de reserva legal ganhou muito de tcnica. Tpico o fato que se amolda conduta criminosa descrita pelo legislador. necessrio que o tipo (conjunto de elementos descritivos do crime contido na lei penal) tenha sido definido antes da prtica delituosa. Da falar-se em anterioridade da lei penal
  17. 17. incriminadora (TACrimSP, HC 81.102, RT, 511:361). Exigncia de preciso na definio das infraes penais O princpio da legalidade impe certeza na descrio das normas penais incriminadoras. A definio dos crimes e contravenes no pode ser vaga, incerta, duvidosa ou indeterminada. Como diz MANUEL JAN VALLEJO, somente assim o cidado pode saber o que pode fazer (mbito do lcito), o que no pode fazer (mbito do penalmente proibido) e o que acontecer com ele se realizar uma conduta tpica (forma e caractersticas da reao penal), permitindo ao juiz conhecer quando deve ou no proferir uma sentena condenatria (Principios constitucionales y derecho penal moderno, Buenos Aires, Ad-Hoc, 1999, p. 35 e 36). Medida provisria em matria penal (CF, art. 62) No pode definir crimes e impor penas (TFR, 4 Reg., RHC 412.908, DJU, 23 ago. 1990, p. 18785). Ainda que venha a favorecer o agente. Nesse sentido: STJ, REsp 421.119, DJU, 22 set. 2003, p. 398. Normas penais no incriminadoras A elas no se aplica o princpio da reserva legal, podendo o intrprete valer-se da analogia, costumes e princpios gerais de direito. No sentido do texto: RT, 594:365. Proibio da coao direta Reforando o princpio legalista das normas punitivas, existe a regra do nulla poena sine juditio, impedindo que o legislador vote norma penal sancionadora de coao direta, i. e., que imponha desde logo a pena, sem julgamento. Ningum pode ser punido sem julgamento. A Constituio Federal contm esse princpio no art. 5, LIII, LIV e LV, que trata das garantias individuais. Taxatividade O conjunto de normas incriminadoras taxativo. O fato tpico ou atpico. O elenco no admite ampliaes. Nesse sentido: RT, 594:365 e 66:685. Irretroatividade das normas incriminadoras Decorre do princpio da anterioridade. A lei incriminadora no pode retroagir para alcanar um fato cometido antes de sua vigncia. Medidas de segurana e princpio da legalidade O princpio da legalidade tambm vige em relao s medidas de segurana. O magistrado no as pode aplicar sem que se encontrem determinadas pelas leis. Medidas de segurana e anterioridade Determinando o princpio regulador, rezava o art. 75 do Cdigo Penal, em sua redao primitiva: As medidas de segurana regem-se pela lei vigente ao tempo da sentena, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execuo. Disposio idntica, porm, no se encontra na nova Parte Geral do Cdigo Penal, pelo que razovel a interpretao de que, no sistema da reforma penal de 1984, a medida de segurana rege-se tambm pelo princpio da anterioridade da lei. Contravenes
  18. 18. So abrangidas pela disposio. Princpio da legalidade na execuo da pena Vide art. 45 da LEP. Doutrina HELENO C. FRAGOSO, Observaes sobre o princpio da reserva legal, RDP, 1:78-88; Introduo ao estudo da parte especial do Cdigo Penal, MP, Curitiba, Ministrio Pblico do Paran, 1:11 e s., 1972; ADALBERTO C. DE MACEDO KLAUTAU, Terminologia jurdico-penal no Cdigo brasileiro de 1969, RDP, Rio de Janeiro, 5(5):84- 6 ; RAUL CHAVES, Da tipicidade penal, 1958, p. 17-38; PONTES DE MIRANDA, Comentrios Constituio, 1974, v. 5, p. 240-57; OSCAR TENRIO, Da aplicao da lei penal, 1942, p. 111-43; MAGALHES NORONHA, Direito penal, 1978, v. 1, p. 77- 80; NLSON HUNGRIA e HELENO C. FRAGOSO, Comentrios ao Cdigo Penal, 1977, v. 1, t. 1, p. 21-111; HELENO C. FRAGOSO, Lies de direito penal, 1976, Parte Geral, p. 99-108, especialmente quanto ao problema das incriminaes vagas ou indeterminadas; JOS FREDERICO MARQUES, Tratado, 1964, v. 1, p. 137-46; ANBAL BRUNO, Direito penal, 1967, v. 1, p. 206-10; BASILEU GARCIA, Instituies, 1978, v. 1, p. 137-58; COSTA E SILVA, Comentrios ao Cdigo Penal brasileiro, 1976, p. 17-21; RUY DA COSTA ANTUNES , Da analogia no direito penal, Recife, 1953; ALBERTO JOS TAVARES VIEIRA DA SILVA , Aplicao da lei penal, Revista da Faculdade de Direito da UFG, 5(1-2):25-9, jan./dez. 1981; MANOEL PEDRO PIMENTEL, A teoria do crime na reforma penal, RT, 591:387, jan. 1985; NILO BATISTA, Bases constitucionais do princpio da reserva legal, Revista de Direito Penal e Criminologia, Rio de Janeiro, 35:54-60, jan./jun. 1983; ROSA MARIA CARDOSO DA CUNHA, O carter retrico do princpio da legalidade, Porto Alegre, Sntese, 1979; ALBERTO SILVA FRANCO , O princpio da legalidade, in Temas de direito penal, Saraiva, 1986, p. 1; A nova Parte Geral do Cdigo Penal e a Lei de Execuo Penal: irretroatividade da lei penal mais gravosa, RT, 604:275, 1986; ALBERTO SILVA FRANCO, A medida provisria e o princpio da legalidade, RT, 648:366; LUIZ LUISI, Pena e Constituio, in Fascculos de Cincias Penais, Porto Alegre, Srgio A. Fabris, Editor, v. 3, p. 23; EDLSON PEREIRA NOBRE JNIOR, Cinco temas controvertidos de direito penal, RTJE, 80:4; MIGUEL REALE JNIOR, Parte Geral do Cdigo Penal (nova interpretao), So Paulo, Revista dos Tribunais, 1988, cap. 1; LUIZ LUISI, Sobre o princpio da legalidade, in Estudos jurdicos em homenagem a Manoel Pedro Pimentel, So Paulo, Revista dos Tribunais, 1992, p. 250; MIGUEL REALE JNIOR, Direito penal aplicado, So Paulo, Revista dos Tribunais, 1990, p. 38 (leso ao princpio da legalidade); EDMUNDO OLIVEIRA, Comentrios ao Cdigo Penal, Parte Geral, Rio de Janeiro, Forense, 1994; RICARDO ANTUNES ANDREUCCI, Direito penal e criao judicial, So Paulo, Revista dos Tribunais, 1989; CARLOS AURLIO MOTA DE SOUZA, Lacunas e interpretao da lei penal, RJDTACrimSP, 21:25; AMRICO TAIPA DE CARVALHO, Sucesso de leis penais, Coimbra, Coimbra Ed., 1997; MANUEL JAN VALLEJO, Principios constitucionales y derecho penal moderno, Buenos Aires, Ad-Hoc, 1999; NEREU JOS GIACOMOLLI, Funo garantista do princpio da legalidade,
  19. 19. Revista Ibero-Americana de Cincias Penais, Porto Alegre, Centro de Estudos Ibero- Americano de Cincias Penais, 0:41, maio/ago. 2000, e RT, 778:476; RODRIGO CSAR REBELLO PINHO, Teoria geral da Constituio e direitos fundamentais, So Paulo, Saraiva, 2000; JOS CARLOS GOBBIS PAGLIUCA, A lei penal no tempo, Estudos de Direito Penal, Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 1; ENRIQUE ULISES GARCA VITOR, La insignificancia en el derecho penal Los delitos de bagatela Dogmtica, poltica criminal y regulacin procesal del principio, Buenos Aires, Hammuraby, 2000; FERNANDO GALVO, Direito penal; Parte Geral, Rio de Janeiro, Impetus, 2004. LEI PENAL NO TEMPO Art. 2 Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria. Pargrafo nico. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado. Princpios que regem a aplicao da lei penal no tempo Como decorrncia do princpio nullum crimen, nulla poena sine praevia lege, h uma regra que domina o conflito de leis penais no tempo. a da irretroatividade da lei penal, sem a qual no haveria nem segurana nem liberdade na sociedade, uma vez que se poderiam punir fatos lcitos aps sua realizao, com a abolio do postulado consagrado no art. 1 do Cdigo Penal. Se no h crime sem lei anterior, claro que no pode retroagir para alcanar condutas que, antes de sua vigncia, eram consideradas fatos lcitos. regra legal, pois, a aplicao da lei vigente poca da prtica do fato tempus regit actum aforismo que constitui garantia individual. O princpio da irretroatividade vige, entretanto, somente em relao lei mais severa. Admite-se, no direito transitrio, a aplicao retroativa da lei mais benigna (lex mitior). Temos, assim, dois princpios que regem os conflitos de direito intertemporal: 1) o da irretroatividade da lei mais severa; 2) o da retroatividade da lei mais benigna. Esses dois princpios podem reduzir-se a um: o da retroatividade da lei mais benigna. O princpio da irretroatividade da lei mais gravosa constitui um direito subjetivo de liberdade, com fundamento nos incs. XXXVI e XL do art. 5 da Constituio Federal. Diz o primeiro inciso que a lei no prejudicar o direito adquirido.... O outro que a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru. O direito adquirido do sujeito consiste em fazer tudo que no proibido pela norma penal e, assim, no sofrer pena alm das cominadas para os casos previstos. Desta forma, se a lei nova define uma conduta como crime, antes lcita, os fatos cometidos no perodo anterior sua vigncia no podem ser apenados. Ela no pode retroagir. Ultra-atividade possvel a aplicao de uma lei no obstante cessada a sua vigncia, desde que mais benfica em face de outra, posterior. Essa qualidade da lei, pela qual tem eficcia mesmo depois de cessada a sua vigncia, recebe o nome de ultra-atividade. Lei mais benfica
