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Marta Fiorillo

Diagnóstico, prevenção e combate ao bullying

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Marta Fiorillo

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Resumo: Os índices de agressão dentro das escolas brasileiras aumentamaceleradamente, um fenômeno que acompanha o mesmo processo em todoo mundo. Atrelado a este aumento, constata-se que o bullying afeta oprocesso de ensino-aprendizagem de forma significativa ecomprometedora dentro das escolas públicas e particulares. Identificá-lo,compreendê-lo e combatê-lo, torna-se essencial para transformar a escolanum local de real construção de saberes, respeito, justiça econsequentemente de cidadania. É fundamental transformar a escola numlocal de referência contra a violência, a intolerância e a omissão.

Palavras-chave: Bullying. Identificação. Diagnóstico. Prevenção.

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Introdução

A partir da observação do aumento dos constantes e violentos conflitos queocorrem nas escolas do Brasil, resultando em graves sequelas ou morte para osenvolvidos, assim este artigo tem como objeto de estudo uma análise do bullyingnas escolas do país. Pretende-se verificar os motivos que levam cada vez maisalunos a agredirem-se violentamente, física ou moralmente, bem como como todaa comunidade escolar identificar, prevenir e combater o bullying nas instituiçõesde ensino.

As pesquisas de organizações não governamentais e governamentaisdemonstram de forma alarmante os níveis absurdos de violência em que seencontra o país. Certamente, o Brasil não está isolado nesta trágica constatação, jáque vários países da América Latina e alguns países asiáticos apresentam umquadro similar, todavia, nenhum apresenta um mesmo panorama de homicídios,violência doméstica e mortes no trânsito.

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Mais da metade dos que morrem por homicídios, acidentes de trânsito sãojovens. Morre-se mais no Brasil, num mesmo período de quatro anos do que emdoze diferentes conflitos armados pelo mundo. Agrega-se a este processodesastroso, uma sociedade atomizada em indivíduos cada vez maisindividualistas e consumistas. Os reflexos desta sociedade repercutem pelosquatro cantos das escolas no país, através de uma cultura da violência.

É imprescindível que todos estejam preparados para identificar, prevenir ecombater a violência que se apresenta na escola. E o bullying é uma das maisantigas, na história da humanidade e da própria instituição escolar. Para Silva(2010, p.14) o bullying não pode ser mais encarado como um fenômeno exclusivoda área educacional. Atualmente, ele já é definido como um problema de saúdepública e por isso deve entrar nas discussões de todos os profissionais que atuamna área média, psicológica e assistencial. A falta de conhecimento sobre aexistência, o funcionamento e as consequências do bullying propicia o aumentodesenfreado no número e na gravidade de novos casos, e expõe as pessoas asituações trágicas que poderiam ser evitadas.

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Cabe ao governo e a toda comunidade escolar, capacitar profissionais para aidentificação, o diagnóstico, a intervenção e o encaminhamento adequado de todosos casos ocorridos na unidade escolar.

Para a elaboração deste artigo foi utilizada apenas a pesquisa bibliográfica.

1- A diferença entre conflito e bullying

Os conflitos são parte da vida de qualquer pessoa e muitas vezes superá-los fazparte do nosso crescimento pessoal, todavia uma situação supera os limites doconflito quando identificamos que as atitudes tem o objetivo de ferir e prejudicar;apresentam-se de forma intensa e sistemática; é notória uma situação de poder dapessoa que intimida; é proposital, pois o agressor não pede desculpas, além decausar impacto negativo na pessoa agredida.

Neste caso, ocorre o bullying, palavra inglesa, derivada de bully cujosignificado é valentão, provocador, brigão. O bullying caracteriza-se como umcomportamento violento nas esferas físicas e psicológicas de forma intencional,repetitiva e intimidadora, impossibilitando a defesa da vítima. Assim, há uma nítidaconfiguração de abuso de poder, intimidação e prepotência nos bullies, como sãochamados aqueles que praticam o bullying.

