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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática em Sustentabilidade Vol. 4 n° 2 - Maio de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179474 X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected] DESIGN DE MODA: POSSIBILIDADES DE INOVAÇÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE Fashion Design: Possibilities for social innovation and sustainability Regina Akemi Okada¹, Lilyan Berlim² Centro Universitário UNILASSALE – Niterói – RJ Pós–Graduação em Design de Moda e Sustentabilidade Sociais da UFRRJ) [email protected],[email protected] RESUMO: Este trabalho sugere tornar o design de moda uma ferramenta sustentável através de sua inserção em contextos sociais e disseminar modos diferentes de se pensar sobre o mundo, introduzindo idéias no plano cultural que possam mudar concepções em relação ao "estilo de vida" das pessoas. Nessa perspectiva, serão abordadas teorias sobre conceitos de desenvolvimento e de atribuições do design para melhoria de qualidade de vida e promoção de bem estar. Como também, as necessárias mudanças nos modos de se fazer moda para que o design de moda estimule soluções criativas e gere Inovações Sociais. Assim, serão apresentadas inovações e conceitos sobre Inovações Sociais. Mas, para fomentar novos valores e critérios, e fortalecer a diversidade de padrões culturais, é preciso entender a amplitude social da moda e de sua relação com a formação cultural da identidade e o consumo. Então, serão expostas teorias que envolvem o conceito de moda e de padrões culturais estabelecidos. Também serão descritas referências baseadas na ética e na justiça para servir como elo de princípios integradores de contextos sociais inovadores e reger melhores convívios. Palavras-chave: design de moda, estilo de vida, desenvolvimento, Inovações Sociais, ética. ABSTRACT: This work suggests making the fashion design to serve as a tool of sustainable insert in social contexts and disseminate different ways of thinking about the world, introducing ideas in cultural terms that can change values in relation to the "lifestyle" people. In this perspective, theories of development concepts and tasks of the design to improve quality of life and promoting wellness will be addressed. As well, the necessary changes in ways of doing fashion for the fashion design encourage creative solutions and manage Social Innovations. Therefore, innovations and concepts on Social Innovations will be presented. However, to develop new values and criteria, and strengthen the diversity of cultural patterns, one must understand the social range of fashion and its relationship to cultural identity formation and consumption. So that, theories involving the concept of fashion and cultural patterns will be exposed. References based on ethics and justice to serve as a link integrator of innovative principles governs social contexts and best gatherings are also described. Key words: fashion design, lifestyle, development, Social Innovations, ethics.

Design de moda: Possibilidades de inovação social e sustentabilidade

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Artigo publicado na Revista Iniciação - edição temática em Sustentabilidade Vol. 4, nº2, Ano 2014 Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 2179-474X Acesse a edição na íntegra! http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/?page_id=13 Autores:Regina Akemi Okada e Lilyan Berlim RESUMO: Este trabalho sugere tornar o design de moda uma ferramenta sustentável através de sua inserção em contextos sociais e disseminar modos diferentes de se pensar sobre o mundo, introduzindo idéias no plano cultural que possam mudar concepções em relação ao "estilo de vida" das pessoas. Nessa perspectiva, serão abordadas teorias sobre conceitos de desenvolvimento e de atribuições do design para melhoria de qualidade de vida e promoção de bem estar. Como também, as necessárias mudanças nos modos de se fazer moda para que o design de moda estimule soluções criativas e gere Inovações Sociais. Assim, serão apresentadas inovações e conceitos sobre Inovações Sociais. Mas, para fomentar novos valores e critérios, e fortalecer a diversidade de padrões culturais, é preciso entender a amplitude social da moda e de sua relação com a formação cultural da identidade e o consumo. Então, serão expostas teorias que envolvem o conceito de moda e de padrões culturais estabelecidos. Também serão descritas referências baseadas na ética e na justiça para servir como elo de princípios integradores de contextos sociais inovadores e reger melhores convívios. Palavras-chave: design de moda, estilo de vida, desenvolvimento, Inovações Sociais, ética.

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática em Sustentabilidade Vol. 4 n° 2 - Maio de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179474 X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected]

DESIGN DE MODA: POSSIBILIDADES DE INOVAÇÃO SOCIAL E

SUSTENTABILIDADE

Fashion Design: Possibilities for social innovation and sustainability

Regina Akemi Okada¹, Lilyan Berlim²

Centro Universitário UNILASSALE – Niterói – RJ

Pós–Graduação em Design de Moda e Sustentabilidade

Sociais da UFRRJ)

[email protected],[email protected]

RESUMO: Este trabalho sugere tornar o design de moda uma ferramenta sustentável

através de sua inserção em contextos sociais e disseminar modos diferentes de se

pensar sobre o mundo, introduzindo idéias no plano cultural que possam mudar concepções em relação ao "estilo de vida" das pessoas. Nessa perspectiva, serão

abordadas teorias sobre conceitos de desenvolvimento e de atribuições do design para

melhoria de qualidade de vida e promoção de bem estar. Como também, as necessárias

mudanças nos modos de se fazer moda para que o design de moda estimule soluções

criativas e gere Inovações Sociais. Assim, serão apresentadas inovações e conceitos

sobre Inovações Sociais. Mas, para fomentar novos valores e critérios, e fortalecer a

diversidade de padrões culturais, é preciso entender a amplitude social da moda e de

sua relação com a formação cultural da identidade e o consumo. Então, serão expostas

teorias que envolvem o conceito de moda e de padrões culturais estabelecidos. Também

serão descritas referências baseadas na ética e na justiça para servir como elo de

princípios integradores de contextos sociais inovadores e reger melhores convívios. Palavras-chave: design de moda, estilo de vida, desenvolvimento, Inovações Sociais, ética.

ABSTRACT: This work suggests making the fashion design to serve as a tool of

sustainable insert in social contexts and disseminate different ways of thinking about the

world, introducing ideas in cultural terms that can change values in relation to the

"lifestyle" people. In this perspective, theories of development concepts and tasks of the

design to improve quality of life and promoting wellness will be addressed. As well, the

necessary changes in ways of doing fashion for the fashion design encourage creative

solutions and manage Social Innovations. Therefore, innovations and concepts on Social

Innovations will be presented. However, to develop new values and criteria, and

strengthen the diversity of cultural patterns, one must understand the social range of

fashion and its relationship to cultural identity formation and consumption. So that,

theories involving the concept of fashion and cultural patterns will be exposed.

References based on ethics and justice to serve as a link integrator of innovative

principles governs social contexts and best gatherings are also described.

Key words: fashion design, lifestyle, development, Social Innovations, ethics.

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1. Introdução

Para que o design de moda se torne uma eficaz ferramenta sustentável é preciso utilizar

suas características intrínsecas de possuir um grande potencial criativo e estimulador

para disseminar modos diferentes de se pensar sobre o mundo, e introduzir idéias no

plano cultural que possam alterar as concepções em relação ao estilo de vida das

pessoas. Isso pode ser justificado pela expressiva abrangência social da Moda nas

sociedades contemporâneas que envolvem padrões simbólicos de desejos e de consumo.

Assim, foram expostas teorias sobre o conceito de Moda e de sua relação com a

formação cultural da identidade e o consumo. Mas, segundo o designer Manzini (2008),

a interferência social só poderia emergir de dinâmicas complexas de inovações

socioculturais nas quais os projetistas (designers) podem ter um papel importante.

Desta maneira, foram propostas possíveis interferências do design mais voltadas para o

bem estar e para a melhoria de qualidade de vida. Entretanto, é importante observar

que a construção de cenários sustentáveis deve estar baseada em inovações que

atendam critérios de qualidade que sejam ao mesmo tempo sustentáveis para o

ambiente, socialmente aceitáveis e culturalmente atraentes para as pessoas. (MANZINI,

VEZZOLI, 2011).

Assim, será preciso mais que utilizar práticas e processos costumeiros e adaptados aos

limites impostos pela sustentabilidade. O design deverá mediar mudanças, estimular

soluções criativas, fomentar novos critérios e valores e gerar Inovações Sociais. Desse

modo, serão expostas possibilidades de inovações e de referências sobre o conceito de

Inovações Sociais. Mas, para seguir um caminho mais sustentável, o campo do design

de moda precisará mudar o modo como se faz moda e transitar em contextos sociais

incomuns, apoiar-se em valores culturais e em experiências práticas que estimulem o

envolvimento e o cuidado, ao mesmo tempo em que melhore a vida cotidiana das

pessoas. Também será importante conjugar ideias a limites, usar a criatividade e

satisfazer aspectos imateriais humanos. Nesta perspectiva, foram descritas algumas

propostas de novos procedimentos, atividades e outros campos de atuação do design de

moda, segundo a visão de Kate Fletcher e Linda Groose.

Estruturar contextos sociais mais sustentáveis requer o entendimento dos parâmetros

estabelecidos pela sustentabilidade, e de se conhecer de que tipo de desenvolvimento é

proposto para a vida das pessoas. Assim, este trabalho considerou teorias que sugerem

um desenvolvimento econômico diferente do convencional, como nos estudo de Amartya

Sen, Max-Neef e Ezio Manzini.