  20. 20. Prevalece sobre a mais severa, prolongando-se alm do instante de sua revogao ou retroagindo ao tempo em que no tinha vigncia. ultra-ativa e retroativa. Lei mais severa No retroage, nem possui eficcia alm do momento de sua revogao. No retroativa, nem ultra-ativa. Conceito de lei posterior Subentende-se a que foi promulgada em ltimo lugar. Determina-se a anterioridade e a posterioridade pela data da publicao e no pela da entrada em vigor. ABOLITIO CRIMINIS (ART. 2, CAPUT) Conceito Pode ocorrer que uma lei posterior deixe de considerar como infrao um fato que era anteriormente punido. a abolitio criminis, hiptese do caput: a lei nova retira do campo da ilicitude penal a conduta precedentemente incriminada ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime. Estamos em face de exceo ao princpio tempus regit actum: a lei nova retroage; a antiga no possui ultra-atividade. Natureza jurdica A abolitio criminis, tambm chamada novatio legis, constitui fato jurdico extintivo da punibilidade, ex vi do art. 107, III, do Cdigo Penal. H duplicidade de dispositivos cuidando da mesma matria: arts. 2, caput, e 107, III. O princpio dos dois preceitos o mesmo: a lei nova tem eficcia para reger condutas a ela anteriores, quando no qualifique as mesmas como criminosas. O disposto no art. 107 nada mais que corolrio do disposto no art. 2, caput, uma vez que, dentre os efeitos da abolitio criminis, inclui-se a extino do poder-dever de punir. Efeitos A lei nova descriminante, atuando retroativamente, exclui todos os efeitos jurdico-penais do comportamento antes considerado infrao. H extino do jus puniendi in concreto e do jus punitionis. Importncia prtica 1) a persecutio criminis ainda no foi movimentada: o inqurito policial ou o processo no pode ser iniciado; 2) o processo est em andamento: deve ser trancado mediante decretao da extino da punibilidade; 3) j existe sentena condenatria com trnsito em julgado: a pretenso executria no pode ser efetivada (a pena no pode ser executada); 4) o condenado est cumprindo a pena: decretada a extino da punibilidade, deve ser solto. Execuo da condenao Quando o legislador, no art. 2, caput, refere-se cessao da execuo da sentena condenatria, cuida de cessao da sanctio juris imposta por ela e que est sendo executada. Cessao dos efeitos da condenao A condenao ato do juiz, sob a forma de sentena, que transforma a regra
  21. 21. sancionadora de abstrata em concreta. O Cdigo de Processo Penal, no art. 387, determina ao juiz, no ato de proferir a sentena condenatria, impor as penas, fixando a sua quantidade (inc. III). A temos os efeitos principais da condenao. A par deles, h outros, de natureza secundria ou acessria, chamados efeitos reflexos, dentre os quais h os penais e os no penais. Nestes, inclusive, encontramos o determinado pelo art. 91, I, do Cdigo Penal: a reparao civil. Da condenao derivam determinados efeitos penais secundrios: a) ela forja a reincidncia (art. 61, I); b) impede a suspenso condicional da execuo da pena (sursis art. 77, I); c) opera a revogao do sursis (art. 81, I); d) torna facultativa a revogao do sursis (art. 81, 1) ; e) no livramento condicional, a condenao passada em julgado causa sua revogao obrigatria (art. 86, I e II) ou facultativa (art. 87); f) depois de tornar-se irrecorrvel a sentena condenatria, a prescrio da pretenso executria no corre durante o tempo em que o condenado est preso por outro motivo (art. 116, pargrafo nico); g) a reabilitao revogada se o reabilitado sofre nova condenao, por sentena irrecorrvel, a pena que no seja de multa (art. 95); h) a condenao irrecorrvel tem influncia sobre a exceo da verdade no crime de calnia (art. 138, 3, I e III). Esses efeitos penais, principais ou secundrios, desaparecem com a abolitio criminis. Rol dos culpados A condenao registrada e lanado o nome do ru no rol dos culpados, ato que permite a documentao da deciso condenatria para que produza seus efeitos secundrios. Ocorrendo a abolitio criminis, a condenao declarada inexistente e o nome do condenado riscado do rol dos culpados: o comportamento, como conduta punvel, deixa de figurar em sua vida pregressa. Se vier a praticar outra infrao, a conduta anterior, tornada inexistente, no o poder prejudicar. Efeitos civis A obrigao civil de reparao do dano causado pelo delito constitui efeito secundrio da condenao (CP, art. 91, I). A lei nova descriminante no exclui essa obrigao. Diz o art. 2 que em virtude dela cessam os efeitos penais da sentena condenatria, perdurando os de natureza civil (grifo nosso). Momento da declarao A abolitio criminis pode ser declarada em primeira ou segunda instncia. No pode ser declarada sem que a lei nova entre em vigor. Antes disso, a lei nova no possui eficcia. Lei posterior a que passou a viger em substituio a outra. Procedimento ex officio A abolitio criminis no depende de provocao do interessado ou seu representante, devendo ser declarada pelo juiz, ex officio, conforme a regra do art. 61, caput, do Cdigo de Processo Penal. Competncia para a aplicao da lei nova supressiva de incriminao Vide nota ao pargrafo nico deste artigo do Cdigo Penal. Vacatio legis indireta (ou abolitio criminis temporria) De acordo com o STJ, ...a vacatio legis estabelecida pelos artigos 30 e 32 da Lei n.
  22. 22. 10.826/2003, para a regularizao das armas dos seus proprietrios e possuidores, reconhecida hiptese de abolitio criminis temporalis e aplica-se retroativamente aos delitos de posse de arma praticados sob a vigncia da Lei n. 9.437/97 (Corte Especial, Apn 476/RO, rel. Min. Eliana Calmon, j. 2-5-2007, DJU, 19 nov. 2007, p. 177). No mesmo sentido: STJ, HC 100.561/MT, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 5-5- 2009. LEI NOVAINCRIMINADORA Conceito Ocorre quando um indiferente penal em face de lei antiga considerado crime pela posterior. Tem imprio a regra tempus regit actum. A lei que incrimina novos fatos irretroativa, uma vez que prejudica o sujeito. O fundamento deste princpio encontra-se no aforismo nullum crimen sine praevia lege. Se no h crime sem lei anterior, a lei nova incriminadora no pode retroagir para alcanar fatos praticados antes de entrar em vigor (CP, art. 1). Sujeito que realiza o fato durante a vacatio legis No pratica crime, uma vez que a lei penal adquire obrigatoriedade quando entra em vigor. LEI NOVAPREJUDICIAL Irretroatividade Se a lei posterior, sem criar novas incriminaes ou abolir outras precedentes, agrava a situao do sujeito, no retroage. H duas leis em conflito: a anterior, mais benigna, e a posterior, mais severa. Em relao a esta, aplica-se o princpio da irretroatividade da lei mais severa; quanto quela, o da ultra-atividade da lei mais benfica. No sentido do texto: STF, RECrim 107.903, RT, 608:443; TACrimSP, ACrim 384.807, j. em 23-1-1985, RT, 411:263 e 538:389. Cf. Constituio Federal, art. 5, XL. Crime permanente Aplica-se a lei posterior surgida durante a permanncia, ainda que mais severa. Nesse sentido: STF, HC 80.540, 1 Turma, rel. Min. Seplveda Pertence, DJU, 2 fev. 2001, p. 76). Crime continuado Vide nota ao art. 71 deste Cdigo. LEI NOVAMAIS BENFICA(PARGRAFO NICO) Retroatividade benfica (CF, art. 5, XL) Se a lei nova, sem excluir a incriminao, mais favorvel ao sujeito, retroage. Aplica-se o princpio da retroatividade da lei mais benigna (RTJ, 83:1003 e 95:814). Sobre o assunto, reza o pargrafo nico do art. 2: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado. A expresso de qualquer modo significa que a lei posterior favorece o sujeito de qualquer modo que no seja atravs da abolitio criminis (art. 2, caput).