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2- O bullying no Brasil

A Plan Brasil, uma organização não governamental da Inglaterra que atuaem 66 países, realizou em 2009 a pesquisa “Bullying no Ambiente Escolar”. Orelatório indicou que quanto maior a frequência de agressões contra um aluno,maior será o tempo de duração dessa violência. Isso demonstra que a repetiçãodas atitudes de bullying fortalece a iniciativa dos bullies e reduz aspossibilidades de defesa das vítimas, identificando ser essencial uma ágildetecção das ações agressivas e uma rápida intervenção.

Constatou-se que 70% dos estudantes entrevistados presenciaram cenas deagressões entre colegas, 30% vivenciaram pelos menos uma situação de violênciano mesmo período e 20% presenciaram atos de violência com uma frequênciamuito alta.

Verificou-se, ainda, que o bullying é muito mais comum nas regiões Sudestee Centro-Oeste, bem como a incidência maior está na faixa de 11 a 15 anos deidade, prioritariamente nas sextas-séries. Os motivos para as agressões não foramindicados, pois os alunos agressores ou vítimas não souberam informar.

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Os próprios alunos não conseguem diferenciar os limites entrebrincadeiras, agressões verbais e violência física, nem que pode existir umcrescimento gigantesco dessas situações de violência. As escolas não estãopreparadas para evitar essa progressão logo no seu início, nem para esclareceraos alunos quais são os limites e quais são as formas estabelecidas para quesejam respeitados por todos. O número de vítimas do sexo masculino é omaior, mais de 34,5%, enquanto que entre as meninas de 23,9%

Em relação ao ciberbullying, 16,8% são vítimas, 17,7% são praticantes eapenas 3,5% são ao mesmo tempo praticantes e vítimas. O envio de e-mailsmaldosos é o tipo de agressão mais frequente e na maior parte das vezes épraticado pelos meninos. Entre as meninas, o uso de ferramentas e de sites derelacionamento são as formas mais utilizadas.

Na pesquisa os alunos percebem os danos do bullying sobre o processo deaprendizagem, assim como os gestores e professores sabem da existência deuma cultura da violência, porém as escolas estão despreparadas, possivelmentepor considerar que este problema e sua solução não fazem parte das atribuiçõesda escola.

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As famílias são acusadas de negligentes quanto à socialização das crianças,enquanto que os profissionais da educação são acusados de desinteresse,incompetência, alienação quanto às necessidades e problemas dos alunos.

3- As várias faces do bullying

O bullying pode se apresentar de forma verbal, através de insultos, ofensas,xingamentos, gozações, apelidos e piadas ofensivas; físico e material, por meio dechutes, espancamentos, empurrões, beliscões, roubo, destruição de materiais deoutra pessoa; psicológico e moral quando causa irritação, humilhação,ridicularização, exclusão, isolamento, desprezo, desmoralização, discriminação,aterroriza, intimida, tiraniza, persegue, difama; sexual, caracterizado pelo abuso,violência, assédio e insinuações; virtual (ciberbullying), propaga calúnias,maledicências pela internet ou celular.

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4- Sinais indicativos de bullying

Pais e professores, gestores precisam identificar quando uma criança estásofrendo bullying, para isso é necessário observar diariamente a fim de detectaralguns indícios desta prática: dificuldade de concentração na aula; quer fazer umcaminho diferente para a escola; subitamente se desinteressa pelos eventospromovidos pela escola; queda repentina nas notas;demonstra felicidade aos finais de semana, porém fica infeliz, tenso na segunda-feira; de repente prefere ficar com os adultos; sente-se cansado e tem pesadelos einsônia; volta para casa com ferimentos e manchas roxas sem explicação; torna-se gago ou com dificuldade na fala; alteração no apetite; carrega instrumentospara se proteger; pede dinheiro extra com frequência; o material éconstantemente perdido ou destruído; súbita mudança de comportamento( molha a cama, rói unhas), chora demais e até dormir; afirma ser alvo degozações; humilhações; agressões; exclusões; fofocas; quer mudar de escola;torna-se rebelde; agressivo; desrespeitoso; cerca-se de péssimas amizades;frequenta culto ou grupo estranho; repentinamente se interessa por filmes,videogames e livros violentos; pensa em fugir; deprime-se; fala sobre suicídio.