Mas, para selar melhores convívios e promover democraticamente a justiça é

fundamental adotar princípios éticos para formar um elo de integração de contextos

sociais inovadores. Assim foram expostas algumas referências éticas e de como elas

podem interferir na responsabilidade social, no comércio justo e na cidadania.

2. Fundamentação Teórica

A sustentabilidade é um conceito sistêmico que envolve aspectos econômicos,

socioculturais e ambientais e direciona as atividades humanas para atender as suas

necessidades e preservar o meio ambiente. Isto exige o desenvolvimento produtivo e

social dentro dos limites da capacidade do planeta de absorver e de se regenerar,

minimizando os impactos da ação humana e sem comprometer a satisfação das

necessidades das futuras gerações. Honrar esse compromisso exige distribuição

equânime dos recursos, segundo o princípio de que todos têm o mesmo direito de

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acesso ao espaço ambiental. É nisso que se baseia o Desenvolvimento Sustentável ao

pregar a solidariedade em relação à conservação dos recursos naturais. O conceito

fundamental desta teoria está descrita no relatório Nosso futuro comum, conhecido

como relatório Brundtland elaborado pela ONU1 para oferecer parâmetros de

sustentabilidade. Os princípios sustentáveis indicam mudanças nos modos de vida da

sociedade e tem na justiça igualitária a base fundamental para que todos tenham o

mesmo direito e acesso aos recursos naturais. Ainda que isto se configure em novas

relações entre os humanos e o meio ambiente, esses princípios estabelecem objetivos de

desenvolvimento em todas as esferas sociais. Mas o que seria este desenvolvimento na

vida das pessoas? A resposta não é simples, porque o próprio conceito de

desenvolvimento é controverso. Entretanto neste trabalho, as referências estão

baseadas em autores que entendem o desenvolvimento diferente do pensamento

econômico convencional, entre eles estão; Amartya Sen (1999), que entende o

desenvolvimento como a expansão das liberdades subjetivas, Max-Neef (1998), que tem

como referência a escala humana e avalia o homem integrado na comunidade e a sua

inter-relação de necessidades e satisfações humanas, e Ezio Manzini (2008) que

relaciona desenvolvimento ao bem-estar e a qualidade de vida e ao cuidado das

pessoas, considerando o design como um mediador de mudanças.

De acordo com a opinião de Ezio Manzini (2008), a qualidade de vida está ligada ao

modo como diferentes sistemas, naturais, artificiais, físicos e socioculturais se inter-

relacionam e são dependentes do resultado do cuidado de todas as pessoas que ali

vivem. Portanto, a ideia de bem-estar deve estar atrelada ao acesso a uma variedade de

produtos e serviços, mas também à qualidade e à quantidade dos bens comuns

disponíveis. Assim, as oportunidades sociais promoveriam um maior acesso ao tipo de

vida que as pessoas gostariam de ter ou fazer (concepções relativas à funcionalidade), e

ofereceriam maior liberdade de escolhas (ser o que as pessoas gostariam de ser e levar

ao tipo de vida que o indivíduo deseja). Desta maneira, o desenvolvimento de um

contexto social seria determinado pelos diversos padrões de vida e de bem-estar

individual. Semelhante pensamento pode ser encontrado nos estudos de Amartya Sen,

em sua publicação Desenvolvimento como Liberdade (1999). Este economista fala que o

desenvolvimento pode ser visto como uma expansão de liberdades reais que as pessoas

desfrutam e requer a remoção das principais fontes de privação de liberdade, como:

fome, o não-acesso a água potável, pobreza e tirania, a carência de serviços de

educação, saúde e segurança, e a negação dos direitos políticos e civis. Isso quer dizer

que o desenvolvimento de um contexto social seria determinado pela soma dos diversos

padrões de bem estar individual, ou seja, pelo conjunto de liberdades subjetivas que as

pessoas desfrutam e indicaria o quanto elas podem exercer sua autonomia. Por exemplo,

o senso comum costuma relacionar desenvolvimento humano com o valor do PIB2 de

uma determinada população, mas os estudos de Sen mostram que afrodescendentes

americanos, apesar de viverem em um país rico, têm expectativa de vida menor que nos

países de terceiro mundo, como Gabão e Índia. Isso se deve à preponderância de fatores

culturais sobre as facilidades do mundo industrial e moderno.

Para entender a relação do desenvolvimento com as demandas sociais por um bem

estar, o economista chileno Manfred Max-Neef (apud FLETCHER, 2010) elaborou estudos

taxonômicos e identificou 'riquezas e pobrezas'. Assim, foram identificadas nove

necessidades fundamentais: subsistência, proteção, afeição, compreensão, participação,

1 A Organização das Nações Unidas, também conhecida pela sigla ONU, é uma organização internacional formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial. Definição disponível em: http://www.onu.org.br Acesso em: 25 de setembro de 2011 2 Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os serviços e bens produzidos num período (mês, semestre, ano) numa determinada região (país, estado, cidade, continente), e é expresso em valores monetários e é um indicador da atividade econômica de uma região, representando o crescimento econômico.

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lazer, citação, identidade e liberdade, as quais foram inter-relacionadas com promotores

de satisfação (categorias existenciais): ser, ter, fazer e interagir (estar). Dessa forma,

Max Neef compreendeu que as necessidades fundamentais são distintas das satisfações

humanas, e que o querer é insaciável e infinito. A sua metodologia se concentra em uma

escala mais humana e tem como referência as expectativas pessoais. Ele tenta captar as

necessidades culturais, emocionais e fundamentais, e mostra a amplitude de valores

envolvidos. Mas, o autor observa que os resultados são diferentes na cultura e no modo

como essas necessidades são atendidas pela sociedade, e de que este modelo poderia

ser aplicado em qualquer lugar (FLETCHER, 2010).

Outra abordagem a ser considerada é a psicológica que fala de um bem estar e

qualidade de vida está vinculada ao bem-estar individual subjetivo e ao bem-estar

social. O bem estar individual indicaria o que as pessoas sentem e pensam em relação as

suas vidas; refere-se às relações interpessoais, aos impactos de eventos da vida, a

comportamentos e a diferenças transculturais (GIACOMONI, 2004). Já o bem estar

social; se refere à satisfação pela vida, ao trabalho, às sensações de felicidade, alegria,

afeto e nas bases da psicologia positiva; nos conceitos psicossociais como; otimismo,

esperança, auto-estima, inteligência emocional, valores transcendentes, acolhimento,

proteção, responsabilidade, suporte e justiça social (SIQUEIRA, 2008).

Isso quer dizer, que um esperado desenvolvimento deve surgir por mudanças de

estruturas sociais que levem em consideração um conjunto de fatores envolvidos na vida

humana. Pois, segundo as observações do designer Manzini (2008), um contexto de vida

é composto pelo ambiente físico e social de uma pessoa, e pelas possibilidades

oferecidas ao indivíduo para que ele tenha a capacidade de fazer suas escolhas. Portanto, a proposta para cenários sustentáveis corresponderia a mudanças de "estilo de

vida" e estaria relacionado ao desenvolvimento de atividades no plano cultural que

promovam novos critérios e valores, ou seja, ações que tendam a mudar

comportamentos e, nessa perspectiva, modificar a própria estrutura de contextos

sociais.

3. Inovações Sociais

Manzini (2008) observa que algumas pessoas ou comunidades estão mudando a maneira

de agir para resolverem suas dificuldades, regenerando suas vidas e os contextos sociais

onde vivem. Elas utilizam soluções criativas e criam novas oportunidades. Isto é

chamado de Inovações Sociais3. Essas inovações consistem em novos conceitos,

estratégias e métodos capazes de atender as necessidades das pessoas no trabalho,

lazer, educação, saúde e no suporte de ações inovadoras e empreendimentos de

interesse social. As Inovações Sociais têm como propósito, favorecer o senso de

comunidade, a solidariedade e por modos de vidas mais sustentáveis. Elas formam

estruturas sociais mais abertas e flexíveis, e rompem com padrões consolidados e

experimentam novos arranjos sociais. Para o Centro para Inovação Social do Canadá4

(CSI, 2003), as Inovações Sociais nascem de ideias que resolvem desafios sociais e

culturais e tem uma nova abordagem social de bens públicos e interesses coletivos. É

3 Inovações Sociais foi descrito em Design para inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais em estudo publicado nos Cadernos do Grupo de Altos Estudos; v.1 - Programa de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ (EMUDE apud MANZINI, 2008).

4 Centre of Social Innovation (CSI) - Centro de Inovação Social do Canadá (CAN) busca modelos de espaço de trabalho compartilhado e tem missão social que envolve artes e ambiente, justiça e educação.

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um sistema de mudanças apoiado na colaboração pessoal e na criatividade. De acordo

com Langenbach (2008), as Inovações Sociais deslocariam o valor do consumo para o

valor dos relacionamentos e serviços. Assim, essas novas vivências teriam como

prioridade as necessidades humanas acima das satisfações do mercado e promoveria a

inclusão social, a capacitação de agentes ou de atores sociais e favoreceriam nas

relações de poder. Nestas novas estruturas, o conhecimento tenderia a ser

compartilhado e colaborativo e as ações e idéias estariam voltadas para o cotidiano.