  23. 23. Retroatividade incondicional Determina o pargrafo nico que a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado. Significa que o princpio da retroatividade incondicional, no se detendo nem perante a coisa julgada (STF, RECrim 102.720, DJU, 10 maio 1985, p. 6855; TACrimSP, ACrim 393.785, JTACrimSP, 85:332). Conceito de lei mais benfica De modo geral, toda norma que amplie o mbito da licitude penal, quer restringindo o campo do jus puniendi ou do jus punitionis, quer estendendo o do jus libertatis, de qualquer forma, pode ser considerada lex mitior. De observar-se, porm, que esse resultado s pode ser alcanado aps acurado exame das normas em conflito em face do caso concreto, pois uma disposio aparentemente mais favorvel ao sujeito pode ser, na realidade, muito mais severa. O juiz deve apreciar o caso concreto em face da lei anterior; depois, sob a eficcia da posterior; eventualmente, nos termos da intermdia. Os vrios resultados devem ser comparados: aquele que mais favorecer o agente dever ser o escolhido. Nos casos de sria dvida sobre a lei mais favorvel, deve a nova ser aplicada somente aos fatos ainda no decididos, nada impedindo seja ouvido o ru a respeito (TACrimSP, ACrim 390.427, 16-5-1985). Decidindo-se a defesa por uma das leis, deve ser atendida (TACrimSP, ACrim 367.733, JTACrimSP, 87:188). Competncia para a aplicao da lei posterior mais benfica Se a lei nova mais benigna, nas hipteses do art. 2, e seu pargrafo nico, do Cdigo Penal, surge antes de o juiz proferir a sentena, o caso no oferece dificuldade, cabendo a ele ou ao tribunal fazer, na deciso, a adequao penal. Quando, entretanto, a sentena condenatria j transitou em julgado, a competncia do juiz de primeiro grau (da execuo penal), nos termos do que dispe o art. 66, I, da Lei de Execuo Penal (Smula 611 do STF). Dessa forma, a competncia no do tribunal, a quem cabe intervir somente na hiptese de haver recurso do despacho do juiz de primeira instncia (LEP, art. 197). Esses princpios so aplicveis ainda que se trate de processo da competncia do jri. Lei intermediria mais benfica Pode acontecer que o sujeito pratique o fato sob o imprio de uma lei, surgindo, depois, sucessivamente, duas outras, regulando o mesmo comportamento, sendo a intermediria a mais benigna. Analisando os efeitos das trs leis, veremos que a primeira ab-rogada pela intermdia e, sendo mais severa, no tem ultra-atividade; a intermediria, mais favorvel que as outras duas, retroage em relao primeira e possui ultra-atividade em face da terceira; esta, mais severa, no retroage. No sentido do texto: RT, 169:512 e 175:118. Combinao de leis H duas posies sobre o assunto: 1) no se admite a combinao de leis para favorecer o sujeito. Argumenta-se que a disposio mais favorvel ao sujeito no deve ser obtida atravs da combinao da lei antiga com a nova, apanhando-se delas as partes mais benignas. Se isso fosse possvel, afirmam, o juiz estaria criando uma
  24. 24. terceira lei, o que no permitido (STF, RCrim 1.412, RTJ, 96:561; STF, HC 68.416, 2 Turma, DJU, 30 out. 1992, p. 19515; RTJ, 142:564); 2) admite-se a combinao de leis ( a posio que adotamos). O juiz no est criando nova lei, mas movimentando-se dentro do campo legal em sua misso de integrao legtima. Se ele pode escolher uma ou outra lei para obedecer ao mandamento constitucional da aplicao da lex mitior, nada o impede de efetuar a combinao delas, com o que estaria mais profundamente seguindo o preceito da Carta Magna. H razes ponderveis no sentido de que se apliquem as disposies mais favorveis das duas leis, pelo menos em casos especiais. Se o juiz pode aplicar o todo de uma ou de outra lei para favorecer o sujeito, no vemos por que no possa escolher parte de uma e de outra para o mesmo fim, aplicando o preceito constitucional. Este no estaria sendo obedecido se o juiz deixasse de aplicar a parcela benfica da lei nova, porque impossvel a combinao de leis. Por exemplo: A Lei n. 5.726, de 29 de outubro de 1971, em seu art. 23, dando nova redao ao art. 281 do Cdigo Penal, definindo o delito de comrcio de entorpecente ou substncia que determine dependncia fsica ou psquica, cominava a pena de um a seis anos de recluso e multa de cinquenta a cem vezes o maior salrio mnimo vigente no Pas. Mais tarde a Lei n. 6.368, de 21 de outubro de 1976, descrevendo o mesmo fato em seu art. 12, imps a pena de recluso de trs a quinze anos e pagamento de cinquenta a trezentos e sessenta dias-multa. Nota-se que, quanto pena privativa de liberdade, a lei antiga mais benfica; quanto multa, a norma anterior mais severa. Em face disso, em relao aos crimes cometidos na vigncia da lei antiga, a jurisprudncia admitiu a combinao de leis: quanto recluso, incide a lei antiga; quanto multa, a nova. No sentido do texto: TACrimSP, ACrim 207.195, RT, 533:366. De citar-se ainda: JTACrimSP, 50:392, 58:313, 84:347 e 88:273. O STJ, analisando a questo da combinao de leis penais nos casos de trfico de drogas ilcitas, proferiu deciso em ambos os sentidos; isto , ora pela impossibilidade de aplicar parte da Lei revogada (Lei n. 6.368/76) com a Lei nova (Lei n. 11.343/2006), ora admitindo a combinao. No sentido da impossibilidade, vide REsp 1.067.637/MS, rel. Min. Felix Fischer, 5 Turma, j. 3-3-2009, DJe, 4-5-2009 (...no h que se admitir sua aplicao em combinao ao contedo do preceito secundrio do tipo referente ao trfico na antiga lei (art. 12 da Lei n. 6.368/76) gerando da uma terceira norma no elaborada e jamais prevista pelo legislador). Em sentido contrrio: STJ, HC 112.538/RJ, rel. Min. Jane Silva, 6 Turma, j. 6-11-2008, DJe, 19 dez. 2008. Medidas de segurana A elas se aplica o princpio da retroatividade benfica (TACrimSP, ACrim 389.403, JTACrimSP, 82:403). Vide art. 5, XL, da Constituio Federal de 1988. Nesse sentido: STJ, HC 13.054/SP, rel. Min. Gilson Dipp, 5 Turma, j. 27-8-2002, DJU, 14 out. 2002, p. 239. Execuo penal A ela aplicvel o princpio da retroatividade benfica (TACrimSP, ACrim 389.403, JTACrimSP, 82:403; AE 547.931, Julgados, 99:8), uma vez que regulada por lei penal (STF, HC 68.416, 2 Turma, DJU, 30 out. 1992, p. 19515; RTJ, 142:564).