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5- As consequências devastadoras do bullying

O bullying pode funcionar como um detonador de doenças psíquicas que apessoa pode trazer geneticamente, aliado a um ambiente desagregador e afragilidade da pessoa, conforme Silva (2009) são elas:

Sintomas psicossomáticos – a pessoa apresenta vários sintomas físicos como dorde cabeça, cansaço crônico, insônia, dificuldades de concentração, náuseas, diarreia,boca seca, palpitações, alergias, crise de asma, sudorese, tremores, sensação de “nó”na garganta, tonturas ou desmaios, calafrios, tensão muscular, formigamentos.

Transtorno do pânico – caracteriza-se por medo intenso e sem motivo, queparece surgir do nada. É acompanhado de taquicardia, calafrios, boca seca,dilatação das pupilas, suores. Ultimamente este transtorno já pode ser observadoem crianças de 6 a 7 anos de idade.

Fobia escolar – é a sensação de medo intenso de frequentar a escola,ocasionando repetência por faltas, problemas de aprendizagem e evasão escolar.

Fobia social (transtorno de ansiedade social (TAS)- também conhecida por timidezpatológica, a pessoa sofre de ansiedade excessiva e persistente, com temorexacerbado de se sentir o centro das atenções ou de estar sendo julgada e avaliadanegativamente. Com o decorrer do tempo, evita-se qualquer evento social.

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Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) – esta doença causa uma sensação demedo inseguranças persistente e a pessoa preocupa-se com todas as situações aoseu redor, desde as mais delicadas e importantes até as mais corriqueiras.

Depressão- os sintomas mais comuns são tristeza persistente, ansiedade ousensação de vazio, sentimentos de culpa, inutilidade ou desamparo, insônia ouexcesso de sono, irritabilidade e inquietação, perda ou aumento de apetite, fadiga esensação de desânimo, irritabilidade e inquietação, dificuldades de concentração ede tomar decisões, sentimentos de falta de esperança e pessimismo, perda deinteresse por atividades que antes despertavam prazer, ideias ou tentativas desuicídio.

Anorexia e bulimia- A anorexia nervosa caracteriza-se pelo pavor descabido einexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção de sua imagemcorporal. Já a bulimia nervosa caracteriza-se pela ingestão compulsiva e exageradade alimentos, geralmente muito calóricos, seguida por um enorme sentimento deculpa.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) – caracteriza-se por pensamentossempre de natureza ruim, intrusivos e repetitivos (obsessivos). Um exemplo é apessoa que pensa insistentemente que pode se contaminar ou adquirir uma doençagrave ao tocar em maçanetas ou apertando a mão de alguém.

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Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) – experiências traumáticas comovivenciar a morte de perto, acidentes, sequestros, catástrofes naturais quetrouxeram medo intenso acarretam em ideias intrusivas e repetitivas doacontecimento traumático, voltando como se fosse um filme, causando na pessoadepressão e frieza com as pessoas próximas.

6- As possíveis causas do bullying

Preferências inatas- pesquisas realizadas pelo psicólogo Tom Cash na Olddominion University, constatou que bebês olham para os rostos mais atraentes pormais tempo. Assim, se as pessoas são atraídas por rostos mais atraentes, é possívelque tratem os menos atraentes de forma menos favorável.

Fatores biológicos – alguns estudiosos perceberam que a agressão é um fatorbásico, inerente ao ser humano, porém alguns aspectos da biologia humana podemaumentar essa agressão.

Temperamento – há pesquisas que comprovam que o temperamento de umacriança é um fator importante para o bullying. Entendendo-se temperamento comoa mescla de características e qualidades que formam a personalidade da pessoa,assim uma criança impulsiva e ativa terá maior propensão para ser agressiva comas outras.