Além disso, haveria mais tolerância, empreendedorismo, bens comuns e um ritmo de

vida mais lento; e como recursos sociais, estas novas estruturas utilizariam a tradição e

o respeito às estações climáticas e ao espaço local.

É significativo considerar que os padrões sustentáveis formam estruturas sociais mais

flexíveis e têm como fundamento soluções criativas e mudanças de comportamento.

Portanto, esses padrões constituiriam um caminho para mudança, uma reavaliação e

reposicionamento dos nossos modos de vida e a transformação de ações em relação ao

consumo, produção e processos. Neste sentido, estes limites não denotam conservação

em relação a ações humanas, mas sim preservação e regeneração dos meios sociais e

ambientais. Como também, seria um ganho para a vida moderna quando sob o ponto de

vista da responsabilidade, da democratização de possibilidades e do aprendizado social.

4. Bem Estar e Consumo

O conceito de bem-estar baseado em produtos teve sua origem na revolução Industrial,

no século XVIII, com a difusão da produção de massa e da concepção de que os

artefatos poderiam ser criados para trabalhar por nós, como modernos escravos

mecânicos. Isso gerou um bem-estar baseado no consumo e na minimização do

envolvimento pessoal, cuja estratégia principal seria sempre requerer menos esforço

físico, atenção, tempo e o mínimo de habilidade e de capacidade do consumidor. Mesmo

que alguns seres humanos tendam à passividade e sintam prazer em ser servidos, a

nova proposta é de um bem estar baseado na atividade, na troca participativa e no

cuidado. Isso se refletiria em nossa aptidão para cuidar de nós mesmos, da nossa

família, da vizinhança e do meio ambiente em que vivemos. Entretanto, essa ideia de

bem-estar, não deve ser considerada o único modo de ser, mas sim uma oportunidade

de oferecer uma amplitude de possibilidades, de lógicas e de diferentes aspirações

(MANZINI, 2008).

A promessa de um bem-estar baseado na aquisição de artefatos do atual modelo de desenvolvimento dos países "desenvolvidos", não pode ser mantida, pois 80% da

população estão excluídos deste bem-estar. Este consumo, segundo o WBSCD (apud

MANZINI, 2008) extrapola a capacidade de recuperação dos ecossistemas. Isso quer

dizer que a sociedade deverá se desenvolver a partir da redução dos níveis de produção

e consumo material e, simultaneamente, melhorar a qualidade do ambiente social e

físico5. Outro caminho nos aponta para um sistema cultural onde produtos e serviços

materiais regenerem a vida das pessoas. Ou seja, a compensação poderá vir de outras

formas intangíveis de qualidade de vida como as relacionadas às questões sociais e éticas. Isso mudaria a perspectiva do interesse pelas "coisas" para "experiências nas

atividades realizadas", e significa planejar diferentes combinações. Essas mudanças de

conduta transformariam as áreas de produção e consumo e definiriam novos conceitos

de qualidade de vida e a ideia de bem estar.

5 Segundo o WBCSD de 1995, o metabolismo da sociedade deverá viver bem utilizando 10% dos recursos consumidos hoje em uma sociedade industrializada.

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Segundo a opinião do designer, essas transformações aconteceriam na esfera física

(fluxo de materiais e energia), na esfera econômica e institucional (relação entre os

atores sociais), e na ética, na estética e na cultura (valores que dariam legitimidade

social). Ou seja, essas mudanças aconteceriam a nível sistêmico e devem surgir através

de escolhas positivas e de valores éticos, estéticos e culturais que melhorem as

condições de vida individual e coletiva, e que não comprometam o bem-estar de todas

as vidas e das futuras gerações do planeta (perspectiva sustentável). Portanto, o

conceito de bem-estar deve ter o foco deslocado da relação-consumo para o acesso a

serviços, para a diversidade de bens comuns disponíveis e ao fortalecimento das

capacidades pessoais (MANZINI, 2008).

Sendo assim, no aspecto da dimensão social e cultural, a qualidade de vida de vida e as

condições de bem-estar das pessoas seriam determinados pelo critério do convívio, da

solidariedade e da existência de ligações sociais afetivas que unem diferentes indivíduos.

Constatar o envolvimento e o valor dessas ligações e sentir-se parte de uma comunidade

permitiriam aos indivíduos exercer suas próprias capacidades como pessoas

competentes e responsáveis. Assim, uma mudança de foco nos produtos para o foco no

modo como se fazem as coisas, levaria a cuidar das coisas, do menor de todos os

produtos até o planeta inteiro e vice-versa (MANZINI; VEZZOLI, 2011)

5. Design, Design de Moda e Inovações

No pensamento de Manzini (2008), a essência do design está relacionada à melhoria de

qualidade de vida e representa forte componente ético e cultural, e atua como mediador

entre artefatos e pessoas em suas relações cotidianas e nas expectativas de bem-estar.

Essa característica do design facilitaria a comunicação, a integração entre pessoas, a

troca de conhecimentos e a formação de compromissos que aumentassem o valor da

convivencialidade6.

Na opinião de Ivan Illich (1973), essa relação convivencial representa as ações de

pessoas que participam na criação da vida social. Isto significaria uma mudança da

produtividade para a chamada convivencialidade, substituindo o valor técnico por um

valor ético, e a substituição do valor material por um valor adquirido. Assim, a

convivencialidade seria oposta às virtudes técnicas da ciência e do poder profissional, e

representaria a relação direta entre a socialização e a aprendizagem. Isso seria possível

ao se valorizar situações educativas não formais, como a auto-formação, a formação

educacional em contextos de trabalho ou no cotidiano das pessoas. Esta teoria aborda os

limites do crescimento da sociedade humana nos países super-industrialisados e está

apoiada nas ideias de que a produção industrial cria e multiplicam as necessidades, a

medicina inventa doenças, a velocidade cria distâncias e as escolas incorporam

mecanismos industriais

"Uma sociedade convivencial é uma sociedade

que oferece ao homem a possibilidade de

exercer uma ação mais autônoma e mais

criativa, com auxílio das ferramentas menos controláveis pelos outros" (ILLICH, 1973, p.37)

Manzini (2008) sugere que hoje em dia a sustentabilidade deveria ser o meta-objetivo

de todas as possíveis pesquisas em design e descreve fundamentos que devem ser feitos

antes de começar um projeto de design sustentável que seriam:

6 Esse termo convivencialidade, Ivan Illich se define como a atitude transcendente e legítima de reconhecer o

outro com que nos relacionamos (ILLICH, 1973)

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Pensar antes de fazer, considerar os objetivos e implicações gerais que

sejam eticamente aceitáveis;

promover a variedade, proteger e desenvolver a diversidade biológica,

sociocultural e tecnológica e dar importância aos produtos locais, e

respeitar os contextos locais;

usar o que já existe e reduzir a necessidade do novo, minimizar a

intervenção no que já existe e melhorar o existente, proteger ou atualizar

o conhecimento e as formas existentes de organização.

Outro setor significativo para a construção de iniciativas sociais sustentáveis seria o

Design Experimental. Esse setor envolve valores empíricos e tem como objetivo

compreender a subjetividade do homem através de sua função simbólica e assim

entender suas crenças, as tradições e a cultura local. Ele diz respeito à cultura, aos

significados e aos aspectos emocionais e sociológicos de um serviço ou de um produto.

Esse setor do design estimula a troca social, valoriza usuários e os provedores do serviço

relacionando-os à experiência que o consumidor tem do serviço. Além disso, a aplicação

dessa experiência consiste na comunicação direta, no diálogo e no entendimento da

especificidade de cada um. O que torna o design um facilitador de processos (CANDI

apud LANGENBACH, 2008).

Para o campo do design da moda, trabalhar para a sustentabilidade significa mudar os

modos de se fazer moda. Isto é, será preciso entender o que é Moda e conhecer as

atividades, oportunidades e de possibilidades criativas para então, ampliar e diversificar

seu campo de ação.

Segundo Fletcher e Grose (2010), roupas e moda são entidades diversas: as roupas

estariam relacionadas com a produção material (indústria) e a Moda, com a produção

simbólica (desejos, emoções, identidade). Ambas, as produções contribuem para o bem-

estar humano em aspectos funcionais e emocionais, e satisfariam uma série de

necessidades, tanto físicas (abrigo e proteção), quanto associadas à moda, como o de

expressão pessoal e a sensação de pertencimento. As autoras observam que o campo

capaz de unir estes dois conceitos seria a área do design de Moda, ao qual somaria as

necessidades funcionais, como matérias primas, formas, durabilidade, qualidade e as

necessidades culturais e emocionais expressas na moda (BERLIM, 2012).

Lilyan Berlim em seu livro Moda e sustentabilidade: uma reflexão necessária (2012)

observa algumas oportunidades práticas do design de moda pouco exploradas em

relação ao aspecto relacional que as pessoas têm com seus bens materiais. Na opinião

da autora, a intimidade que o ser humano tem com suas roupas e acessórios

consistiriam em aspectos mais sutis e profundos da necessidade humana, como afeto,

proteção e memória. Essas relações teriam significações mais cognitivas, afetivas e hedonistas e fariam com que as pessoas guardassem estes objetos "especiais". Assim,

quanto mais significações tiverem estes objetos, maior seria seu prazo de durabilidade e

menor sua obsolescência. Isso refletiria economicamente em oportunidades de novos

negócios, substituindo as quantidades pela qualidade de bens materiais (BERLIM, 2012).