  25. 25. Vacatio legis H duas orientaes a respeito da possibilidade de a lei posterior mais benfica ser aplicada durante o perodo da vacatio legis: 1) admissvel: TACrimSP, RT, 596:341 e 589:329; JTACrimSP, 81:355; 2) no admissvel: o tempo que vai da publicao da lei at a sua vigncia no de suspenso de seus efeitos, mas de vacatio legis, durante o qual prevalece, inalterada, a legislao antiga. No intervalo da publicao at o dia da atuao da nova lei, permanece em pleno vigor a lei antiga, que, por isso, deve continuar a ser observada, mesmo quando as suas disposies forem incompatveis com a lei nova: isto porque a sua revogao no pode ocorrer seno por esta, ao se tornar obrigatria. Assim, a nova regulamentao s existe a partir da data de sua vigncia. Esse o dia-limite a ser considerado para a definio do direito aplicvel a cada caso. Antes disso, as hipteses so regidas pelas disposies precedentes, no por concesso expressa do legislador, mas, simplesmente, porque a lei anterior ainda est em vigor. a nossa posio. No sentido do texto: RT, 142:37 e 421:83; STF, HC 74.498, 1 Turma, rel. Min. Marco Aurlio, j. 26-11-1996, Informativo STF, dez. 1996, 56:2. Doutrina JOS LUIZ V. DE A. FRANCESCHINI , O novo Cdigo Penal e a jurisprudncia, RT, 433:334 (trata da lei posterior benfica e norma penal em branco); RAUL DA CUNHA RIBEIRO, O art. 134 do novo Cdigo Penal e o direito intertemporal, JTACrimSP, 18:13-8, e RT, 436:289 e s.; MANOEL PEDRO PIMENTEL, A reforma penal, JTACrimSP, 15:15; ARY FLORNCIO GUIMARES, Direito intertemporal, RT, 416:51 e s.; HELENO CLUDIO FRAGOSO, A reforma da legislao penal I, RBCDP, 2:55- 6; Projeto de Cdigo Penal Tipo para a Amrica Latina, RBCDP, 4:151; Exposio de Motivos, n. 5; Cdigo Penal Tipo para Latinoamrica, Mxico, Academia Mexicana de Ciencias Penales, 1967, p. 492, art. 8, 2 parte; MAGALHES NORONHA, Anotaes ao Anteprojeto de Cdigo Penal, Tribuna da Justia, 16 maio 1966; ANBAL BRUNO, Direito penal, 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1959, v. 1, t. 1, p. 256 e nota 13; NLSON HUNGRIA, Comentrios ao Cdigo Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, v. 1, t. 1, p. 112; ROQUE DE BRITO ALVES, Direito penal; Parte Geral, Recife, Ed. de Pernambuco, 1973, p. 214; GERMAN J. BIDART CAMPOS, La irretroactividad de la ley penal y el principio de la ley ms benigna, Revista de Derecho Penal y Criminologa, Buenos Aires, 3(13):339, 1970; DE MARSICO, Diritto penale; Parte Generale, Napoli, Jovene, 1969, p. 44; LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, O direito penal e a Constituio de 1967, Revista de Informao Legislativa, Braslia, Senado Federal, jan./mar. 1969, p. 38; RAPHAEL CIRIGLIANO FILHO, Inovaes da Parte Geral do Cdigo Penal de 1969, Revista de Informao Legislativa, Braslia, Senado Federal, jul./set. 1970, p. 46; BASILEU GARCIA, Instituies, 1978, v. 1, p. 150; FABRCIO LEIRIA, Teoria e aplicao da lei penal, 1981, p. 82; FREDERICO MARQUES, Tratado, 1964, v. 1, p. 290; MAGALHES NORONHA, Direito penal, 1978, v. 1, p. 88; HUNGRIA e HELENO C. FRAGOSO, Comentrios ao Cdigo Penal, 1977, v. 1, t. 1, p. 120; HELENO CLUDIO FRAGOSO, Lies de direito penal, 1976; Parte Geral, v. 1, p. 117; EUVALDO CHAIB, O princpio da consuno no direito penal, RT, 581:274, mar. 1984;
  26. 26. ALBERTO SILVA FRANCO , Retroatividade penal benfica, RT, 589:285, nov. 1984; HELENO CLUDIO FRAGOSO, A lei penal no tempo, Revista do Superior Tribunal Militar, Braslia, 1:59-70, 1975; ALBERTO SILVA FRANCO , Retroatividade penal benfica, ADV Advocacia Dinmica, So Paulo, n. 13-17, jan. 1985, ed. especial; DAMSIO E. DE JESUS, Lei penal benfica, RJTJSP, So Paulo, 67:19-24, nov./dez. 1980; Novatio legis in melius, Justitia, So Paulo, 121:161-70, abr./jun. 1983; DAGOBERTO SALLES CUNHA CAMARGO, Aplicao retroativa da lei nova mais benfica s sentenas condenatrias com trnsito em julgado, JTACrimSP, 49:17-8, maio/jun. 1978; LUIZ VICENTE CERNICCHIARO e PAULO JOS DA COSTA JNIOR , Direito penal na Constituio, So Paulo, Revista dos Tribunais, 1990; JOAQUIM PEREIRA, Adequao de penas, Justitia, 150:47; AMRICO TAIPA DE CARVALHO , Sucesso de leis penais, Coimbra, Coimbra Ed., 1997; LUIZ HENRIQUE PINHEIRO BITTENCOURT, Da retroatividade dos dispositivos penais da Lei n. 9.964/00, que instituiu o Programa de Recuperao Fiscal REFIS, Boletim do IBCCrim, So Paulo, Revista dos Tribunais, 101:8, abr. 2001; JOS CARLOS GOBBIS PAGLIUCA, A lei penal no tempo, Estudos de Direito Penal, Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 1. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORRIA Art. 3 Alei excepcional ou temporria, embora decorrido o perodo de sua durao ou cessadas as circunstncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigncia. Leis excepcionais So as promulgadas em casos de calamidade pblica, guerras, revolues, cataclismos, epidemias etc. Leis temporrias So as que possuem vigncia previamente fixada pelo legislador. Este determina que a lei ter vigncia at certa data. Autorrevogao O trmino da vigncia das leis excepcionais e temporrias no depende de revogao por lei posterior, fugindo regra geral. Consumado o lapso da lei temporria, ou cessadas as circunstncias determinadoras das excepcionais, cessa a sua vigncia. Fala-se, ento, em autorrevogao. Princpio de reserva legal As leis temporrias e excepcionais no derrogam o princpio de reserva legal, pois no se aplicam a fatos ocorridos antes de sua vigncia. Ultra-atividade As leis de vigncia temporria (excepcionais e temporrias) so ultra-ativas, no sentido de continuarem a ser aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigncia mesmo depois de sua autorrevogao. A razo evidente. Se o criminoso soubesse antecipadamente que estivessem destinadas a desaparecer aps um determinado tempo, perdendo a sua eficcia, lanaria mo de todos os meios para iludir a sano,
  27. 27. principalmente quando iminente o trmino de sua vigncia pelo decurso de seu perodo de durao ou de suas circunstncias determinadoras. Se a lei temporria no tivesse eficcia aps o decurso do lapso temporal pr-fixado, todos os que tivessem desobedecido a sua norma nos ltimos dias de vigncia ficariam impunes, pois no haveria tempo para o processamento das aes penais antes da autorrevogao. Tal possibilidade criaria graves injustias: uns seriam condenados, outros, no. S seriam apenados os que tivessem praticado crimes em poca bem anterior ao trmino de sua vigncia. Hiptese de no seguir-se nenhuma lei, aps a autorrevogao da temporria ou excepcional, regendo o mesmo fato Neste caso, no mudada a represso penal. O ordenamento jurdico renascido (a lei ordinria) no pode ser considerado lei posterior, pois no h lei alguma mais benigna regulando o fato: a ordem jurdica a mesma. Faltam apenas elementos tpicos temporais exigidos pela lei intermitente. Se no h lei posterior, no h duas leis em conflito. No h questo de retroatividade benfica, pois inexiste o que retroagir. O problema de ultra-atividade. Hiptese de seguir-se, lei de vigncia temporria, outra mais benigna e regendo o mesmo fato Ocorre a retroatividade benfica quando a lei excepcional ou temporria posterior abrange no