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Preferências aprendidas – as crianças aprendem com seus pais e com asociedade a valorizar determinadas características, de acordo com os aspectoshistóricos e culturais em que ela está inserida. Por exemplo, na nossa sociedade,aprende-se a valorizar a aparência, juventude, poder, força. E estabelecem-sepadrões de uma suposta “normalidade” social.

Confiança na própria superioridade – existem crianças que aprendem quesão melhores que as outras e por isso devem evitar conviver com “gente semfuturo”. Ou mesmo perder tempo auxiliando pessoas deste tipo.

Violência na mídia - Pesquisadores concordam que a violência na televisãoteve um aumento de 3 a 15% o comportamento agressivo do indivíduo apósassistir a programas violentos, já que as crianças imitam aquilo a que sãoexpostas. Consta-se que a quantidade de violência nos programas televisivosvem aumentando, desenhos animados ficam cada vez mais violentos, isto setorna um problema greve quando os pais quase sempre estão fora de casatrabalhando, assim a TV passa a ser a “babá”. Videogames encorajam ousolicitam uma participação ativa da criança em atitudes agressivas,preconceituosas e cruéis. Já se observou que vítimas de bullying que acabaramse vingando, envolveram-se com videogames violentos.

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Quando uma vítima pensa em revidar, esses tipos devideogames podem dar a ela a ideias a serem postasem prática em sua vingança. Eles também podemprover meios de prática de represália, algo comosimulador de assassinato. (BEANE, 2010, p. 44)

Descobertas recentes sobre a formação do cérebro humano feito peloNational Institutes of Health afirmam que o centro de controle de impulsos, a parteque nos proporciona o pensar com antecedência, contatar consequências eadministrar os impulsos, ou seja, o chamado córtex pré-frontal está sedesenvolvendo durante a adolescência, e apenas por volta dos 20 anos estácompletamente formado, assim a criança estará mais vulnerável ao lidar comdeterminadas programações televisivas, sites e videogames violentos.

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Preconceito –É uma das causas mais notórias de bullying. Observa-se quepessoas preconceituosas fazem julgamentos sobre outras, levando em conta seusmedos e crenças sem fundamento.

O preconceito começa cedo na vida, cresce na ignorância e vaipersistir se não for tratado. As crianças são as mais vulneráveis aomal gerado pelo preconceito. Por volta dos 5 anos, as criançascomeçam a ouvir opiniões negativas sobre sua herança racial oureligião. Crianças preconceituosas podem decidir que não gostamde estudantes negros, gordos, com incapacidades ou que são deoutra nacionalidade. Esses comportamentos de preconceito erejeição prejudicam a autoimagem da criança e minam seusesforços para ser aceita. (BEANE, 2010, p.46)

Inveja- É uma das causas mais evidentes de bullying entre as meninas. Háuma tendência das crianças em atacar aqueles que aparentam ser melhores que amédia, seja por serem mais atraentes, ricos, populares, perspicazes.

Proteção da autoimagem – Algumas crianças tendem a proteger sua imagemevitando pessoas diferentes façam parte de seu grupo de amigos. Ser amigo oudefender uma vítima de bullying pode parecer um risco para a reputação dealguém.

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Medo – Medo de ser motivo de piada e como defesa elas podem debocharprimeiro ou medo de perder o que tem, ou medo da rejeição e por isso rejeitamprimeiro para evitar a dor, ou medo do desconhecido e por isso acabam rejeitandoas pessoas diferentes, ou ainda medo de ficar exposto, os bullies expõem os outros.

Egocentrismo- Crianças pequenas são naturalmente egocêntricas e sógradualmente aprendem a perceber o outro. Ocorre que algumas não são ensinadasa ser tolerantes, sensíveis e reconhecer as diferenças nos colegas. Outras ainda sãomimadas. Eventualmente, as crianças atacam e provocam para ser o centro dasatenções.