A mesma observação está presente nos estudos de Kazazian (2005) onde o autor

esclarece que pensar no consumo de moda significa gerenciar a obsolescência produzida,

não apenas a perda de funções ou de desgaste que condicionam a vida dos produtos

(KAZAZIAN, 2005). Neste sentido, Berlim (2012) descreve alguns segmentos e

atividades de design de moda que estão surgindo a favor da sustentabilidade, que são:

O Design Emocional - estimula o aspecto relacional e íntimo entre bens

materiais e as pessoas, favorecendo a afetividade, os valores cognitivos e

hedonistas e aumentando-se a durabilidade dos mesmos;

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O Design de Serviços - a prestação de serviço aumentaria a vida de bens

materiais e diminuiria a necessidade de se produzir novos objetos;

O Slow Design - envolve atores sociais do “Sistema Moda” (designers,

varejistas, comerciantes e consumidores), considera a velocidade da

natureza e dos recursos utilizados na produção têxtil para se comparar

com a velocidade com que estes bens materiais estão sendo descartados.

Conscientização dos impactos da produção dos produtos sobre as pessoas

e os ecossistemas;

O Design Participativo - os usuários e designers teriam um contato mais

profundo, favorecendo um maior compartilhamento de conhecimentos e

saberes. Isto significaria a co-participação no processo de criação e

produção;

O Open-Source Design - tem como filosofia promover o acesso e a

redistribuição universal, via licença grátis do design de um produto ou

projeto. É uma ideia de fonte aberta de informações na área do design de

moda e são ferramentas de informações, processos, materiais e utilidades.

Isto refletiria a necessidade que as pessoas têm de compartilhar suas

capacidades e conhecimentos, colaborando de modo global (via web), de

modo livre do controle do mercado ou de empresas.

Como se percebe, promover a sustentabilidade social e cultural significa priorizar

mudanças em relação aos sistemas de negócios que vão além das fronteiras corporativas

ou de disciplinas individuais. Assim, relacionar a sustentabilidade com o design de moda

se iniciaria através de novas formas de atuação e de interferências em contextos sociais

diferentes dos convencionais. Como também, uma mudança do foco restrito nos

produtos, para as mudanças dos modelos atuais de negócios, regras e metas

econômicas. Isto exige analisar estruturas, motivações e práticas de negócios já

estabelecidas, e mudanças nas novas formas de atuação dos designers.

Nesta nova perspectiva, o designer poderia atuar como ativista, comunicador (trabalhos

na internet), facilitador ou um empreendedor, incentivando a diversidade de negócios e

fortalecendo o comprometimento com a comunidade. Como empreendedor incentivaria

os trabalhos que estariam dentro dos limites da lentidão, valorizando-se os trabalhos

manuais, os de processamento natural e em pequenas escala. Na forma interdisciplinar,

ele ampliaria suas atividades práticas tradicionais para desenhar atividades, criar ideias,

plataformas e comportamentos, enfatizando processos em detrimento dos resultados.

Essas inovações práticas causariam uma abundância de experiências, criatividade e livre

pensamento, tendo como resultado um novo tipo de prosperidade: o da vida cotidiana.

Assim, embora contrarie o pensamento moderno, muitos dos problemas ambientais e

sociais na moda não tem solução apenas na técnica ou na área mercadológica, mas em

soluções morais e éticas, valores que não são aprendidos pelos negócios e pelo mercado.

A solução também pode estar num movimento profundo e abrangente de comunicação e

educação para que a população seja estimulada a conhecer melhor sobre os sistemas

ecológicos e naturais e suas interconexões com os sistemas humanos (FLETCHER;

GROSE, 2010).

As designers Fletcher e Goose (apud BERLIM, 2012) desenvolvem projetos de pesquisa

baseadas em experimentações baseadas no Saber Local (estímulo ao artesanato), no

tempo de vida das roupas (metabolismo da moda), no cuidado dos consumidores com as

roupas, Reuso (reciclagem e recondicionamento), e na Satisfação (roupas que nos fazem

felizes) (BERLIM, 2012). As pesquisadoras fizeram observações importantes sobre

algumas atividades, inovações e oportunidades para o design de moda em um futuro

sustentável:

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Adequação do design de moda para os limites de impactos ambientais, novas ideias para "reconstrução ambiental e social", Inovações Sociais

mudando relações de trabalho e cultura;

promoção de estética Pluralista, diferentes modelos de negócios;

fortalecimento dos aspectos imateriais da moda;

flexibilização de processos produtivos e serviços de moda, adaptação sob

condições ambientais e capacidade dos ecossistemas regionais;

otimização de água e energia nas peças, no uso e reuso;

promoção de eco produtos e otimização de recursos;

atividades estratégicas que estimulem a atuação, a colaboração e a

participação de atores sociais, alimentando transformações sociais e

culturais;

ética, psicologia, ecologia para aplicação prática;

sucesso dos empreendimentos medidos em termos sociais, culturais e

ambientais;

produção proporcional aos benefícios sociais, ambientais e culturais;

monitoramento para alimentar o restabelecimento de qualidade social e

ambiental;

estabelecimento educacional de fontes de conhecimento lento e

incubadoras de novos modelos de negócios.

6. Sistemas Inovadores

Inovações de produtos e processos

Ezio Manzini e Carlo Vezzoli (2011), em O desenvolvimento de Produtos Sustentáveis,

falam de mudanças em todos os níveis da sociedade em que vivemos. Essas mudanças

exigiriam grandes dinâmicas em ação e a consideração dos efeitos de sua interação.

Entre eles estão: a gestão de sistemas interconectados e de fluxos de matéria e energia,

a transformação do estereótipo do trabalho (reduzindo-se em quantidade e aumentando

sua qualidade), a multiplicidade de atividades econômicas desenvolvidas de maneira

informal e voluntária, e o desenvolvimento de serviços.

Entretanto, na atualidade, para os designers de moda e para as empresas do vestuário,

são nos processos e nos materiais que envolvem a fabricação do produto é que

aparecem as mudanças ou inovações. Ou seja, no grau de influência sobre o ciclo de

vida dos produtos em todas as suas fases. Mas a sustentabilidade traz para a moda um

modo diferente de pensar o mundo, e se baseia em novos padrões e em equilíbrios a

serem alcançados. Ela requer dos designers uma fusão de experiências adquiridas e um

amplo conhecimento do sistema moda.

Segundo Fletcher e Grose (2010), é necessário se conhecer o que já foi feito para

desenvolver novas propostas e orientar cenários sustentáveis, e gerar uma simbiose

criativa e científica. Além disso, é preciso pensar em ações mais colaborativas e criar

novas formas de confeccionar roupas. Porém, num período de transição, os aspectos

físicos são ainda moldados pelos limites dos recursos naturais e energéticos, mas

significam uma oportunidade de exercício para criatividade. Abaixo serão citados alguns

aspectos importantes descritos por Manzini e Vezzoli (2011) e outros envolvidos no

projeto de design de moda e considerados por Kate Fletcher e Lynda Grose (2010):

1) pensar em processos produtivos e produtos configurados para o descarte;

2) adequar estruturas de produção já existente. Priorizar a reutilização de

recursos naturais;

3) a substituição dos atuais fontes de fibras têxteis por tecidos fabricados em

100% de pureza. Ex: 100% algodão orgânico ou 100% de poliéster, para

facilitar a reciclagem ou a compostagem;

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4) diminuição de produtos químicos nas fibras têxteis e dos processos

industriais. Substituição dos produtos atuais por outros menos

impactantes;

5) inovação tecnológica na criação de fibras com qualidades sustentáveis em

termos de produção e processos, já vistas, mas hoje chamadas de "inteligentes". Ou seja, com funções específicas que reduzam a demandas

de lavagens e passadoria;

6) estímulo a modelagens com máxima simplificação (menos partes ou costuras) ou baseados no "Zero Waste", ou seja, na redução zero de

resíduos. Modelagens negativas ou Moulage;

7) reduzir o número de costuras, linhas e acessórios: evitar junções com

materiais incompatíveis, botões, colchetes, zíperes, velcros, etc;

8) criar peças modulares ou com multi-funções para prolongar seu tempo de

vida (maior qualidade dos produtos);

9) estimular a criatividade e a estética individual e coletiva;

10) estimular fluxos de serviços que promovam relações prolongadas e de

participação entre atores sociais (aluguel de bolsas, sapatos, lenços,

bijuterias ou materiais esportivos, Co-design; participação na criação e

confecção de artefatos de moda;

11) produtos que promovam maior interatividade emocional com usuários e

expectadores (eventos de troca, customização, artefatos personalizados

sob medida);

12) processos que promovam economia de recursos e tenham capacidade de

restaurar contextos de vida (processos que envolvam a inclusão social).