somente o comportamento descrito pela figura tpica antiga, mas tambm as circunstncias anormais que o tornaram punvel ou merecedor de maior punibilidade. Alterao do complemento da norma penal em branco Normas penais em branco so as de definio tpica integradas por outra norma. Modificada esta, favorecendo o sujeito, no retroagem. A nosso ver, s tem influncia a variao da norma complementar na lei penal em branco quando importe em real modificao da figura abstrata do Direito Penal, e no quando importe a mera modificao de circunstncia que, na realidade, deixa subsistente a norma. Nesse sentido: STF, HC 73.168, 1 Turma, rel. Min. Moreira Alves, DJU, 15 mar. 1996, p. 7204. Assim, a circunstncia de que uma norma retire de determinada moeda a sua natureza nenhuma influncia tem sobre as decises condenatrias existentes em consequncia de falsificao de moeda, pois no houve variao quanto ao objeto abstrato da proteo penal. A norma penal permanece a mesma. Nesse sentido: STF, HC 73.168, 1 Turma, rel. Min. Moreira Alves, Informativo STF, ago. 1996, 41:4. Para que a retroatividade benfica se produzisse, por exemplo, no crime previsto no art. 173 do Cdigo Penal (abuso de incapazes), desde que adotada a tese dos 21 anos, seria preciso que a menoridade civil fosse alterada: modificada esta, alterada estaria a idade do menor a que faz referncia a figura abstrata, o que realmente veio ocorrer em face do art. 5 do novo CC. Analisando a norma penal em branco, chegamos concluso de ser constituda de duas partes: 1) em parte uma lei com vigncia comum; 2) na outra deve ser atendida a excepcionalidade ou temporariedade. A primeira a disposio a ser completada; a segunda o complemento. A primeira no possui excepcionalidade ou temporariedade; a segunda pode ter aqueles caracteres que lhe do ultra-atividade. Assim, revogado o art. 269 do Cdigo Penal, que contm uma norma penal em branco,
  28. 28. no se pode falar em ultra-atividade em relao aos fatos praticados durante a sua vigncia. que a conduta deixa de ser considerada ilcita e a norma, que em branco, nada tem de temporria ou excepcional. Pode acontecer, entretanto, que a doena no denunciada pelo mdico seja retirada do elenco complementar, deixando de ser de notificao compulsria. Neste caso, duas hipteses podem ocorrer: 1) se a doena constava do elenco por motivo de temporariedade ou excepcionalidade, o caso de ultra-atividade; 2) se a doena fazia parte do elenco complementar por motivo que no excepcional, o caso de retroatividade. No exemplo do mdico que no faz comunicao de molstia legalmente considerada contagiosa, que depois se verifica no possuir tal caracterstica, de aceitar-se a retroatividade. E o motivo da aceitao reside na circunstncia de que a obrigatoriedade da notificao no se fundou na temporariedade ou excepcionalidade. Se tivesse sido colocada a doena no elenco complementar por causa de uma calamidade pblica, como uma epidemia, a soluo seria no sentido da ultra-atividade. Nesse sentido: STF, HC 74.168, 1 Turma, rel. Min. Moreira Alves, Informativo STF, ago. 1996, 41:4. Tabelamento de preos A alterao da tabela no exclui o crime (STF, RHC 55.250, RT, 533:435; RECrim 80.544, RTJ, 74:590). Isso porque as circunstncias posteriores, fticas e secundrias, no atingem a configurao da infrao. Assim, se a mulher vtima de corrupo de menores atinge a idade determinada como limite legal, a alterao no afeta o exame da figura tpica ocorrida no perodo anterior, em que tinha a proteo penal. Se uma casa deixa de ter essa qualidade tpica para se transformar em hospedaria, as violaes nela praticadas anteriormente no deixam de constituir crime. Se um cidado frauda o uso de privilgio de inveno concedido a outrem, a passagem da patente ao domnio pblico no altera a proteo legal e, assim, no desincrimina a conduta precedente. Na questo do tabelamento, a lei no sanciona o cidado porque vendeu a mercadoria pelo preo X ou Y, mas porque a vendeu por preo superior ao tabelado, seja X, Y ou Z. A conduta punvel a cobrana de preo abusivo, alm dos limites fixados pela autoridade competente, em face de determinada situao econmica. Supresso da tabela de preos No h retroatividade. No sentido do texto: STF, HC 58.614, RTJ, 116:619 e RT, 556:425; RECrim 80.544, RTJ, 74:590; TJMG, ACrim 6.447, RT, 535:352. Liberao do preo do produto No h retroatividade benfica, respondendo o sujeito pelo crime. No sentido do texto: STF, RT, 556:425 e RTJ, 74:590. Loteamento ilegal (Lei n. 6.766/79) Alterada a lei municipal que, no caso, funcionava como complemento da norma especial, opera-se a retroatividade benfica. Posio tomada pelo Tribunal de Justia de So Paulo (HC 47.435, RJTJSP, 104:501). Revogao da portaria sobre txico Retirada a referncia a determinada substncia txica do elenco da portaria, a
  29. 29. retroatividade benfica opera a extino da punibilidade (RJTJRS, 110:60). Doutrina ALBERTO SILVA FRANCO , A lei temporria e a lei excepcional, in Temas de direito penal, Saraiva, 1986, p. 25; EDLSON PEREIRA NOBRE JNIOR, Cinco temas controvertidos de direito penal, RTJE, 80: 4 ; AMRICO TAIPA DE CARVALHO , Sucesso de leis penais, Coimbra, Coimbra Ed., 1997; JOS CARLOS GOBBIS PAGLIUCA, A lei penal no tempo, Estudos de Direito Penal, Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 1. TEMPO DO CRIME Art. 4 Considera-se praticado o crime no momento da ao ou omisso, ainda que outro seja o momento do resultado. Conceito Tempo do crime o momento em que ele se considera cometido. Relevncia jurdica A determinao do tempo em que se reputa praticado o delito tem relevncia jurdica no somente para fixar a lei que o vai reger, mas tambm para fixar a imputabilidade do sujeito, circunstncias do tipo, seus elementos subjetivos, prescrio, anistia etc. Interesse prtico O tema apresenta interesse no caso em que, aps realizada a atividade executiva do delito e antes de produzido o resultado, surge nova lei, alterando a legislao sobre a conduta punvel: questiona-se a lei a ser aplicada, a do tempo da atividade ou a em vigor por ocasio da produo do resultado. Teorias Existem trs teorias a respeito: 1) da atividade; 2) do resultado; 3) mista. Segundo a teoria da atividade, atende-se ao momento da realizao da ao (ao ou omisso). Em face da teoria do resultado (do evento, ou do efeito), considera-se tempus delicti o momento da produo do resultado. De acordo com a teoria mista (ou da ubiquidade), tempus delicti , indiferentemente, o momento da ao ou do resultado. Teoria adotada pelo Cdigo Penal A da atividade, nos termos do art. 4. Crime permanente Nele, em que o momento consumativo se alonga no tempo sob a dependncia da vontade do sujeito ativo, se iniciado sob a eficcia de uma lei e prolongado sob outra, aplica-se esta, mesmo que mais severa. O fundamento de tal soluo est em que a cada instante da permanncia ocorre a inteno de o agente continuar a prtica delituosa. Assim, irrelevante tenha a conduta seu incio sob o imprio da lei antiga, ou esta no incriminasse o fato, pois o dolo ocorre durante a eficcia da lei nova: presente est a inteno de o agente infringir a nova norma durante a vigncia de seu comando.