Vingança - Pessoas que já foram feridas e que não superaram o sofrimentopodem revoltar-se e atacar os outros. Elas acreditam que ferir outras pessoascompensará o sofrimento que passaram, ou a rejeição e a falta de amor.

Mentalidade de grupo – Crianças podem ser rejeitadas, não por causa de seucomportamento ou características, mas porque os grupos precisam de um alvo paraa rejeição. Esta ajuda o grupo a definir as fronteiras de sua aceitação e conquistarunidade.

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Uma das regras para pertencer a uma facção ou gangue éfazer o que o grupo faz, o que pode incluir maltratar osoutros mesmo que façam parte daquele grupo. A práticado trote, por exemplo, é um esforço do grupo para sesentir unido e poderoso, frequentemente por meio dahumilhação e do sofrimento de novos membros. [...] Arecompensa é a segurança, o poder e o respeito porpertencer ao grupo. (BEANE, 2010, p.50)

Ambiente familiar ruim- Um ambiente familiar desestruturado costumaelevar a probabilidade de uma criança ser vítima de bullying ou ainda dela setornar uma agressora. Nestas famílias, normalmente ocorre a falta de afeto eenvolvimento; a ausência de limites claros para o comportamento agressivo comirmão, adultos, vizinhos; pouco amor e cuidado e muita liberdade; uso de métodosde afirmação de poder através de punições físicas e violentas explosões emocionais.Os pais ignoram ou se esquecem que são os primeiros modelos para seus filhos e aviolência só poderá gerar mais violência.

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É justamente a omissão educacional dos pais em situações-chave que produz os conflitos familiares.[...] A indiferençados pais equivale a uma renúncia oficial e perigosa ao papelessencial que eles deveriam exercer: o de educar os seusfilhos. [...] As consequências dessa renúncia dos pais aosseus papéis de educadores são, no mínimo desastrosas [...]Resultam em filhos egocêntricos, sem qualquer noção delimites, totalmente despreparados para enfrentar os desafios

e obstáculos inerentes à própria via. (SILVA, 2009, p.62)

Nunca ter sido orientado a não maltratar- Infelizmente, existem criançasque nunca foram orientadas a não maltratar outras. Os pais podem serexcessivamente permissivos e possivelmente não ensinaram aos seus filhos aserem solidários, a terem bons modos, a serem bons, a usarem a regra essencialpara a vida em sociedade: trate os outros como gostaria de ser tratado.

Baixa autoestima- Alguns pesquisadores afirmam que os bullies podem tersentimentos de inadequação e transferi-los para crianças mais frágeis. E, ainda,os bullies que foram vítimas têm baixa autoestima.

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Desejo por poder e controle – Para alguns bullies a motivação é o domínioe poder sobre o outro, estas parecem ter pouca empatia por suas vítimas.

Ambiente escolar inadequado- Vários fatores podem acarretar umambiente escolar ruim como: a alta rotatividade de professores, padrões decomportamento indefinidos; métodos de disciplina incoerentes, organização esupervisão ineficientes da sala de aula e áreas comuns; tratamento desrespeitosocom as crianças; falta de apoio para novos alunos; professores que se atrasam,gritam; intolerância a diferenças; permanência de pichação ofensiva; inexistênciade política antibullying; agressões ignoradas pelos funcionários da escola; faltade recursos e apoio para os alunos com necessidades especiais.

Agressão permitida e recompensada- A escola pode ser cuidadosa eatenta, demonstrando tolerância zero com relação ao bullying ou pode apoiá-lo,ignorando o problema. Crianças que batem ou xingam outras atraem muitaatenção de seus colegas que percebem que elas têm poder e são respeitadas poresse poder. Assim os agressores sentem-se recompensados.

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7- Mundo globalizado e violento

A escala de desenvolvimento está tão acelerada que o homem pode estardestruindo o único lugar que tem para viver. O processo acentuado deglobalização provocou um profundo impacto político e cultural, com base nummercado livre e sem controles. Esse desenvolvimento brutal trouxe desagregaçõesque se acentuam proporcionalmente aos avanços tecnológicos e econômicos.