Dinâmica inovadora: A Natureza

Estruturas inovadoras, que tragam benefícios ao ser humano e suas necessidades,

podem surgir de novos desenhos sociais de cenários sustentáveis. Esses modelos

indicam uma abordagem mais holística, semelhantes aos sistemas naturais biológicos,

como propõe Kazazian (2005). O autor descreve o exemplo da natureza como um

sistema de diversidade complexa, mas com soluções simples. Isto porque a dinâmica do

sistema natural está presente em todas as escalas (micro e macro), o que fortaleceria a

ligação entre os elementos. Cada sistema existe pela soma de suas relações, pois cada

um beneficia o todo; é a propriedade da interdependência, e existe um tempo necessário

para estas relações durem e se transformem infinitamente, e se reorganizem em ciclos.

Esses ciclos recebem e doam energia em fenômenos auto-reguladores, promovendo o

equilíbrio sistêmico. Dessa interdependência, forma-se uma dinâmica baseada na

solidariedade associativa e colaborativa, cujo sucesso do conjunto, se encontra

potencialmente em cada indivíduo (KAZAZIAN, 2005). Essa abordagem teórica baseada

no equilíbrio cíclico e interdependente da natureza também é encontrada nas filosofias

com base naturalista do Mundo Oriental, em especial na China, há séculos. A mais antiga

do Yin-Yang está contida no Livro das Mutações, datados por volta de 700 a.C. Ela

determina que o equilíbrio é alcançado na natureza através do movimento e da troca de

energias de elementos opostos que são interdependentes entre si, pois um não existiria

sem o outro. Outra filosofia que se baseia na natureza é a dos cinco elementos. Essa foi

criada na Escola Naturalista, por volta dos séculos 350 a.C. Os cinco elementos foram

estudados a partir da observação da natureza e são encontrados em tudo o que existe.

Assim a interpretação das cinco características ou energias é simbólica, mas o respeito

por sua dinâmica é fundamental. Ela está baseada na coexistência harmônica de

elementos complexos e diferentes, mas que são interdependentes entre si, pois um não

pode ser mais forte que outro, pois é assim que sustentam o equilíbrio vital do conjunto.

Isto significa que cada elemento é importante para o todo, pois qualquer variação de

um, compromete a integridade do outro. Mas, o mais relevante nestas filosofias, é sua

aplicação para além da natureza; na própria vida humana; pois considera o homem

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como parte integrante e pertencente à natureza e não distinta a ela. Uma comprovação

disto é a adoção dessa filosofia como base prática para sua medicina tradicional

(MACIOCIA, 1989).

Portanto, encontramos semelhanças significativas, nesses modelos com referências em

sistemas naturais: O caráter holístico do sistema, a interdependência, a

complementaridade, a dinâmica, a mutação, a auto regulação, o equilíbrio sistêmico, o

caráter cíclico, onde a unidade é tão importante quanto o todo. Soluções simples para

diversidades complexas, flexibilidade, solidariedade associativa e colaborativa.

Inovações em escala menores

Kate Fletcher e Lynda Grose (2010) entendem que as oportunidades de inovação

fundamentam-se em um conjunto de práticas diferentes, onde valores e relações

econômicas devem ser revistas para visões mais ecológicas, isto é, inspiradas na

natureza. Isso envolveria um trabalho mais lento, mais complexo e mais estratégico,

diferentes das encontradas nas produções em larga escala e de distribuição globalizada.

Sistemas globalizados manteriam a incapacidade de entender os impactos ecológicos e

sociais. Ao passo que, sistemas feitos em uma escala menor, mudariam também as

relações entre os materiais, pessoas, lugares, comunidades e meio ambiente. Além

disso, esta solução é mais ágil e adaptável para atuação experimental dos designers,

contribuindo no conjunto para mudanças culturais. Essa opinião também é

compartilhada por Thierry Kazazian (2005), que destaca a importância da criação de

unidades de tempo, lugar, espaço, e de ações em uma escala microeconômica como a

melhor alternativa para solucionar questões complexas e permitir intervenções

eficientes. Assim, segundo os autores, isso fortaleceria a economia local junto com a

diversidade cultural e estética, ampliando a sustentabilidade para além do produto, para

o campo social e cultural no envolvimento de empresas, design de moda e usuários

cidadãos.

Casos Inovadores de inspiração criativa

Lilyan Berlim (2012) observa que a moda é considerada um dos mais poderosos meios

de comunicação, e selecionou um trabalho criativo e relevante que promove uma

reflexão sobre o desenvolvimento sustentável através da moda, é o caso de Ronaldo

Fraga. A autora também descreve alguns exemplos sustentáveis expressivos de ações da

sociedade civil e parcerias, iniciativas empresariais e modelos de negócios alternativas

ou híbridas como: O caso da Contextura e a Coopa-Roca. Um exemplo significativo é

observado no Projeto Asas7 de Belo Horizonte. Esse projeto teve início como uma

atividade acadêmica e se expandiu para uma rede produtiva, englobando parcerias com

a iniciativa privada. Atualmente fortalece seus empreendimentos através da capacitação

multidisciplinar no aperfeiçoamento de produtos de design e focam ações coletivas,

estimulando-se a participação e a consciência social; garantindo dessa forma a cidadania

da comunidade do Aglomerado da Serra.

Asas

O projeto Asas é uma atividade de extensão da Universidade FUMEC (Fundação Mineira

de Educação e Cultura) iniciada em 2007, e tornou-se uma atividade acadêmica

integrada que agrega propostas no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. Iniciou-se

como um projeto isolado de capacitação em artesanato e design, e atualmente tornou-se

uma rede produtiva que consistem em: Asas aglomeradas (Estamparia, oficinas de

7 Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra. Disponível em: http://projetoasas.org/blog/

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costura, bordado, e artigos para decoração e bolsas); Asas Moda Laje (núcleo de costura

e de modelagem experimental); Asas Bambu (transforma o material em acessórios de

moda e decoração); Asas psicologia (parceria com os cursos de psicologia e

administração); Asas Tecnologia Social (Projetos de capacitação em artesanato e

design). Esses projetos buscam elaborar processos produtivos complementares, visando

constituir e fortalecer uma rede produtiva no Aglomerado da Serra. A capacitação é

multidisciplinar e é elaborada com o intuito de gerar renda por meio do desenvolvimento

de produtos com alto valor agregado, que incorporem aspectos do design

contemporâneo com o artesanato urbano. Todas as ações do Asas são focados no

empoderamento (significa ação coletiva desenvolvida por indivíduos quando participam

de decisões, consciência social dos direitos sociais). Obtendo-se assim, a aquisição de

emancipação individual, consciência coletiva para superação de dependência social e

dominação política, poder e dignidade, liberdade de decidir e controlar seu destino com

responsabilidade e respeito ao outro (Cidadania). Possuem o desenvolvimento técnico e

criativo e estabelece processos colaborativos e coletivos tanto de produção quanto de

auto-gestão, para se ter uma tecnologia social replicável. Os Atuais parceiros do Asas

são: Programa Fica Vivo; ACES; Aglomeradas; BH Cidadania; Escola Municipal Padre

Guilherme Peters; Loja Grampo; Meninas do Cafezal; Quina Galeria; Serra Bambu;

Unisol; Santander; Raiz da Terra; Task; Professores da FUMEC.

Outro exemplo foi o Projeto Núcleo Design do Bem iniciado em 2010. Este projeto se

desenvolveu na Terceira Turma de Pós-Graduação de Design de Moda e Sustentabilidade

dos Institutos Superiores La Salle e tem como objetivo uma proposta criativa e

participativa que visa ampliar a atuação do design de moda na área sustentável. Ele tem

como princípios a ética, a coletividade e a solidariedade, e oferece consultorias a

terceiros em vários segmentos sociais O Núcleo possui um laboratório de pesquisas

acadêmicas e possui um embrionário atelier social que está em fase de implementação.

Núcleo Design do Bem

O projeto do Núcleo tem como objetivo criar plataformas de pesquisa e de extensão

adequando ideias criativas, fortalecendo serviços, processos inovadores, parcerias e

experiências. Entre suas atividades estão o desenvolvimento de coleções, a sugestão de

materiais e de processos de ecodesign. Recentemente, o Núcleo Design do Bem prestou

consultoria a um ranário localizado na região de Japerí (RJ) cuja atividade gerava grande

número de peles de rã residuais, o que causava um grave problema para o meio

ambiente. Num primeiro momento, foram feitas pesquisas prévias, estudos de campo e

análises preliminares, determinando-se dificuldades, potencialidades e oportunidades

encontradas na criação das rãs. Então, foi analisado o material descartado e todos os

elementos envolvidos no processo produtivo, como também foram consideradas as

expectativas das pessoas envolvidas na localidade. A escolha por um beneficiamento

ecológico e a elaboração de uma espécie de patchwork de peles foi significativa como um

diferencial sustentável e determinante para formar uma manta adequada para o design

de artefatos e bolsas. Assim, foram criados modelos de carteiras e bolsas e

desenvolvidos os respectivos protótipos. Por conseqüência, mudou-se o destino das

peles, transformando-as em artefatos de design contemporâneos que fossem

potencialmente aceitos no mercado. Como também, foi sugerida a parceria com a ONG

vinculada ao ranário para trazer benefício à mão de obra local e a integração de atores

sociais. Desta maneira, encontrou-se uma solução sistêmica através do design,

integrando princípios de preservação dos contextos econômico, ambiental, social e

ambiental.