  30. 30. Crime habitual D-se a mesma soluo do item anterior. Crime continuado Podem ocorrer trs hipteses: 1) o agente praticou a srie de crimes sob o imprio de duas leis, sendo mais grave a posterior: aplica-se a lei nova, tendo em vista que o delinquente j estava advertido da maior gravidade da sanctio juris, caso continuasse a conduta delituosa. Nesse sentido: STF, HC 76.680, 1 Turma, rel. Min. Ilmar Galvo, RT, 755:556; 2) se se cuida de novatio legis incriminadora, constituem indiferente penal os fatos praticados antes de sua entrada em vigor. O agente responde pelos fatos cometidos sob a sua vigncia a ttulo de crime continuado, se presentes os seus requisitos; 3) se se trata de novatio legis supressiva de incriminao, a lei nova retroage, alcanando os fatos ocorridos antes de sua vigncia. Quanto aos fatores posteriores, de aplicar-se o princpio de reserva legal. Crimes de estado Nesses delitos, como a bigamia, tempo do crime aquele em que surge o estado reclamado no tipo (CP, art. 111, IV). Concurso de crimes No concurso de crimes cometidos, parte sob a lei antiga e parte sob a nova, aplica-se a norma que determina o princpio da exasperao e no a que prescreve a acumulao material de penas. Prescrio Segue a teoria do resultado (CP, art. 111, I), salvo em relao menoridade, em que adotada a teoria da atividade (art. 115). Os crimes permanentes e os de falsificao ou alterao de assentamento do registro civil tm regras prprias (CP, art. 111, II e IV). Decadncia O prazo no contado da data do crime, mas do conhecimento de sua autoria (CP, art. 103). Doutrina ANBAL BRUNO, Esquemas de direito penal; teoria da lei penal, RDP, Rio de Janeiro, 5:111; Exposio de Motivos do Cdigo Penal de 1969, n. 6; Cdigo Penal Tipo para Latinoamrica, Mxico, Academia Mexicana de Ciencias Penales, 1967, p. 110 e s.; Projeto Soler, n. 9, nota 9, RBCDP, Rio de Janeiro, 12:211; justificao da Comisso Brasileira na 2 Reunio da Comisso Redatora do Cdigo Penal Tipo para a Amrica Latina, RBCDP, Rio de Janeiro, 11(4):175; ALFONSO REYES, Rumo unificao da legislao penal latino-americana, trad. Rosa Maria Duarte Guimares, RBCDP, Rio de Janeiro, 15:79; HELENO CLUDIO FRAGOSO, Projeto de Cdigo Penal Tipo para a Amrica Latina, RBCDP, 4:150-1; JOO MESTIERI, Teoria elementar do direito criminal, Rio de Janeiro, Sedegra, 1971, v. 1, p. 109; Manual de direito penal; Parte Geral, v. 1, Rio de Janeiro, Forense, 2002; FONTN BALESTRA, Tratado de derecho penal, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1966, t. 1, p. 263 e s.; GERMAN J. BIDART CAMPOS, La irretroactividad de la ley y el principio de la ley ms benigna, Revista de
  31. 31. Derecho Penal y Criminologa, Buenos Aires, La Ley, 3:333 e s., jul./set. 1966; MAYRINK DA COSTA, Direito penal, 1982, p. 218-36; OSCAR TENRIO, Da aplicao da lei penal, 1942, p. 172-329; ANBAL BRUNO, Direito penal, 1967, v. 1, p. 229-42; BASILEU GARCIA, Instituies, 1978, v. 1, p. 162-84; COSTA E SILVA , Comentrios ao Cdigo Penal brasileiro, 1967, p. 29-43; FREDERICO MARQUES, Tratado, 1964, v. 1, p. 233-315; MAGALHES NORONHA, Direito penal, 1978, v. 1, p. 92-9; HUNGRIA e HELENO CLUDIO FRAGOSO, Comentrios ao Cdigo Penal, 1977, v. 1, t. 1, p. 154-209 e 243-67; AMRICO TAIPA DE CARVALHO , Sucesso de leis penais, Coimbra, Coimbra Ed., 1997; CEZAR ROBERTO BITENCOURT, Sonegao fiscal Tempo do crime: teoria da atividade, Boletim do IBCCrim, So Paulo, Revista dos Tribunais, 101:3, abr. 2001. TERRITORIALIDADE Art. 5 Aplica-se a lei brasileira, sem prejuzo de convenes, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no territrio nacional. 1 Para os efeitos penais, consideram-se como extenso do territrio nacional as embarcaes e aeronaves brasileiras, de natureza pblica ou a servio do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcaes brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espao areo correspondente ou em alto-mar. 2 tambm aplicvel a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcaes estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no territrio nacional ou em voo no espao areo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Alei penal no espao A lei penal elaborada para viger dentro dos limites em que o Estado exerce a sua soberania. Como cada Estado possui sua prpria soberania, surge o problema da delimitao espacial do mbito de eficcia da legislao penal. Estamos em face do denominado Direito Penal internacional, que se refere ao estudo do modo pelo qual um determinado ordenamento jurdico interno prov, com referncia matria penal, a resoluo dos problemas impostos ao Estado, do qual emana este ordenamento, em virtude de sua coexistncia com outros Estados da comunidade internacional superior. Princpios que regem a aplicao da lei penal no espao So eles: 1) da territorialidade; 2) da nacionalidade; 3) da defesa; 4) da justia penal universal; e 5) da representao. Princpio da territorialidade A lei penal s tem aplicao no territrio do Estado que a determinou, sem atender nacionalidade do sujeito ativo do delito ou do titular do bem jurdico lesado. Princpio da nacionalidade A lei penal do Estado aplicvel a seus cidados onde quer que se encontrem. Divide- se em: a) princpio da nacionalidade ativa; b) princpio da personalidade passiva. Para o primeiro, aplica-se a lei nacional ao cidado que comete crime no estrangeiro independentemente da nacionalidade do sujeito passivo. O princpio da nacionalidade passiva exige que o fato praticado pelo nacional no estrangeiro atinja um bem jurdico de
  32. 32. seu prprio Estado ou de um cocidado. Princpio da defesa Leva em conta a nacionalidade do bem jurdico lesado pelo crime, independentemente do local de sua prtica ou da nacionalidade do sujeito ativo. Assim, por exemplo, seria de aplicar-se a lei brasileira a um fato criminoso cometido no estrangeiro, lesivo ao interesse nacional, qualquer que fosse a nacionalidade de seu autor. Princpio da justia penal universal Preconiza o poder de cada Estado de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do delinquente e da vtima, ou o local de sua prtica. Para a imposio da pena basta encontrar-se o criminoso dentro do territrio de um pas. Princpio da representao A lei penal de determinado pas tambm aplicvel aos delitos cometidos em aeronaves e embarcaes privadas, quando realizados no estrangeiro e a no venham a ser julgados. Princpios adotados pelo Cdigo Penal So eles: 1) da territorialidade: art. 5 (regra); 2) real ou de proteo: art. 7, I e 3; 3) da justia universal: art. 7, II, a; 4) da nacionalidade ativa: art. 7, II, b; 5) da representao: art. 7, II, c (excees). Territorialidade O Cdigo Penal adotou o princpio segundo o qual, em regra, a lei penal s aplicvel ao crime cometido em nosso territrio. Nesse sentido: RT, 742:511 e 517. Princpios excepcionais do direito internacional O Cdigo Penal adotou o princpio da territorialidade como regra sobre a eficcia espacial da lei penal, abrindo exceo no prprio corpo da disposio s estipulaes das convenes, tratados ou regras de direito internacional. De manifesta evidncia, pois, que a lei penal brasileira permite, em determinados casos, a eficcia da norma de outros pases. Territrio material e jurdico Sob o prisma material, recebe o nome de natural ou geogrfico, compreendendo o espao delimitado por fronteiras. Territrio jurdico abrange todo o espao em que o Estado exerce a sua soberania. o conceito que nos interessa. Nesse sentido: RT, 742:511 e 517. Componentes do territrio a) solo ocupado pela corporao poltica, sem soluo de continuidade e com limites reconhecidos; b) regies separadas do solo principal; c) rios, lagos e mares interiores; d) golfos, baas e portos; e) parte que o direito internacional atribui a cada Estado, sobre os mares, lagos e rios contguos; f) a faixa de mar exterior, que corre ao longo da costa e constitui o mar territorial; g) espao areo; e h) navios e aeronaves, conforme circunstncias indicadas nas notas posteriores. Vide art. 20 da Constituio Federal. O solo ocupado