Primeiro, a globalização acompanhada de mercados livres,atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramáticaacentuação das desigualdades econômicas e sociais no interiordas nações e entre elas. [...] Este surto de desigualdade,especialmente em condições de estrema instabilidadeeconômica [...] está na base das importantes tensões sociais epolíticas do novo século. (HOBSBAWM, 2010, pp.11e12)

Atingimos o que chama Bauman (2010) de tempos líquidos, o processo deaceleração, circulação de mercadorias não dá oportunidade do fluxo se condensare solidificar em formas estáveis, com uma esperança de vida maior.

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Assim, não há tempo para refletir para a ação ou sobre o processo desenfreado deconsumismo e individualismo, e as consequências são no mínimo catastróficas. Jáque segundo Bauman “...O verdadeiro problema é: quem é capaz de fazer o quetem que ser feito para evitar o desastre que já podemos prever ?”

A sociedade brasileira está entre as mais violentas do planeta. Segundo oMinistério da Saúde, as mortes por acidentes e violências ocupam o terceiro lugarno país. Entre 2009 e 2010, foram notificadas 108.393 vítimas de violênciadoméstica, sexual e outras violências, destes 20.404 casos foram entre crianças de 0a 9 anos, 28.354 entre adolescentes de 10 a 19 anos, 54.300 entre adultos de 20 a 59anos e 5.309 entre idosos. Assim, crianças e adolescentes totalizam 48.758 casos deviolência doméstica, quase 50% dos casos notificados.

A Secretaria conclui que este tipo de morte, por causas externas eacidentes, é uma das mais importantes questões impostas à saúde públicaatualmente.

No Brasil, 192.804 pessoas foram vítimas de homicídios no período de 2004 a2007, somando-se os doze maiores conflitos armados no mundo com vítimaschega-se a um total de 169.574, ou seja, morre-se mais no Brasil por assassinatos doque em guerras por todo planeta. Segundo Waiselfisz (2012), a violência homicidase espalhou por todas as regiões do país, quando se comparam os índices de 2000 eos de 2010. Ainda, 73,6% dos jovens morrem de causas externas entre homicídios39,7%; 19,3% em acidentes de trânsito e 3,9% em suicídios.

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O Brasil ocupa o 6º lugar no mundo em mortes por homicídios e o 10º emmortes por acidentes de trânsito. Vive-se com certeza num estado de violênciagerando mais violência, Ansara e Costa (2010, p. 99) destacam “...A violênciapraticada no ambiente escolar é, pois, reflexo de uma sociedade que produz aviolência e sua própria banalização. Atos de violência passam a fazer parte docotidiano escolar...”

8- Prevenção e combate ao bullying

A pesquisa da Plan Brasil concluiu que ações devem ser tomadas, assimfamília, educadores, educandos, equipe técnica e funcionários estejam efetivamenteenvolvidos com as ações voltadas para redução e eliminação da violência noambiente escolar. É a comunidade educativa que tem condições de planejar ações,identificar necessidades, falhas, desejos e principalmente propor soluções. Enquantoque os gestores devem estimular e facilitar este processo.

As escolas devem criar ações preventivas e formas de reação ágeis para evitar aocorrência de situações de bullying e quaisquer outras manifestações de violênciaentre estudantes. As normas devem ser claras, objetivas, aplicadas com rigor etransparência. A elaboração de tais regras e processos pode ser um excelenteexercício participativo, que resulta em clara compreensão do fenômeno por todosda comunidade, estimulando o engajamento dos próprios alunos e suas famílias,assegurando a legitimidade de sua aplicação.

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As questões do convívio social, dos padrões que regem as relações entre aspessoas e dos direitos de cidadania a que todos devem ter acesso não devem sertratadas em uma disciplina específica, mas serem trabalhadas no conteúdo detodas as disciplinas da grade curricular.