7. Princípios éticos para integração social

O envolvimento de pessoas engajadas com os mesmos objetivos de bem estar e de

qualidade de vida serviriam para unir interesses comuns e permitiriam reger melhores

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convívios. No entanto, é preciso integrar as pessoas num elo de princípios éticos e

estabelecer o respeito ao direito individual e comunitário na intenção de uma sociedade

sustentável e justa. A ética serviria como abrigo protetor para os seres humanos,

fazendo o homem a pensar, a refletir sobre si mesmo e sobre o mundo (PASSOS, 2004).

Ela constituiria as bases da responsabilidade social e serviriam a todos que reconheçam

que tem responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável. Mas precisamos estar

conscientes de que as expectativas pessoais variam num momento específico, pois essas

são passíveis a mudanças (INMETRO, 2010). A ética estaria no consumidor consciente,

que considera o bem estar coletivo, a preservação dos recursos naturais e na

remuneração justa dos trabalhadores. Também estaria no destino do dinheiro gasto e

em atividades que são coerentes com os seus valores. E mais, nas relações comerciais e

no comércio justo, que visa transações financeiras baseadas no respeito pelo outro, e de

uma postura de igualdade entre os diferentes atores sociais (FAJARDO, 2010). Enfim, a

ética estaria na cidadania, que busca o bem comum, a participação e a interação dos

grupos sociais, superando as individualidades e fazendo com que as pessoas se sintam

integradas em uma comunidade (REIS, 1998). Portanto, essa cidadania representaria

um referencial de conquista para a humanidade e para as pessoas que buscam os seus

direitos, uma maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e que não se

conformam frente às dominações, seja do próprio Estado ou de outras instituições

(AMORIM, 2007).

Em especial, no campo do design, as novas perspectivas da Sustentabilidade direcionam

o design para aderir considerações éticas formadas pelo Internacional Council of Socity

in Industrial Design8 (ICSID) de 2005. Essas considerações éticas indicam o design a

procurar identificar e avaliar relações estruturais, culturais, organizacionais, funcionais,

expressivas e econômicas visando:

-ampliar a sustentabilidade global e a proteção ambiental: ética global

ambiental;

-fornecer benefícios e liberdade a toda à humanidade, aos grupos e aos

indivíduos: equidade;

-fomentar a participação ativa de usuários finais e de produtores, tornando-

os protagonistas do processo de geração de valor: ética social;

-apoiar a diversidade cultural, mesmo com o processo de globalização: ética

cultural;

-dar aos produtos, serviços e sistemas, formas que expressem (semiologia) e

sejam coerentes com (estética) a sua própria complexidade.

8. Amplitude social da moda

Para transformar modos de vida e estimular novos comportamentos sociais, seria

importante entender a dinâmica da Moda, a sua função cultural para a identidade

individual e social e de sua amplitude nas sociedades contemporâneas. Também é

preciso conhecer os padrões culturais estabelecidos e de possibilidades de mudanças em

relação ao bem estar e qualidade de vida. Assim, serão abordados os aspectos da

origem da Moda e de sua relação com as sociedades capitalistas democráticas

individualistas e de teorias sobre a evolução do comportamento humano em relação ao

consumo.

8 Internacional Council of Socity in Industrial Design (ICSID) de 2005. Disponível em:

http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm

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As origens da Moda podem ser encontradas no período histórico Medieval, mas

firmaram-se socialmente no Renascimento em decorrência de um cenário de estabilidade

social e econômico gerados pela redução de constantes invasões e de guerras na

Europa. Esta estabilidade favoreceu o crescimento da vida urbana, as trocas comerciais

e as integrações culturais, tornando-se um ambiente próspero. Isso permitiu a evolução

das tecnologias, da ciência e do artesanato, promovendo transformações sociais

significativas. As transgressões culturais modificaram a lógica particular do vestir das

pessoas. Neste período surgiu o vestuário diferenciado segundo o sexo, rompendo com

as tradições e favorecendo o presente e a individualidade humana. Na intenção de

emergir socialmente, a classe burguesa em disputa com a aristocracia feudal tornou a

vestimenta a base material para indicar seu status social, e assim, a moda alcançou

grande evidência (SVENDESEN, 2010)

Inovações científicas e tecnológicas, a produção de massa e novos modos de

organização do trabalho, alteraram as condições de vida da sociedade, originando a

Revolução Industrial. A transformação de uma sociedade anteriormente produtiva para

uma consumista produziu mudanças sociais significativas encorajando a revolução de

hábitos, gostos e de preferências. O desejo por itens novos simbolicamente poderosos

tornou-se um mecanismo auto-estimulador de diferenciação social, promovendo-se a

minimização de valores tradicionais e a fragmentação da cultura no mundo. A Moda

dissipou-se por diversos grupos e pessoas, consolidando-se nas sociedades modernas e

formando as chamadas Sociedades do Consumo.

Lipovetsky (1989) diz que a Moda é uma forma específica de mudança social,

independente de qualquer objeto particular, ou seja, é um mecanismo social geral sem

se relacionar apenas ao vestuário. Segundo Svendsen (2010) é difícil conceber algum

fenômeno social que não seja influenciado por mudanças na moda, quer ela seja na

forma do corpo, o design de automóveis, na política ou na arte.

Para o filósofo e sociólogo, Georg Simmel no seu livro Filosofia da Moda (1904), a Moda

carregaria sua própria morte dentro de si e sua difusão foi criada no topo da sociedade

para então depois serem disseminadas para estratos sociais inferiores. Não apenas

assinalou a diferenciação de classes, mas atribuiu vínculos entre moda e identidade; as roupas seriam parte vital para a "construção do eu". A identidade não seria apenas

fornecida pela tradição, mas algo que temos que escolher através do consumo (SIMMEL

apud SVENDSEN, 2010). O resultado seria uma tensão paradoxal entre o desejo de

imitarmos os outros e o desejo de nos distinguir. É a teoria do Trickle-down, ou seja, o

princípio da caça e fuga. Isso formaria uma dinâmica social, e a imitação proporcionaria

ao indivíduo a segurança de não estar sozinho em suas ações (MEZABARBA, 2010).

Assim, a Moda equilibraria necessidades e inclinações humanas opostas, como a

individualidade, semelhança, pertencimento, liberdade e independência.

Semelhante abordagem é encontrada nos estudos de Thorstein Veblen (1974). O autor

desenvolveu a teoria da classe Ociosa em que o indivíduo se diferencia das classes

sociais mais baixas através do consumo de objetos posicionais e do ócio, o chamado

Consumo Conspícuo. Nessa teoria, a exibição perante o outro é fundamental, pois

comunicaria e expressaria o status social. O ócio garantiria a posição honorífica e a

satisfação de necessidades físicas e espirituais, e seriam assumidas pelo consumo de

bens imateriais: talentos, habilidades, conhecimentos e capacidades. Assim, as pessoas

de classe social elevada seriam estimuladas há gastar seu tempo com o supérfluo, ou

seja, com atividades não produtivas. De acordo com o autor, neste período, a sociedade

industrial gerou um estágio pecuniário, onde o acúmulo de riquezas eram sinais de

prestígio e de emulação (competição, inveja ou rivalidade) (VEBLEN apud

CHELUCHIANCHK, A., CAVICHILLI, F., 2010).

Outro estudo importante foi o de Pierre Bourdieu que na sua publicação A distinção

(1979) analisa a sociedade de consumo com uma ênfase mais cultural; fala sobre o

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habitus (sistema de disposição adquirida pela aprendizagem implícita ou explícita – agir,

pensar, sentir) formador do gosto. Esse gosto revelaria sinais complexos e qualificados

socialmente indicando que o estilo de vida seria gerado por um consumo simbólico e

cultural e funcionaria como estratégias de diferenciação usada pelas classes mais altas

em relação às mais baixas. Isso seria determinado pelas limitações materiais que

indicariam as escolhas estéticas (BOURDIEU apud MEZABARBA, 2010). Pierre Bourdieu

(1979) também fala sobre o que é entendido por apropriação de objeto de qualidade. O

autor observa que a classificação de qualidade é determinada pelo campo social, o qual

não é necessário ter razões para preferir uma coisa à outra numa sociedade de

consumo. As pessoas comprariam diferenças na forma de valores simbólicos. Portanto, é

este valor simbólico que substituiria o valor de utilidade e seria vital para a formação da

identidade pessoal e da auto realização social (BOURDIEU apud SVENDESEN, 2010).

Para Colin Campbell (CAMPBELL; COLIN; apud SVENDSEN, 2010) o homem seria um

hedonista moderno, romântico e que vive no imaginário, especialmente controlado pelo

prazer, o que revelaria que a lógica cultural da modernidade não é somente a

racionalidade instrumental, mas também a paixão e o desejo. Lipovetsky (1989) diz que

o consumo seria motivado por um desejo de experimentar bem-estar e prazer. Isto é, do

prazer de mudar constantemente; do disfarce e da metamorfose, e não determinada

pela ostentação.