  33. 33. Nenhuma dificuldade h quando se cuida do solo ocupado pela corporao poltica, sem soluo de continuidade e com limites reconhecidos. Quando os limites so fixados por montanhas, dois critrios so determinados: o da linha das cumeadas e o do divisor das guas. Rios Podem ser nacionais ou internacionais. Os primeiros correm pelo territrio de um s Estado. Os segundos, os internacionais, podem ser simultneos (contnuos) ou sucessivos (interiores). Rios internacionais simultneos so os que separam os territrios de dois ou mais pases (p. ex.: o Rio Guapor, que separa o Brasil da Bolvia). Rios sucessivos so os que passam pelo territrio de dois ou mais pases (p. ex.: Rio Solimes, que passa pelos territrios do Brasil e Peru). Mar territorial Atualmente, por fora do disposto no art. 1 da Lei n. 8.617, de 4 de janeiro de 1993, o mar territorial do Brasil abrange uma faixa de 12 milhas martimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, adotada como referncia nas cartas nuticas brasileiras. Vide art. 20, VI, da Constituio Federal. Navios brasileiros Os navios podem ser pblicos ou privados. Pblicos so os vasos de guerra, os em servios militares, em servios pblicos (polcia martima, alfndega etc.), e os postos a servio de soberanos, chefes de Estado ou representantes diplomticos. Navios privados so os mercantes, de recreio etc. Quanto aos navios pblicos, quer se encontrem em mar territorial nacional ou estrangeiro, quer se achem em alto-mar, so considerados parte de nosso territrio. Assim, competente a nossa justia para apreciar os crimes neles praticados (art. 5, 1, 1 parte). Com relao aos navios privados, quando em alto-mar, seguem a lei da bandeira que ostentam. Quando surtos em portos estrangeiros, ou em mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do pas em que se encontram (art. 5, 1, 2 parte). Navios estrangeiros Quando em guas territoriais brasileiras, desde que pblicos, no so considerados parte de nosso territrio. Em face disso, os crimes neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, so de natureza privada, aplica-se a nossa lei (art. 5, 2). Nesse sentido, tratando de navio mercante em guas territoriais brasileiras: STJ, RHC 853, RT, 665:353. Aeronaves Quanto ao domnio areo, h trs teorias: 1) da absoluta liberdade do ar; 2) da absoluta soberania do pas subjacente; 3) da soberania at a altura dos prdios mais elevados do pas subjacente. A segunda foi a adotada entre ns (CBA, Lei n. 7.565, de 19-12-1986, art. 11; art. 2 da Lei n. 8.617, de 4-1-1993). As aeronaves podem ser pblicas ou privadas, aplicando-se-lhes os mesmos princpios expostos quanto aos navios (art. 5, 1 e 2). Competncia: vide art. 90 do Cdigo de Processo Penal. Doutrina
  34. 34. NLSON HUNGRIA, Comentrios ao Cdigo Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, v. 1, t. 1, p. 158-73; ANBAL BRUNO, Direito penal, Rio de Janeiro, Forense, 1959, v. 1, t. 1, p. 221-4; Esquemas de direito penal, RDP, Rio de Janeiro, 5:102-3, 1972; BASILEU GARCIA, Instituies de direito penal, So Paulo, Max Limonad, 1956, v. 1, t. 1, p. 163- 72; JOS FREDERICO MARQUES, Tratado de direito penal, Saraiva, 1954, v. 1, p. 217-22, 231-40; MAGALHES NORONHA, Direito penal, So Paulo, Saraiva, 1963, v. 1, p. 105-7; TUPINAMB MIGUEL CASTRO DO NASCIMENTO, Eficcia da lei penal, RT, 449:327; LUS IVANI DE AMORIM ARAJO , Validez da lei penal no espao, RF, 296:51;LUIZ OTVIO DE OLIVEIRA ROCHA, A vigncia da lei penal no espao: efeitos da globalizao, Estudos de Direito Penal, Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 31; CARLOS EDUARDO ADRIANO JAPIASSU, O tribunal penal internacional, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2004. LUGAR DO CRIME Art. 6 Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ao ou omisso, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Conceito de lugar do crime A determinao do lugar em que o crime se considera praticado (locus commissi delicti) decisiva no tocante competncia penal internacional. Surge o problema quando o iter se desenrola em lugares diferentes. Assim, num crime de homicdio em que os atos executrios e o resultado morte ocorram em locais diversos. Cumpre ter em considerao a seguinte distino: ou os lugares diferentes esto no mesmo pas, ou em pas diverso. Na primeira hiptese, a questo sobre a competncia solucionada pelo que se contm no art. 70, caput, do Cdigo de Processo Penal: A competncia ser, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infrao. Posta a questo em termos internacionais, entretanto, a soluo no assim to fcil, uma vez que nem sempre coincidem as legislaes penais internas a respeito da matria. Teorias Para a soluo do problema tm sido preconizadas trs teorias principais: 1) da atividade; 2) do resultado; 3) da ubiquidade. De acordo com a teoria da atividade ou da ao, considerado lugar do crime aquele em que o agente desenvolveu a atividade criminosa, i. e., onde praticou os atos executrios. Segundo a teoria do resultado, tambm conhecida por teoria do efeito ou do evento, locus delicti o lugar da produo do resultado. Nos termos da teoria da ubiquidade, mista ou da unidade, lugar do crime aquele em que se realizou qualquer dos momentos do iter, seja da prtica dos atos executrios, seja da consumao. O nosso Cdigo adotou a teoria da ubiquidade, como se nota no artigo em exame. Importncia prtica Quando o crime tem incio em territrio estrangeiro e se consuma no Brasil, considerado praticado no Brasil. Nestes termos, aplica-se a lei penal brasileira ao fato de algum, em territrio boliviano, atirar na vtima que se encontra em nosso territrio,
  35. 35. vindo a falecer; como tambm ao caso de um estrangeiro expedir a uma pessoa que viva no Brasil um pacote de doces envenenados, ou uma carta injuriosa. Do mesmo modo, tem eficcia a lei penal nacional quando os atos executrios do crime so praticados em nosso territrio e o resultado se produz em pas estrangeiro. Basta que uma poro da conduta criminosa tenha ocorrido em nosso territrio para ser aplicada nossa lei (TACrimSP, RCrim 416.417, RT, 609:336). Irrelevncia de certos atos Excetuam-se os atos preparatrios e os posteriores consumao, que no pertenam figura tpica. A eles no se aplicam as nossas leis penais. Tentativa O dispositivo disciplina, inclusive, a hiptese da tentativa. Nesta, lugar da figura tpica de ampliao temporal no s aquele em que o sujeito desenvolveu a atividade executria, como tambm onde deveria produzir-se o resultado. Crimes a distncia Os crimes podem ser de espao mnimo ou de espao mximo, segundo se realizem ou no, no mesmo lugar, os atos executrios e o resultado. Na hiptese negativa, fala- se em crimes a distncia. Assim, por exemplo, um crime executado na Argentina e consumado no Brasil. Sendo o crime um todo indivisvel, basta que uma de suas caractersticas se tenha realizado em territrio nacional para a soluo do problema dos crimes a distncia. Mesmo que o fato seja punido no estrangeiro, tocando nosso territrio, incide sob a lei penal nacional. Quanto aos crimes a distncia, a competncia da autoridade judiciria brasileira fixada pelos 1 e 2 do art. 70 do Cdigo de Processo Penal: Se, iniciada a execuo no territrio nacional, a infrao se consumar fora dele, a competncia ser determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o ltimo ato de execuo ( 1). Quando o ltimo ato de execuo for praticado fora do territrio nacional, ser competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado ( 2). Crimes complexos Aplica-se a eles a regra do art. 6 mesmo que s o delito-meio tenha sido cometido em territrio brasileiro. Concurso de pessoas (CP, art. 29) Lugar do crime tanto o dos atos de participao ou coautoria quanto o da produo do resultado. Crime permanente e continuado aplicvel a lei nacional quando algum dos fatos constitutivos tenha sido praticado em nosso territrio, porque, na doutrina jurdica, em qualquer dessas formas criminosas, trata-se de delito unitrio. Crimes habituais Lugar do crime o de qualquer das condutas que pertencem ao tipo, pois este serve de liame entre os diversos atos.