As escolas devem procurar diagnosticar, sistematicamente, a emergência decasos de bullying e outras formas de violência nas relações interpessoais, demodo a estabelecer metas objetivas de redução e eliminação do bullying naelaboração de seus planejamentos.

Todos aqueles que trabalham nas escolas de Ensino Fundamental devem sercapacitados para assumir medidas de restrição e controle da violência escolar.

A gestão escolar deve incorporar atribuições de prevenção e controle daviolência, que podem ser exercidas de forma integrada com outras instituiçõesdo Estado – segurança publica; polícias civil, militar, municipal, comunitária;conselhos municipais e da sociedade civil – associações de moradores, ONGs,fundações empresariais, movimentos sociais.

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Outras propostas relevantes de combate ao bullying são feitas por Silva(2010), como a aplicação de questionário sobre bullying (já existe um modelotraduzido e adaptado para a nossa realidade) pode auxiliar na detecção e noplanejamento de estratégias na escola. Os alunos podem ser estimulados aescrever autobiografias, focalizando sua rotina escolar, que pode serdocumentada em computador e enviada por e-mail, garantindo o anonimato deseus relatos.

Por outro lado Beane (2010) faz várias propostas para a atuação dos pais naprevenção e no combate ao bullying como: elaboração de abaixo-assinadosantibullying; ser voluntário na supervisão das áreas de risco na escola;incentivar a escola a usar relatórios ou “caixas de bully” (local para os alunoscolocarem suas queixas sobre possíveis agressões); solicitar horários de intervalodiferentes para alunos mais velhos e os mais novos; incentivar a escola a criarum programa antibullying com reuniões periódicas e com participação de todosos representantes da comunidade escolar; solicitar que a escola utilize osuniformes, pois assim elimina-se um fator de provocação: as roupas; incentivar aescola a solicitar segurança pública e se necessário particular.

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É fundamental a revisão de conceitos a respeito da violência, da escola, dos “nossos tempos líquidos”.

Assim, podemos concluir que um primeiro passo no enfrentamento dofenômeno da violência na escola é o abandono de idealizações, seja dopassado, da infância e da relação educativa. Outro passo é democratizaras regras entre os membros da comunidade, como vários no caso dascrianças de nível socioeconômico menos privilegiado [...]. É preciso quea autoridade do professor seja legitimada pelo saber, competência etradição da instituição escolar na cultura [...] Por isso, é necessário que oprofessor reflita e se conscientize do poder de suas ações, inculqueaversão à violência e renuncie às práticas homogeneizadoras,massificantes que impedem o indivíduo de se conhecer e às suas razões.Deve abandonar também as práticas que fomentam a competição entreos alunos e que resultam na rejeição da diferença, vista comodesigualdade, e no consequente fomento da intolerância. (LEME, 2009,pp.132 e 133).

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Considerações finais

Há uma urgência em nossa sociedade para que ações se concretizem naEducação e que gerem mudanças efetivas e permanentes nas vidas e nas mentesde todos. O tempo das palavras desvinculadas de atitudes inexiste. Hoje são açõespautadas em constatações e reflexões da nossa realidade que devem fazer parteda rotina escolar e da própria vida. É inadmissível que toda uma geração decrianças e jovens seja dizimada por homicídios, acidentes ou atormentada porbullying. Erradicar a violência parte de um processo amplo de transformações eformação nas escolas e no conjunto da sociedade. A escola é o começo de umasequência de posturas que devem repercutir em todo o contexto social.

A escola deve apresentar um projeto coletivo que possa criarmecanismos de discussão de valores e de troca de ideias entretodos. O currículo deve ser pensado a partir de concepções sobre odesenvolvimento moral, cognitivo e afetivo, visando oamadurecimento e o bem comum. Para Aristóteles (1973), o bemcomum é o ideal regulador da ação do Estado, e é por meio desteideal que é desencadeada a busca dos interesses damaioria.(TARDELI, 2009, P.110)

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Referências bibliográficas

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