Embora a distinção social seja uma das funções sociais da moda, esta não explicaria a

amplitude de sua dinâmica. Foi pela lógica e pela dignificação do Novo que a moda se

afirmou e se espalhou socialmente.

Os principais promotores de sua dinâmica são: a efemeridade e a obsolescência;

princípio o qual se cria numa velocidade cada vez maior e torna um objeto supérfluo o

mais rapidamente possível, para que um novo tenha uma chance. A moda seria uma

forma específica de mudança e de mecanismo social caracterizado por um intervalo de

tempo breve, permitindo afetar esferas muito diversas da vida coletiva. Na história

mundial o desenvolvimento e o fortalecimento da Moda significaram a redução de força

dos valores tradicionais, direcionando as sociedades do Ocidente, para as qualidades

modernas. A moda tornou-se agente e promotora da consolidação das sociedades

capitalista democrática individualista (LIPOVETSKY, 1989).

(...) "foram os valores e as significações

culturais modernas, dignificando em particular

o Novo e a expressão da individualidade

humana, que tornaram possíveis o nascimento e o estabelecimento do sistema Moda"

(LYPOVETSkY, 1989, p.11)

De acordo com Felipe Rocha, a moda é entendida como um pólo de manifestação

efêmera, quando as peças de vestuário fazem parte de um quadro de funcionalidade

material e provida dos modos de produção capitalista das Sociedades Modernas.

Entretanto, quando ela é encarada como manifestação estética e visual, ela traz a

história civilizacional do homem, e torna-se elemento de um sistema lingüístico cultural

(ROCHA, 2007).

Bauman (2008) diz que o modo de vida produzido pela sociedade moderna após o

período da Segunda Guerra até a década de sessenta, foi construído a partir das

orientações determinadas por desejos de aquisição de bens duráveis e com grande

visibilidade social; seriam as do tipo tradicionais de padrões, simbolizando estabilidade e

segurança, remetendo-se status de posse, poder e conforto, principalmente de respeito

pessoal. Neste período as pessoas consumiam mercadorias pesadas e duráveis, como

imóveis e jóias. Possuir uma grande quantidade de bens duráveis trazia segurança

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contra as incertezas do destino. Nada era imediato. A prudência, a segurança e a

durabilidade eram a maior posse e prazer da chamada sociedade dos produtores.

Assim, gradativamente, mudanças sociais para uma sociedade contemporânea

transformou os ambientes existenciais em uma reconstrução das relações humanas em

relação aos objetos de consumo. O novo indivíduo descobriu o prazer de consumir,

deslocando-o para o imediato. As obrigações dos indivíduos passaram a ser sociais e a

de proteger sua autoestima. É a partir daí que começou a se consumir objetos sem

sentidos e não para suas necessidades básicas. O mercado induziu ao excesso de

mercadorias e ao anseio de cultivar os desejos. A passagem para uma sociedade

consumidora apresentou-se de maneira gradual; com a emancipação individual e de sua

limitada capacidade de escolha, para uma aquisição de liberdade de escolha e decisão

diante de suas necessidades, até a evolução no prazer de consumir. Dessa forma, a

durabilidade de mercadorias foi descartada por esta nova sociedade, não existindo mais

lealdade aos objetos consumidos. (BAUMAN, 2008)

Na interpretação de Lilyan Berlim (2012) com o surgimento da moda, obteve-se a

conotação de busca de identidade, e que as atuais teorias socioculturais definem a moda

como a construção cultural da identidade. O vestir geraria um sistema que possibilita a

experiências estéticas subjetivas, vinculando os significados de beleza, tristeza, alegria,

simplicidade, sofisticação, pobreza, tradicionalismo, vanguardismo, comprometimento

político e muitos outros (BARTHES, ROLAND apud BERLIM, 2012). Assim, a moda

tornou-se mais personalizada, com mais diversidade estilística e um meio de

comunicação e expressão da identidade social. Ou seja, ela passa a proporcionar ao

indivíduo um meio de construção da personalidade e estilo de vida pessoal. Segundo Sue

Jenkyn Jones (2005), o ato de vestir e a moda promoveriam ao indivíduo algumas

funções como: Utilidade, Moralidade, Auto-aprimoramento psicológico, Ornamentação,

Diferenciação simbólica e Filiação Social. Para Santaella (2004) a socialização dos corpos

dos indivíduos se dá pelas roupas e é no jogo das aparências que o ser social manifesta

o seu eu em relação ao seu meio ambiente (SANTAELLA apud ROCHA, 2007).

A socióloga Fátima Portilho (2005) diz que na atualidade, o papel do consumidor tem se

modificado e estaria mais ativo e tendendo para reinterpretações. Este consumidor daria

outro uso aos produtos, ideias e as mensagens que receberia. A aquisição de carros,

roupas, marcas, sapatos, mostrariam a posição ocupada na hierarquia social,

comunicaria bens e objetos, representando a materialização de valores e da visão da

relação entre humanos e da natureza. O ato de consumir diria quem sou e também

quem não sou, indicaria também minha rejeição. Os diversos tipos de estilos de vida

existentes seriam expressões de escolhas humanas manifestadas por intermédio de

objetos e códigos da cultura material. O consumo seria usado por nossa sociedade

também como um meio de ação política. (PORTILHO, F.; apud FARJADO, 2010)

A abrangência social da moda influencia e é influenciada pela arte, por expressões

artísticas (música, pintura, fotografia, escultura, literatura e cinema): sinaliza e é

sinalizada por tendências ideológicas. Aparece como forma de comunicação individual ou

institucional, estando relacionada a comportamentos psicológicos humanos (ações,

interações, ideais, pensamentos, valores, motivações e sonhos), e é um campo social

que denuncia rapidamente as transformações que irão surgir. Afirmando ou

enfraquecendo, unindo ou diferenciando indivíduos e contextos sociais. Atualmente

tornou-se uma significativa ferramenta de poder e de manipulação para satisfação

pessoal e social. (SVENDESEN, 2010)

Para Lilyan Berlim (2009), a moda também é um negócio, e a influência econômica da

moda é bastante abrangente, além dos aspectos psicológicos, artísticos, históricos temos

as áreas da agricultura de algodão; a indústria têxtil, químicas e mecânicas e empresas

de comunicação. Trata-se desde os agricultores, no plantio de algodão às diversas

funções de trabalhadores que estão envolvidos na indústria têxtil e da própria indústria

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de confecção. Como também, está presente em diversas disciplinas, como: engenharia,

design, química, administração e comunicação. A autora complementa que a moda

também é um conceito multifacetado e envolve algumas áreas que estudam e

pesquisam o fenômeno, como: na Filosofia, Sociologia, Antropologia, Economia e

Psicologia. (BERLIM, 2009)

Como indústria criativa, a indústria do vestuário representa cerca de 6% do consumo

mundial, gerando cerca de 1,4 trilhões de euros em 2008. Diferença esta considerável

em comparação com a indústria automobilística de 4% do consumo mundial (GODART,

FRÉDÉRIC, 2010).

No Brasil, conforme os dados atualizados pela ABIT para o ano de 2011, o faturamento

da cadeia têxtil e de confecção brasileira é estimada em US 2,5 bilhões. O setor é o

segundo maior empregador da indústria de transformação, compreendendo mais de 30

mil empresas, gerando anualmente 1,7 milhões de empregos diretos, e gerando uma

renda indireta para oito milhões de trabalhadores, sendo 75% desta mão de obra é

feminina (BERLIM, 2012).

Na opinião de GODART (2010), a disseminação da Moda cresceu democraticamente

através dos tempos, deixando de pertencer a seletos grupos. Atinge várias idades e a

ambos os sexos, apesar das mulheres terem maior obsessão pelo assunto. Invadiu os

limites de outras áreas de consumo para além das roupas. Reside em praticamente

quase tudo o que se refere ao nosso mundo moderno, e estabelece um bom caminho

para entendermos a nós mesmos e a nossa história. A moda encontrou dificuldades em

pesquisas científicas, devido ao seu caráter mutável e por sua própria definição; parte é

encontrada na indústria do vestuário, acessórios e de cosméticos e no consumo social

formador de identidades. Também é caracterizada por ser uma atividade econômica ao

mesmo tempo artística, estética e criativa, e pertencente a uma indústria cultural e de

um processo de produção, além da primazia de representar o lazer no processo de

consumo.