  36. 36. Crimes conexos No tem aplicao a teoria da ubiquidade, uma vez que no constituem fato unitrio. Os casos apontados pelos autores so de coautoria e no de conexo. Assim, se o furto cometido no estrangeiro, e a receptao no Brasil, a competncia nacional s abrange o segundo crime. Resultado parcial O legislador referiu-se ao ou omisso, no todo ou em parte (grifo nosso). Silenciou, porm, quanto produo, em parte, do resultado. A omisso no prejudica a aplicao de nossa lei, uma vez que parte do resultado ainda resultado. Doutrina ANBAL BRUNO, Teoria da lei penal, RDP, Rio de Janeiro, 5:107-9, 1972; Comisso Redatora do Cdigo Penal Tipo para a Amrica Latina, RBCDP, Rio de Janeiro, 11:173- 5, 1965; ALFONSO REYES, Rumo unificao da legislao latino-americana, RBCDP, Rio de Janeiro, 15:80-1, 1966; Cdigo Penal Tipo para Latinoamrica, Mxico, Academia Mexicana de Ciencias Penales, 1967, p. 77-82 e 493; JOO MESTIERI, Teoria elementar do direito criminal, Rio de Janeiro, Sedegra, 1971, v. 1, p. 126-9; ROQUE DE BRITO ALVES, Direito penal, Recife, Cia. Editora de Pernambuco, 1972, v. 1, p. 226-9; HELENO CLUDIO FRAGOSO, Projeto de Cdigo Penal Tipo para Amrica Latina, RBCDP, Rio de Janeiro, 4:150-1, 1964; Exposio de Motivos do Cdigo Penal de 1940, n. 10; Parecer de Accioly Filho, Relator da Comisso de Constituio e Justia sobre o Projeto de Lei que altera dispositivos do Cdigo Penal de 1969, institudo pelo Decreto-Lei n. 1.004, de 21-10-1969, Senado Federal, p. 12-3, n. 8 ; TUPINAMB MIGUEL CASTRO DO NASCIMENTO, Eficcia da lei penal, RT, 449:330-4; CARLOS EDUARDO ADRIANO JAPIASSU, O tribunal penal internacional, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2004. EXTRATERRITORIALIDADE Art. 7 Ficam sujeitos lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repblica; b) contra o patrimnio ou a f pblica da Unio, do Distrito Federal, de Estado, de Territrio, de Municpio, de empresa pblica, sociedade de economia mista, autarquia ou fundao instituda pelo Poder Pblico; c) contra a administrao pblica, por quem est a seu servio; d) de genocdio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II os crimes: a) que, por tratado ou conveno, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcaes brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territrio estrangeiro e a no sejam julgados. 1 Nos casos do inciso I, o agente punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 2 Nos casos do inciso II, a aplicao da lei brasileira depende do concurso das seguintes condies: a) entrar o agente no territrio nacional; b) ser o fato punvel tambm no pas em que foi praticado; c) estar o crime includo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradio;
  37. 37. d) no ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou no ter a cumprido a pena; e) no ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, no estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorvel. 3 Alei brasileira aplica-se tambm ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condies previstas no pargrafo anterior: a) no foi pedida ou foi negada a extradio; b) houve requisio do Ministro da Justia. Extraterritorialidade da lei penal Nos termos do art. 5 do Cdigo Penal, o legislador penal brasileiro adotou o princpio da territorialidade como regra. Esse princpio, entretanto, sofre excees no prprio corpo do dispositivo, ao ressalvar a possibilidade de renncia de jurisdio do Estado, mediante convenes, tratados e regras de direito internacional. Como se v, foi adotado o princpio da territorialidade temperada, permitindo-se a aplicao da lei penal estrangeira a delitos total ou parcialmente praticados em nosso territrio, quando assim determinarem tratados ou convenes celebrados entre o Brasil e outros Estados, ou cnones de direito internacional. Alm disso, o art. 7, de forma expressa, permite a aplicao de outros princpios. Assim, certos crimes praticados no estrangeiro sofrem a eficcia da lei nacional. a extraterritorialidade da lei penal brasileira. No art. 7, I, a, b e c, foi adotado o princpio real ou de proteo; na d, o princpio da justia universal. No inc. II, a, adotou-se o princpio da justia universal ou cosmopolita; na alnea b, o princpio da personalidade ativa, na c, o da representao. Reza o 3 do art. 7 que a lei brasileira aplica-se tambm ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se reunidas certas condies. Nesse dispositivo, temos a adoo do princpio de proteo ou real. Formas da extraterritorialidade A extraterritorialidade excepcional pode ser: a) incondicionada; b) condicionada. Extraterritorialidade incondicionada prevista nas hipteses do inc. I do art. 7, quais sejam, as de crimes cometidos no estrangeiro contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repblica; contra o patrimnio ou a f pblica da Unio, do Distrito Federal, de Estado, de Territrio, de Municpio, de empresa pblica, sociedade de economia mista, autarquia ou fundao instituda pelo Poder Pblico; contra a Administrao Pblica, por quem est a seu servio; e de genocdio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Diz-se incondicionada a extraterritorialidade excepcional da lei penal brasileira, nesses casos, porque a sua aplicao no se subordina a qualquer requisito. Funda-se o incondicionalismo na circunstncia de esses crimes ofenderem bens jurdicos de capital importncia, afetando interesses relevantes do Estado. Cometendo um crime previsto nas alneas do inc. I do art. 7 o agente punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro ( 1). Tal rigorismo vem amenizado pelo art. 8, que reza: A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela computada, quando idnticas. A al. a cuida de crime cometido contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repblica, que constitui delito contra a Segurana Nacional (Lei n. 7.170, de 14-12-1983, art. 29). Delito contra a liberdade do
  38. 38. Presidente da Repblica (constrangimento ilegal, ameaa, sequestro etc.) figura tpica definida na Lei de Segurana Nacional (art. 28 da referida lei). Os crimes contra a existncia, a segurana ou integridade do Estado e a estrutura das instituies esto previstos na Lei de Segurana Nacional, quando cometidos em tempo de paz; quando em tempo de guerra, pela legislao militar. As alneas b e c do inc. I do art. 7 aludem a crimes previstos nos arts. 289 e 326 do Cdigo Penal. A alnea d trata do crime de genocdio cometido no estrangeiro, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Trata-se de crime previsto na Lei n. 2.889, de 1-10-1956. Vindo a ser cometido por estrangeiro contra brasileiro, aplica-se o art. 7, 3, do Cdigo Penal. Extraterritorialidade condicionada Ocorre nos seguintes casos: 1) crimes que, por tratado ou conveno, o Brasil se obrigou a reprimir (art. 7, II, a); 2) crimes praticados por brasileiro no estrangeiro (al. b); 3) delitos praticados em aeronaves ou embarcaes brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em territrio estrangeiro e a no sejam julgados (al. c); 4) crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7, 3). Diz-se condicionada porque a aplicao da lei penal brasileira se subordina ocorrncia de certos requisitos (als. dos 2 e 3). A primeira hiptese a de crimes que, por tratado ou conveno, o Brasil se obrigou a reprimir, em que foi adotado o princpio da justia cosmopolita ou universal. Cuida dos crimes denominados internacionais, como trfico de mulheres, difuso de publicaes obscenas, de entorpecentes e destruio ou danificao de cabos submarinos. O segundo caso o de crimes praticados por brasileiro no estrangeiro (al. b). Adotou-se o princpio da personalidade ativa. Tem apoio no interesse do Brasil em punir o nacional que delinquiu no estrangeiro segundo nossas leis, vedando a sua extradio (Lei n. 6.815, de 19-8-1980, art. 77, III; CF, art. 5, LI). A terceira hiptese cuida do princpio da representao, inovao em nosso sistema penal, corrigindo uma lacuna na matria. Trata dos casos de crimes cometidos em aeronaves ou embarcaes brasileiras, de natureza privada, quando em territrio estrangeiro. Assim, suponha-se um delito cometido a bordo de aeronave brasileira, em voo sobre territrio estrangeiro, sem escalas, sendo estrangeiros os sujeitos ativo e passivo. Pelo sistema anterior, no era aplicvel nossa lei penal. O mesmo ocorria em relao aos delitos praticados a bordo de navios. Pelo novo princpio, o Estado a que pertence a bandeira do navio ou da aeronave se substitui quele em cujo territrio aconteceu o delito, desde que no julgado por motivo relevante. O quarto caso o de crime praticado por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil ( 3), voltando o legislador a adotar o princpio de proteo ou real. Nos quatro casos, a aplicao da lei brasileira depende do concurso das seguintes condies: 1) entrar o sujeito no territrio nacional; 2) ser o fato punvel tambm no pas em que foi praticado; 3) estar o crime includo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradio; 4) no ter sido o sujeito absolvido no estrangeiro ou no ter a cumprido a pena; 5) no ter sido o sujeito perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, no estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorvel (art. 7, 2). No quarto caso (crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil), alm desses requisitos, s se aplica a lei brasileira se: 1) no foi pedida ou foi negada a extradio ( 3, a); 2) houve requisio do Ministro
  39. 39. da Justia (al. b). Essas condies devem coexistir, i. e., a lei brasileira s aplicvel quando incidem todas as condies ao mesmo tempo. A primeira a entrada do agente no territrio nacional. O ingresso pode ser voluntrio ou no; a presena, temporria ou prolongada. A segunda condio de ser o fato punvel tambm no pas em que foi praticado. Exige-se, pois, que a conduta esteja descrita como crime na legislao do pas em que foi realizada, quer com o mesmo nomen juris empregado pela nossa, quer com outro. A terceira condio estar o crime includo entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradio. condio objetiva de punibilidade. Outro requisito no ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou no ter a cumprido a pena. Se o agente foi absolvido ou cumpriu a pena no estrangeiro, ocorre uma causa de extino da punibilidade. Se a sano foi cumprida parcialmente, novo processo pode ser instaurado no Brasil, com atendimento da regra do art. 8. Por ltimo, exige-se no ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, no estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorvel. Como evidente, cuida-se de causas de extino da punibilidade. No caso de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, alm das condies previstas no 2, so exigidos os requisitos das alneas do 3, para que haja a aplicao de nos