9. Padrões culturais contemporâneos: O Novo e a Juventude.

Na visão de Felipe Rocha (2007), após o advento da revolução industrial, as sociedades

modernas tornaram-se mecanizadas, gerando questões relacionadas à mobilidade, a

velocidade e ao novo, e a obrigação do homem atual de ser jovem. A grande produção

em massa converteu a sociedade para uma cultura instantânea, direcionando as pessoas

para ideais baseados no progresso e para o inacabado: a juventude. Essa juventude

significaria uma "atitude" perante a vida e existiria num estado permanente, em vez de

representar apenas um estado de transição. O complexo midiático constantemente

fortalece estes valores juvenis através dos espetáculos sedutores, transformando a

sociedade, em uma sociedade do visual e da imagem. Esse espetáculo criaria uma

rigidez tal, que o homem comum não conseguiria se abrir e nem ter uma receptividade

para um diálogo autêntico. A moda afirmou o valor da imagem e tornou-se agente de

uma luta social incansável pelo desejo de permanência na juventude. Que embora tenha

promovido um tipo de qualidade de vida e de bem estar na expansão de setores

econômicos especializados na aparência e na saúde, geraram uma ansiedade coletiva

por este ideal de consumo. Mais que um aspecto social, a juventude traduz um ideal

consumista do "parecer" em que a religiosidade foi substituída pelo culto da imagem e a

qual a aparência visual é sacralizada e imperativa. (ROCHA, 2007)

Segundo a psicóloga Pascale Navarri no seu livro Moda & Inconsciente-olhar de uma

psicanalista (2010), a Moda reflete os padrões estéticos de uma época que elege e

condena, conforta e perturba. A autora fala sobre o narcisismo, da necessidade de

imitação e da rivalidade, e das várias formas das pessoas se relacionarem com o corpo.

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Ela revela alguns exemplos de casos em que há uma ilusão de uma permanência na

juventude; onde crianças adultas tentam continuar em um estado infantil anterior o da

puberdade. Esta criança interior insistiria em conservar um corpo filiforme, desejosa de

ser a estrela das atenções e dos olhares. Outro comportamento observado pela autora

seria do desejo de tatuar-se que representa o único projeto possível de morrer com a

aparência da juventude. Isto seria um exemplo de dominação sobre o corpo, numa

tentativa de estabelecer o presente e o eterno sobre os seres efêmeros que somos. Além

disso, a autora destaca o caso da modelo anoréxica; cuja mulher o corpo permaneceu

como era quando estava na adolescência, ou seja, um corpo de menino com seios; e

mais, sobre o jogo da androgenia, como a supressão obrigatória das características

distintivas femininas por neutralização do feminino. Indicando o horror à feminilidade.

Uma visão antifisiológica e uma resposta do complexo de castração, segundo as análises

conceituais de Freud. Em todos os casos, há uma grande supressão da passagem do

tempo e das diferenças fundamentais que compõem a vida humana. (NAVARRI, 2010)

"Na sociedade moderna, a mulher-objeto eclode

como símbolo de independência mal dosada. –

cristaliza ainda mais o domínio masculino, num

jogo desigual. (...) a mulher assume posturas

tradicionais masculinas, sem ter que deixar de

ser mulher, mãe e essencialmente feminina. As

várias mídias da sociedade moderna fazem da

mulher um ser SURREAL, plasticamente

perfeito, coloca na mira dos anseios femininos a

profissão perfeita, a família imaculada e a

realização pessoal no corpo modelo. Na moda; a mulher é fonte, alvo, modelo e rival".

(ROCHA, 2007, p. 59)

Portanto, para que as pessoas tenham uma comunicação visual autêntica e para que a

moda adquira um perfil democrático, é preciso que a moda seja antes analisada e

mentalmente processada para então serem posteriormente disseminados e expressados

os valores e as identidades particulares.

Nesta perspectiva, seria benéfico socialmente e culturalmente se a moda conseguisse

penetrar na vida das pessoas de maneira a emancipá-las esteticamente e desatrelá-las

das imposições visuais que são apresentadas na sociedade. De fato isso não acontece, a

moda obedece a um sistema de poder no qual se apresenta como uma manifestação

estética repleta de expressões, porém obediente a sua própria lei, o que impede a

expressão do indivíduo, que sem uma racionalidade estética, perde a oportunidade de

resgatar a liberdade plena de expressão. (BRAUDILLARD apud ROCHA, 2007)

Na opinião de Lingenbach (2008) a solução poderia vir da questão social para

desconstruir essa sociedade do espetáculo e trazer o valor da cultura popular, de uma

cultura diferenciada, baseada no cotidiano e na experiência da vida.

10. Conclusão

A sustentabilidade postula o desenvolvimento em todas as esferas sociais. Mas, o tipo de

desenvolvimento abordado neste trabalho foi o do tipo que beneficia o ser humano e que

oferece oportunidades sociais apropriadas para que as pessoas tenham sua autonomia.

Embora o senso comum costume a relacionar desenvolvimento humano com o valor do

PIB de uma determinada população, aqui foram consideradas teorias que sugerem um

desenvolvimento econômico diferente do convencional, como nos estudos de Amartya

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Sem (1999), Max-Neef (1998) e Ezio Manzini (2008). Entretanto, serão necessários

outros estudos experimentais fundamentados nestas teorias para maiores investigações

taxonômicas e para o entendimento das "lógicas socioculturais" em razão da diversidade

e da inter-relação de aspectos envolvidos, como a subjetividade individual, fatores

psicológicos e as características locais.

Segundo pesquisas realizadas pelo WBCSD (1995) sobre os limites das ações humanas,

o metabolismo da sociedade deverá viver bem utilizando 10% dos recursos consumidos

hoje em uma sociedade industrializada. Isso significa dizer que a redução dos níveis de

produção e consumo material deve ser compensada pela valorização de processos,

atividades e serviços que estimulem aspectos humanos mais imateriais e assim possam

modificar os padrões de vida já estabelecidos. Isso se torna possível quando temos um

sistema cultural em que a sua base é o bem estar e qualidade de vida, e onde produtos

e serviços regenerem a vida das pessoas e das vidas futuras do planeta. Isto é, quando

se tem um sistema cultural onde os valores estejam voltados para a restauração de contextos sociais. É uma mudança de perspectiva do interesse pelas "coisas" para

"experiências" nas atividades realizadas. Mas, o que se pretende é que as pessoas

possam exercer suas capacidades e talentos, e que elas possam escolher e levar a vida

que desejam.

As Soluções criativas dão origem as Inovações Sociais, mas elas também podem surgir

de processos ou no ciclo de vida de produtos. As Inovações Sociais resolvem desafios

sociais e representam novas formas de vida cotidiana. Elas podem ser criadas por meio

de novas estratégias, como novas formas de relações sociais ou de serviços, ou ainda

baseadas em dinâmicas de sistemas naturais. Mas, é preciso integrar e conectar

sistemas humanos com os sistemas naturais de modo a sensibilizar a sociedade a

conhecer melhor a natureza. E assim, unir novas ideias a limitações impostas às práticas

humanas e obter o conhecimento empírico. Entretanto, é importante considerar as

visões de Fletcher (2010), Kazazian (2005) e Manzini (2008) que sugerem que soluções

devem ocorrer em menor escala para melhor entender os impactos ecológicos e sociais.

O design de moda como questão central se deve ao grande potencial desse campo para

tornar-se uma eficaz ferramenta sustentável, e disseminar rapidamente novos critérios e

valores e modos diferentes de pensar sobre o mundo. Nessa perspectiva, significa

introduzir idéias no plano cultural que possam alterar concepções de 'Estilo de vida'.

Pois, o design de moda é uma atividade criativa, transgressora e está na sua essência

relacionada a transformações sociais, comportamentos e Moda. Porém, é necessário

modificar o modo como se faz moda e transitar em contextos incomuns. Isso significa

que o designer de moda poderá ser um agente de mudanças, atuando na sociedade

como: comunicadores, educadores e pesquisadores, facilitadores, agentes, gestores,

ativistas ou empreendedores. Ele também poderá atuar no campo da pesquisa ou no

setor privado, no setor público ou no terceiro setor e em novas formas de atuação. Além

disso, é preciso compreender e questionar os mecanismos que alimentam a dinâmica da

Moda, a efemeridade e obsolescência, e sua função cultural para identidade individual e

social, como também avaliar sua abrangência nas sociedades contemporâneas. Visto que

é necessário entender os padrões culturais estabelecidos do Novo e da Juventude, e

fortalecer a diversidade de padrões existentes para transformar as perspectivas sociais.

Pessoas comprometidas com o bem-estar e a qualidade de vida serviriam para unir

interesses comuns. Contudo, na intenção de reger melhores convívios, é preciso integrar

pessoas num elo de princípios éticos e estabelecer o respeito ao direito individual e

comunitário, para que a sociedade seja mais justa e sustentável. Pois a ética considera o

bem estar coletivo e a preservação dos recursos naturais e assim constrói as bases da

responsabilidade social, do consumidor consciente e do comércio justo. Ela também está

na cidadania, que é um referencial de conquista da humanidade através daqueles que

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sempre buscam os seus direitos, uma maior liberdade e melhores garantias individuais e

coletivas.

Diante dos assuntos abordados neste trabalho, é importante observar a necessidade da

introdução curricular de disciplinas do design sustentável nos cursos de design de moda

para ampliar, diversificar e inovar práticas para além do produto moda e considerar os

aspectos imateriais, como os sócio-culturais, o bem-estar e qualidade de vida. Como

também, estimular pesquisas e novas experiências que ampliem o convívio e a

solidariedade. Visto que é importante unir valores contemporâneos e simbólicos e

integrar a ética social aos parâmetros do desenvolvimento sustentável.

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